domingo, 1 de agosto de 2010

autogestão e a paranóia vermelha

O CMI publicou matérias sobre a autogestão dos trabalhadores da fábrica Flaskô (Sumaré – SP) nos dias 13/2, 13/07 e 21/7, fazendo uma bela divulgação positiva de tema que a pauta midiática ou nega ou critica. Parte do material se refere ao site do movimento das fábricas ocupadas que dá base para a experiência.

A Flaskô está sendo gerida pelos próprios trabalhadores desde 2003. Além disso, eles produzem projetos sociais que auxiliam mais de 300 famílias. A fábrica foi apropriada após sua falência. Foram mantidos os cargos anteriores, mas reduzida a jornada de trabalho para 30 horas. Não encontrei informação sobre os métodos utilizados de organização, se são descentrados. Nos últimos dias houve a tentativa de fechamento da fábrica, que foi revertida apenas com a intervenção do macropolítico Eduardo Suplicy.

Busquei notícias sobre a experiência de autogestão nos arquivos da Folha de São Paulo e na Folha Online e não encontrei nada. No portal UOL encontrei duas notícias de julho de 2009; ambas interessantes. Uma delas é entrevista com o “interventor federal Rainoldo Uessler [...] que afirma que os trabalhadores foram utilizados por um movimento ideológico-político-partidário [...] esse movimento seria a ala Esquerda Marxista, setor do PT." A outra notícia de uns dias depois tem como titulo: “Única fábrica ocupada do Brasil rema contra a maré e quer estatização”. Sobre a estatização, os trabalhadores querem que o Estado pague as dívidas da fábrica, mas que deixe a gestão em suas mãos.

Bem, quanto as duas noticias, o tom é o mesmo: relações entre o movimento da Flaskô e Chaves e sua Venezuela, ou seja, um bloco que faria parte da "ameaça vermelha”. No entanto esse discurso não é localizado apenas no UOL. A Folha de São Paulo, o Globo News e a rádio Bandeirantes FM, todos muito parecidos, fazem crítica estilo guerra fria contra a Venezuela, alas do PT, além de deslegitimarem certos movimentos como o MST.

Essa crítica com um certo ar de imparicialidade nos meios referidos acima, ganha uma dimensão absurda na Veja. Encontrei matérias de anos anteriores sobre a Flaskô na Veja.com; em uma delas a paranóia vermelha se torna psicose. A Veja, como também um lunático como Olavo de Carvalho, tenta criar um clima de ameaça constante de tomada de poder comunista no país. Ambos fazem parte de uma linhagem que não entende que a guerra fria terminou há muito tempo. Para estes o mundo é bipolar, dividido entre o bom capitalista e os que comem criançinhas. Lutam contra um inimigo que não está em lugar algum, o segundo mundo. Assim podem manter um tom severo contra qualquer tipo de mudança mais humana, associando a esse perigo vermelho. A loucura de Olavo de Carvalho é tão absurda que para ele mesmo a imprensa capitalista faz parte de conspiração "esquerdista" no país.

Na guerra fria os Estados Unidos lidaram com as resistências internas (dentro dos limites do país) aos governos fazendo algo parecido, as associando a União Soviética. Assim o conflito assimétrico da multidão foi simplificado na dicotomia leste-oeste. No entanto, estamos no Brasil, e o muro de Berlin caiu há vinte anos! Bem, acho que não preciso dizer mais nada.

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