É interessante que uma dissertação tenha uma assinatura, diga respeito a um autor, ainda que seja dividida essa autoria com o orientador. Quando se fala na primeira pessoa do singular, em dissertação, tese ou artigo, todos entendem.
Digo que é interessante, pois a pesquisa não se refere apenas a um sujeito, aliás, esse sujeito é apenas uma das linhas que compõem o mapa da pesquisa. Alguns dos componentes desse mapa poderiam ser organizados em dois grupos: um que concerne à estrutura institucional, do curso, e outro que faz parte de um bem comum da multidão – é este último que afirma que a pesquisa e todas as idéias contidas nela não surgem do nada, muito menos de uma mente pensante, um sujeito criador.
Quanto ao trabalho conjunto que se refere à instituição, por trás (como acima, do lado, embaixo) do aspirante a pesquisador há oficialmente todo um aparato, como disciplinas, orientação, grupos de pesquisa, bancas, palestras; e esse aparato permite também trocas informais, como as conversas nos corredores, bares, etc. com colegas, professores. E tudo isso determina a pesquisa.
Já o bem comum (prefiro dizer da multidão e não da humanidade) que envolve a pesquisa (e que abraça o componente anterior), poderia ser dividido em dois subgrupos: o mais visível se refere às teorias acionadas, o outro, a um imaginário compartilhado, enunciados, que são formados na vida.
Algo como a criação de algo singular parece muito difícil em um curso de pós-graduação, principalmente no mestrado. As dissertações e teses que caem em minhas mãos são em boa parte compilações de idéias de inúmeros autores. Isso acontece também entre autores renomados, que são criativos em suas leituras, mas que às vezes escrevem duzentas páginas para dar consistência a um conceito; e isso já é muito, pois como dizia Deleuze: o trabalho de uma vida pode ser apenas uma pintura, só isso deveria deixar qualquer um satisfeito.
Essas compilações, releituras, revisões de autores, muitas vezes servem para dar fundamento à análise de um objeto empírico. O objeto é condicionado pelas teorias ou leva a teorias já firmadas. Assim é a escolha do tema, a delimitação do objeto que aparece como aquele algo singular da pesquisa.
Os trabalhos acadêmicos que são apenas leituras de certos autores, eles são muito importantes. Como tal conceito atravessa a obra de inúmeros autores? Como tal conceito aparece na obra de tal autor?
Quanto ao imaginário compartilhado, ele é difícil de ser mapeado. De quem são as idéias que temos? Sabemos que não são nossas. Guattari falava em produção de subjetividade capitalística, esta formada por inúmeras máquinas, uma delas a mídia. As mídias legitimam o Império através desse poder sobre o desejo.
Na pesquisa um dos passos para a produção daquele algo singular, seria um processo de dessubejtivação, cair fora dos modelos; o problema é que não podemos realmente cair fora.
Falo sobre singularidade na pesquisa, pois há desejo de todo aquele que faz tal tipo de curso, de influenciar a comunidade acadêmica, o campo de estudos, além do mais se for um em formação como o da comunicação. Os professores, desde os primeiros dias de curso, nos dizem que esse desejo deveria servir como um norte; mas para mim, no caso do mestrado, o que está em jogo é a formação de um futuro pesquisador, e não o funcionamento de um campo. Neste caso sim, há a tomada de poder por um jogo egocêntrico, que limita a pesquisa; mas não acredito que no mestrado dê para fazer muito mais do que isso.
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