O CMI-Brasil faz parte da rede de Centros de Mídia Independente (indymedia) que tem como mecanismos mais visíveis sites de noticias. A rede é mundial, está presente em todos os continentes. Cada centro é autônomo. Mesmo assim, eles colaboram entre si e compartilham elementos: são abertamente anti-estatais, anti-corporativos, prometem fazer coberturas contra-midiáticas, os membros não são profissionais, e mais que comunicadores são ativistas.
O CMI-Brasil é um caso particular. Os temas das matérias dizem respeito principalmente a questões brasileiras, mesmo que haja espaço para a América do Sul e Latina e, em tamanho reduzido, para questões globais. O localismo do CMI-Brasil aponta sua potência; seu foco é os pobres brasileiros, que ou são representados nas notícias ou produzem suas próprias notícias. Esses pobres são os movimentos de luta e resistência.
O que eu realmente gostaria de salientar, é a negação pelo CMI da pauta midiática majoritária brasileira. Não foi publicada nenhuma matéria sobre os presidenciáveis no site nos últimos meses; como também nenhuma pesquisa de opinião ou estatísticas sobre as eleições, e nem será publicado. O CMI abertamente nega esse lado da política: a política dos gabinetes, das instituições, dos poucos que agem sobre os muitos.
A proximidade com o “tema eleições” apenas pode ser contemplada numa matéria do dia 23 de agosto que faz campanha contra a representação do Estado, na qual é dito: "queremos que a responsabilidade do governo não seja exclusiva de um grupo, que não haja dirigentes profissionais.”
No entanto, a negação da pauta midiática majoritária é realizada em parte, pois o CMI é divido em dois tipos de publicação, uma feita por seus membros (ou proposta a partir de textos principalmente de movimentos sociais), e outra por qualquer um mediante sistema de publicação aberta.
Os membros seguem rigorosamente a política editorial do CMI, política mais que razoável, criada a partir de posicionamento ético e que concerne aos temas antes expostos. Já a publicação aberta, que deveria ser o grande trunfo do CMI, por permitir que qualquer um se torne produtor, traz uma multiplicidade de assuntos, e parte, não insignificante, gira em torno das questões eleitorais.
Ou seja, a criatividade do CMI de escapar da pauta midiática, da grande política, é impedida exatamente em seu mecanismo mais importante. Digo criatividade, pois esse discurso sobre as eleições é corrente, faz parte das opiniões, é um discurso dominante, que ao ser rompido produz um contra-discurso poderoso que concerne a uma outra política.