tag:blogger.com,1999:blog-16434201745252077662023-09-20T17:46:48.863-07:00pesquisa, resistência e outras coisasUnknownnoreply@blogger.comBlogger75125tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-6446989801493992012019-03-05T06:24:00.002-08:002019-03-05T06:24:41.592-08:00<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">CRÔNICAS
FORA DE CONTROLE <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></i><br />
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Introdução
pra ser lida por gente do mundo acadêmico<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O texto todo é uma experimentação sem
fórmulas, não é como um artigo ou tese, nos quais os modelos estão prontos. Por
isso, a linguagem da crônica, que na verdade é ensaio, pois há algo que se
aproxima de um método que acompanha todo o texto: pensar o discurso dominante,
as significações clichês, e a partir daí fazer um pensamento da diferença.
Pensar de outra forma, e pensar de forma diferente é algo aberrante, é uma
monstruosidade em relação ao senso comum. Por isso, a linguagem suja, crua, que
tenta se aproximar da linguagem da rua. As piadas de humor negro. A falta total
de seriedade. O fazer errado o tempo todo, considerando como certo aquilo que “as
grandes mentes escrevem”. Também quase todos os artigos – o livro é composto de
quase uma centena de crônicas – têm um mesmo tema, mas são autônomos. Eles
podem ser lidos de qualquer forma, a partir de qualquer ponto; apenas esta
introdução e a introdução seguinte que recomendo que sejam lidas inicialmente. Nesta
parte explico a consistência do livro, mas ela pode ser pulada, já que se
aproxima da linguagem acadêmica. Ou seja, faça o que achar melhor. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Muitas crônicas são faladas
na primeira pessoa. A partir daí, pode-se pensar que é um livro autobiográfico.
Mas não, não são historinhas pessoais que estão em jogo. Trago experiências
próprias pra pensar a vida. Um pouco da minha vida, do que vi, do que ouvi, um
pouco do que fiz, não importa, aliás, o livro é pra ser lido como se fosse
ficção. Aqui não há pudores. Então tanto faz. Atiro para todos os lados, sem me
importar com o alvo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O texto é esse irmão mais
novo da minha vida acadêmica, melhor, um filho pródigo, rebelde, marginal. Gilles
Deleuze dizia que o livro mais marginal que havia escrito, o Mil Platôs, era o
mais querido. Um livro quase impossível de ser lido, digerido por poucos. Esse
é o livro que mais me atrai, principalmente, pela parceria de Deleuze com o
pensador vagabundo, Félix Guattari. Aliás, este que permitiu a Deleuze produzir
um pensamento realmente à margem. Assim parto deles, principalmente de seu
ponto de vista ético de pensar o minoritário como fuga do dominante. Este trabalho
é uma experimentação, trabalho em progresso, feito com uma liberdade que a
academia não dá.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Produzi o livro caindo
fora da produção dominante acadêmica. Aqui faço o que não se faz. Não que faça
errado, acho que vou além; além do enquadramento disciplinar. Não só além do
enquadramento, um texto de apologia ao fora do controle, mais, um texto fora de
controle.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O que move o texto é uma
questão de paixão, não de protocolo, anti-institucional.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Escrevi o que segue em pouco tempo, por isso
o estilo. Tentei ao máximo não expor diretamente conceitos complicados, pra
deixar o texto leve, aberto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Penso um conceito, o
experimento, pra traçar essa fuga, o conceito de devir-adolescente. O conceito
de devir de Deleuze e Guattari demorei quase uma década pra entender; não quero
aqui resenhar a obra deles pra explicar o conceito; mas tentarei elucidar, aos
poucos, o que eles chamam de devir. Faço um gesto de apropriação do conceito, proposta
sugerida por Deleuze: roubo não imitação. E do meu roubo... Bem, utilizo o
conceito da forma que preciso. E ele permite isso. Seja pela sua complexidade,
na questão da leitura, seja pela necessidade de sua adaptação pra pensar a
contemporaneidade, o que certos autores fazem, como também tento. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Chamo,
então, o trabalho de Crônicas Fora de Controle. Fora das classificações, fuga
em vários âmbitos. Tenho como um dos temas principais a adolescência, e pra não
pensá-la como algo duro, utilizo esse pensamento Deleuziano da multiplicidade,
do rizoma, da cartografia. Penso a adolescência como território de
experimentações. Não como um território fechado e pequeno, como querem os psis,
pais, professores, pedagogos, policiais, Estado, políticos, mídia, e mesmo
certos cientistas, antropólogos, sociólogos. Mas como disse, não é apenas o
tema; é uma experimentação da adolescência, de elementos de seu território,
pensados como devir. Uma atitude, um estilo, uma ética que diz respeito à
adolescência. Ao fora de controle adolescente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Um
devir-adolescente da escrita. Devir que arrasta outros que se referem à pobreza
e à marginalidade. Marginalidade como multiplicidade, que permite devires
drogado, esquizo, puta, ladrão, etc. Também marginal em relação ao minha tese
de doutorado, pois produzo o livro pra não ser apropriado pela academia. Já a
pobreza, esta é pensada como potência, possibilidade de fuga do padrão
dominante da classe média. E essas crônicas têm algo de pobreza, é uma escrita
pobre, diferente da riqueza das grandes obras e da abundância dos textos
acadêmicos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Adolescência
então, pra mim, o que mais importa, é sua produção de espaço de experimentação,
principalmente, da marginalidade e também da pobreza; essa experimentação se
refere ao devir: devir-pobreza, devir-marginalidade, experimentação da pobreza,
experimentação da marginalidade. Tenho como foco, em parte, os jovens de classe
média. Isso, pois são aqueles que têm mais chances de terem uma vida com
regalias. Pergunto-me: porque alguns destes, talvez uma minoria, têm uma
relação especial (devir) com a pobreza e a marginalidade?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A
questão da marginalidade, eu considero mais importante do que a tipificação de
marginais. Nessa experimentação adolescente há algo de prostituta, drogado,
louco, ladrão. Até mesmo como estado tudo isso se embaralha. O estado diz
respeito às formas fixas, o devir faz conjugação entre elementos diferenciados.
Estado se diferencia de natureza do devir. O drogado experimenta a loucura pelo
uso das drogas, se prostitui e rouba para manter o vício. Um drogado como
estado e passagens por outros tipos de marginalidades em devir. A prostituta
como estado se droga em devir; as drogas podem permitir a ela um campo de
experimentações perceptivas. Ela pode, conjuntamente, roubar e não ser uma
ladra profissional.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quando preso o
marginal é enquadrado em todos os tipos de marginalidade. O poder não reconhece
o devir. Classifica sempre. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Já
o adolescente, o estado é a adolescência, o resto é devir. Então, penso a
marginalidade desses como algo em devir, ou seja, não penso nos profissionais
do roubo, da prostituição, etc. No caso, alguém que comete roubos por diversão,
ou pra manter o uso de drogas; que se droga, mas não é viciado; que faz michê
quando precisa; que trafica pra ter drogas em mãos. Não penso esse devir como
possibilidade, numa apologia, mas como algo concreto que acontece, e a partir
daí penso sua potencialidade. Junto está a pobreza, que faz parte da
marginalidade (roubar para ter dinheiro), mas é também um território
existencial: andar com pessoas de classe baixa, o traficante, ou certos amigos.
Acordar bêbado na rua; dormir na rua; frequentar o morro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Claro
que isso talvez se refira a uma parcela pequena.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Os adolescentes são mais que afetados pelo
poder sobre a vida. Afirmam identidades. Parecem uma lata de lixo, na qual são
postos todos os suvenires de mal gosto da indústria cultural, e eles aceitam
isso. Só que estão mais aptos que os adultos a experimentação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Saiu uma matéria, no jornal gaúcho Zero Hora, sobre uma rua da
cidade de Porto Alegre, a Lima e Silva. No texto é dito que a rua estaria sendo
invadida, principalmente aos domingos, por uma horda de jovens que a tornam um
“antro” de sexo, drogas, e outras coisas: sexo em banheiros de estabelecimentos
comerciais, uso de drogas nas calçadas, agressão aos moradores.</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O
jornal é conservador, representa a classe média e a família. Defende na matéria
o ambiente familiar do bairro. Aliás, o bairro cada vez mais se torna menos
boêmio a partir de políticas públicas encabeçadas por mídias do tipo. Há toda
uma luta por movimentos sociais de tentativa de manter o bairro como espaço
boêmio. A luta parece que está perdida. Interessante que os bares mais
populares são os focos principais – os bares que os jovens frequentam, pois
mesmo se forem da classe média, eles têm menos dinheiro que os adultos. Os
bares mais requintados pro público mais velho são os menos afetados. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sei disso, frequento o bairro faz anos. Por
isso, que em muitas crônicas falo da Cidade Baixa e dos bairros vizinhos, como
o Bonfim. Como adolescente experimentei situações que são demonizadas pelo
jornal, por isso, posso falar de forma mais próxima do tema da
marginalidade.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Aí entra outra questão de
método que é apagada no discurso acadêmico dominante, os traços da vida do
pesquisador. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Deleuze
diz: nada de métodos apenas uma longa preparação. Ele não explica o que seria a
preparação, mas para mim isso é viver, de preferência de forma singular, o que
fazem certos jovens. Penso a vida, mesmo a cotidiana, como espaço de conflito
entre poder e resistência. Portanto, essa vida pode ser matéria prima de
pesquisa. Mesmo trancado em casa ou em pensamentos, o conflito aparece, só
necessita-se do método pra mapeá-lo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Então, trago experiência
pessoais, produzo um tipo de território, que diz respeito a certas pessoas, pra
pensar a adolescência como potência.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O
poder desde baixo, não o poder acima e superior. Como potência não como
vergonha ou passagem que deve ficar no passado. Como experimentação que pode
ser utilizada pelo social. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Jovens
entre 12 e 17 anos, pode ser entre 10 e 25, não tem porque enquadrar a idade. Só
que até os 18 anos eles não têm deveres legais. Podem mais. Os da classe média
sempre têm os pais que podem subornar a polícia. Os brancos tem uma liberdade
maior em relação aos negros. Policias são mais condescendentes com os brancos.
Dois jovens classe média fumando maconha em pleno centro de noite. A polícia os
aborda. Apenas os manda saírem do local em que estavam. Um dos jovens, feliz
com a abordagem, e com sua petulância de criança da classe “superior” oferece
maconha para os PMs. Se fossem dois negros, o que aconteceria? Sabemos e bem, e
isso não é clichê, mas a realidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O
filho do médico acima de 18 que foi preso por porte de cocaína, só que muito
bem tratado pelos policiais. Acho que o prenderam como forma de dar um aviso:
“filho da classe média com todo um futuro pela frente, você está na faculdade
de medicina, está na hora de se endireitar”. O pai chega, paga uma grana para o
delegado e o filho está liberado. E eles, os jovens, usam essa permissão que o
Estado dá. Só que tudo isso que eles fazem sofre uma luta muito dura com as
figuras dos pais, psis, mídias. “Cresça, aprenda a crescer, mesmo que
lentamente”. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A
questão mais importante do trabalho no que se refere à juventude: fazê-los
entender que sua experimentação não deve se tornar culpa. O controle adulto faz
isso: “sinta-se culpado, seu pai faz tudo por você e você apenas faz merda”. Fazê-los
entender que experimentam algo especial. A ilegalidade como exterioridade da
legalidade; a droga como exterioridade da sanidade; o sexo livre como
exterioridade da heteronormatividade; a loucura como exterioridade até da
neurose da culpa. Primeiro então, entendimento de que essa vida tem valor.
Mesmo que o lado negativo, afirmado pelo controle adulto, não deixe de ser
verdadeiro: a linha de fuga que pode levar a morte. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Segunda
questão: produzir, criar valor a partir da experimentação. É o que se passa com
esse texto, que é uma experimentação da adolescência, como já disse. Como criar
valor? Uma relação diferente com a vida. Uma relação com a arte, já que por
essa experimentação passou a arte. Vemos isso nas biografias, ou mesmo na obra
de escritores que não eram adolescentes. Então, marginalidade, pobreza e agora
arte. Produzir arte a partir da experimentação. Ou mesmo filosofia, pois a
filosofia da diferença experimenta os mesmos devires. Seja marginal seja herói.
Não o que morre no fim, mas aquele que produz a partir da marginalidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Importante também, pois depois crescem e podem
ter uma relação diferente com a marginalidade, não paternalista, mas de
parceria. O filho diz que é gay e o pai diz: tudo bem. As minorias vão pra rua
e ele velho diz: meu coração está com vocês. Mas o inverso pode acontecer, pode
virar um reacionário de direita. Vimos isso nos antigos guerrilheiros aqui no
Brasil. Eles traçaram a linha de fuga. Foram para ilegalidade. Foram
torturados, quase mortos. Hoje trocaram de time. Linha de fuga mortífera, morte
da ética. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A
riqueza do território é a fuga dos códigos dominantes. O que podem os jovens?
Muito pouco, apenas viver, não ser. </span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Importa o que motiva
os jovens: a fuga das disciplinas, a busca de autonomia, construir um mundo,
resistir; essa é a única forma que encontraram para lutar contra aqueles que
lutam contra eles, seus pais e a mídia, os seus verdadeiros inimigos, pelo
menos no que concerne a experimentação. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">As drogas e o sexo são os seus aliados. Estão sempre ali, prontos para
os acolher. Eles não têm limites, essa é a real, eles estão cheios dos limites,
dessa vida de todo mundo que constroem para eles.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Passaram mais de uma década trancados em casa,
vivendo como refugiados. E ainda dizem que ser criança é ser feliz; mas não há
nada mais triste que ser um refugiado, um prisioneiro político, o que as
crianças são, como disse o cineasta Jean-Luc Godard.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Quando o corpo fica mais forte e a cabeça começa a funcionar, o jovem
diz: quero minha vida, uma vida singular, e faz ela, uma vida não muito rica:
um visual, uma relação com a sexualidade mais livre, sem complicações, novas
percepções permitidas pela droga, uma semiótica gestual andrógina, um discurso
não legitimado. Deleuze que repetia: fugir, mas na fuga procurar uma arma. Os
jovens traçam sua linha de fuga, e essas são suas armas. Mas por qual razão
isso é tão diferente da semiótica, do regime de signos, dos adultos? O mundinho
dos jovens marca o limite: nós não queremos ser como vocês. E a vidinha
tradicional da família e o discurso da mídia não aceitam isso. Eles dizem:
sejam como nós, ou melhor, sejam quem nós queremos que vocês sejam. Sejam
nossos prisioneiros. Não cresçam, fiquem em casa, pulem a adolescência. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O cidadão perfeito, o bom filho, seria aquele que sai da infância direto
pro casamento, pra vida dos pais. Parece que estou falando do conflito clichê
entre gerações, mas a questão é geográfica, de território: um careta, o
território legitimado, de papai e mamãe; o dos jovens, parte de
desterritorialização do território careta que é re-territorializada num mundinho
mais próximo do devir. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Mais importante, quando </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">perguntam que tipo de vida querem os filhos
europeus – os que estão indignados com a crise do continente e criam movimentos
antissistema – se o Estado pode proporcionar o que querem. Primeiro, muitos
querem derrubar o Estado; segundo, eles são jovens, experimentam a pobreza e a
marginalidade que trato, só que trazem outros elementos. Estes tornam a
experimentação em projeto político. Um outro tipo de experimentação, no entanto,
que faz parte do mesmo plano dos jovens que são politicamente apáticos. Falo
destes movimentos em algumas crônicas, pois são movimentos de juventude, e
também, pois é o tema de minha tese de doutorado. Nestes a pobreza como potência
é sua marca vista nas formas de expressão dos movimentos, principalmente, na ocupação
de praças, nas quais tudo funciona por parceria, a parceria dos pobres. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Quanto ao jovem apático também há um pouco de experimentação antissistema,
em certas subculturas: deixar o cabelo crescer, usar roupas rasgadas, não tomar
banho. O pai odeia o visual. São como mendigos visualmente. Não consomem roupas
de marca. Consomem muita coisa, mas dentro do possível, são antissistema.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Importante meu mapeamento, pois não há movimentos sociais pró-adolescência.
O que existe é de representação, sempre do poder adulto. Também os jovens são
peças-chave nos movimentos sociais, mas as demandas não se referem à pobreza da
vida impostas eles, pobreza agora como impotência. Não há demandas próprias dos
jovens do tipo: “nos deixem em paz pra curtir a vida”. “</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Por
uma sociedade sem pais”, “pelo fim do colégio”.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Caso </span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">mais extremo é o das crianças, estes não podem nem
ir às ruas, como vão lutar contra qualquer coisa? Não trato da infância, a
coisa é tão extrema que parece não haver resistência. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Pensar o poder, também é algo diferente, o que as significações
dominantes não fazem. Os jovens como foco de consumo. Um dos mais importantes.
Os jovens como produto. A maioria consome e bem, e mesmo certos tipos de
subculturas. As mesmas que permitem o devir são também produtos, que vão desde
moda, mídias até questões subjetivas e existenciais: o que se vende como estilo
de vida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Outra coisa é a própria hierarquização entre os jovens e a recuperação
de certos estilos de vida. Exemplo: a maconha vai deixando de ser algo
marginal. O Brasil é um dos poucos países de porte que mantém uma política
conservadora. O fluxo das lutas pela maconha é recuperado pelo poder. Deixa de
ser diferença. Entre os jovens é mais que tolerada, o que pode criar um tipo de
hierarquia entre eles: o cara legal que fuma maconha, o cara sujeira que usa
outras drogas mais pesadas. O locão e o cara cool. Entre os gays, mesma coisa:
o homossexual hetero recuperado e o travesti, o monstro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Importante é que não é qualquer diferença,
qualquer coisa. O mais importante é que o limite da vida cotidiana, da casa pequeno-burguesa
pode ser rompido. O poder disciplinar é afrontado pela juventude. Eles mostram
que há possibilidade de outra vida: novas subjetividades a partir da droga;
existências diferenciais que passam pela pobreza e parceria; sexualidades não
endurecidas, etc. Só que falo em devir e não em estado. Se drogar não é a
questão. O devir-drogado é permitido também pela filosofia. O devir-pobreza da
juventude se refere a uma vida sem excessos, luxo. Ou seja, a pobreza e a droga
não precisam ser ponto de partida pra se construir um devir-pobre ou drogado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Questões da parceria: fala-se sempre da camaradagem dos brasileiros. O
músico brasileiro, Seu Jorge: “eu tava na Europa, e lá ninguém ajuda ninguém.
Aqui no Brasil se falta um gás, o vizinho empresta”. Pelo que recebo de
informações, a parceria a partir da pobreza está sendo experimentada na Europa.
As acampadas funcionam assim: empréstimo da barraca, tudo que se traz é
coletivo, não há donos; a comida, se ganha. As doações. Alguém pega sua grana
para fazer panfletos, depois quem tem dinheiro ajuda. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">As mídias já passaram por isso. As mídias táticas baseadas no faça você
mesmo dos punks, a produção a partir de recursos mínimos e muita cooperação.
Apropriação das mídias, cada vez mais possível pra todo o social. No paradigma
atual da comunicação somos todos ladrões, pobres e parceiros, todos
experimentamos devires ladrão e pobre, todos cooperamos. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Pra que comprar jornal, assistir TV, pra que
pagar por música e filmes, livros, softwares? Tudo está na rede disponível de
graça! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Exemplo das redes. Tenho muitos perfis que compartilham informações gratuitas,
sem receber nada em troca, sobre os movimentos antissistema. Fazem isso por
qual motivo? Querem mudar o mundo, e produção de saber é essencial, e gratuita.
Outra característica das ocupações, suas assembleias e mídias: produção de
saber aberta. Nas assembleias, marco dos movimentos, nas quais tudo que se
decide é descentralizado e aberto, há uma mistura de troca de conhecimento com
as questões organizacionais. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Alguns movimentos lutam por reforma. Movimentos das mulheres, dos
negros, da maconha, das vadias, dos gays. Querem ser incluídos. Outra linha é a
do fim do sistema pedido pelos movimentos europeus. Não mais inclusão, mas
excluir o próprio sistema. Não se excluir do sistema, nem se incluir: acabar
com o sistema. O que está mais próximo é a inclusão.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Finalizando a introdução, como dizia, as problemáticas da criança e da
adolescência, tem uma representação do poder. Importante gente falando para
eles: vejam bem, vocês experimentam isso facilmente. Isso é fácil para vocês.
Isso é legal. É bom. Podem experimentar de outra forma, só que isso já está nas
mãos de vocês. Quanto aos pobres: a única coisa que falta pra vocês é dinheiro.
Nada mais falta. A classe média não tem dinheiro, ela tem a possibilidade de
consumo. Os ricos têm concentração de riqueza, o que querem é poder. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A potência é a riqueza da vida, e é sempre alegre, sem baixo astral de
mortes, risco de vida. Só que mesmo quando a vida é arriscada pode se referir a
um território especial. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O drogado que
prefere morrer a parar de se drogar, é algo triste. Só que nos apresenta novos
valores. A morte como algo temível deixa de ser; se mudam os valores, as
significações dominantes. O enterro poderia ser uma grande festa, mas é essa
coisa triste.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>As significações
dominantes são inimigas quando negam a vida. Quando são exercícios de poder; poder
sobre a vida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Introdução
2 <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Esses textinhos curtos, impressionistas,
posso chamar de lixinhos. São restos, do que vai vir pela frente.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Surgiram de um monte de coisa. Surgiram da
pesquisa, de contatos com gente de muitos locais diferentes, das minhas
leituras, de coisas mal lidas, que tenho que ver e rever, de pedaços de
memória, minhas, de outras pessoas. Aqui atiro pra todos os lados, com a chance
certa de erro. Penso coisas que são do discurso dominante e busco linhas de
fuga. Não só discurso, mas o que é dominante na vida. Busco isso no que está ao
meu redor, sem rigorosidade. Ou o que estava ao meu redor. Escrevi,
principalmente, como linha de fuga da dureza disciplinar, da caretice
acadêmica, que é a vida que sigo e quero continuar seguindo. Mas experimento a
linguagem, as ideias, num barato porra loca da pesquisa acadêmica, da minha
pesquisa. Barato louco, drogado, cigano, puto, marginal, etc. Claro que o texto
não se torna puto; como um livrinho se tornaria puto? Como injetar pó num
livro, se ele não tem veias? Como fazer dele um ladrão? Provavelmente, se
passar pra qualquer acadêmico que se diz sério demais pra falar algo simples, e
muitas vezes carinhoso, como foda-se em sala de aula, em seus artigos, nos
congressos... se eu passar esses textos pra esse cara, ele vai dizer que eu tô
fora da casinha. Vai me mandar pra longe. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Parte por medo, da disciplina, da burocracia,
parte por pudor, ou mesmo porque se acha acima disso. Só que mano, eu posso
defender minha bundinha acadêmica dizendo que eu uso essa linguagem, tom,
porque os autores que eu me apoio não medem palavras; posso dizer que tenho
influências da geração romântica, então posso falar dessa forma: saca? <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Tô usando a arte como potência. Posso dizer
que tô fazendo literatura, o que já fiz e, aliás, foi sempre bem aceita, mesmo
no ambiente acadêmico, porque na arte é permitido. Mas o que interessa é usar,
experimentar pra depois cravar os dentes na pesquisa em sua forma tão branca,
chata e careta; cravar os dentes nela... delícia, um pouco de pele, de sangue,
de dor, prazer, uma curra por traz no pescoço; contagiar ela, com o vírus, numa
transa vampiresca; deixar o vírus agir aos poucos, mesmo deixar ele adormecido,
sem que ela saiba... até que! até que! Atéé-hummm!!!... ver o que
acontece.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Fuga
<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sempre legal dar um tempo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Bom clichê da boa, dos manos, que sempre tão
mais ligados porque tão sempre ligados. Sempre achava um saco pensar. Quem tem
tempo pra pensar?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Legal agir. De
repente, papo de velho: tempo pra pensar. Pensar no que passou enquanto tudo
passa, e o que fica é algo que a gente dá uma puta importância. Mas acho que
não só isso, legal juntar as forças; mais, experimentar a antropofagia: comer
um monte de coisa, principalmente o que interessa. De repente, a escrita passa
por aí, depois de comer de tudo um pouco, botar a bundinha na poltrona e
escrever. Daí fica o que interessa. O que dá pra usar.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não serviu? A gente parte pra outra.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Escrever sempre é bom, melhor que pensar;
agir é legal, mesmo sabendo que depois isso vira lixo e só sobra menos de cinco
por cento. Legal dar um tempo pra cabeça. Daí a gente começa a fazer arte
porque, como diz o senso comum: “a saída tá na arte, ser artista na vida, em
tudo, ser uma pessoa especial”. Só que já passei por essa, e acho que esse
lance serve pra alguma coisa agora. A saída na arte como possibilidade de se fazer
o que quiser, já pensei assim. Putz, escrever notícia como ia ser obrigado se
seguisse a carreira de jornalista; me formei nisso... Não meu, quero escrever
de qualquer forma. Não estou retornando, não é a questão; uma pequena fuga
feita de pedaços, de um monte de coisa. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Prazer
e dor ou outra história <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Sempre pensei que a história do cara que
cheira coca é de fugir da frita, do repé, da ruim, do fim do pó. O cara começa
a cheirar e daí faz o possível pra não parar; fica uma semana acordado até
acabar ou o corpo parar. Daí desmaia por três dias, mal na cama, fritando, suor
lá em cima, ressaca moral e um monte de merda. Daí tem o lado bom, o pico do pó;
o lado ruim é o pico da dor da falta do pó. Mas acho que seria legal sair das
oposições, das piores, bom e mal, prazer e dor, e pensar que isso faz parte do
território do pó. O território: o cara junta o máximo de grana de alguma forma,
como está só na fissura, só muito a fim, junta uma grana de forma legal, ou se
for ilegal, faz algo bem pensado. De repente, pega no morro um quarto de fumo e
combina com o patrão que paga depois. O cara pega o fumo, faz as parangas e
vende rápido pros amigos (em outro caso, se<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>o cara só fuma maconha, pega metade pra consumo próprio, com o resto faz
a grana do patrão e sobra mais uma boa grana), paga o patrão e fica com uma
grana boa pro brilho, tipo mais que dobra a mão. Mas trafiquinho é uma opção,
ele pode passar algum lance, sempre tem algo pra vender em casa; pode fazer um
roubo bem pensado, algum equipamento eletrônico dum vizinho. Pega o pó. Se dá
sorte pega com alguém que recém recebeu e que tá vendendo ainda com bom preço.
No caso, penso no cara que não passa o pó, ou se passar, vai ser pouco, penso
mais no cara que acha que tráfico de pó é meio roubada. Pega o pó e faz a mão.
O pó vai acabar uma hora. Ainda mais cheio de pó, vai acabar liberando pras
minas, pros manos, de repente, vai acabar liberando até pros malas. É esse pó
vai acabar e o lance é não deixar acabar. Como falava, pode ser a fuga da dor,
mas pode não ser só isso, porque quanto mais cheirar, mais dor vai ter depois.
O pó vai acabar. Antes das últimas carreiras já pensa: quero mais e não tenho
grana. Vai ter que fazer grana de forma ilícita, mas de forma alguma quer ser
preso, muito menos por coisa pesada. Possibilidades: vender fumo vai demorar
muito. Pedir arrego pro patrão, certamente já fez isso e tá fugindo dele.
Vender algo, trocar algo por mais pó, já foi tudo. Provavelmente, tá queimado
para pedir empréstimo pros pais e nenhum dos amigos vai emprestar, porque tão
juntando grana pra fazer a própria mão. Uma boa é saber o número dos cartões
dos velhos, o que já deve saber. Roubo: de repente um som de carro. Algo na
casa dos vizinhos. Atacar alguém na rua. Simular um michê com algum viado e
roubar o cara. Fazer um michê. Daí pega mais pó. E a história continua. Quando
acabar e sempre acaba, vai pra cama. Toma valium, fuma um e daí o resto é o
pesadelo. Só que o que parece que é oposto é muito próximo, falta e barato da
droga. Talvez sejam a mesma coisa. A cabeça que funciona sem parar nos dois
casos. A fala contínua no uso; na falta, a cabeça continua, mas sem o outro pra
exteriorizar.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>As ações que fogem daquilo
que se faria normalmente, no uso. Na falta, a impossibilidade da ação, os
pensamentos delirantes, fora do normal. O corpo que sua, treme, mesma coisa nos
dois casos. E como dizia um cheirador: uma semana cheirado só vale se a gente
sofre na cama depois uns três dias. Faz parte. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Relação
diferente com o corpo <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Acho que nos últimos anos é cada vez mais
fácil parar de fumar do que continuar fumando. A mídia, a área da saúde mais os
psis, a indústria do corpo com as academias, as pessoas comuns, Estado com suas
leis, e etc; tudo isso serve como uma rede de terapia em massa. Pra quem quer
parar de fumar e entrar na onda, beleza. Pra quem quer resistir, esse se fode.
Mas tudo muito bonito, em nome da saúde, da gorda saúde dominante.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O cara que fuma sabe que vai trocar alguns
anos de vida por décadas daquilo que o cigarro permite. Já que uma doença
grave, tipo câncer, avc, aparece só na velhice, ou se o cara tiver azar de já
ter tendência pra certos tipos de doenças. Mas e daí, vale a pena uma morte
talvez bem dolorosa, menos tempo de vida, pelo o que cigarro proporciona?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Acho que o prazer é o mesmo pra todos,
talvez... Fumo principalmente como estimulante: café, cigarro e computador pra
mim criam uma combinação perfeita. Me sinto bem sempre em saber que vou poder
fumar o próximo cigarro. Isso que interessa, né? O próximo cigarro. Decidi
continuar fumando após anos de pressão de todos os lados e dentro de mim. Uma
época não conseguia nem ver certos programas de Tv, rádio ou ler certas
matérias que tratavam do tema. Sentia o câncer virtual dentro de mim. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Em três momentos cheguei a agendar uma data pra
parar. Mas uma hora decidi dizer: foda-se! Fico com o crivo. Se isso me der um
final de vida mais doloroso, bem isso pode acontecer com todos. E provavelmente
morfina e heroína vão continuar existindo, ou drogas mais pesadas vão existir,
o que já dá uns anos de alívio. E no caso de avc, que deve ser um lance foda
pelas sequelas, eutanásia caseira sempre é uma saída.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E na real, acho legal pôr a ideia de saúde em
jogo, tirar a doença do espaço marginal, ou mais, colocar em termos de desejo:
desejo da enfermidade, pôr a doença como possibilidade até de alegria, ou mesmo
a morte; tirar as associações negativas. De repente, uma relação diferente com
o corpo, uma relação existencial diferente, dessa existência que criam para
todos. Interessante que o padre sempre diz: “mas você fuma, você não tem amor
pela vida”. Só que viver uma vida construída por algo que vem de cima (poder),
que funciona para acabar com a vida (apropriá-la), é amor pela vida? Claro que
fumar, não é uma grande solução, mas a gente faz o que dá.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ouvi de um cara da saúde num programa de TV: <span style="mso-tab-count: 1;"> </span>“as pessoas não têm direito ao cigarro
somente a saúde”, ele disse isso em rede nacional. Mas daí comecei a dar mais
atenção nas pessoas ao meu redor quando estou fumando, e o que acontece é a
reprodução (só que mais chata) do mesmo tipo de discurso fascista.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Profundidade
e experimentação <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Tava em um encontro de um grupo ligado aos
occupy em Porto Alegre. Era dia 11 do 11. Não sei exatamente porque esse dia
foi escolhido, já que tem toda uma carga espiritual religiosa. Só que após um
contato com pessoas ligadas às ocupações da cidade, percebi que muitos seguiam
algumas formas de religiões, mesmo que não cristãs. Esse encontro era centrado em
uma palestra sobre utopia. O mais importante, em um momento, um rapaz que se
autodenominou de “o artista”, disse: “hoje é o dia em que todas as pessoas
terão a chance de encontrar o verdadeiro amor”. Mais alguns dados: boa parte do
pessoal de ocupação em Porto Alegre era de novos hippies. Os hippies foram a
geração do paz e amor. Uma garota tinha tatuado “amor” em sua mão. Outra
garota, em sua página do facebook, está sentada em uma foto de seu perfil, com palavras
escritas: um amor. A foto esta há mais de um mês. Um senhor que tava passando
pela Praça 15 (lembrem-se desse número), praça central em Porto Alegre, numa demonstração
dos okupas no 15 de maio de 2012, olhou um cartaz da galera que dizia, “amor”, e
falou: “é isso que falta pra sociedade”. No natal, como sempre, minha tia me
enviou um cartão dizendo: “que você tenha uma vida cheia de amor”. Penso o amor
partindo do senso comum: um sentimento “profundo” por alguma coisa, de preferência
uma pessoa. Um sentimento “profundo”. No caso de jovens a gente sabe que dura
pouco, não vira um casamento, isso acontece raramente. Também, o amor não é um
lance só pra pessoas de gêneros diferentes; e não significa um lance
monogâmico. Isso endurece mais com uma idade avançada. Mesmo que não endureça,
em muitos casos. Só que continuam existindo casais de namorados jovens que
dizem sentir esse sentimento profundo. Então, o amor é isso, algo muito
profundo. Recebo uma mensagem de uma amiga que diz: “espero que você realize os
seus sentimentos mais profundos”. No caso, ela não falava de amor. Em uma
conversa com meu pai (note que tudo isso que estou relatando aconteceu comigo
nos últimos três meses): ele disse que a vida de casado, com filhos é mais
rica, já que tudo é muito mais profundo, as relações são mais íntimas. Pensar
profundamente sobre si mesmo cria o autoconhecimento. Pesquisa é um pensamento
profundo sobre determinada coisa: às vezes uma coisa neurótica em cima de um
pequeno recorte do real. Os poetas românticos e seus sentimentos profundos. “Muito
profundo isso que você disse”. “É uma pessoa profunda”. “Você foi profundo
nisso.” Ensaiando: o que são os desejos profundos? Aquilo que está escondido e
que deve ser conhecido? Ou aquilo que está escondido, e que não pode ser dito?
Tarinhas se encaixam aí, tipo sexuais, que são da ordem do desvio? Só que
profundo por isso, e deve ser escondido, ou realizado entre quatro paredes:
como aceitar que papais e mamães trocam de papéis quando estão trancados no
quarto. Então profundidade, aqui no caso, diz respeito a uma pessoa, suas
questões, seus desvios, uma pesquisa, ou duas pessoas, o amor, etc. Uma
pesquisa profunda sobre o mundo é impossível. O amor por inúmeras pessoas é
menos profundo que a fidelidade. Mas “seja profundo” é uma boa palavra de
ordem: na pesquisa, no amor, na terapia. No caso do amigo “artista”, todos
querem um verdadeiro amor. E idealmente, isso que se busca: uma pessoa pra
casar e amar por toda vida. A juventude é legal, em parte, pela experimentação.
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Os jovens não se obrigam a ter relações profundas.
Mesmo que a adolescência seja uma fase profunda, um lance chato. Acho que suas
experiências legais são as de superfície.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>A questão da festa, ambiente interessante. Um espaço de experimentação,
não um lugar escuro onde se realizam coisas proibidas. Droga é permitida de
certa forma, desde que não dê problema aos donos. Os banheiros que enchem de
gente pra cheirar pó, três pessoas em um banheiro que só cabe uma. Também é
proibido sexo em público, e pessoas de sexos diferentes podem ficar um bom
tempo no banheiro, sem problemas. Casais do mesmo sexo se beijando. Ninguém se
importa – claro que depende do lugar. Tudo isso dura pouco, deve durar apenas
uma noite. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Desejo
de outra vida <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Na madruga, perdi o sono, tava um tempo
legal, decidi descer e fumar um crivo com o tio da portaria. Bah, e aí tio, e
tal. O tio sempre legal e receptivo, meio passivo e tal. Daí a gente começou a
falar sobre o tempo, minas, futebol. O tio com uns cinquenta anos, fumante dos
bons, bom bebedor, veio do interior, da roça. Contou sobre as histórias de
menino, que na época dele se ia na escola embaixo de chuva na lama, quando
tinha escola. Veio pra cá, casou e entrou na firma de segurança. 12 horas de
trampo dia, quatro de horas extra, só que obrigatórias, folga de um dia por
semana. Eu de bunda branca e gorda de comida de mamãe: mas como assim tio, caralho,
12 horas direto!?. E o tio: sindicato é uma merda num faz nada. Outro tio,
parceiro meu de crivo, foi despedido do prédio da quebrada, já que era muito
extrovertido. Daí o tio dessa madruga, depois que o mano dele foi ferrado pela
minha gente (os de bunda branca, meus vizinhos), depois disso ficou mais
fechado com medo de perder o emprego. E nessa madruga, falou mal do cara que
saiu, mas como forma de defender o emprego, mais, defender os caras que
colocaram ele pra rua: os moradores, gente da classe média, uns vovôs com sua
vovós, uns caras<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>mais velhos descasados,
alguns casais jovens, umas gatinhas pós faculdade, e eu junto.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Daí fiquei puto, pensei, na real, nem pensei,
tava puto, mas é, dei uma pensada, uma parada, uma tragada, uma respirada, e
disse pro tio: pô, sempre tem essa de uns caras mandar na gente, pai manda em
filho, professor em aluno, patrão em empregado. Os mais ricos nos mais pobres.
E o tio abriu um sorriso, bem verdadeiro, de quem tava entendendo. Daí
continuei, e o lance dos ricos e dos pobres, dos que mandam. O cara que manda
no guardador de carro, no office boy, que trata os funcionários de serviço como
alguém que deve “o respeitar”, esse cara também é mandado. Pelo chefe, pelos
mais ricos; sempre tem uns mais ricos que os outros, sempre tem alguém acima.
Daí falei pro tio, é uma merda, e os caras não fazem nada contra isso. E mais,
não fazem porque se a coisa fica nessa, daí o cara pode continuar mandando; tá
ligado? Daí o cara vende a alma pra ser mandado pra poder continuar mandando.
Daí o tio falou: é uma merda mesmo; começou falar mal dos políticos, tentando
achar a chave do problema, e talvez tentando desfocar do lance de patrão e
empregado, pra não ficar ruim pra ele. Talvez pra poder dizer pro cara da
mercearia lá do fim da zona sul: eu pago as minhas contas, olha só o Zé, o cara
só bebe e bate na esposa, vagabundo de merda. Só que o tio entendeu um lance
que demorei muito tempo pra entender. Gostou do que eu falei. E acho que ele
sacou, ele tá puto com tudo isso. Mesmo que não esteja claro pra ele. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E como esse desejo de mudança que parece que
tio tem e que todos que tão fodidos também têm; como isso pode ser motor de
luta? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Satanismo materialista <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">1.</span></b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"> Tava
na internet, no dia primeiro de maio – 1 do 5. Tava fazendo pesquisa na rede
porque é o dia que marca as lutas contra o sistema sempre. Daí me liguei que a
parte boa da minha pesquisa de mestrado era sobre um acontecimento no dia 15 de
2009. Acontecimento importante, um dos últimos mais expressivos do Movimento
por Outra Globalização: a COP-15. Daí, me liguei em outro 15, do 15M, movimento
espanhol mais importante de luta no ocidente que tô pesquisando no doutorado. Daí
tava saindo de casa e junto da porta na prateleira tava o único livro que tenho
sobre o maio de 68. Numa nóia meio neurótica contei os números: maio, 5, de
1968: 5 e 15. Apareceu de novo o número 15. Coloquei é claro no Google, número
15, depois numerologia.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E achei um lance
legal. A carta do Tarot de Marselha de número15 é a carta do demônio, a única
do tipo, o resto tudo meio new age. Uma carta muito interessante, a
representação dele é bem legal. Uma figura com órgãos sexuais misturados, num
altar, abaixo um homem e uma mulher acorrentados e as correntes levam às mãos
do demo. Já havia notado nos dois livros mais importantes da minha pesquisa, passagens
sobre o demoníaco: os Mil Platôs do Deleuze e o Multidão do Antonio Negri. Nos
dois livros, eles falam em demônios que são legiões de demônios. Negri diz
mais, que os movimentos que lutam contra o sistema formam uma legião demoníaca.
Por isso, os anonymous, um dos grupos mais importante de ativismo na rede, sempre
terminam os seus comunicados dizendo: SOMOS LEGIÃO. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Também Negri e Deleuze citam o vampiro, figura
demoníaca que tem poderes que afetam os códigos de reprodução dominantes; ele
se reproduz por contágio. E Negri diz que algo parecido acontece no mundo pós-moderno,
no qual a família vai perdendo espaço pra associações diferentes e mais
potentes. Claro que Negri e Deleuze não estão falando do deus do inferno, aquele
que tem poderes sobre os caídos. Alguém que como um ditador comanda outros. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Eles falam num satanismo materialista. Nas palavras
dos indignados de todo o mundo é ouvido: viva o poder desde baixo. Isso é
legal, porque os movimentos lutam contra o que vem de cima, o poder. Deus era o
poder que vinha de cima contra o poder de baixo do demônio. Os movimentos são os
novos anticristos. Quanto aos números, bem isso não me interessa, porque
fatalismo de qualquer tipo é um saco. E mais, o lance de pacto com o demônio tá
sempre relacionado com um sujeito, que vende a alma por alguma coisa, poder,
putaria, drogas, e tudo mais. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">2.
Interessante</b> que a figura do demônio é marcante na cultura de massas. Na cultura
pop o demoníaco aparece de forma mais direta com a banda de heavy metal, Black
Sabbath. Banda que misturou o blues (o mais famoso blues man Bob Johnson era,
segundo a lenda, satanista) e o som do Led Zeppelin (dizem que os filhos do
vocalista da banda morreram pela ligação do pessoal da banda com o demoníaco).
Só que o Sabbath em suas letras falava abertamente de satanismo. Os negros (o blues
é negro) sempre foram vistos como ameaça biológica e depois cultural, os
demônios contra os valores brancos dos racistas da américa.Também o filme sobre
as manifestações do maio de 68 do Godard tem o nome duma música dos Stones:
Simpatia pelo demônio. E um filme que ele lançou em 1965 tem o nome de “o
demônio das onze horas”: vamos contar os números: 5 mais 1 – 6, mais 6, e<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o 9 invertido dá 6, ou seja: 666, o número do
demo. Tinha sobrado o 5 do mês de maio do maio de 68: é o número de Baphomet, o
diabo que aparece junto ao pentagrama, e o 5 está no 15. Não parei pra ficar
contando números, mas quando tiver tempo vou fazer isso. Segundo os filmes do Michael
Moore sobre a caretice americana, Marylin Manson era o monstro da América nos
90: um cara que mistura som pesado e eletrônico, mas que encarna uma figura
monstruosa, andrógina, suprassexual. Como a imagem do demônio na carta do
tarot. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Na época que fazia muito sucesso,
o cara era acusado pela direita de corromper a juventude: um monstro. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A
tradição romântica da arte <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">As experimentações de Willian Burroughs –
o escritor mais radical da geração Beat – eram com as drogas. Droga como
possibilidade de fuga do pensamento tradicional, do corpo normalizado, dos
afetos dominantes. Não só droga, como os outros Beats, junto disso a estrada. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Estrada e droga, só que isso não garante muita
coisa. Tipo viagens turísticas que só o corpo se desloca, a mente continua a
mesma. A droga como imbecilização, como dizia o velho punk: o que aprendemos
com Sid Vicious<a href="file:///C:/Users/Diego/Downloads/CRONICAS%20FORA%20DE%20CONTROLE.docx#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
é que ninguém precisa de talento pra se drogar. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Só que a droga e a estrada dos beats, com toda
a sua dor e alegria, com todas as merdas... Bem, sobre isso, a gente pode falar
em transcendência. Outro elemento que vem junto da droga e da estrada na
tradição marginal da arte, é a pobreza: Artaud, Rimbaud, Wilde, Baudelaire, De
Quincey. A crítica literária fala sempre do desregramento dos sentidos, mas
isso e a vagabundagem da estrada estão ligados a uma pobreza espontânea.
Pobreza que na real é autonomia e não a prisão da falta. O drogado que desiste
de tudo, até dos bens, pela droga. Largar tudo e cair na estrada. E a pobreza
produz riqueza, se sairmos do senso comum: privação, dor, fome, tudo isso fez
parte do caminho seguido por esses caras e outros. Tipo Bukowski, um beat
solitário. O cara era meio reacionário de direita; só que na real, ele tinha um
inconformismo com a geração do paz e amor. Importante que ele segue essa tradição:
pagar por algumas noites por um barraco de papelão em alguma cidade qualquer
dos EUA, bêbado e com fome, e buscar um pouco de luz pra escrever alguma coisa.
Ou seu mentor, Fante, que se alimentava apenas de frutas colhidas, não
trabalhar (vagabundear) pra ter tempo de escrever. Burroughs no Tanger, em seu
estado terminal da heroína, esperando que alguém morra em sua frente pra roubar
sua carteira e ter grana pra se drogar; e tempos depois descobrir rascunhos
dessa época que nem se lembrava de ter escrito. Só que tudo isso ainda preso no
sujeito, o gênio moderno, criador. Mas o próximo passo é quando os beats se
tornam referência de massa, com a contracultura. Daí, droga, estrada, pobreza
espontânea viram uma possibilidade pra mais gente, pela difusão do estilo de
vida. Hoje a gente vê algo parecido nos movimentos de okupação de praças. Algo
que deve ser pensado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Prostituição<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Sobre a prostituição, seria legal pensar nela
como potência, não como impotência, vergonha. Impotência é mais que real:
exclusão, marginalidade criadas pelas significações dominantes. Ou mesmo,
prostituição como fantasma: as minas que se sentem putas quando transam. E daí
elas misturam vergonha, desejo escondido, tudo negativo. Ou mesmo, o cara que
trata a mina como se fosse uma. Quanto à potência, ela não é a imitação da
prostituição: a mina que dá pro cara já que ele lhe deu um presente caro. Mesmo
o cara que se sente prostituído no trabalho. Seria um mundo melhor se a prostituição
fosse mais uma das cores da vida, e se faltasse essa cor no mundo, no caso,
esse mundo melhor, ele seria menos vivo. Se fosse assim.<span style="mso-tab-count: 1;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Os
pais, os professores, os alunos e os filhos<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Sempre ouço as pessoas falarem com
orgulho: sou o que sou pela educação que meus pais ou avós me deram. Lembro de
pais de amigos que impunham algo como fibra moral: não faça festa, estude. Anos
depois o filho que sofria e muito com a disciplina paterna, dizia: meu pai me
ensinou a ser o homem que eu sou. Se não fosse ele, eu teria continuado a usar
drogas, eu não teria ido na escola, etc. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Na graduação, notei que os professores mais
chatos eram aqueles mais queridos. Os mais duros, os que forçavam a estudar.
Lembro de dois paraninfos, que obrigavam os alunos a estudar. O desejo da
dureza, da disciplina. Provavelmente, os alunos agora dizem: se não fosse o
professor tal eu não seria quem eu sou hoje. E esse mesmo cara, após o final de
semana chega no trabalho se sentindo um merda, já que tomou todas, se drogou.
Se sente envergonhado, quando lembram ele da sua adolescência. É meu, você
usava todas, e agora taí dando uma de pai, de trabalhador. O lado vergonhoso
que tentam deixar de lado. Acho que a disciplina só acaba quando acaba seu
território ou sua ressonância na vida. Garotas dizem depois que vocês as
chifra: vou ensinar a você; uma expressão que circula em tudo. Acho que
família, ser pai, ter filho, mesmo com toda a flexibilização, se é obrigado a
ser o disciplinador, o cara que vigia e pune. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Acho que no máximo dá pra fazer uma revisão,
uma reforma, mas o que não é muito. É isso: na rua você se fode, em casa você
se tornará o bom cidadão. E todos querem ser bons, bons cidadãos, trabalhar,
pra ter dinheiro. Legal as imagens do The Wall, na parte dois da música. O
professor tendo pesadelos com as punições impostas aos alunos. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Deve ser foda saber que você vai ter que
acabar com a raça de uma pessoa, ainda mais de alguém que ama, seu filho.
Palavra interessante: vagabundo. Aquele vagabundo que só bebe; aquela vagabunda
que dá para todo mundo. Papai não deixa o filho se drogar pra ele não virar um
vagabundo. O professor fecha o aluno na sala, não deixa sair pra não virar um
vagabundo. Pense e aja de tal forma. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E
daí a gente pensa que tá criando uma fuga a partir do campo do saber, pensar
melhor o mundo, mas fecham a gente em mais regras. O ensaio é uma escrita
vagabunda. O jornalismo é interessante porque qualquer um entende. Notícia
ninguém tem prazer com a forma, mas qualquer um pode ler. Crônica algo que dá
prazer. Livro de jornalistas: eles sabem muito bem escrever pra todos. 99% de
lixo. Mas pro homem comum, o trabalho acadêmico é 100% de lixo. Quem tá certo?
Você deve trilhar esse caminho pra chegar no texto correto. No ensaio: você tem
muito caminhos para trilhar, mais fácil de errar. Faça o certo. Mas Cazuza
talvez estivesse certo: erra comigo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Os
manos tão sempre certos: não me enquadra mano, me erra. O corredor é uma
bagunça, mas ali também você não pode fumar um.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Mas sempre há os lugares especiais que você pode. Procurar um lugar
especial no ensaio. Não para ser mais um na massa. Massa de ensaios, qualquer
coisa, todos. Todo mundo enlouquece um pouco. Mas você não fuma um beque na mesa
ao lado da vovó. Você não escreve um título de artigo do tipo: pau no cú do
método. Aja como eu quero que você aja. Papai e professor. Todos conhecem a
fundo as disciplinas, dentro de si. A maioria aceita. Eu não quero ser pai, mas
quero ser professor.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E a questão não é de
autoconhecimento, o poder em mim, mas de pensar o mundo. Estamos no mundo. Mas
então há esse mundo, duro, o bom mundo, de papai, dos professores, do trabalho;
e a fuga desse mundo, as drogas, as putas, etc, o que a gente vive como vergonha.
Se drogar não garante nada. Mamãe, a esposa, vovó, a irmã, a sogra, a cunhada,
todas tomam valium e são as mais caretas de todas. Os pais bebem. Um
adolescente com um beque na mão não tem nada na cabeça. Talvez venha a ter. Estava
na aula de artes marciais.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Lugar bem
interessante, o professor é um PM, e todos os alunos são PMS. Daí aparece um
gordinho, 13 anos. Cheguei nele: porque você tá aqui? Ele: quero aprender a
lutar e emagrecer. Falei: meu, compra um skate, uma bike, ou um roller, e vai
todas as tardes numa pista. Rápido você vai fazer uma turma. Eles vão oferecer
cigarros pra você e drogas; vão levar você pras festas; você vai começar a
emagrecer, e as garotas vão começar a notar você; não só porque você vai
emagrecer, mas porque você vai virar um cara legal.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não ouça sua mãe nem seu pai. Aprenda a
mentir.Você deveria ter aprendido isso sozinho, mas como até agora não, eu
passo só umas dicas. Qual é? Você aceita ser aluno de um pai ou de um
professor? Aceita ser aluno? Faz a sua, mano. Faz a sua. Não encontrou até
agora o caminho, problema é seu. Se fecha na estrutura. Política só nas ruas,
ou a burocracia. Academia não é a rua. Aqui é o lugar. Torre de marfim, meu
bem. Mas como assim, sempre foi assim, é assim em tudo, você quer acabar com
nosso mundo? Eu só conheço esse mundo, amo meu pai e minha mãe, quero ser um
pai e uma mãe, quero trabalhar, ser um bom cidadão. Isso é coisa de revolucionário
de merda! Revolução é quando tudo vai abaixo, os de cima vão pra baixo,
carnaval e putaria. As vadias sacaram bem: putaria política, putaria como
potência, não como segredo ou sujeira. Diferente quando a esposa e mãe diz pro
marido, o qual ela chama de pai: me chama de puta. Só ele pode chamar ela de
puta e ninguém pode saber. Depois olha pro filho e se envergonha. Não é
qualquer coisa meu, quando a gente pensa que tá criando, a gente pode estar no
erro; mas vamos errar um pouco, uma hora a gente acerta. Me erra meu; qual é? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Adolescentes
riquinhos <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Uns caras da classe média, filinhos da
mamãe, que vão ser os pais da classe média do futuro. Mas eles não são a versão
mais jovem de papi e mami. Eles tão na rua de madrugada num bus passando uma
vila, cheio de maloqueiro no bus. Eles tão bebendo vodka de garrafa de plástico
e tão fazendo amizade com os blacks. Eles tão de manhã cedo acordando no meio
da rua com um monte de gente ao redor na mesma. Vômito no chão e tudo mais.
Eles tão subindo o morro de madrugada, e são amigos dos trafi. Eles frequentam
a casa do traficante, um cara fodido, com aids, a mulher também, e os filhos do
trafi tudo magros e fodidos. Se bate fome e tão sem grana comem até do lixo.
Eles transam no mato. Eles fodem em banheiros sujos. Mas meu, eles não tão
imitando o bebê que faz caquinha nas calças ou vomita a papinha no peito,
meu... eles tão fugindo exatamente disso, ou de repente, tão tornando a
impotência da criança na potência. Claro que eles sempre voltam pra casa, com a
caminha com edredom. Podem pegar o carro de papai quando fazem 18. Vão pra
praia nas férias. Vão pra Disney. Mas entre 13 e 17 anos meu, na noite são como
mendigos. Mesadinha acaba na hora com umas pedras de fumo, e o resto do
mês...<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>fazer o que?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Os garotos sempre pensam, de repente fazer um
michê pra conseguir grana. Se for com uma mulher nem precisa pensar. Fazem uns
lances de pobre, drogado, viado, puto, maloqueiro, e tudo mais. Experimentação,
de tudo que papai e mamãe odeiam. E daí classificam, e dizem: isso passa. E é pra
passar, não pode continuar, e os jovens vão envelhecendo: aparece carro,
viajem, o trabalho, dinheiro. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O cara
comia comida do lixo, em meia hora chega o sushi. Ontem tava bebendo vinho de
três real, hoje é whisky escocês e red bull. A cola de sapateiro virou 50
gramas de coca, comprada por um amigo já que não sobe mais o morro e nem mais
trafica. Transa de pé, mas no banheiro com água quente do<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ap, não no banheiro de um bar com um mina pra
lá de louca. Catava bituca no chão, juntava e com uma seda fazia um crivo; hoje
tá lá o estoque de crivo pro mês todo guardado. A gente pode e é foda, a
pobreza que se foda. Não quero nem me lembrar, diz mamãe quando pensa no filho
que fumava crack. E o filho diz o mesmo. E mamãe fica braba porque filinho tá
corneando a nora, e lembra ele: você era um viciado. E ele se sente mal. Ela
transava com todos os caras e depois chorava de culpa. Tava aprendendo a
crescer. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E daí o esposo joga com ela:
você era uma puta. E come ela por trás com dor. A mina filhinha da mamãe, o
bibelô da casa: transou com o namorado viciado em todos os lugares, o cara
comia ela em qualquer lugar, banheiros públicos, praças, e ela gostava. A mina
era quente demais na cama. Mas sem sujeiras. Era uma puta mulher. Era assim
quando tava com o namorado doidão. Mas em casa vestia pijaminha rosa. Comprava
artesanatos, brinquedinhos e talz...<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Mamãe dava suquinho de maça antes de dormir. A princesinha da casa. Hoje
ela tá velha, nem se lembra da juventude. Nem se lembra, mas a juventude tá
presente, toda a noite quando toma remédio pra dormir. E ela fecha os olhos e
tem pesadelos. Oh, o que foi que eu fiz, eu era uma vadia. Vadia a mãe que
fechava a mina em casa; batia nela quando ficava um mês fora de casa na rua
sendo um outro tipo de vadia. A das nossas, mano. Daquelas minas do rock que a
gente admira. Mina que só os manés falam mal. E ela fecha os olhos quando o
marido a come, e experimenta algo relacionado ao passado, mas depois se olha no
espelho e diz com culpa: eu sou uma vadia. Deixam de lado a experimentação,
põem no lixo. Isso já passou. Era adolescência. Hoje você é homem e tem que
impedir a experimentação, principalmente pro seu filho. Odeie a pobreza, a
vagabundagem, e tudo mais. Você parece um negro, tá agindo feito bixa. Acabe
com o minoritário em você. Não experimente. E a questão não é de fuga
momentânea da caretice, mas uma questão existencial. Ele velho, com seus
quarenta anos, um tio bem sucedido, pai de família; ele experimenta um lance
meio homossexual quando caminha, e gosta disso; não é muito, mas é um pouco;
depois o filho vai dizer “eu sou bicha” e ele vai dizer: curta a vida meu
filho. As minorias vão pra rua, dizendo: não nos incomodem; e ele vai dizer:
meu coração está com vocês. Não sou pai de vocês, sou uma bichona, mesmo sem
dar o cú. A mulher vai chorar enquanto ele a penetra, e ele vai dizer: não
chore, você não precisa ter vergonha de ser mulher, quando eu penetro a sua, na
verdade é você que está me penetrando; aí o território dos dois aumenta, podem
mais. Eu sou sua mulher, enquanto eu penetro a sua, seja meu homem, não aquele
que tem poder sobre mim, mas aquele que está do meu lado. Seja puta com
alegria. Somos todos veados. Somos brasileiros e favelados. Viva a pobreza. A
gente se fode, mas é divertido. Uma grande putaria. Carnaval. Isso que se
impede, a alegria contra uma suposta seriedade. Sou um homem sério, sou uma
mulher séria. Mas aqui ninguém tá brincando, não é qualquer coisa, já havia
dito: experimentação do texto acadêmico. Torcer o pensamento, cavar até lá
embaixo, no lugar que tá o demo. Traçar caminhos. Uma hora a gente acerta. Me
erra! <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Texto
indignado contra os caras do consenso <a href="file:///C:/Users/Diego/Downloads/CRONICAS%20FORA%20DE%20CONTROLE.docx#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[2]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Eu tô falando exatamente com você e você
sabe muito bem disso. E quando você lê isso, dói as suas... costas, já que eu
meto bem onde você quer levar, essa é a real. E eu gosto disso, sou às vezes
como você, um filho da puta... mas o lance é você, quem está em jogo... você
foi filho da puta por muito tempo. Você deve. Você sustenta essa merda e diz
que não. Você diz que é cool, que luta contra a merda. Só que na real, isso é a
sua forma de manter as coisas como elas estão. Só que a gente tá de olho em
você e você sabe disso. Sua política mantém essa merda mesmo que você diga que
lute contra ela. Sua saída é se tornar puta ou puta. A puta que nos fode ou a
puta que é puta como a gente. Nós as putas com alegria. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E você sabe o que isso significa quando você é
inteligente, quando é dos nossos. E aí, mané, vai encarar? Já sabe com que tá
lidando. SOMOS LEGIÃO. E a gente vai lutar até acabar com você; a gente quer
derrubar tudo que você construiu. E você está em tudo, ou tudo está em você. E
como é que é? Você acha que eu vou deixar tudo de lado e que vou escrever uma
tese exatamente sobre você, toda branca e limpinha, cheia de palavras retinhas,
tudo muito viado? Acha que vou dar a real sobre você sem ao menos dizer: eu vou
pegar você e vou quebrar você e acabar com você? Acha que vou quebrar sua cara
apenas com um texto insípido, como se fosse uma carta branca de paz? Cuspir na
sua cara é pouco, e uma tese não faria mais que isso. E todos sabem que você é
o problema, que você reforça o problema. E arma branca é pouco. Um tiro é
pouco. Eu quero acabar com você e isso vai doer e muito, da forma que você tem
mais medo. Vamos acabar com seu mundo. E não com palavras apenas. Eu não deixo
minha paixão de lado. Eu quero vida e sangue. Se eu gosto do gozo quando eu
trepo, eu quero trepar loucamente e estou fazendo isso agora, trepando com sua
vida, fodendo com sua vida. Não basta falar sobre a loucura, estou fazendo a
loucura, experimentando... com você agora. Você está faz tempo sentando e calmo
na sua vidinha, e a calmaria acabou: CHEGOU A HORA. “Controle-se”, você diz o
tempo todo, e isso está dentro de nós, mas agora...<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>é o reverso. Vamos acabar com o controle,
vamos enlouquecer; aprendemos isso na juventude e agora é guerra. “Controle o
que você fala e o que você faz. Sente-se como se fosse um âncora de TV. Não
fale merda. Escreva de forma insípida. Faça o certo. Enlouqueça longe. Faça o
que você quiser longe; não chegue bêbado, ou se chegar: imite alguém sóbrio. Faça
as coisas certas. Ou finja que está fazendo arte.” Que você é um cara legal,
que curte arte, já que arte é coisa de gente legal, livre. Você entende o
significado de indignado. Não é? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Prazer
e dor novamente<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Li o relato de um cara que estava se
desintoxicando. Tinha passado seis anos usando todo tipo de drogas. Gostava
muito de qualquer coisa. Tinha uma queda especial por cocaína, mas usava de
tudo: bebidas, maconha, remédios. Gostava muito de remédios que derrubassem.
Qualquer porcaria. Fazia um uso excessivo das medicações que receitaram pra ele
superar o vício. Chegou uma hora, a vida se tornou uma merda. Não produzia nada,
só se drogava. Falou com um amigo uma vez de forma bem sincera: prefiro morrer
a parar com os baratos. Só que uma hora, parou com as drogas, usava os
medicamentos direito, fez tratamento em clínica. Outra coisa: exigiram, família
e médicos, pra que ele cortasse os elos com os amigos; que parasse até com
álcool. Daí ficou um ano trancado em casa. Conheci caras que passaram por isso
ainda bem jovens, com 15 anos. Exigência de corte dos amigos drogados e de todo
tipo de droga. Álcool era situação de risco. O cara podia beber e daí perder as
rédeas e acabar se detonando. Meio foda fazer uma exigência de corte radical na
adolescência. Dos amigos nem tanto, pois sempre pintam novos; o problema é achar
quem não se droga. E o cara também já meio que formou um estilo de vida, que é
a única coisa que tem na adolescência, e perder isso é difícil. Radical também
o corte total de drogas. O cara tem quinze, vai ficar na universidade até os
25, entre isso, tem os 18 os 21 os 23. Fases propícias ao uso. Não sei se funciona,
mas pras pessoas que conheci não funcionou. Outra coisa que é ilusão é cortar
dinheiro. Muitos que conheci inventaram forma de conseguir grana, mesmo lícitas,
o que não envolvia trabalho, mas mentira. Mentira pros pais, parentes, amigos
dos pais. Interessante como são inventivos, em suas mentiras. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas fazer o que? Permitir? Conheço pessoas que
sempre tiveram liberdade, sem repressão, de uso, mas que não abusaram. Bem, mas
o relato. O cara tava trancado em casa há tempos, e sem droga. Começou a ler
bula dos remédios que tinha em mãos. Achou um remédio que lembrava algo que
podia chapar. Tomou dez comprimidos. Ele conta que foi a pior experiência da
vida dele, pior que bad trip. Nada de barato na cabeça, só dor em todo corpo.
Formigamento, febre, câimbras horríveis. Isso foi o mais foda: câimbras em todo
o corpo, que quase o levaram a loucura. Mas em horas passou; ele não contou pra
ninguém. Dias depois, ele não pensou muito e tomou de novo, e mesma coisa. Fez
o mesmo uso durante um tempo, tipo duas vezes semana, e sempre a mesma coisa
horrível. Ele não pensava em coisas do tipo: o que estou fazendo? Só usava. Ele
relacionou diretamente a sensação com o corte de heroína. Tinha lido relatos
sobre a falta de heroína, e pra ele, na imaginação, era a pior coisa que um
cara poderia passar. E pra ele, isso era próximo do que passava quando tomava
as bolas. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Bem, o que pensar sobre isso:
tava se punindo? Queria sofrer? Ou de repente era o mais próximo que podia
chegar da droga, uma droga pesada? Não tava experimentando um lance que dizia respeito
à droga? Ou de repente, queria sentir algo forte, muito forte, como uma droga,
e foi o que achou? Lembro de uma imagem de um filme. O cara tá tendo abstinência,
tá enlouquecido. Os amigos cortam o braço dele bem onde se pica, e ele fica um
pouco aliviado. De repente, ativar pela dor, pela enfermidade o barato da droga,
como possibilidade de alívio. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Casca
dura <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O cara acima criou uma casca dura quanto a
esse tipo de coisa de dor. O que um drogado pode suportar? Se parou, não pode e
não quer enfrentar o uso, muito menos a falta, muito menos entrar de novo num
território que ele tem um apego forte. Coisas ficam. De repente, uma relação
legal com minorias, com a arte. De repente o rock, por sua relação com a droga.
Pedaços da vida que podem se manter e que não dizem respeito à falta. Alegria a
partir do trajeto de vida. Coisas devem ficar. Os médicos dizem: não assista
nem filmes com personagens que se drogam, se você está em tratamento. Sai
dessa, vai fazer outras coisas. Mas em alguns, bem algumas coisas ficam, e tudo
bem. Mas sobre a casca. O cara pode ficar extremante neurótico com certas
coisas que lembrem o uso. De repente, um sentimento bate, forte e ele pensa:
será que vou recair? Mas ele aguenta, e de repente aguenta muita coisa, porque
já passou pela ruim. Aguenta até as neuroses. Os caras em campos de concentração
não se mataram. A vida pode ser horrível, mas se aguenta. Um cara teve um flash
back ou uma bad trip. Foi horrível, a vida dele era fantasia de terror. E ele
disse: mas só isso, vamos pra festa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Bad
trip<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Um amigo teve experiências com drogas
psicodélicas e sempre bad trip, das piores. Era sempre horrível, mas ele
continuava usando, mesmo assim. Valia o barato. Ele também disse que nunca
tinha sonhos legais: não são pesadelos, não são bons, mas são ruins tipo uma
bad trip. Mas eu gosto. Também em um curto período de tempo, ele começou a ter
ataques de pânico de noite. Acordava sobressaltado, com o coração parecendo que
ia estourar. Mas disse: “até que é bom. Parece um tipo de orgasmo no peito.”
Sempre teve medo de morrer asfixiado. Mas começou a gostar da asfixia. Preferia
não ter mais, tratou em terapia, mas pensava: bem, morrer asfixiado não deve
ser tão ruim. De repente, ficou viciado em sentimentos fortes. Ou só encarava
na boa. Ou mais, prazer e dor não faziam muito sentido. Ainda mais pra alguém
com uma percepção já alterada pelo uso e acostumado com sensações bem
diferentes do normal. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">O lance da
psicodelia.</b> Nunca tomei heroína, pelo que leio é um lance forte pra
caralho. Mas parece que o cara consegue tomar heroína e, pelos menos, entrar na
fila de um banco. Mas o cara louco de ácido, dificilmente vai segurar a onda.
Um bom ácido é claro. O cara pode cheirar pó e vai pra aula, pro trabalho, fala
com papai e mamãe. Poucos notam. E por isso pó é um lance que sempre tá ligado
com vida profissional. Os yuppies dos anos 80; gente jovem, cheiradores que se
tornaram grandes empresários, movidos ao pó. Mas e o cara da psicodelia? Nem
todos viram Syd Barret<a href="file:///C:/Users/Diego/Downloads/CRONICAS%20FORA%20DE%20CONTROLE.docx#_ftn3" name="_ftnref3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>; o cara que se fodeu. Mas
poucos se tornam Hunter Thompsom<a href="file:///C:/Users/Diego/Downloads/CRONICAS%20FORA%20DE%20CONTROLE.docx#_ftn4" name="_ftnref4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. Um cara que usava todas e
tinha uma bela vida profissional. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Emoções
fortes todos têm. </b>Paixão<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>já foi
motor de belos livros. Tudo lindo, maravilhoso. Só que o sentimento forte traz
outros. Paranoia: “ela tá me traindo”. Medo: “vou perder ela”. “Será que estou
louco”. “Eu não era assim”. Uma percepção fina: se sentir bem com pequenas
coisas. Uma frase dele; um toque dela. Um amigo disse: pô eu e a gata, a gente
transa direto de qualquer forma; mas ontem a gente ficou na cama os dois
pelados, e nem transou. A gente ficou se beijando, e cara, num era nem beijo.
Eu lambia os lábios dela e ela os meus. A gente ficou nessa a tarde toda. Meu
pau nem subiu, se subiu não notei. Estranho, né? Entra também um lance de
solidão. Eu e o sentimento, eu e ela. Só nós dois. Um cara me disse: “olha que
lance mais doido, ultimamente antes de gozar gosto de dizer pra ela que quero casar
e ter filho com ela. Sei lá, parece a coisa mais forte que posso pensar. É tipo
acabar com minha vida por ela”. E as pessoas ainda fazem isso. Volta e meia,
doidões estão se casando e tendo filhos. Um certo decreto de morte da
juventude. Não da juventude, mas de algo que se percebe nela: a experimentação.
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Escrita
maluquete <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Só que mano, tô meio maluquete. Acordei
assim semana passada, e depois não dormi mais. Tô meio maluquete, cabeça
queimando. Parece que os neurônios tão se indo. Parece não, os neurônios tão na
neura. E putz, véio, num tomei nada. Tipo Roger Waters 20 anos depois da fase
do doce: “um flash back me pegou, pensei que ia ficar que nem o Syd”. Tô mais
pra Waters, mas estar em Waters é ter medo do Syd, nosso Syd. Syd em mim. Mora
um Syd no coração de todo cidadão. Véio, figura, mano. Loucura veio pra ficar,
e se ficar meu... Já tô numas, eu pirado, saindo pra rua e mandando: mano,
trafi, tem uma nóia pra me passar? Trafi, tem um deliriosinho só pra mim, do
bom pra vender? Mano, trafi, tô a fim de qualquer coisa, pode ser uns tocs, ou
até um déficit de atenção. Pode ser até deprê da boa. Me vende aí uma bipolaridade.
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Porque se passo o meu lance pros cara da
saúde, os cara me trancam, daí vou pro xilindró. E daí o lance é fugir, meu.
Sair correndo. E não só nóia, meu, qualquer coisa viagem. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Me vende aí uma viragem de 180 graus do
cabeção. Pode ser uma viadagem. Tipo umas horas de lésbica. Me vende aí uma cor
pretinha, pra eu ficar neguinho. Pode ser uma dose de cigano. Qualquer
barato.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Me vende umas horas de sapo.
Virar um sapinho e curtir um lance úmido. Meu, tem um lance pra vender tipo
norte africano na Europa? Tipo, cubano nos anos 80 na Flórida? Meu, preciso de
qualquer coisa. Cansei de correr. Tô dando volta e tô tonto. O mundo tá muito
circular, sei lá. Me passa ai um câncer, me passa um avc, qualquer barato meu.
Pode ser um hiv. Pode ser uma dose de qualquer coisa de duas horas, meu. Qual é.
Vai deixar o mano na seca? Só não me passa barato ruim: tipo ladrão na cadeia;
tipo viciado em clínica; tipo doente em hospital; tipo louco no manicômio. Meu,
não quero ar livre, me vende uma poluição. Meu, me trafica um ataque nuclear.
Meu, me dá uma radiação, qualquer merda. Meu, me passa aí uma febre religiosa,
tipo: amo deus. Meu, me passa um lance meio vadia, transando em banheiro em fim
de festa. Me passa aí um barato tipo briga de faca na rua. Meu, me dá uma noite
inteira por duas horas, cara. Pode ser também comida transgênica. Rango de super,
sucrilhos, doritos. Uma ceva brasileira. Um vinho da colônia. Um mcdonalds. Meu,
qualquer coisa. Pode ser até notícia ruim. Meu, me manda uma notícia horrível,
tipo: depois de dez anos de revolução nada mudou. Meu, tá vendo que tô sendo
flexível. Topo todas; qual é? E aí? Só não me coloca numa fila. E se for engarrafamento,
só devido a acidente com mortes. Me dá uma morte aí, meu. Uma morte eterna, no
fogo do inferno por duas horas, meu. Muito a fim. Mina feia. Puta com dst. Qualquer
coisa. Me dá umas veias cheia de coágulo, abscesso. Conhaque francês falsificado
do paragua. Me dá uma traição. Me dá uma chifrada da boa. Mas tem que ser junto
ao mar. Meu, me dá uma frase: seu cachorro. Pode ser criança chorando; o choro
de um monte de crianças. Depois eu pago. Passa agora. Senão, vou cair numas. E
pra prisão num volto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Pedofilia
moral <s><u><o:p></o:p></u></s></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Eu tava dirigindo em Porto Alegre, domingo
de tarde. Lance legal. Nos dias de semana é um saco, mas no fim de semana, é
tipo... 80 por hora na boa. Daí, legal dar uma banda e ouvir um som. Eu tava
ouvindo um Joy Division. Meio que dançando com os olhos e tal. Tentando não
chamar a atenção do tipo: “oh mãe, tem um loki dançando sozinho no carro”. Daí
tava numa avenida, na zona sul, descendo ela. De repente, o trânsito fica mais
lento, a rua fica flat, um semáforo fechado. Daí vi de longe, ela: uma gatinha.
Ela tava entregando panfleto. Ruiva de pele branca. E eu: uau; é o que eu gosto.
O cabelo não era natural, mas branca e ruiva, um ruivo quase natural. E ela
começou a ir na minha direção, entregando panfleto. Chegou perto o suficiente
pra eu ver que tinha olhos claros, verdes. Depois chegou perto o suficiente pra
eu sacar que eram de verdade, não era lente. Pensei: tudo de bom, branca, ruiva,
de olhos verdes. Tava maravilhado com isso. Já tinha dado uma idade, mais de
18. Só que daí comecei a reparar no resto. Peitinhos pequenos: ok, ela tem 18.
Putz, ela não tem coxas: deve ter 17. Vi bem o rosto dela: putz, 16? Ela lançou
um sorriso do nada, não para mim, nem pra nenhum motorista, sorriso de quem
tinha 15. Eu: merda, tava ligado numa gatinha de 15. Fiquei numas: será que vou
ser preso, por isso? <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Já tava pensando
algo do tipo: gatinha entra aqui no carro. Vem meu bem. Vou levar você pra casa,
vou cuidar de você até terça-feira. Merda. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Parte
2.</b> Lembrei dum mano meu. O cara tinha 15 anos e gostava de garotos de 12 e
13, normal. Daí ele fez 18 e continuou na mesma, normal. Só que daí ele fez 25,
na mesma, meio normal. Agora tá com 30 e tá na mesma. Falei prum amigo mais
velho e ele disse: manda o cara pegar uns de 18, ele pode se dar mal. Essa
merda não é ilegal; só que moralmente, como fica? Eu tinha 25 e tava descendo
uma rua aqui de Porto Alegre, a Independência. Vi uma mina com uma criança pequena.
A mina era muito bonita: baixinha, mas morena, pele bem branca, magra e com
belos peitos. Comecei falar com ela. Ela bem legal e receptiva. A gente começou
a descer a rua juntos. Andamos bastante, até perto do colégio do Rosário. Daí
perguntei: bem, você tá indo pra qual lugar? Ela disse: só tava acompanhando
você. Pensei: uau. Peguei o telefone dela. A gente começou a se falar, e tal.
Ela começou a me encher o saco, mandando poesia. Mas tudo bem. Um dia a gente combinou
de se encontrar. A gente foi numa lancheria próxima dum parque, o Redenção, um
lugar meio de hippies. Dei uns beijos nela. E perguntei a idade. Ela disse: 15.
