É difícil não buscar informações nas grandes mídias, talvez por hábito. Elas fazem seu serviço, nos dão informações sobre o presente, no entanto o presente que elas representam é o das instituições, do mercado, da política dos gabinetes, e quando as mídias olham para as ruas, o que veem é a violência que deve ser controlada pela polícia: o crime ou os movimentos da multidão. O consumo é louvado, o Estado posto em posição de destaque, já os pobres devem ser eliminados, em políticas públicas ou em seu próprio discurso.
É difícil não estar conectado com as grandes mídias, mas cada vez é mais fácil. Segundo Fabio Malini, essas mídias perdem sua hegemonia, pois a multidão sabe, e muito bem, que não dá para confiar nelas. Essa crítica feita pela multidão expõe sua sabedoria. A negação das mídias é clara no desenvolvimento acentuado de canais alternativos. Quem quer informação busca em fóruns, blogs, sites, as grandes mídias são apenas mais um canal possível de informação, que todos têm com desconfiança.
Interessante, pois esse movimento de resistência contra as grandes mídias, essa resistência primária que simboliza um não, é conjunto a outro, pois esses que buscam informações, também criam informações. Esse segundo gesto aponta a positividade da multidão. Um dos aspectos do pós-fordismo é que os tempos de produção e re-produção se confundem: estamos sempre produzindo, a qualquer momento e lugar. Assim sofremos explorações em toda vida, mas também nela resistimos.
Os blogs, os sites, as redes de comunicação, são feitos a partir do desejo de produção que escapa das valorações capitalistas. A internet é o meio para a criação de linguagens, idéias, informação, comunicação, e assim de relações, afetos, sociabilidades, características do trabalho hegemônico do pós-fordismo, o imaterial.
Produzir na internet exige, além do desejo de comunicar, não muito, um computador e uma conexão, e conhecimento mínimo de informática e da língua. O acesso hoje é quase para todos; qualquer um pode pagar alguns reais para uma lan house. O resto só não é possível, mesmo no Brasil, para uma minoria.
Os mecanismos mais importantes da internet são os agenciamentos entre a busca e produção de informação diferencial. Locais em que a dicotomia emissão e recepção é visivelmente esmaecida, como nas publicações abertas. Exemplo é a Wikipédia: projeto colaborativo, sem fins lucrativos, que é centrado em um desejo por conhecimento. Ali a produção é aberta e colaborativa. Aberta, pois qualquer um pode publicar; colaborativa, pois após a publicação ela sofre controle por parte da multidão que complementa, sinaliza, exclui – isso pode ser visto nos comentários que acompanham cada verbete.
Essa é outra característica da produção atual: ela é feita em redes de colaboração e comunicação. Aliás, a multidão conceituada por Negri e Hardt é uma rede de singularidades que agem em comum: rede que deseja outra realidade, inteligente, não centrada em individuo soberano, como o povo.
Interessante que a Wikipédia funciona e muito bem. As informações são mais que eficientes para um tipo de pesquisa rápida e direta. É claro que a Wikipédia é o lado positivo da internet, o lado negativo são os bancos de dados, feitos para poucos, para aqueles que só podem os usar mediante relações financeiras: jornais, revistas, produtos como filmes, softwares, músicas, livros, ou mesmo os grandes portais que têm como fim o lucro: como no caso da TV e do rádio, se tem acesso, pois a publicidade paga.
Assim há dois movimentos: a captura pela lógica do lucro, pelos capitalistas; a fuga para todos os lados da multidão. Um é o poder da vida, a produção, a criação, o desejo, outro o poder sobre a vida, a captura do desejo pelo mercado.
Um comentário:
Muito bom esse texto, Diego! De forma concisa, mas sem nada de rasteiro, pegou bem o "x" da questão. Bom mesmo. Gde abraço
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