E eu: mas como assim? Pensei que você tivesse mais de 18. Porra mano, ela tinha
um corpão. Só que nem me liguei, não fiquei pensando. Como morava perto, na
Cidade Baixa, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>levei pra casa. Agarrei
ela. Tirei a roupa. Comecei a ficar meio que muito a fim. E ela disse: vou
embora. Assustei a gatinha. Ela tinha 15 mesmo. Depois disso a gente se falou,
mas eu não dei valor. Tava ficando com outras garotas e tal, e pensei: ela é
muito complicada. Só que hoje, bem, mano, eu não entraria no meu edifício com
uma gatinha de 15. Nem em motel; não daria uns beijos na rua, etc, mas o lance
é que... bem, falo aqui sobre os adolescentes, e sua experimentação. Acho que a
maioria toparia um lance com um cara mais velho. Mesmo que papai e mamãe, uma
certa moral, travem um lance desse tipo. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Emos
<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Não lembro exatamente quando virou moda
aqui em Porto Alegre. Mas comecei a conhecer cada vez mais garotos e garotas
que trocavam carícias em pessoas do mesmo sexo. Eles ficavam junto a um arco
que tem no Parque da Redenção, em Porto Alegre. Como eu morava perto, na Rua
Santana, sempre passava por ali e conversava com eles. Sou de uma geração
anterior. Todos meus amigos dos meus 12 aos 18, os caras eram grandes
fascistas. Odiavam gays. E eu também. Os caras usavam todas, mas sobre
homossexualidade, eram reaças. Eu sentia em alguns momentos, um lance meio gay
entre eles. Só que nunca fiquei sabendo de casos entre os caras. Quando me
desliguei deles, comecei a andar num ambiente de música eletrônica. E a coisa
mudou. Me vi falando e fazendo uma amizade efêmera com viados. Como boa vítima
da moda, ia direto no cabeleireiro. E o cara hoje é transexual, prostituta na
Europa. Me liguei um dia que tava caminhando com ele no centro, e pensei:
dane-se. Acho que o que ajudou foi minha bagagem literária. Sempre li muito
sobre rock desde muito novo. Voltando pra história dos Emos, via eles mais no
fim de tarde. Acho que eram os primeiros da cidade, nem havia virado moda.
Ainda era subcultura. A coisa rolava entre eles na boa. Se beijavam; mas não
sei se faziam sexo. Gostava deles, as garotas não eram frescas e eu me dava bem
sempre. Eles não se detonavam, não faziam muito. Mas se aparecesse alguém com
alguma ideia louca, eles topavam. Ainda era época que menores de idade podiam
frequentar casas noturnas e acho que podiam beber. Lembro de mim com 14 anos
num desses bares, tomando todas. Hoje a garotada no máximo falsifica a
identidade. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Morte
<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Tenho uns traços de hipocondria. Já foi
pior, mas ir no medico é horrível. Mesmo dentista. Fumo muito, daí medo de
câncer de boca. Tava com lances na visão. Medo de ficar cego. Etc. Mas tudo
muito efêmero. Só que o suficiente pra me deixar mal, por alguns momentos
durante um tempo. Num desses momentos, falei pro meu pai: cara, vamos comprar
uma arma? A gente deixa contigo; daí se alguém ficar doente, bem a gente tem a
arma. Falei também: não quero me atirar de um edifício, tenho medo de altura. Uma
boa piada de humor negro. Mas no fundo falei sério. Pular de um edifício é
foda. Um tiro me parece mais limpo. Deleuze fumou bastante, teve uma doença de
pulmão; quando não podia mais escrever, pulou da janela. Mas como eu fumo, é
algo que penso: um tiro limpo. E mais, se eu pudesse apertar um botão, e morrer
sem dor...<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>não sei, eu pensaria agora se
deveria ou não, paralisar tudo. E interessante quando penso nisso, não penso em
fazer sofrer os outros, a minha família. Como também não estou me importando
com o sentimento deles. Teria que pensar qual território é mais rico, o da
morte ou o da vida. Pai diz: cara, com essa idade pensando nisso. Só que o papo
não é do tipo: “tudo é tão horrível, não quero viver”. Se matar no auge, ou
tendo um belo horizonte... Morrer com alegria. Uma experiência. O lance não é fugir
da morte pela morte. Não é por aí. Acho e espero. Mas uma pequena aventura. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Festa
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Gosto de festa. Primeiro a música. Se
quisesse gatinhas mais velhas, iria pra outras bandas, não lugares do rock. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Só que não ouço pagode. Até gosto de música
eletrônica, mas não me sinto bem em lugares gls, já que não tem mulher. Meio
chato entrar em banheiro com gays. Os caras são fortes. E não sei o que eles
fazem nos banheiros. Então, tem uns lugares que tocam certa música que me
agradam um pouco. Gosto de dançar, me sinto criativo. Legal experimentar a
dança de gente como Ian Curtis, Iggy Pop, e etc. Às vezes consigo me mexer
legal. Sentir a música. Mas não o lance de dar show. Então, som, dança, as
garotas. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Se pinta uma garota, ok. Se
rola, sempre é bom. Mas só se a coisa for efêmera, não estou procurando o amor
de minha vida, ou algo um pouco mais sério. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Já fiz muito isso. Ficar uma noite dando em
cima. Um bom método. Rendia um namoro de semanas pelo menos. Hoje sem
paciência, pelo menos na noite. Legal dançar, fazer umas merdas, enlouquecer um
pouco. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Importante festa como ponto em
que nada se constrói. Passagem. Uma noite apenas. Lado bom da noite. Sempre me
pego conversando com pessoas diferentes. Parece que elas nunca são as mesmas.
Lugares escuros pra conversar, o do cigarro. Pista de dança também. Quanto mais
escuro melhor. Claro que o que faço de tarde é mais claro. Só que na noite,
vale a escuridão. Pelo menos gostaria de chegar anônimo e sair anônimo.
Impossível, só que dá pra chegar perto disso. Usei muito como metáfora pra algumas
namoradas: vamos construir uma casa. Construir uma vida. O inverso do que a
noite permite... se bem que em certos momentos, vale a pena construir pelo
menos uma barraquinha. Okupa as relações amorosas!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Carta
a um professor <a href="file:///C:/Users/Diego/Downloads/CRONICAS%20FORA%20DE%20CONTROLE.docx#_ftn5" name="_ftnref5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[5]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Bom dia, professor<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Sempre bom falar com o senhor, pois
falamos a mesma língua. Assim sabe que de forma alguma critico seu método em
sala de aula, além do mais, sabemos que você é o professor mais qualificado da
pós. A crítica passa muito mais para o ambiente de sala de aula. Mesmo o
revisando, creio que não é muito. Podemos fazer uma relação com a política:
revisar a democracia, não é muito. Interessante o senhor usar a expressão solipiscismo,
pois minha crítica passa exatamente por aí: certo discurso acadêmico, que se
fecha em si mesmo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Aliás, as pesquisas
muitas vezes, em alguns casos, todas, trabalham com conceitos que impedem o
diálogo com outras.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ou o corte entre
discurso acadêmico e sociedade. Mundo acadêmico isolado. Se nós não nos
entendemos, a sociedade vai nos entender? Certo tipo de produção ensaística
também, concordando com você, não me parece a solução... Tento cada vez mais
pensar minha pesquisa como pertencente a certo pensamento coletivo; e creio que
não basta deixar de lado o subjetivismo em nome de uma certa frieza científica.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Gosto muito de apresentar seminários, dar
aula, palestras, me sinto bem, pois desejo ser professor, ou seja, como profissional
não posso fugir disso. Também concordo que teoria serve como caixa de
ferramentas, se não serve, não interessa, bem parte-se para outra. Aí se
encaixa muito bem meu caso; trabalho com certos autores que fazem uma crítica
radical ao estabelecido. Creio que são autores que poucos usariam, ou
conciliariam com suas pesquisas sem criar uma contradição. Esse é minha linha
de fuga desde o mestrado da proposta acadêmica; dura escolha, mas é o caminho
que decidi manter. Se minha pesquisa de mestrado foi falha em muitos aspectos,
esse talvez tenha sido o principal: pela falta de tempo pra fazer uma pesquisa
bibliográfica consistente, o que pode ter resultado em ficha de leitura em
parte do texto final. Só que se eu não tivesse passado por isso, eu não teria a
consistência teórica que tenho agora. Ou mesmo chegar a conclusão, saindo do
solipsismo, de que o que importa é a relação, o bom encontro entre campos,
disciplinas, centrando em certo significado de política. Aliás, acho que todas
as pesquisas em todos os campos deveriam ter o mesmo tema: poder e resistência.
E creio que de Foucault até Negri, as significações de poder e resistência são
mais do que razoáveis. E se fico em silêncio em sala de aula, deve-se ao fato
de não gostar de discussões, embates de ideias, pelo menos presenciais. A
coisa, às vezes, parece que vira pessoal. Mesmo eu deixando sempre claro que
não é pessoal, apenas uma apresentação de certo tipo de pensamento, e dizer: eu
penso isso; pra mim diz muito pouco. Na real, nem faz sentido. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Torcer
o território<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Dá pra fazer coisas em certos lugares que
a gente nem sabe. E isso é importante: tentar. Na sala de aula, nas festas, em
casa, na rua. O território é mais aberto do que parece. O fim do território é a
cadeia, o manicômio. De resto, é festa. Só que a gente não faz. Não usa o
território. Se bem que pode rolar brigas e tiroteios. Ser precavido. Mas tem
que se foder pra saber até onde dá pra ir. Tem caras que fumam maconha na rua. Cheiram
pó nos banheiros. Fumam outras merdas na casa da família. Chegam bêbados em
sala de aula.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Até os policiais permitem, de certa forma. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Filmes
sobre monstros do David Cronenberg<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Gêmeos
Mórbida Semelhança</span></b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">: dois irmãos gêmeos que se complementam;
mais, se misturam, criando uma mesma coisa. São médicos bem sucedidos. Um gênio,
o outro um bom marketeiro. Se apaixonam por uma mesma mulher. Começam a se
drogar. A mulher tem um útero mutante. Paixão, drogas, a relação anormal dos
irmãos, a mulher mutante. Mais pro fim, um dos irmãos experimenta algo entre
arte e ciência. Ele fabrica aparelhos que ele chama de cirúrgicos pra mulheres
mutantes. Um artista descobre e rouba as peças. Uma cena chocante do filme, um
sonho de um dos irmãos: os dois grudados como siameses e a mina que eles tão a fim,
ela morde o lugar no corpo que os liga. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No
fim, os dois estão viciados em heroína; um deles pede ao outro que ele o mate.
O que fica vivo enlouquece. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">A Mosca</b>:
um cara que se transforma, aos poucos, em uma mosca após uma experiência científica.
Quando vira totalmente mosca pede pra ser assassinado. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Fugir da sua própria humanidade. Só que a fuga
não dá certo, leva a morte. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Crash</b>:
sexo e máquinas. Sexo e automóveis. Viciados em sexo e automóveis. Melhor,
viciados em acidentes de carro. Fetichistas de acidentes. Rossana Arquette faz
um papel meio humano e meio máquina. De tanto acidentes, virou um pós-humano.
Próteses de metal por todo o corpo, mas ainda gostosa. Ela e o personagem
principal vão numa revendedora de automóveis. O vendedor lhes mostra um carro, eles
entram nele e começam a se acariciar ao lado do vendedor. Ele – o vendedor –
não resiste e acaricia ela. Ele fica com tesão dessa mulher-máquina. Uma mulher
de muletas, com próteses, louca o suficiente pra transar num carro em uma loja.
O vendedor podendo perder o emprego. Ele é o único que parece ser mais normal; de
terninho e gravata, acho que calvo e de óculos. E ele quer fazer parte da
festa. Só fica nessa, mas um bom começo. Queria saber o que virou a vida dele
depois disso. Daria um outro filme. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Naked Lunch</b>. Adaptação da obra do
Burroughs, com muitos elementos da biografia dele. A mulher do personagem
principal, Burroughs, é viciada em veneno pra barata. Na vida real, era viciada
em benzedrina. Burroughs se vicia em pó de lacraia brasileira, era em heroína. Uma
barata-agente secreto manda que ele mate a mulher. Sem querer, faz isso. Na
vida real, isso aconteceu, Burroughs matou sua esposa. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Depois de aparecer a barata tudo vira pesadelo,
com muitos monstros. Agentes monstros, máquinas de escrever monstros, gays monstros.
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Laranja
Mecânica <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Cena inicial: a gangue de Alex (personagem
principal) e ele, eles tomam “leite com facas”, um tipo de droga pesadíssima.
Estão sentados, olhando pra câmera. Olhar fixo de chapados. O som de fundo, um
órgão com alguma música de Beethoven. A câmera vai abrindo aos poucos. A
primeira metade do filme o torna o que é: uma grande obra; só que da libertação
de Alex da prisão, no meio do filme, até um poucos antes do final é moralista. Nesse
tempo, Alex paga pelos pecados. Já o final é um final feliz, mas diferente
desses de filmes ruins: a felicidade de um psicopata. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Depois de se dar mal, pode voltar a agir como
um monstro. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A história do filme: Alex tem
menos de 18. Toma drogas pra ficar violento. Em uma noite, espanca uma gangue
rival; quase mata um velho mendigo com seus amigos; estupra uma jovem esposa de
30 anos. No fim, bebe mais leite, vai pra casa e meio que adormece ouvindo
Beethoven. Tem sonhos com assassinatos. Em seu quarto toda uma riqueza de
signos: escultura de cristo dançando; uma cobra de verdade; quadros de mulheres
nuas de pop arte. No meio do filme, mata uma mulher, é traído pelos
companheiros, pega 14 anos de prisão. Na prisão, entra em um programa de
condicionamento. Vê filmes de violência e impõem a ele doses de uma droga
terrível, ao fundo a música de Beethoven que mais gostava, a Nona Sinfonia.
Fica condicionado. Sempre que pensa em agir violentamente ou ouve a música,
sente que vai morrer, uma dor terrível. Até aí ok, mas depois, como disse, o
filme fica chato, Alex paga o preço. Encontra todos que abusou com violência, e
quase morre. No fim do filme, o Estado o acolhe, e ele se liberta do condicionamento.
Eu não havia falado da violência sádica, no caso de Alex, por prazer. Violência
pela violência. Legal que o Estado permite a violência de Alex. Isso tá mais
evidente no livro do Anthony Burgess, que deu origem ao filme. No livro, uma
hora ele acaba se cansando, como se a violência estivesse mais relacionada à juventude.
Duas coisas importantes que estão relacionadas: violência e juventude. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Isso aparece nos movimentos de luta contra o
sistema. Vemos a violência contra o Estado feita pelos jovens, só que violência
legítima, a violência da revolução. Aparece como possibilidade aqui neste
livro, algo como tentar uma escrita violenta; a partir da violência existente. Violentar
o leitor, ou seus ideais, o que dá no mesmo. Um pouco de psicopatia talvez,
frieza, meter o dos outros na reta e também o meu. O dos outros que está em
mim, o que compartilho, ou seja, me violento. Uma coisa que não gosto em aula:
falta paixão nas falas, reflexo da mesma falta nos textos. Nas assembleias dos
movimentos de ocupação, já senti o ambiente aguado. Só que em Barcelona o
pessoal tá realmente indignado. Ouvi algumas vezes nos encontros do movimento,
o pessoal falando de ação direta violenta, de forma apaixonada. E bem, os caras
tão encarando a polícia de frente, diferente daqui do Brasil.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Mulheres<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Um amigo meu jovem, duns vinte poucos
anos. Tava numa fase bem aberta: drogas, loucuras, mulheres. Tava meio que
namorando uma mina. Daí começou meio que namorar a melhor amiga dela. Ficava
com as duas. É, tava ficando com as duas, e um dia, do nada, apareceu uma mina
que ele meio que tinha namorado. Era verão, elas não tinham o que fazer nem ele
e... bem, um dia ele diz que olhou pra sala e estavam as três conversando: duas
de 18 e uma mais velha que ele. Sentiu que tava num transe, e de repente acordou
com elas ali. Daí olhou pro outro lado da sala e estava uma mina que morava com
ele. Dormia na cama com ele, os dois abraçados. Ele transava com todas elas,
uma de cada vez, enquanto as outras faziam sei lá o que. O cara não era bonito,
também não era feio. Não era burro, mas também meio pateta pra ser inteligente.
Podia só fingir que tinha lido. E o cara não era nenhum grande amante. Na real,
o cara era filha da puta. E as garotas eram bonitinhas, a mais nova, a mais
bonita virou namorada fixa. Ele não se preocupou com preservativos com elas.
Quando a festa acabou, ele pensou: me fodi, vou ser pai de quatro crianças
direto, tô fodido; mais, AIDS na certa. Só que elas se cuidavam, ele que não.
Eram todas meio caretinhas, deixaram de ser com ele. Mesmo assim, ele tava meio
noiado com tudo, e conta que o fantasma da AIDS meio que pegou ele por um
tempo. Meio foda, delírios e tudo mais. No fim, tava tudo bem. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Só que ele pensou na loucura, talvez seja bom,
de repente, nós cinco com AIDS, uma família decadente feliz. Dessas dos adesivos
dos carros: tipo cinco lacinhos vermelhos. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Sid
e Nancy <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Puta filme. Os dois viciados em heroína.
Nancy garota de programa. Sid roqueiro que come todas. Os dois se amam de uma
forma punk. Se batem, se xingam, fazem um monte de merda. Sid chega ao final da
carreira como músico. Só heroína. Perde show. Nancy se acaba também, daí Sid a
mata. Música anarquista, heroína, amor livre, um amor punk. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Massas
<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Dois jovens no décimo andar de um edifício
de frente pra rua central da cidade. Ali embaixo, milhares de pessoas
caminhando. Os dois cospem lá embaixo. Um deles atira uma pedra. Interessante
que nenhum deles fez ou fazia algo do tipo em pessoas cara a cara. Medo? Talvez.
Mas ali de cima, podiam demonstrar seu desrespeito pela massa. Um monte de
gente caminhando como bovinos. Mais, vistos de cima, um monte de formigas. Aqueles
que sustentam essa merda. Aqueles que querem que as coisas fiquem assim. Só que
a massa pode mudar de forma. Passeatas visualmente têm a mesma forma dos bandos
bovinos se vistas de cima. Só que ali em baixo as coisas mudam. Um certo
vitalismo. Como na Marcha das Vadias. As meninas nuas. Todos sorrindo. Os
cartazes dizendo coisas maravilhosas. Diferente de uma procissão. Aquela coisa
triste. Desespero. Todos chorando por deus. Um cortejo fúnebre? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Sono
<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Final de semestre, eu bem cansado e
insatisfeito com o ambiente institucional. Muito puto já que vai demorar mais
uns três semestres pra ir pra Barcelona. Puto porque em algumas noites peguei
umas gatinhas caídas. Daí durmo muito no fim de semana, e travo na terça. Fico
dois dias sem dormir. Daí uma amiga me liga dizendo que tá com uma doença de
merda. Isso me deixou fodido pacas. Primeira crise existencial do semestre. Um
saco; muita nóia. E por aí vai. Daí decidi ficar mais em casa, o que acentuou
tudo, meti solidão no meio. Como não dormi até agora, fiz um café bem forte. Nove
da manhã. A vizinha do andar de baixo vai tomar banho. E eu aqui escrevendo.
Como dizia: aproveitar o que tá rolando. Mesmo que me leve bem pra baixo. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Rotina
<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Nunca gostei de supermercado. Muita gente.
Carrinhos trancando a passagem. Crianças sendo levadas pelas mães. Vovós em
grupos. Os vovôs que arrumam as compras em ordem. Poucas gatinhas sós, muitas
acompanhadas. Gente que me lembra que há uma vida que quero distancia. Não sei
se são pessoas legais, ou não. Se são inteligentes ou não, mas... bem a gente
sabe porque esse tipo de gente tá lá. Mãe com filhos pequenos, possíveis donas
de casa. Vovós e vovôs, nada pra fazer. Casal, manter a rotina; se jovens,
fingir, brincar de casinha. E vou direto no super, porque as coisas acabam
rápido aqui em casa. Eu assalto geladeira de madrugada. Deixa uma pizza fria na
geladeira, eu acordo no sofá comendo a pizza sem saber como fui parar ali. Daí tem
o pessoal que coloca compras nas sacolas. Serviço idiota. Será que os caras que
vão no super não conseguem fazer isso: ensacolar as compras? Daí olho as
compras das pessoas, e elas se alimentam mal: sacos de salgadinhos, barras
enormes de chocolate, doces... Imagino daí as donas de casa, sem nada pra fazer,
fazendo comida. Frequentava a casa de um amigo, o cara viajado, inteligente,
gay. A mãe não fazia nada, um terço do dia em casa limpando. O resto, via
televisão, bebia vinho e tomava bola. O pai, que trabalhava, quando em casa,
ficava fazendo comida. Parecia que os caras só comiam. Fim de semana, nada pra
fazer, o pai brincava de artesanato. O sonho dele era morar no mato. Perto
desse mundo do super, da classe média, da família, me sinto sufocado. Tenho
medo de que isso venha acontecer comigo algum dia. Diminuir meu território.
Morrer gordo e cheio de filhos em Porto Alegre. Já morrer enforcado em algum
albergue barato na Europa, me parece interessante. Fazer uma festa de seis
meses. Daí quando acabar a grana abreviar a vida. Tenho muito a viver; mas se a
escolha for entre essa vida de todos ou o suicídio, está bem claro o que eu
escolho.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Relacionamentos
<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Viver uma vida clichê não é difícil.
Melhor, difícil é não viver uma vida clichê. Imite um filho, imite um pai,
imite alguém incluído; ou mesmo: imite uma bicha. Tudo muito fácil. A gente
sabe como agir, tá tudo pronto. Imite um namorado. É só comprar um fone de
ouvido, a mina vai falar a tarde toda. Mais sutil: finja que você está
interessado. Se o cara não finge, se está interessado, é porque tá fodido... encontrou
o amor de sua vida. Vive num conto de fadas, naqueles que se diz de coração:
você chupa bem, meu bem. Mesmo que ela não saiba o que tá fazendo. Difícil
fingir ter paciência. Impossível. E tem uns caras que querem isso pra sempre. O
cara do filme o Homem do Ano (do <span class="st1"><span style="color: #222222;">José
</span><span style="color: black; mso-bidi-font-weight: bold;">Fonseca)</span></span>,
diz: quero casar, ter filho, arrumar um emprego. No fim, mata a esposa, vende o
filho, larga tudo, cai na estrada. Deve ter prestado atenção no Pereio que diz
no filme: são todas umas vingativas, umas chatas, tem que dar porrada. Sobre
filhos, Pereio lança outra: no casamento o que é mais complexo são os tipos de
merda, tem de todo tipo, nada muda de casamento pra casamento, só a merda. E eu
falei acima do cara que tem tesão de gozar e falar: quero casar com você. Uma
boa tática pra brochar, isso sim. Outra tática é olhar pra esposa ou namorada
de longa data. Mesmo se for bonita, deixa de ser de tanto o cara olhar pra ela.
Por isso, o cara tem que ficar na espreita, olhar as minas que tão namorando há
mais tempo. Forma mais fácil de pegar mulher bonita. E já faz um bem pra
sociedade. Faz elas se sentirem amadas por alguém. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Retorno
<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Reviver uma história, só se foi suave, sem
compromissos. Sem que se saiba muito um do outro. Senão, quando a coisa esquenta,
se acrescenta o passado, coisas do tipo; ele: você era uma puta que eu sei. Ela
rebate: e você era um filho da puta, que comia todas putas sem preservativo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ele, terminando a conversa: Como você? Andar
pra trás é um saco; legal ficar cego, sem direção num giro de 350 graus. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Fazendo
teatro <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Não tenho mais 25. Não estou na graduação.
Não me formei recentemente. Mas ainda gosto de rock, e acho que Porto Alegre
morreu, pro rock pra dançar. Bom rock, claro. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E gosto de eletrônico, só que as noites do
tipo é pra turma gay. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Daí tem esses
picos com rock manjado, apenas. E nos picos, uma galerinha bem nova. Não tenho
nada contra garotas de vinte, pra cima. Se bem que umas de 18 me pegaram, de
jeito; gracinhas demais. Tá, daí vou nesses picos. E assim, sou meio
extrovertido. Às vezes, muito. Acho que sou um cara meio pavão. Não gosto de ficar
em silêncio. Isso varia, tem gente que diz que sou fechado. Mas cara, depende
do momento. No doutorado, falo quando dever ser falado... mesmo que às vezes saia
um: foda-se; dependendo do meu humor. Nas festas tô a fim de enlouquecer. Daí
visto uma máscara. Danço. Falo com todo mundo. Fumo um monte de crivo. Como não
tô muito a fim de nada mais sério, chego em todas as garotas. Queimo o filme.
Não tenho nada a perder. Nos lugares que frequento na noite, não tenho raízes.
Alguém pra levar pra casa... claro que levo. Só que não quero fingir que sou
legal, tipo fazer café da manhã. Mas não quero também dizer: agora tá na hora
de você cair fora. E isso acontece, às vezes.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Gosto de um tipo de garotas. Elas não são beldades. Não virariam minhas
namoradas fixas. Sim, eu sei muito bem ser um filho da puta machista. Li muito
Bukowski. E aqui não é um espaço de purificação. São umas minas que posso pegar
na boa. Sem muita frescura. Só que gosto delas, pra algumas coisas. Cheiram
bem. Têm um gostinho bom. Me dão um barato, claro que com a visão embotada da
loucura. Legal que posso fazer teatro com elas, são minas legais, sem frescura.
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Chego na gatinha. Lanço um sorriso cafajeste.
Dou umas apertadas. Chamo de gatinha. Tudo com uma voz meio jovem cantor de
funk carioca. E a mina sabe que tô atuando, e isso que é legal. Tipo: pô
gatinha, e aí gatinha, tá a fim gatinha, qual é o lance, chega no titio. Pô
gatinha, lança um beijo, e talz. E dou umas apertadinhas na barriga, cocha e
talz. Tudo muito engraçado na minha cabeça. Ridículo. Uma peça. Um dia pedi uns
tapas na cara de leve. Ela disse: não! Então eu dei nela. Ela ficou braba e
disse: não faz isso aqui. E eu continuei fazendo. Ela naquelas: você tá
queimando o filme. E eu: mas gatinha, que filme, meu bem, você tem quantos aninhos?
Entra na onda! Rápido perde a graça. Coisas legais, que duram, o espaço não é na
noite. Teatro na noite é uma das minhas experimentações dos territórios. Treino
uma gestualidade, uma fala. Interessante, que os caras não imitam um débil
mental na noite. Têm que manter a pose, senão as gatinhas já eram. Daí eles
deixam a barba crescer. Falam devagar. São muito sérios. Se acham sérios. É,
não tão mais na graduação, agora são homens e tal. Já comigo é o inverso. Não
quero provar nada. Só se for algo mais... problema que não sou um bom piadista,
sou um pouco agressivo. Gosto disso, uma rudeza meio da fronteira aqui do sul. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Tipo: ah é mina, então vai te fuder! Meu lance
é fazer coisas que não se espera de um acadêmico. Tô treinando isso. Nem sempre
dá certo. Aqui acho que sim. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Fora
do Brasil <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A gente saiu num ônibus de Madrid. A gente
ia pra Bordeaux. Madrid foi massa. Era época de festa. Só que a gente tava
passando as montanhas. A gente não tem isso no Brasil. A gente tava nessa
estrada. A estrada era estreita. Ao lado, as montanhas. Tava todo mundo
dormindo no bus. Me deu um barato. Comecei a olhar pra direita e pra esquerda.
Num conseguia focar o campo de visão. Saquei que tava meio louco. Tava com os
olhos arregalados. Como todos dormiam, me permiti ficar nessa. Foi uma experiência
foda. Longe do Brasil. Longe da família. Tinha ainda duas semanas de viajem. Ia
pra França. Ia finalizar em Londres. Tava longe. As montanhas. Tudo isso me fez
ficar num belo barato... como se eu tivesse tomado alguma droga. Uma droga
forte. Um ácido. Um cogumelo. Pensei: pra que me controlar. Ninguém tá olhando.
Surfei essa onda por mais de uma hora. E não era só um barato psicodélico. Era
um barato meio anfeta. Meio coca. Coca psicodélica. Acho que aí me liguei: tô
em outra banda, meu. Tô longe pra caralho. E tá tudo bom. Não lembro direito no
que pensava. Só da loucura. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Parte 2. </b>Anos depois,<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>tava em Barcelona,<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>morando perto duma praça famosa. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Era só caminhar 10 minutos até a praça. Depois,
mais cinco, tava na parte nobre da cidade. Um morro com museus. Legal a vista
da cidade lá de cima, junto dum museu de história. Não sou um cara museu. Não
gosto tanto. Só que não tem como não gostar. A rua, bem a rua, é muito mais
interessante. Só que um dia entrei nesse museu de história. Passei a tarde ali.
Os caras tavam fechando e eu tava ainda lá dentro. Tava deitado num sofá.
Outras poucas pessoas ao redor. Olhei pra cima, uma hora. Um teto muito alto. A
construção era um desses patrimônios da humanidade... e me deu um barato tipo o
do bus indo pra Bordeaux. Melhor, antes, caminhando no museu, bateu um barato,
e melhor. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Tava numa sessão de arte
românica. Não quero ficar descrevendo arte, mas sim, o barato... <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>só que tenho que falar do ambiente. Salas
enormes. Escuras. Pouca gente. Partes de construções românicas, como portais,
entradas de igrejas. Tudo ainda com pinturas originais. Fiquei horas ali
dentro. E o barato. Assim, não choro. Não gosto de chorar. Acho um sentimento
muito reconfortante. Sei lá. É pouco. Só que uma hora senti que ia chorar. Não
chorei. Mas quase. Não foi uma sensação tão forte do tipo a das montanhas. Mas
quase chorar, pra mim, é algo forte, especial. Poderia ter chorado, mas não
quis fazer uma cena melosa. Não sei. Tenho medo de ficar com pena de mim mesmo.
Aquelas coisas: “Olha ele está chorando. Tadinho.” Tipo olhar pra mim e pensar
isso. Ter pena de mim mesmo. Prefiro me olhar no espelho e dizer: “seu filho da
puta!”. Prefiro me encarar: “Qual é meu?”. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Parte
3. </b><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não tem como viajar e não ir em
museu. Não tem como fugir disso. Faz parte. O museu de arte contemporânea de
Barcelona foi uma experiência legal. Na segunda-feira, a galera anda de skate
ali. Dia que tá fechado. Tudo muito correto, europeu. Aqui em Porto Alegre se
anda em qualquer lugar em qualquer dia. Um dia tava na frente dum teatro, em
Porto Alegre, e a galera do skate fazia manobras em uma escultura. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Isso não acontece lá. Daí entrei nesse museu
em Barcelona. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Prédio legal,
contemporâneo e tal. Tava rolando um mostra de arte pop da antiga União
Soviética. Pintura acho um saco. Escultura também. Olho, gosto. Só que se for
pra gostar mesmo, prefiro performance e vídeo. Só que tinha uns vídeos lá. Uma
banda dos 80 de som pesado, industrial. Os vídeos em VHS. Umas telas velhas no
chão. Umas almofadas pra sentar. Você sentava na frente da tela, via os vídeos
sem legendas. Muito massa o tipo de som, o visual. Os caras fardados. O som
quase inaudível, muito barulho. Melhor, o vocal cantando como um ditador
cantaria na frente de uma massa. O resto do som um barulho cortante. Depois
apareciam imagens dos caras falando. Caras que eu teria medo de ter na minha
frente. Pareciam prontos pra qualquer coisa. E não pra briga na rua... prontos
pra uma revolução, ataques nucleares, prontos pra mortes em massa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Cinema
Strange <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Viajo todo dia pra Novo Hamburgo de carro.
Cidade que fica a cinquenta quilômetros de Porto Alegre. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Gosto de dirigir, é quando ouço um som. Não
ouço em casa, só no carro e em festa. Notei um dia que já fazia um tempo que
tava ouvindo só um disco duma banda. Uma banda bem estranha, Cinema Strange. Tão
estranha que demorou um tempo pra eu conseguir ouvir ela de verdade. Eu sabia
que a banda era boa. Faz parte dum segmento que me interessa: death rock. Um
tipo de som gótico, meio puxado pro punk ou pro metal. Então, gostava do
segmento, tinha lido sobre a banda, mas não conseguia ouvir. Já em vídeo descia
melhor. A banda era muito estranha no visual: moicanos, roupas rasgadas e
coloridas. Especial o vocal: alto, magro, feio. Vestido com roupas de mulher. A
cara com pasta d’água e batom. Uma cara de palhaço assassino. Na real, queria
ver um show deles. Ou talvez, dançar numa festa. Só que ouvir no carro, era
muito pra mim. O som era difícil de ouvir. Barulhento, sem melodia, nervoso. Mais,
a voz do vocal não tem referência com outros vocalistas. Aguda, não humana. De
mulher, de criança? Isso é o que mais me chamou a atenção. Daí, uma hora, notei
que tava ouvindo direto no carro. Ouvi muito. Um momento, comecei a ouvir só
duas músicas. Fiquei dias ouvindo as duas músicas, melhor, semanas. Não
conseguia parar de ouvir. Ouvi esse som enquanto escrevia esse texto. Uma dose
de loucura sonora pra compor a loucura textual. Som sem controle (do Cinema
Strange, esquisitão), fazendo a trilha duma literatura que tenta ser
descontrolada. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Carta
de suicídio <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A carta do Kurt Cobain. Parece que não
tem muitas cartas do tipo publicadas na internet.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sei também que no jornalismo não se fala
sobre suicídio. Acreditam que suicídio é um lance da classe média. Mostrar pra
classe média, os leitores, que os seus se suicidam, não vende. Na real,
assusta. Queria ver o que era dito na carta do Kurt, fiquei curioso. Falam muito
sobre essas cartas; que as pessoas escrevem cartas antes de morrer. Não sei se
funciona. Me parece que servem pro cara se desculpar pelo ato; pra criar responsáveis;
se fazer de vítima. Acho o suicídio algo interessante. Só se for feito em um momento
legal. Um daqueles momentos que a gente tá bem. Daí tomar a decisão, sem dor,
mas com alegria. </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Acho que o grande fora do Kurt foi ter se
matado na idade da morte de Morrison, Hendrix e tantos outros. Gente que se
imortalizou por ter morrido com 27. Queria virar mito. E mito da cultura pop. O
filme sobre Kurt do Gus Van Sant é ótimo. Mostra um Kurt acabado, fechado em um
mundo próprio. Ele nem fala. Não se comunica. Só que também não sofre. Ele toca
som. Faz um som ótimo de bateria. Só que nunca demonstra desespero. Só uma
cabeça que parece que tá em outra. Do tipo: que se foda o mundo. E de repente a
solução do foda-se foi a morte. Cair fora. Um lance hippie. Meio careta. Cair
fora do mundo. Abaixo trechos da carta. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;">[...] Há muitos anos eu não venho sentindo
excitação ao ouvir ou fazer música, bem como ler e escrever. Minha culpa por
isso é indescritível em palavras. [...]</i></span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[...] O pior crime que posso imaginar seria enganar as pessoas sendo
falso e fingindo que estou me divertindo 100 por cento.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>[...]</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[...] Existe o bom em todos nós e acho que eu simplesmente amo as
pessoas demais, tanto que chego a me sentir mal. [...] Tenho uma esposa que é
uma deusa, que transpira ambição e empatia, e uma filha que me lembra demais
como eu costumava ser, cheia de amor e alegria, beijando todo mundo que
encontra porque todo mundo é bom e não vai fazer mal a ela. Isto me aterroriza
a ponto de eu mal conseguir funcionar. Não posso suportar a idéia de Frances se
tornando o triste, autodestrutivo e mórbido roqueiro que eu virei. </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Acho que até aqui a carta tá legal,
pensa o mundo de forma bem lúcida. Se ele escreveu logo antes de se dar um
tiro, ele tava com a cabeça boa. Talvez porque sabia que a carta seria lida por
muita gente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Eu tive muito, muito mesmo, e sou grato por isso, mas desde os sete anos
de idade passei a ter ódio de todos os humanos em geral. Apenas porque parece
muito fácil se relacionar e ter empatia. Apenas porque eu amo e sinto demais
por todas as pessoas, eu acho. Obrigado do fundo de meu nauseado estômago
queimando por suas cartas e sua preocupação ao longo dos anos. Eu sou mesmo um
bebê errático e triste! Não tenho mais paixão, então lembrem, é melhor queimar
do que se apagar aos poucos. Paz, Amor, Empatia. </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-outline-level: 1;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 18.0pt;">Já nessa
parte, a final, o texto fica mais choroso. Lendo isso fiquei com um pouco de
pena dele. E acho pena um sentimento muito feio. Também, fica claro que ele não
tinha saída. Não tinha escolha. E não ter escolha é foda. Escolher morrer, acho
um lance potente. Claro que a vida taí, deve ser enfrentada. Os caras na prisão
não se matam, ou poucos se matam. Fumadores de crack continuam buscando
alegrias. Os negros lutaram pelos seus direitos enquanto se fodiam. Os judeus
enfrentaram os nazis. Todo mundo tá fodido, e bem fodido, mas a gente luta
contra essa merda. Vamos lutar, não se matar. A revolução tá próxima. Kurt caiu
fora da luta. Pra ele a luta tava perdida. Se os indignados do mundo todo, se
eles caíssem nessa... bem, a gente ia estar engolindo a crise de graça. Os
caras vão pra rua e são presos. Uns morrem. Só que fazem isso não pra se
destruir, mas pela luta, pela vida. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Sadomosaquismo
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Um filme sobre o Torquemada, inquisidor
espanhol do século 14. O cara usava uma armadura com pregos apontados pra
dentro, pro corpo. Queria ser cristo. Dormia com uma espada pendurada no teto,
acima da cama. Podia cair e furar ele. Deus manda, mesmo que o Torquemada desse
uma ajuda. O lance da dor cristã, um lance triste. Na terra você se fode, no
céu é legal. No inferno você se fode, no céu... E por ai vai. Só que dá pra
pensar em uma experimentação sadomasoquista e suicida dos religiosos. No senso
comum, tudo gira em torno do pecado, danação de cristo, etc. Daí, deixam de
lado a parte boa: curtir o corpo, a vida, em contato com a dor e a morte. Tirar
a tristeza disso, a parte do pecado, da culpa, aí vira festa. Os góticos têm
uma relação legal com o corpo, não extrema, mas têm. Fazem cortes no corpo,
bebem sangue. Os playboys fazem algo parecido, o mesmo, só muda o conteúdo. Bem
comum entre os mini machos apagar um cigarro no braço, cortar-se com uma lâmina.
Eu já fiz isso, os adolescentes fazem, isso não é nada. Se o cara pratica
esportes de contato ou radicais, o que é um corte? Uma queimadura de cigarro? A
maior parte dos garotos, os que fazem esporte... bem, já quebraram ossos, se
meteram em briga, etc. Então, um corte no braço? Fiz pontos nos dois joelhos
várias vezes, quando andava de bike. Então, um corte que não dá pontos, não é
nada. Até meio engraçado, tipo emos se cortando. Claro que eu não quebrei,
digamos, meu tornozelo dez vezes de skate porque queria. E na real, a dor é bem
suportável, até gostosa. Só que isso é diferente dum cara que se corta de
propósito. Uma diferença muito pequena, mas diferente. Sangue, quem nunca
cortou a língua? Ou de repente, cortou a pele em algum esporte e lambeu pra
limpar. Sentiu gosto de sangue, só que isso é comum, é um esportista. O cara
que se mutila ou bebe sangue de propósito, é algo próximo de um monstro: o sadomasoquista
ou o vampiro. Um amigo cortou sem querer o peito: dez pontos. Só que um sem
querer diferente. Queria cortar com uma faca só pra ver qual é. Só que foi
afoito. O médico olhou pra ele com cara estranha: “putz, um corte reto bem no
peito?”. Se cortou, ficou com medo ao ver a gordura. Daí parou e pensou. Abriu
uma cerveja. Pegou uma camiseta. Fez um torniquete. Ficou na dele ouvindo um
som. Uma hora depois, sentiu um desconforto; muito sangue. Foi pro hospital. Arrebentei
a cara andando de skate. Não chorei, não era mais criança. Mas foi meio foda.
Só que de noite tava tomando ceva com a cara arrebentada. Tinha que fazer
pontos. Deixei assim. Rituais de iniciação entre machos. Roleta russa, algo
parecido ao cigarro no braço. Daí é outra história. A pior sensação é ter uma
arma apontada em sua direção. Foda. Mesmo se estiver sem balas, o cara pensa:
porra, se tem uma bala ali...<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Um cara,
uma vez, fez a roleta na frente de uma turma. Pegou e apertou o gatilho. Quando
apertou meio que tentou tirar a cabeça da mira. Se tivesse bala, teria
atravessado o topo da cabeça. No fim, o dono da arma tinha só feito que tinha
posto a bala.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Rock
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Tenho um conhecimento de rock. Não sou
novo, então passei por vários estilos. Alguns mais marcantes: metaleiro hippie
com 11; trash metal, funk-metal, grunge, tudo isso dos 14 até os 18; daí uma
fase meio techno, mais pra dançar. Depois um lance meio gótico, quase Black Metal.
Só que sempre ouvi de tudo, não tinha como não ouvir. Lia muito sobre. Gostava,
acho, mais de ler. Lia coisas maravilhosas sobre o Velvet Underground. Só que
era difícil de ouvir. O som bom começou a descer faz pouco. O que é bom ouço e
gosto. E tem uns caras que dizem o que é bom, confio. Alguns críticos. Nunca li
coisas mais acadêmicas sobre rock. Fico mais dentro da indústria cultural. Não
só isso, se determinado tipo de gente ouve certo tipo de som, isso já indica
algo. Se toca em certos lugares na noite; se toca em certas rádios... <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>bem, um problema. O som bom tá em outro lugar,
ou em lugar nenhum. Melhor, pouquíssimos lugares. Claro que ninguém vai discutir
a história. Pink Floyd, Doors, Zeppelin são historicamente importantes. Só que
daí aparece uma gente meio medíocre que gosta; e cai bem a pergunta: sou também
um? Todos somos. Ninguém é perfeito. Só que o som que poucos ouvem é algo
importante. Som não recuperado. Som não interiorizado. Mas o que não foi
interiorizado? Claro que Kurt Cobain nos picos da heroína. O cara se matando. O
cara com o pau pra fora na TV. O cara errando no palco. E milhões de jovens viam
e ouviam. Bem, isso é bom. Tem umas bandas que não ouço em nenhum lugar. Tô ouvindo
elas agora. Só que não tô lendo coisas sobre música. Então não sei se são
realmente coisas pra poucos, singulares. Dictators: uma das primeiras punks de
Nova York. Um dos vocais se chama: “Manitoba (nome de uma região da américa do
norte) do pau bonito”. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Outra banda, New
York Dolls: punk glam, teve seu sucesso nos 70, mas não ouço em lugar nenhum. O
empresário dos Pistols trampou com eles. As duas bandas apareceram num livro
sobre punk lançado no Brasil: Please Kill Me. E a banda que mais ouço nos
últimos anos, e mais, tô ouvindo direto um disco só: New Model Army. O som
mistura pós-punk, metal, hard rock, punk. Uma daquelas bandas que não fazem
parte duma cena. Som singular pacas. O vocal tem uma voz linda. O cara me chama
muito a atenção. Tem essa voz meio rouca, meio suave, meio pesada, um tom
massa. Só que o cara tem a cara toda arrebentada. Não é um desses bonitinhos.
Por isso, o cara é foda. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Me
dá 15 anos, saio correndo pros 30 <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Vivo em Porto Alegre. Estudo em outra
cidade, faz uns anos. Em Porto Alegre não tenho saco pra usar bus. Entre Porto
Alegre e outras cidades, pior. Claro que já andei muito de bus. Peguei metrô
direto entre Porto Alegre e as cidades vizinhas. Qualquer hora do dia e da
noite. Só que adolescente, não tinha muito a perder. Não que tenha muito agora,
mas tenho mais. Entre 13 e 18 anos, a gente pegava bus e não pagava. Descia
pela parte de trás. O cara da passagem liberava. Não tinha como não. Tipo um
bus vazio na parte paga e cheio na parte do pessoal que tinha que pagar. Era a
gente que ficava ali. Abria a porta e descia. Às vezes, dava problema. Pra mim
nunca deu. Eu branco, só que tinha amigos negros que se davam mal. Uma época
tinha uma turma que a gente atravessava a cidade a pé. Meninos e meninas. Tudo
na boa. A gente não tinha nada pra fazer, não tinha grana, daí caminhava a tarde
toda. Auge do corpo. Hoje caminho bastante, mas na esteira da academia. Ficava
semanas comendo só cachorro quente e xis. Hoje, tenho que fazer todas as
refeições. Melhor se feita por mim. Não choro a adolescência que se foi. Quero
distancia dela. Me dá 15 anos que eu saio correndo... pros trinta. Só que
penso, e se der merda. Se aparecer uma crise como na Europa. Essa adolescência
aparece como possibilidade. A possibilidade de viver uma vida mais simples. Não
mais simples, menos superficial. O carro é necessário realmente? Roupas caras?
Coisas caras pra casa? Um ap bem equipado? Acho que dá pra viver bem com alguns
panos, um rango barato, uma barraca... só que com um bom notebook, um bom smartphone
e um bom tablet. Tudo com banda larga máxima. Tecnologia não dá pra por fora. O
resto da vida é afeto que não se compra. Televisão e jornal não servem pra
nada.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Livro e papel servem pra fazer
fogueira. Claro que junto a isso, festa. Teatro e cinema também. O lance da
barraca, dos caras das ocupações. Uma boa cama é importante pra quem é mais
velho, será? Vi gente velha dormindo nas barracas nas acampadas. Na real, a
gente já passou por merda. Todos fomos adolescentes. Retornar é pouco. A gente
faz isso quando se sente mal. “Meu pai era um sacana. Eu era um sacana, etc.”. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Um saco. Legal, retornar o que vale a pena. E
sempre retorna de forma diferente. E esses caras que acampam, os velhos. Velhice
é cansaço? Velhice é impotência? Velhice é aceitação? A história nos diz isso. O
senso comum. Só que um velho pode experimentar a juventude, é só querer. E na
real, essas classificações de jovem e velho... isso é o pensamento do idiota.
Mesmo o corpo a gente constrói. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Filmes sobre a vida de viciado<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Gosto do Drugstore Cowboy, do Gus Van
Sant. Burroughs aparece nele. Um padre viciado em heroína. O filme muito
inspirado na obra do Burroughs. Heroína, viagens de carro, assaltos, curas de
dependência. Van Sant em alguns filmes é meio Burroughs. Tipo o My own Private
Idaho. Alucinações, viagens pela américa de carona,tráfico,viadagem. Não muita
droga. O centro do filme é a vida de michê. Nos dois filmes aparecem delírios
parecidos. Um pouco de surrealismo. Também nos dois, os atores são os queridinhos
dos states... bem, Van Sant coloca eles literalmente de quatro. Sid e Nancy é bom
também por isso. O Gary Oldman, o astro do Drácula, faz o papel dum Sid
esquelético da heroína. Bird, filme sobre o saxofonista Charlie Parker. Acho
que comecei a ouvir jazz pelo filme. Filme triste, mas bom registro. Parker era
novo, teve sua overdose fatal, daí o legista vê o corpo e pergunta: o cara tem
70 anos? Uma outra parte legal, o pupilo do Parker diz: “entrei na heroína
porque queria ser você. Quero oferecer um pico.” Parker diz: “ cara isso não
ajuda em nada na música”. O pupilo: “eu sei”. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Coisinhas
<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Daí tinha essa mina. Legal. Perfeita no
momento. Até certo momento. Depois desapareceu. Como devia. Fez bem. Pra mim.
Pra ela. Só que ela levou algo. Bom que continua com ela. Saco quando retorna.
Acho que eram uns lances pessoais. Roupas da minha infância. Ou brinquedos.
Coisinhas. Dei pra ela. Disse: “tudo que é meu agora é seu”. Era novo. Tinha 15,
ela um pouco mais. Queria dar tudo pra ela. Um pouco de nada, na real. Só que às
vezes, penso nessas coisas. Vou precisar na velhice? Quando não sobrar nem
memória. Eram coisinhas legais. Tipo um pedaço do meu edredom. Um pedaço de
mim. Dormi muito tempo com ele. E agora tá em qual lugar? Sempre tanto faz. Só
que em certos momentos aparece como falta. Um pedaço de mim. Pedaços de mim.
Pensar nisso já é pequeno. Escrever mais ainda. E quando motiva a escrita, pior.
Melhor fazer outra coisa. Só que sonhei com isso. E isso ficou em algum lugar.
Até o som do meu pensamento parece piegas agora. Melhor parar <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Manos
da antiga<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Tava na baia. Com a mina. Tava curtindo
ela. Como sempre. Mina quente demais. E tudo mais. Daí toca o telefone. Atendo.
E um cara diz: e aí mano, sou teu mano da antiga, voltei de viagem, tô na
banda. Daí fico todo assim: e aí mano, na boa, bom ter ligado e tal. A mina ficou
meio puta. Fiquei uma hora no telefone com o mano. Ela queria atenção. Daí eu e
o mano, a gente se encontra. Muito massa e tal. Não via o cara uns 10 anos. O
cara tinha caído pra Europa. Ele chega e diz: cara você tá igual e tal. Sem
essa de que nada mudou. O cara falava que eu tava igual, na nossa amizade.
Manos e tal. Na época que a gente se curtia... bem, a gente era adolescente.
Caretas. Mas rockeiros. Só que bem caretas. Daí o mano pinta malucão. Só quer
saber de pó e putaria. E eu já tinha passado por essa. Tava com minha mina. Só
que num ia deixar o mano pra trás. O cara era meu mano e tal. Fiz a noite com
ele. Uma merda. O cara só queria pó e putaria. Só queria pirar a cabeça.
Encarei a noite. Tudo roubada. Uma merda. O cara só queimava o filme. Dentro do
possível. Só que ele queria uma história que não era mais a minha. Um lance que
a gente não passou juntos. Fui pra casa; puto pacas. Muita doideira. Eu queria
curtir minha mina e só. Daí meti o mano na lista negra. O cara ainda pintou outra
hora na baia; o cara tava doidaço. Tive que queimar ele e tal. Mas quando a gente
passou a noite juntos, ele me falou da vida dele. Umas coisas legais. O pai do
cara era um grande empresário. Rico pacas. Daí disse pro meu mano: faça
medicina. Ele fez. Daí quando acabou, o velho disse: faça direito. Ele entrou
na faculdade de direito. O cara não era um grande estudante, mas fez tudo
certinho. Daí acabou o curso. O pai disse: agora cuida dos negócios da família.
Mandou ele pra uma cidade grande e tal. Deu um ap legal. Um carro legal. Uma
grana. Nada demais pra quem era um grande empresário. Ele tava nessa quando a
gente se reencontrou. Só que um pouco antes, ele meio que surtou. Começou a
cheirar pra caralho. Beber direto. Tinha grana pra fazer a mão e pegar vadias. Pra
ele tava bom. Virava a noite sempre. Com pó e puta. Depois ia pro trampo. Daí
um dia tinha cheirado pra caralho. Tinha bebido. Não tinha mais puta na rua. Pegou
a caranga. Se foi pro interior. Doidaço. Uma caixa de ceva no banco do carona.
Umas parangas de pó. No interior não tinha controle de velocidade. Então tava
dando pau. Tava meio maluco. 100 por hora. Passava os carros. Tava trincado. Começou
ficar meio puto. Depois pensou: “se passar mané na minha frente atropelo. Ia
ser legal matar um cara hoje”. O cara tava com o demo no corpo. Queria acabar
com a vida de alguém. Uma hora foi pegar uma ceva; não olhou pra frente; bateu
num carro velho. Quase se fudeu. Desceu do carro. O carro tava legal. Só que o
carro velho tava meio que fodido. Desceu dele um cara duns cinquenta; chinelo
de dedo, calção. O sol já tinha nascido. O cara desce atucanado. Olhou meu
mano. Vê um garotão doidão e parte pra cima: “seu filho da puta. Você quase me
matou. Olha o carro, porra.” O meu mano todo mal. Tinha bira no carro. Tinha
paranga no bolso. Tava na ruim pacas. O cara chega e diz: “sou cana, você tá
fodido, vou falar com seu pai, você vai cair”. O mano fica branco. Não tava com
medo de cana. O pai ia encarar a mão. Tava com medo do pai. O velho ia ferrar
ele. O cara do carro que meu mano bateu diz: “me dá cinco mil pelo carro e pelos
danos morais, senão você vai se fuder. Vou falar com seu pai.” O mano pega o
cheque. Faz a mão. Dias depois a grana entra. Cinco mil não era nada. Era festa
de um mês. E tinha um monte de mês sobrando. O lance era não se queimar com o
pai. Daí, tempo depois, tava fazendo festa. Tinha cheirado e tudo de novo;
lembrou do cara da batida: <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“filho da
puta. Sacou que eu tava doido. Sacou que eu era filho de papai. Passou a perna em
mim. Merda de pó, tinha me deixou cagado. Vou cheirar mais, vou pro interior e
vou pegar aquele cara.” <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Detonação
em Porto Alegre <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Moro então em Porto Alegre. Merda de
cidade do sul do Brasil. Cidade de merda. Nada pra fazer. Tinha o que fazer
quando eu topava todas. Hoje, merda, tô noutras. Só que bem... olha só. Saí com
uma amiga na segunda de noite. A gente foi nuns picos. A gente queria
conversar. A gente não tinha trampo na terça. Daí a gente queria ficar na
nossa, mas na rua. Daí o que fazer? Não tinha quase nada aberto. A gente foi
nuns postos. Eu tava dirigindo. Daí a gente tava numas de café. Muito café,
cigarro. Rango a gente tava pensando pra mais tarde. Uma hora a gente sacou que
já tinha encarado todos os postos legais. Daí a gente foi pro aeroporto. Mais
café e conversa. Daí a gente saiu de lá às 2 horas da madruga. Só que queria
ainda dar mais banda. Daí não tinha realmente mais nada pra fazer. E a gente
foi pro ap dela. Beleza. Só que depois das 11 da noite notei que, em alguns
lugares, bem poucos, tinha gente. Lugares que eu não queria estar. Daí tinha
gente nesses lugares. E essa gente tava bebendo. Era segunda-feira. Era quase
madruga. E os manos bebendo ali na Cidade Baixa. Daí me lembrei de uns anos
antes na segunda, quando eu quebrava todas; quando curtia todas. E segunda era
só mais um dia. Mais importante quando era continuação de domingo. Não mano,
era continuação de sábado. Mano, podia ser continuação de sexta. Ou de sete
dias atrás. E bem... então, segunda, noite. Nada pra fazer. Pior dia da semana.
Tudo fechado. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Só que é noite e o cara tá
a fim de festa. E depois da meia noite, o cara tá bêbado e cheirado. Daí vai
pra cima e pra baixo. Procura lugar com gente. Sempre encontra, mesmo os
lugares sendo boca braba. Só que uma hora não tem mais ninguém. Daí o cara tá
num carro com mais três caras. Um amigo e dois caras que você não sabe como tão
ali no carro. Todos tão ligados. Têm ceva. Pó na mão. E querem ver outras
pessoas. Melhor, querem ver mulher. Daí o que faz? Acho que por isso que vários
puteiros ficam abertos de noite toda todos os dias. As putas são gente legal,
topam todas. Tão ali pra fazer o serviço. E assim mano, na real elas são legal.
São gente como a gente. Só tão na ruim. Só tão a fim de fazer a mão delas. Então...
bem mano, daí nasceu o sol. O carro é metade puta, metade uns caras que comem
puta sem preservativo. Eles vão num posto. Eles baixam ceva. Eles se revezam no
estacionamento. Fodem feito louco. Todos eles têm namoradas. Todos têm emprego.
Eles tão na faculdade. E que se foda tudo. Que se foda os dias da semana e os
professores. A futura esposa. O patrão. O superego. Que se foda o sol. Que se
foda os neurônios. Que se foda. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Piñero,
o filme <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Puta filme. Dos poucos que valem a pena
sobre artistas malditos. Piñero migrou de Porto Rico pros EUA. Migrante, então
o cara naturalmente já era marginal.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Também curtia, desde novo, rapazes e drogas. Cresceu na onda. Se meteu
com teatro e literatura. Foi pra prisão. Tudo de bom pra formar o personagem: latino
nos EUA, drogado e homossexual. Além de tudo o cara era bom. Bom pra caralho. Fazia
poesia marginal misturada com performance. E o cara tinha uma pegada legal. Se
meteu com heroína e morreu de cirrose. Rendeu uma boa biografia, e um filme
bom. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">As
vilas de Porto Alegre<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Uns merdas de garotos. Hoje médicos,
economistas, comunicadores, e tal. Um ou outro fodido. Mas poucos. Os caras
tinham quinze anos. E nada na cabeça. Eram caras da classe média que tinham
levado bomba em colégio particular. Daí os velhos colocaram eles em colégio
público. No público, os colegas todos pobres. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Daí os classe média se reuniram e formaram a
gangue dos playboys. Diferente dos outros, eles tinham mesada. E mesada gorda.
Tinham cigarro caro que pegavam dos pais. E todo o resto, roupas, bons
presentes. Bem, só que caíram em outra real. Começaram a fazer amizade com os
caras mais pobres. Uns caras de vila, marginais. Interessante como as vilas e
bairros ricos se misturam em Porto Alegre, bem Brasil. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Por isso, essa mistura nos colégios públicos.
É cara, um dos bairros mais chiques de Porto Alegre, tipo Assunção, só com
casas de milionários... Olha só, casa residencial e riqueza, um lance raro hoje
em dia. Cara, essas casas tão do lado de um monte de favelas. Favela da Guaíba.
Antes tinha uma mais abaixo que virou shopping pra rico. Mais acima, favela Conceição.
Mais pro lado, tem a Funil e, uns dez anos atrás, tinha uma vilinha, a Vagão. E
pertinho tem uma das maiores, a Cruzeiro do Sul. Da parte alta da Assunção (olha
que massa, o nome do bairro é Vila Assunção, vila de rico)... da parte alta dá
pra ver a Cruzeiro. E mais legal, no coração desse bairro de ricos tem um
colégio público, que mistura os ricos caídos com os pobres. Voltando, pra
história. E cara... os riquinhos entram no colégio levando soco; só que no ano
seguinte tão dando soco junto com os manos pobres. Entraram na turma. Daí os riquinhos
meio que viram a casaca. O cara tem grana no bolso, mas porra, não vai comprar
comida no super. O cara compra e vai ser roubado. Daí o cara riquinho rouba
também. Vai pagar bus? Os manos vão sacar que tá com grana, melhor descer por
trás. E por aí vai. Daí os caras crescem juntos. Aos poucos, frequentam as
casas. Aparecem amizades que meio que se fortalecem. Daí vira merda. Vira merda
já que muitos dos manos pobres já tavam marcados pra fazer merda na vida
adulta. E certos manos riquinhos acham essa uma vida legal. Melhor, usam os
manos pobres como trafi, receptor, e tudo mais.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">As
porradas dos ricos e as dos pobres <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">As pessoas olham os adolescentes de alguma
subcultura e ficam com medo. Tipo, Punks, Góticos, Metaleiros; garotada com
suas tatuagens, piercings. Dói pra fazer tatuagem. Eu tenho tatoos e não faço
mais, dói. Mas eles não só rasgam a pele pra pintar ela. Também os caras tomam
bira barata. Tomam cachaça pura. Cheiram umas merdas de solvente. Ficam dias
sem dormir. Parecem caras corajosos. Fodas. Acho que o medo passa por aí: esses
loucos podem fazer alguma loucura. Só que não fazem. Ou fazem pouco. Pega esses
playboys. Os caras só fazem merda. São os filhos que visualmente toda mãe
queria ter. Escondem bem o jogo. Ninguém muda de calçada quando passa um
playboy. Só que eles sempre fizeram esporte. Têm grana pra pagar artes
marciais. Têm grana pra fazer uma alimentação pra ficarem fortes. E são jovens
com nada na cabeça também. Moro do lado de um estádio de futebol. Quando tem
jogo, passam esses playboys. Volta e meia dá merda. Outro dia os boys tavam
jogando garrafas de ceva na torcida adversária. Num outro dia, eu tava saindo
dum restaurante. Daí um guardador de carro fala com uns caras que tavam tomando
ceva junto do carro. Carro do ano. Uns playboys. Os caras não gostam. Então um
deles saca uma arma. Corre na direção do guardador. O cara assustado. O play dá
uma coronhada no cara. As gangues de nazi tem um monte de boy. Na polícia tem
os boyzinhos querendo ser Bruce Willis. Daí ter medo duns punks? Uns caras que
pedem grana na rua. Uns caras que comem qualquer coisa pra ficar de pé. Só que
tem outros jovens. Esses meio que superam os boys. Acho que os boys têm medo
deles. De certa forma, já que o guardador de carro faz parte desse tipo. São
aqueles que cresceram na ruim. Sem grana. No morro. Levando porrada direto, do
pai, dos vizinhos, da polícia. Esses são fodas. Em parte são do crime. Os que
não são... bem mano, mesmo assim, eu não quero encontrar na minha frente. Eu
como boyzinho que faz academia. Saca? Tava num festival de música em Poa. Acho
que era o Fórum Social Mundial de Porto Alegre. Tocou uma banda punk. Eu e os
punks, a gente tava dançando na pista. Só homens. A dança se chama pogo. Forma
uma roda. E todo mundo fica se empurrando de um jeito violento. Às vezes, dá
merda. Nem sempre. Daí muda de banda. Entra uma banda meio rock só que pros black.
Eles formam a roda. Dançam como no pogo. Fiquei na roda por um minuto. A coisa
tinha mudado. Os caras tavam se batendo de verdade. E todos eles eram muito
mais duros que os punks. Corpo de madeira. Mesmo uns caras magros. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Pó
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Dois jovens de merda. 15 anos. Playboys do
mal, mas do tipo aprendiz. Eles vão pro colégio de manhã. Papai leva eles no
colégio. Toda noite antes de irem pro colégio... bem, eles sobem o morro. Pegam
duas parangas de pó. O mais viciadinho diz pro outro: mano, você fica com o pó,
se você deixar comigo vou acabar cheirando. Daí de manhã, os dois são largados
no centro da cidade, no lugar que estudam. Eles entram em qualquer edifício. Vão
pras escadas de incêndio. Ninguém passa por lá. Tiram um prato da pasta. Prato,
gilete, canudo. Metem o pó no prato. Com a gilete quebram as pedras que viram
poeira. Com o canudo dão as cafungadas. Daí eles saem do prédio e vão pra aula.
Quando chegam, eles sentem o barato. Como são novos (tão começando na vida), o
barato dura até o intervalo. E tudo bem. Só que passa um tempo. Eles na mesma
rotina. Tipo dois meses. E a coisa muda. Eles começam a cheirar no banheiro no
colégio. Sacam que não tem problema. Até os caras que fazem segurança,
ajudam.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Daí começam a dobrar a
quantidade. Saem da aula pra dar umas cafungadas. No fim, nem vão mais a aula,
só cheiram. Um outro mano meu, o cara tinha no banheiro do colégio: prato, gilette
e canudo. Ficava guardado na divisória dos box. Outros cheiravam dentro da sala
de aula mesmo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ladrões <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Traficante sempre foi uma coisa mais
aceitável. Isso entre os caras da minha turma. Claro que traficantes pequenos.
Caras que vendem mais pros parceiros. E quando o cara se droga, conhece muita
gente. Fácil de vender. Dá pra fazer grana só com os chegados. E a grana que se
faz é pra poder manter o uso. Tô pensando mais na classe média. Caras que têm
grana dos pais. Só que a grana dos pais não dá pras drogas. Daí o cara tá
fazendo tráfico, e nem pensa se é tráfico. Só que uns caras faziam pequenos
furtos de equipamentos eletrônicos. Invadiam casas ou prédios; tipo uma escola.
Ou som de carro. Não lembro de assaltarem alguém na rua. Muito barulho. Tava
junto com uma turma, uns caras mais velhos. Eu tinha quinze. Pintou um cara com
uma mina. Daí começaram a aparecer. Isso durante uma semana. O cara tinha
grana. Baixava ceva direto. Depois me disseram que o cara era ladrão dos
grandes. Tinha fugido do presídio Central. Roubava bancos. Eu nem aí. Tava mais
preocupado se o cara ia baixar ceva. Bem, acho que a primeira coisa que
roubei... acho que foi um lance num armazém. Um lance com tinta pra pixar muro.
Outra vez tentei com um mano quebrar uns faroletes dum carro. A gente queria
vender. Não sei pra que? Depois em colégio público... a gente roubava doces do
super. Minha família tinha casa na praia. Todas as casas da rua eu entrei em
baixa temporada. Roubava vinho, biras, nada demais. Tinha uma casa que eu e uma
turma a gente entrava direto. O bar ficava exposto. Era só pular o muro. A
gente pegava o suficiente pra ficar bêbado uma noite. Tipo três garrafas de
vinho. Nunca deu problema. E na real, a gente tinha grana. Fazia mais por
curtição. Uma vez eu entrei numa baia. Era casa dumas minas. Entrei no quarto
delas. Cheirei as calcinhas. Tinha visto isso em filme de sessão da tarde. Merdinhas.
Outra coisa, vandalismo. A gente saia na rua, e os manos pegavam pedras e
quebravam os carros. Uma vez, um meteu uma pedra numa vitrine. Outro jogou uma
pedra na janela duma casa. A gente saiu correndo, podia dar merda. Mas tudo
bem. A gente não tava nem aí. Não parecia nada demais. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-ansi-language: EN-US;">Iggy Pop <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Iggy Pop foi num show dos Doors. Gostou
pacas da performance do Morrison. Dá pra notar isso em sua dança. Só que Pop
deixou as coisas mais cruas. Bem, o cara tornou urbana a dança do Morrison, que
era ritual. Um ritual de xamanismo, pagão, tudo isso misturado com ácido. E ácido,
bem, nos anos 60 permitia o contato com algo divino. Além da vida. O lance do Iggy
era punk. Acho que isso: um Morrison punk, do subúrbio, da heroína, do lixo da
vida real. Heroína torna o cara um rato. Ácido deixa o cara, ou deixava numa de
“vejo deus”, ou até de “sou deus”. E Morrison dizia isso: sou Dionísio, sou um
xamã. Pop deixava bem claro: quero ser seu cachorro, nada mais que isso. Pop
dava voltas no palco. Dançava quase no chão. Fazia coisas doidas com as mãos. Pulava.
Tudo parecido com Morrison, só que diferente. Mais violento, menos dramático. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Falos
& Stercos<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Grupo teatral aqui de Porto Alegre. Os
caras são uma versão júnior do La Fura dels Baus, grupo catalão de teatro
industrial. Acho que a primeira vez que vi o pessoal do Falos, eu era bem novo.
A encenação ainda era no palco italiano. Só que já tinha interação direta com o
público. Gente da plateia subia no palco pra chicotear uma atriz de quatro.
Quando o grupo já tava bem famoso, vi eles no hospital São Pedro. Hospital psiquiátrico
que na ultima década dá espaço pra manifestações artísticas. Um lugar meio em
ruínas, assustador. Acho que era uma encenação do Grito do Ginsberg. Dois caras
de preto; couro preto, carecas. Eles estavam suspensos no vão de um jardim. Uns
5 metros do chão. A plateia embaixo. O som era demais, industrial. E os dois
caras recitando poesias... e as poesias do Ginsberg não têm muito sentido. Só
que cada frase... bem, elas não falam de florzinhas. A última vez que vi foi em
um prédio que era um antigo estaleiro, na Usina do Gasômetro. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Me lembro melhor. O som mais heavy metal. O
visual o mesmo. Só que tinha umas gatinhas de peito de fora. Sem fala. Só som e
movimento no chão e suspensão. O contato com o público era direto, mas meio que
organizado. Queria ver um pouco de violência. Dar umas porradas, tocar nos
atores. Tava com a cabeça em algo punk. Tipo Iggy Pop descendo do palco e
quebrando tudo. Vomitando na galera. Não rolou isso na peça. Acho que o Genesis
P Orridge fez algo do tipo. Contato direto com o público. Festa, carnaval,
putaria. Legal isso, tornar a coisa real. Propor pra plateia coisas novas. Numa
festa tão a fim de drogas, dança, beijos, e sexo. Esse pode ser um bom passo
inicial. Fazer a festa. Acho que o performer poderia até acentuar isso. Propor
coisas novas. Li novo um lance sobre as primeiras festas clubber no Brasil. As
pessoas se juntavam na pista de dança e se agarravam todos, sem distinção: bolo
de carne. Mistura uns tapas. Coloca aí umas chicotadas. Uns cuspes. Um pouco
mais de sadomasoquismo. O som certo. Bem, uma bela festa, carnaval punk. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Importante tornar o teatro o mais espontâneo
possível. Como nas festas. Sem roteiro, sem definições. Modificações dependendo
do clima. E violência, o que é violência? Um pouco de dor, não faz mal. Fazer a
plateia sofrer, tirando ela do papel passivo. Saca? Uma vez pedi a uma garota
um tapa. Ela deu. Daí disse, pô mina, bate que nem homem. Ele me deu no ouvido
um belo tapa. Filha da puta. Fiquei com um zumbido por algumas horas. Só que
ok. Nada demais. Vela no peito. Bem, deixa vermelho, dá uma alergiazinha, isso
incomoda, mas pouco. Só que a sensação da vela caindo no peito é legal. Experimentar
o corpo. Ver o que ele aguenta, e aguenta muito. Os caras se acidentam de
carro. Vão pro hospital. Fazem pontos. Uma hora depois tão na estrada de novo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Larry
Clark <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Acho que o cara tem dois grandes filmes
(pelo menos lançados no Brasil): Kids e Ken Park. Outro, o Bully, é legal
também, só que com uma “historinha” bem contada. Kids e Ken Park, eles não têm
história. Só relatos. Tem uns personagens centrais. Só que não tem nada como uma
história de vida. São jovens, classe média baixa, que curtem drogas e tudo
mais. Acho que esses dois filmes me influenciaram em algumas coisas escritas
aqui. Sexo, drogas e violência. Sem ingenuidade. Violência com mortes.
Suicídio. Sexo sem proteção. Gente com dezesseis e HIV positivo. Muita bira,
maconha, ácido e bala. Overdose. Daí dizem: porra, a vida de adulto que é foda.
Trabalhar que é difícil. Acho que é fácil e demais. Tanto que todo mundo
trabalha. Quero ver um cara adulto, que dá duro, aguentar o que os jovens
fazem. Mesma coisa: chamar as prostitutas de mulheres de vida fácil. Porra,
estar na madruga na rua. Depender de um filho da puta dum cafetão. Ser viciada.
E isso é só uma parte. Elas entram no carro de qualquer um. E mesmo se o cara
for bonzinho com elas... bem, vai tratar feito lixo. Se for do mal, pode matar
ela. Era novo, tava na rua. Daí tinha uma mina na rua. Era puta. Pensei, vou
dar uma carona pra ela. Mina legal. Disse que passava o dia fazendo nada. De
noite, trampava. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Disse que chupava e
engolia a porra, sem preservativo. Na hora senti cheiro de porra vindo da boca
dela. Bem, disse pra ela descer. E isso vira história. Tem gente que gosta.
Devem gostar; muitos que escrevem sobre isso são best sellers. Ou mesmo as
biografias que vendem e muito de certos artistas. O pintor anão impressionista,
Toulouse Lautrec e suas prostitutas. Kerouac escreveu um livro sobre uma puta,
o Tristessa. Mesmo os michês de Burroughs. As muitas putas do Bukowski. Encarar
todas é um lance meio prostituta; é um lance adolescente; é um lance de
drogado. Tudo muito próximo. E rende boas histórias. As de final feliz, as
pessoas já têm em novelas e filmes ruins. Uma hora vão querer algo diferente.
Daí entra essa tradição. Eu morava perto dum pico de michês. Passava sempre
ali, às vezes de madrugada. Um dia parei e conversei com os caras. Uns caras
novos. Uns mais fortes. Outros magros. Conversaram comigo na boa. Não notei
diferença entre eles e outros jovens. Outra vez, pequei uma puta e dei carona. Mina
jovem, bonitinha. Levei ela até uma cidade próxima de Porto Alegre. Eu tinha
uns vinte. Ela um pouco mais jovem. Era de manhã. A gente tava numa estrada
cheia de carros. Meti meu pau pra fora. Ela ficou acariciando. Tudo muito na
boa. Uma garota que eu tivesse ficado na noite... bem, não ia fazer isso no
meio de uma estrada. E passava uns ônibus. Bem, rendeu uma história. Também,
uma putas eu levava pro meu primeiro ap. Eu bem jovem. Sem nada na cabeça. Só
que como eu disse, o jovem tem algo de prostituta: topar todas. Eu tratava elas
como igual. Acho que elas não beijavam os caras, mas comigo tudo bem. Algumas
vezes, eu nem precisei pagar. E bem... eu não era paternalista. Não era
moralista. Só um cara jovem. Curtindo. Pegava gatinha na noite. Só que às vezes
só pra curtir algo diferente. Hoje a adolescência distante... acho meio imoral e
desnecessário pagar uma transa. Com meu corpo em risco, e com uma moral adulta
meio consolidada... Claro que se tivesse grana pra comer uma dessas gostosas da
TV. Isso seria diferente. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Filmes
japoneses<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Tava na internet, vadiando. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Vocês sabem, sem nada pra fazer, um link manda
pra outro e tal. Chego num fórum. Ali tem um link, com a chamada: filme real de
estupro. Lembrei que quando era jovem, tinha ouvido falar em filmes snuffs. Uma
época tinha toda uma conversa sobre, em filmes, revistas, até em quadrinhos. Snuffs
são filmes de mortes reais. Tinha algumas séries nos anos 90 de coisas
parecidas. Os caras juntavam imagens de acidentes reais. Uma delas era a Faces
da Morte. Era meio poser. O cara que apresentava era um cabeludo, metaleiro,
com a voz meio gutural. No fundo das cenas som de bandas de metal extremo. Ok,
daí, abri o link do “filme real de estupro”. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Bem, foi um erro. Me senti um lixo. Acho que
as imagens eram reais mesmo. Não tinha como ser encenação. Porque envolvia uma
garota duns 13 ou 14 anos, feinha, gordinha. O filme é japonês. Primeira
imagem: um vestiário feminino, do que se diz ser de uma casa de massagem. Essas
massagens normais. Uma câmera mostra o vestiário. Mulheres trocam de roupa.
Colocam toalhas, já que vão pra massagem. Aí pula pra outra cena. Uma mulher de
uns 40 anos e essa garota gordinha. Na legenda do filme diz: estupro de mãe e
filha. Elas tão sendo massageadas por dois japas. Costas à mostra, toalhas
tapando as partes íntimas. Uma hora, um dos caras começa a passar a mão na
mulher mais velha. Eles conversam, só que é em japonês. Parece que ela meio que
tenta se esquivar. A garota parece que não nota. Daí os dois tentam juntar as
macas das duas. E daí começa uma discussão da mais velha com eles. Só que ela
sempre meio passiva. Daí começa o hardcore. As duas são estupradas. Bem, é de
deixar mal... só alguém com uma mente... bem, isso tá na internet. Daí busquei
umas chamadas parecidas no google. E pelo que notei, deve ser uma prática comum
no Japão. Achei umas imagens de várias jovens chorando nuas. Japoneses sorrindo
e as estuprando. Sociedade machista que trata a mulher como lixo. Notei no
primeiro filme que a mulher mais velha, meio que tava aceitando a situação. De
repente, isso não era diferente da relação com o marido. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Monstros<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Só que tem uma grande diferença entre os
caras que praticam estupro no Japão e os jovens que fazem merda em todo mundo.
A partir do senso comum dá pra dizer que são parecidos: são monstros. Só que
são monstros diferentes. Os caras do Japão são parecidos com: Hitler,
Mussolini, Pol Pot, os neonazi, as frentes nacionalistas, a TFP, os caras da
direita cristã, Bush, os serial killers. Os jovens são monstros de outro tipo;
eles agridem de outra forma a moral. Fazem tudo o que não se deve fazer. São ladrões,
drogados, michês, prostitutas, e tudo mais. São tudo isso, ao mesmo tempo. Não
são nada bem definido. Os caras mais velhos chamam eles de adolescentes. Como
se isso explicasse tudo. Pais, os professores, os educadores, os psicólogos
fazem de tudo pra entender eles. E não entendem. Monstros já que não podem ser
rotulados nem detidos. Um serial killer é fácil de identificar; mas e os monstrinhos?
Os pais, o professor, o psicólogo não sabem nada da vida deles. Eles sabem
fazer merda no escuro. Não sei como; eles fazem muito barulho. E papai e mamãe são
cegos. Os meus amigos escondiam colírio, drogas... só que chegavam pra lá de
chapados e falavam com os pais. Isso que é a bandeira, não o colírio. E os pais
não notavam. De repente, notavam... falava com um cara mais velho quando
adolescente: é os velhos sabem, e sabem que a gente sabe que eles sabem, todo mundo
sabe, e tá limpo. Será? Uma história de quadrinhos, do Jaime Martin. O cara é
um dos bons cartunistas adultos underground da Espanha. Na história: o
personagem principal, de uns 12 anos, chega muito chapado de tudo em casa.
Entra correndo no banheiro e vomita. A mãe pergunta: o que você tem? Ele diz:
tomei dois chopes. Pra vomitar o cara precisa duns 20 chopes. A cara dele tava
acabada de muita coisa. Só que a mãe diz: filho, eu não quero mais que você
beba chopes, faz mal. Jaime Martin é meio forçado. Suas histórias sempre têm
finais tristes. Só que essa imagem é mais real impossível. Os velhos não
entendem. Não sei como; porra, não passaram pelo mesmo, ou algo parecido? Foram
jovens, não? Esqueceram? Ficaram cegos? Na real, não entendem. E na real, os
monstros são aqueles que querem acabar com o mundo, só que pra construir um
mundo melhor, os Occupy. É importante pensar na monstruosidade jovem; como ela
se relaciona com a monstruosidade revolucionária; juntar as forças ou aprender,
mesmo com as merdas dos jovens. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Usos
da cidade <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Os filmes do Larry Clark sempre têm skatistas.
Tem um filme ruim dele, com esse tema, o Wassup Rockers. É um bom filme, só que
do Larry Clark, esperava mais. Parece que ele repete fórmulas. Imita a si
mesmo. Coisas que deveriam ser naturais, como registros documentais de histórias
de vida, nesse filme, soam mal. Só que o tema é legal: jovens rockeiros skatistas,
norte americanos, filhos de imigrantes mexicanos. Os caras passam um dia curtindo
a cidade. Curtindo a arquitetura da forma que um skatista pode curtir. Forma
diferente. Os caras do skate, mais os caras do roller, bike, do le parkour, eles
usam a cidade de um jeito diferente. Olha só: tem uma praça, o chão é liso. Na
praça tem um banco e uma escadaria, como a Praça da Matriz, central em Porto Alegre.
A praça das manifestações políticas na cidade. A praça que os Okupa de Porto
Alegre tomaram por quatro meses. Essa praça é referência pra turma do skate, acho
que desde fins dos 80. Nas praças as pessoas sentam nos bancos, sentam na
escada, caminham no piso. Os skatistas pulam no banco, pulam a escada e correm
no piso. Uma parede que não serve pra nada, vira um obstáculo. Eles sobem na
parede vertical como se fosse o piso horizontal. Mais, daí tem os manos que
fazem pichação, ou grafite. Eles pegam a parede e pintam. Tudo meio legal e
meio ilegal. Pixar não pode. Andar de skate em certos lugares... o cara não é
preso, mas se o pessoal reclamar pra polícia, eles tem que sair. Outra coisa
legal: andar bem de skate não significa ser um atleta. O cara anda bem, tem um
certo nome entre os manos. Só que esse cara não anda bem pra correr
campeonatos. Só quer andar bem pra fazer suas manobras. Não tá nem aí pra
competição. Os caras que não jogam nada futebol, basquete, e etc, os caras tão
sempre competindo. Dois times. O que vale é vencer. O skatista faz a manobra;
legal se a gatinha ou o mano verem, mas faz mais pra ele. O Marcelo D2 que
dizia: puta sensação que é, dar um ollie (manobra básica com variações). Daí o
cara passa a tarde numa calçada fazendo manobra. Ninguém vê, mas ele se sente
bem. Não tem como jogar futebol sozinho, vôlei; basquete é um saco ficar
treinando sozinho. Pratiquei esses esportes. Tudo feito num quadrado, às vezes,
pequeno. No skate o que importa é cidade. A cidade é o território. Uma cidade
que se usa de forma diferente. A praia do surfista é algo sem graça comparada
com a cidade do skatista. Claro uma cidade grande, metropolitana, com bastante
asfalto, chão liso. Dói mais cair no chão do que no gramado. Só que no basquete
e futebol de salão, o cara não se machuca tanto quanto no skate. Pular uma escada
de dez degraus. O cara vai cair certo. Uma hora nem mais dói. Fiz basquete e
futebol por anos, me machuquei pouco. Acho que as machucadas de futebol foram
propositais, como tostão, uma joelhada na coxa. De skate quebrei a perna uma
dezena de vezes. Acabei com meu queixo. E parei exatamente quando começou a
doer as quedas. Por isso, que nos filmes do Larry Clark, tem skate e violência
misturados. São coisas próximas. Os maninhos do skate têm o corpo duro. De
pedra. Por isso que tem a ligação com o rap, com o hip hop, com a pixação. Os
caras são meio blacks. São fodas. Iggy Pop tava doidaço de heroína. Mal parava
em pé. Todo mundo tava puto com ele: “pô, o Iggy só queima o filme”. Era a fase
decadente. Foi descer uma escada. Caiu. Escada enorme. O pessoal disse: o cara
morreu. Daí ele se levanta e continua caminhando. Isso é skate. Por isso, que o
skate no Brasil nos 80 era coisa de punk. Skate é punk, é o pogo. Dançar na
pista chutando todo mundo. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Gatinha
1<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Pô, gatinha. Hoje quando chamam você de
gatinha, são esses merdinhas que tão a fim duma mina mais velha e gata. Só que pra
eles, na real, gatinhas são aquelas que eu chamo de crianças. Você era mulher, onze,
doze anos atrás. Daí eu tinha medo. Só que agora você é a gatinha. Gatinha, sou
eu que envelheço. Eu que fico velho, você sempre mais gatinha. E você fica puta
quando eu chamo essas menininhas de gatinhas. Mas entre nós é diferente. Você é
mais velha, sempre foi... só que quando você sorri; quando seus peitinhos
empinam; quando você fala; e você dança quando fala; e quando você caminha e
rebola as coxinhas e <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a bundinha. Mina, você
é a gatinha, demais. É, você diz: mas você chama todas as vadias de gatinha, eu
sou o que então? Você é essas coxas delicadas, mas fortes em mim. Essa boca que
sabe muito bem o que quer. Daí fico aqui esperando, envelhecendo em uma madeira
meio nobre. Só que a gente quer. Você quer. Eu quero. E a gente se encontra. Então,
antes que a gente morra. Antes que ele volte. Ou que ele apareça. Ou antes que <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a dança vire um bocejo. Antes que a gente vire
o que não devemos. Seja minha gatinha. Vai deixar essas crianças terem o que seu?
Meu corpo. Deixa assim, mas não comigo. Comigo não vai ser assim. As suas
pernas viraram história. As minhas são mais fortes. Isso é bom pra nós. Sem complicação.
No gelo você sabe muito bem se virar. Dança bem com o seu terninho de couro.
Sabe muito. Só que quando você sorri e geme, meu bem, a gente tá jogando o
mesmo jogo. É só deixar de imitar aquele tipo de gatinha. Você sabe mais. Posso
tratar você daquele jeito. Você deixa, mas se sente mal. Então, vamos fazer
direito. Como deve ser feito. A gente não vai casar. Não vai ter filhos. Vai
curtir. E só. Fecha as pernas, meu bem. Mas fecha com o meu dentro. Me machuca
que eu machuco, e isso é bom. Como você sabe fazer. E eu faço em você. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Festa
no centro <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Pegava metrô direto pras cidades vizinhas
de Porto Alegre. Ia pra Canoas, Esteio, São Leopoldo, Novo Hamburgo, quando
tinha entre 13 e 20. Muitos amigos viviam nessas cidades.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Um dia tava no metro. Tava voltando dum
campeonato de skate. Era quase meia noite. Aparece um mano. Conhecia meio mal o
cara. Só que a gente começou a conversar. O cara disse que tinha brigado com a
mina. O cara era mais velho. Tinha brigado com a mina e tinha recebido a grana
do trampo. Aproveitei a situação: mano, baixa uma ceva. A gente foi num bar bem
no centro. Uma ceva virou umas dez das grandes. O mano tava bebendo feito água.
Eu seguindo a onda. Eu morava na zona sul. Saía só nos picos rock de gente
branca. Esse mano era negro. Daí ele disse: vamos num pico que tem som e umas
gatinhas. Era também no centro, do lado do Mercado Público. O dia era um
domingo. Eu disse, vamos, já que ele tava baixando a festa. O pico era só um
salão com um bar. Nada demais. Só que o público era bem diferente do que eu
tava acostumado. Metade brancos metade negros. E a aparência física das minas era...
elas eram todas meio gordas. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O som que
tava tocando era música regional. O pessoal dançava abraçado. O mano tava
doido. Começou a pegar as minas. O cara pegou uma cinco em pouco tempo, umas
feiosas. Daí meio que entrei na onda. Tava dançando com uma mina muito feia.
Conversando com ela. Daí ela disse que no bar as minas eram todas prostitutas.
Só que tavam ali curtindo a noite. Eu pensei: putz... as putas mais caídas da
cidade. Daí o mano meio que se grudou numa feinha e ela nos convidou pra ir pra
outro pico. No centrão, o mano encarou uns caras. Pediu pó. Os caras venderam.
A gente deu uns tecos na rua. Quando dei a aspirada no lance... porra meu, deu
um baque. Eu puxei o pó e cuspi. O cara tinha vendido uma merda. Fiquei com
medo. O mano nem aí, continuou cheirando. Daí a gente foi pros bares da parte
alta do centro, do lado da Santa Casa, um hospital. O som no pico, mais eletrônico,
só que brega. Tinha um grupo de minas. Umas bonitas. Cheguei nelas, eram tudo
lésbicas. Daí o mano apagou. Dormiu no bar. Eu peguei uma grana no bolso dele
pra pagar o bus. Caí fora. Nunca mais vi o cara. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Pobreza
<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Tava meio que namorando essa mina. Era
bonitinha. Cabelo loiro, olhos verdes, pele meio bronzeada. Era gatinha. Ela era
duma cidade do interior, da serra. Vinha pra Porto pra gente se pegar. A gente
transava direto. Era bom. Bem, ela tinha a buceta meio larga. Mas tudo bem. A
gente trepava e um dia eu tirei o preservativo. Gozei dentro. Na hora que gozei
me deu pânico: tô fodido. Só que passou. E a gente transava na boa. Primeira
transa nossa, a gente tava com uma turma. A gente chegou na casa dum parceiro.
Todo mundo foi dormir. Ela disse que ia tomar um banho. Eu abri a porta. Ela
tava tomando banho. Eu entrei. Tomei banho com ela. A gente foi pra cama. Foi
legal. Daí ela pintava aqui em casa. Eu dizia que tava apaixonado. Só que tava
apaixonado por outras também. E ela meio que deixava assim. Daí eu comecei a
namorar outra mina. E a mina da serra desapareceu. Um dia eu tava numas... bem,
queria festa. Queria dar uma corneadinha na namorada atual; daí liguei pra mina
da serra. Fui pro interior ficar com ela. A gente tomou várias. A mina era boa de
copo. Ela me convidou pra ficar na casa dela. Uma casa velha de madeira. Por
dentro tudo em cacos. A mãe dela, a mina tinha me dito que era alcoólatra. Eu
não sabia o significado da palavra. Dormi com ela num puxado atrás da casa.
Acordei de madrugada. Fui tomar água. Vi que tinha na mesa da cozinha uma garrafa
de um litro de cachaça cheia. Olhei e fiquei meio assim. De manhã, acordei com
a mãe da mina mexendo na minha mochila. Pensei: qual é? Me levantei um pouco
depois quando a mãe saiu. A mina ainda tava dormindo. Fui na cozinha e a
garrafa de canha tava vazia. Foi a coisa mais extraordinária que já tinha
visto. A velha matou a garrafa de canha na manhã mesmo. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Traficantes
<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Era novo, tava começando a fumar um. Gostava
do lance. Problema era conseguir. A gente não subia morro. Conhecia pouca gente
que vendia. Daí um mano disse que um cara vendia fumo. A casa dele era bem
perto da minha. Numa rua movimentada. Uma cerca de compensado na frente,
guardando um terreno bem jogado, e uma casinha de madeira. Fui lá na cara dura.
Atraquei o cara. Me vende um fumo ae! O cara ficou meio puto. Porra, um moleque
queimando o filme. Só que o cara queria grana e vendeu. Comecei a ir com certa
frequência. Só que uma hora ia direto, e fumava até de graça. O cara era alto e
muito magro. Com barba. Tinha uns 35 anos. Só que bem envelhecido. A mina dele
era acabada. Era loira, tinha olhos claros, já tinha sido bonita. Só que agora,
a mina tava acabada, meio careca até. O cara tinha três filhos. Entre três e oito
anos. Crianças bonitas, mas tudo bem magras. Uma era uma mina, duns cinco anos.
A cara da mãe, bonitinha, um amor, mas esquelética. O cara não trampava. Ele vendia
fumo e era viciado em pó na veia. Vivia ali no barraco de favor. Um dia cheguei
na baia dele. Pedi fumo. O cara tava desesperado. Disse pra mim: “cara, não tem
comida na baia faz uma cara. Tá todo mundo morrendo de fome aqui.” Olha só, eu
tinha 14 anos. Não tinha nada na cabeça. Fiquei puto, não tinha fumo. E só. Podia
ter ido em casa pegar umas latas de rango e ter dado pra eles. Só que peguei
minha grana e fui buscar fumo em outro lugar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Demônio e revolução <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Um cara chegou uma vez e disse: cheirei pó
e tudo ficou de cabeça pra baixo, o demônio tava me chamando. A fórmula de
física, ou matemática, sei lá: deus vê tudo e o diabo vê tudo virado. Quando o
cara tá louco dizem: tá com o demônio no corpo. O cara louco fica com a cabeça
virada. O símbolo anticristo é a cruz virada. O nome do demo é o nome de deus
virado: Dog - god. E revolução é isso. Quando tudo vira. Quando tudo muda. O
carnaval é assim em alguns lugares. Troca de papéis como forma de resistência a
partir do riso. Deus está em cima, os caras de cima mandam. O diabo está em
baixo; os caras de baixo que lutam. A revolução é deles. Eles são os demônios
pros capitalistas. São os demos pros caras que ovacionam a democracia. São os
demos pra moral dominante. Por isso todos têm medo deles. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Experimentação
da marginalidade <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Acho que é melhor falar na marginalidade
como um todo. Não pensar só em coisas específicas. Tudo se liga. A prostituta
se droga e rouba. O drogado faz michê e rouba. E por aí vai. Daí tem essas
crianças. Eles têm entre 12 e 17 anos. São amparados pela lei. Os de classe média
por papai. Daí eles fazem o que querem. Não vão ser presos. Eles não são
drogados, michês, putas, ladrões profissionais. Só que eles fazem isso tudo, e parte
por curtição. Depois ficam adultos e a coisa muda. A maioria não se torna
viciado, muito menos ladrão e profissional do corpo. Pra mim, isso é uma das
riquezas da juventude: experimentar a marginalidade, de um jeito espontâneo e
sem paranoias. E mais importante: quando adultos, têm a possibilidade de
experimentar algo que tava presente na adolescência. Não sendo marginal, mas algo
ligado ao marginal, um marginal possível. Pode ser na escrita, na arte. Na
relação com a esposa ou marido. Na relação com o filho. Na relação com os
alunos. No trabalho, com o patrão ou empregado. Na vida, na relação com a vida.
Pode ser até nos pensamentos. Manter o coração com o jovem, o marginal, não como
um lance paternalista. Ser parceiro de sua própria adolescência.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Moda
</span></b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Você encontra muitos adolescentes de
classe média ligados a subculturas. Um lance legal dessas culturas é a relação
com a moda. Cada estilo com suas roupas. Punks com roupas sujas, rasgadas e
cheias de adereços e escritos. Metaleiro: calça preta e camiseta de banda. Góticos:
coturno e o resto preto. Black metal é uma mistura de gótico com metaleiro.
Hippies: calça jeans desbotada, camiseta colorida e all star; ou bermuda e
sandália. Os mods com roupas vintage. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Indies
de franginha. Interessante que eles não compram roupas em shopping pra compor o
estilo. Até são contra roupas de marca, coisa de mauricinho. Os skatistas,
surfistas, rappers, os clubbers, daí a coisa é diferente. Essas subculturas
foram recuperadas pelo mercado. Usam roupas de marcas. Bem, mas fico com
aqueles avessos ao shopping. Talvez esses estilos, tipo punk, metal, hippie,
etc, sejam mais presentes em gente da classe média branca baixa. Só que têm muitos
que são da classe média. Essa relação com estilo, modas, pra mim faz parte da experimentação
da pobreza dos jovens. Roupa é um lance interessante. Depois da casa, do carro,
vem as roupas como símbolo de status. Você anda com o carro mais caro, marca
sua posição. Sai do carro, entra no shopping, daí as roupas dizem quem você é.
Só que um cara pobre pode economizar a grana do mês e comprar roupas de uma
outra classe. Pode fingir ser mais rico do que é. Tinha amigos de classe média
baixa ou pobres quando novo. Eles trabalhavam como office boys. Eles se vestiam
muito bem, usavam o salário pra isso. Outra coisa, os caras que não trabalham,
mas assaltam, pra ter os panos da moda. Só que o interessante é essa gente da
classe média das subculturas que se vestem com roupas baratas. Isso é
importante pra eles. Um mano falou que numa cidade do interior quase todos os
jovens da classe média eram hippies. Era uma cidade universitária. Usavam
calças rasgadas e camisetas lisas. Um visual meio mendigo. Ele disse que a mãe
dele pegou suas calças. Elas imundas. Ele tinha posto elas na qboa pra perder
cor. O tecido ficou frágil. A calça toda rasgada. A mãe pegou pra usar como
pano de chão. Ele a pegou de volta e continuou usando. Acho que esses tão mais
perto da revolução. Bem pouco, mas tão mais perto do que os jovens que tão
sempre no shopping. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Otimista
quanto aos jovens? <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Parece que estou fazendo apologia ao lixo.
Ou vendo só lados positivos. Todo o lixo da adolescência a gente conhece, e
bem. Faz parte do discurso dominante. A gente vê isso na TV, lê sobre no jornal
e em revistas. O lixo dominante são as nóias, as crises, os conflitos entre
gerações, droga como culpa, sexo como culpa, e por aí vai. O lance que trato
aqui é o adolescente fazer a experimentação sem virar um pária. E isso pode ser
sem drogas. Só que pouco é possível pra eles. Sobre a vida adulta, trato na
pesquisa acadêmica: política, filosofia, arte, campo do saber. Restou isso, os
jovens.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Por isso, trato aqui. São
prisioneiros. Pensam neles como se fossem idiotas. Não têm movimentos políticos
pró-adolescência produzidos pelos adolescentes com demandas reais. Nem sei se
precisa ter. Como minoria são representados por gente como pais, psicólogos,
policiais, gente da saúde, políticos. A maioria dos marginalizados se
representam a si mesmos. Já os jovens, tão perdidos por aí. Tentando fugir, com
poucas armas, ou desarmados. Também só falo nos jovens de classe média. Melhor,
falo mais neles. Isso à primeira vista. Falo não em classe, mas naquilo que atravessa
as classes. Não importa as classes, mas a experimentação. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Saló
do Pasolini <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Um grupo de adultos representantes do
poder. São o poder. Eles raptam jovens do povo. Impõem a eles todo o tipo de
perversão sexual. Tudo apresentado em ciclos: de merda, sangue, etc. Simulam um
casamento de dois jovens. Na hora da consumação, curram os dois. Uma garota que
tenta se matar é impedida. Após, vai sofrer as piores torturas. Uma linda
gatinha é obrigada a comer fezes. Festa do poder. Eles fazem o que querem.
Alguns jovens aceitam. Não podem fazer nada. Tão fodidos. Pra que lutar?
Interessante que não há conflito. O poder é absoluto. Não há lugar pra fugir. O
que resta é um pouco de união, de camaradagem, de parceria, que é sufocada. Só
que mesmo entre os que são tratados como animais, os governados, há os X9s.
Aqueles que amam sofrer o poder. O modelo perfeito do masoquista, melhor, do
bom cidadão. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-ansi-language: ES-TRAD;">La Edad de Oro e Genesis P Orridge <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Programa dos anos 80 duma TV espanhola.
Tem arquivos bem completos no site da emissora. Pacotes com os melhores
programas. Na maior parte, é música. Shows e entrevistas com as melhores bandas
dos 80 e 70. Nick Cave, Lords of New Church, Psychedelic Furs, Smiths, The
Sound, Kiling Joke e por aí vai. Tem uma parte brega, com bandas dos 80 com um
som que não vingou. Também apresenta documentários sobre artistas visuais e
filmes curtos. O melhor pacote da série é o de número seis. Nele, de bandas: Psych
Tv; vídeos: Derek Jarman; artistas visuais: Vagina Dentata, Mapplethorpe; performance:
La Fura dels Baus. Este último, aparece no início da carreira. Hoje é um grande
grupo de teatro. Veio ao Brasil algumas vezes. Eu vi uma peça deles em Barcelona.
Uma peça secundária, em catalão. Achei chato. Muito texto. Muito drama. Não era
o que queria ver. Só que valeu a pena. Derek Jarman é um cineasta inglês
marginal. Trabalhou com vídeos também. Temática do sexo homossexual muito
presente. Tem um filme sobre o pintor Caravaggio, com muito sexo. Vagina Dentata
é uma performance do Jordi Walls, artista espanhol. No programa ele esfaqueia
quadros que estão em uma parede. Um órgão faz sons estranhos. Cães estão presos
em coleiras. Uivam. O melhor: Psych Tv. Som industrial, vídeos e a performance
do<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>Genesis P Orridge. O cara participou
de vários grupos de pós-arte desde os 70. A banda antes era mais de performance.
Na época tava centrada em música. O cara faz uma boa interação com o público. Depois
que vi o programa busquei informação sobre ele. Tem um projeto de body art.
Acho que pode ser chamado de arte existencial. Usa não só o corpo como campo de
experimentação, mas também a existência. Fez várias cirurgias plásticas para
deixar o corpo feminino. Veste roupas de mulher. Age como uma mulher. Na vidinha
isso é comum. Os travestis e trans fazem isso. Tinha um trans no último big
brother. Até bonito. Não que sejam incluídos. Só que não é tão marginal como
era. Só que na arte, fazer isso na arte... isso é diferente. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Sadomasoquismo
<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Os Acionistas de Viena filmavam imagens de
mutilação do corpo. Um coletivo de pós-arte dos 70. Nada muito extremo. Queimar
a glande do pênis e rir. Coisas do tipo. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Suspensão é um lance que fiquei sabendo nos
anos 90. Implantam argolas no corpo. Prendem as argolas em correntes postas no
teto. Daí o cara é suspenso. Pode ser na pele das costas, pernas, mas corre o
risco de a romper. Algo mais raro. Quando fiz minhas primeiras tatuagens meus
pais odiaram. Só que na época já era moda. Hoje mais que comum. Donas de casa
com tatuagens. E quando donas de casa fazem algumas coisas, deve estar
acontecendo outras mais interessantes. Tatuagem, piercing tão ligados à
suspensão. São coisas da mesma onda. E o pessoal do S&M... bem, meio que
precursor. Couro preto, correntes, coleiras, cortes, sangue, violência. Corpo
como experimentação. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Fuga
pro oeste <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Lembro da fórmula duns caras: numa guerra,
se endurecem as coisas no leste e no oeste, ou no norte, a galera faz a festa
no sul. Sempre dá pra fugir. Sempre se foge. Tem uns caras que não param de
sair de clínicas de reabilitação. Não param de ser presos por porte de drogas.
Acho que não adianta, o cara vai seguir resistindo, até a morte. Mais da metade
de uma vida na cadeia, vale a pena. Claro que se o resto da vida tenha sido
prazeroso. E prazer muitas vezes tá na marginalidade. O aluno naquele filminho
dos anos 80, o Clube dos Cinco. Ele fala uma palavra pro diretor, como:
dane-se. Cada vez que repete, ganha um dia de detenção. Só que ele continua
falando: dane-se; e o diretor: mais uma detenção. Por alguns segundos de
rebeldia, o cara dá um dia inteiro, um sábado, o dia mais importante da semana.
A galera continua indo pra rua, e são presos. Nos movimentos por outra
globalização, no início do século, tinha grupos que encaravam fazer coisas só
para serem presos. Desviavam a atenção da polícia, cometendo atos ilícitos.
Negri, o maior pensador contemporâneo, por uma postura ética, ele voltou pra
Itália pra ser preso. Um gesto, uma atitude, por isso ele ficou 10 anos em cana.
Fora todas as lutas contra as ditaduras. Os caras estavam preparados pra
morrer. Ser preso e torturado era uma questão de tempo. Daí podem dizer: ah,
eles queriam se foder. “O drogado quer alguém que o pare, o tranque.” Acho que
ele faz de tudo pra ter aquele momento. O momento da resistência, seja qual for
o preço. Fechar alguém, todas as saídas. Isso não existe. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Sala
de aula <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Uma coisa que me parece absurda, extrema:
ficar duas horas sentado em uma aula de matemática do segundo grau ou primeiro.
Melhor, ficar em uma sala de aula, a maior parte do tempo sentado, em qualquer
matéria do primeiro ou segundo grau. E eles ficam durante dez anos nessa. No
mestrado e doutorado a coisa é diferente. As disciplinas têm ligação com o que
a gente estuda. Mas sou o que mais sai em sala de aula. Vou ao banheiro. Busco
água. Fumo cigarros. Faço isso por um motivo: pra mim, aula não funciona. Dois
extremos: colégio e pós-graduação, e ambos não funcionam. Sobre a graduação, todos
entram felizes na universidade. Daí tão na maior boa vontade. E o lance é diferente
mesmo do colégio, mais flexível. Você faz quase tudo o que quer. Dentro do
possível. Sair da aula. Ir até o mato, até o bar. Entra a hora que quer. Tem
professor que não faz chamada. Tudo mais leve. Só que e daí, tá todo mundo
interessado? Como deixar todos interessados, melhor, a maioria. Impossível. Só
que o pessoal da faculdade, esse são mais velhos. Esses tem autonomia,
trabalham, pensam melhor. O pai não fica mais em cima. Ganharam privilégios. E
os adolescentes? Esses que me preocupam. O colégio é mais rígido, o pai é mais
rígido, só o Estado é menos, em parte. Eles não podem beber, fumar, entrar em
festas. Claro que têm a tarde livre. Estudam menos que o cara da universidade. Só
que com a cabecinha deles, vão fazer o que além de se detonar? Eles podem ler,
podem participar do grêmio do colégio... e o que mais? Sobre a leitura, vai
demorar um tempo até ficarem por dentro do que leem. E mesmo se escreverem
algo, ou se fizerem política, eles são adolescentes. Ninguém tá aí. Aquele
lance dos “caras pintadas”. Era um lance macropolítico. Não era sobre a
escravidão dos adolescentes. Quando eles saem organizados pra rua é contra
outra coisa. Só que a gente vê eles na Rua Lima e Silva, em Porto Alegre, nos
domingos. Ficam na frente dum supermercado; tomam vinho barato. Todos se
detonam. Os adultos odeiam quando eles fazem isso. Odeiam por qual motivo?
Quando eles tão se detonando estão fazendo sua representação, lutando por um
pouco de autonomia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Gatinha
2<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Não precisou de muito. Muito a gente já
tinha. Só que a gente deixa rolar. Isso é bom. E fica rolando. Daí, uma hora
pinta. Bom que pintou. Não que fosse a hora certa. Só que tava um clima legal. Daí,
você mostrou seu corpo, que eu já conhecia. Me deu o que eu queria. Daí, muito
bom o que você sabe fazer. E não foi o fim do mundo. Mas foi bastante. Bastante
gostoso o que você sabe fazer. E sabe muito bem o que eu quero e gosto. E não é
muito. Sem exageros. Sem muita história. Não estamos na frente do vídeo. Nem
estamos competindo. Quem sai vencedor, é outra história. Ele e ela que se
fodam; eles perdem. Só que quando rola, e tá rolando e vai continuar... <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>somos <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>nós
e pode ser três ou quatro, depende do clima. Ou muitos, depende de nós.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E quando chamo você de gatinha ou baby... bem,
baby gatinha, o lance é que você tem que saber que isso tá saindo da minha
boca. E tô sempre numas de dar novos significados pras coisas. E meio que trabalho
com palavras. Só que o mais importante é meu tronco forte, minhas pernas fortes.
Tudo isso acho que tá em jogo. Você não precisa fazer muito. Já que a neurose parece
que... você deixa em casa. E você sabe que isso faz com que eu saia correndo. E
acho que... você quer que eu esteja perto. Então, baby gatinha, tô aqui. Tô por
aí. Fácil me encontrar. Encontros dos bons. Sem exageros. Sem muita arte
marcial verbal; já física, depende da lua. Bom quando a gente nem nota que tá
subindo as paredes. Só vê isso depois, porque tá bom demais. Bom assim. E acho
que isso vale mais que um diário de bordo. Aqui só umas palavras, pra lembrar o
que tá rolando. Acho o surf um esporte legal. Rola uma onda, encaixa legal,
depois flui na boa. Bom a quebradinha na espuma. A machucadinha na areia. Ralar
um pouquinho os joelhos. Você queimadinha de sol, com a pele num bronze e não
mais branquinha.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>gatinha 3 <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Gatinha, sou todo teu pra sempre. Amo você
gata, muito. E você é gata demais. Linda. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Toca aqui no meu peito. Olha só, bate por você
bem forte. Ele tá forte por você. Muito forte e vivo só pra você. E só pra você;
pra você pra sempre. E você sabe que é verdade. Pra sempre. Tipo hoje é sábado.
Pra sempre, até terça. O meu coração forte pra sempre. Forte pra você pra
sempre. Desde hoje pra sempre. Desde sábado até terça. E isso é muito. Você
sabe, baby, é muito. É o máximo que se pode ter. O coração que pulsa forte.
Pulsa muito. Só pra você gata. Sabe disso. A sua boca faz coisas maravilhosas.
Sua saliva é um drink dos bons. E isso misturado com seu sorriso. Com seu
cheiro. E não para por aí. Isso que importa... a forma como você dança. E como você
dança. Você dança como ninguém. Tudo compondo um lance que me faz ficar muito
apaixonado por você. Pra sempre, meu bem... até terça. E sei que estou sendo sincero
demais. Eu estou sendo demais. É muito pra mim. O suficiente. Paixão total. E
quando você dança seus olhos aparecem e desaparecem entre seus cabelos. E muita
coisa que era pra ser importante, não é mais. Não quero saber sua idade. Nome
não importa; você é a gatinha, minha deusa. Porque eu sei muito de você quando você
fala, sorri, beija e dança. E como você dança gatinha. Dança que vai ficar
muito bem guardada. Você vai ficar muito bem guardada. Lá em casa pra sempre.
Eternamente. Até terça. Não quero ver você na ressaca do dia seguinte. Neurose
não combina com a gente. E não precisa. Depois a gente pega outro sábado e faz
tudo de novo. Mesmo que você, daí já seja outra. Mas vai ser tão bom quanto. As
ondas batem. Cada uma diferente. Ainda mais se for um dia, uma festa, uma
cidade, um país diferente. Tudo tão diferente. Só que tão bom quanto. Porque eu
atravesso a cidade. Eu abro a porta. Só pra ver você dançar. Porque você é gata
demais. E se isso não diz muito na boca de “gatinhos”... bem, eu não um
gatinho. Nasci na selva. Devo ser filho de lobos. Algum felino ou canino
selvagem. Então gatinha me lembra algo.... você sabe; <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>se <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>não
sabe, deixa que eu mostro pra você. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Gatinhas
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Meu bem, eu posso ser o que você quiser, e
não vou ser falso. Teatro não é falsidade. É uma coisa legal da vida. Tem gente
que até paga pra ver um teatro. Faço pra você de graça. Não tá bom? Você quer
uma peça especial pra você? Você quer aquele lance que tanto quer? Tanto assim?
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Então, deixa assim. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sei bem que o problema é que você não sabe o
que quer. Daí vira qualquer coisa. Você sai correndo do meu ap pra me ver. Estranho,
não? Depois ligo, você não atende. Pô baby, teatro é um lance, mas drama
psicológico... Você menstruadinha? O lance baby, deixa que eu faço o que tem
que ser feito. Eu faço a história. Deixa eu fazer uma história. Um pouco mais
do que isso, já que o corpo tá envolvido. Deixa que eu armo tudo. Deixa eu
guiar. E não estou sendo o macho que guia. O braço forte. Meu braço é forte, sim,
naturalmente. Posso alcançar o céu com esses braços fortes. Então deixa, baby.
Sem onda. Sem neurose. Eu sei o que você quer. Está aqui nas minhas mãos. Estou
olhando agora de frente pro que você quer. Deixa de frescura. Não precisa me
chamar de tio, mesmo eu conhecendo bem sua mãe. E mesmo que seu pai tenha medo
de mim. E bem, meu bem. Deixa de ser... melhor, deixa que seja. Sem onda. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Gírias
drogadas <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Muitas gírias se referem a coisas ligadas
a drogas, ao uso, ao usuário. Segue uma lista. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Massa:</b> uma coisa legal. Massa é a maconha da boa.<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> Palha</b>, uma coisa ruim. Palha é maconha
fraca. Fraca como uma palha. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Na loucura</b>, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">doido</b>, são palavras dúbias. Podem se referir a um cara do tipo sem
noção, um bobão, ou um cara legal que faz merdas que não sujam. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Sujeira e limpeza:</b> sujeira com os
canas, com os pais, com os amigos. O cara que tá com o filme queimado. Limpeza,
um cara tranquilo, um lance que pode ser feito sem problema. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Nóia </b>é um cara meio sujeira. Que viaja.
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Viagem: </b>lance também bom e ruim. O
cara é uma viagem, é uma figura, é massa. Ou é um viajão, o cara tá fora da casinha.
Tipo o cara que pirou da bola. Na antiga, todo mundo falava de artane: uma bola,
remédio, que levava o cara à loucura, uma sujeira. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Da boa:</b> maconha forte. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Fazer
a mão:</b> comprar droga. Fazer algum lance, uma história. “Faz a mão então,
busca as biras. Dá um jeito”. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Frito:</b>
o cara que fritou do pó. A ressaca do pó. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Que
coisa:</b> redução de coisa boa. Droga boa. “Essa é da boa”. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Tá ligado:</b> o cara é ligado, antenado. O
cara que saca das coisas. Quem tá ligado curtiu uns estimulantes. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Desligado, largado: </b>o cara chapado de
maconha. O cara que não tá nem aí pra nada. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Furar a mão:</b> o cara que não cumpre o que prometeu. “O cara disse
que ia estar com o fumo tal hora e não apareceu”. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Alto, alturas:</b> o cara que tá podendo; tomou algo bom. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Cai da boca:</b> o cara que tá na boca de
droga queimando o filme. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Sai fora. Dá um
tempo</b>: o cara que larga as drogas pra fazer a cabeça careta. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Cabeça feita:</b> um cara ligado, dos bons.
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Careta: </b>o que não se droga.
Careteou. O cara que deixou de fazer a mão. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Roubada:</b> ser passado pra trás. O cara compra droga malhada. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Melado:</b> alguma combinação não
realizada. Melou a história. Melado é o pó que fica no sol e vira uma pasta
grudada. O cara só pode por embaixo da língua, depois frita. Se queimar, queimou.
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Queimar a cabeça:</b> usar muita droga.
Parece que a cabeça, os neurônios tão queimando. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Ficar burro:</b> usar maconha. Não é só uma coisa ruim. O cara fuma e
fica burro, mas numa legal. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Legal:</b> inversão
de ilegal. O cara faz um lance ilegal, se droga, mas pros drogados isso é
legal. Ilegal pro Estado, legal pros manos. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Mete a história:</b> tipo: “faz a mão. Dá um jeito”. “Mete a história
rápido, a droga rápido. A polícia pode chegar”. Ou os pais. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Cortar:</b> misturar droga. Coca com farinha.
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Cair a casa:</b> dar tudo errado. Polícia
atracando o barraco. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Enquadrar:</b> sacanear.
Tirar. Ser preso pela polícia.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Onda: </b>curtir uma onda, fazer onda. Onda
da maconha. O cara viaja em alguma coisa. Fica uma hora divagando sobre algo
mínimo. Meio nóia. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Dar um brilho:</b> fazer
algo legal. O cara ligado de pó. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Acabado</b>:
cansado, falido. O cara que tomou todas, tá acabado. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Se acabar</b>: fazer as coisas ao extremo. Fez demais. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Akademia<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Os caras da academia são bons; dizem que eles
são os melhores. Na minha experiência... bem, os caras do mestrado não são os
caras da graduação. Na graduação, eu conhecia uns caras que faziam pesquisa, e
os caras eram muito inteligentes. Comparando comigo e com os outros. Os caras
do doutorado, tão muito na frente dos caras do mestrado. Daí, tem os
professores de PPG, esses são ídolos. Inteligência em PPG é o que não falta.
Transborda. Só que bem, todo mundo sabe isso, e não vou ficar falando o que
todo mundo sabe. Umas coisas me incomodam. Mestres agindo como bons alunos de graduação.
Pela lógica, foram os melhores alunos, o problema é que às vezes eles esquecem
que estão em outra situação. Permanecem assim os mesmos. Vão em todas as aulas;
ficam sentados a aula toda; fazem todo trabalho pedido. Mais, leem religiosamente
todos os textos. Fiz isso no mestrado. Tava numas de ser bom aluno. Um pouco
antes já tava nessa. Só que na graduação, bem, eu era da turma do fundo. Não
parava em aula. Muitas disciplinas, passei enrolando. Como já tinha uma
leitura, era mais fácil de enrolar. Fiz jornalismo, e as disciplinas de escrita
sempre me dei bem, rádio também, tirava notas altas. O resto, passava ali, era
muito malandro. Tinha parado de fumar maconha, mas era mais legal sair com os
manos pros matos da faculdade do que ficar em sala de aula. As aulas de teoria
me davam vontade de vomitar. Como disse, fui pra outro caminho no mestrado. Só
que agora, hoje, tô no meio. Só que um meio muito bem pensado. Um cara disse em
aula com orgulho no doutorado: “fiz um curso de ciências políticas com 13 anos.
Estudava muito no colégio.” Meio que fiz uma comparação: eu com essa idade
comecei a fumar maconha direto. Meu pai queria me matar porque eu fugia do
colégio pra andar de skate. Eu fazia colas imensas pra passar nas aulas de
matemática. Meus amigos eram todos losers. E foi assim por um bom tempo. Claro
que sempre dava uma parada nas drogas e daí dava uma de leitor. Lia boa
literatura, um pouco de filosofia maldita. Só acho que mais importante foi
minha caída na vida: drogas, putaria, rua, etc. Tudo que meu pai odiava em mim
e não dava valor. Tudo que o cara que fez curso de política aos treze não fez.
Ou se fez, não dá valor. De repente, traça a fuga da vida no porre de sexta, mas
é o seu valium. Me graduei na vida adolescente. Não quero passar por isso de novo,
não tenho corpo pra isso. Só que passando tudo, foi melhor assim. Passei coisas
que poucos passaram, vi coisas que ninguém viu. Como diz a música dos Doors:
atravessei pro outro lado. Minha riqueza da adolescência. Tudo aquilo que pais,
psis, professores, policiais, gente mais velha, pais de amigos, tudo aquilo que
eles queriam que eu não tivesse experimentado. Não basta fumar um, cheirar pó
no fim de semana, tomar ácido de vez em quando. Isso muitos fazem. E se muitos
fazem... <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>legal é fazer o que poucos fazem.
Mas quem tá preparado pra se fuder? Pra quebrar a banca realmente?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Fumantes,
minorias <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Tava tomando meu café com cigarro. Era noite.
Tomo café até o meio da tarde normalmente, porque me deixa meio tenso se tomo de
noite. Só que no final de semana me permito. O tempo rola de forma diferente.
Daí tava nesse posto com meu café e meu cigarrinho. Tinha um rapaz do meu lado.
Cara atleta, meio surfista. Me pediu fogo. Achei massa. Um cara atleta fumando.
Outra coisa, ele foi super educado comigo. Sorriu quando passei o isqueiro. Daí
tava logo depois dando uma banda e me veio um lance na cabeça. Tem relação com
o método de pesquisa. Não quero trazer conceitos pra não deixar o texto pesado.
Só que vou tentar expor a ideia. Uma pergunta, pesquisa é feita de perguntas: o
cara fazer parte de uma minoria, tipo fumante, tá mais aberto a relações com
outras minorias? Falei do sorriso do surfista quando passei o fogo. Achei algo
legal, talvez um afeto diferente do dominante. Ele um cara forte, atleta, mas
fumante. Seu sorriso tinha algo de feminino. Não tô falando de
homossexualidade. Falo mais de uma relação diferente com os outros, pode ser
com a vida. Uma relação minoritária. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No
caso específico, uma relação de parceria que pode ter relação com uma
afetividade feminina. Diferente do estilo jovem dominante aqui no sul: vamos
quebrar todo mundo. Outro exemplo, um pai gaúcho que descobre que o filho é
gay. Foi um desastre pra ele e pra família no início. Só que esse pai com o
tempo aceitou. Isso deu uma nova sensibilidade nele, em relação ao filho, aos
homossexuais. Uma relação nova com a arte também. Ficou também mais tolerante. Isso
acontece de forma visível nos caras que ouvem rock. Não dá pra saber se o rock
que mudou a vida do cara, ou se ele já tinha uma abertura. Só que o território
do rock, que em certos casos diz respeito a minorias, como certas subculturas,
envolve toda uma afetividade homossexual. Esta vista na dança, nos gestos, nas
roupas, nas letras. Daí o menino usa roupas apertadas, dança de um jeito mais
mole, fala de um jeito mais musical. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quer
ficar parecido com o ídolo. E de repente o ídolo é gay. E ele sabe e não se
importa. Claro que o garoto odeia quando os amigos dizem que ela tá meio
bichona. Ele é meio fascista, mas continua ouvindo o som, se vestindo de forma
diferente e dançando.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Lutar
pela “nossa” revolução<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Não penso em voltar. Só que se tiver que
voltar, tô pronto. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Perder tudo por uns
quilinhos... não só pelo pó, mas perder tudo que tenho. Ir pra rua. Me queimar
com todos que amo. Não quero isso. Mas é uma possibilidade. E se já passei por
isso... bem, sei que é uma possibilidade. O próximo passo é a morte. E quando
eu crescer morte não vai ser coisa ruim. Isso que falo. A gente tá preparado
pra muita coisa. Importante mapear. E se a gente tiver que pegar em armas, cair
na rua, na marginalidade, ser preso... acho que a gente tá pronto. Como dizem
os punks gaúchos dos Replicantes: lutar pela revolução. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Fora da infância <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Eu
era novo, tinha uns 11 anos. Admirava a vida do meu irmão e dos manos dele. O
cara era metaleiro. Comecei na idade comprar discos de metal. Deixei o cabelo
crescer. E mais, comecei a imitar o jeito que eles falavam e andavam. Lembro de
falar mais devagar, e caminhar com os ombros caídos... só que eu não sabia, mas
tava imitando os caras chapados. O cara da maconha fala mole e o corpo fica
mole, caem os ombros.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E assim, não era
uma admiração com o cara mais velho, era uma vontade de cair fora... cair fora da
infância. Era isso. Hoje meio que volto à adolescência, mas reconhecendo isso. O
que me interessa: usar a potência adolescente na escrita. Uma postura também do
tipo: que se foda. Não quero imitar, mas usar uma parte que conheço bem pra
quebrar o texto acadêmico. Melhor, dar novos contornos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Gatinhas
2 <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Você tá com medo como sempre. Repara em
tudo que eu faço. Cada palavra, cada gesto. Tá esperando que role alguma merda.
Que eu faça alguma merda. Que eu aponte uma arma. Que eu pegue você na força;
amarre você na cama. E eu torne você um monstro como o monstro que eu sou pra
você. Gatinhas têm medinho de monstrinhos. Leram muitos contos de fadas. Então,
você sabe que eu não sou o príncipe. E isso é bom. Já economiza muita conversa.
Mas eu não vou amarrar você na cama. Não vou tirar do armário meus apetrechos.
Não vou dar a você uma bela noite de sadismo. Eu vou fazer pior. Tenha medo.
Muito medo. Depois do que vai rolar as pessoas não vão mais respeitar você. Você
não vai mais ter coragem de olhar na cara do seu pai. Nunca mais vai sentar no
colo do vovô. Não vai mais poder dar selinho no seu irmão. Você vai ser um monstro.
E gatinha, eu não estou brincando. Quem brinca aqui é você. Com seus medinhos.
Com seu jeitinho de fada. Com sua educação. Com esse seu jeito de criança. E
isso... bem, isso já era. Porque chegou a hora. Sou legião, você sabe. E você
vacilou. Entrou na minha casa. Bebeu vinho comigo. Bebeu demais, aliás. E você me
deixou beijar você. Você entrou na jogada. Agora a chave tá lá embaixo. Joguei pela
janela. Não tem mais ninguém por perto. Ninguém vai ouvir você. E você pode
rezar. E você pode até relaxar. Você pode me chamar de meu bem. Até dizer que
me ama. Mas nada disso vai ajudar você. Porque a jogada agora é outra. Você
ficou muito tempo fantasiando que eu era um monstro. E agora eu quero entrar na
jogada. Vou entrou com a fantasia. Eu entro com meu corpo. Com minha vontade...
de enlouquecer, você. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Mano
que fugiu da desintoxicação <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Estava andando de carro pela cidade. De
tarde. Estava na Cidade Baixa. Tava perto do viaduto da Borges. Passei rápido
por dois caras, moradores de rua. Passei e não dei bola. Continuei dirigindo.
Só que me veio na cabeça a imagem de um dos dois: era loiro, com cabelo
comprido, meio de surfista. Ele tava abraçado num cobertor com um cara novo
negro, esse bem com visual de morador de rua. Achei estranho. Continuei
dirigindo. Passei pela Rua da República. Entrei na Lima e Silva. Estava fazendo
meu trajeto de sempre. Tava passando pela Cidade Baixa, olhando as garotas nas
ruas, nos bares. Acho o melhor lugar pra fazer isso, olhar as garotas. O lugar
cheio dessas mulheres novas e lindas, gatinhas do sul. Segui a Lima e Silva.
Atravessei a perimetral. Entrei numa ruazinha e cheguei no mesmo ponto que
tinha visto o cara loiro com o morador de rua. Avistei ele de novo. Parei num
semáforo e foquei a minha visão nele. Como disse: tinha cabelo de surfista
comprido e tava enrolado num cobertor. Além disso, ele tava de chinelo havaiana
com meia. O chinelo meio pequeno pros pés. Tava de jeans e camiseta. A camiseta
tava meio curta nele. A barriga dele tava grande saindo da camiseta. Ele tinha
uns 25 anos. Olhei pra cara dele, ele tava com um sorriso estranho. Olhos
mareados, a boca meio puxada, sorriso de quem tava chapado. Então, ele tava com
esse cobertor velho em volta do corpo. Tava frio. E tava acompanhado dum cara
que era morador de rua mesmo. Saquei o cara loiro. Tinha certamente fugido de
uma clinica de reabilitação. Tava na rua de novo e se chapando. Era óbvio que
não era morador de rua, visual de classe média. A barriga grande era de quem
tinha saído das ruas e tinha sido internado; o cara engorda um monte na
clinica. Tava de chinelo, tinha trocado o tênis por droga. Fugiu da clinica e a
primeira coisa que fez foi se chapar. Tava feliz, aliviado, já que deu um jeito
de voltar pra pedra. Tava tão feliz por voltar pra vida, que pegou o primeiro
cara na rua e abraçou ele como mano. Eram iguais agora. Ele não era mais o
surfista classe média em recuperação, era agora o viciado de rua que faz
qualquer coisa pela pedra. A vida da classe média, a vida média, na média, é um
tormento. Trocar isso por nada; melhor, trocar tudo isso por alívio, por um
barato constante e tudo que vem junto... acho que a escolha tem que ser
pessoal. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Curtindo
as gatinhas na rua <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Eu estava passando, e passou ela... só que
ela passou muito rápido, não deu bola pra mim, e eu me fiz também, não dei bola
pra ela. Deixei assim. Só vi que era bonita. Fiz minhas coisas. Subi umas
escadas, comi minha janta, tomei meu café. Queria sair correndo pra fumar meu
cigarro. Só que fiquei na fila pra pagar a conta. Ela apareceu de novo. E ela
me olhou, de um jeito... e a gente ficou numas; nada direto; nada na cara. Só
que a gente sabia que a gente tava ali, e que somos jovens e... então, eu
estava atrás dela; a gente tava caminhando juntos no corredor. E ela estava na
minha frente. E claro que eu estava olhando pra ela. Alta, bem alta. Cabelos
claros, sem muita preocupação. Magra. Ombros largos. As costas bem escavadas.
Fiquei nas costas, escavadas, com uma blusa meio aberta, não muito... mas dava
pra ver as costas dela, com as asas de anjos bem excessivas. Mais abaixo uma
lordose acentuada. Ela não tinha a bunda grande, mas era bonita pela lordose.
Também notei que o porte dela era um pouco... a posição do tronco era um pouco
irregular. Formava um tímido arco da cabeça até a bunda, atingindo um pouco as
pernas. Linda demais. Deveria ser uma modelo, de passarela... dessas que com
uma produção ficaria exótica e mais linda ainda. Estava descendo a escada, como
dizia. E tentei não ficar com o olhar em cima. Sei ser discreto. Uma hora não
sei se foi a luz que mudou, ou a forma que ela caminhou, mas consegui olhar pra
abertura da blusa. Consegui ver melhor as costas dela. Uma visão meio raio x
talvez. Mas vi que ela tinha da nuca até a bunda um traço na pele. Um traço
fino, mas que pude notar. Era uma cicatriz fina, mas muito comprida. Uma
cicatriz cirúrgica. Não era muito recente. Já tinha meio que se mesclado à
pele, mas dava pra notar. Eu não estava em cima dela. Estava apenas olhando
quando dava. Não queria constranger ela e a mim, nem as pessoas que estavam
comigo e com ela. Apenas olhava como dava. Daí saquei: a cicatriz, o formato da
coluna, o porte dela, as asas de anjo, a lordose, tudo isso que deixava ela
linda, tudo isso era fruto de algum problema na coluna. Algo sério. Talvez uma
má formação. Algo que ela tenha nascido. Ou de repente, um acidente, grave. E
pensei: ela precisou passar por tudo isso pra ficar linda. Deve ter sofrido
muito. Mas sem dramas, lembranças, e as neuras que isso pode trazer... mas sem
a cicatriz ela não teria ficado tão linda.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Dois.</b> Estava num bar fazendo
minhas coisas. O que se faz em bares. Só que era cedo, era dia ainda. E as
pessoas de dia são diferentes das pessoas da noite. Mas são as mesmas de certa
forma. Estava esperando alguma coisa. Nada sério. Não muito. Aquilo que o dia
pode dar. Luz demais, sol demais, sorrisos demais, gente saudável demais. Parecia
um pouco de paraíso. Pouco mas, depois do dia vem a noite. Isso que importa.
Tava sentado, atrás de um cardápio. Tava olhando pra ver o que ia pedir. Não
queria muito. Queria me esconder do sol, e de tudo que vem junto. Então veio
essas garotas. Elas vierem juntas. Falaram com a atendente. Pediram algo. Duas
garotas acima do peso. Não me chamaram a atenção. Talvez mais tarde. Só que uma
se juntou a elas. Veio do nada. De cara, vi que era muito bonita. Alta. Magra.
Cabelos longos castanhos. Muito bonita. Foquei a visão nela. Não tinha como não
focar. Não olhava diretamente. Mas ela me interessou. Não tinha como não. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Estava de vestido. Os pés com uma rasteirinha.
Era alta, não precisava se preocupar com saltos. Algumas tatuagens, nos pés e
nas costas. Ela sorria de leve, sem exageros. Era muito bonita. Uma hora pegou
o celular. Mexeu nele. Eu estava num lado do bar e via mais seu perfil. Vi daí
como segurava o aparelho. Com o braço esquerdo apoiava, com o direito, com as
mãos do direito mandava uma mensagem. Ele não tinha o braço esquerdo. Não era
talidomida. Era muito nova pra ter isso. Mas não tinha o braço esquerdo, apenas
um toco com algo que se assemelhava a dedos.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Ficar
sem é horrível <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Tem esses manos na rua, não são muitos. Em
Porto Alegre a gente vê muitos meninos, um pessoal de vinte e poucos anos e uns
caras velhos. Quem ataca os carros pedindo grana são as crianças e esse pessoal
jovem. Dizem pra não dar grana pro pessoal que mora na rua. A gente ouve no rádio
quando a gente tá parado no semáforo e o pessoal tá pedindo grana. Não deem
grana, senão eles ficam na rua. Ficam aí vadiando, se drogando, bebendo,
roubando. A gente tem que tirar esses caras da rua. Eles têm que viver como a
gente vive. Eles têm que ter uma casa, oportunidade, carros, contas pra pagar.
Têm que ser como nós. Como alguém pode ser de forma diferente? Nossa vida, a
vida da casa, da família, do emprego. Na real, eles têm que ir pra periferia,
viver mal e trabalhar para nós. Eles têm que se foder, mas ser fodidos por nós,
não por eles mesmos. E a gente dá sopa, pão e sermões, a gente faz isso até que
eles encontrem o bom caminho. Sempre vejo então eles, e quando dá, dou uma
grana. Não gosto de dar grana pras crianças, prefiro dar grana pro pessoal de
vinte e trinta anos. Acho que esses que tão fodidos. Esse pessoal, tá mais
tempo afundado em muita coisa, principalmente drogas e álcool. Gosto de ajudar eles
com grana ou com cigarros. Até já pensei em fazer um rancho com cigarros
baratos e canha e distribuir pra algum grupo. Só que grana é melhor, daí fazem
o que querem. Parece que todos eles tão afundados no vício. Então ajuda mesmo
grana pra se drogarem. Álcool alimenta mais que comida. Quem se droga não pensa
em comida. Penso que tão nessa não só porque não têm oportunidades. Acho que
eles gostam também dessa vida. As duas coisas se misturam. E deixem os caras se
drogar. Viver a deles. Levar outra vida. E isso é impensável pra familinha
pequeno burguesa. Esses dizem: eles são uns vagabundos, têm que trabalhar. Se
eu estivesse no lado deles; se eu fosse pobre e preto; se eu tivesse como
possibilidade de vida apenas limpar merda de classe média; certamente, eu
estaria na rua, me drogando, curtindo a cidade, me fodendo de outro jeito.
Então, acho que eles tão certos. Melhor se fuder com muita droga na cabeça, não
servindo a burguesia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Os
fodidos <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Eles tão fodidos e bem fodidos. Já
nasceram fodidos. Daí resolveram dar uma amenizada na fodeção. Se é tudo é foda
que se foda! Que se foda a cabeça. Que se foda o corpo. Que se foda a rotina, o
trabalho, a escravidão. Que se foda tudo. Eles dizem: me dá só um barato que tá
bom. O resto que se foda. Que eu me foda também; mas se eu tiver com o barato
na mão, tá bom. Que eu me foda do meu jeito. Daí dizem: não! vocês não podem se
foder da forma que você querem. Vocês têm que se foder da forma que a gente
quer. Na real, não dizem, mas a gente sabe que eles tão dizendo isso, até
quando respiram: sejam fodidos por nós! E tem uns outros caras; esses caras
dizem: não, a gente não quer foder com vocês, mas a gente quer que vocês não se
fodam. A gente quer que vocês caiam fora da rua. Deixem de ser fodidos. Mas não
só isso, a gente não é que nem os outros, a gente quer que vocês não sejam
fodidos por ninguém. Esses são os caras do bem. Os padres, os pensadores, a
gente da esquerda, a gente do bem. Esses são aqueles que se orgulham de quem
são. Se dizem contra toda essa merda. Só que esses não são muito diferentes dos
sacanas que a gente saca de cara; porque eles dizem: vocês são uns coitados e a
gente quer mudar a vida de vocês. A gente quer por vocês num mundo melhor. Um
mundo que a gente está construindo. Um mundo pra vocês e pra nós... pra todos
nós, pra gente viver feliz. Só que eles deixam bem claro que no mundo melhor
não vai mais ter a rua; não vai mais ter a droga; não vai mais ter nem o que
chamam de sofrimento. Na real, o mundo melhor não deixa de ser como o próprio
mundo deles, o mundo que eles vivem – esse <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>pessoal humanitário, legal, que quer ajudar os
desafortunados. Bom apenas se a gente vivesse e pensasse como eles. Vivesse a
vidinha de classe média, e pensasse numa via que alguns chamam de esquerda. Pra
esses a rua não é opção, a droga não é opção, se foder não é opção. Todo mundo
é obrigado a ser feliz, como eles são. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ex-gatinha <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Conheci você na sua melhor fase. Posso
dizer que eu fui a sua melhor fase. Deixei você linda, gostosa, poderosa.
Tornei você a melhor foda da cidade. E não me diga que estou sendo egocêntrico;
você sabe que é verdade. Por isso, esse corpinho que tá aí, agora tão longe de
mim, continua sendo meu. E nem me venha dizer que eu fui a pior coisa da sua
vida. Menina, veja bem: se sonhos são caros, pesadelos valem uma fortuna. E eu
criei um pesadelo só pra você, pra nós, e bem, pra muitos. Você era tão inocente;
tão infantil; tão chata; tão filhinha da mamãe. Uma putinha de merda que
sacaneava todos os caras com os joguinhos de sempre. Metida, nojenta, mimada. Você
não abria as pernas pra ninguém; só pros dedinhos na banheira antes do beijinho
na testa da mamãe. Claro que você não se orgulhava de ser a purinha; mas você
gostava de se manter purinha, só pra deixar os caras na mão. Batia umas
punhetinhas pra eles de vez em quando só pra dar mais vontade. Deu uma
chupadinha no namoradinho que deixou ele louco e... daí você se viu obrigada a
dar. Você sabia que tinha que dar, senão a coisa ia ser na força. Daí perdeu
aquela coisinha, pedacinho de pele e... ficou mais nojenta. Daí você se tornou
uma gatinha que dava. Os caras corriam mais atrás. E você ria dele. A pior das
vadias. Então, você me encontrou. Foi horrível pra mim. Uma criança mimada
jogando um joguinho. Só que eu não era o seu vizinho; eu não era o seu primo;
eu era um cara que não tava nem aí com sua mãe e com sua família. Não tava nem
aí pra você. Você pra mim era mais uma. Mais uma festa, e só. E por isso, você
gostou. Você gostou de um cara que mostrasse pra você que você era nada; porque
na real era assim que você se via. Peguei você de jeito. Mostrei pra todos a
puta que você era e você se apaixonou. Você me ligava todo dia. Você dizia pra
todos que estava me namorando. E daí... bem, caí no jogo. Mas só caí quando você
me chupou no cinema; quando você me deu no banheiro do bar cheio de gente;
quando você me deixou comer o seu cú, e depois disse que adorou. Então, entrei
na jogada, e entrei bem, porque era a sua melhor fase. Corpo firme; bundinha
empinada; peitos fartos; limpa, muito limpa, eu podia comer você sem proteção. Você
me pegou de jeito, mas do meu jeito. Foram alguns meses de foda contínua, todo
dia, toda a hora, em qualquer lugar, de todos os jeitos. E eu coloquei você nas
piores situações: fiz você transar com outras mulheres e outros caras; fiz você
aceitar que eu transasse com quem eu quisesse, fiz você abrir a cabeça. Eu dei
a você a melhor fase da sua vida. Deixo isso como recordação. Agora que você
está casada, com três filhos, gorda, tomando bola o dia inteiro, tendo que
trepar com um cara que você odeia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Vidinha
<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Você me quer ao seu lado. Pra sempre, como
você diz. Você quer que eu seja seu braço forte. Que eu cuide de você. Poderia
ser qualquer um. É, alguém que seja um cara parecido com seu pai. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Então você quer que eu construa uma casa pra você.
Quer que eu pague a maior parte das contas. Quer que eu deixe o dinheiro que você
ganha nas suas mãos. É, pra fazer compras no fim de semana no shopping. Quer
que eu cozinhe para você. Quer que eu trate bem você. Quer que eu fique de pau
mole durante a semana, já que você só transa aos sábados. Quer que eu goste de
seus pais, de sua família. Aquelas pessoas asquerosas que você odeia. Quer que
futuramente eu lhe de um filho. Que eu troque fraldas e leve vocês dois pra
passear no fim de semana. Você quer que eu fique sentado de noite ao seu lado
vendo tv. Que eu comece a gostar de novelas. Você quer que eu fique sentado ao
seu lado e lhe ouça. Já que você gosta de falar e falar. Quer que eu fique em
silêncio quando você estiver menstruada. Você quer que eu lhe ache bonita. Que
eu não olhe pra nenhuma mulher na rua. Você quer que eu me sinta feliz ao seu
lado. Que eu sorria sempre. Que eu sorria pra você e seus amigos. Mesmo que você
sempre esteja triste. Você quer que eu cuide da minha saúde, já que tenho que
viver pra cuidar de você. Quer que eu esqueça das <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>minhas ex namoradas. Que eu não faça festa no
fim de semana. Na real, você não sabe o que quer. Mas sempre quer. Você quer
que eu aceite o seu jeito. Você quer que eu aceite a sua indecisão. Você quer que
eu queira você. Que eu finja pelo menos. Você quer que eu seja infeliz, mas não
demonstre isso. Você quer que eu seja infeliz ao seu lado como você é ao meu. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Rua
Lima e Silva <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Saiu uma matéria no
jornal gaúcho, Zero Hora, sobre uma rua de Porto Alegre, a Lima e Silva. Diz
que a rua estaria sendo invadida, aos domingos, por jovens que a tornam um
“antro” de sexo, drogas e outras coisas. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Eles fazem sexo em banheiros de estabelecimentos
comerciais, usam drogas, brigam. Não se sabe se é verdadeiro o relato do
jornal. Expõe apenas o ponto de vista de certos moradores. A rua se tornou, nos
últimos anos, “o local” da noite da cidade. Boa parte do pessoal que mora ali e
nas imediações é gente jovem. A rua corta o bairro Cidade Baixa que fica perto
da universidade mais famosa da cidade. O bairro é boêmio, e lucra com isso. Já
a Zero Hora é um jornal família, pras famílias de classe média. Gente que gosta
de uma vida calma, sem barulhos. O jornal é conservador, defende “a moral e os
bons costumes”. O mais interessante é que os jovens que se drogam e transam em
banheiros são os filhos dessa classe média. O jornal postou fotos com legendas
do tipo: “sem limites”. A maior parte era de garotos e garotas se beijando. As
fotos estavam desfocadas. Uma foto era de um garoto deitado no chão, bêbado. E
se rola mesmo sexo em qualquer lugar e se todo mundo se droga? Os jovens fazem
isso como resistência exatamente a esse discurso e essa vida criados pelos
meios conservadores, a classe média, papai e mamãe. Volta e meia alguém fala da
“adultificação precoce das crianças”; mas a questão é exatamente o contrário,
da infantilização prolongada. Tentam punir e vigiar, tentam controlar os
jovens, impedindo o mínimo de autonomia. Eles não podem beber, não podem entrar
em festas, não podem se divertir. Tentam tornar o mundo da juventude algo
sufocante: “eles deveriam estar em casa com papai e mamãe, como a criança está”.
O emprego que oferecem para eles é precário, impossível ter autonomia
financeira para sair de casa e fazer a vida. Autonomia intelectual também é
difícil, considerando que impõem uma educação idiotizante, não lhes dão
alternativas. A saída é se agarrar no que é mais fácil para criar um mundinho:
ser punk, emo, metal, hip hop, ou fazer parte de guetos relacionados à
sexualidade. Quanto à droga que atravessa todos esses estilos, ela é a
possibilidade de liberdade, pelo menos até o barato acabar ou até bater a
ressaca. E não importa se isso é bom ou ruim, mas o que motiva os jovens: a
fuga da disciplina, do controle, a busca de autonomia, resistir. As drogas e o
sexo são os seus aliados. Estão sempre ali, prontos para os acolher. Eles não
têm limites, dizem as legendas. Essa é a real, eles estão cheios dos limites,
dessa vida de todo mundo que constroem pra eles. Passaram mais de uma década
trancados em casa. Vivendo como refugiados. E ainda dizem que ser criança é ser
feliz, mas não há nada mais triste que ser um refugiado, um prisioneiro
político, o que as crianças são. Quando o corpo fica mais forte e a cabeça
começa a funcionar, o jovem diz: quero minha vida; uma vida singular, e faz
ela, uma vida não muito rica. O mundinho dos jovens marca o limite: nós não
queremos ser como vocês, adultos. E a vidinha tradicional da família não aceita
isso. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Rua Oswaldo Aranha <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A
Rua Oswaldo Aranha foi o marco da cultura underground de Porto Alegre. Era o paraíso
pra galera, o inferno pra papai e mamãe. Paraíso que não era frequentado por anjinhos.
Melhor, eram todos anjos, mas de um tipo diferente. Anjos movidos por um desejo
de cair fora das regras, do controle. Sempre rolava um beijo em uma
desconhecida sem precisar de uma palavra. Alguém começava a falar do nada como
se fosse seu melhor amigo. Baseados apareciam. Grupos se acumulavam na rua sem
a existência de barreiras. Um grupo interagia com outro grupo que interagia com
outro grupo, formando uma quadrilha. Talvez uma matilha jovem que tinha muito
mais o que fazer do que tentar seguir pequenas convenções e etiquetas. Quando
as coisas esquentavam mesmo, ou seja, sempre, o clima enlouquecia. Alguém saia
bêbado da Lancheria e era atropelado por uma ambulância, depois por um carro e continuava
caminhando. Um rapaz, louco de Benflogin, engatinhava entre a massa no Escaler.
Algumas pessoas sorriam. A maioria nem via. Um garoto abordava um grupo fugindo
de policiais e o grupo o acolhia. Sem perguntarem o porquê da confusão, se
embriagavam juntos. Dias depois d o garoto começava a namorar uma das garotas
do grupo. 10 pessoas tomavam chá de cogumelo e viam anjinhos e estrelas voando
em plena rua. Uma briga entre gangues resultava em um garoto esfaqueado.
Garotos, que nunca tinham visto o agredido, o ajudavam. Dois jovens trocavam
beijos sobre a grama do Araújo Viana. Pela primeira vez despiam alguém de outro
sexo. Ali mesmo, entre o gramado verde, transavam. Após alguns beijos, um rapaz
abraçava uma garota pelas costas com seu casaco. Em frente à Redenção, dentro
do Ocidente, junto a mais de 300 pessoas, a penetra sem preservativo. Uma garota,
louca de bolinhas, caminhava na pista de dança do Ocidente em linha reta. Cada
menino ou menina que aparecia em sua frente recebia um beijo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Mais uma noite <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Tinha ficado meia hora na fila pra
entrar na casa noturna; só com os cigarros. Nem olhava pras garotas, boca muito
seca. Acabou a fila; entrou correndo no pico e comprou três doses de qualquer
coisa. Chegou no balcão do bar. Ela tava atendendo, mas ele apenas disse: quero
isso, mostrando os tickets. Ela jogou as três doses de destilado no balcão,
meio puta. Ele nem pensou: tomou uma, duas, três, e vamos lá. Daí sacou que ela
– a garota que tava sempre no balcão – era linda. Sacou que havia gatinhas antes
na fila. Sacou que a festa tava começando. Atravessou a pista, só curtindo. Empurrou
uns caras, passou a mão em algumas minas, dançou com um grupo. Chegou no fumódromo.
Pediu fogo pra uma gatinha. Ele tinha fogo, mas queria o dela. Acendeu um crivo,
filtro vermelho. Ali tava todo mundo rindo. Elas se fazendo. Uns viadinhos. Mas
a noite ia ser mesmo um saco se estivesse em qualquer lugar. Lançou uma piada
prum grupo de garotas. Elas fingiram que não gostaram. Ele sacou. Sabia que
devia se aproveitar da situação. Mas bateu a sede. Atravessou correndo a pista.
Deu um empurrão numas gatinhas, só de curtição e elas curtiram. Dançou com um grupo.
E depois outro. Beijou uma gatinha. Sorriu pra ela e saiu fora. Encontrou um
mano. Falou com ele. Chegou no guichê; comprou mais três doses. Furou a fila do
bar, chegou no balcão e lá estava ela. Linda ela, demais. Só que o balcão está
entre nós, pensou. Mas sorriu pra ela, o primeiro sorriso verdadeiro da noite. Ela
jogou mais três doses no balcão. Ele bebeu. Bateu um pouco de barato. Se sentiu
meio mole. Pegou um pouco de anfetamina no bolso. Aquelas doses que se compra
no centro por quase nada. Meteu um punhado na boca. Saiu correndo do bar.
Passou a pista de dança. Empurrou garotos e garotas. Não importava quem. Dançou
com um grupo. Estava bom. Tinha uma gatinha, mas tava bom só dançar. Quando a
música acabou, continuou andando. Não olhou pra trás e chegou no fumódromo.
Alguém tem fogo? Surgiram vários isqueiros. Ele pegou qualquer um. Acendeu mais
um filtro vermelho. Depois outro, depois outro. Se ligou que tava com uma gatinha
no canto: é, é uma gatinha. Uns beijos. Umas puxadas. Umas palavras de carinho.
Uns tapas. Só que se ligou que tava também com sede. Saiu correndo. E tudo de
novo. E estava no balcão. E só via ela. Linda como sempre. Ainda sorrindo. E
ela jogou no balcão o que havia pedido. Ele nem aí. Só queria ver ela. Ela
sorrir e ser legal com ele, de um jeito que ninguém era. Não tinha mais bola no
bolso. Entrou no banheiro. Alguém lhe deu umas carreiras de pó. Meteu pra
dentro. O barato mudou um pouco. Ficou mais esperto. Esqueceu a gatinha do bar.
Entrou na pista. Estava dançando junto com uma outra gatinha. A dança estava
legal. Uns toques. Umas palavras. Logo um beijo. Mas a dança continuava. E isso
era bom, como ela dançava; como o corpo dela se encaixava com o dele. Ele jogou
ela no canto. Tinha umas 100 pessoas na pista. Mas ele não via mais ninguém. Só
ela, só ela. Disse que a amava. E era verdade. Pra sempre, disse pra ela. Só
que sem pensar saiu correndo na pista. Chegou no balcão e ela lhe deu um dose.
Nem tinha comprado. Ela foi legal com ele, como sempre. Ele saiu pra pista de
dança e encontrou a gatinha que tava antes com ele. Tudo de novo: beijou ela,
empurrou na parede, disse que a amava; só que daí sacou que não era ela, era
outra. Mas e daí? Os dois continuaram se pegando e tava tão bom. Uma hora o som
parou. Acabou a festa. O sol tinha nascido. E eles caíram fora. Ela tava legal ainda,
queria beber mais. Ele só queria ela. Daí ela levou ele pra casa. Cuidou dele a
manhã toda, até o meio dia. Depois, deixou ele dormir até o fim da tarde.
Quando ele acordou, ela lhe deu uma ceva. Os dois transaram de novo. Ele caiu
fora sem dizer uma palavra. Foi embora sozinho. Tinha que voltar pro bar pra
ver ela. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Adolescentes <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Caíram da infância mais cedo que os
outros. Nenhum motivo em especial. Quem os dava eram os pais, psicólogos,
orientadores educacionais. Essa gente lerda e burra que não entende nada. Só
que eram novos e não tinha muito o que fazer. Ficar trancados no quarto longe da
sala e da televisão. Fugir do pai e da mãe quando convidavam pra ir pra praia
no fim de semana. Fazer desenhos no caderno em sala de aula. Só que daí a
cabeça começou a funcionar. Sacaram que tinha outros na mesma e montaram a
turma. Venderam os brinquedos. Compraram pranchas de surfe, skates e roupas de
gente mais velha. Começaram a ouvir e tocar rock n’ roll. Os caras mais velhos
começaram a notar eles. Nas festas ofereciam bebidas. Bebiam, se detonavam,
enquanto os outros dançavam e tentavam pegar aquelas crianças, gatinhas mimadas.
Não tinha mais razão pra ficar em sala de aula. Eram os únicos que saiam na
hora que queriam. Os professores tinham medo deles. Deixavam assim. Todos
juntos, na frente do colégio, fumavam cigarros. Os caras mais velhos trouxeram
uns baseados. Não tinha motivo pra não fumar. Fumaram um, dois, três, quatro,
cinco vezes, e nada. Na sexta vez bateu o barato. Daí a vida realmente começou.
Sete horas da manhã, todos juntos no campo de futebol. Uma turma grande da
galera de 13 e 14 anos. Tinham pegado fumo com os caras mais velhos. Um ou dois
já sabiam enrolar. O baseado era grande, parecia ser de duas sedas e bem
grosso. O baseado passava de mão em mão. Depois entraram na sala de aula. Riram
dos professores. Riram dos alunos. E eles faziam as gatinhas rirem. Rápido, já eram
um dez baseados por manhã. Depois do terceiro nem mais fazia a cabeça. Almoçavam
meio chapados com os pais. Fumavam mais um depois do almoço. De tarde, tocavam
com a banda de metal. Andavam de skate. Caminhavam pela cidade. Não bebiam
muito, mais no fim de semana. Sexta caíam pra Oswaldo Aranha. Eram os mais
novos. Mais novos que eles só as crianças que estavam em casa dormindo. E a
maioria da idade deles tava vendo tv com papai e mamãe, ou indo pras festinhas
que eles odiavam. Papai e mamãe ficaram putos o dia em que eles chegaram em
casa de manhã cedo no sábado. Passaram a noite na rua. Chamaram até a polícia.
Eles disseram pros velhos: agora é assim que as coisas funcionam. Papai achou
50 gramas de fumo. Eles disseram pros velhos: não se metam na nossa vida. Eram
novos, mas pegavam as gatinhas mais velhas. Pegavam as de 16 e 17. Mentiam a
idade e pegavam as de 18. Bêbados no bar do João, na Oswaldo Aranha, entraram
no banheiro. Um cara mais velho esticou umas carreiras, todos cheiraram, e eles
disseram: a vida começou. Em pouco tempo, não precisavam mais dos caras velhos
pra se drogar. Aliás, os caras mais velhos começaram a buscar eles pra se drogar.
Eles subiam o morro a qualquer hora, em qualquer dia. Terça de madrugada. Sobem
uma parte da vila Cruzeiro do Sul, junto do bairro Cristal. Não tem pó junto ao
asfalto. Decidem subir o morro com um morador. Tudo escuro. Ruas estreitas.
Podia ser mortos. Entram na casa do traficante. Era uma mina velha. Ela oferece
pó. Eles cheiram. Ela pergunta se eles não querem pó de graça; era só deixar
ela chupar eles. Um deles diz: eu topo. Ela chupa no quarto ao lado. Os outros
ficam rindo: olha só o cara, olha só. Depois disso, ela sempre liberava pó pra
turma por uma chupada. Um deles meio que começa a namorar ela. Uma noite, tavam
passando pela Vila Conceição. O ônibus tinha deixado eles longe, já que não
tinham grana. Motorista filha da puta. Passaram por um bar fechado. No mezanino
três caras negros endolavam uma montanha de pó. Os black olharam eles e
disseram: tão a fim? Cheiraram as maiores carreiras que já tinham cheirado. Os
blacks só diziam: vai fundo meu. Daí mandaram eles cair fora, mas liberaram de
graça umas gramas. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Iam todo dia pro
Parque Marinha. Lá junto da pista de skate, toda a galera se encontrava e daí
eles fumavam vários. Uma época uns manos iam até o Gasômetro e buscavam fumo
mesclado. Maconha com crack. Eles fumavam de vez em quando, mas o barato era a
maconha e o pó. Uma hora só queriam saber de pó e era caro. Então pegavam
maconha e vendiam pra galera no cursinho. Ali no centro de Porto Alegre, naquela
praça ao lado do hospital Santa Casa. Todo mundo comprava fumo deles de manhã.
De tarde. pegavam a grana e compravam pó. Um dos manos um dia cheirou muito.
Tava com 50 gramas na mão. O cara morreu, mas foi ressuscitado por paramédicos.
Ainda eram jovens, não estavam viciados. Mas quando acabava o pó doía na alma.
Queriam mais e mais e mais. O pai de um deles tinha dólares guardados. O mano
sabia a senha do cofre. Eles pegavam e iam pro morro. Os traficantes ficavam
felizes em ver grana estrangeira. De noite tavam sempre no Timbuka. Bar famoso
no bairro Assunção. Ali fumavam, vendiam, cheiravam. Não tinham medo da polícia.
Pegavam o prato e esticavam as carreiras na rua mesmo. Os mais velhos ficavam
putos. Só que agora os mais velhos tinham medo deles. As gatinhas estavam
sempre em cima. Umas minas meio caídas, mas não importava. Eles liberavam pó
pra elas, e elas faziam o serviço. Já tavam fazia anos nessa. Não iam mais pra
escola. Já haviam sido internados. Saiam e entravam da clinica. Os pais enchiam
o saco, mais os psicólogos, toda essa gente. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Eles só queriam curtir. O que tem de errado em
curtir a vida? Eram jovens, o corpo era forte. Os outros, os integrados viam
eles como lixo. Com vinte anos a coisa mudou. Alguns deles pararam com tudo. Outros
deram um tempo. Uns se integraram mais ou menos. Outros caíram na vida,
continuaram. Uns morreram de overdose. Outros tão com aids. Os mais espertos,
caíram de casa, montaram negócio, se formaram. Só que nos fins de semana tão na
noite fazendo a cabeça. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-highlight: yellow;">Neurose</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Ela era um saco. A filhinha problema.
Desde nova aprontava. Pintou os cabelos de verde com quinze anos. Fez tatuagens.
Colocou piercings. Ouvia new metal. Ia direto na a Oswaldo Aranha com uma turma
do rock. Fazia festa, mas não se detonava. Não podia beber muito porque tomava
remedinhos controlados desde cedo. É, tentavam controlar a anorexia dela e suas
investidas constantes contra papai e mamãe. Faziam isso desde que ela disse:
fodam-se. Um dia conheceu um cara. Ele pegou ela de jeito. Foi legal com ela,
mas meio sacana. Fez com ela o que os outros não faziam. Meteu ela na parede.
Deu uns beijos. Disse: vamos pro meu ap. Ela foi. O cara era mais velho, tinha
uns 25. Morava sozinho. Ela ficou trepando com ele por três dias. Os pais
ficaram loucos. Chamaram a polícia. Pensavam: ela não toma os remédios faz dias.
Ela chegou em casa. Os pais choraram. Disseram: mas como você faz isso com a
gente. Nós amamos você e você faz isso. Eles não bateram nela; não meteram ela
de castigo. Já estavam acostumados com ela e sabiam que isso não adiantava. Daí
ela se sentiu um lixo. Oh, eles me amam e eu faço isso. Daí ela pegou duas
caixas de remédios controlados e tomou tudo. Primeira tentativa de suicídio.
Levaram ela pro hospital. Fizeram lavagem estomacal. Meteram um tubo na boca e
deram algo que a fez acordar. Ela acordou com os pais no pé da cama chorando.
Diziam: não faça mais isso, a gente ama você. E ela disse: é mentira, vocês não
me amam. Os pais queriam internar ela. Ela não quis. Trocaram de analista. O
cara receitou bolas mais pesadas. Ela não tomava direito os remédios. Em certas
fases, ficava em casa, se emboletando. Em outras, caia na rua, e se drogava. Quando
se sentia uma merda, isso com frequência, quando não se sentia amada, tomava
uma overdose. Ela não queria se matar, queria ouvir eles dizendo: não faça mais
isso minha filha, a gente ama você. Em cinco anos tentou umas dez vezes o
suicídio. Tentou nada. Tomava o suficiente pra assustar os pais, e só.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Se casou com o primeiro cara que apareceu na
frente. Era a cara do pai. Casou pra cair fora da casa dos velhos. Odiava o
cara. Não saía mais a noite. Não pintava mais o cabelo. Não se drogava mais. Se
fechou cada vez mais em si mesmo. E quando não segurava a onda tentava o
suicídio pra chamar a atenção dos pais e o do novo pai, seu marido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-highlight: yellow;">Revivendo</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"> <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Fazia tempo que ele não cheirava. Fazia
uns cinco anos. Tinha sido um bom cheirador por muito tempo. Parou porque
mandaram ele parar. Um monte de gente: namorada, pais, treinador, psicólogo,
policia, pombos, ratos, e mais um monte de chatos. Ok, parou, e parou mesmo.
Cinco anos sem cheirar. Nesse tempo, virou o senhor bom cidadão. Virou um cara
bom, um amor, o filinho da mamãe, o esposinho que abre a porta. Olhava para o
espelho e se sentia orgulhoso. Percebia como os outros olhavam pra ele e se
sentia orgulhoso. Empinava a cabeça e estufava o peito não mais por causa do
pó, mas pelo orgulho. Até os policiais quando passavam por ele, olhavam com
admiração. Só que um dia, apareceu um mano. O mano tava com a mão, não muito
sabe, só umas cinquenta gramas de pó. E ele deu um teco. E depois outro, e
depois outro. Quando viu tinha passado o final de semana e o pó tinha acabado.
Daí ele subiu o morro sozinho e pegou mais umas vinte gramas. Pegou um quarto
de motel barato. Esticou umas belas carreiras. Se olhou no espelho e disse pra
si mesmo: vou vender tudo que eu tenho. Vou comprar tudo em pó. Quando acabar o
pó, vou me dar um tiro, e já era. Decidiu isso porque não queria ficar preso na
rotina. É, a rotina do pó: conseguir grana, comprar, cheirar, depois ficar sem,
ter que roubar pra ter mais. Incomodação demais. Se tivesse pó na mão pra
sempre, não se mataria, mas não é assim que funciona. Sempre acaba. Então, não
queria a rotina do pó e, muito menos, a rotina do bom cidadão, do filinho da
mamãe, do babaca que ama uma babaca. Vendeu tudo, comprou tudo em pó. Se
enrolou com uma mina muito louca porque ela tinha um ap. Esticou as carreiras.
Fez a festa. Uns três meses de festa. Pó, canha, sexo, brigas, grana pra
polícia, bares, putas, muitas pessoas, tudo a cem por hora. Ele sabia que se
ele resolvesse não se matar, a ressaca seria tão grande que acabaria se
matando. Ou seja, o tiro na cabeça já era certo. Tava na praia de Ipanema em
Porto Alegre. Tava no carro. Não tinha vendido o carro porque pó e carro andam
juntos. Tava na praia, tava com as últimas parangas de pó. Esticou uma carreira
com tudo que tinha. Deu uma longa aspirada. Botou tudo pra dentro. Esperou o pó
descer. Esperou o brilho começar a se apagar. Pegou a arma. Meteu na boca. E já
era. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Parte dois.</b> Ele namorou ela por
cinco anos. Ela meteu ele nos eixos. Fez ele parar de sair, de beber <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e se drogar. Ele virou o caretão. E gostava
disso. Dizia: agora eu sou um homem. Encarava de frente o pai, não ouvia mais o
velho o chamar de “um imaturo que só faz merda”. Tomava cerveja apenas no
almoço de domingo. Enchia a cara junto com o sogro. Depois via tv com toda a
família da namorada. Viam o jogo de futebol todos bêbados. Ele era novo, tinha
28 anos, mas já se sentia um senhor. Falava sobre casamento. Falava sobre ter
filhos. O pai ofereceu uma grana pra montar seu negócio, e seguir em frente,
fazer sua família. Montou uma empresa. Em pouco tempo começou a dar dinheiro.
Fez uma grana. Marcou o casamento. Todos estavam tão felizes. Ele podia se
casar, tinha autonomia que nenhum amigo tinha. Uma semana antes do casamento
ele disse: tô fora. Não quero mais me casar. O pai, a família dela, ela ficaram
loucos com ele. Mas ficou firme na posição. Primeira coisa que fez depois de
toda a novela, foi num bar. Tomou todas com os velhos amigos. Fumou uns
baseados, cheirou umas carreiras. Depois foram numa casa noturna. Pegou uma
gatinha duns 20 anos. Levou ela pra casa. Transou com ela. Era a primeira
transa em cinco anos com alguém diferente das ex-quase esposa. Transou com ela
feito louco. Parecia uma transa que nunca tinha experimentado. A coisa foi
demais. A partir daí começou a sair direto. Na sexta, no sábado, no domingo. Em
pouco tempo, voltou na ativa do pó, mas de uma forma diferente. Não tava
viciado como já tinha sido. Durante a semana o negócio até ia bem. Trabalhava
normalmente. Mas não passava um dia de trabalho sem que pensasse nas festas. Na
real, pensava o dia todo nas gatinhas, nas drogas. Só que sabia que tinha que
ser um lance eventual, senão ele não ia ter como se manter. Tinha que
trabalhar. Era sexta, tava na noite. Rolou mais uma gatinha. Levou ela pra
casa. Transou com ela. De manhã, ainda tava cheirando umas carreiras na sala, vendo
tv. Ela dormia no quarto. Como disse, ele não tava viciado em pó, estava
encarando de uma forma diferente o lance. Isso não era o mais importante. O que
ele queria era a noite, a festa, as gatinhas, tudo isso, sempre. Mas só tinha a
opção da festa apenas no fim de semana. Sentia uma dor por dentro. Daí decidiu
o que fazer.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Vendeu tudo que tinha. Não
falou pra ninguém. Vendeu o carro, móveis, o que era seu da empresa. Pegou toda
a grana do banco. Foi pra Europa. Tinha grana suficiente pra fazer festa durante
cinco meses direto; e fez. Curtiu. Se apaixonou por garotas, curtiu festas,
usou drogas que nunca tinha usado. No fim, quando acabou a grana, comprou uma
arma. Estava em um quarto dum ap que dividia com estrangeiros. Tomou uma dose
de uísque. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Meteu a arma na boca, e já
era. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-highlight: yellow;">Porto alegre nos anos 90</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"> <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A gente tava na Oswaldo. Tava fazendo a
cabeça no João. Tava rolando aquelas cachaças da boa. Alguém pegava um copo grande
e botava na roda. Aquela merda era muito forte. Um golinho de vez. E de gole em
gole o barato batia. A gente ia até o Escaler e pegava um fumo. Uns trafis
vendiam atrás do bar. Ali numa viela sem luz. A gente fumava. Voltava pro bar.
Pedia mais uma canha. Sempre rolava algo mais. Umas minas vendiam hipofagin e
inibex. A gente comprava. É, a gente tava lá. A gente tava curtindo. Chegaram
uns boys. Eles tavam de carro. Era uma saveiro. Disseram pra gente: sobe aí,
vamos dar uma volta. A gente subiu na parte aberta da caminhonete. Eu, um mano
e duas minas. A gente tava doido de bola, fumo e canha. Os manos da direção, os
boys meteram o carro na rua. Alta velocidade. E a gente ali atrás. A gente tava
passando pelo Parcão, numa descida. Os caras não tiravam o pé do acelerador.
Era nos anos 90. Não tinha essa de lei seca. Não tinha essa de que menor não
pode entrar em casa noturna. Não tinha essa de que menor não pode comprar
cigarro. Os postos todos enchiam de gente que se reunia pra beber. A gente
fazia a festa. A gente tava descendo a lomba ali do Parcão. Na traseira tava o
mano, viajando. Junto tavam as duas minas. Uma delas eu tava ficando fazia um
tempo. Só que a outra era muito gata. Dei uns beijos na mina que eu tava
ficando. Vi que a outra ficou com a cara fechada. Saquei que ela tava a fim.
Beijei ela também. Ela gostou. Quando vi, nós três, a gente tava se beijando.
Eu com duas garotas. E elas também se beijavam. Primeira vez que fiquei com
duas garotas ao mesmo tempo. Primeira vez que duas garotas se beijavam na minha
frente. O carro voltou pra Oswaldo. Os boys eram parceiros. Dei uma paranga de
fumo pra eles. A mina que eu tava ficando me chamou prum canto. A outra
desapareceu. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Parte dois.</b> A gente saiu
da Oswaldo, eu e um mano. Era no meio dos anos 90. A gente tava doido de bira e
bola. A gente passou pela universidade federal. Tava tudo meio escuro. A gente
tava quase no centro e passava por uma rua estreita. Daí meu mano disse: cara,
tem uma galera ali na frente. Era uma gangue duns 50 caras, blacks, de vila.
Eles tinham saído das festas no alto do centro, ali do lado da Santa Casa, e se
concentram na rua. Tavam atrás de confusão. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Eu e meu mano, a gente tava doido. A gente nem
deu bola e passou por eles. Os caras nos tiraram. Falaram dos nossos tênis de
marca. A gente nem olhou pra eles. E eles deixaram assim. Devem ter pensado:
esses caras são loucos de passar por nós. Daí a gente parou numa outra ruinha. Ficava
entre o centro e a Cidade Baixa. A gente tava ali esperando o ônibus que não
passava. A gente ficou conversando. Putos já que não tinha mais crivo. Putos
porque não tinha mais fumo. Mas a gente tava na boa. A rua, a gente já tinha
sacado, era lugar que uns michês faziam ponto. Eles pegavam putos ali. Mas isso
só rolava de vez em quando. Mas daí a gente não ficou surpreso quando um viado
passou e nos ofereceu carona. A gente entrou no carro. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Pediu crivo pra ele. Ele deu. Perguntou se
tinha fumo. Ele disse que não tinha. Daí ele disse pra gente: vamos fazer
programa? Eu e meu mano a gente disse que topava. A gente disse que podia rolar
na Usina do Gasômetro. Lá tinha um estacionamento e ninguém passava. Era junto
do rio Guaíba. O viado parou o carro, e disse pro meu mano: quero fazer
primeiro com você. Quero chupar você. Saí do carro. Meu mano tava na carona. O
viado baixou as calças dele. Meu mano deu uma joelhada na cara dele. Eu abri a
porta na parte que o viado tava. Empurrei ele pra fora. Meu mano veio junto. A
gente encheu ele de chute na cara. A gente chutou ele até apagar. A gente pegou
a carteira do cara. Ele tava cheio de grana. A gente empurrou ele até a areia.
Deu mais chutes na cabeça pra apagar ele de vez. A gente pegou o carro, e se
foi. Eu era o único que sabia dirigir, a gente tinha só 16 anos. Meu mano do
meu lado, tava tremendo todo. Começou a falar: será que e gente matou o cara,
será que a gente matou. Eu também tava nervoso, tinha ficado careta com toda a
história. Daí disse: cara, vamos até a Cruzeiro, a gente deixa o carro ali
perto. A gente pega essa grana e compra pó. Não se preocupe. A gente deixou o
carro numa rua. Subiu o morro. A gente pegou toda a grana em pó. Deu umas 10
gramas. Tava de boa. A gente cheirou, e daí esqueceu do cara. Nos dias
seguintes a gente ainda tava com medo. Podia dar merda, a gente podia ter
matado o cara. Mas não rolou nada. Três semanas depois a gente tava no mesmo
ponto que tinha pegado o cara. A gente queria pegar mais um viado e roubar o
cara e fazer a festa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-highlight: yellow;">Fim de século</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"> <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A gente fumou um, dois, três. A gente
tomou umas cevas, várias. A gente era: eu com 13 anos, mais três manos de 18.
Eu tava com eles porque era um cara legal. Eu fazia a festa e ficava no meu
canto; e quando eu fazia merda, todo mundo se divertia. Era um garoto que tava
aprendendo com o pessoal mais velho. A gente tava em algum bar, jogando sinuca,
no bairro Menino Deus. Hoje em dia o bairro é um desastre. Muitos restaurantes
pra classe média. Muitos edifícios pra classe média. E só. Mas o bairro já foi
legal. Tinha uns bares pra galera. Um tempo, tinha prostituição de mulheres e
travecos. Só que eu tava com os manos, e era época boa. A gente jogava sinuca.
Bebia. Fumava. Eu tinha 13 anos e ninguém me incomodava. Eu podia fumar e
beber. Eu podia estar na noite. Já era meia noite. A gente saiu de carro e foi num
show. Não lembro a banda, mas me lembro do lugar. Era o Fim de Século. O bar
foi um dos mais famosos do underground da cidade. Depois mudou o nome para NEO.
Daí o pico virou um lugar pra cena clubber. Mas na primeira década do século
tinha festas de subculturas. Um das poucas dedicadas pra turma gótica em Porto
Alegre teve seu apogeu na NEO. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Daí, a
gente tava lá no Fim de Século. A gente tava se detonando. Muita bira. Meus
manos já tavam queimando o filme com as minas. Eu tava mais de canto. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas uma hora meio que enlouqueci. Tava na
pista de dança. A banda tocava algo meio punk. Uma mina loira parou na minha
frente. Era mais velha. Ela tava agarrando outra mina. Uau, eram lésbicas.
Nunca tinha visto algo assim. Eu tava atrás delas. Eu tinha só treze anos. Agarrei
a loira, por trás. Ela continuou dançando. Dei uns amassos por trás. Dei um
beijo no pescoço. Ela se virou e me deu um soco. Fui pro chão. Chamei ela de vadia.
Meus manos todos riram. Isso virou a história da semana entre nós. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Parte dois.</b> Fazia anos que eu não ia na
NEO. Uns dois anos. Tava namorando uma mina e a gente não saía. A gente tinha
se conhecido ali, numa festa gótica. Larguei a mina e a primeira coisa que fiz
foi ligar pruma amiga que eu já tinha ficado algumas vezes. Ali na NEO também. Peguei
ela em casa. A gente chegou na festa. Era festa dum parceiro. A gente entrou.
Eu não conhecia mais ninguém. Só o pessoal que organizava a festa. Tudo tinha
mudado. E eu também. Tomei todas. Dancei. Curti. Tinha voltado a ficar com essa
mina que me levou na festa. Só que uma hora me desliguei dela. Senti vontade de
outras. Legal que nas festas todo mundo tá a fim de conhecer gente nova. A
gente pode conversar com gente que nunca viu. Tá todo mundo aberto, e demais. Tava
no banheiro falando com um viadinho e uma mina. Ele disse que tava a fim de
mim. Eu ri alto. Mandei cair fora. A gente tava na frente do banheiro, um lugar
com torneiras e espelhos. Quando vi era só eu e ela. Ela tava de preto. Com a
cara pintada. Era nova e bonita. Era metida a gótica. Só me lembro de uma
imagem depois. Eu no banheiro com ela. Eu penetrando ela. E com certeza eu tava
sem preservativo. Depois lembro que voltei a falar com a mina que eu tinha ido
na festa. De dançar com ela. E dançar com outras. De ficar com outras. Só que
não importava. O que importava era que eu tava livre de novo. Eu podia curtir a
noite. Não tava mais preso com namorada. A juventude tinha voltado com tudo. E
eu merecia. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Parte dois.</span> </b>Eu tinha recém entrado na
faculdade. Ainda era novo. Tava conhecendo gente diferente. Tava fazendo turma.
Eu tava na turma dos caras que andavam de preto. Todo mundo de calça preta,
sapatos de bico fino e jaqueta de couro. E todo mundo tinha banda de rock
pesado. Todo mundo era legal, todo mundo fazia festa. Na segunda, a gente tava
na Rua Independência. A gente fazia festa direto e depois ia pra aula. Depois
na quinta a gente tava no Cabaret. Depois a gente ia pro Garagem Hermética. Fim
de semana a gente tava na Oswaldo. A gente tinha sido foda. A gente tinha
curtido todas. A gente encarou o colegial. E a agora a gente era gente de
faculdade. Num fim de semana a gente tava na NEO. Rolava som eletrônico. A
gente era do rock. Mas não importava. A gente tava dançando. Eu tava com uma
gordinha. Tava curtindo ela. Era bonita, mas pesadinha. Chegaram outros manos.
Eles trabalhavam numa loja de roupas de gente IN. De gente ligada. De gente que
tava por dentro. Larguei a gordinha. Peguei uma ruiva que tava nesse grupo de
gente da loja. Tava dançando com ela. Tava beijando ela. Tava muito a fim.
Pintou um mano. Ela tava muito doido. Ele ofereceu pra mina um ácido. Eu só
fiquei olhando. Ela ofereceu um pedaço pra mim. Eu aceitei. Era um pedaço de
uma dose. Um papel bordô dupla face. Eu encarei. Tomei. Mastiguei o papel.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Meia hora depois desceu o barato. Sentia
ventos passando por mim. Sentia ventos de palavras de pessoas me acariciando.
Sentia ventos dentro de mim. Um pouco gelado, uma delícia. Tava dançando. Isso
que importava. Dançava nos ventos. Tava voando. O beijo dela. A música. As
pessoas. Tudo junto. Já era de manhã. A gente tava no Gasômetro. A gente tava
fumando um. O barato do ácido tava se indo. A gente via as pessoas na rua.
Alguns já começavam o dia. A gente tava terminando a noite. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas a gente não tava nem aí. Só importava que depois
de dormir a gente ia acordar. E ia rolar mais ácido, mais fumo, mais gatinhas,
mais festa, mais noite. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Porto Alegre era
uma merda, mas a gente tornava ela um lugar melhor pra se viver. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-highlight: yellow;">Pega de carro</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Virada do século. Ele vivia em porto
alegre. Tava na faculdade de administração. Tinha recém entrado. Estudava em
são Leopoldo. Aula todo dia. Um saco. Fim de semana ia nos lugares que tinha
pra ir. Durante a semana ia em alguns lugares que tinha gente. Sempre tinha uma
festa, um ou outro dia que não. O dia mais chato era terça. Fazer o que? Fazer
o que? Não tinha nada pra fazer. Uns baseados e nada mais. De noite uns postos,
umas cevas. Daí tudo morria. Tinha que ir pra casa dormir. Só que não. Na noite
de terça o pessoal pegava as carangas e ia pra rua. Eram poucos, mas muitos.
Qualquer um jovem que tivesse a fim d eficar na rua. O pessoal se reunia junto
da Nilo Peçanha. A rua depois ficou uma merda pra rachas de carro. Colocaram
pardais em toda a pista. Só que era virada do século e as coisas eram
diferentes. Era uma terça como qualquer outra. Fumou uns. Tomou uma cevas. Tava
de carro com um mano. Tinham saído da zona sul e tavam ali na Nilo perto do
Iguatemi. O carro era como qualquer outro. Podia ser o do pai ou o da mãe.
Tanto fazia. Não era playboy pra envenenar carro. Só queria curtir. Passaram o
Iguatemi e pararam num sinal. Era o carro deles, mais dois carros com uns caras.
Algum dos carros começou a roncar, depois o outro, depois o outro. O sinal
liberou. Meteram o pé na estrada. Seguiram em linha reta em alta velocidade.
Chegaram a mais de cem. Passaram por sinais abertos. Depois os sinais fecharam
e eles continuaram dando pau até a Protásio Alves. Cada carro seguiu uma
direção. Decidiram ficar na rua. Foram até a Oswaldo. Depois cruzaram a Cidade
Baixa. Chegaram na Ipiranga. Pararam num posto. Tava ainda aberto. Tomaram
umas. Voltaram pra Ipiranga. Sinal fechado. Um carro do lado. Uns boys. Os dois
motores roncaram. Meteram o pau. Quando eles viram tinha passado na frente do
palácio da polícia a mais de cem por hora. Que se foda, pensaram. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Parte dois.</b> <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Eles tavam na Oswaldo. Era domingo. Tavam no
João tomando todas. O Escaler tinha fechado. Pegaram o carro e foram pra Farrapos.
Passaram pelas putas. Umas gostosas. Outras não. No fim da rua tinha os
travecos. Eles passaram e berraram: seus viados. Depois passaram pelo
aeroporto. Decidiram voltar pro centro da cidade. A noite tinha morrido. Não tinha
nada pra fazer. Só tinha os postos. Só tinha o morro. Só tinha as putas. Ou
seja, muito pouco. Só que queriam esquecer que na segunda tinham que trabalhar.
Que tinham que ir pra aula. Que tinham que acordar na manhã de segunda vendo a
cara da mãe e do pai. Não tinham o que fazer. Só dar pau na noite. Percorriam a
cidade. Encontravam manos na rua. Faziam pegas. Queimavam um fumo. A cidade era
deles. Não tinha nenhum policial na rua. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Decidiram ir pra zona sul. Tinha um bar que
talvez tivesse aberto em Ipanema. Passaram o Menino Deus. Passaram o estádio do
inter. Quando chegavam no Cristal, na curva do Estaleiro, o carro derrapou,
entraram num poste. Uma puta colisão. Um bateu a cabeça no vidro o outro na
direção. O Santana tava arrebentado. Os dois começaram a catar o fumo nos bolsos.
Pegaram as garrafas de ceva dentro do carro. Levaram pra bem longe. Limparam a
área. Logo, carros pararam. Os dois tavam sangrando. Tinha dado merda; os pais
iam incomodar. Chegou a polícia. Falaram com eles. Eles só diziam: a gente
perdeu a direção. Os policias levaram eles prum hospital. Levaram pontos. O
carro tinha sido levado pro DETRAN. Daí tavam os dois fumando um cigarro na frente
do hospital. O dono do carro pensou: meu pai vai me matar. O carro já era.
Tinham cartão no bolso. O cartão compartilhado com os pais. Pegaram um táxi.
Foram pra farrapos. Fizeram a festa num puteiro. E que se foda. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Anarquismo
<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Recebo informações sobre grupos
anarquistas na Europa, faz um tempo. No início da crise já recebia muita coisa,
principalmente da Grécia.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Interessante
que hoje chegou notícia de um grupo que havia expropriado um supermercado. Os
caras pegaram produtos essenciais, e a grana, meteram fogo nela. Interessante
que a primeira notícia do tipo, recebi uns dois anos atrás. Um ato comum. Uma
tática anarquista: vamos pegar o que nos interessa, já a grana é lixo
capitalista, vamos meter fogo. Os caras podiam pegar a grana e comprar coisas. Gasolina
pra coquetel molotov. Podiam comprar umas roupas negras pra não serem
reconhecidos. Podiam pegar a grana e fazer o que dá com grana. Muito, ou tudo. Mas
num ato simbólico queimaram o dinheiro. Quem queima grana é louco. Isso diz o
senso comum. Não só louco, um louco anarquista. Alguém que quer que tudo mude.
Que o mundo mude. Alguém que luta pela revolução. Mudar tudo. Até os valores. O
mundo de vocês a gente quer que acabe. A gente quer foder com isso. Foder com a
moral de vocês. Vamos foder com tudo que vocês acreditam; foder com o que vocês
querem e valorizam tanto: grana. A gente quer um mundo sem grana. A gente quer
um mundo sem distinção. Viva o nosso poder, de fazer coisas que vocês não
suportam. Queimar o que vocês dão valor. Queimar a vocês se for necessário.
Botar fogo em tudo e que se foda. Botar tudo abaixo. E vocês vão sofrer. A
gente não quer o mundo de vocês. Mas vocês querem o mundo que a gente luta.
Quando chega o fim do mês; quando o patrão faz merda pra vocês; quando vocês
pensam nos seus filhos, que vão se fuder; quando pensam na sua vida. Quando vocês
olham pras coisas que têm em casa, e veem que isso é muito pouco; quando sacam
que mesmo a riqueza seria pouco. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quando veem
tudo isso, você são dos nossos. Apagam o desejo de vocês de uma nova realidade
na TV e quando dão grana pra vocês comprarem mais e mais. Vocês gostam disso e
querem mais... mas lá dentro querem outra vida. Vocês se sentem uns putos no
trabalho e seus filhos vão encarar a mesma coisa. Suas mulheres sofrem por serem
mulheres. E você querem uma vida melhor. Já a gente não quer de jeito nenhum a
vida que vocês levam. A gente luta por um mundo melhor. Por nós. Entende? Vocês
querem fazer parte de nós, mas têm medo. E é pra ter, porque a gente vai acabar
com tudo isso que vocês amam tanto. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div style="mso-element: footnote-list;">
<!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<a href="file:///C:/Users/Diego/Downloads/CRONICAS%20FORA%20DE%20CONTROLE.docx#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> Baixista da banda punk mais famosa
dos anos 70, os Sex Pistols. Vicious criou fama principalmente por ser viciado
em morfina e um péssimo instrumentista. <o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<a href="file:///C:/Users/Diego/Downloads/CRONICAS%20FORA%20DE%20CONTROLE.docx#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> Na primeira pessoa, só pra ficar
num tom mais pessoal, mas a questão é entre quem luta e o poder.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn3" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<a href="file:///C:/Users/Diego/Downloads/CRONICAS%20FORA%20DE%20CONTROLE.docx#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> Primeiro vocalista do Pink Floyd
que acabou enlouquecendo pelo uso de LSD.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn4" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<a href="file:///C:/Users/Diego/Downloads/CRONICAS%20FORA%20DE%20CONTROLE.docx#_ftnref4" name="_ftn4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> Jornalista contracultural, usuário
abusivo de todo tipo de drogas.</span> <o:p></o:p></div>
</div>
<div id="ftn5" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<a href="file:///C:/Users/Diego/Downloads/CRONICAS%20FORA%20DE%20CONTROLE.docx#_ftnref5" name="_ftn5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"> Escrevi isso após
um duro semestre no doutorado. Desde o mestrado está claro pra mim que o
ambiente de sala de aula (mesmo de palestra) é desnecessário. Ultrapassado. Me sinto
enclausurado, meio doente.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sobre isso a
carta.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<br /></div>
</div>
</div>
<br />Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-47186278042660516242019-02-17T04:50:00.000-08:002019-02-17T05:01:52.552-08:00três textos gravados e lidos e links <br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Gravei falas, a partir da leitura de textos,
com sons no fundo: duas músicas mescladas e minha voz em cima, nas três gravações. As musicas, eu
deixei tocar direto de arquivos do youtube. Gravei o fundo, as músicas, mais a
fala numa câmera de vídeo. Deixei a lente fechada, apenas em uma gravação,
gravei umas imagens. Abaixo os links para o trabalho final e mais abaixo os
textos que foram lidos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=_7zKI_yvrDw">https://www.youtube.com/watch?v=_7zKI_yvrDw</a>
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=iTIUsXzyOos&feature=youtu.be&fbclid=IwAR2q-qkIRzMkkep8ZM3IlUHrtaTgV1rVyGFM-qj5ju0SufopArW4Co1gjxg">https://www.youtube.com/watch?v=iTIUsXzyOos&feature=youtu.be&fbclid=IwAR2q-qkIRzMkkep8ZM3IlUHrtaTgV1rVyGFM-qj5ju0SufopArW4Co1gjxg</a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=xz9yQsQFnso&feature=youtu.be&fbclid=IwAR1ZneFUNjmKb-1wVPFKRIDhwNthL9unxoLkrJiSey2Xogpk7d2PMd7LAW8">https://www.youtube.com/watch?v=xz9yQsQFnso&feature=youtu.be&fbclid=IwAR1ZneFUNjmKb-1wVPFKRIDhwNthL9unxoLkrJiSey2Xogpk7d2PMd7LAW8</a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">.....................................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Ele comprou cinco liquinhos e metros de corda de nylon<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">amarrou em baixo de carro em alta velocidade, o carro explodiu –
isso na véspera de finados; <b>presentinho pra família. presentinho pra família</b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Semanas no quarto, cansado de dormir, ouvindo uma voz: me faça um
favor se mate<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Na terceira roleta russa antes do café da manhã, ganhou o jogo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Ia ser despejado e pulou<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Ia ser despejado e pulou<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Tinha uma dívida enorme no banco, com os últimos mil reais comprou
uma arma, estourou a cabeça<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Pulou da ponte, ninguém sabe ao certo porque<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Werther fez o certo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Hemingway<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Cobain<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O Gustavo, o felipe, o silas, a adriana, a mae da adriana<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O estacio, o valente, o Roni, o seco, o cara que apontou a arma
pro cara errado, o idiota que roubou o policial<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O hippie que ia ser preso<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Todos que iriam ser presos, os caras depois da primeira noite na
prisão<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O samurai desonrado, o corno, a mina e o mino que foram estuprados<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Você não tem mais saída [sida] pode morrer<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Você está fodido. é melhor se matar<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Semanas no quarto, cansado de dormir ouvindo uma voz: me faça um
favor se mate<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">............................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Louis Cyfer não criou Espectralia<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Lúcifer é Legião, é ninguém, todos, qualquer um; <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Gabriel é Lúcifer e Legião<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">E Deus é exatamente a conjunção de todos estes que formam a Legião<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Sim: Lúcifer é Legião é Ninguém todos qualquer um <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Sim: Gabriel é Lúcifer e Legião<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A lógica do Caos: não existe lógica no caos<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O padre carrega os pecados, é seu martírio: se enxergar no espelho
todo dia<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O romântico não se olha no espelho<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Wilde se olhava no espelho de Dorian Gray<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Rimbaud era bonito demais para se olhar no espelho<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Artaud se olhava, mas via o que ninguém jamais viu<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O Anjo Amoroso e seu Amor, seu anjo, não se olham no espelho; espelhos
são muito baratos para ELES<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">As asas rudes do Anjo do Anjo Amoroso são as asas mais lindas <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Ele disse a ele, ela disse a ele, ela disse a ela, eles disseram: você
é meu amor, já que o amor que você sente por mim é o amor mais belo que alguém
já teve por mim, o amor mais belo já experimentado no mundo em todas as eras <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O Bruxo que é Lou Cypher, Legião, Gabriel, Rimbaud, Artaud, Wilde,
Dorian Gray, Ninguém, Qualquer Um............ o Bruxo é uma casca vazia <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A casca é preenchida pelos sentimentos dos outros<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Sim, Bruxo é Vlad Tepesh da Valáquia<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Ele não suga os sentimentos<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Os outros que sentem ele, percebem ele. Esses sentimentos deles
são arrebatadores sempre<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Eles tem medo, tesão, pavor, desejo pelo Bruxo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">E o Bruxo é viciado nisso: nos sentimentos dos outros<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O Bruxo zerou todos os seus sentimentos<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Zerou<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Nada mais sente, não tem mais passado, história<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Apenas um sentimento, um sentimento ele guardou para si<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Aquilo que ninguém conheceu: amor, o amor pelo seu Anjo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Sim, o Bruxo é o Anjo Amoroso <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
......................................................................<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A
todos os canalhas de Espectralia<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Que
fodem todos os canalhas da Metrópole que amam amam amam se foder<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A
todos os românticos de Espectralia e mais todos os românticos que nunca pisaram
na cidade<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Românticos
primitivos, românticos da floresta, Tibet, centro da terra, cosmos, meu cú <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O
sol de Espetralia só fica de pé quando a lua de Espectralia está de pé <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">e
isso não é o crepúsculo – o pôr do sol é amado pelos canalhas da metrópole<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Os
ratos da metrópole cagam merda que criam fungos que quando digeridos tornam o
zumbi num espectro<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A
merda dos ratos é um portal para Espectralia<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O
rato tá no porão comendo os cabelos do canalha da metrópole <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O
canalha berra e berra e berra com medo do berro na mão do rato que come seu
cabelo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><b>Ele
chora e chora e chora já que mamãe está na necrópole </b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">e
ele não quer ver ela na necrópole <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">a
necrópole é um portal pro inferno dos canalhas da metrópole <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O
inferno dos românticos é um outro inferno [eu sou um outro inferno]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O
romântico não sofre no inferno, é um dos comandantes do inferno, e o inferno do
romântico não tem um anjo ressentido caído que odeia um deus ressentido que
vive no seu trono de sei lá o que<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Deus
se auto castrou quando se auto gerou, sim, o deus dos idiotas canalhas <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O
deus dos românticos... não há deus dos românticos... os românticos são um bando
que se chama Deus Legião<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Baphomet
é o sexo desse deus<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">não
tenho passado nem futuro – é a idade desse deus<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Espectralia
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">a
primeira molécula <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">o
cú do que ama o Mário <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A
última estrela o número 21.... SIM: 12 21 18 6669 21 28 28 28 212 uma doze uma
dose <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Um
canto da floresta congelada um canto da floresta que queima um canto da
floresta quente e úmida facínora<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Esses
espaços são parte do território de Deus Legião<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Seu
nome é Legião<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">seu sexo é Baphomet <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">sua
idade: sem passado sem futuro <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">sua
palavra, seu verbo é uma frase: <b>que se foda<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><b>que
se fodam todos os canalhas idiotas </b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">a<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">todos
os canalhas de Espectralia<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Que
fodem todos os canalhas da metrópole que amam amam amam se foder<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A
todos os românticos de Espectralia e mais todos os românticos que nunca pisaram
na cidade<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A
todos eles: nós os canalhas <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">a
todos nós: Legião <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">a
todos nós: 21 21 21 21 12 <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">doze
neles doses e doses de doze neles<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">viramos
o 12 eles viraram 9 viva o 28 – a suja... a gente já tem ela – o resto é nosso<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">a
partilha é da herança do canalha<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">nossos
21 21 21 21 21 é o que cai do centro da terra quando somos legião <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">.................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-75380029298886220672019-02-03T06:32:00.000-08:002019-02-03T06:32:15.383-08:00monografia diego de carv alho <br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
UNIVERSIDADE DO VALE
DO RIO DOS SINOS – UNISINOS<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
CENTRO DE CIÊNCIAS DA
COMUNICAÇÃO<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS
DA COMUNICAÇÃO – JORNALISMO<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
Diego de Carvalho <o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">JORNALISMO VAGABUNDO<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
São Leopoldo<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
2006<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
Diego de Carvalho<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<span style="font-size: 14.0pt;">JORNALISMO VAGABUNDO<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 6.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 225.0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Trabalho de conclusão apresentado à
Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS como requisito parcial para a
obtenção do título de graduação em Ciências da Comunicação – Jornalismo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 8.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 8.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
Orientador: Prof. Dr. Alexandre Rocha da Silva<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>São Leopoldo<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>2006<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt;">RESUMO <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Esta
monografia é uma reflexão crítica sobre o jornalismo vigente que ocorre pelo
reconhecimento de características - como a subjetividade, por exemplo -
ausentes das práticas jornalísticas cotidianas. O principal objetivo deste
trabalho é tentar criar novas linguagens para o jornalismo. O método utilizado
é a pesquisa teórica, a reflexão e a pesquisa de campo. O trabalho demonstra
que é possível criar um jornalismo insubmisso às estruturas do jornalismo
dominante. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt;"><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
Palavras-chave: Jornalismo - Artes - Rizoma
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>SUMÁRIO<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt;">1 Introdução.................................................................................................5<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt;">2 On The Road, os Hippies e a Estrada.....................................................9</span></b><span style="font-size: 14.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<span style="font-size: 14.0pt;">3</span><span class="31"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt;"> </span></b></span><span class="31"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">Novo Jornalismo.....................................................................................20<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt;">4 O Jornalismo Gonzo...............................................................................27<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt;">5 O Jornalismo Vagabundo......................................................................35<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 200%;">6 Notas Sobre a
Experimentação em Jornalismo Vagabundo..............50</span><o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt;">7 Experimentação em Jornalismo Vagabundo.......................................56<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt;">8 Considerações Finais..............................................................................75<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt;">Referências Bibliográficas........................................................................78
<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">1 Introdução</span></b><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Esta monografia
dispõe-se a apresentar reflexões sobre um novo tipo de jornalismo a ser
inventado. Esse novo tipo de jornalismo diferencia-se em relação ao que
considero ser o jornalismo dominante. O jornalismo dominante, para mim, é o <span style="color: black;">jornalismo que é contemplado diariamente</span>, que fala
em nome das grandes instituições e que insiste em ser reflexo de um mundo duro,
inflexível, mas, ao mesmo tempo, simples demais. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Chamei
de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Jornalismo Vagabundo</i> essa proposta,
pois o Vagabundo simboliza uma forma de insubmissão a toda cultura dominante. O
vagabundo vive uma vida em movimento, é indiferente ao estado, não tem patrão,
nem raízes. Então decidi experimentar o jornalismo como um Vagabundo para, em
uma trajetória parecida, ser insubmisso no jornalismo. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Mas o Jornalismo
Vagabundo não seria apenas um novo tipo de jornalismo, mas, também, um agente
de crítica. No momento que tento fazer diferente, eu estou criticando, assim
meu trabalho não é apenas de criação e invenção.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Para
mim, essa monografia é uma crítica feroz contra tudo que me oprime no
jornalismo, mas também na vida. O Jornalismo Vagabundo é a minha tentativa de fugir
dos grandes centros de controle, seja na vida ou no jornalismo, o que considero
indissociável. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Mesmo
tendo pouco espaço e pouco tempo, tentei trazer inúmeras manifestações - que
comentarei adiante - na tentativa de absorver exterioridades do jornalismo para
pensá-lo diferentemente. Falo muito em arte, pois a considero exterior ao
jornalismo. Vejo que literatura, poesia, artes plásticas percorrem os jornais e
revistas, pois essas manifestações tão ricas atingem a tudo e a todos, mas para
mim o jornalismo as utiliza apenas como uma alegoria, pinta suas páginas com
arte, mas de forma fútil.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Além
de pretender trazer um novo relacionamento com a arte para o jornalismo, também
quero trazer novas formas de vida. Discorro muito sobre as possibilidades que
são perdidas quando se produz a partir de fórmulas prontas - aquilo que é
conhecido e visto por todos. Existem inúmeras formas de vida que não são
vistas, pois o jornalismo dominante se impõe como o reflexo da realidade, como
se existisse apenas uma realidade. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Quais
formas de vida? Bem, tudo aquilo que não é dito, que causa insegurança, o
minoritário, o marginal, o diferente. Trago a arte também por considerar que
ela tem poucos limites, até idealizo que ela não tem limites; então trazer a
arte para o jornalismo - ou para a vida - seria permitir que tudo fosse
possível, em ambas as parte. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Se a
arte cria mundos - ou compartilha mundos diferentes -, permitir um jornalismo
mais artístico seria ampliá-lo indo ao encontro de novos mundos, ou até de
criar novos mundos. Ou seja, buscar o que não é visto, ou buscar a arte são
faces da mesma moeda.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Apresento,
como referi, inúmeras manifestações culturais na monografia - que comentarei nesta
parte - que pouca relação tem com o jornalismo. Também trago duas manifestações
jornalísticas ligadas à literatura para demonstrar que existem formas de jornalismo
que fazem ou fizeram diferente, que pensaram diferente e que minha intenção não
é nova e, sim, um processo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mesmo que critique essas manifestações, elas
são importantes para fortalecer minha proposta. Também fiz um trabalho prático
dessa forma de jornalismo vagabundo, a parte final de meu trabalho, onde tento
expressar todo o processo de estudo durante a monografia. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A
monografia está montada da seguinte forma: no primeiro capítulo eu trabalho com
uma manifestação cultural, a Contracultura, mais especificamente os Hippies, e
uma obra do literato Jack Kerouac, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">On the
Road</i>. Trago essas duas manifestações, pois elas simbolizam a luta contra a
cultura dominante e a negação de valores sociais. Tanto Kerouac quanto os
Hippies influenciaram o meu pensar e ajudaram a compor esta proposta. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A luta dos Hippies contra a cultura dominante, para mim, foi
muito mais importante que inúmeras barricadas revolucionárias. Seu símbolo
máximo, a negação, me mostrou que eu poderia negar e ser insubmisso ao jornalismo
dominante. Os Hippies negaram de todas as formas o rosto paterno e é exatamente
isso que quero fazer no jornalismo: negar o pai-patrão, as estruturas rígidas
das redações, os manuais, a moral conservadora que impede que novas
manifestações jornalísticas apareçam. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Já Kerouac caiu fora da América conservadora para ir ao encontro
de outra América e demonstrou-me que eu poderia perder a identidade de
jornalista branco-classe-média, permitindo-me ir ao encontro a tudo que esse
olhar branco não enxerga.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No segundo capítulo eu apresento uma
manifestação jornalística de forte importância, o Novo Jornalismo. <span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Proponho-me a dialogar
com esse tema pelo fato de que o Novo Jornalismo é um agente importante no
contexto cultural do Ocidente e, principalmente, pelo gênero ter possibilitado
a expansão da linguagem do jornalismo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Mas, neste capítulo,
muito mais que apologia, eu faço críticas, muitas vezes, agressivas ao gênero,
pois mesmo ele permitindo o contato com certa exterioridade do jornalismo, a
literatura, essa exterioridade se vê presa a estruturas, o que demonstra que o
Novo Jornalismo não quis flexibilizar totalmente a linguagem e não conseguiu
fugir de certos vícios. O Novo Jornalismo para mim seria uma forma de não fazer
jornalismo. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Como digo no capítulo: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Novo Jornalismo expôs mais os “draminhas”
psicológicos de uma realidade íntegra e fechada em si mesma. O Novo Jornalismo,
por querer a todo custo retratar a vida, ficou preso nela não buscando as
potencialidades que estão além da realidade cotidiana - fato praticamente
impossível em um best-seller, em um ganhador de um prêmio Pulitzer ou de alguém
que, por suas obras majestosas, foi imortalizado por Hollywood, ou seja,
pessoas que estão irremediavelmente integradas na estrutura social.<o:p></o:p></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">No terceiro capítulo eu
apresento o Gonzo Jornalismo.</span></span> Proponho-me a fazer dialogar o
Jornalismo Vagabundo e o Jornalismo Gonzo por querer mostrar que o tipo de
jornalismo que me disponho a experimentar não é um fato isolado, e
principalmente, pelo fato de que o Gonzo fez ligações com alguns elementos que
estão relacionados a esta reflexão. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
O
Gonzo talvez seja o jornalismo marginal mais conhecido do Ocidente. Ele trouxe
renovações para a linguagem jornalística a partir de abuso de drogas e choque
contra a moral dominante. Mas o Jornalismo Vagabundo, mesmo estando ligado a
máquinas semelhantes às do Gonzo, trouxe novas máquinas e ligações, o que torna
nossos jornalismos manifestações diferenciadas. O Gonzo, para mim, não é um
modelo a ser seguido e sim um agente de diálogo e um tipo sensível de
inspiração. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O quarto capítulo é o mais importante, pois é
o momento em que eu apresento o Jornalismo Vagabundo, ligo com as manifestações
dos capítulos anteriores, reflito o jornalismo e faço críticas severas às formas
de jornalismo que não me interessam. No quinto capítulo eu discorro sobre como o
texto do capítulo sexto foi feito - parte onde apresento em prática o Jornalismo
Vagabundo - e, ao mesmo tempo, faço uma ligação entre os enunciados dos outros
capítulos com essa prática em Jornalismo Vagabundo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">No</span> capítulo sétimo e último demonstro em prática o
jornalismo que desejo. O texto a partir de viagens subjetivas e objetivas
mostra uma das formas de fazer jornalismo a que me proponho. Um jornalismo
artístico, marginal e vagabundo. Também será visto ao longo de todos os
capítulos citações e referências de inúmeras artistas, pois, como já referi, o
jornalismo vagabundo está ligado à arte.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Os
métodos que utilizei para compor a monografia foram quase todos teóricos. Li,
absorvi os autores e principalmente refleti muito. Em muitos casos, utilizo as citações
para justificar o meu posicionamento e uso os autores apenas como referência. Apenas
a parte da experimentação é que programei viagens, fiz entrevistas e trabalho
de campo para produzir o texto. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Este
trabalho é um ensaio longo. Um texto quase literário, algo entre o didático e o
poético. Sei que apenas meu ponto de vista aqui está em jogo, o que é perigoso,
pois não há provas científicas. Ele é tão informal quanto minha proposta. Mas
não haveria outra forma de tratar de tal assunto. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br clear="all" style="page-break-before: always;" />
</span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">2</b> <span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">On The Road, os Hippies e a Estrada<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Como pensar em um jornalismo experimentador de novas
linguagens? Como ir ao encontro de <span style="color: black;">novas formas de
vida, para dar nova vida ao jornalismo? Como aumentar os campos possíveis da
linguagem jornalística? Como experimentar o jornalismo como um Vagabundo? Essas
perguntas,</span> e muitas outras, são as que eu faço ao longo dessa jornada de
busca de um “devir-vagabundo” para o jornalismo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Entre tantas
possibilidades de linguagens, entre tantas formas de vida, preferi agir, neste
capítulo, literalmente, e procurei esse “devir-vagabundo” entre a vagabundagem
da cultura do ocidente. Jack Kerouac e os Hippies, os temas desta parte do
trabalho, me permitiram compreender a estrada como um caminho de busca e de
negação. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A busca, vista em Kerouac, pode ser associada à minha busca
por um jornalismo autoral e singular. A negação dos Hippies é idêntica à minha
negação em relação às estruturas burocráticas do jornalismo. A estrada é um
emaranhado, com poucos limites, que está presente nesses dois agentes e no
Jornalismo Vagabundo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Como disse, eu poderia ter utilizado diversos símbolos, as
manifestações culturais que considero válidas na história são inúmeras. Pensei
na Revolução Francesa, na guerrilha urbana brasileira, pensei em Rimbaud e em
Thoreau, mas a contestação dos Hippies e a busca de iluminação de Kerouac
apareceram como uma alternativa menos barulhenta e mais radical. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A contestação dos Hippies em seu símbolo máximo, a negação,
para mim foi muito mais importantes que as barricadas revolucionárias, e, como
eles, muito mais que o combate direto, pretendo dar ao jornalismo um caráter de
negação, negação do pai-patrão, negação das estruturas rígidas das redações,
negação dos manuais, negação da moral conservadora que impede que novas
manifestações jornalísticas apareçam. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A busca de Kerouac, essa busca egocêntrica de perda de
identidade, demonstrou-me que eu poderia perder a identidade de jornalista
branco-classe-média, permitindo-me ir ao encontro a tudo que esse olhar branco
não enxerga.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Aqui falo um pouco desses dois símbolos que deram à impulsão
necessária que eu precisava para continuar desenvolvendo minha proposta. Em
muitos momentos, símbolos que desenvolvo nos Hippies e em Kerouac se misturam,
mas esse ato, que é intencional, demonstra que existe uma forte ligação entre
ambos, e principalmente, entre eles e o jornalismo que proponho. Pode parecer,
à primeira vista, que ponho o jornalismo de lado, mas tudo que falo aqui pode
ser aplicado ao jornalismo. Como? Espero responder até o término desta monografia
de caráter ensaístico.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
O romance <i style="mso-bidi-font-style: normal;">On the Road</i>,
de Jack Kerouac, foi lançado em 1957, após ter ficado anos na fila de espera de
inúmeras editoras. Mesmo tendo recebido péssimas críticas, na época, em poucos
anos tornou-se um símbolo de forte expressão, sendo considerado uma das maiores
obras da literatura norte-americana. <span style="color: black;">(Kerouac, 2004,
p. prefácio)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
O livro foi (e ainda é) um marco na cultura ocidental, não
apenas pela sua disseminação massiva, mas por ter possibilitado renovações
cruciais na linguagem literária e ter influência direta em inúmeros movimentos
culturais e artísticos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11.0pt;">Toda uma legião de escritores, artistas, cineastas, dramaturgos e
músicos foi profundamente influenciada pelo estilo e pelas visões de Kerouac.
Difícil imaginar a obra de Sam Shepard, de Bob Dylan, de Bukowski, de Jim
Morrison, de Lou Reed, de Tom Wolfe, de Win Wenders, de Hunter Thompson, de
Bono Vox, de Jim Jarmush, de Beck, de Tom Waits, de Gus Van Sant sem On the
Road.</span><span style="color: black;"> (Keroauc, 2004, p. prefácio)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
Conjuntamente a esses artistas renomados que fazem parte da
história da arte ocidental, um outro grupo de forte expressão, que irei
comentar mais adiante, também foi influenciado pela obra, os hippies – grupo
que produziu uma das manifestações mais criativas nos âmbitos sociais e
culturais do século 20. Além disso, o livro é a obra mais importante da Geração
Beat<a href="file:///C:/Users/Diego/Downloads/______________________________________________MONOGRAFIA_PRONTA_ENTREGAR_8_NOV_.doc#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></i><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É inegável a
importância da obra que, muito mais que um mero trabalho literário, é um mito pop
precursor de inúmeras linguagens artísticas e culturais, situação vista em
poucas obras da literatura em nossa história.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
Em relação à mítica que envolve a obra, ela já se manifesta
no método inicial de produção textual que o autor utilizou. A primeira versão
do livro foi redigida em apenas três semanas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11.0pt;">A versão original de On the Road foi escrita entre 9 e 27 de abril de
1951 num rolo de papel para telex, num total de quarenta metros ininterruptos
de prosa em espaço um sem parágrafo, com Kerouac aditivado por doses colossais
de benzedrina, suando uma camiseta atrás da outra, datilografando como um
alucinado, movido por aquilo que o poeta Lawrence Ferlinguetti certa vez chamou
de “febre onívora de observação . (Bueno, 2004, p. 10)<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
Este método, original e diferenciado de trabalho contínuo,
gerou mais de 600 páginas. A intenção de Kerouac poderia ser associada a um
tipo de escrita típica dos autores surrealistas, a “escrita automática”. Esse
tipo de criação textual era “um pensamento ditado na ausência de todo controlo
exercido pela razão, e fora de quaisquer preocupações estéticas ou morais.”
(Klingsohr-Leroy, 2004, p.6)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
O método renomeado por Kerouac como “prosa espontânea”,
permitia fluir as imagens e idéias “sem desvios repressivos, sem se enrolar
todo em inibições literárias e temores gramaticais”<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>(Kerouac, 2004, p.23)<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>trazendo
à tona <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“</b>a pessoa<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>para o texto. Não só a mente pensante, a consciência reflexiva,
mas a pessoa como totalidade: suas paixões, emoções, nervos e carne.” (Kerouac,
2004, p. 11)<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
Mas é claro que a obra foi reescrita a partir de um trabalho
sério de edição. O próprio autor relata que fez inúmeras versões para que ela
fosse aceita por uma editora. Esse fato é citado por inúmeros puristas que
depreciam o livro por ele não ter sido apresentado em forma bruta, mas, para
mim, esse primeiro trabalho, esses fluxo, essa catarse espontânea pode ser
compreendida como parte de um método maior que gerou a obra em sua completude.
Apenas esse método inicial possibilitou a composição da obra final.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span class="MsoCommentReference"><span style="font-size: 8.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
O trabalho editorial e as inúmeras versões escritas por
Kerouac compuseram uma obra legível e com linguagem acessível. O texto flui, é
prazeroso, causa empatia e, de certa forma, é de fácil acesso. Felizmente, esse
fácil acesso à obra não se vincula com um tipo de simplicidade frívola, pois a
linguagem do livro é composta de toda uma riqueza de símbolos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
Visões oníricas, percepções extra-sensoriais, pequenos e
grandes surtos literários, devaneios filosóficos, contemplações lisérgicas e um
tipo de fluxo esquizóide dão um contorno novo para imagens próprias do
cotidiano, apresentando o olhar de Kerouac, um olhar muito além das convenções
sociais ou artísticas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Essas visões
expostas a partir do olhar de Kerouac, olhar que enxerga além do visível,
extrapolam o cotidiano.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Um dos agentes
criadores desse olhar é o abuso de drogas por parte de Kerouac. As drogas
permitem, para os beats, encarar e recriar a vida, permitem compor cenários e
dar novas significações a cenas e acontecimentos. Inúmeros autores, músicos,
filósofos, poetas utilizaram drogas como forma de expansão da mente ou como
fuga (fuga que pode ser associada à busca de um exterior criativo). <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
É conhecido no histórico de grandes mestres como Rimbaud,
Verlaine, Poe, Baudelaire, Nietzsche, Huxley, Burroughs, entre tantos, essa
busca de exterioridade. Quanto a Kerouac, o uso de drogas teve um papel
significativo, mas percebe-se que seu olhar não é apenas um olhar de um corpo
drogado. A sua necessidade ou desejo de querer conhecer o outro lado (o outro
lado da vida), a própria saúde frágil possibilitou a Kerouac criar um olhar-vidente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
Esse olhar, que atravessa todo o livro, é o ponto chave onde
se mesclam o estilo de escrita e o posicionamento de Kerouac frente à vida. A
escrita é o fluxo artístico que permitiu verbalizar os aspectos da vida, seja a
vida marginalizada que Kerouac tanto persegue, seja a vida dominante da qual
ele tenta, de todas as formas, afastar-se.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
O livro, autobiográfico, narra sete anos de peregrinação do
autor por diversas regiões dos Estados Unidos, em uma busca constante de um
contato com a vida marginalizada, na tentativa de cair fora da vida cheia de
amarras da classe média, branca, masculina norte-americana. .<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
Essa peregrinação foi feita por praticamente todos os
Estados Unidos até o México. K<span style="color: black;">ero</span>uac percorreu
milhares de quilômetros de carona, em carros destruídos, de ônibus ou, como os
andarilhos vagabundos, a pé, tendo sempre a estrada como ponto de fuga e
encontro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
A estrada, como cita o próprio título, é o grande símbolo do
livro. Foi a estrada que permitiu a Kerouac contatar a América que a América
não vê, a América negra, a América latina, a América da arte, a América <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11.0pt;">onde estão os músicos de jazz, os vagabundos que atravessam o país
mamando numa garrafa de uísque ordinário, os mexicanos pobres de olhar cândido
que oferecem maconha e mulheres aos forasteiros<i style="mso-bidi-font-style: normal;">.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></i>(Vários Autores, 1984,
p.60)<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></b><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
A América perdida e marginalizada, muito além dos padrões
típicos da América Branca dos bem-nascidos e dos bens-alimentados.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
Essas Américas de Kerouac podem ser contempladas a partir
dos personagens, em boa parte Homéricos, que atravessam o livro.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Aliás, há, no livro, uma tipificação bem
estruturada de personagens que poderia resumir quem Kerouac contatou ao longo
de sua peregrinação.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Essa tipificação poderia
ser <span style="color: black;">dividida em três: os marginalizados, o cidadão
típico e os Beats. </span>Os marginalizados como negros, homossexuais,
mexicanos, índios, jazzistas, vagabundos, loucos são tratados ao longo do livro
de forma quase mítica. Kerouac, a todo o momento, procura interagir com esses
grupos, como se eles fossem à fonte de busca de sua transcendência. Essa busca
não se limita a uma busca propriamente literária, para composição de
personagens, o que poderia se chamar a literatura dos vencidos, mas
principalmente simboliza a busca da superação de si na tentativa de destruir
uma marca identitária.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
Kerouac, em muitos momentos, se torna negro ou mexicano - vê-se
isso em suas inúmeras investidas e casos com garotas dessas raças -, vagabundo
- Kerouac vive a estrada ao lado de vagabundos se tornando um vagabundo-, vive
na penúria total, trabalhando com pessoas das classes mais pobres ou,
simplesmente, entra em delírios poéticos e existenciais compondo um tipo de eu
esquizofrênico. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
Outro tipo de personagem é o típico cidadão branco, careta,
classe média e demasiado racional: o cidadão médio norte-americano. Esses
personagens mesmo não desenvolvendo uma atuação poética no livro, servem de
contraponto aos personagens marginais, aliás, seria impossível Kerouac não
contatá-los. A esses, Kerouac sempre busca distância e demonstra certo repúdio,
aliás, repúdio visível. E muito mais que um repúdio, ele busca a perda dessa
identidade, pois Kerouac foi (e poderia ter sido) um cidadão típico norte-americano.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
O terceiro grupo são os seus comparsas, os Beats. Os Beats seriam
uma mescla desses dois grupos. Eles eram jovens oriundos da academia, filhos da
sociedade branca que se marginalizaram voluntariamente, e se tornaram o grupo
de literatos mais famoso do Ocidente, sendo os primeiros autores da história a
terem tiragens de milhares de exemplares em edições de poesia, e, como Kerouac,
foram os expoentes e precursores da Contracultura. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
Se Kerouac tivesse ficado em sua cidade natal, ele poderia
ter encontrado todos os tipos que percorrem o livro. As cidades são feitas da
mistura de raças e classes. Kerouac morava em Nova Jersey, um grande centro ao
lado da metrópole Nova Yorque, mas aliou a sua necessidade de contatar com o
marginal a uma atitude radical: não permitir se enraizar em nenhum ponto geográfico.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
A estrada é um símbolo forte, implica movimento, na estrada
não se possui família, emprego, não se tem estabilidade, eixo ou centro.
Kerouac dormiu com mendigos em estações ferroviárias, dividiu garrafas de vinho
com vagabundos em caçambas de caminhões, colheu frutas em pomares, amou garotas
negras, ouviu bandas de jazz em todos os pontos da América, fumou maconha com
mexicanos e passou noites ao relento. Em sua peregrinação, ele assistiu de tudo
um pouco, contatou inúmeras realidades e se transformou, tornando-se outro, ou,
melhor, outros. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
Ao longo do livro percebe-se que ele torna-se feliz apenas
quando está em movimento, e o livro é uma ode ao movimento, como o próprio diz:
“Percebemos que estávamos deixando para trás toda a confusão e o absurdo,
desempenhando a única função nobre de nossa época: mover-se”. (2004, p.170)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Na estrada não há nem submissão à natureza,
pois o clima na estrada se modifica, estrada aberta, sem fim, como cita um dos
personagens em uma passagem do livro, enquanto se preparavam para cair na
estrada: “Não há nada no mundo com que nos preocuparmos, e devemos COMPREENDER
que, na verdade, REALMENTE, não precisamos nos preocupar com ABSOLUTAMENTE
NADA”. (2004, p. 170)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
Uma metáfora que simboliza muito bem esse espírito de
constante mudança (ou de perda de estabilidade) são as inúmeras imagens que
atravessam o livro, detalhando rios. O rio e sua constante mudança e seu fim
desconhecido, rio que, muitas vezes, não se finda, pois desemboca no mar, e o
que Kerouac e sua trupe procuravam era uma rota idêntica a de um rio, uma rota
que os levasse ao desconhecido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
O livro foi lançado em 1957, mas narra histórias acontecidas
entre 1947 e 1950, ou seja, os ideais e desejos de Kerouac são referentes a uma
época de pouca agitação cultural nos Estados Unidos. Mas, mais de dez anos
depois dos últimos relatos de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">On TheRoad</i>,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>toda essa ideologia em busca de uma vida
nômade e vagabunda foram as premissas básicas para milhões de jovens, os
Hippies. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
Se <i style="mso-bidi-font-style: normal;">On The Road</i>
influenciou diretamente os Hippies – o livro foi considerado a bíblia do grupo
– ou se suas idéias apenas coincidiram, não se <span style="color: black;">sabe,
mas quase tudo que foi experimentado em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">On
The Road</i>, foi experimentado pelos Hippies.</span> Os Hippies é um capítulo
a parte na história do ocidente. Em uma época nebulosa, os anos 60, onde a
juventude ganha uma identidade expressiva e torna-se precursora de toda uma
cultura de contestação - a Contracultura -, os Hippies <span style="color: black;">foram
um dos mais</span> marcantes modelos de juventude.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
Essa marca, a primeira vista, pode ser entendida pelo espaço
que eles tiveram na mídia. Além de ser um grupo muito expressivo e ter ganhado
milhões de adeptos - em boa parte ícones de manifestações artísticas -, essa
visibilidade na mídia se deu também pelo seu estilo de vida pacífico, quase
alienado, contrastando com inúmeros focos revolucionários que apareceram na
época.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
Sabe-se que a mídia preferiu dar atenção ao caráter paz e
amor dos Hippies, na tentativa de sufocar <span style="color: black;">as
vanguardas revolucionárias que eram muitas em todo o Ocidente (Home, 1999
p.110). Como no caso das guerrilhas na América do Sul, dos Panteras Negras e de
seus afiliados os Panteras Brancas nos Estados Unidos, dos Situacionistas e do
grupo Provos na Europa, entre tantos movimentos que foram encabeçados pela
juventude e que tiveram pouca repercussão na mídia nos anos 60.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
Mas não negando o valor de todos esses grupos, prefiro aqui
dar mais ênfase aos Hippies, pois considero que sua contestação que, a primeira
vista, pode ser entendida como alienada, seja muito mais conveniente para o
jornalismo que proponho. <u><o:p></o:p></u></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
Os Hippies aparecem nos Estados Unidos, no início dos anos
sessenta, como uma forma de contestação contra tudo que representa a cultura
branca, masculina e adulta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11.0pt;">A contra cultura nasce de um choque de gerações, os jovens cansados da
cultura dada de seus pais chocam-se contra ela de forma violenta.<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>(Roszak, 1972, p.34)<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Esse choque contra a
cultura dominante aparece, principalmente, como revolta contra o rosto paterno.
Eles não representavam mão-de-obra produtiva e negavam-se a se submeter ao patrão,
envolvendo-se apenas em trabalhos artísticos, comunitário ou, simplesmente,
viviam, sem exagero, como mendigos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Eles usavam drogas em
excesso, eram contra ações como a guerra do Vietnã e negavam as ideologias do Estado.
Eles se contrapunham à família norte-americana, tentando se apartar da cultura
conservadora dos seus pais. Eles cultuavam religiões não-cristãs,
principalmente as orientais, que não possuem um Deus único. Seus mestres eram
figuras libertárias e não repressivas como budistas, músicos, artistas,
revolucionários, não eram o padre e muito menos o professor. Ou seja, tentavam
negar boa parte das formas que os símbolos máximos de repressão do regime
patriarcal podem tomar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
A essa luta contra a repressão paternal, associava-se uma
necessidade de manter-se jovem a partir de um ideal hedonista. A abundância
econômica e certa flexibilidade educativa, que prolongava a vida escolar, nos
Estados Unidos, permitiam uma infantilização generalizada, fazendo com que os
jovens se acostumassem com a juventude, os levando a repudiar qualquer tipo de
disciplina. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11.0pt;">Os jovens ao tomar como natural a segurança econômica - sobre ela
constroem uma nova e descomprometida personalidade, talvez maculada por um ócio
irresponsável, mas também tocada por um espírito sincero (Roszak, 1972, p.41)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11.0pt;">(...)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11.0pt;">Eles consideram o prazer e a liberdade como direitos humanos e começam
a fazer perguntas agressivas aquelas forças que insistem em meio a uma óbvia
abundancia, na necessidade de disciplina.<i style="mso-bidi-font-style: normal;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></i>(Roszak, 1972, p.43)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
A liberdade e o prazer eram utilizados como axiomas entre os
Hippies, culminando em práticas vistas como aberrantes a sociedade e alienadas
para os focos <span style="color: black;">revolucionários. Realmente, comparado
às vanguardas revolucionárias, a revolta dos Hippies poderia parecer uma
revolta infantil. Os</span> Hippies preferiram negar a lutar agressivamente,
além de não tentar produzir um retorno de ideais adultos, como a criação de um
novo estado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
Mas não querer ser adulto para não fazer parte de uma
sociedade que gerou inúmeras guerras e que é portadora de uma moral
reacionária, e manter-se infantil para não ser condescendente com uma cultura
decadente e envelhecida, é uma atitude contestatória de extrema validade, não?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 234.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.0pt;">
E mesmo que essa luta fosse silenciosa e os levasse para um
tipo de alienação, que apenas nega e pouco faz, essa ação foi tão importante
quanto os ideais da luta armada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11.0pt;">Muito
embora os radicais da velha linha julguem que lhes falte potencial
revolucionário, é claro que os hippies tiveram êxito em personificar a rebeldia
radical – aquilo que Marcuse chamou de Grande Recusa (Roszak, 1972, p.50)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A
grande recusa dos Hippies foi um dos poucos ideais que funcionaram na época.
Todos os movimentos que tentavam criar um estado alternativo ao capitalista
foram frustrados. Muito mais que um ideal de salvação geral e de uma busca de
igualdade social, os hippies apenas negaram a cultura branca e buscaram uma
nova forma de viver, a partir de um ideal egocêntrico e hedonista que foi concretizado.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Parece
que os Hippies compreenderam que a luta já estava perdida no início e
preferiram a fuga. Largaram tudo, deram um tempo, caíram na estrada, preferiram
não lutar e sim viver. Mesmo que essa busca não pudesse ser eterna, pois todos
eles foram engolidos pelo “sistema” - praticamente desapareceram no início dos
anos 70 -, eles viveram o momento com olhos de quem não enxerga o futuro e sim
de quem busca a contemplação do agora, mesmo que seja efêmera.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 354.75pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A busca de uma possível transcendência além dos valores
culturais vigentes, a contestação contra o rosto paterno e a manutenção da
infância foram permitidas, principalmente, por um símbolo já comentado em
Kerouac: a estrada.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“Os departamentos de
imigração da Europa registram a cada ano mais ou menos dez mil hippies
desgrenhados que se dirigem para o Oriente” (Roszak, 1972, p.44). <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 354.75pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
E eles não se encaminhavam apenas para o Oriente, eles se
encaminhavam para qualquer lugar, qualquer ponto que permitisse a fuga e a
perda, eles se encaminhavam em direção ao espírito da estrada usufruindo, ao
máximo, do axioma do ser vagabundo: Sem destino.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A utilização do país (qualquer país) como uma
posição geográfica desconhecida, um ponto a ser explorado ou, sendo mais
radical, a utilização do planeta como um todo sem fronteiras era o símbolo da
busca da liberdade, da inexistência de barreiras e, principalmente, como diz <span style="color: black;">Rozsak: “Muito mais uma fuga ‘de’ do que ‘para’” (Roszak,
1972, p.44).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">Falando novamente sobre a estrada, agora enfocando</span>
os Hippies, reforço o grande símbolo do meu trabalho: a estrada e o devir
vagabundo que ela permite. E a estrada não se limita como símbolo apenas dos
Hippies e de Keroauc. Ela é símbolo de inúmeros ícones da cultura Ocidental
como Rimbaud, Walt Whitman, Bukowski, toda a geração Beat, Hemingway, Jack
London, Van Gogh, Gauguin, os inúmeros exilados políticos, toda uma gama de
agentes que tiveram a necessidade de viver uma vida em movimento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Lembro-me
de uma citação de Deleuze em que ele fala sobre a escrita nômade: “A escrita
esposa uma máquina de guerra e linhas de fuga, abandona os estratos, as
segmentaridades, o aparelho de estado”, (Deleuze, 35, 1995) mas pensando em
quem viveu na estrada, essa escrita poderia ser associada à vida, a vida que
busca a liberdade muito além das instituições.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Essa
vida, anárquica, anti-institucional, que faz apologia e vive o movimento
incessante é onde os sonhos deixam de ser subjetivos, onde os encontros e
perdas acontecem, onde a vida se encontra em estado embrionário e que tudo que
o sedentarismo nos impõe é negado e posto de lado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Gostaria
de finalizar este capítulo com um trecho de um dos textos do maior vagabundo da
literatura Norte-americana, Walt Whitman:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11.0pt;">Nós não
devemos ficar aqui parados, por mais doces que sejam estes armazéns fornidos,
por mais conveniente que pareça esta casa, nós aqui não devemos ficar, por mais
abrigado que seja esse porto e por mais calmas que estas águas sejam, aqui nós
não devemos ancorar; por mais acolhedora que seja a hospitalidade que nos
cerca, não nos é permitido desfrutá-la senão por pouco tempo<i style="mso-bidi-font-style: normal;">. </i>(Whitman, 1983, p.75)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br clear="all" style="page-break-before: always;" />
</span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span class="31"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">3
</span></b></span><span class="31"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Novo
Jornalismo </span></b></span><span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Este capítulo tem como
enfoque um gênero jornalístico inovador, o Novo Jornalismo. Proponho-me a
dialogar com esse tema pelo fato de que o Novo Jornalismo é um agente
importante no contexto cultural do Ocidente e, principalmente, pelo gênero ter
possibilitado a expansão da linguagem do jornalismo a partir da literatura.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Mas, como se verá ao
longo deste capítulo, apresento críticas, muitas vezes, agressivas sobre o
gênero, pois mesmo ele permitindo o contato com certa exterioridade do
jornalismo, essa exterioridade se vê presa a estruturas, o que demonstra que o
Novo Jornalismo não quis flexibilizar totalmente a linguagem e não conseguiu
fugir de certos vícios.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Essas críticas aparecem,
principalmente, em contraposições entre o Novo Jornalismo e Gonzo Jornalismo;
assim, reforço algumas idéias do Gonzo e critico uma estrutura que, para mim,
já era envelhecida em seu surgimento.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Abordo aqui o Novo
Jornalismo em sua fase áurea, os anos 60, por isso, em boa parte do texto, falo
do gênero no passado. Além disso, apresento apenas três autores, os mais
renomados do gênero.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">No início do capítulo,
exponho fatores positivos e trago referências bibliográficas, o que se
contrapõe ao resto do texto, onde trago exposições mais livres e um discurso
quase niilista. O Novo Jornalismo apresenta poucas características que se
assemelham ao tipo de jornalismo que pretendo experimentar, o Jornalismo
Vagabundo, e esse capítulo demonstra principalmente o que não pretendo fazer,
ao fazer jornalismo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O Novo Jornalismo atinge
seu auge nos anos 60, nos Estados Unidos, principalmente nas reportagens de Tom
Wolfe, Norman Mailer e Truman Capote. Na época, esses autores influenciaram o
fazer jornalístico, criando toda uma moda estilística que era vista em diversos
meios de comunicação nos Estados Unidos, como as revistas Esquire e Rolling
Stone, e os jornais de The Atlantic Montly e New York Times. </span></span><span class="31"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O grande feito do Novo
Jornalismo foi unir a veracidade do fato jornalístico com técnicas típicas da literatura.
Segundo Tom Wolfe o estilo <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11.0pt;">se valeu de recursos que por acaso
se originaram do romance e os combinou com todos os outros recursos conhecidos
da prosa. E que ao mesmo tempo, bem além das questões da técnica, desfrutou uma
vantagem tão óbvia, tão intrínseca, que as pessoas praticamente ignoram sua
influência: o simples fato de que o leitor sabe que aquilo aconteceu</span></span><span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> (Wolfe, 1989, p.8)</span></span><span class="31"><span style="font-size: 10.0pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A tentativa concretizada
de alargar o campo jornalístico com algo tão exterior a ele, a literatura,
permitiu uma profundidade maior na relação do jornalista com o acontecimento,
abrindo brechas para um jornalismo mais introspectivo que dava <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11.0pt;">importância de se enfocar a atenção
na experiência emocional subjetiva, do ponto de vista dramatizado, da
sensibilidade única, e de se buscar significados mais profundos ocultos pela
aparência.</span></span><span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">(Wolfe, 1989,
p.9)</span></span><span class="31"><span style="font-size: 10.0pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Esse nível psicológico
permitia a caracterização das figuras humanas relacionadas ao fato, possibilitando
o desenvolvimento de personagens com um perfil minucioso e detalhado.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Uma das técnicas mais importantes dos Novos
Jornalistas era<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11.0pt;">cultivar o hábito de permanecer com
pessoas potenciais durante dias, semanas ou meses, tomando notas, entrevistando,
observando e aguardando que algo dramático e revelador aconteça </span></span><span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">(Wolfe, 1989, p.10)</span></span><span class="31"><span style="font-size: 10.0pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A relação íntima entre o
escritor e a figura humana do fato, para extrair o máximo de efeitos
psicológicos, poderia ser pensada como uma ação não-jornalística, pois análises
desse tipo, por possibilitar diversas formas de interpretação, são
irremediavelmente parciais.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Mas, mesmo com esse
mergulho psicológico, os autores utilizavam técnicas de distanciamento como o
uso do narrador em terceira pessoa. Essa técnica tornava o texto impessoal,
dando a noção de que o jornalista não interferia no fato a partir de opiniões e
juízos de valores. Isso fazia com que o texto perdesse elementos literários,
ganhando elementos próprios do jornalismo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O distanciamento da
literatura aumentava, ainda mais, por não ser usual, entre os “Novos
Jornalistas”, a ficção. Aliás, os grandes expoentes do movimento se engajavam,
claramente, em tentar dar a imagem mais real possível do fato, sem distorções.
Nota-se, assim, respeito em relação ao leitor e o acordo de que o que era
descrito era autêntico.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Considerando a imersão na realidade que
permitia extrair os pormenores do fato, o Novo Jornalismo seria a transgressão
dos valores principais do jornalismo diário. O jornalismo que é lido diariamente,
pela estrutura das redações, impõe um tempo reduzido para coletar dados para
compor as matérias. Também a necessidade de um fluxo veloz de informação impõe
um texto claro, objetivo e de digestão rápida e, principalmente, com uma
linguagem limitada - praticamente tudo que os autores do Novo Jornalismo se
negavam em seus trabalhos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Não seria possível pensar
em um jornalismo diário, com seus prazos, usufruindo de técnicas do Novo
Jornalismo como:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-style: italic;">A
construção cena a cena; a reprodução do diálogo das personagens; a exploração
das variadas possibilidades expressivas do foco narrativo (inclusive com o
emprego do fluxo de consciência, como nos melhores romances psicológicos); o
registro de gestos, cotidianos, hábitos, modos, estilo de decoração, roupas, comportamento
e outros detalhes simbólicos, para reforçar a aparência da realidade</span></span><span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11.0pt;">. </span></span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; font-size: 7.5pt;">(</span>Czarbonai,
2003, p.).<span style="font-family: "Verdana",sans-serif; font-size: 7.5pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.35pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
O
detalhismo metódico de apuração de dados que era aliado a uma construção
textual calma e bem pensada, compondo relatos com uma necessidade de ir muito
além do aparente e do superficial, deu ao jornalismo uma nova função. No caso
do leitor, esse tipo de texto elevou a apreciação jornalística à função
artística de permitir fruição. No caso do escritor, impôs um trabalho de
escultor típico ao do literato, deixando de lado os vícios típicos do
jornalismo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">fast food</i> e sua
necessidade de quantidade e não de qualidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Mesmo sendo visto em
matérias de jornais e revistas, o ápice do Novo Jornalismo se deu no formato de
livro – uma evolução do jornalismo que era esperada. Se o romance é o ponto
máximo da literatura, o livro é o ponto máximo do jornalismo, pois permite que
a reportagem seja fechada em um formato muito mais duradouro. Também o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">status</i> de se publicar em um livro é
muito maior, principalmente em um livro de um único autor, o que cria uma obra
fechada e autoral, “a marca do autor para a eternidade”. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Dentre os livros mais
importantes do Novo Jornalismo está a obra de Truman Capote, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Sangue Frio</i>, lançada em 1966. Truman,
para compor a reportagem que narra fatos de um assassinato de uma família no
Kansas, cultivou anos de contato íntimo entre diversos protagonistas,
mergulhando no fato para extrair um dos registros mais importantes de
não-ficção do Novo Jornalismo. Toda sua trajetória, para a composição da obra,
foi retratada no filme ganhador de Oscar em 2006, Capote. </span></span><span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-color-alt: windowtext;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Outro livro, que poderia
ser considerado um clássico do Novo Jornalismo, é <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Décadas Púrpuras</i>, do autor de diversos best-sellers, Tom Wolfe. Tom
Wolfe, que se considerava a voz dos anos sessenta - condição que ele citava
superar o poder da literatura em retratar a sociedade norte-americana (Wolfe,
1989, p.8) – no livro, quase conseguiu isso. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Décadas
púrpuras</span></i></span><span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">
expõe os focos de manifestações culturais e sociais nessa década tão conturbada
– em boa parte, o que acontecia de interessante no país. O livro é recheado de
histórias sobre colunáveis marginais, Panteras Negras, artistas famosos,
correntes artísticas alternativas e um relato memorável sobre um grupo de
hippies que distribuía drogas em</span></span><span style="color: black; mso-bidi-font-weight: bold;"> happenings.</span><span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Outro relato
interessante, que deve ser considerado, é </span></span><i>A Luta</i><span style="mso-bidi-font-style: italic;">, do ganhador do prêmio Pulitzer, Norman Mailer<i>.
</i>O livro narra</span> uma das grandes lutas de boxe da história, mas é muito
mais que uma mera peça sobre esportes. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A
Luta</i> é um relato intimista e audacioso, rico em detalhes, com uma linguagem
que difere, em muito, do jornalismo esportivo, sendo uma narrativa literária
que tem como pano de fundo um acontecimento esportivo.<span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Aliás, Mailer é um caso
especial entre os Novos Jornalistas por, ao longo de sua carreira, ter escrito
e contatado diversos escritores marginais norte-americanos. Ele é citado por
Bukowski em seu livro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Hollywood</i>, além
de ter escrito relatos sobre os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Beats</i>
e ser um admirador confesso de William Burroughs - um dos escritores mais
radicais do século passado.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Todas essas
características retratadas apontam para diversos lados, tanto positivos, quanto
negativos. Um dos lados positivos é óbvio: a permissão de um aprimoramento do
jornalismo a partir de um relacionamento com a literatura. Um dos lados
negativos é que essa relação cria um tipo de segregação, pois necessita de um
leitor mais intelectualizado que o do jornalismo tradicional.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A literatura é um dos
gêneros máximos da arte ocidental, e é elitista. O Novo Jornalismo, por compartilhar
desses elementos literários, requer leitores que tenham a mesma bagagem
cultural que os leitores de literatura. Além disso, no caso das obras em
formato de livro, há uma necessidade de se despender de dinheiro e tempo para
adquirir e ler a obra. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Em relação à produção de uma obra no estilo,
são poucos os jornalistas que despendem de tempo para manter uma rotina de
trabalho tão árdua, e mais ainda, são poucos os que têm o refinamento para
produzir um texto de caráter introspectivo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O Novo Jornalismo talvez
seja um tipo de insurreição do mundo jornalístico contra uma possível pobreza
da linguagem jornalística, e uma glorificação da maestria e grandiosidade da
literatura. Mas essa idolatria da literatura talvez não seja nada mais que uma
idealização “romanceada” de um gênero secular.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Mesmo assim, o Novo
Jornalismo apenas se tornou grande dentro da linguagem jornalística, não
conseguindo se igualar à literatura. Tudo é permitido na literatura, tudo.
Mundos se criam, o céu cai, Fausto faz um pacto com o demônio, demônios atingem
o poder da terra. Em Kafka, um homem torna-se barata. Em Borges, o tempo é
retorcido e perde sua linearidade. Em Allan Poe, uma realidade assustadora toma
o poder da realidade cotidiana.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Um dos processos em
literatura, citando Deleuze, <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 87.9pt; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11.0pt;">é sua capacidade de transpor
fronteiras, como aquelas existentes entre o animal, o vegetal, e o mineral, ou
entre o humano e o inumano, o individual e o coletivo, o masculino e o
feminino, o material e o imaterial. Devir-mulher, devir-animal, eis algumas das
passagens de que se é capaz e que a escrita favorece.</span></span><span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> (Bart, 2000, p. 69)<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Tudo é permitido - é
claro que desde que seja exposto na linguagem literária. Condição que o Novo
Jornalismo nunca conseguiu ou nunca quis. É claro que aqui deve-se pensar no
Novo Jornalismo como uma máquina jornalística, com todas as suas limitações, e
não com essa liberdade da literatura. Mas se for lembrado o Gonzo Jornalismo, será
visto que a liberdade do jornalismo é muito mais flexível que a proposta pelo
Novo Jornalismo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Considerando o Gonzo, nota-se
que as potencialidades do jornalismo são enormes. O Gonzo muito mais que um
retrato do real - ou um retrato psicológico do real, como no Novo Jornalismo -
foi um produtor de realidades. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Os textos do Gonzo
radicalizaram na subjetividade, mas a subjetividade buscada como encontro com o
exterior, com o pensar diferentemente, com o que difere do real dado e,
principalmente, a subjetividade buscada como perda de uma racionalidade dura,
inflexível e controladora.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Os delírios do Gonzo
simbolizam o máximo de choque contra tudo que representa o “dominante”, pois
ele apresentou um pensamento minoritário e uma destruição dos grandes valores
da “vidinha” em todos os pontos do seu corpo, até na cabeça.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Já o Novo Jornalismo expôs
mais os “draminhas” psicológicos de uma realidade íntegra e fechada em si
mesma. O Novo Jornalismo, por querer a todo custo retratar a vida, ficou preso
nela não buscando as potencialidades que estão além da realidade cotidiana -
fato praticamente impossível em um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">best-seller</i>,
em um ganhador de um prêmio <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Pulitzer</i>
ou de alguém que, por suas obras majestosas, foi imortalizado por <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Hollywood</i>, ou seja, pessoas que estão
irremediavelmente integradas na estrutura social.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Outra aspecto a ser
referido é que o Gonzo nunca teve medo de se expor. Os textos Gonzo prescindiam
de um jornalista como transmissor dos fatos. No Gonzo, Thompson, o pai do
Gonzo, era o fato. Ele sempre foi corajoso ao ponto de ser a história. Já o
Novo Jornalista sempre ficou de lado como um agente passivo - imagem idêntica a
do Deus que tudo vê, nada faz e, em um acesso de megalomania, transmite as
tábuas divinas, contendo o que ele considera ser “bom” para seus filhos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Além disso, as narrativas
do Gonzo, por buscarem o máximo de liberdade dentro do jornalismo, permitiram
empatia por todos que buscam novas realidades e se regozijam com a liberdade.
Já o Novo Jornalismo atingiu o panteão da cultura ocidental, sendo apreciado
por quem se regozija com grandes efeitos, grandes obras e por uma falsa
erudição que possibilita um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">status</i>
vazio e falacioso. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">É claro que os “Novos
Jornalistas” em sua fase áurea, os anos 60, foram de certa forma transgressores
da linguagem jornalística. Trazer a literatura para o jornalismo não pode ser
considerada uma atitude qualquer, mas, falando em transgressão, o Gonzo jogou
para todos os lados. O Gonzo chutou os Estados Unidos e sua moral, chutou a si
mesmo e seus resíduos de homem branco. Já o Novo Jornalismo retratou os Estados
Unidos em uma foto a ser guardada em um porta-retratos ao lado de um Prêmio
Pulitzer.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br clear="all" style="page-break-before: always;" />
</span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">4 </b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">O Jornalismo Gonzo<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.35pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.35pt;">
Em
minha intenção de construir um jornalismo autoral - o Jornalismo Vagabundo -
entrei em contato com diversas linguagens e <span style="color: black;">manifestações.
Três delas foram apresentadas nos capítulos anteriores: a Contracultura e a
obra de Jack Kerouac, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">On the Road</i> e o
Novo Jornalismo. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Aqui neste capítulo eu
conecto a proposta</span> a um tipo de jornalismo que nasceu junto com a
Contracultura e teve uma relação com Kerouac, o jornalismo criado por Hunter Thompson,
o Jornalismo Gonzo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.35pt;">
Proponho-me
a ligar o Jornalismo Vagabundo ao Jornalismo Gonzo por querer mostrar que o
tipo de jornalismo que me proponho a experimentar – um jornalismo diferenciado
do dominante – não é um fato isolado, e principalmente, pelo fato de que o
Gonzo fez ligações a alguns elementos que estão relacionados à proposta aqui
defendida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.35pt;">
O
texto a seguir, até agora, foi a parte mais difícil de meu trabalho, pois<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>existem poucos materiais sobre o estilo, no
Brasil. Encontrei apenas um trabalho acadêmico e alguns livros Gonzo
publicados, o que é estranho, pois o Gonzo é quase um ícone pop entre os jovens
brasileiros.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Há inúmeras
confrarias, principalmente na internet, de escritores que aderiram ao estilo -
uma turma de escritores e jornalistas que encontraram no Gonzo uma saída
alternativa para a composição de textos <span style="color: black;">jornalísticos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">Poderia ser pensado que trazer um estilo de jornalismo dos
anos 60 para os dias de hoje é uma ação retrógrada - dessas que tentam a todo
custo negar o presente em função de uma época idealizada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Mas
não vejo assim: a ação de tentar um retorno ao Gonzo não é uma negação ou
alienação do presente, e sim uma forma de dialogar com uma época rica e com um
bem cultural importante. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">O jornalismo dominante insiste em manter certas estruturas
- que vão desde a formatação da linguagem até a ideologia institucional – de que
não se pode escapar sem se tornar uma aberração ou qualquer coisa que não seja
jornalista. Por isso</span>, uma gama de jornalistas ou se negam a fazer
jornalismo, partindo para outras linguagens, principalmente a literatura, ou,
como Thompson, usurpam da linguagem sua rigidez e inflexibilidade. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
No meu
caso, até pensei em desconsiderar o Gonzo neste trabalho, pensei no meu tema e
nas referências bem antes de ter contato com o estilo, mas acredito que ele
reforce minha intenção da possibilidade de imaginar abdutivamente um jornalismo
diferenciado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
O
engraçado é que não iniciei no Gonzo para chegar à Contracultura, aos Beats e a
Kerouac, caminho óbvio e possível, mas fiz o inverso. Talvez por sorte (e por
coincidência) eu tenha bebido em fontes parecidas às de Thompson, o que pode
tornar nosso jornalismo parecido, mas acredito que não idêntico.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Não
pretendo seguir a risca os enunciados do Gonzo, apenas quero um diálogo com os
elementos do que considero ser uma manifestação rica dentro do jornalismo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O Jornalismo Gonzo aparece no final dos anos
60 como uma forma diferenciada de se fazer jornalismo. Criado pelo jornalista
Norte-americano Hunter Thompson, o Gonzo é uma expressão típica de uma época
onde os valores se reformulam, e uma busca de novas formas de viver é
experimentada a partir de uma revolução cultural que atingiu, praticamente,
todos os âmbitos sociais.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.35pt;">
Por
isso, não poderia falar do Gonzo sem falar dessa revolução cultural. Estados
Unidos, fim da década de 60. A rebeldia juvenil toma de assalto <span style="color: black;">a</span> cultura. Os hippies, o abuso de drogas, o amor
livre, o rock psicodélico, as manifestações pacíficas contra a guerra do
Vietnã, as manifestações violentas contra o “sistema” são elementos que
representam uma insurreição juvenil contra a cultura adulta: a Contracultura.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.35pt;">
A
premissa básica da Contracultura era a liberdade em contraposição a todas as
formas de repressão. Assim, os jovens atacaram de frente a família, o
comportamento pequeno-burguês, a tríade pai, pátria e patrão e todos os agentes
de dominação que impedissem a expressão de uma vida que tentavam viver além das
instituições.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.35pt;">
Um dos
maiores símbolos que personificaram essa revolta foi a arte. A arte serviu como
agente de combate, tornando-se porta-voz da Contracultura. A arte, como símbolo
da libertação dos valores adultos, rompeu com as instituições e perdeu seu caráter
elitista, tornando-se pop, ou melhor, popular. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.35pt;">
Assim,
apareceram as performances, os h<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">appenings</span>,
o cinema independente, as publicações alternativas, e, principalmente, o Rock
Psicodélico, que se transformou no grande agente desta cultura. Conjuntamente a
essas manifestações, um Hippie mais letrado e agressivo, um Beatnick menos
afetado e erudito, abraçou o “espírito dessa época” e o transpôs para a
linguagem jornalística, criando o Gonzo Jornalismo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.35pt;">
Como
tudo que foi feito com esse “espírito” de liberdade máxima e sem barreiras, o
Gonzo tornou-se uma expressão radical da liberdade dentro da linguagem
jornalística. O jornalismo antes do Gonzo nunca tinha sido experimentado de
forma tão intensa, e as investidas de Hunter Thompson, seu criador, mostraram
que não existem estruturas que não possam ser <span style="color: black;">rompidas,
pois até essa linguagem, de certa forma rígida, a jornalística, poderia ser
reformulada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.35pt;">
O
Gonzo Jornalismo poderia ser pensado, à primeira vista, como uma extensão do
Novo Jornalismo - esse estilo jornalístico inovador que fez o casamento entre o
jornalismo e a literatura -, mas de forma alguma poderia ser classificado como
tal, pois as inovações de Thompson foram caóticas e agressivas se comparadas
com as propostas do Novo Jornalismo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11.0pt;">O Gonzo Journalism é um gênero que,
apesar de ter se originado a partir do movimento do New Journalism, apresenta
características singulares e, portanto, deve ser considerado de forma
diferenciada.</span></span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; font-size: 7.5pt;">
(</span>Czarbonai, 2003, p.)<span style="font-family: "Verdana",sans-serif; font-size: 7.5pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.35pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.35pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O Novo Jornalismo permitiu que o jornalismo se
renovasse, talvez tenha possibilitado a existência do Gonzo, o próprio Thompson
fez investidas no estilo, mas penso muito mais em outras referências, quando
penso no Gonzo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.35pt;">
<span style="color: black;">Como os Beatnicks (ou Beats, estilo comportamental e
literário já citado no capítulo sobre a Contracultura e Kerouac), que
consideravam que obra não se dissocia do autor, que o autor “deve
transformar-se em uma</span> obra de arte (...), deve ser tão autêntico quanto
um poema” (Vários Autores, 1984, p. 14), Thompson, em seus relatos, se expunha
em primeira pessoa, colocando-se em primeiro plano e, principalmente, agia de
forma singular, mais parecendo um personagem literário - pelo menos de
literatura maldita - do que um jornalista.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.35pt;">
<span style="color: red;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="color: black;">Se o jornalista médio for considerado como o porta-voz de
uma instituição e for feito o seu perfil, provavelmente seria imaginado alguém
que faz o possível para manter uma imagem respeitosa, e Thompson poderia ser
considerado a antítese desse tipo de jornalista. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.35pt;">
<span style="color: black;">Ele gostava de se meter em confusões, falava mal
abertamente do governo e se chocava, sem pudores, frente à moral burguesa</span>
em discursos ou em prática. Seus textos eram recheados de brigas, problemas com
a polícia, uso voraz de drogas e, principalmente, ele falava de forma aberta
sobre tudo isso.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.35pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11.0pt;">E se eu
fosse escrever, por exemplo, que recentemente passei dez dias em São Francisco
e estava chapado constantemente... que na verdade fiquei chapado por nove
noites de dez e que quase todo mundo que lidei fumava maconha com a mesma
casualidade com que bebia cerveja.</span> <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
(...)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11.0pt;">Se existe
uma verdade óbvia sobre as drogas psicodélicas é que qualquer um que tentar
escrever sobre elas sem experiência direta é um tolo e uma fraude. </span>(Thompsom,
2004.p.176).<span style="font-size: 11.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 42.55pt; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 42.55pt; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="color: red;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="color: black;">À primeira vista, se fosse apresentado, na área jornalística, um texto
com uma fala tão amoral sobre o uso de drogas, seria pensado em um tipo de
suicídio de imagem, mas com Thompson aconteceu o inverso. As</span>
transgressões das normas sociais, transcritas em reportagens, deram mais
validade para a primeira pessoa que estava exposta no texto, no caso Thompson,
pois a ação de romantizar a vida marginal e falar abertamente sobre ela é uma
ação típica a boa parte da tradição artística do Ocidente.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Faz
parte da biografia de grandes autores a vida desregrada. Baudelaire fumava ópio
em tabernas parisienses. Rimbaud deu um tiro em seu namorado Verlaine - um
escritor viciado em absinto. Genet, tão vangloriado por Sartre, foi preso
durante anos. Sade foi encarcerado em um hospício, após maltratar e seviciar
prostitutas. Burroughs era homossexual assumido e mantinha relações com
inúmeros rapazes, após assassinar a esposa. Van Gogh cortou a própria orelha e,
anos depois, após uma temporada em hospícios, se deu um tiro. Artaud, além de
ser viciado em morfina, passou mais da metade de sua vida confinado em
instituições mentais. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Eu
poderia enumerar miríades de artistas célebres que viveram uma vida desregrada
e, de certa forma, marginal. E esse estilo de vida foi glorificado e
imortalizado em biografias ou pelos próprios artistas em suas obras, pois
existe um tipo de apreciação, por quem se interessa por arte, pela vida que
vive muito além dos valores e normas sociais da vidinha cotidiana. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Thompson,
no momento em que pôs no papel suas histórias que apresentavam uma vida
desregrada, fez nada menos que se impor no panteão dos autores marginais da
história do Ocidente. Pensando <span style="color: black;">assim, Thompson é
relacionado não apenas aos Beatnicks, mas também a essa linhagem de artistas
tão importantes</span> em nossa cultura. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.35pt;">
Bem,
sei que é estranho estar falando em arte quando me refiro a um estilo
jornalístico, mas o estilo de jornalismo de Thompson excede em elementos que
podem ser associados à arte. Conjuntamente à vida marginal, seu estilo textual
buscava potencialidades estranhas ao jornalismo, como a ficção.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-size: 11.0pt;">O
Gonzo é <span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-ansi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-style: italic;">um
estilo de reportagem baseada na idéia do escritor William Faulkner segundo a
qual a melhor ficção é muito infinitamente mais verdadeira que qualquer tipo de
jornalismo – e os melhores jornalistas sempre souberam disso<i>.</i></span></span><span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-ansi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"> <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></span><span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">(Thompson, 2004, p.46)</span></span><span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11.0pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.35pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
E
Thompson, em uma estrutura em que a veracidade e os fatos são soberanos e o
relato objetivo é essencial, não apenas trouxe a ficção, mas a utilizou ao
extremo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11.0pt;">Para o Gonzo jornalista é permitido
o uso de personagens e situações que nunca existiram, se isso contribuir para
aumentar o nível de informações dispensado ao leitor e conferir maior
dramaticidade à cena que está sendo descrita. É importante também que a
diferença entre ficção e realidade não seja jamais explicitada<i style="mso-bidi-font-style: normal;">.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></i></span></span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; font-size: 7.5pt;">(</span>Czarbonai,
2003, p.) <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-size: 11.0pt;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.35pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.35pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Thompson mergulhava nesse fio que separa
ficção e realidade. Aliás, ele mergulhava na realidade para dela extrair a
ficção, ou quem sabe para criar novas realidades, algo próximo da arte
fantástica em que o “O objetivo não é a representação do real e sim a criação
de um mundo próprio” (Schurian, 2005, p.2) <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Mas o <span class="41"><span style="font-size: 15.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">Gonzo, além de ser uma forma de aumentar os campos possíveis da vida a
partir da fantasia, buscava formas de vida, digamos, “reais”. Thompson correu
atrás de realidades ao extremo. Ele passou anos no Brasil, cobrindo as
movimentações da ditadura. Viveu entre </span></span><span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Hell’s Angels </span></span><span class="41"><span style="font-size: 15.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">por quase um ano. Peregrinou por bairros boêmios norte-americanos durante
diversos meses. Cobriu eventos caretas esportivos junto ao cidadão médio,
tentando extrair da vida banal seu insólito. Ele contatou uma fauna que servia
como ponte para tocar a margem da vida cotidiana. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="41"><span style="font-size: 15.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">Diferente de, digamos, Tom Wolfe, um dos pais do Novo Jornalismo, que
para Thompson: “as pessoas com quem ele se sente a vontade são mais entediantes
que merda de cachorro velha” (Thompson, 2004, p. 49), ou seja, os materiais de
análise para suas reportagens não buscavam certos potenciais da vida tão
prezados pelo Gonzo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Sua
relação com a vida - essa vida marginal - era uma aproximação íntima que
poderia ser associada à forma com que os Beatnicks interagiam com a realidade e
depois a transformavam em literatura. Os Beatnicks não faziam trabalho de
campo, eles não saiam de mochilas pelo mundo para compor personagens, eles
caiam fora da vidinha cotidiana em busca de iluminação, iluminação encontrada
entre negros, marginais, músicos, drogados. Esse contato era tão íntimo que
eles experimentavam a realidade que tocavam.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><span class="41"><span style="font-size: 15.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="41"><span style="font-size: 15.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">Se os Beatnicks buscavam a todo custo a iluminação muito além da vida
careta da classe média,</span></span> Thompson trouxe uma relação íntima com a
vida marginal para o jornalismo, o iluminando. <span class="41"><span style="font-size: 15.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span>E a iluminação do Gonzo feita
com o jornalismo foi extrema, pois trouxe para o jornalismo a anarquia em todos
seus âmbitos, principalmente na linguagem.<span style="color: black; mso-bidi-font-weight: bold;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-style: italic;">Por
quanto tempo manteremos esta situação? - ponderei. Quanto tempo até que um de
nós comece a falar de forma descontrolada e sem sentido com este garoto? O que
ele vai pensar, então? Este mesmo solitário deserto foi o último lar conhecido
da família Manson. Ele fará esta desagradável conexão quando meu advogado
começar a gritar coisas sobre morcegos e gigantescas arraias descendo até o
carro? Se sim - bem, teremos que cortar sua cabeça e enterrá-lo em algum lugar.
É desnecessário dizer que não podemos deixá-lo ir. Ele nos denunciaria
rapidinho para algum tipo de autoridade nazista, que nos perseguiria como cães<i>.</i></span></span><span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11.0pt;"> </span></span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; font-size: 7.5pt;">(</span>Czarbonai,
2003, p.)<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.35pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="41"><span style="font-size: 15.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">Como pensar em qualquer estrutura jornalística em um texto escrito dessa
forma? Drogas, terror, uma liberdade de linguagem assustadora, uma língua
ferina sem medo, sem pudor. Seria mais fácil pensar na língua de um
esquizofrênico, ou na língua de um poeta radical, ou na língua de um pintor de
arte fantástica, e não na língua de um jornalista, proferindo essas palavras,
não?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="41"><span style="font-size: 15.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">O Gonzo foi a grande negação da estrutura jornalística, e a apologia em
prática da destruição dos valores do jornalismo tradicional.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11.0pt;">O gênero tem sua força baseada na
desobediência de padrões e no desrespeito de normas estabelecidas” (...)</span></span><span class="41"><span style="font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-weight: bold;"> “</span></span><span class="31"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11.0pt;">Ao
contrário de outros formatos mais rígidos, o Gonzo Journalism encontra
dificuldades em ser definido com precisão por ser personalizado de acordo com
as demandas e expectativas do escritor... Esta afirmação se relaciona com a
anarquia e libertinagem que o gênero permite, uma vez que não existem regras<i style="mso-bidi-font-style: normal;">.</i></span></span><span class="31"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> </span></i></span><span class="31"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></i></span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; font-size: 7.5pt;">(</span>Czarbonai, 2003, p.)<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "Verdana",sans-serif; font-size: 10.0pt;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span class="41"><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Lembro-me de uma
citação de Deleuze que eu poderia associar ao Gonzo:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span class="41"><span style="font-size: 11.0pt;">Não se perguntará nunca o que um livro quer dizer... não se buscará
nada compreender em um livro, perguntar-se-á com o que ele funciona, em
conexões com o que ele faz ou não passar intensidades, em que multiplicidades
ele se introduz e metamorfoseia a sua (...) a única<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>questão quando se escreve é saber com que
outra máquina a máquina literária está ligada, e deve ser ligada para funcionar</span></span><span class="41"><span style="font-size: 15.0pt;"> (Deleuze, 1995, p.12)<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
E a
quais máquinas o Gonzo estava ligado? Ou melhor, o Gonzo ligou o jornalismo à
quais máquinas? Uma máquina artística, uma máquina marginal, uma máquina
drogada, uma máquina, por que não, <span style="color: black;">revolucionária. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">Pode ser feita uma divisão do jornalismo em antes e depois
do Gonzo, sem exageros. O jornalismo antes do Gonzo ainda permanecia como a boa</span>
imagem de uma realidade idealizada, intocável, harmônica em seu caos, segura.
Depois do Gonzo, o jornalismo apresentou a vida exatamente como ela é: Caótica,
mas formidável.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 45.35pt;">
<br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br clear="all" style="page-break-before: always;" />
</span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">5 </b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">O Jornalismo Vagabundo</span></b><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Inúmeros
elementos me cativaram ao ponto de me inspirar a experimentar um possível – ou,
quem sabe - <span style="color: black;">um<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">
</b>impossível</span> jornalismo. Como foi visto ao longo dos capítulos anteriores<u>,</u>
a obra de Jack Kerouac, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">On The Road</i> e
a Contracultura - mais especificamente os Hippies, o Gonzo Jornalismo, o Novo
Jornalismo, parte da tradição marginal da arte Ocidental e algumas idéias de
Deleuze e Peter Pál Pelbart - foram as manifestações com que dialoguei na
tentativa de justificar o Jornalismo Vagabundo.<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>À primeira vista, essa salada de frutas da
cultura ocidental que criei para legitimar o Jornalismo Vagabundo pode ser
considerada diversa e ampla, mas, pensando bem, ela é de certa forma simplista,
pois eu poderia ter utilizado referências à exaustão. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Dialogar
apenas com essas manifestações culturais me dá a sensação de que deixei muitas
possibilidades de fora. Quantas realidades escaparam de minhas mãos? Quantos
cineastas, poetas, dramaturgos, revolucionários, loucos, jornalistas,
vagabundos, que poderiam ter fortalecido meu trabalho, foram relegados à
indiferença pelas minhas limitações?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Mas
tive que selecionar para tornar legível e acessível meu trabalho, para
formatá-lo ao estilo da monografia. Nesta parte do trabalho eu ponho em choque
com o Jornalismo Vagabundo todas essas manifestações que até agora apresentei.
Espero que, aqui, o Jornalismo Vagabundo seja justificado e (desculpe o
egocentrismo) dado ao mundo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Pode parecer estranho, inusitado ou, no
mínimo, diferente tentar pensar um tipo de jornalismo a partir de símbolos tão
exteriores a ele - aqui, no caso, essa exterioridade é vista nas manifestações
culturais como a Contracultura, a literatura de Kerouac ou a de outros autores
que cito, na escola de pensamento de Deleuze e, principalmente, na arte, agente
que dialogo, em muito, ao longo deste capítulo - mas é exatamente este grau de
diferença que busco. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Acredito
que apenas agentes<span style="color: red;"> </span><span style="color: black;">estranhos
ao</span> jornalismo me permitiriam pensá-lo de uma forma diferente e, assim, visualizar
um jornalismo diferenciado. Quando falo em jornalismo diferenciado, eu me
refiro a um jornalismo que não faz parte do jornalismo diário e cotidiano, do
jornalismo fast food, do jornalismo das grandes instituições, do jornalismo
dominante que compartilha com a moral dominante. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Esse
jornalismo que domina os meios de comunicação e é tão bem interiorizado, de
certa forma, compartilha com elementos que cito como exteriores, como a arte e
a literatura, mas os coloca em um lugar confortável, não permitindo que a
máquina literária e artística realmente se <span style="color: black;">manifeste.
Artes plásticas aparecem em páginas de jornais, mas elas são usadas como um
adorno para embelezar, como se fossem um mero bibelô.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A
literatura, que trespassa algumas matérias, não passa de um artifício para
fingir que a máquina não é tão rígida, nos dando uma sensação falsa de
liberdade. A literatura, que em uma de suas funções permite a viagem do
imaginário, é usada como fuga da dureza da linguagem. Imita-se a literatura,
mas não se vai a fundo nela. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Sei
que é estranho falar em um jornalismo dominante, seria mais estranho ainda se
eu falasse que esse jornalismo dominante faz parte de uma grande mente que tudo
engendra e acaba com a diferença, máquina que impõe segurança ao caos da vida,
mas para mim essa é uma generalização inevitável.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Segundo<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>Deleuze: </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11.0pt;">O
pensamento é fruto de um encontro, o encontro é sempre encontro com o exterior,
mas esse exterior, não é a realidade do mundo externo, porém concerne às forças
heterogêneas que afetam o pensamento, que o forçam pensar, que arrombam o
pensamento para aquilo que ele não pensa ainda, levando-o a pensar
diferentemente<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>(Pellbart, 2000, p.59)
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Para
chegar a esse exterior no jornalismo, para pensar o jornalismo de uma forma
diferente, além de captar os elementos que citei acima, pensei muito na estrada
- agente que faz parte da trajetória de, praticamente, todas as manifestações
que trabalhei até agora. A estrada é o exterior da cidade. A cidade apenas se
move em função da estrada. A cidade apenas se modifica com o contato com a
estrada. O crescimento e o desenvolvimento da cidade dependem dessa relação com
esse seu exterior. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Imaginem
Paris e seus imigrantes africanos que entram na cidade, expandindo as
possibilidades da identidade cultural. Imaginem Porto Alegre dialogando com as
cidades do RS, passando os fluxos de informação política que são decididos no
Piratini. Imaginem os Fluxos da droga que sai do México, o fluxo da moral
provinciana que sai das pequenas cidades dos Estados Unidos ou o Fluxo da
cultura cosmopolita que sai de Londres. Todos esses fluxos que entram e saem
das <span style="color: black;">cidades dependem da estrada.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">Mas existe outra estrada, ou melhor, outro trajeto. Um
trajeto desvinculado dos centros das grandes cidades ou de blocos de regiões -
que são organizadores por serem detentores de unidades de capital, de
personalidade social, de nichos institucionais e de cultura. Um trajeto em que
o movimento é a lei, por não existir possibilidade de se desenvolver uma vida
sedentária e tudo que isso possibilita, como sociedade, Estado, história.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">Um trajeto percorrido por um ser tão desenraizado que não
trabalha, não tem família, nem documento; ser que não pode ser reduzido a uma
identidade única por estar sempre em movimento; ser nômade para o qual as
instituições não importam; ser movido pela busca constante, não para ir ao
encontro, mas para buscar a perda - perda dos grilhões sociais e do eu; ser sem
face, o Vagabundo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">O trajeto percorrido pelo Vagabundo cria uma relação com a
cidade, a partir da estrada, rizomática. O Vagabundo desterritoriliza a cidade,
a cidade reterritorializa o Vagabundo que se desterritoriliza em si mesmo na
cidade. Há uma evolução a-paralela entre a cidade e o Vagabundo. A cidade e o
Vagabundo fazem rizoma em sua heterogeneidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">Segundo Deleuze: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“O
Rizoma é um sistema a-centrado não hierárquico e não significante, sem general
(...) unicamente definido por uma circulação de estados”</i> (Deleuze, 1995,
p.33). A relação do Vagabundo com a estrada e a cidade poderia ser pensada
apenas pela circulação, sem a presença de fatalidades que Deleuze chama de
decalcadas, como: divina, histórica, econômica, hereditária (Deleuze, 1995,
p.22). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">A entrada do Vagabundo na cidade não depende de leis e
ordem. Não há um centro de controle que faça o Vagabundo se movimentar. O Vagabundo
pinta a cidade com sua liberdade e permite uma ampliação de seu campo, permite
um devir-vagabundo, um devir-marginal.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">Poderia ser dito que o Vagabundo reflete a imagem negativa
da marginalidade, a partir de pré-conceitos estabelecidos, mas o que me
importa, para mim, é essa relação saudável, política, estética e rizomática
entre o Vagabundo, a cidade e a estrada. Relação que permite uma alternativa
para as linhas duras das estradas que impõe caminhos pré-estabelecidos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">O Vagabundo poderia ser associado aos Beats e a Keroauc,
mas ele inventa trilhas diferentes. Kerouac e os Beats seguiam uma estrada que servia
para ligar dois pontos. A intenção dos Beats era sair de um ponto inseguro para
chegar a um porto seguro. Explicitando melhor: Eles buscavam na estrada a
iluminação, tanto que se auto-intitulavam “Vagabundos Iluminados” (Vários
Autores, 1984, p. 105). Mas o Vagabundo, apenas vagabundo, sem busca de
iluminação, que não foge do demônio em busca do bom deus, quer um trajeto
apenas de fuga, sem início e sem fim, rizomático.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 189.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">O Vagabundo é um agente importante
em meu trabalho, aliás, não é por nada que nomeei o meu jornalismo de
Jornalismo Vagabundo. Ser Vagabundo, no jornalismo, seria essa possibilidade de
estar sempre em movimento para perder vícios típicos da identidade sedentária
do jornalismo. Fazer rizoma com o jornalismo, buscar alternativas para ele, achar
novas saídas, aumentar o território, buscar uma relação menos nociva, menos
facínora.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 189.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">A estrada comunicacional pode ser
dura, pode ser submissa a unidades essenciais e centros de controle. A estrada
da comunicação pode ser pensada como passagem de fluxos para centros
armazenadores. Fluxos de informações que se prendem e se fecham em estruturas,
no Jornal-reservatório. Mas o trajeto pode ser outro. Ser Vagabundo para pegar
outra estrada comunicacional em que as unidades de controle não mais são
soberanas e não mais importam.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 189.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">Por isso, também escolhi
manifestações que tiveram uma relação com a estrada e com a vagabundagem. Todos
os autores ou manifestações</span> com que trabalhei, como citei a cima, podem
ser associados ao vagabundo, por experimentarem em sua linguagem ou em vida
essa condição.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="color: red;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Jack
Kerouac, como foi visto capítulos anteriores, era um vagabundo, mesmo que
“iluminado”, da literatura e da vida. Na literatura ele criou uma linguagem sem
vínculos com a máquina literária enraizada e sua uma linguagem tão harmoniosa e
fechada em si <span style="color: black;">mesma. A sua prosa espontânea abriu
caminhos estranhos à toda lógica do academismo literário.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Os Hippies
foram os Vagabundos da vida aprisionada da classe-média. Eles se chocaram
contra toda realidade pequeno-burguesa em um gesto violento: a negação de todos
os valores da sociedade adulta a partir da fuga. Deleuze, que cito em alguns
momentos e que esteve presente em minhas leituras durante a composição da
monografia, era um Vagabundo do pensamento, que apresentou possibilidades menos
rígidas e desenraizadas em diversas áreas. Peter Pál Pelbart seguiu os passos
de Deleuze. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Os
inúmeros artistas que servem como referências em meu trabalho, como todo
artista que se preza, eram Vagabundos na arte e na vida.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O Gonzo foi o Vagabundo do jornalismo,
fazendo algo que se assemelha a Kerouac, levando o jornalismo para fora da
prisão da linguagem institucional. Já eu peguei carona com todos esses autores
para, como jornalista, cair na estrada e experimentá-la como Vagabundo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Minha
relação com o Gonzo merece destaque, pelo fato de o Gonzo ser a única
manifestação jornalística que demonstrei certa empatia até agora, e por
compartilhar certas idéias, o que pode levar a crer que o Jornalismo Vagabundo
é uma <span style="color: black;">continuação<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">
</b>do</span> estilo. Não posso negar que Kerouac foi uma influência forte no
Gonzo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Também
Hunter Thompson, o pai do Gonzo, poderia ser considerado um tipo de Hippie
raivoso. Além disso, o Gonzo foi uma expressão radical de choque contra o
jornalismo dominante e, é claro, como citei acima, era uma manifestação vagabunda.
Mas o meu jornalismo, mesmo estando ligado a máquinas semelhantes ao Gonzo,
trouxe novas máquinas e ligações, o que torna nossos jornalismos manifestações
diferenciadas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
O fato
de minhas referências serem Deleuze e Peter Pall Bart, parte da tradição
marginal da arte Ocidental e, principalmente, o fato de eu ser um filho do
século 21, demonstram que nem querendo eu conseguiria seguir o mesmo caminho do
Gonzo. O Gonzo, para mim, não é um modelo a ser seguido e sim um agente de
diálogo e um tipo sensível de inspiração. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Gosto
muito da obra do Gonzo, mas diversos pontos nos afastam. A relação do Gonzo com
as drogas era uma atitude transgressora em sua época, mas, hoje em dia, se
drogar não passa de escapismo, ou seja, uma das maiores marcas do Gonzo, sua
relação com a droga, é, para mim, impraticável. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Além
disso, o Gonzo apresentava uma abordagem política engajada (pelo menos, um
engajamento niilista de choque contra a política dos Estados Unidos, sem
vínculos partidários), o que não poderia ser diferente no contexto da época,
mas, nos dias de hoje, se eu seguisse a mesma linha estaria negando o meu tempo.
Como eu poderia trazer um discurso político se nasci em uma época em que todas
as utopias já haviam sido frustradas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Vivo em uma realidade apática onde o jogo
político é uma brincadeira fascista, com seus nichos e subgrupos - uma
brincadeira para o povo que não difere, em muito, do engajamento dos
apreciadores do futebol - ou seja, a política atual não gera as paixões de
outras épocas, e as vanguardas se interessam por outras manifestações. Como
dizia John Lennon: “O sonho acabou”. Bem, talvez apenas o sonho de uma
sociedade ideal, pois continuo sonhando, aqui, com um novo tipo de jornalismo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Também
o Gonzo tinha uma necessidade quase infantil, talvez originada pelo uso de
drogas, de se chocar contra leis e normas sociais. Ir de encontro às leis que
sufocam o espírito, não aceitar valores sociais são, para mim, atitudes
importantes, mas dá para ser transgressor sem fazer nada ou negando as
estruturas dominantes sem barulho, como no Jornalismo Vagabundo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
É
claro que a infantilização me interessa, mas muito mais a dos Hippies.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Os hippies retornaram à infância para fugir
dos ideais da cultura branca, masculina e, principalmente, adulta. Trago a arte
para a linguagem do jornalismo, uma das propostas do Jornalismo Vagabundo, para
não compactuar com a linguagem rígida e “<span style="color: black;">adulta” do
jornalismo dominante, um tipo de transgressão infantil, uma insurreição jovem
contra o espírito cansado e envelhecido. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">Certos meios de comunicação, hoje em dia, criam estruturas
que impedem e bloqueiam a oxigenação do jornalismo. Parece que o jornalism</span>o
não consegue fazer diferente, não consegue se expandir, se mover - imagem
idêntica a uma cidade sitiada: a cidade da peste de Camus, onde ninguém entra,
ninguém sai e todos estão definhando com um doença terrível e desconhecida, ou
melhor, que não querem reconhecer. Quantas pessoas reconhecem que a estrutura
das redações sufoca e castra o espírito?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="color: black;">O jornalismo que é
lido diariamente é tão fechado que se movimenta, apenas, a partir dos mesmos
eixos. O</span> fazer jornalístico é dependente desses eixos - que seriam
unidades de controle - o que cria uma linguagem redundante, bloqueando as
inúmeras possibilidades de quem escreve.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A
instituição com uma ideologia fixa, o grande eixo de toda redação, bloqueia a
livre expressão. O manual de redações, o eixo da linguagem, bloqueia a
liberdade da escrita. A veracidade, o grande eixo do jornalismo, bloqueia a
criatividade poética. O <i style="mso-bidi-font-style: normal;">lead</i>, o eixo
de toda a matéria, faz algo idêntico à veracidade. Os cadernos com uma
identidade única e o eixo de cada edição bloqueiam os fluxos dos inúmeros
conteúdos possíveis que poderiam ser trabalhados. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A
necessidade de atualidade, a redundância inevitável dos mesmos temas, a
imparcialidade, entre inúmeras fórmulas que pré-existem às edições, são
imposições de que não se pode fugir sem perder o título de jornalista. É claro
que não estou generalizando. Esses exemplos fazem parte do jornalismo diário,
ou de grandes instituições, ou seja, do que considero ser o jornalismo
dominante (sei que utilizo muitas vezes a expressão jornalismo dominante, mas a
redundância é proposital). <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Esses
grandes centros de controle poderiam ser associados à imagem do grande pai que
pune, castra e impede que os filhos - no caso, os jornalistas - cresçam e sejam
autônomos. E o Jornalismo Vagabundo seria uma luta contra o grande pai e suas
leis, situação idêntica a dos Hippies e sua luta contra o rosto paterno. Para
Artaud:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Viver não é existir, mas arrancar da
existência a vida, onde ela esta aprisionada, equilibrada, submetida a uma
forma majoritária, a uma gorda saúde dominante (Pelbart, 2000, p.68)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
E eu
quero esse ponto de desequilíbrio, de libertação, de insubmissão a todas as
formas que o grande pai onipotente, o jornalismo dominante, pode tomar.
Diriam-me que se eu quiser viver como jornalista, eu teria que aprender a me
prender a estruturas, deixar os centros de controle me controlar, ser pacífico
frente à castração de meu espírito jornalístico – espírito que nada difere do
espírito do poeta.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Se
quero me manter filho, eu devo ser honroso ao meu pai, não? Honre pai e mãe, um
dos mandamentos da bíblia. Mas não, prefiro ser Édipo, não para desposar a mãe
e sim para aniquilar o grande pai. Sei que me chamariam de infantil, ou
rebelde, mas isso é verdade, e essa rebeldia, não é apenas minha, não estou
sozinho nessa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Deleuze
considera que:<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11.0pt;">enquanto
um fora é dobrado um dentro lhe é coextensivo como memória, como vida, como
duração. Carregamos em nós uma memória absoluta do fora: é o fora em nós,
reservatório ilimitado que realimenta nosso campo de possíveis e para qual
Simondon reservou o nome grego de apeiron – Ilimitado. (Pelbart, 2000, p. 60)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
O fora
que busco no jornalismo - essa máquina Vagabunda que luta contra todas as
formas de poder - é possível, principalmente, pois o caminho de busca de uma
exterioridade no jornalismo já foi iniciado. Inúmeras manifestações dobraram o
jornalismo com linguagens exteriores a ele – de uma forma produtiva, não a
partir de uma mera imitação supérflua, como faz o jornalismo que critico -
permitindo essa “memória absoluta do fora”, abrindo os campos possíveis do
jornalismo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
O Novo
Jornalismo trouxe a linguagem literária de uma forma mais profunda. O
Jornalismo Gonzo trouxe a linguagem da droga e do delírio.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Na história do jornalismo, o caminho da busca
de inúmeros possíveis é imenso. Zuenir Ventura trouxe uma relação íntima com a
marginalidade. O Jornalismo de Gabeira desvinculou o jornalismo do Estado com
apologias às vanguardas revolucionárias. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Stuart
Home estreitou a relação do jornalismo com a arte. Também diversos artistas
tiveram uma forte ligação com o jornalismo como: Hemingway, Bukowski, o próprio
Kerouac, Rimbaud, os surrealistas, a turma da Nouvelle Vague. Assim, apenas
continuo um processo que já teve início e utilizo dessa brecha aberta, há tempos,
para fazer diferente. Eu toco nessa “memória absoluta do fora” que foi me dada
e que permite que o jornalismo seja um campo muito mais aberto e flexível.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Sei
que escrevendo essa apologia a tipos de jornalismo diferenciados parece que
estou querendo justificar que o Jornalismo Vagabundo é jornalismo. Mas será que
isso importa? Quem sabe, ao fim deste trabalho, nem mais chame o Jornalismo
Vagabundo de jornalismo. Ficaria feliz se ele não fosse rotulado de forma
alguma, que ele tivesse inúmeras possibilidades de nomeações. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Imagine
um jornalismo tão livre, que estivesse em uma metamorfose tão constante, que o
impedisse de criar uma forma definida. Como a identidade de um jovem que está
sempre em construção, “onde a vida se encontra em estado mais embrionário, onde
a forma ainda não pegou inteiramente.”. (Pelbart, 2004, p. 65)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Identidade
idêntica à buscada por, digamos, Kerouac. Lembram do capítulo onde falo sobre
os devires de Kerouac? O cair na estrada do autor que permitia o contato com
diversas formas de vida, fazendo-o sair de sua condição de adulto, branco e
masculino. Kerouac tinha relações com mulheres negras, vivia entre marginais,
contatava artistas, buscava a América que a América não vê. Kerouac cultuava
tal movimento que estava sempre perdendo sua identidade e se transformando. Ele
nada acumulava, vivia como um camaleão, pintando-se com as cores da vida
marginalizada. Bem, ser um camaleão, não ter uma forma definida, talvez seja a
grande utopia do Jornalismo Vagabundo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Efetivamente
prefiro que o Jornalismo Vagabundo não tenha forma a ter apenas uma forma,
principalmente uma forma dura e implacável. Às vezes leio crônicas que fogem da
rigidez do jornalismo, mas que não se perdem da condição da linguagem da
crônica quanto ao gênero. Os cronistas que percorrem as páginas dos grandes
jornais, mesmo com seus textos mais livres, conservam uma imagem conservadora
da crônica, pois negam o fato de que a crônica, em nossa época, se revitalizou
de tal forma, que abriu portas para uma linguagem muito mais ampla e flexível,
a narrativa. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A narrativa
mescla poesia, conto e crônica, sem distinções. Há uma coletânea no Brasil que
saiu em 2003, pela editora Boitempo, “Os Transgressores”, que apresenta essa
possibilidade a mais para a linguagem jornalística e literária.<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>Boa parte dos participantes da
coletânea são jornalistas que, para saírem da linguagem do jornalismo, a
colocaram de lado para irem em direção à liberdade, quase total, da narrativa.
Outros autores são literatos que, para fugir da dualidade prosa e verso, se
lançaram no estilo, que na verdade nem é um estilo, e sim uma condição de nossa
época.<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Em
relação ao cronista típico, aquele que tem um espaço especial nos grandes
jornais, ele brinca de ser adolescente ao trazer elementos mais livres ao
jornalismo, mas só brinca, pois desconsidera a narrativa que, muita mais do que
uma brincadeira, é um jogo transgressor - algo próximo a uma experimentação da
violência da adolescência em um estilo indefinido. Essa brincadeira dos
cronistas traz elementos que dão apenas permissão ao escapismo, que faz com que
a dureza da vida adulta, seja a do jornal, a do cronista ou a do leitor, se <span style="color: black;">mantenha paralisada.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A
crônica no grande jornal é uma dose de uísque para não enlouquecer. Situação
parecida a dos cadernos de cultura, que na verdade estão indexados como
diversão - imagem idêntica a do passeio no parque ao domingo, escapismos
interessantes, mas que fazem parte do interior de ser adulto. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Essa
brincadeira é uma brincadeira perigosa, pois ela é feita em nome de um grande
órgão de comunicação, e apresenta todos os vícios impostos para aqueles que são
porta-vozes de um grande órgão (como citei acima quando falava das
redações).<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Diferencio o cronista
porta-voz dos grandes meios de comunicação do bom escritor, aquele que vale a
pena ser lido, por um simples fato: o escritor (reitero, aquele que vale a
penas ser lido) escreve para si, não em nome de uma organização.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não consigo imaginar um escritor que escreve
em um fluxo que beira ao êxtase, que brinca com as palavras não pensando em sua
utilidade, falando em nome de uma instituição. O bom escritor é aquele que
escreve com prazer. E existe prazer maior que ser livre? Minha vontade é trazer
isso para o jornal: Trazer o prazer da escrita ao desvincular o jornal de tudo
que impede o fluxo do desejo que deseja apenas a liberdade. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Note
que quando falo em liberdade, ela pode ser pensada de diversas formas: uma
delas, como disse, seria escrever livre de qualquer centro de controle; outra
forma seria a liberdade como busca de um outro eu, ou em busca de um outro nós.
Ambas as formas se associam ao Vagabundo, àquele que vive fora do controle e
que não faz parte dessa forma dominante do eu e do nós, aquele que não é,
praticamente, ninguém.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Sei
que parece que estou fazendo uma poética do jornalismo - o que não deixa de ser
verdade. Sei que estou romantizando a função – e é essa a minha intenção. Por
isso, ligo meu jornalismo a essa manifestação tão misteriosa, tão poderosa, a
arte. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Ser vagabundo
no jornalismo é ser artístico no jornalismo. O artista é um vagabundo por
excelência, no sentido aqui utilizado. A produção artística é inútil. Não se
come um quadro, não se faz guerras com poesia, não se constroem cidades com
performances teatrais, situação idêntica a do vagabundo que nada constrói em
sua trajetória. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Para
que serve um artista? Para pintar a realidade com cores fantásticas, permitindo
que a outra face da vida apareça ou se crie. O vagabundo não faz o mesmo? Ele
não pinta a vida, mostrando que ela pode ser diferente, que as grades do
cotidiano podem ser rompidas? Ser vagabundo ou artístico no jornalismo é
permitir que a outra face do jornalismo apareça. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Eu
admiro muito a liberdade da arte. No capítulo sobre o Novo Jornalismo eu
idealizo a literatura, dizendo que ela é a expressão da liberdade por
excelência. Mas não, aqui eu melhor desenvolvo essa idéia, não é a literatura,
e sim a arte que possui esse estatuto de liberdade absoluta. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Tudo é
permitido na literatura, como disse no capítulo anterior, mas apenas na
linguagem literária. Já na arte, tudo é permitido em qualquer linguagem,
material, qualquer objeto pode se tornar artístico, desde que haja a
necessidade de um artista em rotulá-lo como tal. Duchamp mostrou muito bem isso
com o <i><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">Ready Made</span></i>.
Gostaria de poder usufruir dessa liberdade absoluta. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Sim,
gostaria que o jornalismo se elevasse à condição artística. Gostaria de poder
fazer qualquer coisa com o jornalismo. O jornalismo, por ser uma estrutura tão
estagnada, por me oprimir, me impõe esse desejo tão radical. Mas é claro que
esse desejo é simbólico, pois na verdade apenas quero descobrir novas saídas e
entradas no jornalismo também através da arte, como um vagabundo que descobre
novas saídas e entradas para cidades já conhecidas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Foucault
já dizia que a arte havia perdido, há tempos, seu caráter de exterioridade, que
ela havia sido engolida pelo sistema imperial que abole todas as fronteiras<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>(Pelbart, 2000, p.58). Mas gosto de
duas citações: “Se a literatura já não constitui uma exterioridade absoluta, a
experiência limite é preservada e valorizada enquanto uma operação sobre si
mesmo.” (Pelbart, 2000, p.58). “O fora abolido, não faz senão reaparecer como
estratégia.” (Pelbart, 2000, p. 62). <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; tab-stops: 216.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A arte como o vagabundo são estratégias para se atingir um
grau de exterioridade frente a uma linguagem que aparece como “quase” intocável,
o Jornalismo Dominante.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Um professor, em
uma conversa, disse que não acreditava no jornalismo como forma de arte, que a
arte era impossível no jornalismo. Certamente eu discordo, não apenas por ter trazido
exemplos até agora, que não são poucos, mas por uma idealização <span style="color: black;">minha em acreditar que tudo é possível.</span><u><span style="color: black; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></u></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">Negar que o impossível é possível é dizer que não é
permitido fazer, pensar, sentir e amar de forma diferente. Dificilmente
conseguiria me impor em uma grande redação com seus manuais, suas regras</span>,
sua burocracia, suas leis, sua moral e suas ideologias. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas, pensando melhor, lembro de uma citação de
Deleuze: “No coração de uma árvore um novo rizoma pode se formar (Deleuze,
1995, p.24)”, ou seja, em uma instituição com suas raízes profundas, com uma
política rígida, um pensamento mais livre poderia criar uma ruptura e até, por
que não, a transformar<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">. </b><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Apenas
em um regime fascista a diversidade é banida e sufocada, o que não é o caso
preciso de nenhum tipo de jornalismo, pelo menos no Brasil. E se é possível em
uma estrutura profunda o novo, o diferente, o marginal se impor, por que na linguagem
jornalística, que é historicamente flexível, não poderia? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Como
permitir que o jornalismo seja um pouco mais artístico sem destruí-lo?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Como permitir a arte ao jornalismo sem se
prender apenas ao plano simbólico? Sei que não posso fazer uma pintura de arte
fantástica ou versos surrealistas e vender como jornalismo, mas apresento
algumas táticas para deixar que a arte penetre no jornalismo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Uma
dessas táticas é falar em primeira pessoa. Sei que pode parecer datado, todo
mundo usa, o Gonzo nos anos 60, Kerouac nos anos 50, hoje em dia qualquer um
que escreva crônica, de Marta Medeiros ao Scliar, usa a primeira pessoa. Mas é interessante
ter uma primeira pessoa que vê, sente, que toca o objeto o moldando, alguém que
tem coragem de falar por si. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Muito
mais que egocentrismo é um tipo de auto-afirmação. Mas quem seria essa primeira
pessoa? No caso, se fosse um vagabundo, seria um ser livre, um ser em movimento,
que busca a diferença. Um ser que quer ter um trajeto em vida tão interessante
quanto uma obra de arte. Lembro de uma citação de Gregoy Corso:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></i><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11.0pt;">È o poeta
hoje, e não o poema, que deve se transformar em uma obra de arte, que deve ser
perfeito e amável. O tempo exige que o poeta – isto é, o homem – seja tão
autêntico quanto um poema. (Vários Autores, 1984, p.14) <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Falar
em primeira pessoa exige uma pessoa perfeita e amável. Pensando assim, o Jornalismo
Vagabundo torna-se como a literatura de Kerouac uma busca de iluminação. Falando
assim, pareço um antiquado poeta romântico. Mas e daí? Esse é um ideal
romântico. Mas o que realmente importa é que falar em primeira pessoa abre
múltiplas possibilidades para que se saia da realidade dura, tão bem
representada pelo jornalismo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Eu
como, eu cago, eu falo, mas eu brinco, enlouqueço e sonho. A loucura é
permissível a todos. Todos os artistas que venero sempre fugiram do real como
cotidiano objetivo, não apenas em seus textos, mas também em vida. Alguns
artistas clássicos, que foram tão bem interiorizados pela história da arte e
que até representaram poderes em sua época, como a igreja e o estado, tiveram
esse contato com essa exterioridade da realidade sã. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Lembro-me
de Caravaggio, Goya, Beethoven, Mozart, Wilde, Nietzsche, Van Gogh, Sade,
Rimbaud, artistas e pensadores que demonstraram em vida que a vida pode
percorrer estradas muito além da racionalidade rígida e despótica. É claro que
eu não me comparo a nenhum deles, e bem sei que a loucura desses mestres não
foi, para eles, uma glória e sim uma condição dolorosa, mas eles demonstraram
que a loucura pode ser uma estratégia para se criar uma nova sensibilidade. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Trazer
a loucura para o texto, essa exterioridade que é permissível a todos, seria uma
forma de abrir a <span style="color: black;">linguagem, sem sair do grande
símbolo venerado pelos jornalistas, a veracidade. Todo mundo delira de alguma
forma. Muitas vezes, aparece um sentimento muito forte ou a sensação de que a
coesão da realidade se perdeu. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">Isso aparece da forma mais clássica - e reconhecida como
saudável inclusive pela semiótica da cultura - nos sonhos. Imagens de sonhos
são realidades vivenciadas, por todos, que abrem potencialidades isentas da
prisão da realidade. Todos têm essa carga de surreal. E se for trazida essa
linguagem surreal para o jornalismo</span>? Será que descrever essa experiência
seria sair do estatuto de veracidade? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
O
Gonzo, a primeira vista, em seus textos que descreviam devaneios drogados,
trabalhava com a fábula e com a fantasia, fazendo ficção, mas discordo, pois
acredito que seus devaneios drogados não possam ser considerados apenas como
fictícios, pois foram vivenciados. Há aqui uma barreira muito fina entre ficção
e realidade, e jornalismo e arte, talvez uma aproximação que desfaça o dualismo
real e irreal.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A
idéia de sair do real estereotipado e objetivado, ou do que é permitido como
real, a vidinha cotidiana que não sai de si mesma, tão bem interiorizada pelo
jornalismo, é para mim um dos pontos principais da crítica ao jornalismo. Mas
não é apenas nos sonhos, ou nos delírios, ou, no caso do Gonzo, nas drogas que
se atinge um grau de exterioridade frente a essa vida tão bem conhecida e
retratada pelo jornalismo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">Acredito que uma das formas da construção do jornalismo
seria criar outros reais, outras vidas. Não seria apressado dizer que a vida é
apenas o que é conhecido (conhecimento, em boa parte, criado pelo
jornalismo)?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quantas artes são feitas
agora e não são apreciadas?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quantos
jornalismos nasceram e morreram no último século e não foram vistos? Quantas
realidades escapam? E esse escapismo, essa perda da diferença, o que causa?<u> </u>Cria
“seres lentos”? (Pelbart, 2000, p. 59)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Não
acredito que tudo que esteja acontecendo de bom esteja sendo vinculado. Um
adolescente agora compõe um som maravilhoso, no sul da China, que não será
ouvido. Um novo grupo revolucionário cria, em algum galpão na Alemanha, uma
nova revolução que será frustrada. Um artista produz a maior obra desde Picasso
em um hotel barato na Inglaterra. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Grupos
e indivíduos e novas realidades são sufocados, pois ninguém vê e dá
importância. Eu entendo que a vida está aprisionada, que o que é vivido é um
parcela mínima desse tudo, e por isso proponho um jornalismo que vá ao encontro
da vida onde ela esteja aprisionada, para libertá-la.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Lembro dessa citação de Artaud que expus,
acima, quando falava sobre o jornalismo dominante:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11.0pt;">Viver não
é existir, mas arrancar da existência a vida, onde ela esta aprisionada,
equilibrada, submetida a uma forma majoritária, a uma gorda saúde dominante (Pelbart,
2000, p.68)</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Imagine
Jack Kerouac pegando a estrada em direção ao caminho seguido por turistas
norte-americanos. Ele pára em frente à Estátua da Liberdade. Boceja. Depois se
encaminha para a Casa Branca. Faz uma careta. Depois passa na Broadway, na
Disney, nas praias mais freqüentadas da Califórnia e coça o saco. Ou seja, ele
vê o que é visto e sabido por todos, vê o que todos vêem e conhecem, ele vê a
vida de traz das grades.<u> </u>Imaginem <i style="mso-bidi-font-style: normal;">On
The Road</i> dessa forma: seria retrato de uma prisão, de uma vida fechada e
redundante, não?<u><o:p></o:p></u></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
É possível
negar que a vida deva ser uma forma de arte? O gozo, o sexo, o amor, a loucura
sadia não são expressões que se assemelham à arte? Então por que não trazer o
jornalismo para a vida, a vida prazerosa e bela, e beleza aqui não como o belo
fútil, mas a beleza da realidade, com toda a sua dor. Beleza como aproximação
da vida, seja ele boa ou má<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>ou,
simplesmente: Terrível, bela demais, como dizia, o cineasta italiano, De Sica
(Pelbart, 2000, p. 66). <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Não é
toda poesia que cheira à vida, como não é todo o jornalismo que é burocrático e
fascista (ou, em termos mais populares, chato), mas eu busco esse jornalismo
que cheira à vida, e à poesia (à arte). Há tanto a se ver e a se fazer, existem
tantas vidas. Como eu não pegaria uma mochila e a colocaria nas costas, sem
rumo e sem destino, para ir ao encontro de um impossível-possível ilimitado? Por
que, como<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>jornalista, eu negaria
esse ilimitado? Como a obra não se dissocia do autor, se eu não a trouxesse
para a vida eu deixaria de viver.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Assisti,
após o almoço, uma pequena obra prima cinematográfica de Alain Resnais,
Guernica. Em todo o campo de visão da tela, ao longo dos 10 minutos do filme,
apenas se viam pinturas do grande mestre Picasso. A narração, escrita por Paul
Eluard, detalhava poeticamente a história do bombardeio de Guernica - cidade do
País Basco que foi destruída por aviões nazistas em 1937. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A obra
de Resnais criou a dimensão documental em texto e imagem que o acontecimento
merecia. Resnais fez jornalismo. Nenhum documentário ou reportagem teria tanto
efeito quanto o pequeno filme que não era cinema, nem poesia, não eram artes
plásticas, mas era tudo isso e, principalmente, um documento de extrema
importância feito com estilo. <u><o:p></o:p></u></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Exatamente
o que quero fazer com o jornalismo: buscar inúmeras linguagens, discursos,
inúmeras formas de vida.<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>Como eu
negaria as inúmeras formas de arte, manifestações culturais, vanguardas e bens
culturais que estão à minha disposição? Por que não usufruiria delas? A
intenção não é tornar o jornalismo arte, mas sim tentar um abandono de sua
linguagem que permitirá “à morte por esquartejamento da linguagem-prisão”
(Lins, 2000, p.<span style="color: black;">13)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Será que é
necessária uma enorme quantidade de informações para manter a moral bem
conduzida e criar uma noção de como “o real” funciona (engraçada essa palavra,
“real”)? Não desejo que toda a rede de informação</span> seja de descontrole,
dispersão, perda. Não quero o caos. Mas quero que haja a possibilidade de se criar
novas formas de encarar a vida. A informação <span style="color: black; mso-bidi-font-weight: bold;">prêt</span><span style="color: black;">-à-<span style="mso-bidi-font-weight: bold;">porter</span></span><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"> </span>funciona
muito bem como feijão-com-arroz, mas eu quero mais, quero como diziam os Titãs:
diversão e balé. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">6 Notas Sobre a Experimentação em
Jornalismo Vagabundo<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Ao
longo dos últimos capítulos, apresentei um conjunto de manifestações na
tentativa de mostrar como é possível pensar o jornalismo de forma diferenciada
e, principalmente, com a intenção de justificar o jornalismo ao qual me
proponho a experimentar: o Jornalismo Vagabundo. Mas será que o Jornalismo
Vagabundo é possível? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Será
que ele é viável? Talvez o Jornalismo Vagabundo seja apenas a idealização de um
jornalismo mais livre e menos rígido, ou uma crítica agressiva ao jornalismo
das grandes instituições. Mas, mesmo assim, tentei pôr em prática a minha
idéia. Peguei diversas estradas - subjetivas e objetivas - para experimentar
textualmente esse jornalismo que só possui um nome por mera conveniência. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Pensei
muito em como produzir um texto que estivesse à altura de todas as ligações que
fiz até agora. Pensei, principalmente, em criar uma linguagem que fugisse do
Gonzo, pois provavelmente este tipo de jornalismo proposto será associado a
ele, para o bem e para o mal. E a partir dessas reflexões tentei produzir, com
muito esforço e dor, um texto que justificasse minha tese e fechasse meu
trabalho. Se eu consegui chegar aonde queria, só o leitor me dirá, mas posso
dizer que estou satisfeito.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Antes
de apresentar a experimentação em Jornalismo Vagabundo, eu gostaria de falar um
pouco sobre ela e ligá-la aos temas que abordei até agora. Ao longo das
próximas páginas, discorrerei sobre como o texto foi feito, quais métodos
utilizei para compô-lo e, ao mesmo <span style="color: black;">tempo, farei
dialogar os enunciados dos outros capítulos com a experimentação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Minha
proposta de pensar um devir-vagabundo para o jornalismo não poderia estar
desligada da estrada. Por isso, para a composição do texto, em um primeiro
momento, planejei dois tipos de viagem: Uma viagem dentro da cidade de Porto
Alegre – pois sou porto alegrense -, e outra para um país distante, a Espanha.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A
primeira parte do texto relata essa minha viagem dentro da própria cidade de
Porto Alegre, que possibilitou um mergulho em uma realidade que é vista e
compartilhada por poucos. O foco principal dessa parte é um lugar marginal,
talvez o mais importante de Porto Alegre, o ponto da boemia conhecido por
Oswaldo Aranha. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A
Oswaldo Aranha é uma rua do bairro Bom Fim que, desde a década de 80, é o ponto
de encontro de manifestações culturais. Por permitir a expressão da juventude -
aqui, no caso, uma juventude mais marginalizada, despreocupada com convenções e
regras -, esse ponto apresenta uma realidade diferente a da vidinha cotidiana
dos subúrbios e da rotina diária e monótona dos escritórios e das instituições.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Esse
grupo enorme de jovens, que perambula pela Oswaldo todas as noites, dá uma
grande importância para o hedonismo, mergulhando em prazeres permitidos pelo
sexo, pelas drogas e a diversão. Algo muito semelhante à vida, sem regras, que
apresentei nos capítulos sobre a Contracultura, e que está presente no Gonzo e
na obra e vida de Jack Kerouac. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
O
local, por aglutinar<span style="color: black;">, em boa parte, pessoas que têm a
necessidade de fugir de padrões de comportamentos reconhecidos como saudáveis e
que transcendem o que se considera como moral – pelo menos em relação a moral
dominante –, produz, muitas vezes, uma realidade que beira ao fantástico.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Para
apresentar esse lugar, que é a Oswaldo Aranha, fiz algo que se aproxima ao
jornalismo clássico da reportagem. Não precisei usufruir de ficção ou de outros
artifícios. Foi fácil, apenas abri os olhos, ouvi histórias, convivi alguns
dias na rua e a apresentei de forma crua, textualmente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Mas o
texto foge de qualquer estilo comum de reportagem, pois o objeto da narrativa
permitiu uma realidade inimaginável e exigiu uma linguagem à altura, uma
linguagem com uma multiplicidade de visões que pode ser associada à poesia em
prosa. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No capítulo anterior eu digo: <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black;">Acredito que uma
das formas da construção do jornalismo seria criar outros reais, outras vidas.
Quantas realidades escapam? E esse escapismo, essa perda da diferença, o que
causa?<u> </u>Cria “seres lentos”? (Pelbart, 2000, p. 59)<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></i>Quis
trazer essa realidade para o jornalismo, a fim de mostrar que existem outras
realidades e que o jornalismo não precisa ser reflexo do cotidiano típico, ou a
voz superior que mostra a marginalidade de forma paternal ou negativa. Quis
experimentar a Oswaldo Aranha para abrir os potenciais do jornalismo,
apresentando um grau de diferença – no caso, o mais radical possível – que é
permitido a todos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A
segunda viagem, apresentada em um outro bloco do texto, foi criada a partir de
um relato de uma viagem que fiz para a Espanha, e que coincidiu com a produção
da monografia. A viagem pode ser entendida como a fuga da vida a qual estou
enraizado desde meu nascimento. No contexto jornalístico, ela pode ser pensada
como a tentativa de abrir novos possíveis, fazer o jornalismo ir a pontos
diferenciados, algo parecido com a parte sobre a Oswaldo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Também,
como no relato da Oswaldo, apenas abri os olhos e captei o máximo de
informações e as descrevi objetivamente no papel, sem busca de perfis
psicológicos e muito menos de ficção. Não busquei o contato com minorias, não
busquei a marginalidade européia, propositadamente. Pois, como brasileiro, eu
já era minoria. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Descrevo
nessa parte o que contemplei da arquitetura, dos pontos históricos e,
principalmente, da arte. Visitei museus que permitiram o contato com uma
realidade grandiosa – um mergulho na história subjetiva do Ocidente. Dei importância
à arte, pois, como foi visto ao longo dos capítulos, a arte é algo importante
em meu trabalho. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Essa
ligação que fiz com a arte e o jornalismo vagabundo talvez tenha sido a parte
mais produtiva do texto sobre a Espanha. A arte representa essa idealização
minha que tanto falo do tudo é permitido, do ilimitado. A arte permite o
contato com algo de extrema importância, que não tem função, e representa o
trabalho de alguém que vive uma vida marginal, anti-institucional, idêntica ao
vagabundo. Mesmo que a arte que experimentei tenha sido a canônica, ela é
símbolo do excesso de mentes brilhantes que tentam produzir reais
inimagináveis, reais fantásticos, formas de vida impossíveis na natureza,
possíveis apenas em sonhos e no delírio. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Há uma
citação minha no capítulo anterior em que digo: quero <i style="mso-bidi-font-style: normal;">pegar a estrada como um vagabundo para fugir de qualquer tipo de
fórmula pronta.</i> Sim, a arte que contemplei é a <span style="color: black;">histórica
– e a história é algo que considero que seja imposto como uma fórmula pronta -,
mas, no caso, foi</span> um vagabundo que contemplou a arte canônica, e a trouxe
para o jornalismo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Em meu
texto, tentei abraçar arte como se a relação entre o jornalismo e ela fosse
estreita, como se ela não fosse mais um exterior escapista. Eu não só apresento
a arte, eu falo com ela, eu a desconstruo, eu a mastigo, eu a <span style="color: black;">critico, antropofagicamente.</span> O que difere em muito
do jornalismo dominante, que utiliza a arte como se ela fosse um bibelô, uma
forma de consumo e diversão.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Poderiam
dizer que eu deveria ter ido a outros lugares, pra buscar a diferença, mas eu
precisava desses pontos não só para fruir, mas, principalmente, para criticar.
Falo muito na luta contra o jornalismo dominante, e no texto eu continuo essa
luta contra o domínio só que, no caso, contra o domínio da história. A história
que calou e relegou à indiferença inúmeros artistas e formas de vida. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Talvez
pareça que faço jornalismo cultural nesse ponto, mas prefiro dizer que faço
metalinguagem. Uso da arte para falar de arte. <span style="color: black;">Minha
linguagem é a mais livre possível, anárquica, ela não fala em nome de instituiç</span>ões,
é quase uma poesia, uma narrativa agressiva - gênero que citei no capítulo
anterior.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Em outro momento, apresento minha passagem
por aeroportos. Gostei desses pontos, pois eram lugares sem identidade
definida. Fiquei na parte internacional dos aeroportos com miríades de pessoas
de inúmeras raças e países. Essa parte aparece como ponto de transição entre o
Brasil e a Europa, onde eu inicio um processo de perda de minha identidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Mas
não é apenas um ponto onde começo a me transformar, e sim um ponto onde não sou
mais alguém. Não existe uma identidade cultural em aeroportos, pois é um lugar
de todos, onde raças e povos se mesclam compondo um todo heterogêneo. Também
não se criam raízes em aeroportos, pouco se faz, pois é um lugar de transição.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A vida
do vagabundo poderia ser associada a essa condição. O Vagabundo percorre todos
os lugares, não vive uma identidade única, ele nada faz, não cria raízes, sua
vida é apenas movimento. E eu não estou em transição no jornalismo? Ou melhor,
não quero um jornalismo transitório, com uma identidade em constate mutação?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E o que significa trazer uma localidade onde a
lei é o movimento e as culturas se mesclam? Nesta parte eu apresento múltiplas
culturas para tornar o texto um texto sem identidade. Ou seja, a idéia de um
jornalismo fechado e duro, que se dispõe a ser o detentor e representante de
uma identidade única, é destroçada em função da não identidade, ou a abertura a
todas as identidades possíveis.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Além disso, o texto todo é entrecortado com
imagens de sonhos. Essas partes expõem um mergulho em minha estrada subjetiva,
que difere de todo o resto da experimentação. Ao invés de abrir os olhos eu os
fecho. Não que eu olhe para dentro de mim, mas, sim, busco um exterior que só é
permitido nos sonhos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Utilizei
os sonhos como estratégia para compor lugares e cenas, para criar vidas que são
impossíveis na vida dita “<span style="color: black;">real”. </span><span style="color: black; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Há uma citação minha no
capítulo anterior que diz: </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black;">Imagens de sonhos são realidades vivenciadas, por todos,
que abrem potencialidades isentas da prisão da realidade. Todos têm essa carga
de surreal.</span></i><span style="color: black;"> E trazer essa linguagem
surreal para o jornalismo para mim não é um forma de ficção e, sim, abertura
para novos mundos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Se o
Gonzo usa as drogas e a ficção para abrir a linguagem, eu busco novas
realidades, seja nos sonhos ou em outras vidas, nota-se, assim, o
distanciamento do meu jornalismo e do Gonzo. Eu nego as drogas. Não acredito em
um exterior ou em transgressão a partir de seu uso. Nos anos 60 se drogar era
contestatório, nos dias de hoje não passa de escapismo. Quanto à ficção, por
que faria? Esse trabalho é a prova em prática que se pode fazer uma narrativa
aberta, <span style="color: black;">para diversas potencialidades, sem usufruir
de ficção.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Também
há muitas citações que aparecem ao longo do texto. Citações de grandes gênios
da arte, pensadores marginais. Minha intenção era ligar o jornalismo à arte de
uma forma mais agressiva. As citações aprecem quase como um enigma, elas estão
ali do nada, para nada. As citações são como colagens que descontextualizam o
texto, uma herança dadaísta, que quebra com a linguagem jornalística.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
No
texto também há monólogos em que reflito a minha escrita, ou a escrita em um
modo geral. Essa fala marca o texto como sendo autoral, um jornalismo íntimo,
um jornalismo feito com prazer, de forma quase catártica, idêntico ao prazer da
produção artística. Isso reforça a liberdade do texto, que seria impossível em
uma grande redação.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
É
claro que o texto deve ser pensado como um todo. Apresentei-o dessa forma, por
uma simples questão de organização. A viagem em Porto Alegre, a viagem para
Espanha, a viagem dos sonhos e a viagem em aeroportos são a mesma viagem.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O texto é uma busca constante de uma perda do
que representa a dureza do jornalismo dominante. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">Mas, como se verá, o texto parece não ter um fim, parece
que não há conclusões, parece que acaba de uma</span> forma abrupta. Também seu
começo é tão abrupto quanto seu fim.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Por
que finalizaria o texto? Isso não seria uma forma de fechá-lo e impedi-lo de se
mover? Um vagabundo não vive a vida em movimento sem a busca de finalidades?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">Considerando isso, poderia ser pensado no rizoma: uma
multiplicidade que não começa e não conclui, que se encontra sempre</span> no
meio. Segundo Deleuze <i style="mso-bidi-font-style: normal;">buscar um começo,
ou fundamento, implicam em uma falsa concepção do movimento (...) Para onde
você vai? De onde você vem? Aonde quer chegar? São questões inúteis. </i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></b>(Deleuze,
1995, pág. 37)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A
multiplicidade e a linguagem heterogênea impedem a tomada de um
centro-pai-todo-poderoso. Foram as minhas tentativas de ruptura, de perda, de
choque, minha forma de rizomar com o jornalismo, e fazer um mapa com a
linguagem em uma abertura a devires. Não tentei - ou fui - obrigado a
fotografar a realidade a partir de um fatalismo decalcado, seja <span style="color: black;">da linguagem ou da submissão a órgãos de controle.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">Que devires são possíveis no texto? A quais máquinas ele
está ligado? Quais mundos foram criados? Essas deveriam ser as perguntas feitas
ao texto. E não o que ele quer dizer e o que ele quer ser. Todas essas
transições que aparecem no texto demonstram o desejo de fugir de um único
objeto, de uma única só mente, de um único estilo, de uma única linguagem. “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Na verdade não basta dizer Viva o múltiplo
(...) é preciso fazer o múltiplo”.</i> (Deleuze, 1995, p.13)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br clear="all" style="mso-special-character: line-break; page-break-before: always;" />
</span></u></b>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">7</span></b><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Experimentação
em Jornalismo Vagabundo </b></span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">“Qual a sua estrada,
homem? – a estrada do místico, a estrada do louco, a estrada da droga, qualquer
estrada... Há sempre uma estrada em algum lugar, para qualquer pessoa, em
qualquer circunstância.”</span></i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span></span></i><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Jack Kerouac<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Porto Alegre: o Início do Fim <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></i></b><i style="mso-bidi-font-style: normal;">“<span style="color: black;">A arte existe para que a verdade não nos destrua.”<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Nietzsche</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
O Sol
começa a aparecer. O vermelho neurótico queima o céu atrás do estádio do
Grêmio, bem em cima dos cemitérios. Comento com alguém que o Fog avermelhado,
brincando na necrópole, me lembra alguma obra de Blake, talvez o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Inferno de Dante</i>. Acendo um cigarro.
Tusso. Coço minha pélvis. Esfrego meus olhos em um sinal de descrença.
Infelizmente o dia retornou. Escarro uma dose de catarro na rua, lá embaixo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Senhoras
caminham apressadas para conseguir a primeira fila da primeira missa do dia.
Policiais trocam de tom, tornando-se amistosos. Alguns carros, em alta
velocidade, abrigam os restos da noite que agora dorme. A família acorda e se
reúne em seu ritual de sábado. Cães latem. Ratos fazem apenas o que ratos sabem
fazer.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Um gato pula de um muro, para em um beco sem
saída e arranha suas unhas em uma lata de lixo. O gato avista uma velha
senhora. Ambos se encaram em um olhar desdenhoso. A paixão impõe um cheiro
adocicado em quartos de motéis baratos. A paixão, pelo contato com o sol,
retorna a sua forma dura e neurótica. A paixão torna-se amor. O amor conhecido
por todos. O amor simbolizado por uma casa, por filhos, pela grande mãe e pelo
grande ditador: papai. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Eu
nunca amei. Eu nunca amarei. Pelo menos não dessa forma. Tento fugir da
segurança dos conceitos gastos e envelhecidos. Não me permito a segurança que a
realidade impõe. Realidade essa que tanto se conhece. Realidade saudável.
Realidade sana. Realidade redundante que mantém a vida. Recolho-me,
escondendo-me do dia. Que a noite retorne o quanto antes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Sonhos<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Sirenes
transformam-se na matéria da brisa fria. Garotos caminham entre vielas, e
becos, e serpentes, buscando o que nunca será encontrado. Prédios irregulares
tornam-se os alicerces do caos. Caos: estranha e bela essência. Sapos cantam
sua sinfonia cacofônica para o lodo que reina solitário.<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;"> Gandhi</span><span lang="PT"> </span>paradoxalmente
suicida-se. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Uma
criança perde-se entre a relva quente e úmida da boca de Eva. O grande déspota,
o pó branco, se impõe no corpo que não se satisfaz. Uma peça de teatro é
encenada por um palhaço que declama poesias em favor da vida. Monólogo de
patética esperança. O palco italiano se rompe e a platéia participa da
encenação.<span style="mso-ansi-language: PT;"> </span>Cem palhaços declamam
poesias em favor da vida. Mãos sedentas por sangue tremem. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Bonecos
de aço tentam tocar o céu em parques de diversões na antiga Alemanha. Uma
manada de ratos peregrina entre fendas, escondendo-se dos raios solares. Os
raios os perseguem e queimam sua pele dura e seus ressecados pêlos. Narcóticos
são criados para o deleite de veias sedentas e insatisfeitas. <span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">Robespierre</span> morre sufocado no próprio
vômito. <span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Garotos
brancos podem sonhar com o dia em que serão negros. Garotos negros não sonham,
agem. Paris é currada por uma grande construção de ferro. Uma bomba caseira
explode. Um cão vomita. Um soco é desferido. Uma língua sangra. Túmulos são
conduzidos por zumbis anêmicos. Um edifício em chamas grita e sorri. Fantasmas
saem de janelas fechadas e contemplam a cena. Infelizmente, Laio apenas morre
nas mãos de Édipo. Banheiros públicos abrigam belas garças que buscam o contato
com os seus. Bonecas de plástico desfilam em uma praça pública da antiga Roma.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“</i><tt><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Se o louco insistisse
em sua loucura, acabaria se tornando sábio.” </span></i></tt><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">William Blake<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Acordo
no final da tarde. Mais um sábado em Porto Alegre. O verão acabou, faz tempo.
Os moradores de Tramandaí tomam conta da cidade. Nem é inverno ainda. Será que
teremos? Abro o jornal, procurando alguma coisa para fazer. Mais uma vez me
decepciono. Nenhuma peça de teatro. Dezenas de salas de cinema permitem apenas filmes
medíocres. Decido comer alguma coisa. Saio do Menino Deus e percorro algumas
quadras até a Oswaldo Aranha. Paro na Lancheria do Parque.<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Peço o
de sempre: Xis carne sem ovo. Tomo café, enquanto finjo ler o jornal emprestado
de alguém. Dois traficantes sentam-se à mesa ao lado. Estranho não terem me
abordado. Perambulando pela Oswaldo Aranha há quase uma década, é impossível
não ser reconhecido e não reconhecer. Todos se conhecem. Todos sabem quem é
quem. Aqui todos são anônimos apenas para a vida lá fora. A vida das
construções bem construídas; das salas e escritórios; do terno e gravata; do
beijo insípido; da infância castrada; da juventude impedida de ser jovem. A
vida adulta que insiste em ser adulta, com suas estranhas regras e estranhos
vícios.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Mas é
claro que o reconhecimento aqui é outro. Reconhecimento místico talvez gerado
pela droga. Já ouvi falar muito sobre o sexto sentido da narcose, o que não
deixa de ser verdade. Mas droga aqui é apenas um efeito. O contato místico
entre as pessoas - esse contato tão pessoal - é gerado por uma liberdade quase
utópica. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Ás
vezes rola um beijo em uma desconhecida sem precisar de uma palavra. Alguém
começa a falar contigo como se fosse teu melhor amigo. Um baseado aparece do
nada. Grupos se acumulam na rua sem a existência de barreiras. Um grupo
interage com outro grupo que interage com outro grupo, formando um grupo único.
Não é uma quadrilha. Talvez uma matilha jovem que tem muito mais o que fazer do
que tentar seguir pequenas convenções e etiquetas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Quando
as coisas esquentam mesmo, ou seja, sempre, o clima enlouquece. Alguém sai
bêbado da Lancheria e é atropelado por uma ambulância, depois por um carro,
pára junto de nós e diz apático: “Porra, acho que quebrei um dente”. Um rapaz,
louco de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Benflogin</i>, engatinha entre a
massa no Escaler. Algumas pessoas sorriem. A maioria não vê. Um grupo o leva
para comer alguma coisa, naturalmente. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Um
garoto aborda um grupo e pede que digam para policiais, que o perseguem, que
ele passou a noite com eles. O grupo obedece ao pedido. Depois sem perguntarem
o porquê da confusão, se embriagam juntos. Meses depois o garoto começa a
namorar uma das garotas do grupo. 10 pessoas tomam chá de cogumelo e vêem
anjinhos e estrelas, voando em plena rua. Uma briga entre gangues resulta em um
garoto esfaqueado. Garotos, que nunca tinham visto o agredido, levam-no para o
HPS.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“</i></b><i style="mso-bidi-font-style: normal;">O que ilumina a noite? A poesia.”<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span></i>Jean-Luc Godard<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Dois
jovens trocam beijos sobre a grama do Araújo Viana. Pela primeira vez despem
alguém de outro sexo. Ali mesmo, entre o gramado verde, fazem amor. Após alguns
beijos, um rapaz abraça uma garota pelas costas com seu casaco. Em frente à
Redenção, dentro do Ocidente, junto a mais de 300 pessoas, a penetra. Uma
garota, louca de bolinhas, caminha na pista de dança do Ocidente em linha reta.
Cada menino ou menina que aparece em sua frente recebe um beijo. No fim do
trajeto, toda encharcada de suor, contabiliza mais de 10 beijos em pessoas de
sexo indefinido.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A
Oswaldo é o paraíso daqueles que sabem que o paraíso não é freqüentado por
santos e um deus facínora que nada quer. Sim, existem santos na Oswaldo. Mas um
tipo de santidade diferente, conhecido apenas por aqueles que aqui convivem.
Aliás, todos são santos na Oswaldo. Não há hierarquias. Nunca vi alguém pedir
um autógrafo para os mitos da cultura da cidade que freqüentam a rua. As
bandas, que fazem ponto no local, são tão importantes quanto o traficante, o
dono do bar ou o conhecido. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Não se
faz turismo na Oswaldo. Não se vem aqui para se ver estrelas do Rock, e todas
as grandes estrelas estão aqui. Sim, não dá para negar que boa parte de tudo
que aconteceu de bom na arte, em Porto Alegre, teve algum tipo de ligação com a
rua. O rock Porto-alegrense – essa manifestação de extrema importância - é
Oswaldiano por excelência. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Os
Replicantes, a Cachorro Grande, a Graforréia, Nei Lisboa, Edu K, o Defala, a
Ultraman, a Bidê ou Balde, entre tantas bandas, fazem ou fizeram presença nos
bares, nas calçadas, nas ruas, neste ponto que se convencionou a chamar de,
simplesmente, Oswaldo. E não é só o Rock, é a cultura que está presente. Ainda
se encontra o diretor de cinema Carlos Gerbase e sua trupe, tomando uma ceva na
Lancheria. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A
Kátia Sumam e o Frank Jorge estão, quase todas as semanas, no Ocidente com o
Sarau Elétrico. A turma do teatro, poetas, pintores freqüentam o espaço. Se
Kerouac, Hunter Thompson, Rimbaud, os surrealistas, os Beats vivessem em Porto
Alegre, nos dias de hoje, certamente estariam aqui. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Mas
infelizmente só é produzido na cidade sub-estrelas, sub-gênios. Viva o
submundo! Viva a subvida do terceiro mundo! Ser brasileiro é ser marginal. O
que seria então ser brasileiro e freqüentar a Oswaldo? Que tipo de marginal nós
somos? Dizem que a Oswaldo morreu. Bem, Deus também, segundo Nietszche, mas
sabemos que ele continua vivo. A Oswaldo é o símbolo da cidade que mostra que a
marginalidade pode ser jovem e criativa. Exatamente o que o grande rosto
paterno odeia: juventude e criatividade.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Saio
da Lancheria. Paro no Arteplex. Assisto algum filme que não me chama a atenção.
Passo na Cultura para ver se há algum livro interessante para comprar. Poucas
opções como sempre, cheio de gente como sempre. Tomo mais um café. Permito-me
ficar entediado. Arteplex e Livraria Cultura, que coisa mais clichê. Que coisa
mais pequeno-burguesa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Voltarei,
com membros de ferro, a pele sombria, olhar furioso: pela máscara, me julgarão
raça forte (...). Vou ser ocioso e brutal (...) Serei salvo (...) Por ora sou
maldito, tenho horror da pátria.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Rimbaud, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Uma temporada no Inferno</i><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A
criatividade às vezes dá as caras. Eu a encaro, e a beijo e a curro. Delícia
produzir o que eu nunca produzi. Delícia não ser redundante. De onde nascem as
palavras? Eu não penso ao escrever. As idéias vão aparecendo e, quando vejo,
tomaram forma. Forma? Que forma? Forma indefinida. Monólogo louco sem a
preocupação do outro. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Mergulho
na sujeira da beleza ou na beleza da sujeira. Os espíritos rondam, estão por
aí. Eu os absorvo e os transformo não, necessariamente, em algo meu, mas em
algo que eu compreendo. Sou o meu melhor leitor, pois conheço muito bem esses
espíritos que falam comigo. A loucura que produzo é uma loucura muito bem
conhecida, muito bem mapeada. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Outros
que também a conhecem, entendem o que escrevo, talvez tanto quanto eu. Meus
textos não são meus. Não são de ninguém. Talvez nem sejam dos espíritos. Restam
poucos dias para a viagem. Sair do Brasil para ficar um tempo na Europa é um
movimento violento.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Minha primeira
grande viagem. Minha primeira verdadeira caída na estrada. Nem imagino o que
irei encontrar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Muitos
fugiram daqui. Quantos se exilaram do país para viver uma outra vida? Minha
intenção não é tão ambiciosa. Apenas quero cair fora literalmente, por um
tempo. Cair fora dessa vidinha em que estou enraizado. Sinto que meus pés estão
presos nessa terra. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A
mesma cultura há tempos. A mesma identidade compartilhada como os mesmos. Tudo
é igual. As cores estão gastas. Ninguém mais sofre, pois todos estão
acostumados. A beleza da terra é apenas vista por quem vem de fora. O lance é
estar fora. Poderia ir para Amazônia para tomar Peiote. Mas quero o máximo de
distância do país para ver o que acontece. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Os verdadeiros santos eles consideram
loucos, eles é que são loucos.”</i><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Carl
Solomon<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Volto
para a Oswaldo. Uma blitz policial põe rapazes na parede e garotas assustadas
em balcões. Três garotos menores de idade são levados. Para aonde? Para aonde?
Ninguém se assusta. Todos consideram a situação uma ação de rotina. Ação de
rotina ser revistado por um policial armado. Rotina: estranha palavra. Sim, há
uma rotina na Oswaldo; de um lado a da lei; do outro lado a dos fora-da-lei.
Mas quem domina a rua somos nós, os bandidos. Nós tornamos essa terra uma zona
onde tudo é permitido - de preferência um tudo permitido repleto de drogas,
sexo e diversão. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Em
qual lugar dá para se drogar, comprar drogas, se esconder, transar em locais
públicos, dormir na rua como na Oswaldo? Talvez apenas a vida privada, entre
quatro paredes, permita algo parecido. Mas quatro paredes não abrigam centenas
de pessoas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E em um lugar onde tudo é
permitido coisas maravilhosas <span style="color: black;">acontecem. Ainda mais
por esse “tudo é permitido” ser produzido por um bando de jovens. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mudança eu falava.
Corpo em constante construção. Isso é visto nas inúmeras máscaras que os jovens
utilizam na Oswaldo. Punks com jaquetas de couro, cabelo</span> espetado, vinho
barato em uma mão e lata de cola na outra dormem em plena rua. Góticos vestidos
de preto, com olhos pintados e ares afetados declamam poesias de Allan Poe e
sonham com anjos e demônios.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Hippies
anacrônicos, com cabelos Rastafari, fumam a erva sagrada em cachimbos feitos
com as próprias mãos. Black Metals, com caras de mal, bebem cervejas e vivem
como se estivessem em um filme de terror. Moods, com seus terninhos e cabelo
singular, trocam informações sobre as últimas novidades dos anos sessenta.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Emos, a turma mais jovem, brincam de amor
livre e misturam diversos <span style="color: black;">estilos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">E mesmo quem não aderiu a todas essas sub-culturas
envolvidas com a música - mais especificamente o Rock - interage com elas. Pois
o Rock é um dos elos da Oswaldo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Fica a
pergunta: o Rock de Porto Alegre fez a Oswaldo, ou o Rock de Porto Alegre foi
feito pela Oswaldo? Sim a Oswaldo é Rock, e o Rock é jovem. Logo; a Oswaldo é
jovem. Bem, mas isso já foi dito. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Sonhos<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Bebês
vodus dançam em salas acolchoadas pela magia negra institucional. Estranhos
seres de branco empunham chicotes e seringas, impondo para as almas encarnadas
o ópio da inexistência. Ratos de cabelos brancos choram ao relembrar da idade
adulta. Fotos, de todos os grandes poetas, se aglomeram em paredes sujas por um
branco nada inocente. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Fotos,
de grandes gênios da arte, se aglomeram em cima de macas assépticas. Fotos, de
grandes mártires, ofuscam os olhos dos homens de branco, fazendo-os chorar por
saberem que a clausura da genialidade foi o grande genocídio da humanidade. Os
inumanos, vestindo roupas circenses, também choram ao contemplar as fotos e por
terem rompido a barreira, ou melhor, pela barreira ter sido criada. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Lobotomias
são distribuídas a preços módicos. Choques químicos são aplicados em cinco parcelas.
A farmacopéia universal é imposta como a única forma de moldar a humanidade.
Suicídios são proibidos por lei para que o grande suicídio seja imposto
lentamente. Uma vida inteira, de morte contínua, vive entre salões e corredores
fechados por grades de ossos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Início da semana<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“A morte constrói, a morte destrói.”<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Paulo
Martins em Terra em Transe de Glauber Rocha<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Caio
na estrada. Bem, mas uma estrada nada romântica. Nem um pouco parecida com a
estrada dos Beatnicks, a de Rimbaud ou a de Van Gogh. Uma estrada diferente da
que experimentarei nos próximos dias. Saio da Castelo Branco em boa velocidade.
Entro na BR de Canoas. O trânsito fica lento. Um acidente, óbvio. Mais um dos
milhares de acidentes que ocorrem no ponto e que fazem com que se fique parado,
por quase uma hora, em um trajeto de um pouco mais de um quilômetro. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Coloco
um Cd do Ultravox. Acendo um cigarro. Um carro passa em alta velocidade no
acostamento. Como as pessoas podem ser tão infantis? O movimento lento, aos
poucos, torna-se uma velocidade um pouco menos monótona. A linha reta segue
contínua. Um linha reta, sem estilo, sem beleza, sem poesia até São Leopoldo.
Linha reta inútil, sem nexo, sem sentido. Linha reta neurótica que aglomera o
trânsito, as carcaças de ferro e as carcaças de ossos em uma sintonia violenta,
agressiva, doentia. Mas as pessoas têm que ir e vir. Ir da vida para chegar à
morte. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Ou,
simplesmente, continuar seguindo a trilha da morte. Eu sigo a mesma trilha –
sei que estou morrendo. Extrair da dor a poesia, continua sendo doloroso.
Quantas linhas retas escritas. Quantas linhas retas seguidas, para chegar a lugar
nenhum. Sim, há prazer no ato de escrever. Também há prazer – um prazer mais
ameno – quando o outro reconhece o que escrevo. Mas, depois, o prazer acaba. O
texto vira um túmulo. Um retrato do que já fui. Uma prisão do passado. Uma
falsa eternização de um fluxo que não mais serve, que está envelhecido e que
simboliza alguém que já morreu. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Aeroportos e aviões</span></b><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
24
horas enclausurado em estranhos pontos de transição. 24 horas preso em lugares
onde quase nada se cria, se produz e se faz. A regra aqui é esperar ou, no
máximo, consumir. Aliás, qual é a função de consumir? Gastar dinheiro em
bibelôs de consumo nada mais permite que o prazer fantasma, prazer idêntico ao
da droga, e como Willian Burroughs dizia: “Talvez todo prazer seja apenas
alívio, e o que se vive quando se está aliviado é um vácuo que não deixa marca
na terra das lembranças”. (Moraes, 1984, p.65)<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Em
aeroportos e aviões existem apenas dois tipos de alívio: o alívio de não mais
estar ali, e o alívio gerado pelo escapismo que permite esquecer que se está
ali. A função das lojinhas com preços isentos de impostos, das pernas magras e
silhuetas esbeltas das aeromoças, do álcool e dos barbitúricos é aliviar quem
está indo ou vindo, aliviar a espera do contato com o destino - engraçado que
acreditem ainda em destino.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
O
tempo passa de forma dolorosa. Não penso mais com o relógio. O tempo lerdo
macera minha cabeça embriagada, meus pés inchados, meu corpo sujo, minha boca
que pede água, vinho, uma saída rápida para Madri. Sei que ainda tenho que
atravessar o Brasil - ver a pátria de cima, rapidamente, como quem não quer
mais nada com ela, como quem foge dela. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Alguns
venezuelanos de tez escura e faces de traficantes contemplam lojas de perfume,
adquirindo o odor secular francês. Índios chilenos com o corpo rijo, e pequenos
sorrisos e pequenos olhos asiáticos tomam coca-cola e mastigam sanduíches de
presunto, com a calma budista oriunda do verdadeiro sofrimento. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Brasileiros
mal vestidos, sem pudor, deitam-se em sofás, sonhando com o contato com a
Europa. Uma alemã adolescente fuma um cigarro, e troca olhares e gracejos com
jovens uruguaios. Argentinas, com a cara besuntada de maquiagem barata e vestes
espanholas, mostram seus dentes enormes em boçais sorrisos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Um
chileno gay, com a postura universal da homossexualidade, olha para os lados,
para frente, boceja e prende seu foco de visão em meus pés. Um grupo de
Norte-americanos hiper-alimentados, quase gigantes passa rapidamente como uma
manada de elefantes, tropeçando em um grupo de latinos de nacionalidade indefinida.
Aeroporto em Buenos Aires, o início de minha trajetória. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Madri</span></b><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>-
Precisamos continuar indo e não pararmos até chegarmos lá.</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>- Onde estamos indo homem?<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>- não sei, mas precisamos chegar lá.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Jack
Kerouac<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Acendo
um cigarro e tiro fotos da janela do hotel. Em minha frente uma grande rede de
cinemas, a Warner, se petrifica. Contemplo o céu de Madri que cospe <span style="color: black;">um sol pesado de final de primavera. Meus lábios, nariz e
axilas começam a secar. Noto, pela primeira vez, a proximidade do deserto.
Caminho do hotel em direção a Plaza Mayor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A
praça, realmente belíssima, fechada em suas extremidades por uma construção
imponente, apresenta o típico ar patrimônio histórico de Madri. Em tempos
remotos, ela abrigou execuções e julgamentos da Inquisição, e hoje é um dos
corações da vida social da cidade. Uma das máximas de Madri é: “Todos os
caminhos levam a Plaza Mayor”, o que não deixa de ser verdade, pois o <span style="color: black;">número de pessoas é imenso em quase todos os horários do
dia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Japoneses, sedentos
pelo escapismo da cultura milenar Oriental</span>, mesclam-se a espanhóis, de
todo os pontos da Espanha, que mergulham em suas raízes.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Imigrantes do norte da África, que buscam o
esplendor da economia Européia, contatam Norte-americanos que se satisfazem com
a fuga da moral falida de seu país. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Brasileiros
com caras vestes rotas, querendo a todo o custo se desligar da pobre terra,
chocam-se com indianos de largos sorrisos e intenções desconhecidas.
Argentinos, uruguaios, mexicanos, <span style="color: black;">chilenos,
provavelmente, buscam uma possível identidade que perderam há séculos atrás. A
pluralidade</span> de culturas e a raiz espanhola interagem visivelmente,
formando um cenário único.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Além
disso, acrescenta-se a essa fauna heterogênea, inúmeros garotinhos, de visual
rebuscado e olhares nada inocentes, que dão<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">
</b>um colorido especial à praça e à cidade. Esses garotinhos deixam confusos
os passantes, pois fica difícil de distinguir se eles são gays ou, apenas,
metrossexuais. Mas tento confiar em minha intuição: Madri é a cidade que mais
aglomera gays no globo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Sento
no Museo del Jamón – um dos mercados mais tradicionais de Madri - e delicio-me
com um sanduíche de presunto cru ibérico – uma das iguaria mais tradicionais da
Espanha. Depois de quase uma hora tentando diferenciar os nativos dos turistas
e os metros-sexuais dos gays, em uma troca de olhares não tão inocentes, encho
o saco da “terceira praça mais bela do mundo”, e resolvo dar uma caminhada “sem
rumo definido” – uma das máximas de minha peregrinação pela Europa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Os arredores da Plaza Mayor abrigam inúmeras,
quase infinitas, ruinhas, becos, praçinhas e prédios geminados, que compõem um
belo cenário que irei contemplar em boa parte de minha estadia em Madri. Mesmo
apresentando uma arquitetura secular de forte importância histórica, esse ponto
manifesta uma simplicidade singular, o que cria um contraste com boa parte das
edificações de importância mais significativa. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A
maioria das construções apresenta uma estética e função padronizada. Todos os
prédios de, mais ou menos, quatro andares abrigam, em sua parte inferior, bares
e restaurantes com mesas na calçada e, na parte superior, apartamentos
particulares com janelas altas e belas sacadinhas, além de muitos Hostais –
pequenas pensões com preços módicos. Recortando os prédios aparecem ruas, em
sua totalidade, estreitas que impedem o fluxo de carros e são utilizadas,
preferencialmente, por pedestres.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Já é
quase final da tarde. Os bares, mesmo sendo um dia de semana, começam a ficar
cheios. A festa anual de San Isidro, uma das mais famosas da Espanha, trouxe
gangues de garotas e garotos que passam rapidamente com sorrisos, caras e bocas
e dialetos de todo o globo. Vejo um letreiro, em um bar, que diz: Taverna.
Sento-me e peço uma cerveja. Mantenho minha atenção em uma placa que revela que
o bar existe desde o final do século 16. Me junto a alguns garotos. Tomo mais
algumas rodadas de cerveja. A noite é longa, mas esconde-se em algum lugar
negro de minha memória etílica.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Bloco dos Primeiros Sonhos Europeus</b><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">“O que existe de mais cruel que um
pensamento sem freios nem guias, sem limites?”<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Antonin Artaud<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Asiáticos
canibais percorrem o caminho da eternidade, tentando contemplar a imagem de um
deus único que a eles nunca pertenceu. Crianças suicidam-se, em quartos de
hotéis baratos, na tentativa de tornar desconhecida à ingenuidade e à
verdadeira transcendência. Antonin Artaud compõe manifestos líricos e violentos,
em louvor à transgressão subjetiva e social, para destruir e recriar a arte da
cultura ocidental. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Indígenas
vendem seus dentes, e seu orgulho e suas vidas em esquinas, e vielas e becos para
eunucos canibais vestidos de ternos e caretice demasiada. Willian Burroughs
injeta um pouco de tudo em suas veias ressecadas, para criar métodos e loucuras
textuais em contraposição à insipidez do cânone literário. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Ciclos
contínuos de decadência tornam filhos em pais, torturados em torturadores,
vítimas em assassinos, sadios em enfermos, artistas em doentes clínicos, vivos
em mortos em ruas de cidades do México, da Itália e de cantos hiper-povoados de
Marte e Saturno. Godard agride com violência criativa a caretice
pró-holywoodiana, possibilitando ao cinema o retorno a sua função política e
artística. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Um prédio
centenário interage com automóveis bilíngües adolescentes em uma cópula
violenta que faz o céu tremer. O sorriso torna-se ilegal, sendo traficado por
babuínos Hindus em vilarejos do norte da Espanha. Nietzsche declara a morte de
Deus para aqueles que o mataram, tornando a possibilidade de uma eternidade
metafísica em um sofisma velho e decadente. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Fios
de barbas crescem. Unhas quebram. Dentes ganham cáries. Hímens são rompidos. Ânus
são penetrados. Estudantes de todo o universo são enjaulados em um <span style="color: black;">prédio medieval, e recebem finas</span> sabedorias de sapos
semi-analfabetos. Miró cria uma palheta de cores singulares para compor
abstrações lúdicas, impondo ao lirismo da arte outra face. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Gangues
de hidrantes hiper-alimentados cospem urina, e fogo e sangue no panteão da arte
universal.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A verdade é descoberta por um
cão raivoso que arranca a própria língua, pois sabe que a verdade nunca deverá
ser latida. Deleuze luta contra a organização fascista imposta pelo organismo em
cantos filosófico-dançarinos que vangloriam o Corpo Sem Órgãos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Genes,
árvores, bactérias, pedaços de ferro e restos de ossos simulam orgias
intermináveis em ovação ao que restou de eternidade. Tudo é reduzido a nada para,
logo após, o nada tornar-se a imagem de tudo. O impossível torna-se possível - pelo
menos até quando as pálpebras se abrirem e ele voltar a viver como eles vivem.
Charlie Parker desenvolve um estilo de improvisação, em seu surrado saxofone,
que supera os grandes mestres da música erudita.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
O
grande deus ânus engole Londres, Amsterdã, Tóquio, Berlin, São Paulo, Praga e uma
vila no sul da França. Juízes canibais vendem punições por algumas notas de
merda e confiança dúbia. Drogados-homossexuais escondem-se em baixo de viadutos
e contemplam as pregas de seus ânus e os hematomas de suas dermes, como quem
contempla o pôr-do-sol divino. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Jim
Morrison refugia-se em uma banheira de hotel parisiense para dar fim a um ciclo
de produção-autodestruição-transcendência, que renova a música e o
comportamento de inúmeras gerações. Dois garotos encaram-se, reconhecendo a
beleza da amizade e algo mais. Um palácio de carne, repleto de sangue, abriga
três gerações de infames papas. O morto pergunta a Deus qual é o significado da
vida. Deus se cala da mesma forma como sempre ficou calado. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Idosos
edipianos frustrados choram por seus pais terem morrido e, principalmente, por
nunca terem atingido seu grande ideal. Máquinas canibais da revolução
industrial, feitas de ossos, brincam com pequenos bibelôs digitais em praças de
silicone da América sulista. Dois poetas sem pátria, sem famílias, sem
dinheiro, sem nada que os permita serem humanos vendem seus espíritos em
mercados de pulgas na China.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Rimbaud
compõe a maior obra da literatura, em um só golpe, e, logo após, esconde-se na
África, para ser descoberto por estudantes franceses que o conclamam o maior
poeta da história. Neuróticos são condecorados cidadãos modelos em cidades do
norte da Alemanha. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Garotas
púberes felicitam-se por contemplarem manchas de sangue em lençóis de seda
branca, em quartos de hotéis de algum lugar ao lado do céu. Gangues de garotos
de beleza demasiada dançam balé em piscinas de ouro repletas de vaselina e
champanhe. O ilimitado da arte e o impossível dos sonhos: as duas faces da
mesma bela moeda. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span>“No coração de uma árvore um
novo rizoma pode se formar”<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Gilles Deleuze<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Velásquez,
José de Ribeira, El Greco, Goya, os Brueghel, Caravaggio, entre tantos artistas
consagrados, tornam o Museu do Prado - o museu mais renomado da cidade e em
atividade desde o início do século 19 - ponto obrigatório para quem busca a
face estética do Ocidente. Boa parte das obras expostas representa a arte que
foi permitida ser histórica por ser reflexo do desejo de entidades superiores
do passado, como os reis e a igreja.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O
Prado é a antítese da simplicidade, do efêmero, e, principalmente, um símbolo de
eternidade de um país com uma história gloriosa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
E essa
história gloriosa e intocável, a história dos reis, do clero, dos grandes
feitos e efeitos, que está registrada em forma de arte no museu, permite que os
sonhos coletivos se desliguem do presente em função de um passado idealizado.
Ouço muito falar que o presente é uma degeneração do passado, talvez seja, mas
percebo esse sentimento como sendo retrógrada e conservador.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
É muito
fácil deitar a cabeça em fórmulas prontas. A segurança que a história permite é
muito menos dolorosa que a insegurança dos passados, presentes e futuros que
não foram e não serão registrados. Quantos artistas foram calados, esquecidos
ou simplesmente não foram vistos? O trono da história é uma cadeira elétrica em
que nos sentamos e morremos. A vida não é um livro de história. A arte não se
resume a uma museu. A realidade não é uma, ela é várias. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Pasmo
diante de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">As Meninas</i> de Velazquez,
das pinturas negras de Goya, do surrealismo religioso de Bosh, dos excessos de
El Greco, da luz e sombra de Caravaggio, a beleza dessas obras é inegável. Mas
acredito que outras coisas estejam acontecendo, sei que outras coisas
aconteceram. Por que daria mais valor ao que está exposto com o símbolo de
eterno?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Os milhares
de turistas, sedentos por fotos e por saciarem seus sonhos eróticos de
história, conjuntamente a uma sensação de impotência – por estarem presos a uma
realidade dura e perfeita demais - me jogam para as ruas novamente. Volto para
os arredores da Plaza Mayor. Contemplo as antigas construções que abrigam
simples mortais. Paro novamente na Taverna existente desde o século 16, sabendo
que o rei e aqueles que escreveram a história nunca a conheceram.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Sento-me
e escrevo algumas linhas em guardanapos de papel: Não posso negar o êxtase de
contemplar a bela arquitetura da cidade, suas catedrais, palácios, museus,
inúmeras fontes, esculturas majestosas e jardins imensos que, em muitos locais,
banem as edificações da atualidade. Não há como sair ileso do contato com essa
realidade que parece perfeita demais para um brasileiro. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Obviamente,
como todos, tenho aquela necessidade de abundância e de busca de um êxtase
superior. Esse sentimento me leva, muitas vezes, a buscar os grandes reis e
Deus, ou qualquer coisa que me faça superar minha condição mísera de detentor
de um corpo limitado e de uma existência frágil. Mas, mesmo assim, pensando
bem, fico com o banal, o carnal, o que posso tocar ou destruir, o que irá me
amar ou me odiar em uma recíproca de ossos e sangue, não de concreto e papel. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">“A fragilidade do escritor não é psicose,
mas porosidade ao excesso”, e “os caminhos do excesso levam ao palácio da
sabedoria”. </i><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span></span><span lang="EN-US" style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: EN-US;">Peter Pál Pelbart encontra William Blake<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Manhã
quente. Sol majestoso. Céu supra-azul. Garganta, lábios e narinas ressecados.
Olhos abertos e hiper-dilatados tentando contemplar tudo, perceber tudo aquilo
que as mãos virgens podem e devem tocar. Tocar o céu não é mais a busca, pois
qualquer elemento, o mais mínimo e fútil que seja, apresenta-se como a porta
para a transcendência. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Sinto-me
em um estranho céu. Percebo-me como um estranho anjo. Estou em um êxtase, tão
expressivo, que me sinto um cristão psicótico. Contemplo algum deus estranho
nas ruas de Madri, e ele me mostra sua face. Espero que a explosão dos sentidos
comece a se dissipar. <span style="color: black;">Sinto que absorvo mais do que
posso.</span> <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Saio
dos arredores da Estación Norte<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>de
ônibus. Desço perto do Museu do Prado. Percorro jardins, e parques, e ruas e
prédios que confirmam que há beleza em cada ponto da cidade. Caminho alguns
poucos quilômetros e chego ao Museu Nacional Reina Sofía. O museu, em sua
fachada, apresenta uma construção antiga adornada por torres e elevadores
futuristas; no interior, a memória da arte moderna e contemporânea descansa
majestosamente. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Ponce
de Leon y Cabelo é representado por sua obra prima, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Acidente</i>, um quadro que mergulha no lirismo da violência. O grupo
Equipo Crônica brinca com a Pop Arte, permitindo juventude e vitalismo para a
herança de Warhol. Instalações de vídeo contemporâneas dialogam com o high
tech, impondo uma fruição catártica.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Quadros
negros de Dali, quase como uma paródia de Goya, apresentam a face mórbida e
poética do mais famoso e comercial dos surrealistas originais. Tanguy, Masson,
Léger, Delaunay, o grande Juan Gris, entre tantos, mostram que o cânone
artístico, às vezes, se permite dar espaço para manifestações mais
transgressoras. É difícil impor para a arte um controle total - seja moral ou estético
-, pois a arte é um reflexo de um grau de exterioridade, que beira a loucura,
próprio ao artista.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;">È possível pensar sem enlouquecer?</i><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span></i>Gilles Deleuze <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Miró é
representado por algumas poucas obras. Seu estilo singular, criado a partir de
uma palheta de cores íntimas, produz um choque contemplativo. Roxo decadente.
Preto de vidência. Branco eterno. Laranja esquizofrênico. O vazio com excesso
de sentidos. Silhuetas mágicas. Linhas que dançam. As linhas de Miró não são
meros artefatos para compor um ambiente lúdico,<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>como muitos críticos da arte dizem, muito menos são o reflexo de
uma dança infantil, como diziam seus colegas surrealistas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Elas
simbolizam as veias do corpo humano. Veias portadoras de toda a dor gerada pela
consangüinidade primitiva e guerreira. Veias cheias de sangue. E o sangue não
mais como mantenedor da vida e, sim, como expressão da morte. O sangue da
guerra. O sangue que escorre do corpo dos vencidos e que é bebido pela boca dos
vencedores. A Guernica de Picasso, que está no andar de baixo, não se compara à
dor que contemplo nas obras de Miró.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 36.0pt; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-indent: 42.55pt;">
<i><span lang="PT" style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT;">"Se as
portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é:
infinito."</span></i><span lang="PT" style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>William Blake<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Penso
em tomar um ácido ou fumar um singelo baseado, corromper o corpo com um
fantasma quente e psicodélico, mas não, já estou preenchido o suficiente, já
estou extasiado o suficiente, já estou em um estado que a lisergia não poderia
superar. Estou chapado de cara, o que permite o aparecimento de linhas de fuga
com o mero abrir de meus olhos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Não
sei que horas são. Joguei fora o relógio. Mas não estou perdido, isso apenas
acentuou o grau de absorção da nova realidade, desmascarou o tempo louco que
agora faz parte de mim. Provavelmente, Madri me esperava para formar canais que
levassem para as portas de um corpo que pré-existia em mim. Talvez o corpo que
vive ao lado do infinito.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Novos
passados, vidas não vividas, genes mutantes percorrem o meu corpo em um fluxo
maravilhoso. Nada mais tenho - apenas a sensação de perda constante, perda de
tudo que me fez ser eu. Não tenho mais pátria. Eu sou o filho do general que eu
mesmo venci. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
O que
me move é o movimento incessante. A liberdade não poderia ser mais deliciosa e
violenta. Sou um xamã em estado de vidência. Apenas contemplo, não reflito,
experimento.<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"> </span></b>Não sou mais eu que falo, é o mundo que fala, não
por mim, mas em mim.<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"> </span></b>As sensações que me
percorrem poderiam ser associadas à fruição artística. Sou um apreciador de
arte em frente a uma obra prima. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Mal
consigo respirar pela grandeza dessa obra de arte que contemplo e que,
principalmente, vivo. E ela não tem função - arte vagabunda -, pois tudo que
faço é efêmero. Aqui não produzirei raízes. Não criarei nada que seja
utilitário. Não me fecharei em nenhuma estrutura. Sou um anarquista satisfeito.
Sou um estranho receptáculo que abocanha tudo, e digeri e defeca em papel o que
está sendo lido por você agora. Te olhei nos olhos. Sorria. Estamos próximos.
Um pouco mais poderias ganhar um beijo ou um tapa na cara. Não, caro leitor?<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>"<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Para
qualquer lugar! Qualquer lugar! Desde que eu saia deste mundo!" </i><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span></i><span style="color: black; mso-bidi-font-weight: bold;">Charles</span><span style="color: black;"> Baudelaire</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Encaminho-me
em direção a Toledo. A paisagem flat é praticamente desértica. As formações
rochosas e o solo apresentam uma cor esbranquiçada idêntica a Marrocos de minha
memória televisiva. O céu, talvez pelo clima seco, brilha e apresenta uma cor
azul bebê e pequenas nuvens branquíssimas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
A cidade
fica em uma colina. O rio Tejo a defende em sua parte inferior.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Uma ponte secular faz ligação entre a cidade
e sua periferia. Percebe-se que ela foi construída estrategicamente. O ponto
mais alto é composto pela torre do que parece ser uma catedral. A cidade é um
dos centros históricos da Espanha. Ao longo dos tempos, foi fortaleza romana,
capital visigótica no século e capital medieval do país. Sua arquitetura mescla
diversas culturas e épocas. Mas, infelizmente, nos dias de hoje, ela não ficou
ilesa ao capital. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Miríades
de pontos comerciais acumulam a praga universal – turistas sedentos por fotos e
sua necessidade de fugir do presente.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Lojinhas de quinquilharias, bares, restaurantes e lojas de artigos
típicos maceram a harmonia da cidade, impedindo a fruição total do que deveria
ser um patrimônio universal intocável.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Faço
uma visita guiada, pois seria inviável alugar um carro e viajar os quase 150
quilômetros que separam Madrid de Toledo. Alguns turistas me acompanham.
Percorremos algumas ruinhas muito mais estreitas que as de Madri, mas de estilo
parecido. Belos prédios, com mais ou menos dois andares, abrigam residências,
mas o choque visual se apresenta na contemplação das construções de maior
porte, principalmente as igrejas e catedrais. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
O contato
com a vida religiosa de Toledo me excita. Sinto que, aos poucos, fico mais
flexível, permitindo-me absorver um tipo de cultura que nunca me interessou.
Paro em frente à Catedral de Toledo. Nunca havia contemplado uma construção
religiosa de tal porte. Noto que a torre que assistia, de longe, faz parte da
catedral – o local mais próximo do céu e de Deus de Toledo. Uma enorme torre
gótica, do século 15, com belos adornos que sugerem espinhos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Direcionam-nos à igreja de San Tomé. Em sua
parte interior está a obra prima de El Greco, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Enterro do Conde Orgaz</i>. Contemplo a obra, e absorvo o excesso de
símbolos. Céu, inferno, terra, representados em cores nada sóbrias, adornam o
tema, de certa forma, mórbido. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Continuamos
caminhando, rapidamente. Paramos em mais algumas igrejas. Entramos em um museu.
Os turistas que me acompanham parecem nada interessados no que vêem, fazendo
piadinhas sobre assuntos diversos, ou demonstrando-se mais interessados nas
lojinhas e bares que maceram o corpo de Toledo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Em
determinado momento, quando paramos em uma praça, um grupo de adolescentes
começa a soltar algumas frases em um tom de voz nada baixo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Aos poucos, o tom aumenta e torna-se
gargalhadas histéricas. Quando nos distanciamos, os garotos visivelmente
começam a gritar adeus, em diversas línguas, para nós. Os garotos eram nativos
da cidade, e, com todo o direito, deveriam estar irritados com a nossa presença
e a de todos os turistas que tornam Toledo uma obra de arte <span style="color: black;">deformada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sinto vontade de
voltar a Madri ou, quem sabe, me direcionar para Londres, Paris ou para
qualquer lugar do globo. Quem sabe uma tarde high tech em Tóquio, ou uma noite
regada de vinho em Florença, qualquer lugar que me permita viver minha vida
efêmera de vagabundo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Agora
sei que posso continuar indo para qualquer lugar, tenho esse poder. Não irei
mais me prender em rotas definidas. Voltarei novamente para Toledo, mas
anônimo, anônimo como um vagabundo - sem pátria, sem identidade, com um nome em
constante mutação.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br clear="all" style="page-break-before: always;" />
</span></u></b>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>8</b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Considerações Finais<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Talvez
tenha sido inusitado ou, no mínimo, diferente tentar pensar um tipo de
jornalismo a partir de símbolos tão exteriores a ele, como essas manifestações
que trabalhei: a Contracultura, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">On The
Road</i> de Kerouac, a escola de pensamento de Deleuze e, principalmente, a
arte. Mas é exatamente esse grau de diferença que busquei.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Tive a necessidade de extrair elementos e <span style="color: black;">agentes estranhos ao</span> jornalismo, para pensá-lo de
uma forma diferente e, assim, visualizar um jornalismo diferenciado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
De
certa forma, essas manifestações podem ser pensadas como interiores ao
jornalismo. Os Hippies, Kerouac e, até mesmo, Deleuze e Peter Pál Pelbart podem
ser encontrados no jornalismo cultural, mas quis fazer uma ligação íntima e
ativa. Não falei apenas sobre essas manifestações e, sim, as introduzi em meu
jornalismo. Tentei pôr em prática os conceitos dessas manifestações. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Considero
que, principalmente, minha ligação com a arte foi muito mais que íntima. Tanto
em meu trabalho de crítica ao jornalismo dominante, quanto no trabalho em
prática, a arte esteve presente não mais como um interior confortável, mas,
sim, aberta em suas potencialidades, em sua condição de exterioridade.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Quanto
ao Vagabundo ele atravessa todas essas manifestações. O vagabundo pode ser
associado a todas elas como posicionamento frente à vida, ou à obra. Pois como
cito: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Jack Kerouac era um vagabundo da
literatura e da vida. Na literatura ele criou uma linguagem sem vínculos a
máquina literária enraizada e uma linguagem tão harmoniosa e fechada em si
mesma. A sua prosa espontânea abriu caminhos pra uma linguagem marginal, em
movimento e sem centro, estranha a toda lógica do academismo literário.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Os Hippies foram os Vagabundos da vida
aprisionada da classe-média. Eles se chocaram contra toda realidade pequeno-burguesa
em um gesto violento: a negação de todos os valores da sociedade adulta a
partir da fuga. Deleuze, que cito em alguns momentos e que esteve presente em
minhas leituras durante a composição da monografia, era um Vagabundo do
pensamento, que apresentou possibilidades menos rígidas e desenraizadas em
diversas áreas. Peter Pál Pelbart seguiu os passos de Deleuze. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Os inúmeros artistas que servem como
referências em meu trabalho, como todo artista que se preza, eram Vagabundos na
arte e na vida.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O Gonzo foi o Vagabundo
do jornalismo, fazendo algo que se assemelha a Kerouac, levando o jornalismo
para fora da prisão da linguagem institucional. Já eu peguei carona com todos
esses autores para, como jornalista, cair na estrada e experimentá-la como <span style="color: black;">Vagabundo. <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">Caí na estrada como um vagabundo para viver o movimento,
para fugir de todos os vícios que me nego a compartilhar. Minha crítica ferina
tentou não se calar por nenhum momento. Ataquei de frente as estruturas
viciosas da mente sedentária das instituições jornalísticas. Mente que cria uma
realidade mascarada e absurda.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">Minha linguagem em prática tentou negar</span> todas as
regras e fórmulas prontas. Não há lead, não há rosto paterno, não há centros de
controles em minha experimentação. Meu pensamento tentou ser o mais amoral
possível, anárquico e insubmisso ao grande pai todo poderoso o “jornalismo
dominante”, e não só ele, mas, também, a vida que ele tanto reflete. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Desequilíbrio, libertação e insubmissão a
partir de um espírito que nada difere do espírito do poeta.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Jornalismo-poeta. Língua marginal e sem
freio. São tantos os símbolos que vejo ao pensar em toda essa jornada. Símbolos
que me levaram a um extremo. Não irei justificar se o Jornalismo Vagabundo é
jornalismo. Porque não importa. Ficaria feliz se ele não fosse rotulado de
forma alguma, se fosse possível inúmeras nomeações. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Acho
que consegui isso: Um jornalismo livre, em uma metamorfose tão constante, que o
impede de criar uma forma definida. Como a identidade de um jovem que está
sempre em construção, “onde a vida se encontra em estado mais embrionário, onde
a forma ainda não pegou inteiramente.”. (Pelbart, 2004, p. 65)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Identidade
idêntica à buscada por, digamos, Kerouac em sua abertura a devires negros,
marginais, vagabundos; aos hippies e sua negação extrema que os fez cair na
estrada sempre fugindo como ciganos; ou a cabeça do Gonzo e sua metamorfose
drogada. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Gostaria de poder fazer qualquer coisa com o
jornalismo. O jornalismo, por ser uma estrutura tão estagnada, por me oprimir,
me impõe esse desejo tão radical. Mas é claro que esse desejo é simbólico,
pois, na verdade, tentei descobrir novas saídas e entradas no jornalismo, como
um Vagabundo que descobre novas saídas e entradas para cidades já conhecidas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">Trouxe os sonhos para linguagem, pois os sonhos permitem
potencialidades impossíveis na mísera condição humana. Ou melhor, permitem
devires possíveis e potencialidades isentas da prisão da realidade dura.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black;">Tentei criar e
buscar outros reais, outras vidas. Como já citei: Não seria apressado dizer que
a vida é apenas o que é conhecido (conhecimento, em boa parte, criado pelo
jornalismo)? Quantas artes são feitas agora e não são apreciadas?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quantos jornalismos nasceram e morreram no
último século e não foram vistos? Quantas realidades escapam?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: black;">Como eu negaria formas de arte, manifestações culturais,
vanguardas e bens culturais que estão a minha disposição. Por que não
usufruiria</span> deles? Fiz tudo isso para tentar fugir da linguagem prisão da
vida prisão, dos clichês, da realidade simples e redundante. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Será que consegui? Acho que sim.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Mas é
claro que não cheguei a grandes conclusões. Não há moral da história. Meu
trabalho não tem fim, seu início apenas faz parte de um processo. Havia um
grande ideal, sair do grande jornalismo como eu disse, mas isso não deveria ter
me importado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A narrativa que cito, esse gênero tão liberto
e atual que nem mais é um exterior na literatura, faz isso. A garotada em blogs
faz isso. Mas, infelizmente, tive que atacar o jornalismo, pois ele é um
símbolo poderoso. Como tive que atacar os centros de controle da vida por
simbolizarem o mesmo. Estou feliz com esse ensaio longo, poético, mas também
didático, sem provas cientificas, filosófico, amoral, que defende meu ponto de
vista pessoal. Não apresentei provas empíricas ou de caráter cientifico, mas
acho que não precisava.<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Referências<o:p></o:p></span></b></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
CZRBONAI, André Felipe
Pontes. Gonzo o filho bastardo do New Jornalism. Monografia apresentada no
site: <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<a href="http://paginas.terra.com.br/arte/familiadacoisa/IRD/monogonzo01.html.%20Porto%20alegre.">http://paginas.terra.com.br/arte/familiadacoisa/IRD/monogonzo01.html.
Porto alegre. </a><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>2003.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">DELEUZE, Gilles. Mil platôs. Traduçao de Aurélio
Guerra Neto. São Paulo: 34, 1995. 93p.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
HOME, Stuart. Assalto à
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<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">KEROUAC, Jack. On the road. </span><span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">Tradução de Eduardo Bueno. Porto Alegre: L&PM,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">2004. 380p.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">KLINGSOHR-LEROY, Cathrin. </span>Surrealismo. Tradução
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<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
LINS, Daniel. O artesão do
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<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">PELBART, Peter Pál. A vertigem por um fio. São
Paulo: Iluminuras,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>2000. 221p.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
ROSZAK, Theodore. A
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301p.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
SCHURIAN, WALTER. Arte
Fantástico. Tradução de Pablo Alvarez. KOLN: Taschen, 2005. 95p.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
VÁRIOS AUTORES. Alma Beat.
Porto Alegre: L&PM, 1984. 185.p. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
WHITMAN, Walt. Folhas das
folhas da relva. Tradução de Geir Campos. São Paulo: Brasiliense, 1983.141p.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
WOLFE, Tom. Décadas
Púrpuras. Tradução de Luiz Brandão. Porto Alegre: L&PM, 1989. 491p.<o:p></o:p></div>
<div style="mso-element: footnote-list;">
<!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="file:///C:/Users/Diego/Downloads/______________________________________________MONOGRAFIA_PRONTA_ENTREGAR_8_NOV_.doc#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> <span style="font-size: 11.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span>estilo
literário e comportamental que aparece na década de cinqüenta, nos Estados
Unidos, e que teve uma repercussão imensa em todo Ocidente, pois foi o primeiro
grupo a ter tiragens de livros de poesia que chegaram a milhares, além de ter
como seu maior expoente, Jack Kerouac.<span style="font-size: 11.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<br /></div>
</div>
</div>
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-69926140011131983002019-01-10T05:28:00.005-08:002019-01-10T05:28:59.291-08:00na compra do livro vc ganha um mini livro de brinde <br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 106%; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 106%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 106%; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 106%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 106%; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 106%; mso-fareast-font-family: Calibri;">OUTRO
LIVRO – EXPERIMENTOS DE AFAZIA<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 106%; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 106%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 106%; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Sobre a escrita apresentação do texto: Já tentei inúmeros tipos de
estilos desde quando comecei a escrever. Meu primeiro trabalho era de contos
sobre realidades delirantes. Em determinado momento escrevi um livrinho de
poemas médios, conceituais todos com linguagem de rua, mas que não funcionou e
ficou esquecido. Amadureci meu trabalho com um livro de crônicas, também
conceitual, que se centra em minhas experienciais principalmente na
adolescência. Esse livro joga com a linguagem de rua, traz situações
descontroladas, pode ser lido de qualquer forma, já que não tem um centro. O
estilo difere do estilo das crônicas do terceiro capítulo, mas há proximidades.
Como já disse na primeira parte do outro livro, este é uma linha de fuga, um
aumento de território, a tentativa de produzir o descontrole, de enlouquecer
pelo menos na língua. Deleuze fala em gagueira, estrangeirismo na própria
língua, aqui não invento uma nova língua, mas fujo dela dentro dela. As muitas
gírias, expressões de rua mostram a maleabilidade dela. Certas turmas em certas
estações, certos guetos em certas estações, os jovens, os marginais, os
drogados fazem isso, criam expressões que só tem sentido para eles nesses
momentos, e isso é poesia, considerando poesia como um devir menor da língua.
Eu uso muitas expressões dos inúmeros guetos que pertenci, e aliás, mesmo sendo
doutor eu não consigo fugir de certos vícios de linguagem de rua, quando falo,
seja em aula, palestra, o que for. E não só em relação as expressões, alguém
chapado de maconha, morfina tem um ritmo de fala diferente, mas lento, pausado,
baixo, calmo. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Alguém louco
de cocaína ou anfetamina tem uma fala rápida, dura, pouco pausada, direta, e
muitas vezes uma fala que não para nunca.</span> Quem está louco de coca não
quer parar de falar, por isso, conta histórias em detalhes, os mínimos detalhes
para prolongar ao máximo a fala, para falar mais.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A ideia do texto que segue surgiu quando eu com frequência comecei a
pensar em frases sem sentido. Me perguntei se seria possível escrever um texto
de pelos menos duas páginas com frases do tipo. Fiquei espantado que escrevi de
forma fluida o que será apresentado posteriormente. Me parece que é uma escrita
homogênea: há um ritmo em todo o texto, o escrevi tendo um ritmo imaginário me
acompanhando, estava na cabeça com o ritmo de fala de Glauber Rocha, e alguns
poetas que declamam suas poesias. Eu imaginei uma fala impostada, de leitura de
poesia tradicional, uma voz grandiloquente, grave, musical. Esse ritmo é
sarcástico já que essa voz grandiloquente não fala nada, já que as frases não
têm sentido. gozo, me divirto com esse tipo de fala. Como disse imagino a voz
de Glauber rocha, louco gritando e criticando todos. Mas é só a voz de Glauber,
não o conteúdo. <span style="color: red;">Mas tem graduçoes de ritmo no texto, as
vezes ele parece simplesmente um cara de rua falando, ou um cara louco de coca,
ou um acadêmico sendo sarcástico em sala de aula, <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">ou mesmo imagino o ritmo de fala para outro de uma forma
completamente séria, só que o que falo é absurdo, seriamente absurdo. Talvez a
piada no pós moderno tenha deixado de ser feita para rir, mas continua sendo
piada</span>. E as vezes há mais de um ritmo em um bloco de texto, e pode ser
dois ritmos que vao se desenvolvendo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Há em partes algo como ums história algo acontecendo mas não
acontece nada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Todo o texto composto de frases
absurdas, mesmo as mais absurdas que talvez sejam impossíveis de se ler, foram
escritas de tal forma com esse ritmo que posso declamá-las. No trabalho de
revisão, e foram muitas revisões, manter o ritmo foi central. Ou seja, as
frases não foram simplesmente jogadas no texto elas passaram por um tratamento
rigoroso.</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> Todas as frases são
curtas. Frases curtas permeia meu trabalho literário. As frases curtas ajudam
manter o ritmo, é mais fácil narrar, ler, uma frase curta, ainda mais que as
frases são absurdas, quanto mais longas, mais difícil de manter o ritmo. E
sempre achei pequeno burguês frases longas: escritas por aqueles que tem total
domínio textual, que se permitem escrever frases de cinco linhas para mostrar
seu domínio. Textos escritos para pequenos burgueses aqueles que conseguem
manter a leitura de frases que nunca acabam. O carinha de rua, o jovem, o
marginalzinho, eles falam rápido, com frases rápidas, muitas vezes a fala é
apenas gírias, expressões de rua....<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O texto é dividido em blocos,
os blocos <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">não narram
história ou raramente há </span>narram, dificilmente se encontrará sentido, há
muitas frases isoladas, que não se ligam a outras, porém, algumas frases e
parágrafos se conectam. No texto há graduações de falta de sentido, essas
graduações se referem a experimentações, ao mapa que fui montando, a pequenas
diferenças internas, as quais busquei, mas sem sair do conceito do texto. Me
perguntava: até onde posso ir, quais novas linhas traçar, mantendo o
conceito?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Certas partes são mais
radicais que outras. Certas frases são construídas como <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">as normais,</span> mas o conteúdo é totalmente sem
sentido. Certos blocos de texto têm um mesmo tema. Há blocos de textos com
frases que fazem sentido, mas isoladamente. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Há</span> um <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">narrador,</span> alguém, uma primeira pessoa que fala para uma segunda.
<span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Há</span> sujeitos, algo
como personagens, como <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Maria
Andrea, Mario Soares,</span> mas eles não agem, não tem história, são citados a
partir de um humor peculiar. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Há</span>
humor, e muito, pelo menos para mim. Também em estão presentes alguns elementos
de cultura pop, cultura drogada. Palavras de baixo calão estão em todos os
blocos textuais, como gírias e expressões de certos guetos de jovens e drogados
– aliás, se se buscam histórias em certas partes podem ser encontradas, pelo
menos por mim, e são histórias referente a sexualidade livre ao uso de drogas.
Ele pode ser recortado, como se quiser, pode ser lido de qualquer forma: é um
caos, mas organizado... com certa unicidade. Ele foi finalizado já que
talvez<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>nem tenha sido para ser lido,
pela escrita absurda. Mas o mais interessante que a escrita absurda flui, não
foi difícil principalmente pelo ritmo que está em todo o texto. Mas como também
disse:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o texto não é espontâneo, não são
palavras quaisquer jogadas na tela. Escrevi com calma, li e reli, re-escrevi,
tirei muita coisa, coloquei coisas novas. É necessária uma tal rigorosidade
para se criar um trabalho absurdo e caótico, considerando que quem escreveu
“Diego este que fala” é um bom cidadão, criado na academia, doutor e que ama os
animaizinhos. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">E
considerando que tenho experiência na escrita, que não sou naifi sempre estudei
literatura e artes, sei que enlouquecer na arte pode se transformar em qualquer
coisa nomeada de pós moderna.</span> Esse tipo de exercício é importante, já
que se realiza em um meio em que posso enlouquecer sem ser preso: a literatura,
ou seja, é quase medicina. E isso já permite um grau de loucura para o leitor.
Se alguém enlouquece na rua, na sala de aula, em casa, pode ser preso, mal
visto ou internado. Gosto de ser mal visto. Enlouquecer é buscar linhas de fuga
dos padrões – a prisão – dominantes. Enlouquecer na escrita; um pouco de ar,
vida – louca vida. Esse texto se refere a um devir louco, outro. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Não sou louco como estado e nem
quero ser. Isso não é literatura é medicina.</span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">COMEÇO DO TEXTO<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">.........................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">É, a gente
tava doente; daí a gente foi no médico. Ali na zona sul. Quinze reais, quinze
minutos, dez pilas e a gente leva de grátis receita de valium. Quem atendeu foi
o Doutor Sacana. Sabe? O Doutor Só Cana. Ele queria dar uma averiguada na
próstata do Tio Hermes. Só que ela, a Dona Próstata, já tava avariada faz
tempo. Coloque os pingos nos I’s ou use todos os erres. Não sei, mas me parece
que sessão da tarde nos dias de hoje rola de noite; e o que rolava de noite,
rola qualquer hora. Sim, é isso, muito bem, sempre, já que as cascas de dentro
do nariz sempre vêm com meio quilo de sangue. Por favor, meu amor, me chame de
meu amor, por favor. Coloque vaselina no cabelo e curre com a cabeça uma mina-rinoceronte.
Prainha da Macumba sempre foi cara pra dar uma banda nas férias. Daí a gente
faz a macumba ali naquela rua naquele bairro na Zona Sul. Minha doce e amada
puta, eu amo teu, nosso cú doce. Cuzinho com queijo e geleia de morango. Os
cocôs dela são os melhores. Eu não vou estar aqui, agora, e daí, não me ligue,
não ligue pra mim, ninguém se liga, tô ligado e deixa assim. Na real: que se
foda; melhor, vou ser honesto: que se foda; melhor: eu te fodo quando você
quiser, meu amor de mês nenhum. Colocar no forno só se for no domingo. Eu durmo
na sala. As calcinhas foram usadas, sinto o cheiro de longe. Meu Deus do Céu
Azul. Mina, se você vai no banheiro, não fale com o Mario. A Dona Gatinha se
fodeu, ganhou dez perebas naquele lugar que ela nunca viu e nem sabe. Saio na
noite pra pegar umas dores de corno. Não saio na noite, já que ela tá aqui.
Amanhã quem ganha os cornos são as vizinhas lésbicas do andar de cima. Ok, comi
uma puta de rua que fumava crack. Ainda quero fazer aquele curso de cerâmica. A
cidade voltou a ser a cidade. Não sei se existem helicópteros. Quebrei o
tornozelo e ela ainda quer que eu a carregue pelas costas. Toda cidade tem um
belo rio de merda aqui no país das loucurinhas. Vou soltar um barro, nem mais
volto. Frango assado se vende por dez pilas, galinhas são mais caras, mas ainda
são baratas. Coloquei o cú ao lado da caixa de som, meu cú está em estéreo, me
cú está muito dançante. Você ainda me ama, Dona Megera? Uma noite no andar
superior, por favor! Realizo sonhos por muito, muito mesmo, muito pouco. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">.................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A ciganada
veio pra cidade e em uma hora se foi. Eu tô lá faz tempo, tô lá, não aqui.
Sabia que a maionese que se vende depois da madrugada dá barato? Não, ela que é
barata, a mina que cuida da porta do banheiro. Ela que se cuide, disseram. Mas
ela já tinha entrado pela entrada também; é, meio que foi demitida. A
circulação para, parou, e ele tá mesmo assim, na esquina. Qual esquina? Entre a
Rua Mario Peixoto e a Rua Maria Desaparecida.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>A gente fingia que fingia, e sabia que não tava nem mais ai. Já disse:
tô lá, não aí. Me compra um charuto, me enrola um charuto. Veadinhos fumam
incenso. Mas as bocetas que fumam incenso e dizem: “namaste”, é malandro, são o
sonho de todo cidadão. Bosta de vaca, chove, e daí a gente toma um ar puro.
Semana que vem furúnculo na bunda. Que bom que o cú fica escondido do sol. Se
bem que o Carinha, aquele mano, tem palitos de fósforos que acendem no cú. Um
cú solitário é algo triste; um cú comunitário, bem, a gente canta parabéns pra
você. Levei o Sandrinho na banda das mangueiras longas. Ele riu, mas riu tanto
que molhou o banco traseiro. É, traseiro. Me explica, uma coisa. Não, na real,
dá uma banda. Tem muita gente por perto e eu fico tímido pra limpar os dentes
dela. A gente sabia tanto que só sobrava espaço pra esquecer. Se avião passa
aqui na frente, a gente ora por Deus. Vivi muitos anos entre aquelas pessoas
anos 90. Vivi tanto com eles que passei a acreditar que nem tinha ido para Woodstock.
Ele falava tão bonito que a gente cortou um pedaço da língua dele. Agora ele
fala como a gente. Banho de chuva na praia é tipo acordar as três horas da
tarde no meio do mês de março. Se tudo fosse fácil, tudo não seria difícil.
Entendeu filho, meu filho, meu filho da puta? Ela nos corneava; a gente, sabe?
Eu e o Mário e o Maninho e o Cabeça e o Ronaldo e o cara que tava sempre na
esquina dizendo: cara, que se foda-se. Os semáforos deram certo, eles nunca
piscam. Os tiozinhos ganharam aquele concurso de comer barata. É, escovar os
dentes ficou mais difícil. Ela pensa que tá em que lugar? Ela pensa que tá “no
morro, três da manhã, acabou o pó”? Ficar de quatro é só ficar de quatro. Eu
não fico nem de pé. Deito, sim; eu deito e rolo. O jogador perdeu a mão pruma
máquina que só funcionava de manhã. Ele nunca acordou antes do meio dia. Me
explique; não, fica na tua. Não é não e não é não, simples, não? O melhor
orgasmo é aquele do peito; mas síndrome do pânico é tensão mesmo. A diferença é
que os caras tão sempre dando uma de gostoso, e eu não gozo nunca, não sou da
geração goza-cola. Só que a Marinara, aquela gata safada que cobra cinquenta
por duas punhetinhas, ela só goza se o cara leva ela até o hotel com mais de
uma estrela. Ele começou a fumar crack para ver se dava uma acalmada na
loucura. Funcionou. Me paga um charuto? Faz que nem o Rafael, cospe nas costas
que ele não comeu. Sim, funciona, é só tirar da tomada, colocar os pés na bacia
e daí já foi. Já foi tarde. E eu que nem cheguei e nem vou. Tô mais em lugar
nenhum do que aqui. Não me ligue, não estou aqui. Não me acorde, não durmo
mesmo faz dez dias. Me compra uma revista do Batman. Coloquei a almofada no
lugar; é eu coloquei ela no lugar dela. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">...................................................................<span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Se me
encontrar não me avise. Ontem é um bom dia para você me beijar. Sim, faço isso
logo, daqui a uns dez anos. As hemorroidas não importavam, mas aquele herpes
nos dedos.... Que bom que não chupo dedos. Deve ser trauma daquela época em que
os bicos tinham gosto de geleia de morango. A tua cara estava muito bonita, não
gosto de caras bonitos; é, dei a garrafada por uma questão estética. Pinto mole
de cachorro é mais duro que pinto duro de barata. Quando eu durmo do teu lado
eu me sinto tão.... “então, deixa assim”. As tuas bochechas ficam mais lindas
quando bochechas <span style="background: yellow; color: red; mso-highlight: yellow;">significam</span>
bundas. Não entendo, quando tomo coca-cola sinto vontade de dar uma banda;
quando tomo todas, a banda já aconteceu. Eles viviam naquela época em que a
palavra caralho só tinha dois sentidos: pra cima e pra baixo. Hoje em dia, o
caralho não tem mais sentido; caralho desorientado. É um saco, dou a banda da
manhã naquela loja de conveniência e o general tá com os dois filhos. Sabe
aqueles dois? A loirinha gostosa daqui a dois anos e o filho dele, o Seu
Malinha. Choveu, molhou e não gozou – gozar é pros fracos. A dona bocetinha
magra transava com guardadores de carros naqueles dias que eu tomava valium.
Não sei, sabe? Os caras fecham as lojas de bairro, mas o bairro tá sempre
aberto. A sacana que vende fluoxetina é uma sacana. Ela vende por um preço
baixo, mas a gente tem que aturar o bafo quente dela. Sabe o bafo dela? Me
fode, mas não me beija. Se me beija, me fodeu e tamos certos. Atrás de mim,
não, meu bem. Diga meu bem, meu bem. Me vende uma pedra de fumo paraguaio. Ele
dava play nas máquinas de <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">pinbal</span>
da loja do Seu Otário. Mas agora não dá mais pra rolar os play, seu boy. Não
sei se a gente foi pro mato, e se eu tinha comprado duas garrafas de vinho,
três caixas de bolas, mas eu sei muito bem o que eu não sei. Tá achando que é
festa? Com dois cús se faz uma casa. Dois pintos e uma montanha venderam
milhões. Como ainda pão de manhã, já que você tá lavando a louça de dois dias
atrás. A gente dá um jeito. Se ela pulou da janela.... deixa ela. Dona Tia
Velha dá um tempo, quem é teu alfaiate? Meu gato mija na cama, mas não na
minha. A gangue das piranhas sempre vende aquelas merdas que faz a galera ficar
constipada. Não estou mais fazendo academia, mas vomitei na perna do Otário,
melhor, Senhor Otário, como ele gosta de ser chamado. Estou te penetrando com
jontex, não se preocupe. Se tem festa na madruga eu tento não descer, o meu
pau, que nunca fica descido. Não sei, já disse. A gordinha ficava puta quando
eu comia todas, mesmo ela comendo todos e todas e mais um pouco. A vida é
louca. Aqui no prédio tem mais lesmas e centopeias que na parte alta da cidade.
Oi tio de cabelo branco, como você está? Surf não é mais o esporte da moda, e
faz uns trinta anos que digo isso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">....................................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Tava eu e
o priminho. A gente foi se picar e ele disse: dá nada primo. Eu disse: quero
sair correndo. Ele: curte aí cara. Daí eu e o primo a gente foi ver o outro
primo. A gente tomou tipo dez garrafas de alvejante com coca cola. É,
goza-cola, na época que ainda nem era fode a cola. Mas a gente tomou.... o que
mesmo? E antes o primo disse, tipo semana passada: “cara, a Maria Andrea é mais
gostosa pra mim quando você olha ela”. Mas fica assim, foi lance de primos. Daí
a gente foi pro centro, o outro primo trabalhava no armarinho dos Soares, sabe,
o dono atual era o Mário. Que Mário? Ele mais que sabe faz tempo. Daí o primo
tava vendendo aviamentos e o caralho e mais um pouco, e a gente só na dele. Ele
era um gênio da aeronáutica, o primo, mas não sabia contar até doze. E o primo
vendia e vendia e a gente curtia e curtia. Dai o primo diz: “dá um tempo na
curtição, o seu Mário tá meio puto já que os quadrados da medusa são cabelos no
meu saco daqui uns vinte anos”. Mas a gente se curtia, só que ele era primo,
não era mano e nem mais. Daí a gente deu umas voltas naquelas praças que dá pra
mijar de pé sem que a polícia faça <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">com que</span> a gente mije sentado ou deitado. Aquela praça que a Dona
Naftalina comprou e disse pros primos-manos: “aqui quem manda é a puta de
jesus”. E meu deus dos céus, o que a agente faz? Daí, nem mais lembro já que a
gente foi jantar com a Marinalva a dona da loja que vendia biscoito doce; é,
aquela loja atrás do escritório dos Soares que nem eram parentes do Mário. Que
Soares? A gente nem mais quer saber. Quando o barato vira uma gosma nos pelos
do Velho Negão, bem, a coisa mudou de figura. Mas o que importa é subir é a
ladeira toda, mas sem aquelas bikes do inferno. Até que um dia o lance acabou
já que as coxas dela são mais que duráveis. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">............................................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Com quanto
cornos se faz uma canoa? Hambúrguer barato é caro nas segundas. Ceva quente em
qualquer lugar. Bocetinha queimada na areia. Eu fumo quando eu quiser, no lugar
que eu quiser. Nos últimos tempos tenho fumado nas verrugas ao lado do teu cú.
Deus do céu, minha deusa. E ela ainda canta aquela música que nem mais é
cantada. Toda a noite eu pego carro e vou até a fronteira. Daí entro na casa
dela em São Francisco do Caralho e como um banquete divino. Ela continua
confiando em mim. Eu sou esperto, não confio em mim de jeito nenhum. Não
entendo, elas gostam do que eu não gosto, mas gostam de mim. Eu nunca gostei
delas nem de mim, então tô em outras. Eu estou no lugar que devo estar, ao lado
das hemorroidas de qualquer um. Assassinei uns líquidos que saem daqueles
bisnagas de goza-cola. Gozei e não gostei. É caro gostar daquilo que elas
gostam. Diferente seria se eu fosse uma lésbica, e se eu fosse me comia bem
feliz. Ela abriu as pernas, eu passei por baixo. Putinha, entra no carro, mas
não seja doce demais. Namoradinha que não beija é minha namoradinha no início
do mês. Meteu no lugar que não era para meter. Geladeira, paralelepípedo, te
amo, e não mais. Dona Coisa eu te respeito, mas não use tanta naftalina entre
as pernas. Eu não sou um punk sujo. A gente ainda come frango dizendo que
brócolis é coisa de gente feliz. O tio prepara o cachorro quente na esquina.
Não dei o cú na viela já que a viela é a rua em que o Papa passa quando tá por
aqui. Sim, ou não, ou talvez: escolha! A feira orgânica tá sendo montada e a
cadela da Marta foi montaria de todos. Dei uma volta e não voltei. Me diz uma
coisa; deixa assim.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">..........................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Casa cheia
de ratos com barras de chocolate entre os <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">pelos</span>. Duas ruas, uma atrás da outra. Se ela
quebra as pedrinhas dá vontade de vomitar aquelas merdas tipo cabecinhas
cabeçadas. 120 por hora a toda hora e nem dormi. A Dona Coisa se foi, mas era o
Mário que tinha razão. José tá mijando na frente da praça. Pior foi quando o
Marco cuspiu no nosso prato e a gente teve ainda que pagar uns dez cada. Era
tanta loucura que só podia ser realidade, e sempre penso nisso quando esqueço
disso. Desatei o nó, fiquei meio assim com a série de TV, na real, queria cair
fora. Trinta anos depois tudo de novo. A gente nem sabia que ontem era um dia.
Amanhã não me ligue, não estou. A galera comprou aqueles alfinetes, daí a gente
foi preso por magia negra. Luizão deu uma de mamão. Morreu ao pular da janela,
mas só pra dizer: “pessoas, eu fiz isso pra fazer o que mais gosto, morrer”.
Acordar quando se está acordado dói a juntas entre os ossos dos dedos. Daí,
daí, daí a Daniela disse que a Ridícula tava saindo com Mário. Meio copo disso,
meio daquilo, mais aquilo, daí a gente compra uma casa num bairro classe média
baixa. Não quero mais saber daquela noite que nunca acaba, e eu não quero
acabar. Ela se acabou comigo. Tinha tanta dor de cabeça que morfina dava dor de
cabeça. Cabeças de alfinete, me rebite. Santinha vem aqui! Dona Coisa, já que
nem era, mas fique sabendo, desenrolou. A gente fica velho quando a gente fica
velho. Eu queria menos. Não sei o que coloco por cima. Cabeça mais uma
marmelada dá uma cabeçada. Cabeção nem tomava já que era como nós antes do
verão começar. Ela tava suando tipo aqueles baratos meio caros de 15h de terça
feira de qualquer mês. Comprei uma bicicleta. Já que está aqui me dê duas
pegadas. Me pega; te amo, por isso. O nome dela era aquele nome que nem mais
fabricam. Buraquinhos não nasceram na mesma época dos dedinhos. Se você quer
comer isso por favor lave as frases. Os dedos estavam sendo queimados nos
cascos daquelas éguas chamadas de “qualquer coisa rola”. Afinou-me. Duas
abelhinhas entraram no vaso e cuzinhos docinhos disseram: quero mais. Sim, eu
aceito quando ela quer me comprar batatinhas com aquele lance gosmento em cima,
mesmo que comida seja muito século passado. Queima, queima, queima, e lava as
flanelas. Pode me dar isso e dar outra volta tipo megafone de terça-feira. Com
quantas bucetinhas se faz uma canoa? A gordinha tava na parte de dentro daquele
hemisfério. Daí aquele tio, o Opala Tunado, disse que as chevetteiras voltaram.
Morceguinho de segunda feira, dane-me. Garotos fazem o que nunca souberam e nem
vai mais rolar. É meio dia, cozinha uma meia. Meteu as mãos por dentro e
descobriu que treze anos era uma boa idade pra se errar. E me erra! Comprou
todas as terças e foi demais. É ele sempre faz isso. Daí era cedo para se
chegar tarde. Sim, ela era demais. Me dá menos. Me liga tipo call center depois
da meia noite quando eles nem acordaram. Café de madrugada de call center. Me
passa a dose de natal, quero vomitar no quarto ao lado. Ao lado, sabe? Tipo
naquele lugar que dói para a dona Ridícula. Mastodonte tomou aqueles lances
laranjas que o Mário receitou. Tomou e daí dormiu. No outro dia, foi dar “oi”
pro senhor Bidê, mas mijou de ponta cabeça. Seis horas mais tarde queria ser um
peixe boi. Se eu quebro as regras... é, o jogo acabou sem um 21. A dancinha
dela era legal. Namorei a Marta por um mês. No outro mês a gente sacou que ela
tava grávida. Daí eu convidei as Três Putinhas pra ficarem aqui em casa. Disse:
Putinhas, de aluguel, pode ser duas cervejas de cada por manhã. Daí elas vieram
morar aqui. Acabou o lance quando as cevas viraram vinho de macumba. Ele era
meu amigo, só que daí entrou naquelas de ser minha amiga. Sim, ela veio, amei,
mas pedi pra cair fora, tipo: no meu edredom só a Marta vomita. Vamos dar
aquela banda junto do rio. Vem cá, você me deve. E a pequeninha me pergunta:
“vai fazer nos olhos de <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">novo?”.</span>
Eu digo pra ela: o Mário vende ossos pelo mesmo preço daquelas escadas da marca
“nem me vem com essa”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Vovó fez muitos
docinhos pra festa. Bidês de cores claras ou gravatas de fimoses? Não vejo mais
nada daqui, tá tudo mais que duplicado; tipo, dobra a dose, seu Mario. Que
Mário? O dono da lojinha. Nem mais queria, só que na real se fez que não
queria, e por isso, mais que quero. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">................................................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Furei os
olhos e ela mijou atrás da árvore. Ela, lembra dela? Aquela mina tipo coisinha
dura, chata, sanguinária. Sim, ela, a que metia o Pablo por trás toda noite; a
que lavava os coelhos e depois comia batatinhas chinesas. Amarele-se junto ao
cara que come sempre um prato a mais daquilo que deveria ser caminhado. Lendo a
obra completa de Mário, o senhor Soares, descobri a real motivação dos
furúnculos nas bochechas dela.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sempre a
Aninha vem aqui e a gente começa a abrir as portas. As cevas quentes foram feitas
para serem amaldiçoadas. Malditas cevas de Cristo do Inferno. Barrinhos? Era
sobre isso que gente tava falando ontem?<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>A cidade está muito cidade tanto que os caras que moram nela estão cada
vez mais caras. Os carros aqui da frente estão com aquelas varizes que eu como
sem pagar. Me dói a maionese. E daí tava todo mundo dançando, e veio o Barrinha
de Chocolate e deu aquela dor na alma de todo mundo. Tipo vinte anos depois o
que tinha rolado tá escrito no jornal que a gente nem lê e que se foda. As cachaças
fugiram das ressacas, e as calçadas doem o cú. Não rola mais jantares de fim de
ano, tipo aqueles que a gente nunca foi. Me paga uma daquelas, mete pra dentro
e depois, fica para depois. Eu te amo sempre, desde que seja nunca. Eu te
liguei só que é melhor fingir que os teus lábios nunca foram corrompidos, Daí o
padre pode dizer na missa: feliz que sejam todos os anos que foram gastos<span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">.... e blá, blá, blá.</span> As
ferramentas da cozinha sempre ajudam já que nove horas foi ano passado. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Se ainda dói, entregue e venha,
e se foi tipo “nem sei já que não”, bem, é aquela mania de “a gente tem sempre
assim”.</span> Os discos mais audíveis estavam na casa do Getúlio. Vem aqui e
depois pega o lance e sai correndo e me trás uma equipe de alvéolos. Pau no cú
daquele que finge que ouve. Tá me traindo com a manada de três horas e meia a
menos? Sempre usei tuas cuecas mesmo que as nossas bolas joguem ping pong em
clubes diferentes. As escolas tavam fechando a contabilidade e daí rolou aquele
orgasmo no rio com chuvas de gorgonzola. Tava numas de cuspir na Dona Rídicula,
e ela dizendo: a vida pode ser assim, e mesmo assim, eu sou.... Se o banheiro
tá vazio, se ninguém peidou ali antes, a gente pode até pegar as camisetas e
lamber elas. O removedor de tinta é aquele lance que a gente ama mais que a
própria mãe, do Mário. Que Mário? O dono do armarinho dos Soares; Mario Soares.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">.....................................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A gente
sabia tanto que chegou um momento que saber virou coisa de padreco no fim de
ano. Eu ria no meio da rua, e as pessoas diziam: nunca vi um riso tão roxo
quanto o desse cara. Daí a gente sempre tava naquelas; sabe aquelas coisas que
só a Marta sabe fazer? Eu prefiro ficar sem, mas quando estou com, daí não tem
mais o que falar. A toalha que limpou os cogumelos dos ouvidos dela tá guardada
na casa ao lado. Me passa dez aí! A voz dela é tão chata que quando ela começa
a falar os assoalhos ficam com aquelas manchas que nunca saem. Vi aquela foto
num rótulo de lata de pomarola, daí fiquei com medo e corri. Era tão chata que
até os herpes das unhas dos pés bocejavam quando ela falava. Me dê quatro horas
tipo depois das cinco da tarde. Sabia que dá pra construir uma cidade de lego
com a quantidade de café que você toma nas segundas? O almoço chegou, e daí
todo mundo ficou tipo indo no banheiro e ninguém mais saia. Anos depois me
disseram que tinha ratos no no lugar que a galera fuma, e eles, os ratinhos,
faziam shows tipo cabaret anos 50. E quem quer perder o show? Só não deixa a
Andrea entrar. Quando a gente fica mais velho a gente sua mesmo se tá no posto
de gasolina. Ainda quero conhecer o Senegal. Eu não lhe dei a permissão, e me
dá a real: o que você tá fazendo ainda aqui? Era tão viciado em relaxante
muscular que nem ataque cardíaco o impedia de correr duas horas todo dia. Eu
não era naquela época, e nem ainda sou; mas meu nome tá no crachá. Ele de
vermelho e ela de branco, nosso casalzinho praiano de lagoa colérica.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">..................................................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<s><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Me mete um
transe, daí já são dois. Ela ia e cumpria os momentos, em menos seis dava
aquela conta maionese sem bem, eu meu, bem. Mas pode tanto me queria, mas pode
me dar baratinhas. Segue a questão. Nunca poder demais e demais que nem vai,
mas você vem, e meu bem, é. Dá-lhe porque, <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">meter-la</span> e a fé de poucos sempre nariz e suja e
limpa e a dona Maria comprou o fogão mesmo que a sal estive em pratos e nada
que estava quando pode ser talvez.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sim,
e não, e buffets sem placas com aquelas coisinhas prateadas que a gente chamava
de amor. Sim</span></s><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">, e o mais
importante sempre foi o senhor Talvez. Ele caminhava na banda comia aquelas
maniqueístas e depois subia o morro mesmo que querer mais fosse algo de semana
que sábado nunca quis. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Meritocraticamente,</span>
belzebus do nem sei. Meu paralítico. Meu esperma ainda ovário. Vamos ser, e te
compro um almoço no <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">mac
donalds.</span> Mas se eu quero ela também e mesmo assim rodinhas de trigo e
eles uau, uau. Meu amor. Meu bem. Gatinha do feno. Pedrinha no sapato de todos.
Andrea, rainha jugular, anfíbia oração, quando o time de futebol dele ganha,
ele brocha. E ele, é sempre <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">papai
noel, panetone, fim de </span>rabos, batatinhas douradas no sol de ninguém. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Boqueteamente,</span> dona
tauromaquia. Sal com fé e nem depois com pode ser, me isso, me tipo assim; oh
meus deuses e saias e vai correndo na esquina. O Mario tá com a Andreia e isso
não é bom para todo mundo. Paralelepípedo. Parapeito. Bolachas. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Palfium e aldool.</span> Se o
som tá rolando na esquina deve ter sido o isso que nem quis a banda na praça.
Os caras do rock gostam quando as mãos entram nos cotovelos. E aquela bundinha <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">de cú</span> duro e magro não é
do irmão da Neusa; mas ela tá sempre dando uma banda com os pode ser de sempre.
Meu cú é a magreza do oceano em teus olhos. Não sei porque Maria quer fazer
poesia mesmo que pauzinhos de verbos tenham aquelas duas gravides. Me vem,
quando eles se tiveram, e mantenha dois depois e me faça alcachofra no seus
meios, metade de peito de quem chupa, mas não é; e chuparam toda noite passada
e ninguém quis, mas todo mundo num pau duro e bocetinha nunca mais e paro aqui
depois me dá um rabo e o galo que se queria e jesus, deus, maria e adeus.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="color: red;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Odeio elas
todas, essas panturrilhas <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Ah tah,
saquinho de maionese sem etecetera de novo? Sai fora. Não queria nem mais
tomatear naquelas <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">azedisses</span>
15horas. E você ainda quer, ainda pede. Não tô nem mais nem menos nem os dois <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">jezusses</span> gêmeos de sola
de sapato que se vão. E todo, todos, digo nem mais nem menos, sim digo: me
compra um mais ou menos. De repente, sapo toalhinha, unha de dente, tatuagens
naquela, naquele... no nariz da dona Andrea já que ela tá alugando o ap, <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">sabe
aquele ap tipo:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>meu deus do céus! Sim,
lá mesmo. Aqui mesmo. Nada, mesmo, e eu não te amo mais. Chazinho dentro das
fimoses púrpuras. Lembra? Sim elas, sacos delas. Lembra? Minha porra sempre foi
maior que a tua. E isso era acho que não quando rola e talvez se sim pode ser.
Tão assim, assim? Não venha, não venha, placas de cor quase lá que nem mais
cola e rola. Ah sim, da cor, vomitei uma cor ontem. Cor é um saco. Odeio cores,
como odeio, odeio, como, como, mas sou vegetariano tipo aqueles, aquelas, sabe,
luzinhas meio pálidas de pentelho sem tomada. Sim, eu sabia, e nem quero mais,
não sei, já que os quando estão muito tipo o tio que vende paçoca na Mário
Severo. Que Mário? Mário Severo. Um cara muito Mário. Mala nos boquetes ela tá
pela banda, mas e eu puta que <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">pario</span>. Nem é nem vai nem, nem, vai, te dá uma banda e depois
conta aquela história que a gente deixa assim. Não tô nelas, nessas de alongar.
Vai pro borracha que te queria porque ela ainda morava na casa da Andrea, que a
gente chamava de fimose sem panturrilha e ela levava a gente para dar uma
banda. Vai dar uma banda. E mais, se a bunda é tua, pai nossos que estão nos
céus de meu deus, <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">que lady
gaga</span> deliciosa você está sendo minha Andrea paraguaia de canção
holandesa, daqueles holandeses que tão sempre na Bahia.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">E boqueticamente</span> falando, ela não engole, é uma <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">vegana</span> no inferno. Puta
que pariu demais esse tempo todo que a gente nem atrás daquela esquina estava.
Mas se para com isso tá meio que nada meu bem, tah, ok. Depois, depois, depois.
Não entendo porque você quis montar aquela loja, e depois quando não deu certo,
quis... isso, você quis e quis e casca de laranja dentro de guarda-chuva, prato
meia noite, é deve ser. Mas você sempre tão toalhinha, e aquelas coisinhas
saiam do teu cílio esquerdo e ninguém mais entendia; mate a frase longa demais.
Você está sempre mar aberto com rede de sacos e bolachas, aliás, gatos
torneirinha, e tudo mais. Te amo, dois pontos, terça feira; que horas são? Sim,
aqui quem fala é a dona panturrilha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Baguete te
asco como que são <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Manufiose.</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> Acordei. Baratos e é isso. Vamos ainda cinzeiro e supremacia racial;
é isso mesmo. Mantive com ela todo aquele tipo de assim mesmo que vagina sejam
aquelas coisas que nós... bem, abriu o verão. Isso que importa. Matava e
consegue já que o Daniel nunca Lucas; como eu dizia: eles pedrinhas e cú sempre
foi; é, exatamente, caveiras com legumes. Perdi o pode ser. Ela sempre estava
antes da 15horas daquela noite longa que acabou com aqueles nós; sabe aqueles
nós? Sim, nós sempre, e eles, bem nunca. E daí ela tava dormindo entre os vãos
daqueles dedinho e todo mundo começou a terminar, e no fim, a noite de terça
tava muito noite de ontem, e ontem não tem mais, porra, sempre. Por isso,
portanto, e daí, a gente sempre tá muito tentando. Eles quando inventaram
aquela rua tavam pensando que seria tudo tipo: oi, tudo bem. Só que meu bem, só
te digo isso: isso. E assim, podemos entrar naquele <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">pôr-do-sol</span> que dói nos ossos. Menos que
dois três é igual quando a gente ainda ouvia e o coração tava batendo, mas não
tava tão batendo assim, mas estava assim, e, isso entretanto, menos o porém.
Mertiolate de alfinete empinado. Eles não se amam da mesma forma que a gente
ontem nem cumprimentou o pobre do Mário. E eles não queriam mais, nem papel
filme, cervejeiro de merda, mas não gosto e nem isso mesmo. Entra aí. Vem meu
deus de mais. Braguilha aberta; e quando queijo, estamos dentro do herbívoro, e
ele não morreu. Comprou o disco e começou a contar aquela história que todo
mundo conhecia e daí todo mundo voltou para dentro; é tava quente. Mas nem
lembro. Qual é o seu nome? Comi tua ela semana passada e nem sei. Mas passas
com hemorroidas fundas nem doem como na época que nem existiam os buraquinhos
da Marta.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Outra <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">E mesmo
que amanhã seja quarta e daí hoje não.... bem, <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">maças</span> estavam com sapos e mesmo antes que
colírios. Em um mesmo quarto, entre aquelas coisinhas de tom sei lá, mesmo que
estiveram, não deu e mais que rolou. Meu grande ócio, minha grande libido,
nossa grande <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">ancestral das
rodilhas com</span> maionese. É nosso desejo contra aquelas <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">maniqueístas</span> flatulências
e de repente tudo foi. Mas espera aí; quermesse cultos tecido de farpa doce, e
metemos, de repente, crescido alho, caramelo, jogar queimada, um, que era dois
e sempre foi três. Não te digo mais uma fazia. Nem posso, marquei na jogada,
bolas de alfinetes masculinizadas em si. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Baratamente</span> por aí vai. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Maria Janete quebrada na morenisse aguda de
pós-balada na cara.</span> <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Pega
mais um, mete nas linhas seu Mário Seixas</span>. É que pode ser, e nunca
deixou claramente, e as alfafas se lançaram no que queima as marcas de velhice.
Meu receptáculo desses incrementos e debilidade. Eles nunca, e nós, os três
compartilhamos. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Seja mais,
e se sim, ainda entre nove horas, foi-se e sempre é, serão, e queria.</span> Me
dá na foice o que batatas. Pega arremessos de farda cor de seita. Já que tudo
isso era, é, mas nem florestas queimadas. Devia tanto que nem veio. As carnes e
os “que horas são”. As possíveis meio que nada com quebradas negras e rato de
praça. Era Santa a Maria. Era desodorantes. Era, era, era... já que índios, <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">caixas d aqua</span> e quarta
feira acordei ontem cheio daquelas melecas dores de juntas e cabeças coladas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">OUTRA<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Bafos de
garrafas nesses picos de lua almiscarados. Se é que nem surdina me tem e sabe
que foram. Magros, muito magros, e pontas de dedos, sim elas, subiam. Mesmo
assim, nem que nada restos e fincas e aquelas coisinhas que você nunca fazia,
mas eu adorei ter-te minha e o teu aquilo preto cheio de baratas. Sim, sapos, e
mais sapos, e <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">conta
corrente compartilhada no banheiro da praça</span>. E os teus sempre e odiosos
“crianças não podem entrar”, sim, eles eu amava. Me teve em toalhas de papel
sólidos demais, mesmo quando nem muito, mais menos e.... sabe? Podiam ter
construído todos os arames em peitos borboletas, mas ouve-se em algum lugar, a
grande expressão: pode ser. Manteve-se muito penas, tanto que os “achos”, são
cada vez menos difíceis de serem achados. Por isso, manteigas sem calabouços
estão sempre a esmo por cada coisinha que estamos achando nesses concluídos,
melhor, caminhos concluídos. Barra-me eternamente, por favor, nos encontros
tipo sapiência é coisa de banana corroída. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">E quando ela banaliza cada tipo de letreiro, isso se deve
as terças de tarde 15horas, e continuava na quarta, mas nunca rolava nos
sábados. Ela permanecia não muito alfafa desde que coisinhas reuniam os de
sempre.</span> Meu bem, isso sempre esteve claro, meu bem, sempre esteve, meu
bem... e nós podemos mais que quintas ou aquela lama em sapatos que fogem.
Agora mesmo estamos ontem; agora mesmo, joguinhos de incontroláveis, agora
mesmo, entre os tetos do <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">facinho
demais. Tô facinhos demais. Eles querem facinhos</span> de mais, tanto quanto
as lentes das tatuagens que entram nos alvéolos do dia de depois de deixa<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>assim. Me tenha e comemore todas as terças.
Eu tô numas de agosto inteiro. As palmas sempre batem até o fundo das janelas <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">marmoaradas.</span> E se o
coração apressado se dá? Porra na boca que gela escafandros, mas uma hora me
pega na esquina e leva ele pro rio e lagartos. Nessa cidade a gente fazia
alcachofras e era bem legal essas comidas meio holofotes. Bom tempo, choveu; é
que eu tava no calçadão do centro, nove horas, de terça de algum mês, e você
cagou eucaliptos pensando que nem era aquela quarta feira e.... depois, mas
antes e nunca e no meio da periferia. Elas respondem abutres, que na verdade
são cílios, e me toca e dá uma de besta sem estrada, tô olhando o relógio. Me
dá.... náuseas aquecidas de alvéolos. A praia tá quente mas nem chegamos.
Podia, mas nem caí estereofonicamente. M<span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">e batata-me. Acho calha te. Almofada-se. Tecladia-me.</span>
Respostas estão correndo nos pastos. Sapinhos ainda querem. Nós dois somos a
cavalaria. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Porque</span>
me pararam <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">a meia noite</span>,
<span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">terça feira,</span>
15horas, se não tinha mais sete gramas e da mesma forma nos amamos e muito,
nunca. Me pede. Eu pensamento em lugar nenhum, tipo verso <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">de kama sutra e ingleses</span>
demais junto ao semáforo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">OUTRA <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Sim, eu
concordo e sempre concordei e não vou deixar de ouvir rock em formato de caca
de nariz; sim, eu concordo: couve flor aquecida em pernas de <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">laminas</span> de faca sempre
são as mais saborosas, mesmo eu tendo hérnias nos foguetes. E aquelas bolas de
bilhar em quartos de pensãozinha de moça tipo ACM ainda rola; bem, isso fica
para os que ficam. Eu nunca quis penalizar pentelhos encravados na <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">segunda feira</span> de noite
quando o Mário Soares pegou aquela treta e ficou batendo papo na esquina, mesmo
que não chovesse; na real, era horrível. Só que ainda bate, bate e forte um
coração cheio de <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">alcaguetas,</span>
que é aquela palavra que os jornais insistam que ainda exista. Dois carros
passam aqui na frente, mas nem são dois, são.... não há ponto de vista que faça
com que eles, esse sucos pomarola, parem de escorrer os óculos moda anos
sessenta, que voltarão algum dia de nem mais sei quando. É, sou europeu demais,
em minhas... melhor, entre meus dedos, mas isso não significa que a cartolinha
daquela loja que vende barato seja tão importante quanto bater a cabeça; só que
o mundo extinguiu as cabeças. Tava caminhando entre nada e aquela criança linda
apareceu e vovó tava olhando aquelas folhas de amianto crescerem e nós dois nem
devíamos ser nós. Eles me importam. Me importo com eles. Mesmo que sejam
algodão duro e seco de lavagens na boca de vacas que nem mais querem comer; é
comida virou <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">demode,</span>
mas ser comido é mais quente que batas fritas. Esvazia-se a semente que estava
cheia de corações. Mentes <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">super
fluidas</span>, cacos de vidro querendo ser mais; um tímpano. Ali sempre estão
os teus possíveis, nem que se.... fosse, me dão, mas nunca disse, quero por aí.
Histórias parecem escadas, livros, motor de carrinho de brinquedo, aquelas
coisas que esqueci.... Sim, sim, sim, nós nunca podemos, mas sempre, sempre,
sempre eles algumas vezes queriam mais. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Amiante-se, globalize tua sola de sapato, compre dois ou
menos e seja isso; vamos, já que somos. E smothies de vitrolas duram mais nessa
coisa oca que você nem mais quer. Poderiam. E é realmente secante essas ondas
de parágrafos. Nunca matei aqueles gatos, já que sou fenergan com sorrisos.
Entre unhas, entre aqueles galinhos que nascem e depois entram na onda; entre
isso tudo, está você, que é sempre meu convidado. Só que meu bem: depois das
três horas da manhã a gente não compra nem paralelepípedo. E se gritinhos
deixam as terças é que isso é o que nunca mais e sempre está rolando. Fenda-se,
cerveja-se, musique-se, mas longe, lá na praia de Ipanema, e nem era praia, mas
todos mundo saiu dali com os sacos cheios de rua Paraguaçu, mesmo que
estivéssemos com o Bartolomeu da vila.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>A compostura está dando voltas no gramado. Nem comprei soda, tava muito
doce. E se supermercados ainda falam; eu falo mais: amém. E para ficar mais que
claro: isso entre tuas pernas dá uma correia longa demais no trânsito das
doninhas.</span> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Parte: ISSO ACONTECEU ANTES DE MIM
TODAS</span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Eu me
matei ela. E isso foi bom para todo, ou todas. Tipo praia no paraíso, com dez
sapos em cada mão, e mesmo assim, foi bom pra todo mundo. Só que na manhã
passada ninguém ligou, mesmo que metade do mundo tivesse plugado naquelas
genitálias de seda. Você ainda vai ouvir quando estiver no décimo andar de
qualquer prédio em nenhuma noite; você vai ouvir: me esqueci. Sempre muito a
gente sabia, a gente sabia demais, e sempre rolava aqueles húmus, e coisinhas
verdes, tipo musgo e sempre era muito do tipo: estava rolando, mas me prepara
um chocalho. É, você sabe e muito bem, eu sabia e muito bem, e todos <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">black sabats</span> sabiam bem
também; e isso nem importava, já que depois de quando eles alface, bem, foi bom
para mim. E se eu me prolongo, se eu continuo, se eu estou muito estado, se
nós, bem, somos, e se eram, é que isso se deve ao <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">cu que</span> compomos juntos. E eles podem compor
aquelas telas de aminoácidos, sem problemas, na real a gente fica naquelas de:
ai, adoro. Mesmo que a gente, muita gente na praça depois da meia noite. Sim,
nós dois sempre fomos essas línguas.... aquelas bocas que falam. Mas isso é
irrelevante, já que dói <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">o
cu no</span> ônibus. Imagina ontem, dona meia noite. Aeroporto das putas que
comem sardinha e, depois, meio dia me deixa meio tipo corredor de erva cheias
de micro poros. É que eu ainda não posso; melhor, eu ainda tô muito percepção,
com aqueles lances <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">hemorroidas</span>
e depois aparece o cara das estantes e... mas, micro poros tava rolando; e não
é não. E claro, se você me quer por três horas vai ter que parar com esses
baratos de duas mãos apertadas e calcinhas cor de rosa com os dentes cheio de
coisinhas que só fio dental compreende, mas que não importa.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Gengive-as</span> por mais meia hora e você sempre, desde sempre, desde
aquele sábado que foi amanhã, sempre tava lá por dentro. Ah, como eu estava por
fora e por dentro e por fora e por aí e desapareci e voltei e mijei nas calças,
mesmo estando com aqueles chinelos entre os bagos que você insistia para que
todos usassem.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">E é isso,</span> posso parar por aqui já que nós
paramos.... ontem de noite naquela esquina quando os ratos pediam microfones, a
gente só tinha aquele lance de sola de sapato; sabe, aquele lance? Que a gente
sempre usa quando tá com dores nos poros e daí a gente usa gasolina para arar
toda essa lama de argamassa. Eu já te disse: te amo; amo como você paredes de
argamassa corrida, que escorrem de ouvidos. E como, eu como, cebolas em
conserva já que sou um bom moço. E você é uma boa, tipo nuvem no escuro, tipo
macacos com gorgonzolas nas coxas. Mas <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">por que</span> não entre dois acordes? Aqueles tempos
malucos que o Márcio dizia estar convertendo <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">em para raios</span>, sem mortadelas. Ele, a Marcia, ela
era boa em enrabar quem ela queria, qualquer um que ouvisse todo aquele papo
sobre estrelas e duas janelas estão abertas agora na frente do meu quarto aqui
na fronteira de sorvete com <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">coca
cola.</span> A Marcia, né, ela ficou tanto tempo na casa do Zé que o Zé passou
a gostar de cantar moscas; daí a gente tava na sala estudando matemática. Sabe
aqueles tatames azedos que nem entendiam o dialeto dos merdas dos sábados?
Odeio esses sábados, ainda mais quando eles aparecem na segunda. Dói as
entranhas, as que antes rimavam com bunda, e vísceras calejam <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">porque</span> um sábado é grande
demais para caber numa cafeteira.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Parte
outra</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: lime; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: lime;">A gente só se fode quando está, quando se
está fodido. Ninguém vai te ouvir querem te foder. Mas as maravilhas da vida;
bem é só alegria. O nenê quer danda. Se paro por aqui, nem fui. Ainda não
entendo já que continuo. Se a tudo fica jet ski estamos por aqui. Dai o som
robótico estava nos robotizando demais. Era bom, foi, deve ser, e não sabemos:
ela quer mais? aonde, quando, como e já que? Não me sinto tão inoportuno quanto
me sentia quando ainda sentia. Não vai ser, foi e já era. O nome dela era oque?
Deusinha do cu de verdes faces? O caralho aqui do lado é meio dourado. Os
campos correram e ninguém foi atrás. Não posso mais e nem mais quero mas posso
mais e quero; o que voce quer? Ainda nem foi? Se pararam por aqui foi a
cachorrada, culpa ela, deixa em paz as lentes daqueles olhos que nunca vao ser
seus. Peca, pega, foi, fez e daí, quanto tempo até nem irem eles jamais.
Esquentou o clima da festa ela não tinha nome, elas só queriam, e nada queriam,
e tanto assim que já foi.... meu bem? Fica aqui nem vai. Fica aqui faz. Faz meu
bem, faz aquilo, jamais. E nem grita, sim grita, e nem grita sim, salivas e um
pouco mais, tudo isso que voce sempre, e nunca mais, sim voce fez. Nunca, mas
nunca, mas nunca.... mas vem aqui amanha é terça e a noite o dia a quinta tudo
isso é nosso para sempre. Esse mundo é teu para sempre. Para sempre, tudo isso,
o mundo e tudo mais, sempre, para sempre.... sempre. Tchau. Me compra uma gaze
para eu fazer um compressa no teu olho. Doeu? Só foi um beijo. Quer mais?
amanha não é depois, é agora; a goza!!!</span><span style="color: #5b9bd5; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Parte 1
quando não era quente <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Aquela
mina tá muito terça de noite, tipo aquelas terças de semanas passadas. Peguei
três barbas com ela, mas ela me disse que samba na geladeira pode ser e não
foi. Eles seguiram na avenida quando as bicicletas não quiseram. Pode ser, mas
não ontem. Existe alguma forma simples de não querer tomar aquela <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">agua</span> limpa demais que o
pôr do sol nem quis? A gente ainda amava ela, mesmo que a gente fosse eles, mas
dois eus por vez e nenhum outro mais. Melhor eu não ter convidado, e nem fui
convidado, o casamento tava muito cedo de manhã e a sogra sempre faz aquele
barulho quando pensa que tá quente; mas tá muito sem temperatura hoje. Se você
dobra a temperatura mesmo no calor o quente não congela mais do que deveria. Só
você sabe sobre o que eu estou falando, já que a gente compartilha os mesmos
dentes. Liquidificadores demais, riscos na lataria demais, dedos demais, tudo
isso dentro daquele gato mexicano, que nunca foi pro Texas mas sempre quis. Eu
não te quero <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">daqui a
pouco,</span> espere o prato esvaziar e me ligue, mesmo que eu não esteja. Eu
nunca estou demais nesses últimos dias. Você não ligou pra ele, ele tá triste e
o Japão continua no mesmo lugar e os dentes não rangem como deveriam, mesmo que
não seja muito prudente, nem muito educado. Se eu abri a porta é porque estou
no meio da rua a pé esperando aquela bicicleta que vende bíblias em formato de
pdf. É, o problema é seu, você que não escovou os dentes, mesmo que terça feira
seja ainda muito tarde. E eu também gosto de praticar, cada vez que bocejo
emagrece os pelos do meu nariz que parou de cuspir já que não tenho mais tanto
tempo assim; é terça feira eu disse e tá muito tipo areia em caixa de gato, se
é que eu sempre existi. E não prefiro, veja bem, nunca preferi você depois
daquela sala cheia de gente, com dois armários na parte de trás e ele bêbado na
parte da frente do carro. Não tenho mais tantas <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">15horas.</span> Talvez eu venha a ter mais. Mas nem sei
se devo. Acho que eu tô semáforo demais, tô calafrio demais, tô cera e ouvido
escorrendo demais, tô azeite de oliva com acidez mínima, e, mesmo assim, ela me
pede para que eu use aquela blusa com aquela cor que nem sei. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">É que ela é tão nova que na
época que nasceu não existia mais anus.</span> Eu sou mais anos de praia, na
minha época <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">anus</span>
vinha de brinde naqueles saquinhos de avestruz. Pode parar, ainda mais se você
nem começou; eu não terminei o ano passado mesmo que já tenha passado uma vida
toda e todo mundo tá no meio da tarde no velório da minha tia, que não é a dona
Amélia. Aquela mina que eu conheci depois daquela festa interminável em que
três horas viraram copo <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">dagua.</span>...
não, nao foi no after. Isso tá tão ótimo que nem me dera. Esforçar-se nas terças
tipo <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">15h</span> deveria
ser algo tão perigoso quanto parapeitos na espuma daquela praia. Eu não fui
ainda, por isso estou parado, mas voltando, <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">porque</span> eu realmente não quero me esquecer de
lembrar que ontem ainda será tipo geladeiras ancestrais e furos de parafusos
grelhados naquela chapa de ferro que você tanto gosta. Eu poderia ir, mas eu
não queria ainda. Não me contaram que eu nem fui e nem quis. Eu parei de fumar,
<span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">as terças as 15horas de
qualquer dia ou noite</span>. Cavalos pastam e não posso parar; não posso, mas
nem quero, e você nunca soube bem disso tudo. Você permite que eu entre
naqueles quadrados azuis que você nem estava desenhando, mas que a gente sempre
entende muito bem? Apesar desses descolorantes de cabelo de amor que você diz
que ainda tem por mim, nunca esteve aqui ontem algo tão pode ser como
estava.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Parte
aquelas que doi a língua<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Me sinto
tão só que nem eu estou presente. Odeio quando chove depois de comer ovos
fritos. Não suporto aquela mulher, sabe? O sol sempre tem uma cor diferente
quando eu o olho. Dói minhas costas depois que vocês espirram. Corri uma
maratona naquela noite em que estava dormindo. Vocês ouviram? Me parece que são
três horas da tarde. Deixe-me passar, ontem era domingo. Quando eu espirro me
dá vontade de sair correndo, mas nunca dá certo, são muitos espirros, tipo,
para se estar junto do lago. A água morre quando eu bebo ela? Tadinha, seria
melhor que a água fosse uma raposa. Melhor pra gente. Nunca ria nas terças <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">as cinco da tarde</span> e
depois nem venha dizer que eu avisei, mas você estava mais do que certa.
Naquela época que os punks existiam, tinha dois <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">blueseiros</span> naquele bar, ao lado de não sei <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">o que,</span> mas, na real, não
me lembro dos punks e nem quero. Hoje, depois de dez anos, blues passou a não
fazer sentido, e aqueles dois blueseiros pareciam policiais bebendo vinho
quando deve ser bebido. Você ainda não me ouviu e eu não sei quem é você;
queria que você não me conhecesse da mesma forma que eu não quero me conhecer.<s>
<o:p></o:p></s></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Outra <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Pelos</span><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;"> no nariz são legais, quando a
gente tira no outro dia sai sangue. Sombrancelhas são massa, quando você me
cospe na testa não desce pros olhos. Mas para que servem bundas, é para a gente
cagar sentado? E só te digo uma coisa, se teu cu usa gravata o meu é anarquista.
Com quantos cus se faz uma boa festa, uma manifestação? Já <span style="color: red;">maria </span>nasceu na época que cú era coisa fora de moda.
Hoje moda é gravata. Não te vendo uma gravata. Te dou uma gravata. Pro teu
cuzinho ficar bem elegante. E tudo isso, e tudo aquilo e mais uns lances que
nem vou perder tempo de dizer... é e daí, estou aqui, com a Maria Andrea,
aquela mina sabe? Aquele que diz coisas maravilhosas quando tira a calcinha que
a avó, a Renata Andrea, usava. Falo assim tao próximo de voce, delas, de todo
mundo, porque você não me importa, eu não me importo, com ninguém, e muito
menos comigo. E a Maria Andrea é uma mina legal, daquelas impossíveis de serem
esquecidas, já que tenho terror de calcinha amarelas, com rendinhas, e
florzinhas, e mancha de semem, do pai do avô. Cadelas gritam, e gatinhas gemem.
Já eu nem fui no show dos Ramones naquela domingo. Odeio domingos e ramones já
são o que nunca foram, e se isso importa pra todos, que eles vão dar uma banda
com a Andrea Lucia, ou com a dona Ridícula, a tia do Mário. O verão chegou e
todo mundo voltou a usar palitos de dentes. Se gengivas são legais, dentes
amarelos, e tudo mais, prefiro que a bacalhonada seja com azeite. É tão difícil
assim? Sim é tão.... esqueci o que dizia me liga na terça depois das 15horas,
porque 15 horas aqui no meu ape são a madrugada da tua desilusão quando você
explode em sabor de frutinhas vermelhas e não a cara da Andrea. Babaca? Sim,
sou muito mais que isso. Pode ser, rolar, deve, e se não rola, deixa assim, já
que de areia em caixa de gatos nossos pentelhos estão cheios. Me diga: me diga.
Não, me diga, exatamente o que; bem aquilo que só você sabe, e que você sabe
tanto e por isso que a gente abre os ouvidos para ouvir. Você é o pente fino
dos meus ouvidos, por isso, amo você. E se de cu a gente falava antes é porque
tomar no cu pode ser isso tanto doce que você faz com a língua. Não são as
circulares, nem as retas, nem meias de seda; depois que você sair da aula de
francês ali na zona sul naquele cursinho do lado da padaria, naquela que você
compra presunto e queijo, depois, eu te explico e muito bem, meu doce docinho,
Maria Andrea. E eu amo ser teu amante, aliás, gosto muito do teu namorado o
Willian Doucu, aquele lorde daquele país que se toma todas o tempo todo e nem
se acorda depois já que noite e dia lá na terra do Willian foram abolidas nos
anos... naqueles doces anos. Mas eu tava falando agora com o Mário Soares, o
dono do armarinho dos Soares, e a gente combinou de jogar uma bola; é que giz
de seda ficou caro demais depois que as montanhas foram impedidas de fazer
neve. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Parte
três fugiu pela dor de dente <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Quando faz
sentido fica mais difícil dela gozar. Eu não gozo quando ela tá afim que eu
goze, mas mas eu gosto quando isso não acontece. Gozar me <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">foge da regra.</span> Eu, eu
gosto quando tudo é regrado. E se não é, bem, a gente deixa esse gozo pra outra
hora. E mesmo que eu fale a língua qualquer, aquela que todos falam, a gente
não ia se entender, e isso não ajuda a gozar. Você goza com qualquer cara. Eu
acho caro gozar com qualquer uma. Mas cada um com seus espirros. O meu parece
que tá voando junto daquela nuvem de fumaça, tipo três horas da tarde em lugar
nenhum. Algum lugar. Deixa eu pensar um pouco. Não agora. Mas quando vamos para
o exterior? O tempo sempre tá mais agradável aqui do que lá. Pensar dói. Acorde
depois das dez da manhã. Domingos eu gosto de fazer a barba com <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">lamina anti derrapante</span>.
Minha cara tá cheia de fuligem e.... e aquele lance gosmento que você me
emprestou, faz uns dez anos, e que nem mais tá comigo, deixa assim. Assim é bom
pra gente; tipo depois da <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">agua</span>
ferver, a gente vê que aquele fogão a gás, aquele que tua avó, a dona Neura,
comprou, tá tirando férias na colônia.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Você
naquela época de que hidrantes, talvez<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Amei e
nada quando era você nem deve ia e foi. Não tenho <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">onde</span> estou demais hoje. Sou total lua e sol
nasceu, e o calibre era muito homofônico; daí tive que sair de lado quando os
jacarés comiam. O que rabos tanto? Em que veias nem foi? <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Porque</span> tantos tantos? Vai
em silêncio pelo amor de Eus. Terça feira você dia. Sim, terça feira. Terça
feira. Nem tantas <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">15h
horas</span>, mas por favor: terça feira. Nem nasceram, daí cargas de horas
morre o sol nessas segundas de nada <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">disso tem a ver</span> contigo. Cenoura, cenoura, e mais cenouras, isso
sim. Cargas de pão de centeio, já que nem tinham ligado. Não vou descer, aquela
corrida de taxi, nem vou areia do mar as <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">15horas</span>; sim, era noite, e com aquela mina que só
dizia: pois é, nem o paulista tá aqui agora. Deixa de ser tão grades de
laboratórios <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">femeas.</span>
Você nunca pode demais, e nem disse: dois <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">cus</span> são como <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">agua</span> entre o posto de saúde. Nem vai aqui, pode
ser menos já que nada, olhe bem, nada. Me comprou aquele estou caminhando nem
veio e os hidrantes tão certos. Nem podia, quando mesmo assim. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Vamos três horas da tarde terça
feira?</span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Parte mais
antes de quer isso <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Adoro
aquele filme: um Jesus Cristo muito maluquinho. Joguei futebol no melhor time
de todos os tempos, o <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Cartel
de Medellín.</span> Meti o creme na cara e nem vamos, mas sim. “Issos” vieram
tatuagens enconchadas na espuma. Os nem “fois” picos de branca nada de vamos.
Para que se nem parágrafos e suor na esquina dele? Telas e aqueles lance
orifícios. Você entende, lances orifícios? Escadas, se você nem pode, nunca
mais. É, estar.... é mais estranho que naquela noite quando eles se conheceram
e tudo ficou mais fácil. Mesmo assim, os dentes dos cavalos ficaram espirros
não me vem com aquelas. Sais e lama menos ainda foi. Cafeína sempre com aqueles
come canetas e pontas que são isso assim. Nem me fui com nada, já que subo corridas.
Deixa rolar o casamento e as ceboladas na fita azul. E é isso Vanessa: rola,
rola, rola; e quando rola, dói aquilo que a gente tipo terça feira acrílica.
Som barato azulado, correias, cordas, boquetes, tudo isso na parte da frente da
moto. É assim, mesmo que... mesmo que a gente entre naquele e não vai. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Outra<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Nós somos o que nos Emos antes eram mesmo que
punks soltassem assobios dos joelhos de nada. Eu estive, sim estava, sim fui, e
eu era, mas quem depois de amanha lembra que a Andrea tava vendendo batatas
recheada ali depois daquela rua que a gente fazia o que só a gente fazia. E que
se foda; que se fodasse. Meu mergulho naquela praia depois de Imbituba que não
tem mais nome foi mais ‘baratos de quinta que o seu.’ E se os pudicos, os
mentes, os caralhos que gemem alto, se isso pra nós é tipo velinhas tomando de
sol, bem, isso sempre significou que a gente gosta mesmo da gatinha ronronando
nos braços do sofá branco manchado daquelas coisas peroladas que nem aparecem;
mas elas, todas elas, veja bem, todas, sabem que estão ali. Estão quando elas
bocejam, quando elas dançam, quando caquinhas do nariz saem do nariz; é, elas
sabem e muito bem, meu bem. Tranca meu saco na gaiola e depois meia noite. Rock
star selvagem, nem tô aí. Mas derrete, me derrete que eu te derreto, com aquele
fogão que a Lucia tava comprando, mas não rolou já que tava caro pra ser
comprado naqueles tempos que Maria Pessoa tava vendendo óculos para comprar
qualquer telinha que segura criança que tava correndo e depois nanou no colo.
Os ratos chegaram, montaram o cerco, na quadra, e ficaram. Os ratos. Sabe os
ratos? aqueles que estão sempre na praça; naquela que a vigilância sanitária
cobra muito para que liberem a chuva. E daí o grupinho de garotinhas de terça
faz piquenique de <span style="color: red;">coco</span> enrolado com papel de
seda só pra dizerem pras amigas que foi bom, mesmo que não tenho gostado. Rato,
porco, e sapo, a gente chamava assim todos aqueles que vinham, faziam a festa,
mas não limpavam. Dai a Maria tinha que ir correndo até o mercado da esquina e
comprar <span style="color: red;">agua </span>sanitária e todo mundo de manhã
tomava <span style="color: red;">a agua </span>pensando que... bem, a gente não
pensava em nada. Mas as coxas da Dona Maria eram piores que as coxas daquelas
que vendem não no mercadinho mas no supermercado que faliu tipo faz dez anos,
mas a gente sempre está lá.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Parte três
não sei que horas não foi<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Ela limpou
os dentes, mas eu não fui, nem estou lá. Não me importa mais, cavalos comem
grama, pois é problema deles. Descarregaram todo aquele armamento que tava na
geladeira, e ela comprou vinho caro barato, no início da noite. Veio, jantou,
mas eu não tava lá, nem o recebi, e nem quero saber se o nome dele eu não
lembro. Cortei os <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">pelos</span>
dos dedos com aquela lâmina que já tinha sido usada e posta fora e deveria
estar na caçamba de um caminhão lotado de gente indo para qualquer cidade,
desde que eu não estivesse mais lá e nem aqui estou agora. Não me ligue no meu
aniversário, nesse dia, eu não estou. Sempre chamei ela de Vera, mas era
mentira, eu não comi a Vera, e nem quero ver ela. Morrer as <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">14h de uma sexta feira,</span>
junto daquele lago que nunca existiu naquela cidade praiana, é muito fora de
moda. Eu falo outras línguas, desde que elas não me toquem, não gosto de aftas,
agora vou fazer a prova de equitação. Saí correndo, sim, mas, na real, não sei
mais usar as pernas. A pele que resta nos teus ossos, são minhas. Sempre que
ela chega, ele chega junto entre as minhas pernas, e eu não os conheço, e eles
me conhecem, e eles não se conhecem, e eu não conheço mais ninguém. Sim, eu
nunca conheci alguém! Tomei banho quando saiu sol. Bom dia, pra você. Pra mim
continua estranho esse lance de estar em cima do muro, já que o muro não podia
cair, e eu nem queria que você fosse “a amiga” dele. Com quantas teclas se
compra um quilo de pão? Sempre tem cigarros baratos em cima da parte de trás do
armário. Eu não podia ir, fui, mas não voltei. Eu nunca mais vou voltar. Eu
prefiro continuar indo, mas, ao mesmo tempo, ficando aqui, junto do poste. Que
horas são?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Tinha bons modos. É
impossível caminhar as três horas da madrugada, prefiro cascalho do que
concreto, e paredes lisas de massa corrida continuam me deixando com dores nas
unhas e nos cabelos. Os pelos de barba são importantes para ela, os que estão
em algum ralo, as sete horas da manhã.<s> <o:p></o:p></s></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Parte 4
porque o sapo? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Três
engradados de cerveja aqui, não estão aqui, eu estou aqui, mesmo que aqui; que
horas são? Não posso mais, não <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">porque</span> eu quero, mas é que eu podia e não vou estar aqui quando
você não estiver. Não posso sentar nessas cadeiras, nas três ao mesmo tempo; me
explique a situação? Não confio nas noites, prefiro a areia que está no seu pé,
depois que você foi demitida. Eu estou errado? Eu sou errado; eu ouço errado,
eu compreendo demais o que nem queria saber. E nossa reunião mensal que
acontece todas terças; hoje é feriado e não domingo. Você até pode tentar
fugir, se você estava certa. E de qualquer forma, veja bem qualquer, de
qualquer forma... esqueci. O <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">por
do sol</span> tá muito punido. Eu estou muito baseado. Não se coloca ketchup na
via férrea, pelo menos não nesse país. Ouvi todas aquelas bandas tocando
marchinhas de carnaval, entre aquelas sequoias. Eu vejo tudo azul, já que meus
óculos de sol.... na verdade, ele é de grau e acabou colírio, mas tem água suja
aos montes aqui do lado. Eu não sabia que era inteligente, ela, depois eu.
Tanto faz se você gosta de gritar quando não está comendo. Líquido azul sempre
sai do meu nariz, que, na real, são suas orelhas. Mas, mesmo assim, sempre, eu
sempre te amei, depois de segunda feiras, as três horas da tarde esperando
chegar.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E eu gosto de você já que você é
uma pessoa muito nove horas da manhã. E a gente combina nessa feira. E de tarde
tudo fica mais simples. Não sei se os carros não estão passando, naquele
momento, em que nós vamos. E se tudo, tudo, já foi dito, eu digo: não queria
mesmo ter que falar com o Paulo, o irmão daquele cara que a gente... que a
gente.... Note bem: o precipício é meio soldado naquele canto. Comprou todas
aquelas equações e tá com cara de quem está mais feliz do que a Dona Margarete.
Fechei a porta do carro, mesmo ela dizendo que o nariz estava doendo, naquele
lugar, entre os pelinhos da barba.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Parte outra</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Já que nem
sim, mas foi. Amou, deve isso, mas já não. Nem rola, me dá, pode ver que já era
e nem tanto, mas deve e dói mais que sim e isso diz que; disse: já fui. Loira
meio rusticidade de nem quais eram. Mas isso que importou: ontem de noite em
qualquer dia e se sábado vai ser é devido, já que eles nem deixaram aqueles
feixes de luz sem cor nem vem. As pastas dela sempre foram as mais de menos. Um
dois e três são perfeitos demais e nem só, vamos. Dá a real, que sarcófagos
notaram ela. A área daquele subúrbio até nem foi que menos eram, me disse e
continua já que indo. Não comi naquela mesa com aqueles caras nove horas. Isso
não é obvio, e você notou. Caminho doce com sal e portas de ferro sempre vem.
Se as pernas estavam coladas em coisas, jamais diga: me apartamento. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">outra</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Quando
ela, a globalização chegou, eu saí correndo, tentando fugir dela. Como eu tava
parado, não rolou, ela me pegou. E daí Maria Marta de Terças a Noite, aquela
mina legal filha daquele diplomata que vende doce na esquina, daí ela disse:
Mário Soares é meu menino especial. Sim, ele tem três cabelos, o cílio direito
tá no lugar, joelhos não o atraem, e quando ele come, ele come quieto já que
nunca foi pro norte; sabe o norte? Você tá de pé, de frente pra sei lá o que, e
daí você vira, se vira, vira maionese. Mario, seu menino especial, garoto
especial, tipo menu especial, tipo especial Roberto Carlos, tipo especialidades
da casa, tipo: hoje vou te dar algo especial. Mas se terça é daquela, quarta
não acordei, e quinta é quinta. Momento tipo três horas de sexta, e nem sei.
Saca?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Outra</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Odeio
quando eu pego essa aids de verão. É, todo verão eu pego. Um saco, eu pego daí
fico gripado, e depois aparecem aquelas manchas, daí eu trepo com o pessoal e
todo mundo pega, e fica todo mundo gripado e por aí vai. É um saco. Depois dos
18, sempre pego essa merda de aids de verão. Faz quantos verões? 20? Fico com
medo quando o sol nasce do lado do meu saco, o que significa: verão chegou. E
tava frio, e eu tava cuspindo aquelas porras verde e amarelo do meu filtro
branco; e daí, isso acaba, chega o sol no meu saco, e as porras ficam sem cor.
Eu sorrio, fico feliz. Mas aquela merda de aids de verão reaparece. Devia ter
uma lei contra isso. Não, eu não acredito em política, nem em vigilância
sanitária, mesmo que meu banheiro seja limpo nas terças; e a merda que ali é
cagada é meio laqueada. Sabe aquela merda, meio amarela, sem muito cheiro e
gostosa de limpar? As festas na casa da Maria Andrea ficam legais quando todo
mundo dança samba, toma vinho e depois cai fora e nunca mais volta.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Parte .... eu estou muito achado hoje</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Cara,
deixa de ser tão sapo <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">as
15h de terça,</span> já que você não mais consegue e nem quer; e eu nem quero
mesmo, entendeu, cara? Se rola, deixa rolar, é bem simples. E mesmo que suas
pernas, gata, continuem com aquele parapeito do lado direito, naquele lado em
que o sol nem joga luz. Eu até podia ser, mas nem quero. Já o João Antônio
Filho tá sempre naquelas, sabendo que quando não se pode comer batatas, pelo
menos fica com os olhos irritados; tipo, como se diz: meus olhos estão muito
irritados de você. E não é uma questão do tipo, ela tá sempre comendo manteiga quando
a luz aparece. Eu até tenho vontade de cortar grama embaixo daquela figueira.
Nós, eu, você, e eu ontem mais você nunca, a gente.... até que eu me esqueci
que você ainda continua sempre sendo ela. E isso é bom, para os ossos. Sabe
aqueles pequenos insetos que aparecem quando a gente boceja? É mais ou menos
isso, mesmo que você prefira aquilo. E eu nunca atravessei a estrada de uma
forma tão elegante como está acontecendo amanhã depois <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">15h</span>. Deixa rolar umas dez terças feiras,
direto, que eu nem fico, mas estou, estou muito cachorro correndo. E se eu
quero, e faço e nunca vou fazer é que estamos naqueles momentos de pedras e
portas, todas muito expostas ao sol, e nem mais rola, já que eu não meti
gasolina no carro, mas bebi aqueles caramujos docinhos, e até que não estavam
bons; senão, o que seria, né? E daí, Lucimara aparece na banda e a gente nem
era a gente, e ela me disse que eu tinha esquecido de nem sei quem <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">ou o que.</span> Eu sempre nunca
gostei dela de menos. E assim é melhor, já que aqueles esparadrapos estão
sempre em algum lugar tentando se esconder das terças feiras. É, como dizia,
aqui sempre é, quando ela estava, ele acontecia. E nem sei como eles perderam
aqueles 15 quilos num fim de semana que nem começou ainda, e nem quero saber. É
meio triste, um pouco, demais. Olha o calor que tá caminhando na rua. E como eu
nem estou ali, você ainda quer, nem me viu. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<s><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Seção: Eu
estou de luto pelo meu nascimento ano passado, terça feira<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></s></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<s><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Isso fede
a merda? Não, a bosta. Nós dois juntos quando nem as terças estavam, mas
comprando, os cavalos, em barulhos aconchegantes. porque? Podia nem teclas e
aquele lance que ela faz quando ninguém estava lá mas veio junto. Por que?
Mesmo que nove horas compro aquilo que nem tá meio que mesmo rolando. E estamos
na dose duas garças e ando quando nuvem de poeira. E nem mais tinha quando
viram e fios de luz naquela briga sem as tatuagens que nem me deram dele. Mas
mesmo que</span></s><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> possa vai ser rola
daquele nos interfones viva azulejos e boquetes de um tom verde mas escuro de
mais para a sala se chove. Você nem pude, vamos então aqui de tuas noias. Vem,
vamos, foram, o que, é talvez. E você pode até entrar naqueles momentos em que
ela ainda são, mas prefiro aquelas poças: sabe aquelas? Em que gelo fazia um
dois ou três. Me disse e seria, nem tanto por aquilo já que ele muito bem
edifícios entre as adições. Saia era numas de voltei e mesmo assim, você diz:
“mesmo você menos porém, nadavam manchas e micro pontos”. E aquela gatinha sei
que berros e cachos. É ele era em determinado momento. Músicas, e aquele lance
que sai da geladeira correndo, muito prata e uma sacada e nem sei mais quem
quando foi mas ia; “pode ser”, ela vem. Porquissimamente faz representação,
palavras nem países me viram. Três deles nem tardes, mas comigos e a entrada está
proibida, se prateado entrou não fui mas estou. Estou louco demais, não estou
maluco demais. Entre o ato e sai correndo não vindo, ela estalou aquele lance
estranho que não conheço, mas disse que nem mal seria, mas adoramos, pode
chegar mais. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">outra <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Meu mestre de yoga de sábados a tarde depois de
todinho de manhã, ele disse que eu tenho que enfrentar os meus medos para viver
em paz. Oh paz. Dai eu tava em casa tipo três da madruga de terça, hora boa pra
meditar. Tava lah e como tenho medo de altura eu pulei do vigésimo andar. Não
deu certo, continuei com medo de altura. Daí eu entrei numas, bem pode dar
certo depois. Daí eu pulei mais umas vinte vezes do decimo quinto andar – coisa
de gente viciadassa em sabedoria, trans oriental e bah. Mas não deu certo,
continuo com medo de altura. Daí depois disso a coisa ficou mais amaraleda,
comecei a ficar com medo de cair. Daí eu to caminhando na rua e tenho medo de
cair no chão. To dentro do carro e to com medo de cair no chão. Cair no chão
dói, eu sei disso porque caí do chão umas cinquenta vezes, tipo decimo sei lá
andar, nas terças, daquelas madrugas massas que só a gente tá ligado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Parte vez
quem foi <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A dona
solida demais e eu to muito baseado ontem. Nem me foi que sábados para terças.
Mas me diga: rabos ou entre dois? Se devessem estiveram, nem me foi quando. Mas
disse que aquele barroso era pouco herpes atrás. Me canta aquela farmácia e seu
sai correndo ano que vem. E nem to ai; jazz, sem mármores, vai mais. E era
ainda muito batida de coco. Aquele japonês não entra que ta hemorroida. Mas me
diga: nada de quando era. E assim. Na real. Na boa. Nem sabia. E era. E.
quantos ‘Esss’; me dizia. Era e para ser lontras cadeados e partir para o Rio
nem é tão imanente assim. Já que ela sempre sabia, e sempre, era sempre mesmo
quando sempre era depois de terça feira a noite, mas 15horas meu amor. Meu
cabelo sempre dói mesmo que farrapos quentes era foi. Podia me iriam se sim
essa vai. Comprar coisas entre eles me dava o que carros de boi. E se tudo fica
tão semáforo laranja sem aquele verde que corre, sim, sim, sim. E de dia que
era ano passado antes dos dez últimos anos, mesmo que eram. Quando? Exatamente
isso. Voce sempre sou mais do que ele. Mesmo que nós sejamos cactos em latinha
de sardinha com aquele suco de groselha que sabe mais. Não diga aqui gorilas
porta cordas e ali tá escrito fachada de cara marrom. Saio. É, e esses
exatamente me percorrem toda ponteiros de manchas de cigarro nos alados vai. Me
dá uma dez desses que correndo não posso, mas deles gosto e quando; isso mesmo:
quandos! Ela dizia que aqueles corressem eram muito para nós e mesmo que nem
que foram porque. E dai já quero me matei porque estava aquele sol demais, e
não podiam, mas não carro sou. Já tá mais que real. Aquele som não se repetiu
mas vai desde ontem cabelos e nós estamos naquele barco amanhã com o rio
soprando aqueles gays meio madeiras. E mesmo os mesmos já eram os aqueles e os
ontens são muito mais que mdfs portas de closets. Não quero, não quero, não vim
depois de samba acordo qual tímpanos durou três horas, mesmo sendo terça feira,
15horas. Mas voce é aquele que mais não quis me entender. Dói dentes cavaram os
roxinhos dela sempre enm assim. Mas quando ela me diz: tela mágica estrela
manto dourado; daí eu nunca amei antes das sete horas. Mas se continuam aqui
macacos comigos sempre. E é tão, mas tão, mas tão, vide o rasgo punk época tipo
assim. Sim, somos, mas nem que vamos eles quebram, e o dia nem vai nasceu. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Barrinhos
tipo anos 80<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Me pede
abelhas quem foram mas porra. E ela nem ontem mas era linda. Vem que sins,
muitos sins, e isso nos com quem laminas. Era naquele século que comigo mesmo
ela sons da noite vaquinha sanguínea. Pura nos cervejas, e lentamentes, com
aquele lance que a gente mastiga mesmo que cheirando; não entendi já que os
sacos rock anos 90 em qualquer lanterninha de nunca fomos. Mas se voce vai,
tome uns calotas que se cagam, entre os vais e é isso aí. Ela já nasceu por
aqui e por isso nem com carnes e uma placa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Seção –
mastigo os aqueles próprios negros de quem não eram, mas foi <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Mate isso;
Mate aquilo! Me toma quando! Fazia! Magrice! E quem era naquilos bateram sei e
não. Beijasse foi me ardesse mas não. Porra, faz e nem. Gostava ainda ali me
isso porra que dedos estão. Mas por que? Quando e pode nem era. Matando os faz
e pesto era as 9horas na geladeira dela que punhos aquece. O DJ ainda ainda, e
mesmo depois, ela ainda era que cafeteiras sempre continuam naquele pais.
Tendas, faço, espaço de linhas, mendigar, e quanto a tudo isso, aeroportos
sempre. Não venha já que ontem nem foi, mas existia, paredes quentes e peles
com hein mas assim. Vagininha naquela hora, e listras e mais listras e nenhum.
Se ela nem pode o que dera desejasse <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">amens</span> de novo e sempre. Faca-se merdinhas e as guloseimas nem me
dão se ardem azul. Guardador de carro, e sucos meio rosa se podia laranja e
quão longo devesse se então podia. E vai na listra amarela mesmo que preto nem
fosse. Se ama e nem quer é devido aquela mas isso não. E pode, e deve, e é....
mas nunca mais será e é isso que importou naquele dia qme que voce era eu e eu
não mais tava lá e via que era isso tudo. Mais mais mais tava rimando com uvas
verdes e mais pratos naquela redinha que parece as calcinhas da tua ninguém.
Mas se voce pudesse deveria ter saído daquela entrada e teria que ter cedo
demais é sempre tipo algo que nunca foi uma bela terça feira, tipo 15h. só voce
que pode e mesmo assim. Boca seca e paralelepípedos sempre nunca mas mas. Sai
correndo agora pro centro de lugar todos daquela entre violas atroz. Vamos
danças ser nem que sim não deve mas é de uma loucura de lado de fora da pele
dele. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Outra
seção <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Mas sem
nem posso, no café da tarde estávamos. E sim, é sempre sim desde que
estivéssemos. Já que era, estou bem, sim, amo o que aquilo quando de repente é
demais, simplesmente, pode. Venha; venha. Sempre soube o que ele nem seria.
Amores. Mas quando ela abriu o que era para bem rolar, eu fechei isso já que
tanto assim. Estamos naqueles casos em que os beijos redes com; mas sim sempre
comecei. Linda demais mantem e merdas são com dois números. Rosácea era quente
com punk negro do sul do mapa holofote genital. Mas, mas, mas sem que ruim dado
o estenografo. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Hehehehe.</span>
Era sim. Esse com dez de muito cola de vidraças vazias. Almofadinha sempre no
lado direito. Holofotes. Isso tá vivo demais. E a próxima cantei no anoitecer –
exatamente isso. Ama-se e cafajestes. Só digo aquilo. Os transes que ele nem
teve; eles eram muito estranhos. Eu queria fingir que aquela juventude toda
armários. Mas por isso que nós tínhamos. Era ele e eu e ela e todos os que nem
estavam mas ontem foram pegos la naquela hora por são Jorge é legal. Me da uma
dose dessa foça toda e que eu me tenho aquele; hum; duas notas de viola sem ela
ficar mugindo o tempo nada era vai. Me liga, te ligo, se liga, e se sim, sempre
esses esses é que são aquela parte bem delineada de zona sul sem Amazônia
total. Pode teu cu pedia uma rugido de raposa. Era aquilo mesmo nem com dor na
juntas foram. Mas me desfia a ponta lisa naquele abajur e crônicas de estantes
e cachorrinhos mas magros queriam, e nem estabelecimentos nessas ovais de
salsichas que te encanam. Vamos la foram? Venha nem serão? De repente digitais
e impérios, merecem tendas de que voaram os calos. Se é, e pode, e deve e nem
que ontem, amanha voce estava. Perdidos quando a gente saia as três da
madrugada da praia descia até a parte sul do continente e voltava depois até
Copacabana. Era legal e ela sempre estava mesmo que os dentes faltassem na
porta da sempre. Eles saíram correndo e os licores salgaram as caixinhas de
azeite, e axé meu bem, ontem iria até a bahia mesmo que ela sempre tenha sido
tipo monte de merda em que nós nos amávamos. Batatas ainda existiam e espera em
dente de molho de soja. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Voces
são muito voceses</span>; meu dia e não fui. Aquele pais ficou tempo demais no
mapa poderia ter sido uma corrida de 100 metros. E mesmo assim, ela quer o que
meia noite a impediu a vida inteira. E me mente pelo que diga. Sinta aquilo em
qual carpete. Emagreça de novo e sempre de novo e sempre os teus fígados e
olheiras. Mas mesmo assim, naquelas nossas e sem quentes, daí ficará até em que
manteve. Por ali estava nosso abajur e por aquilo que entre eles fizeram os
pode ser. E nada, veja bem tudo, aquilo que me é, disse pode ser e nem quanto
quatro horas ainda significavam. É por aí <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Bebe e voce</span><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>gosta. Por isso eles se amaram na praia naquele antes de ontem durando a
vida nenhuma. E a gente que cabia escadas e catarros e nem que nem madeira
assada. Eles eram e devia <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">e
manteram mesmo sem mativeram</span> e nada era que devessem os barrinhos e
aquele projetil que foi e deve ter ficado já que a gente nunca mais viu. E
estou nada cansativo é devido aquilo que voce faz com tua língua mesmo que ela
não esteja meio drogada. É isso. Por isso. E deve ser. Naquilo entre muito
dedos e as duas aftas do cabelo da cadela que nem queria ser a santa da tua de
repente. Me azuleje demais e dai voce viu que nada acontecerá. Nós sempre foram
aquelas coisas tipo três horas da tarde na terça entre nós e <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">amens</span> com muito
supositório usado. Venha, pode vir desde que você não volte aqui. Se ela te
comeu os grânulos do docinho é que você sabia que isso estava acontecendo. Nós
somos sempre mais inteligentes que do que as navalhas mas nem sempre os soluços
dize: OI. Vai-te correndo depois de semana passada senão ouro e barulhinhos
fazem tudo isso mais. E nem que nem que nem que deveria e nem sei e nem quero e
nem que nem, mas que fique claro: era linda aquilo que ela deveria fazer e que
nós corremos e fugiram todos, todos aqueles. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Se eu seria, ela nem que me deu. Isso que fique claro,
mais do que claro, e que a gente entenda sempre: comer dois ovos é mais difícil
que de repente. E assim, tudo sempre claro: a gente se ama pochetes azuis e
aqueles DJS que nada sacam mas que são amigos de lontras depois das 15h orgias,
não 15 horas de terça de qualquer dia. Me diga. Me disseram. E nada. Fim, e não
rola, mas sempre quero.</span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Outra <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Sardinhas anamórfica de um feto que nem rola mas
terá sido não e não. Não não não nação não e sim e sim e sim na rela: sim ou
não. Senão. Me da um rola barato ia mas se não peca isso é de talvez. Amorzinho
de coisas na profunda e cuzinhos de rola macacos sem esta noite. Me mete me dá
faz aquilo que spo voce nunca mastodonte vem ca meu foice e vão. Buracquinho da
treta sem clas de tatoagens uberas e mata silvas. Mas me da me da e vai e vem e
não rola mesmo que peitinhos leucócitos jamais e eternamente tipo vem ca e da
uma banda meu unha encravada de cu com virias arenoso nariz polvo sapo e tudo
isso sempre em vão. Senão. Cuzinho mostarda. rapidinha na feira sem praça.
Corroendo os<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>baratismos e eu aqui em
pensado na real nos eu to pensão demais. Não eu to pensamentão, pensamentaçao.
Cuzao e cuzinhos que nem querem o que que falam mas regurgitam três holofotes
acesos para nem que me não mas se vem. Acendo meu nosso para deus e maria diz
virgem no ralo e nem tem mais caixa de som no samba que pirou. Ah, coisinhas, e
cuzinhiso, pintinhos e anamofaras frentissima do antro mais que manogoso e cu.
Vem me dar uma bofe de teu velho santa paria do sul e a gente tava morando na
praia. Ahhh cuzada; curiosa peste da rosa do nem fui meu bem mas gostei. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-78419993716690772272019-01-10T05:07:00.000-08:002019-01-10T05:07:52.837-08:00vendendo de graça os originais - acho que falta uma revisão final <br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">APRESENTAÇÃO DO LIVRO <o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Primeiras palavras <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Quando decidi que ia escrever o livro, fiz todo um estudo teórico para
me sentir fortalecido em relação aos temas. A partir dessas leituras ia deixar
uma parte do livro dedicada para discussões teóricas referenciando os autores.
Mas cheguei à conclusão de que isso era ranço da tese, que seria sim
obrigatório em uma tese, mas esse livro não é uma tese. Na escrita percebi que
muitos conceitos importantes, presentes em meu trabalho desde sempre, estavam
diluídos, se incorporaram de tal forma ao texto que simplesmente não precisava
citar. E me sinto seguro com a forma que o texto tomou. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Muito podem me chamar de deleuziano, ou até de radicalmente
deleuziano, já que o funcionamento do livro e até minha existência podem ser
compreendidos pela leitura de Mil Platôs. Mas apenas os ingênuos pensariam que
alguém leria o trabalho de Deleuze e Guattari e depois colocaria em prática na
obra e na vida. A questão é que Deleuze fala de certa vida de uma forma muito
consistente, e ele está aliado a muitos outros. Eles mostram esse tipo de vida,
que é minha vida também.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="background: lime; mso-highlight: lime;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Alguns conceitos importantes no livro <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A cidade é um mapa, formado pelo modelo dominante urbano – imposto
pelos governos e capital, e desejado por parte da população e pelos turistas –,
por agentes de resistência, como certos movimentos sociais – que produzem
linhas de fuga, como manifestações, ocupações – e, também, pela massa de
vagabundos, drogados, que em seus processos traçam linhas de fuga, mas
diferentes as dos movimentos auto organizados. Assim há a cidade como um espaço
de controle com suas linhas de fugas, uma contra o controle e a outra
descontrolada. Essas duas linhas permitidas pelos movimentos e pelos marginais
não são isoladas, se comunicam, tanto que fui obrigado a tratar delas nesse
livro.<span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A linha de fuga, a linha molar e a molecular formam o mapa, o objeto
da cartografia. A molar se refere ao estabelecido, as identidades duras, aquilo
que é percebido facilmente, ao poder e suas construções. A molecular diz
respeito ao minoritário, aos devires, as produções diferenciais,
descodificadas. As linhas de fuga vazam as codificações dominantes, se referem
às desterritorializações dos estratos sociais; elas agitam as outras duas
linhas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A sociedade de controle é a prisão a céu aberto. Não se necessita mais
de espaços de confinamento, comando central. As pessoas se sujeitam, já que não
há outra forma de viver, se sujeitam e sujeitam aos outros em um policiamento
constante. E contra ela, contra o policiamento, contra a prisão estão certos
movimentos e certos processos da marginalidade, da juventude marginal ou dos
jovens que se marginalizam em determinados momentos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O modelo metropolitano é um projeto no qual não haja linhas de fuga,
espaço controlado, endurecido ao extremo. Esse modelo ideal é um simulacro,
repetido em todo o globo para ser vendido, capitalizado. Nele, a atuação do
cidadão é impedida, ele pode apenas desejar esse modelo e não lutar contra ele.
Uma das linhas da multidão se refere exatamente a luta contra esse modelo, os
okupas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Okupa é o movimento mais radical dentro do tecido urbano. Ele toma
espaços dentro da cidade, antes abandonados, e lhes dá vida, através da
autogestão, colaboração e organização em rede.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Ou seja, o movimento não está de fora da cidade, não busca um fora da
cidade, mas, sim, um fora dentro da cidade, e está, sim, dentro, sempre em
choque direto com o poder, o qual reprime e impede qualquer tipo de produção
autônoma, que não necessite da tutela governamental. Dediquei aos okupas minha
tese, e aqui ganham certo destaque.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Mas outros movimentos em rede também tem a cidade como local de
produção biopolítica. O Movimento por outra Globalização se centrava em
protestos de rua. Os movimentos que surgem com as revoluções árabes, tomam
consistência com os Indignados Espanhóis e culminam com os Ocupa Wall Street
tinham como método tomada de praças. As lutas no Brasil em 2013 – que se
referiam também ao rumo que as cidades do país estão tomando, sua
espetacularização – foram revoltas que tornaram ruas de inúmeras grandes
cidades campos de batalha entre manifestantes e polícia.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Neste livro, neste mapa,
portanto, há essas duas questões afastadas, mas que se aproximam: a política da
multidão e os devires marginais na cidade. Ambos processos impõem
funcionamentos diferentes da cidade, porém a marginalidade é descontrolada e a
multidão um projeto contra o controle. A marginalidade não tem um projeto, mas
os movimentos de multidão, principalmente os jovens que participam dos
movimentos, criam descontrole. Os jovens que ocupam, que estão nas manifestações,
não em sua maioria, mas muitos, pixam, se drogam, assaltam, brigam. Contra o
controle é o desejo de criação de uma nova vida a partir de projetos. Fora de
controle é o desejo de criação de uma nova vida, quase sempre efêmera, da forma
que se tem em mãos. E neste livro há um descontrole, um caos projetado e ele é
aliado da crítica contra o controle feita por muitos agentes não
necessariamente do campo teórico ou artístico.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O grande tema do livro, portanto, é a cidade, pensada como local do
controle, a qual é afrontada pelas experimentações dentro dela, contra e fora
de controle. O que move o livro é a tentativa de experimentação de uma
percepção molecular, não normatizada, essencial para pensar a potência das
formas de resistência dentro da cidade, que será aos poucos explicitada nesta
parte. Também, o move um desejo de menorização de meu trabalho de certa forma
realizado, em parte, na tese. Nela eu tentei ao máximo trazer o pensamento, as
falas, os textos, de inúmeros sujeitos, apresentei multiplicidades de vozes da
forma mais direta possível. Mas não era um texto rizoma, talvez seja impossível
um texto do tipo ser aceito na academia, por isso, escrevo este livro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Aqui essas multiplicidades de
vozes antes mapeadas não são referenciadas, mas elas sustentam o trabalho.
Estou perdido de tal forma entre muita coisa, que dizer, ‘eu penso isso’, ou
assinar, é apenas uma questão de costume. Por isso falo em menorização: não há
um sujeito pensante, dono de suas ideias, dono desse livro. Eu não penso, melhor,
eu penso com a multidão e com os loucos descontrolados. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Sim, eu sei ler, escrever, interpretar, muitos não conseguem dar
consistência para o que pensam, mas isso não me torna especial, já que muitos
fascistas, seres sacanas, sabem ler, escrever e interpretar; e fazem isso
melhor do que eu. Talvez o que eu faça bem seja esse processo de
despersonalização em que “Eu” não diz muito, diz muito pouco. A
despersonalização não exige inteligência, genialidade e, sim, abertura ao caos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Eu entrei na academia não para ser um doutor, mas para me
dessubjetivar sem drogas, ali me escondi durante quase uma década.
Dessubjetivar com drogas, que é um tipo de dessubjetivação, mas a partir de
outras linhas de fuga e devires, faz parte da ética dos drogados. Dessubjetivação
é uma questão ética, o sentido de uma vida, a forma mais importante de
resistência. A cartografia não é uma questão apenas intelectual, e não precisa
ser: um disco, um livro, uma transa, uma tomada da cidade, a relação com a
droga podem ser mapas. Ou seja, sou mais um entre esses que constroem mapas
muito mais interessantes que esse livro.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Mapas todos constroem, linhas de fuga são traçadas, códigos são
desterritoralizados, não se necessita ler Deleuze para isso. E não estou sendo
humilde, como disse, é uma questão ética, um comum entre os pobres, os loucos,
os drogados, os movimentos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Esse livro vai ser publicado em Creative Commons, em formato digital e
aberto. Vou assinar, já que não me dessubjetivei o suficiente ainda. Esse livro
não é a imagem de um rizoma, mas sim a tentativa de aumentar o território ao
máximo, isso é o mesmo que dizer: não enlouqueci o suficiente ainda. E
obviamente quando falo em loucos, em enlouquecer, estou falando em fluxos
esquizos, experimentações de modulações do caos, que são os mapas, aumentar o
território, dessubjetivar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Não é fácil, principalmente sendo um doutor, branco, classe média,
compor a cartografia, já que os devires, as linhas de fuga são mais
imperceptíveis para a subjetividade dominante. É interessante que muitos, o bom
cidadão, só conseguem pensar em termos de macro política, política do Estado.
Desconsideram a micro política, que não é menos expressiva, mas se refere a
outras lógicas. Não conseguem enxergar a multidão já que ela não tem rosto e
não assina seu próprio nome. Ninguém diz: ‘somos a multidão’; ou: ‘ali está a
multidão’. Já um político é facilmente identificado: tem um nome, um partido,
fala por si mesmo, se representa. Políticos de qualquer esquerda são um atraso,
parece que não viveram a virada do século; se tivessem vivido não seriam
políticos, esses Eus centrados, personas; eles deveriam estar no meio dos
movimentos em rede, ser mais um na multidão. Sim, os indivíduos são importantes
e singulares nos movimentos, mas não são egocêntricos ao ponto de desejarem
salvar o mundo sendo um político do Estado. As pessoas enxergam apenas o
visível: um político, um rosto, um posicionamento ideológico, um discurso. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Belzebu é um enxame; Legião (o demônio) é uma multiplicidade; Baphomet
é um monstro impuro; isso é a Multidão, não um bom Deus, seu bom filho, alguém
acima, em um mundo ideal que dá as leis para que seus filhos vivam. Por isso,
Negri trata os políticos, o Estado, como afirmadores de transcendência.
Voltamos para a luta primeva? Deus X a Legião Demoníaca? Talvez por isso não se
fale em multidão e movimentos em rede e sim apenas na política estatal. O demoníaco
não pode nem ser mencionado pelos fanáticos pela transcendência. Isso mostra a
necessidade uma nova percepção para entender um outro mundo vivo, atual e
caótico – e só os loucos enxergam o caos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Menorizar é fazer as vozes coletivas falarem, me apagar, e eu faço
isso, tento, quando falo de mim. Uma cartografia do texto possível é mostrar
quando isso funciona ou quando ainda o EU, esse EU, um tal “Diego que aqui
fala” se mantem no centro. Isso é o teste e o erro, e quando o erro predomina
revela que o texto está funcionando, já que o acerto é da lógica dominante,
acadêmica. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O bom cidadão é apaixonado por si e os seus, eles são bons; o
vagabundo é o erro da sociedade, como os outros párias. Mas o vagabundo mostra
outras realidades, tempos possíveis, e isso dói no bom cidadão já que ele é
apaixonado por sua vida. O bom cidadão, o sujeito incluído, de classe média,
que vive com mais segurança que os outros, se ama tanto que deseja que todos
tenham uma vida igual a sua, essa é sua utopia. Ele não aceita a vida do pária,
o pária não pode ser pária, ele não pode ter essa possibilidade de vida. Todos
têm que trabalhar, ter casa, ser consumidor, ter seus deveres e cumpri-los.
Peter Pelbart já dizia que nas ricas economias (ele disse isso na virada do
século) os cidadãos viviam e pensavam como porcos. Mais democracia, mas numa
falsa democracia, continua sendo falsa democracia; capitalismo mais humano
continua sendo capitalismo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">E ainda sobre o bom cidadão: ele é controlado e ama o controle, claro
que ‘bom cidadão’ é uma identidade ideal que não abarca uma pessoa, todos
fogem, enlouquecem de certa forma, mesmo sem notar. O bom cidadão não quer ser
chamado de louco ou de vagabundo, como disse; mas ele aceita a loucura e até a
ama. Ele é de classe média, tem bom gosto, como o hipster, ama arte visual,
música, cinema e sabe muito bem que há muito de loucura envolvida na arte em
geral.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Especificidade de cada capítulo <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Este livro é uma
experimentação, testo formas de captação da cidade e estilos de escrita. Quanto
aos estilos, misturo crônica, ensaio, caderno de notas, cadernos de notas
refinado, texto acadêmico, literatura. A crônica atravessa todos os capítulos,
como também insights, sacações que podem ser elementos da crônica. Crônica é um
estilo tão versátil que eu me associo a poucos escritores do estilo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>As formas de captação são a etnografia, a
vivência na cidade, a ficção e a vista de uma sacada. O que as precede é a
cartografia, mas como vai ser visto, a cartografia não é um método, e se isso
transparece em certos momentos se deve as contradições internas do trabalho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O livro está dividido em cinco partes: três delas dizem respeito a
cidade de Porto Alegre; outra parte é sobre a cidade de Barcelona; e esta é uma
discussão teórica livre sobre o funcionamento do livro. O segundo texto parte
da vista de uma sacada de frente a um Largo em Porto Alegre com muitas
atividades cidadãs. Nele se percebe a cidade controlada; como ela funciona e
bem. O centro do texto é a transformação de um bairro, a Cidade Baixa, o qual
se tornou moda nas últimas décadas. O estilo usado é o caderno de notas. O
terceiro é sobre a noite, as festas, em Porto Alegre, principalmente na virada
do século. É a parte do livro mais experimental; para compô-la fui obrigado a
usar literatura e estilos de crônica (que podem ser literatura), já que se
refere também a indiscernibilidade entre ilusão e realidade. O penúltimo texto
trata dos skatistas como cartógrafos, como eles constroem mapas dentro da
cidade e se situa na Porto Alegre dos primeiros anos da década de 90.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Essas duas partes anteriores são sobre a
marginalidade, como os marginais usam a cidade. Por fim, a última parte,
derivada de cadernos de notas sobre trabalho de campo etnográfico realizado em
Barcelona em 2014 com o movimento Okupa. O texto foca nessa cidade nesse
período, 2014, a época em que vivi em Barcelona. Porto Alegre ganha destaque,
já que vivo nela desde a adolescência.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Não busco comparações entre as duas cidades, mas sim apresentar
processos que são próprios das cidades ocidentais nos últimos anos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Acentuando o caráter experimental do trabalho, após o fim do livro,
publico no mesmo volume um outro livro. Sim, é outro livro, tem um tamanho
mínimo de um livro de literatura, e é publicado conjuntamente, por alguns
motivos: 1. Foi escrito ao mesmo tempo que o primeiro livro. 2. Ele é
continuação das linhas de fuga traçadas. 3. Ele possui uma escrita absurda, é
totalmente experimental, não sei se foi feito para ser lido, e isso foi a minha
forma de não enlouquecer em vida, a partir da escrita desse trabalho. Em vez de
finalizar com uma linha de abolição, finalizei com arte. Esse outro livro é a
dessubjetivação em estado mais bruto e ele será apresentado com mais detalhes
em uma abertura em seu espaço nesse volume.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">CARTOGRAFIA, PERCEPÇÃO MOLECULAR, COMUM
EXISTENCIAL<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Há um comum (em Negri, conceito usado para pensar a produção da
multidão) que aproxima marginais, coletivos libertários, artistas, filósofos,
cientistas; esse comum são formas de viver e pensar o mundo que dizem respeito
a uma questão ética-estética: a não aceitação do controle, a luta contra ele. A
luta contra o controle é o ponto de partida para experimentações, criações de
linhas de fuga. E as linhas de fuga possibilitam uma percepção ou
experimentação do molecular. Essa percepção move este trabalho. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Esse comum também toma uma forma mais direta, quase física: certos
artistas, da linha romântica, aqueles que viveram e muito, e muitas vezes isso
está mais que visível em suas obras, foram marginais e influenciaram coletivos
libertários.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Muitos desses coletivos têm
contato direto com teóricos. Teóricos libertários foram influenciados por
artistas românticos e vice versa; e muitos desses artistas são teóricos e
certas obras do campo do conhecimento são praticamente obras de arte romântica,
como os Mil Platôs. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Essas proximidades se devem
pois, como disse, há essa questão existencial que os aproxima. Se Negri e
Deleuze (e não é Negri e Deleuze, mas Negri e Hardt e Deleuze e Guattari, pelo
menos seus livros são assinados assim) são centrais para pensar o controle, a
multidão, os processos dela, as linhas de fuga se deve por serem autores com
uma obra consistente sobre esses temas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Deleuze ajuda e muito a pensar, entender, perceber, desejar o caos, o
descontrole, mas possivelmente, a tradição romântica, marginal da arte, faz o
mesmo, a partir de suas especificidades. Mil Platôs materialmente é muito
diferente do corpo recortado de Genesis P-Orridge, mas o livro e o corpo de
Genesis são mapas, e ambos são projetos contra o controle. E se Genesis produz
muito bem o caos em seu descontrole, Mil Platôs não é menos descontrolado.
Ambos ajudam a molecularizar a percepção, pensá-la melhor. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Deleuze não inventou a percepção molecular, deu um nome a ela, essa
percepção tão especial que nos permite fugir, devir outro, enlouquecer. E
quanto a fuga, a linha de fuga: Deleuze não inventou a fuga no horário de aula,
nem o rap nos presídios ou o baseado antes do café da manhã.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Uns chamam a linha de fuga de “aquele momento
em que faço sexo com minha garota Yogi e ela levanta a perna de tal jeito que
meu coração explode”, outros de “quando decido simplesmente descer do ônibus na
estrada e não vou para a aula” ou de “no meio do expediente saio sem avisar meu
chefe e tomo três cervejas no bar da esquina”….<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O contra o controle toma formas diversas e “deve” atravessar toda a
vida, a qual foi capturada pelo poder. O “deve” parece uma palavra de ordem,
mas não é. Os coletivos produzem processos na cidade, desejam a construção de
uma nova cidade; os teóricos criticam diretamente o controle; os artistas
produzem obras caóticas. Já o fora de controle produzido pelo marginal, o
drogado, o pichador, se apresenta de forma mais efêmera, dura tanto quanto um
barato; as vezes dura uma adolescência, estações, dura até a overdose ou o
suicídio. Mas mesmo não durando, mostram que é melhor fugir, de qualquer forma
do que viver aprisionado. E isso, sentir o controle como algo insuportável, é
comum a toda a tradição trágica citada acima. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A não aceitação da vida como ela é imposta é a crítica, assim, mesmo
sem produzir obra, sem teorizar a sua existência, o drogado é um crítico apenas
por ser quem é. É radical, não aceita a percepção e a afecção normatizadas, não
aceita o funcionamento do próprio corpo, não aceita o tempo cronológico, as
leis, muitas vezes não trabalha, mas produz essas formas de vidas críticas.
Pensar assim, no drogadinho como crítico, permite que se fuja da
transcendência, de colocar a teoria, o campo do saber, em um local
privilegiado. É a sabedoria das ruas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Método? Se faz o possível em determinado momento a partir de certas
condições para produzir, pensar e viver. Não há método para viver. Cartografia
não é um método. Percepção molecular não diz respeito a métodos. Ver, ouvir,
cheirar, tocar, lamber, perceber o mundo molecularmente não é método, é questão
existencial. Cartografia não é um método a ser usado para se pensar
determinados tipos de objetos. Não se tem a cartografia em mãos e se usa ela
quando em campo. A percepção molecular, por ser um tipo de percepção, está
sempre acionada, em alguns momentos fica mais clara, expressiva. É a percepção
livre dos freios da normatização. Muitos não a notam, ou se assustam com ela.
Como ela faz parte da vida, pensar sobre ela, é pensar sobre a vida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Na cartografia por se buscar a diferença, as linhas de fuga em relação
aos códigos, os processos imperceptíveis à subjetividade normalizada, os
devires – por isso, ela afeta a própria subjetividade do cartógrafo, ou seja,
como disse, e reafirmo, é uma questão existencial. Se perder na multidão, estar
entre os marginais, ser uma linha deles, não se separar deles a partir da
pesquisa, não criar barreiras – as transcendências do tipo teoria e prática,
sujeito da pesquisa e objeto – não são gestos para melhor pesquisar, ou seja,
método, isso é uma questão existencial. E essa perda, perder-se de si, no caso
de um trabalho que se deseja ser aceito no mundo acadêmico, nunca é totalmente
realizada. Por isso, está envolvida uma experimentação, uma longa preparação,
uma construção de territórios. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Esse texto tem algo de uma multiplicidade experimentada; traço linhas
de natureza diferentes: é antropologia, é literatura, é filosofia, é tudo isso.
E se as fronteiras entre campos se borram, se o texto é impuro, sujo, muitas
vezes delirante, isso afirma o descontrole. Esse livro não é uma tese, mesmo
que meu pensamento, obviamente, tenha sido formatado pela academia. Mas
importante tentar aquilo que é inadmissível na academia.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O afeto pelo marginal é central na tradição romântica. Quantos dessa
tradição foram internados, presos, morreram, foram suicidados pela sociedade?
Na busca de uma outra vida sempre há o perigo, o perigo da experimentação. A
escrita pode enlouquecer. O contato com o molecular, a molecularização da
percepção, mesmo a partir escrita, pode levar a loucura. Às vezes, não há mais
saídas e se é preso, morto.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Molecularizar a percepção ao ponto de entender que se é um prisioneiro
pode ser fatal: perceber que até o funcionamento do corpo é uma prisão, que o
ego é uma prisão, que a cidade é uma prisão, que fazer parte de um povo é estar
preso a sua identidade, perceber que ser homem, branco racional é uma prisão,
que uma família, escola, empresa são prisões, perceber que quando se faz sexo
se está aprisionado em tarinhas de almanaque, que quando se delira muitos dos
delírios são neuroses presenteadas pela espetacularização da área médica, perceber
que quando se pensa, se pensa como um porco, um porco racional, cheio de bom
senso, perceber que prazeres são vendidos no atacado, que mesmo quando se luta
na rua pode se estar afirmando o modelo político
dominante.......................... Perceber tudo isso pode levar a impotência
ou a abolição. Por isso, Negri e Deleuze criam esses conceitos que são linhas
de fuga em relação a tudo isso, mostram, expõem o vitalismo, possibilidades de
formas de vida não capturadas; conceitos que afirmam a crítica total e radical
e ajudam a enfrentar o encarceramento ao ar livre. E para compreendê-los, os
conceitos, se necessita ativar a percepção molecular. E como ativar? Vivendo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Pesa no texto falar francamente, trazer lembranças pessoais, isso para
mim sempre é doloroso e não sei escrever de outra forma. E mais, há muitas
lembranças, fatos narrados, histórias no texto que simplesmente não sei se
aconteceram ou não; e obviamente tenho muitas outras lembranças que de forma
alguma compartilharia com alguém. Cut Up é um método usado para produzir arte.
Burroughs escrevia, recortava os textos e os montava de outras formas; nas mãos
de Genesis P-Orridge o método virou sua vida, sua existência. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Creio que os “meus” cacos de memória, que misturam sonhos, alucinação,
drogadição, vida em vigília, lembranças pela metade ou borradas, com buracos
negros sempre presentes, são como Cut Ups, recortes prontos e os uso aqui nesse
texto. Burroughs escreveu muitos livros a partir de Cut Ups completamente louco
de morfina. Ele mesmo dizia que relia seus escritos e não tinha ideia de como
aquilo havia sido escrito. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Os Cut Ups, como cacos de
lembranças, não se referem a método, os cacos são experiências de “minha?”
vida, que já estavam mais consistentes ou que foram aparecendo na escrita, se
atualizando. Assim, em muitas partes o livro toma a forma de um mosaico, os
cacos reunidos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Há uma cena no filme The Wall na qual o músico famoso destrói um
quarto de hotel; destrói todos os móveis, tudo que estava no quarto. Em
determinado momento ele entra em um estado estranho de calma e remonta tudo a
partir dos destroços, mas obviamente de forma diferente. Uma festa, que pode
durar quanto tempo alguém aguentar, muitas vezes é um quebra-tudo, aliás,
“quebra tudo” é um grito de guerra que se canta em festas. Quebrar tudo: beber
e se drogar com o que for, agarrar qualquer um que aparecer na frente, brigar,
enfrentar batidas policiais, assaltos. Daí, o festeiro apaga, a festa não pode
ser eterna. Ele apaga, e tempos depois acorda, com dor, muita dor, por todo o
corpo, e se lembra de algumas coisas, monta uma mosaico de lembranças que não
se ligam, são incompatíveis. E não tem como não montar, muitas vezes por
remorso, medo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Deixando de lado paixões tristes, sempre mais do que presentes,
importante é saber que se é outro (s). Chamavam de Bukowski de “o Maldito”,
quando estava muito louco, ou seja, era outro. O mesmo acontecia com Jim
Morrisson; quando ele estava muito louco era chamado de “Jimbo”. Syd Barret
estava tão louco, que para ele, Syd era outra pessoa, não ele. Mas reconhecendo
que a droga permite esses outros, isso pode ser usado como potência, algo
alegre e importante. Dizer: vamos fumar um! Vamos tomar um ácido! Vamos
misturar tudo! É como dizer: vamos nos tornar outros? Pelo menos nesses momentos.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Esse apego que se tem por si mesmo, por sua história, pelo seu corpo,
é posto em jogo: eu não quero ser eu, pelo menos nesse fim de semana, por isso,
vou tomar chá de cogumelo. E não é só se tornar outro, já que esse outro está
em outro mundo, com outra temporalidade, com outra espacialidade, com outros
signos; eu, um outro, em um outro mundo.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>E por qual motivo desejar um outro mundo? Não é isso que todos desejam?
Sujeitos, coletivos, singularidades diferentes como os movimentos em rede, a
velha esquerda, o bom cidadão, todos não querem um outro mundo? Não são os
mesmos mundos, mas são outros.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Exemplifico a percepção molecular, a cartografia do molecular, a
partir de três momentos distintos: uma cena que aconteceu no cotidiano diário,
um sonho e um estado de narcose. Esses momentos mostram áreas de
indiscernibilidade entre sujeitos, colocam em jogo a racionalidade e o bom
senso, afirmam mundo diferentes, dos sonhos, dos delírios, das drogas; expõem
uma relação com o mundo de estranheza, mas também de alegria. A percepção
permite o contato com o caos, que possivelmente é o mundo, e a percepção
normatizada simplesmente uma fotografia desse mundo. A percepção quando chamada
de delírio, é impedida, pelas coerções, pelo controle. A forma mais simples de
coerção, a mais banal é taxar ou se perceber como louco e então impedir a
loucura. Eu senti isso ao transcrever o que segue e quase não publiquei essas
experiências.<span style="color: red;"> </span>Por isso, a escrita é dolorosa,
mas quanto a mim isso aparece somente nos textos em que busco o descontrole. O
texto acadêmico é menos doloroso por já ser um tipo de coerção,
sobrecodificação, controle discursivo. <span style="background: yellow; color: red; mso-highlight: yellow;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">1. Estava na praia do rio Guaíba em Porto Alegre. Estava fumando um
cigarro. Vi um rapaz entrar no rio com sua prancha de Wind Surf. Ele entrou
sozinho. Começou a surfar, fazer manobras. Em determinado momento caiu na água.
A partir daí ele lutou durante dez minutos para se levantar. Fiquei olhando
preocupado já que ele estava sozinho. Se levantou e voltou para a areia. Senti
vontade de ir perguntar a ele se estava tudo bem, queria saber como estava se
sentindo. Quando fui dar o primeiro passo em direção a ele, me senti estranho,
uma sensação estranha; fiquei com medo, fui para o meu carro. Quando entrei no
carro, reconheci a sensação: era a mesma que sentia após ficar preso em buracos
na água da praia. Para sair de um buraco se exige um grande esforço e por ser
na água isso gera um tipo específico de cansaço. Penso que senti o que o
surfista estava sentindo já que ele lutou na água por dez minutos para ficar de
pé. Aconteceu algo entre nós, compartilhamos o mesmo afeto, ou seja, uma linha
de fuga da individuação dos nossos corpos, os corpos compartimentados e
isolados. Isso é uma molecularização da percepção: sentir o sentimento do
outro, que não é mais outro, mas uma linha de um agenciamento no qual eu era
também uma linha.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">2. Um sonho, parecido com a cena acima, no que se refere a
indiscernibilidade entre sujeitos. Me perece ser um sonho recorrente, desde a
adolescência. Caio de um andar baixo, mas de nuca e assim quebro o pescoço. Na
caída, fico com medo, que aumenta até o contato com o solo. No contato, quando
quebro o pescoço, ao mesmo tempo, penso: ok, morri. Morto, ainda me percebo;
sei que estou morto e me percebo morto – isso dura uns segundos, e nesses
segundos conjuntamente, algo muito estranho acontece: vejo uma garota
caminhando em um espaço tempo que não reconheço; ela caminha, está feliz, não
muito, mas está; uma felicidade de adolescente, quando se sente feliz sem grandes
motivos. Só que entendo que eu sou aquela garota; ainda me reconheço como
aquele que morreu, mas sei que agora, depois daquela morte, sou essa garota.
Mais uns segundos, a lembrança da vida daquele que morreu se apaga e a garota
segue a vida dela – e parece que algo meu, o que morreu, ficou com ela. É
difícil de narrar esse sonho, pois ele trata de uma despersonalização, da
inexistência de barreiras entre sujeitos, é um tipo de esquizofrenização.
Obviamente, não faço uma leitura extra real, de vida após a morte, de
reencarnação; mas sim, para mim, fica óbvio no sonho que a vida não se resume a
vida pessoal: os fluxos passam entre sujeitos, entre sujeitos acontece muita
coisa; há o caos, mas o enxergamos a partir de lentes embaçadas. O sonho é um
delírio, e posso falar muito bem de delírios já que sou um drogado desde os 13
anos de idade. Aliás, mesmo não me drogando, consigo perceber meu devir
drogado, por isso, trabalho com a percepção molecular e gosto de pensar e
lembrar de meus sonhos. Esse delírio permite uma narrativa da morte
interessante e acolhedora, tranquila e não dolorosa. A vida continua em sua
potência ou tristeza. Fico feliz com a felicidade da garota que também sou eu,
e nós somos moléculas entre o núcleo da terra e o cosmos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">3. Uma viagem de inalante recorrente: a viagem é mais difícil de ser
narrada, eu sinto que a compreendo quase completamente, mas é difícil de narrar
o que sinto, já que é um delírio, os signos do delírio são diferentes aos
normatizados. Por isso que em momentos do texto eu tenho que usar literatura;
preciso de uma linguagem inexata para expor exatamente as descodificações. Eu
cheiro e praticamente apago, meu corpo deve estar parado, não tenho consciência
do meu corpo, mas estou sonhando (viajando). A viagem: percebo um mundo, um
mundo como o nosso, idêntico, mas eu não sou eu, eu sou um outro. Tenho uma
outra vida, sou outra pessoa, estou feliz, eu me compreendo como a outra pessoa
da mesma forma que todos têm uma compreensão de si, de seu corpo, história,
etc.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Essa outra vida é boa, mas não
muito diferente da minha em estado não onírico. Em certo momento, pelo
enfraquecimento da dose de inalante, eu retorno a compreensão de minha vida em
vigília, volto a ser “Diego este que fala”. Mas há um ponto, um momento na viagem,
que me faz compreender as duas vidas ao mesmo tempo; e sinto um desejo de
manter a vida onírica. Quando sou empurrado para a vigília sinto nostalgia da
outra vida. Após passar por essa viagem inúmeras vezes, raramente, surge uma
dúvida: se essa vida que penso ser minha em um mundo concreto, neste mundo, se
ela não é uma viagem de inalante. Será que agora estou viajando e posso
retornar em breve para outra vida? Como me sinto e me compreendo agora não é
diferente de como me sentia e me compreendia nas viagens de inalante.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Por que insisto ainda em falar eu? <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">É difícil não falar como todo mundo fala. Me interessam processos que
têm alguma relação à minha vida. A partir dos movimentos alter globalização foi
permitido um pensamento comum, não uma união, mas a percepção de que muitos, a
multidão, pensam, agem, se reúnem, fazem política de uma forma comum; por isso
nunca me senti sozinho ou atomizado. O escritor é quem se vê obrigado a ficar
sozinho. Há necessidade de um recolhimento para ler, pensar, escrever. Mas eu
não consigo ficar muito tempo na rotina da leitura, escrita e pensamento, por
longos momentos, preciso ficar só. Quando leio, escrevo e penso não estou só,
estou pensando, estou junto, com muitos. E é uma questão importante, não se
deixar ficar só. A cidade delira toda noite, há um desejo de outra vida, há
loucuras e processos e projetos, estar entre tudo isso não é só uma questão de
proximidade física. E isso que importa. Nem sempre quero estar em uma ocupação,
em uma manifestação, em um encontro de movimentos libertários, em festas, na
noite com outras pessoas, mas mesmo em casa, só, estou com esses, mesmo que
seja só de coração.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Sim, há um personagem marcante no livro: eu. Há no livro histórias
sobre esse eu, vividas em algumas cidades. Há partes mais pessoais, em que
essas histórias de vida predominam. Dizer “Eu” já é importante, marca o livro
como crônica que é um gênero menor. Só que em muitos momentos dizer “eu fiz”,
não diz nada, nem todas as histórias são verídicas e se são, simplesmente, não
sei. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O idiota é o bom cidadão; é o controlado, é aquele que afirma as
significações dominantes. Mas o idiota não é alguém, uma pessoa, diz respeito a
uma forma de pensar. Não há como não ser idiota, não pensar como todos, não ser
bom cidadão. Porém, pode-se traçar linhas de fuga, ficar menos protegido,
experimentar. Isso pode ser na arte, na vida, na ciência, na filosofia, na
música, no que for. Quando digo EU, estou me referindo as rações de
significância afirmadas e as linhas de fuga traçadas. Eu, o acadêmico, branco,
bom cidadão, que tenta produzir um texto transloucado. E não é uma questão de
humildade se sentir um idiota, isso não importa: eu é um outro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Importante reconhecer as significações dominantes, em nós, na vida, na
sociedade e traçar as linhas de fuga, isso é a cartografia, uma dessubjetivação
em constante processo: não sou mais tão idiota, mas permaneço idiota. E devo
permanecer, importante ter um pouco de segurança. Idiota não é uma pessoa, como
o crítico da idiotia não é uma pessoa; percepção molecular e idiotia não são
duas coisas separadas isoladas, são linhas de um agenciamento. Mesmo quando se
está produzindo crítica pode se estar afirmando o controle, o descontrole pode
muitas vezes se confundir com o micro fascismo, por isso a cartografia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O cronista pode ser qualquer um, é só ter uma opinião – todos têm – e
saber escrever. Ela é muito mais inclusiva do que notícia, reportagem, poesia,
literatura em geral, ensaio, artigo acadêmico. É só sentar e escrever, não se
necessita de pesquisa, não precisa de fontes, referencial teórico. Claro que
muitos cronistas – quase todos – são chatos, escrevem textos clichês. Todos –
as pessoas – fazem crônicas, apenas não as formalizam na escrita. Quando se
conta uma história a alguém isso é base de uma crônica, aliás, se torna uma
mesmo se for escrita literalmente. Quando se lembra de algo que passou, se está
fazendo uma crônica pessoal, na primeira pessoa. Todos têm histórias de vida,
algumas interessantes, mas isso não produz necessariamente uma boa crônica, mas
apenas crônicas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Sobre a memória pessoal, matéria da crônica: não sou vaidoso ao ponto
de querer escrever sobre mim, mostrar orgulhosamente minha bela vida, afirmá-la
para a posteridade, me colocar como um objeto a ser admirado. Como já disse:
isso dói e muito, é algo masoquista. Não estou imitando essa linha marginal
biográfica da literatura. Não é minha vida que está em jogo, mas a vida da
cidade, sua geografia, suas transformações, os coletivos situados na cidade, os
jovens, as apropriações pelo poder. Sim, não vejo grandes diferenças entre as
minhas experimentações e as de Kerouac e Bukowski. Aprendi a escrever com eles,
mas não os imito, são importantes, os dois, pois criaram essas
indiscernibilidades entre ficção e vida, isso registrado em seus textos. Depois
de serem registradas as experimentações podem não ser repetidas, mas usadas
como potência. Eu roubei a obra deles, por isso, o livro não é minha obra, sou
um ladrão. Um ladrão tem algo em mãos, mas não é o dono. A captura é também da
vida dos jovens e dos movimentos em rede. Me aproprio da vida deles para poder
produzir. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A crônica é esse texto extremamente simples, que coloca em jogo
experiências de um sujeito. Boa parte dos textos acadêmicos é dura, cansativa e
impessoal, os afetos são apagados. A crônica é uma escrita pobre, vagabunda,
marginal. Ou seja, eu como doutor, que publica em revistas acadêmicas, que está
inserido no campo, eu tento quebrar o texto acadêmico, nesse devir vagabundo da
escrita.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E mais, nem sei se posso chamar
de crônica já que não há definições estabelecidas sobre. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Esse trabalho não é uma crônica, já que há temas definidos, como a
cidade, o controle, o contra o controle e descontrole; há no livro algo que
muitos podem chamar de métodos, a cartografia, a etnografia urbana. Os estilos
textuais aqui são muito bem pensados. Sobre o eixo teórico, Deleuze e Guattari
e Negri e Hardt, ele impõe discussões mais rigorosas. Por isso, se há um
descontrole na escrita ele é regrado. Não é um texto do caos, mesmo que tenha
elementos caóticos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Quando falo em experimentações, elas não pertencem a mim, não é o meu
devir, mas um devir, devires. Ninguém é dono nem sujeito de um devir, mas o
experimenta. Não é o meu olhar de uma sacada, mas um olhar, como não é minha
sacada, pois eu a alugo. O escritor é aquele que viveu muito. Os Beats,
Bukowski, Rimbaud, viajaram muito, experimentaram muito, sem medo, com toda a
dor e alegria. Isso eu compartilho com eles. Quero experimentar! Essa foi minha
máxima durante boa parte de minha vida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Estou sentado aqui escrevendo de frente a minha vista. Mas meu coração
está com aqueles que nem dormiram; para eles a manhã de quinta – agora – é a
continuação da noite de quarta, ou da noite de terça, ou da noite do último
sábado. Sim, estou com eles, de coração, mas não posso estar com eles
fisicamente. A maior parte das drogas que experimentei, fui viciado, todas
elas, eu simplesmente não consigo mais usar. Não tenho forças para enfrentar
uma ressaca de cocaína, morfina, codeína, ritalina, anfetamina. Também não
quero de forma alguma usar qualquer droga alucinógena, não quero de forma
alguma passar por aquilo que elas possibilitam. Por isso, me interessam a
percepção molecular, os delírios, os sonhos. Viajo, me drogo, a partir disso. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A linha de fuga é uma traição, sou traiçoeiro com a academia. A
traição, a vagabundagem, a loucura, o roubo, as núpcias demoníacas, as
monstruações, a drogadição, esses símbolos de um romantismo que atravessa a
cultura moderna, se chocam com seriedade acadêmica, sua racionalidade, se
chocam com o bom cidadão, as pessoas de bem, com seus valores morais. O Império
e suas linhas, Estados e corporações capitalistas, também roubam, são
caloteiros (como dizem os indignados), e não apenas roubam, mas também mentem e
matam, ou seja, são traiçoeiros. Por isso, gosto do ladrãozinho de rua, pé de
chinelo. Aquele que quer pouco, o suficiente para um fim de semana de festa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Idiotia e crítica <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O controle não necessita de um comando central; as pessoas vigiam a si
e aos outros. A cartografia não é autovigilância é exatamente a compreensão da
vigilância, e o que se pode ou se quer fazer em relação a isso. As pessoas são
apegadas a uma certa normalidade e lutam a todo custo para mantê-la. Se sentem
seguras aprisionadas, longe do caos. Gostam de suas casas, querem elas bem
cuidadas e agradáveis. E quando estão na rua se sentem bem em ver um policial.
Seria um mundo perfeito se houvessem policiais em todas as esquinas; mas há
policiais tão duros, ou piores, nas ruas, por todos os lados, como disse,
vigiando os outros e a si mesmo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">É diferente dizer: que se foda a vida e se atirar de um edifício, de
se dizer: foda-se a vida e matar pessoas que estão por perto de forma
espetacularizada. E o pequeno burguês faz algo parecido, aceita o assassinato
para manter o seu status, sua vidinha medíocre que tanto ama.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ele sabe que reforça um sistema podre que
mente, mata, rouba, e o defende. Pessoas morrem, são presas na vida nua, como
os que estão na miséria, para que a pequena burguesia tenha um pouco de poder e
um pouco de dinheiro. E talvez pudessem ter isso, desde que os “1 por cento”
dividissem – melhor dessem – o que tem. Mas quem quer viver em um mundo menos
sacana? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O comando central é desnecessário já que as regras e normas circulam
livremente: sabemos as formas “corretas” de sentar, nos portar, caminhar,
falar, urinar, cagar, nos alimentar, fazer sexo. Sonhamos com um futuro,
acordamos de manhã, dormimos à noite, regramos os excessos, nos vestimos,
amamos, conversamos, trabalhamos, estudamos, festejamos, ficamos felizes, nos
submetemos, tudo isso de uma forma normatizada. Sim, todos sabem disso, mas
estou falando obviedades já que é divertido rir dessa vida de rebanho afirmada
duramente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Fazer sexo, ter prazeres, amar, e muito mais, são obviamente coisas
importantes, o problema é quando há uma forma correta de fazer isso e os
desvios são rechaçados. A forma correta une as pessoas, e isso é muito
diferente do comum que é a base da tradição romântica, marginal e se refere
exatamente aos desvios comuns. A grande importância social dessa tradição é
mostrar que a vida pode ser tão bela, melhor, tão especial, quanto uma bela,
melhor, especial obra de arte. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Posso apresentar sem dificuldades muitas palavras de ordem que dizem
respeito ao senso comum, como agir para ser um bom cidadão:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“É um policial, então mostre os documentos”.
“É um pai, um padre, o patrão: respeite-os”. “ Faz frio: se agasalhe”. “É uma
vida, a sua: não se mate”. “É um drogado, um traficante: fuja”. “É uma rua:
caminhe na faixa”. “São sete horas da manhã, acorde. ”. “Está tarde: durma”. “É
sexta, fique feliz”. “Fuja da pobreza”. “Está com fome: coma”. “Não fume, é
proibido”. “Ame a vida. Seja feliz”. “Está com dor de dente: vá ao dentista”.
“Seja de direita ou de esquerda”. “Controle-se!”. <span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">As pessoas se unem, como disse, por compartilhar essa necessidade de
extrema segurança, mesmo sabendo que a segurança virou uma marca do passado e
que no pós-moderno o que rege a vida, o futuro delas, é a insegurança devido as
crises econômicas seguidas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A guinada à
direita de muitos países, como o Brasil, talvez se refira a esse desejo de
extrema segurança possibilitado pelas políticas e mentalidades mais duras,
rígidas, a segurança de um novo fascismo. A desterritorialização global constante
do capitalismo tem seu outro lado a reterritorialização nas formas de vida mais
duras.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Outro mundo é possível, dizem os movimentos. Mas há, também como
disse, essas experimentações que dizem respeito a um desejo de outro mundo,
mesmo que se atualizem em fugas efêmeras. Os dadaístas, os surrealistas, os
situacionistas, os beats, a geração que surge a partir da contracultura, estes
buscavam e construíam relações diferenciais consigo mesmo, com os outros, com a
arte, com a vida, com a cidade, com o mundo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O punk clássico, inglês ou nova iorquino dos anos 70, é um caso
interessante: viciado na droga mais forte, suicida, amante de homens e
mulheres, violento. Não era exemplo de vida, ninguém quer ser um viciado em
heroína, e se quer é porque não há outras saídas. Sid Vicious, o punk mais
famoso da cena, era Sid Vicious já que não podia ser outra pessoa. O punk
buscava uma autonomia frente as opiniões, ele as odiava, de tal forma, que
fazia de tudo para as afrontar. A vida controlada é tão insuportável, que se
prefere o vício.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Perceber valor na vida de um viciado, abobado, desletrado como um
punk, pode parecer um romantismo bobo, mas creio que seja importante buscar
valor no extremo da pobreza. O discurso corrente diz: “o suicida se matou pela
tristeza”, “o mendigo é totalmente infeliz pela pobreza”, “o preso de forma
alguma conseguiria sorrir”, “o viciado em crack tem que se regenerar”. Qualquer
um, mesmo o bom cidadão tem momentos de tristeza e alegria. Um fumante de
crack, um mendigo, um preso tem seus momentos de alegria. Um viciado em crack é
tratado como um rato, ou é preso ou morto, mas naquele momento que junta um
pouco de dinheiro, quando o tem em mãos, ele se dirige para a boca, pega as
pedras e se recolhe feliz em sua tenda imunda; daí ele acende a pedra e se a
quantidade for o suficiente para o seu vício, o suficiente para que ele se
chape, fique bem chapado, naquele momento ele é mais feliz que um rei, ele é um
rei. Claro que depois, na falta da droga, ele sente a pior dor que pode ser sentida
por alguém.<span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Um amigo tinha um método estranho. Ele fazia de tudo para que os pais
de classe média pensassem que ele tinha parado de usar drogas. Então os pais
passavam a dar dinheiro a ele, e era bastante dinheiro. Daí ele comprava tudo
em drogas, todas as drogas possíveis, ficava um mês usando drogas direto,
fazendo as maiores loucuras, vivendo uma vida completamente descontrolada,
fazendo coisas absurdas. A resposta dos pais era o internamento. Ele saia da
clínica, voltava a ter uma vida normalizada, os pais achavam que ele estava sem
usar drogas e davam o dinheiro e ele fazia tudo de novo. Era um método estranho
e mais ainda já que funcionava, ele o testou em momentos diversos em cinco
anos. Pra que tudo isso? Ele aceitava ser internado, ficar tempos longos sem
dinheiro algum, ser vigiado nesse tempo rigorosamente pelos pais, para poder
ter momentos de liberdade extrema, de loucura extrema; e ele mesmo sabia,
inconscientemente, que esses momentos deveriam ser curtos, coisas de certas
estações, senão não teria volta. Em determinado momento o corpo começou a ficar
mais fraco, não conseguia mais abusar de drogas, ser preso ou internado. Ele
tentou ser um bom cidadão e não gostou. Podia seguir a vida sendo um bom
cidadão, e ele mesmo achava essa vida melhor que a vida fora de controle,
melhor, mas não uma vida suportável. Por fim, ele cometeu suicídio. Ou seja,
sofria com a prisão, com o controle, em momentos traçava linhas de fuga
violentas, quando notou que elas não mais eram possíveis, se aboliu da vida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Viver a prisão e traçar linhas de fuga é a vida de todos que desejam
um pouco de um território singular. Quanto ao suicídio, ele é importante,
mostra que muitos desejam tanto a liberdade e que pela falta dela preferem a
morte. Se o suicídio é por esse motivo, ele é algo interessante – diferente de
alguém se matar por neuroses, ceninhas familiares, infantilidades mesmo
adultas, frutos de subjetividades que veem apenas a si mesmo e não encaram
mundo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas o bom cidadão não vive uma
vida sofrida para ter momentos curtos de alegria? Trabalha a semana toda para
poder beber no fim de semana; trabalha o ano todo para ter férias; se submete
ao patrão, morre de medo de ser rebaixado ou despedido, é perseguido pelo medo
de não conseguir chegar ao fim do mês; vive uma vida insegura.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Pelo menos o viciado só tem uma
preocupação:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>dinheiro para a próxima
dose.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O okupa é alguém que sofre muito; ele sofre já que reconhece que o
mundo é sacana e só consegue viver traçando linhas de fuga, mas de uma forma
muito diferente da do punk. Para suportar esse mundo, para mostrar como ele é
podre, constrói formas de vida ricas, baseadas no comum; a vida em uma okupa se
baseia em produzir valor, mesmo que seja a partir de ações capilares. Ele, o
okupa, suporta viver, mas entre os seus e, para isso, está em constante risco:
pode ser preso, tem pouco dinheiro, pode ser morto pela polícia ou por
matadores profissionais. O vitalismo se cristaliza na vida dos okupas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Sacações finais dessa parte<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Um dos efeitos do uso de drogas é fazer o tempo delirar, entrar em um
tempo do delírio, do devir, dos afetos. O grande problema da droga é que ela
impõe um tempo que é incompatível com o normatizado. Algumas drogas ainda
permitem que se estude, trabalhe, que se caminhe na faixa quando se está na
rua, mas muitas não. A partir da droga não se busca só prazeres e alívios, sim,
se busca isso, mas não só, se busca outra lógica, outra realidade. A função da
arte não é essa? Criar um outro mundo, muito mais interessante por ser
fictício? A função da droga não é essa? Arte, alucinações, devires são
realidades em si mesmas. E fictício diz respeito à diferença, é tão real quanto
o real, e melhor. A arte mostra essas realidades diferenciais, tão diferenciais
que parecem fictícias. Para entender o mundo não se necessita de teses, estudos
de caso, e sim, se experimenta a arte; a arte ajuda a entender o mundo, mesmo
que seja o mundo das percepções e afecções. A cidade é o suporte dessas proezas
que alguns fazem: deliram a cidade, deliram na cidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Sempre estive rodeado de pessoas importantes: pesquisadores, doutores,
pessoas ricas, principalmente esses intelectuais classe média, a elite
intelectual. Entrei no mestrado e fiz doutorado por isso: para me tornar uma
dessas pessoas. Ou seja, sou uma pessoa importante. Porém, essa vida, a vida
dessas pessoas, a maioria, a existência delas, como elas vivem, a mim interessa
pouco, pelo menos nesse livro, em meus livros. A vida de um viciado em crack me
interessa, a vida de um professor não. Um professor, um pai, o bom cidadão, o
policial, o político, o capitalista, são importantes, mas como objetos a serem
criticados. O viciadinho.... me interessa sua vida e existência, já que há a
riqueza nelas, que são desvalorizadas. Alguém disse em um livro: bem, eu aceito
todo o dinheiro de um milionário desde que eu possa viver de uma forma
diferente; eu diria o mesmo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Como minha família tem amigos rico, quando criança visitei dois
apartamentos com as vistas de residência mais belas que vi em vida. Uma delas
dava para um parque que eu simplesmente nem imaginava que uma cidade pobre do
sul do Brasil poderia ter. A segunda vista foi de uma praia paradisíaca, em um
apartamento no 15 andar. Sim, lindas vistas. Mas só escrevi sobre elas nessas
linhas. Já a vista de uma sacada que dá para uma rua movimentada, barulhenta,
que mostra prédios deteriorados e pichados, que mostra um Largo que é um
estacionamento em boa parte do tempo, que reúne moradores de rua, traficantes,
guardadores de carros, uma vista que mostra a pobreza de forma bruta, bem, ela
permitiu a maior parte de um capítulo e foi o motor para eu começar o livro.
Sim, as vistas do amigo rico são esteticamente belas; a vista daqui não é
importante por eu a achar bela, não é uma questão de cosmetizar a pobreza, é
importante por ser o que é: um cartão postal que nunca seria vendido, que
mostra as entranhas de uma cidade pobre de uma país pobre. Por isso, escrevi
uma tese sobre okupas, prédios esteticamente feios, com pessoas que se vestem
de forma feia, e não escrevi sobre a bela Barcelona. Esta a cidade das obras
rococós, afetadas, de Gaudi e das belas pessoas bem vestidas em caras festas
junto a praia.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sim, até escrevi sobre,
mas como crítica à cidade modelo turística. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Há contradições no texto, claro, pois é uma experimentação. Errar é
algo próprio do experimento. Talvez o erro seja mais importante. O fazer
acadêmico é o certo. O certo é a assepsia. O vagabundo é sujo, o punk é sujo, o
hippie é sujo. Esse texto é meio punk, meio hippie. A pureza é importante,
desde que seja uma anfetamina pura, coca pura, o que cria um corpo sujo,
doente, drogado, maculado.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O Punk de rua brasileiro, tem muito a ensinar, ele se veste com roupas
sujas e rasgadas, vive nas ruas, se alimenta de lixo, usa as drogas e bebidas
mais baratas, transa de forma não asséptica, não trabalha, é um mendigo, mas
com estilo. A assepsia, a higienização, sua imposição são elementos do
controle; ter uma vida saudável e limpa, a cidade deve ser limpa, o trabalho
acadêmico deve ser limpo. E tudo que suja, macula deve ser banido. Mas quando
se reconhece o dualismo, se vê que ele é elemento de controle, daí a sujeira se
torna algo potente. O punk produz valor, não só porque faz música, quando faz,
mas principalmente por mostrar outros valores, no qual a sujeira é mais um de
seus elementos. Algo que me incomodou nos movimentos de ocupação de escolas e
universidades no Brasil foi a necessidade de afirmação da higienização do
espaço. Muitos diziam: nós somos pessoas limpas, cuidamos do espaço, não somos
sujos, nem somos crianças. Ou seja, mesmo sem o pai e mãe eles estavam agindo
como se estivessem em casa, controlados.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Junk, como chamam Heroína, significa lixo e é uma das drogas mais
potentes. A percepção molecular diz respeito à droga; é um estado narcótico,
não é sadio, é extremamente doloroso: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">bad
trip</i>. Mas a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">bad trip</i> para quem
curte drogas é algo interessante. O pesadelo é uma experiência das mais ricas;
ser assaltado, ser esfaqueado, sofrer um acidente, enfrentar cirurgias, sofrer
de abstinência, transar com garotas e garotos e depois saber que estavam
doentes; enfrentar o mundo, vivê-lo com toda sua dor e alegria. O prazeroso e o
doloroso, o triste e o feliz, esses conceitos são rasteiros; importam sim, os
excessos: passar a noite cheirando cocaína para no outro dia acordar com uma
dor insuportável. Experimentar até o quanto se suporta sem cair em um buraco
negro. Bukowski em um poema diz que se pôr em risco, mas com estilo, que isso é
arte, o que ele chama de arte, ou seja, a existência como obra de arte.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: white; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Os textos de Bukowski são mais prudentes que suas
experimentações pelos Estados Unidos. Ele enlouquecia muita mais na vida
cotidiana. Já Burroughs, suas loucuras em vida eram tão intensas quanto suas
loucuras textuais. Bukovski amou loucamente muitas mulheres, bebia diariamente,
brigava com qualquer um, era preso com frequência, tentou algumas vezes o
suicídio; e isso era matéria de seus livros. A maior parte de sua obra foi
biográfica, sobre sua vida enlouquecida. Mas o que faz um escritor para
escrever como Bukovski? Viver como Bukovski? Mas só se vive como Bukovski se a
vida for considerada insuportável ao ponto de se criar rupturas com a
normalidade cotidiana. E claro, há muitos, principalmente jovens, que cultuam
artistas e acabam tentando viver de forma parecida. Quantos não caiaram na
estrada após ler Walt Whitman, Jack London, Kerouac e Bukovski? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: white; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Quem teve contato com a obra dos artistas românticos
tem uma flexibilidade maior no que diz respeito ao sexo, as drogas as minorias.
Um músico no filme Bird sobre Charlie Parker começa a usar morfina já que dizem
que ela ajuda na música. As experimentações dos Beats, se tornaram questão de
massa com os hippies, marcadamente influenciados pela turma de Kerouac e
Ginsberg.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Inúmeras gangs foram formadas
no início dos 80 no Brasil em São Paulo, após o lançamento do filme The
Warriors. Inúmeras bandas centrais nos anos 80 surgem após os Sex Pistols
tocarem em Manchester. Iggy Pop criou seu estilo gestual após ver um show de
Jim Morrison. E como ser reacionário, se o seu ídolo é gay e viciado? O Glam
nos anos 70 é um caso curioso, já que gay virou moda, os jovens imitavam seus
ídolos no que diz respeito aos relacionamentos. Essas influências, quando
passam por questões existenciais, de relações consigo mesmo, com o outro, com a
vida, com a arte, essas criações de territórios existenciais podem se
singularizar ou ser uma mera imitação ou modismo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: white; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Mas voltando a pergunta: como escrever como um
escritor marginal? Parece que é muito mais difícil do que escrever como um
acadêmico. O trabalho acadêmico se centra em fórmulas, métodos, em cópias, não
é difícil imitar um acadêmico, e isso se vê não apenas nos textos, mas nos
gestos, na forma de falar, até na roupa que se veste.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas como imitar Bukovski ou Burroughs? Não se
acorda de manhã e se diz: quero ter uma vida singular, de contato com o caos!<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A poesia, o que ela faz bem é trazer, atualizar, mostrar, todos esses
fluxos linguísticos, de fala, do que seja, menores, perdidos por aí: na rua, em
certos guetos, em certas estações, cidades. Enlouquecer na língua, enlouquecer
a língua, fazer ela delirar, foder a língua, a currar como ela merece. O
acadêmico é aquele que fala corretamente; ele fala como poucos já que os da sua
casta falam assim. Contra essa prisão, contra a seriedade dos caretas, a fala
do louco, daquele que não domina a fala, do ignorante que se quer assim e que
se foda, não mais que isso. E o coração do poeta está com estes, os
párias.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 106%; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">PERCEPÇÕES DA CIDADE BAIXA, A VISTA DA
SACADA, CIDADE CONTROLADA</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> <span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 106%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Meus primeiros anos em porto alegre <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Vivo em Porto Alegre desde os anos noventa. A cidade mudou, eu mudei,
o mundo mudou, o Brasil mudou. Tenho uma compreensão mais fina sobre o <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">tecido urbano</span> desde minha
monografia em 2006 quando comecei a pesquisar o tema. A cidade sempre foi,
também, meu espaço de festas, dramas, namoros, loucuras. O adolescente não fica
muito em casa já que ele não pode fazer muito nesse tipo de espaço. Maconha tem
um cheiro muito forte, e outras drogas deixam louco o suficiente para ser
notado. Se a namoradinha é muito nova os pais não vão querer que ela fique no
quarto do filho, por respeito aos pais delas. Os pais não aprovam a amizade com
certos amigos, então eles não podem frequentar a casa. E o que o adolescente
pode fazer é pouco, uma hora cansa e ele vai para a rua. Claro que pode ficar pelas
redondezas, mas uma hora vai querer coisas diferentes, e a cidade, sendo
grande, sempre tem coisas diferentes. A importância da festa se deve também ao
fato de que elas ocorrem em pontos diversos da cidade. A maior parte dos
adolescentes fazem festa. Mesmo sendo levado pelos pais, quando ele conhece
esses pontos diferentes, ainda mais de noite, isso pode criar uma afetação, um
desejo de liberdade, de encarar as ruas como se encara uma floresta, melhor,
encarar as ruas como se fossem palco de uma luta campal, já que a noite sempre
é perigosa e violenta. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Os pais de certos amigos, os que tentavam prender os filhos em casa,
quando estes estavam próximos dos 15 anos não conseguiam mais impedi-los de
sair. Os meus pais foram aos poucos cedendo. Um dia, era de manhã cedo e
perceberam que eu não estava em casa. Entenderam que eu tinha passado a noite
fora. Eu tinha 14 anos e foi toda uma cena, chamaram até a polícia. Cheguei em
casa pelas 10 horas da manhã, minha mãe chorava, como disse, uma cena. Eu tinha
ido para a <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Oswaldo Aranha,</span>
fiz a festa com amigos, quando tudo fechou fomos para um bar na <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Avenida Goeth.</span> Fiquei com
uma garota no alpendre de um prédio. Acho que eu nunca tinha ido para esse
local. Depois disso, meus pais não podiam mais me dizer: não saia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Eu morava no bairro Tristeza, ali havia muitas possibilidades de vida
noturna, muitos amigos começaram a sair pela cidade a partir desse
desbravamento da região. Um dos bares mais famosos da Porto Alegre marginal, o
Timbuka, era muito perto da minha casa. O bairro era incrivelmente seguro sem
ladrões e polícia. Apenas uma vila próxima tinha algumas gangues de
adolescentes, mas eles eram colegas meus, da minha turma, eram amigos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Esse bairro, Tristeza, é um dos mais ricos da cidade e fica junto de
um outro, o Assunção, mais rico ainda, no qual estava situado o Timbuka; além
disso, há um colégio público exatamente na parte central do Assunção. O colégio
público reunia o pessoal pobre ou de classe média baixa de bairros das
imediações. Eu estudei ali por um bom tempo. Para mim, foi muito importante,
pois tive meus primeiros amigos pobres e negros. O Timbuka juntava uma turma de
malucos, que ia lá para fumar maconha, traficar, beber, cheirar pó. O meu grupo
era formado pelo pessoal mais novo que o frequentava. E essa era a grande
questão: <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">por que</span>
ficar em casa, quieto, vendo televisão, se a turma podia estar na rua, bebendo,
usando drogas, vivendo a vida, curtindo a vida, curtindo tudo aquilo que a
cidade, grande, proporciona? Talvez a cidade nem fosse tão fascinante, ainda
mais nos anos 90, mas era muito mais do que a casa familiar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Fiquei <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">fascinado</span>
ao ler Bukowski, Kerouac e Fante. Eu já bebia, fumava maconha, era festeiro e
peregrinava a cidade de skate. Pelo meu estilo de vida me encontrei na obra
deles, isso com 14 anos. A partir dessas leituras e outras não tive mais medo
de usar qualquer tipo de droga; a droga que aparecia eu usava. A noite começou
a ficar mais louca e perigosa; subir o morro, também, não era mais um problema.
Uma das maiores vilas de Porto Alegre ficava em um bairro próximo <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">de onde</span> eu morava, a
Cruzeiro do Sul. Quando tinha sorte, comprava lá coca de boa qualidade. Como já
andava pela cidade de madrugada e tinha amigos pobres, não teria <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">por que</span> ter medo de ir
para uma vila. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Então, vivia em casa, com meus pais e era obrigado a ir para a escola
todo dia. Era obrigado a ir nas férias <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">para onde</span> meus pais iam. Tinha que participar das
festas de família. Não podia dirigir, tinha pouco dinheiro, não tinha quase
nenhuma autonomia. Por isso, a cidade e as drogas, curtir a cidade louco de
qualquer coisa; e não havia nada que significasse liberdade, além disso. Sim, é
algo comum entre idades: a madrugada, o fim de semana, os desvios, as drogas, o
sexo mais livre, as brigas, assaltos. E não só pessoas jovens, ou jovens
adultos fazem as grandes festas. As casas de prostituição chamam esse pessoal
mais velho com dinheiro, querendo enlouquecer, bebendo e fazendo sexo. As casas
de “massagem” em Porto Alegre lotam quando acontece uma feira agropecuária na região,
atraindo fazendeiros, velhos e cheios de dinheiro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Sobre
</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">as mudanças em Porto Alegre a partir da copa<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Aqui do lado, do local em que moro, há um dos cartões postais da
cidade, o Viaduto da Borges. Nos anos noventa havia muito comércio mais
tradicional. Hoje, exatamente hoje, serve de moradia para quem está na rua. Em
2013 ficou marcado como ponto das lutas “por outro transporte público”. Outro
ponto tradicional na cidade é a <span style="color: red;">Usina do Gasômetro, </span>junto
ao Rio Guaíba, que sempre reuniu turmas de maconheiros no fim da tarde; nos
últimos anos está sendo reformulado arquitetonicamente. Na frente do Gasômetro
há uma praça que reunia punks na virada do século; hoje é uma praça familiar,
reconstruída. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Também junto ao Rio, mas no início da Zona Sul, foi fundado um museu,
o Iberê Camargo. Ele reúne pessoas nos fins das tardes; é um ponto para se
tirar fotos e postar no Faceboook. Além disso, foi construída uma ciclovia que
vem do centro até um dos bairros mais caros de Porto Alegre. A ciclovia passa
por um shopping center recentemente construído. No local em que está o shopping
e a ciclovia, havia uma avenida perigosa, que era ladeada por terrenos baldios
e uma vila. Na frente do museu, uma curva era famosa por ser local de muitos
acidentes de carro. Eu sofri um acidente ali, um amigo meu também, e muitos
outros. O governo da cidade preocupado com a curva fez muitas tentativas de
torná-la segura. Uma delas, foi a criação de sensores na pista, o que não
ajudou em nada. O bairro Tristeza, devido a criação do shopping, se tornou um
bar da moda, morei nele por uma década. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Muito próximo ao shopping, no bairro Menino Deus, no qual morei, o
estádio do time de futebol mais famoso do estado foi totalmente reformulado
para a Copa. Em suas proximidades, um parque, o Marinha, passou de um espaço
meio marginal e perigoso a um espaço que reúne famílias. No mesmo bairro,
funcionava o antigo estádio desse time. Este, quando fechado, se tornou uma
pista de skate e depois um complexo desportivo. Com a reformulação dessa parte
da cidade, do Menino Deus até o Tristeza, o local do Eucaliptos hoje sedia um
conjunto habitacional de classe média. Na frente <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">de onde</span> eu morava nesse bairro, ficava um outro
estádio do time rival ao comentado acima. Ele foi fechado faz poucos anos e
transferido para a Zona Norte da cidade. Entre o Centro e esse novo estádio, se
localiza uma das partes mais marginais e deterioradas da cidade. Esta sempre
foi um espaço sem atrativos, contando apenas com área de prostituição, mas nos
últimos anos ficou desolada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O Mercado Público, talvez o marco da cidade, local tradicional com
muitos restaurantes, tendas, bem no Centro da cidade, pegou fogo faz poucos
anos. Agora está em processo de privatização. O Centro sempre foi um local
importante para mim, mas depois de certa idade comecei a frequentá-lo de forma
menos intensa. Morei nele, numa rua em frente a um dos cartões postais da
cidade, a Casa de Cultura Mário Quintana.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Sobre a
janela</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Essa parte do livro surgiu a partir de uma mudança de endereço; saí de
um bairro mais familiar e vim morar nesse bairro, a Cidade Baixa, o mais boêmio
da cidade. Por sorte, escolhi um apartamento em andar alto com grandes sacadas
que tem como vista um Largo, o Zumbi dos Palmares, local da cidade com muitas
ações de movimentos sociais. Já nos primeiros dias fiquei impressionado com as
atividades no Largo e decidi escrever sobre o que estava vendo. Como o texto
rendeu bastante em pouco tempo decidi escrever um livro sobre a cidade como
tema, este. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Portanto, esta
parte trata principalmente de coisas que vi pela sacada, mas há muitas sacações
sobre o bairro e suas mudanças nas últimas décadas.</span> Não escolhi a vista
como ponto de partida por questões metodológicas, mas sim, por uma questão
afetiva, me afetou, me afeta a vista da sacada.<span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O olhar, da sacada, não deixa de ser pequeno burguês; vejo o mundo do
alto da minha torre, meu apartamentinho de classe média, minha posição de
doutor. E o mundo está lá embaixo, com suas ruas perigosas. A rua como lugar de
todos, e há tantos moradores de rua aqui na frente. Porém, isso à primeira
vista, <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">porque</span> já
vivi esse espaço, o bairro, de forma transloucada: madrugadas e madrugadas,
bêbado, narcotizado, com turmas de marginais.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Mesmo há pouco tempo, era quarta feira, três horas da manhã e eu estava
caminhando pela Cidade Baixa; percorria o bairro atrás de alguma festa. Ninguém
estava nas ruas, nenhum bar aberto. Faz uns dias passei por inúmeros fumantes
de crack, sozinho, numa sexta, as quatro horas da manhã, indo de um bar até
outro. Sempre estive na rua, sempre vivi a cidade; por isso, que no meu
trabalho há sempre um cheiro de rua, vestígios das ruas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Converso muito com os comerciantes da área. Uma coisa legal da Cidade
Baixa é que os donos dos estabelecimentos, quem trabalha neles e os
frequentadores, todos se comunicam, se relacionam de uma forma horizontal. É
gente praticamente da mesma idade, com um certo interesse em cultura não
massiva; e as garotas dos bares sempre são bonitas. Quando estou nos espaços,
converso com eles, o dono, ou donos, e o pessoal que trabalha para eles. São
pessoas receptivas e todos comentam a deterioração do bairro nos últimos
tempos. Já era violento na virada do século, depois ficou menos pela
modelização do bairro e agora, mas nos últimos dois anos é uma das partes mais
perigosas da cidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">As mudanças são mais que visíveis na rua João Alfredo, a segunda mais
importante da Cidade Baixa, que mudou radicalmente: era uma rua modelo, hoje as
casas que abrigam bares estão todas pixadas e moradores de rua e fumantes de
crack estão sempre por todos os lados. Notei que as coisas tinham mudado quando
as cinco da manhã, depois de um tempo sem sair de noite, fui na João Alfredo e
parecia uma festa dentro de uma favela. É estranho já que o bairro ganha mais
comércio, <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">muitas vezes
gourmets,</span> e ao mesmo tempo fica mais marginal.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center; text-indent: 35.45pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">CADERNOS DE NOTAS<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Eu – Cara, achei um apartamento bem bom, ótima localização, bom preço.
Mas só fiquei nas fotos, não fui lá;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Um parceiro meu – <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">porque?</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Eu – a sacada é muito estranha. Tem duas sacadas grandes, uma no
quarto outra na sala. Só que são todas abertas, o parapeito é tipo uma grade
baixa de metal. Oitavo andar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Meu parceiro – é deve ser legal chegar de madrugada bêbado e tomar a
saideira na sacada... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Eu – estava pensando exatamente nisso <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Seção 1</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Decidi por fim alugar o apartamento; mas a escolha foi demorada <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">porque</span> tenho medo de
altura. Porém, foi exatamente a vista que me fez locar o imóvel. Talvez seja
uma das vistas mais interessantes de Porto Alegre: oitavo andar, de frente para
o <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Largo Zumbi do Palmares</span>,
local que tem atividades constantes.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não
estava interessado em morar na Cidade Baixa; não fazia questão; muito barulho,
muita festa. Não queria acordar de madrugada com vontade de sair. Mas agora
estou aqui desde sexta; hoje é segunda. Estou aqui escrevendo, faz sol, é de
manhã, e quando paro de escrever, olho a vista. Montei a sala de tal forma que
posso ver a vista mesmo quando estou escrevendo e pesquisando no
computador.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O barulho dos carros na
Perimetral, uma das vias principais de Porto Alegre, a qual vejo uma boa parte,
me incomoda um pouco, mas bem pouco.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Arrumei tudo na sexta de noite, estou bem instalado, porém sem sinal
de internet. Meu plano de dados está consumindo muito. Não tenho televisão, faz
anos. Por isso, fiquei muito tempo entretido com o que se vê das sacadas. No
sábado, fiquei intrigado com um rapaz de pé, de frente a uma janela, uns 300
metros à minha frente, no décimo andar de um prédio, que provavelmente fica na
Rua José do Patrocínio. Ele estava de pé e as vezes desaparecia. Como estava
distante, não conseguia ver direito. Mas entendi a cena: ele estava, não de pé,
mas de joelhos em uma cama transando. Quando desaparecia era <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">porque</span> caia para frente
para beijar ou abraçar quem estava transando com eles.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Daqui vejo vários prédios que já frequentei. Descobri no sábado que dá
para ver um prédio que morei entre 2005 e 2006. Depois, notei a parte de cima
de outro prédio no qual fiquei um bom tempo em 2013, já que ali morava uma
namorada na época. Também vejo o edifício de um amigo meu. Aqui na frente tem
mais espaços importantes para mim: uma lancheira, o Cavanhas, que era ponto de
encontro de minha turma na adolescência; o prédio que abrigava uma casa
noturna, o Dr Jekyll; o bar Ossip, que frequento desde os 20 anos; um teatro no
qual assisti inúmeras peças desde a adolescência. Mas o mais importante é o <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Largo Zumbi.</span> No Largo,
participei de manifestações e encontros de movimentos em rede e quando era mais
novo ali praticava skate.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Seção 2<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A cidade está calma agora – nessa <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">quinta de manhã –</span> ouvi uma sirene, mas ela
significa pouco para quem está na rua. Um rapaz cruza o Largo, só vejo ele,
junto aos carros que tomam o espaço. Provavelmente, está indo para o trabalho.
Em sua maior parte calma, a cidade as vezes esquenta ou mesmo explode: festas e
batucadas na rua, manifestações; e isso acontece com frequência aqui na frente.
Além disso, a ilegalidade se expressa nas <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">pixações e</span> grafites abundantes aqui no entorno.
Troquei uma residência segura, sem barulho em um bairro residencial, por esse
ponto agitado e cheio de contradições.<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>Não
pensei muito, mas foi uma escolha premeditada provavelmente.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Terça
feira</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Aqui no apartamento tem duas sacadas: uma no quarto, outra na sala.
São amplas, abertas, com visibilidade de quase 180 graus já que nenhum prédio
impede a vista. A esquerda fica o Centro de Porto Alegre, depois há o Largo
Zumbi dos Palmares. Provavelmente, apenas no Largo Glênio Peres, que fica no
Centro, haja mais agitação que o Zumbi dos Palmares. Porém, o Glênio Peres se
situa em uma área não residencial. Mais adiante, da esquerda da vista até o seu
centro, prédios ladeiam a Avenida Perimetral e parte da Lima e Silva, esta a rua
boêmia mais cool de Porto Alegre. Na Perimetral há seis prédios novos com
arquitetura mais opulenta. Do centro da vista até a direita, vejo muitos
prédios enormes residenciais mais antigos, que se situam no coração da Cidade
Baixa. Muitos, não vejo sua fachada, mas a parte traseira. As fachadas são
sempre estilizadas e a parte de trás, muitas vezes, parece uma gambiarra
arquitetônica. Na Travessa do Carmo (que ladeia o Largo) em direção a José do
patrocínio (terceira rua mais importante do bairro) um espaço amplo, muito
amplo, está totalmente deteriorado e desocupado. Além disso, muito marcante é o
fluxo constante de carros, muito maior que o fluxo de pessoas nas calçadas e
passando pelo Largo. O Largo é o que mais me chama atenção. Sim, acontecem ali
feiras e shows, coletivos se encontram nele, mas na maior parte do tempo é um
estacionamento. O Largo poderia sediar quadras esportivas, área verde, comércio
popular, mas isso não é do interesse do governo. Por isso, quem dá vida ao
espaço são os coletivos, os movimentos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: lime; color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: lime;">Sobre controle </span><span style="color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">– seção <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Não é uma bela vista, diriam que é feia. Mas ela tem toda essa
diversidade, não é nada monótona. O afeto que sinto não é de prazer, não é algo
prazeroso em vê-la. É angustiante, opressivo, assustador ver a cidade, essa
prisão a céu aberto de forma tão nítida, desde cima. Sim, a festa, a política,
os prazeres, são símbolos da Cidade Baixa. Sempre há manifestações; os prazeres
do sexo, das drogas, os prazeres gastronômicos são buscados nos bares,
restaurantes e festas. Mas apenas as manifestações são inclusivas, já que quase
tudo é capitalizado na Cidade Baixa, esse bairro que faz parte do modelo
dominante de cidade. Porém, há locais em que se pode comprar bebidas e usar na
rua. Quem os frequenta é o pessoal com menos dinheiro, os pobres, os
jovens.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Noite
de ontem, segunda.</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">No fim da tarde, quando começa a escurecer, a vista fica mais bonita,
com as luzes dos prédios. Agora, pessoas se reúnem em grupos pequenos no Largo;
alguns fumam maconha. Depois da hora de pico os carros passam com mais
velocidade. Como estou sem internet, a vista é minha tela. Estou preocupado com
os gastos que tive para alugar um apartamento diferente. No antigo fiquei dez
anos. Fiz as contas e o que gastei de aluguel – nesses dez anos – daria para
comprá-lo. O mais curioso é que eu estava para locar um outro apartamento, que
coincidentemente era da mesma proprietária do meu apartamento antigo. Talvez
ela tenha comprado o imóvel com o meu dinheiro; e eu continuaria sendo sugado
por ela. Aprendi na prática como o inquilino está à mercê do proprietário.
Porém, há uma liberdade em alugar: não ter um imóvel, ter pouco, não ter laços
fortes, isso para mim é importante. Ter pouco a perder, essa é a alegria do
vagabundo. Ele tem seu corpo, sua linguagem, seu carrinho, seus desejos. A
Cidade Baixa é um dos bairros de Porto Alegre com maior número de moradores de
rua. Aqui na frente, numa praça junto ao Largo, se reúnem muitos deles. No
bairro, uma mulher que pede esmolas volta e meia desaparece e reaparece. Em 15
anos vi ela grávida inúmeras vezes. Na República, uma das ruas mais bonitas da
Cidade Baixa, há um outro morador de rua, com idade avançada, que está ali faz
uns seis anos. Também o bairro tem muitos guardadores de carros, jovens, que
possivelmente não têm moradia. Ao lado do bairro, junto a um conjunto
habitacional, faz alguns anos, um grupo grande passa o dia junto a colchões e
colchas velhas. O bairro também conta com um albergue popular e seu entorno (do
albergue) reúne essas pessoas que possuem apenas o que podem carregar com as
mãos. Além disso, o cartão postal da cidade nos últimos tempos aglomera tendas
em toda sua extensão, se tornou moradia de que não tem casa – é o Viaduto da
Borges, que fica a três quadras daqui e o veria se não existissem alguns
prédios que tapam a vista. A prefeitura volta e meia desaloja o pessoal, mas
eles sempre voltam. Interessante é o fato de que o Viaduto já foi palco de
batalha entre manifestantes e polícia, principalmente em 2013. Imagens correram
as redes sociais mostrando os conflitos no local. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Noite
de terça –</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O Largo de noite estava cheio de caminhões devido a feira de alimentos
que acontece duas vezes por semana. No fim da feira, começaram a recolher tudo.
Depois, o pessoal do DMLU passou a limpar o espaço. Agora acordei, é quarta, e
vejo muitos ônibus no Largo, parecem ser comerciais. O que percebo é que a
cidade funciona e muito bem: as ruas com seus fluxos de carros, os passantes
nas calçadas, os prédios que servem de moradia e comércio, tudo é muito bem
organizado, estruturado. Mas essa mesma cidade – e nos espaços que vejo agora –
sempre pega fogo, a partir das lutas dos movimentos. Em 2013 jovens saíram do
Centro e vieram até o Largo. Ali, lutaram contra a polícia, depredaram carros e
edifícios. Nessa época, eu e um amigo, numa segunda feira, estávamos no local,
em um encontro de um coletivo libertário. Meu amigo queria tomar uma cerveja;
eu disse: vamos, mas depois voltamos. Atravessamos a Perimetral e vimos junto a
uma praça um bloco policial, todos policiais armados e em posição de ataque.
Passamos por eles. Os policiais, por fim, não agiram contra o coletivo, mas
como a cidade estava “muito quente” na época, eles faziam o controle. As
brechas na cidade não são poucas. O controle não é absoluto na cidade pela
própria estrutura dela. O poder quer que as linhas de fuga não existam, mas
existem. O nojo dos cidadãos para com os moradores de rua mostra quem eles – os
cidadãos – são; odeiam qualquer coisa que macule a cidade que deve ser
higienizada, modelada, desejam o controle.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Os moradores de rua, são os sujeitos da vida nua, despida de bens, eles
não consomem, não tem moradia, são feios e sujos, vivem do lixo. Mas são uma
das diversidades do tecido urbano. Não é uma pobreza voluntária e esse é o problema.
Porém, a riqueza deles é algo que deve ser mapeado.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: red;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Quinta</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> <span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Estava preocupado com barulhos no entorno; sabia da existência de uma
escola, embaixo da sacada do quarto. Não gosto de barulhos de gente nem de
crianças. Porém, mesmo o barulho dos recreios as 10h ou as 16h não tem me
incomodado. No caminho que tenho que fazer para vir dos bairros para a Cidade
Baixa encontrei uma okupa. Esse caminho é novo para mim, mas agora é constante
pela mudança de local. A okupa fica ao lado de um supermercado que eu andava de
skate aos domingos faz quase duas décadas. Mas sabendo como eles – os okupas –
são, não quis parar para abordá-los. Passei na frente inúmeras vezes, e sempre
há alguém no pátio posterior. Na última vez, vi um grupo de garotas. O visual
deles é punk, anarquista, parecem ter 20 e poucos anos. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Porque</span> não os abordei? Tenho experiências
com movimento <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">antissistema</span>
em Porto Alegre. Minha presença nunca é bem vista por eu ser pesquisador.
Tentei inúmeras vezes contatar coletivos e eles sempre negam diálogo. Eu passei
na frente da okupa ontem três vezes de carro quando estava perto. Queria ir lá,
conversar com eles, ajudar como posso, levar mantimentos. Agora de noite, fim
de inverno, um grupo grande de pessoas faz exercícios físicos no Largo. Alguém
toca uma sanfona, o som vem do teatro. Hoje, encontrei dois amigos gays casados
antes de chegar em casa.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: red;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Sexta
de manhã –</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Aqui é realmente barulhento, mas estou curtindo. Ouço os carros, o
barulho da cidade, que entra na minha casa; o meu espaço privado se mistura com
o público. Isso se acentua ainda mais já que deixo as sacadas sempre abertas e
como elas são muito amplas estou sempre com parte da visão focada na rua. Tive
uma ideia ontem, uma nova possibilidade de apreensão da cidade, a partir do que
é visto desde um para-brisa de automóvel. Peguei costume, já faz mais de uma
década, de andar de carro pela cidade ouvindo música. Certas ruas em Porto
Alegre em certos horários têm um fluxo contínuo, com poucos semáforos, o que
permite boa velocidade. Mesmo de tarde, durante a semana, dá para ir da
Tristeza (na Zona Sul) até a Mauá (na Zona Norte) rapidamente. Gosto de
determinadas ruas, com menos carros, amplas, abertas, isso é um afeto com
pontos da cidade. De carro, dá para ir em locais que não se iria a pé, nem
sozinho. A Vila dos Papeleiros, partes da Avenida Farrapos, a parte de baixo da
Vila Cruzeiro do Sul, são locais perigosos, mas que sempre passo por eles de
carro. Gosto de atravessar a cidade em determinados horários desde a região
rural da Zona Sul até o Aeroporto, no fim da Zona Norte. Por isso, por conhecer
bem a cidade e saber que percorrê-la de carro permite uma visão interessante
dela, talvez seja produtivo descrevê-la a partir do que se vê pelo para-brisas.
<span style="color: red;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><u><o:p></o:p></u></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O meu prédio é meio curioso. A cerca de ferro da parte da frente é
baixa; também facilmente se chega da entrada a uma porta que dá acesso aos
apartamentos, e a porta fica sempre aberta. O prédio tem dois blocos, um de
apartamentos de dois quartos e outro, o meu, de um quarto. O prédio é novo,
esteticamente bonito, e na garagem se vê carros mais caros que os populares.
Tem poucos moradores ainda, ou seja, de noite é um pouco tenso. Não sou
neurótico, mas é um prédio que facilmente poderia ser roubado. Prédios novos
estão tomando a cidade. Em seis meses de procura encontrei muitos edifícios
parecidos com o meu, de mesmo valor. Não só a Cidade Baixa passou por uma
reformulação, mas também, o Menino Deus, o Santana e o Azenha – bairros
vizinhos da Cidade Baixa. Além, disso, o custo de vida aumentou e muito nos
últimos dois anos. Parece que a cidade, nesses pontos, fica mais chique, com
uma urbanização mais elegante, com bons restaurantes e bares.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: red;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Sexta a
noite segunda sexta dia 26 de agosto ou 27</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Agora notei um grupo de pessoas com bicicletas no Largo. É um grupo
enorme de ciclistas, que forma uma roda com umas 50 pessoas. Falam em voz alta,
tocam apitos. As bikes têm leds que piscam. Na parte da esquerda do Largo há
policiais também de bike. Eles vão acompanhar o grupo em sua peregrinação pela
cidade. Os ciclistas, do grupo, estão vestidos com roupas apropriadas e as
bikes são tecnologicamente funcionais. Agora, eles partem em direção da José do
Patrocínio. Ouço gritos, muitos, tanto de homens quanto de mulheres; acho que
mais de mulheres. Carros da polícia vão atrás do grupo. O trânsito fica meio
lento devido ao grande grupo de bikers. Em Porto Alegre, nos últimos tempos, a
mobilidade ficou mais fácil, a partir de muitas ciclovias criadas. Está na moda
se locomover de skate, bike e roller. E me parece que isso faz parte da moda
hipster. O hipster difere dos que estão na moda, é alternativo; porém ser
hipster é uma moda, mesmo que dita alternativa. Para ser um tem que se estar
dentro de certos padrões. O hipster é ligado em arte e cultura de massa cult;
tem interesse em gastronomia. Visualmente, a partir de suas roupas, se percebe
um sem dificuldades: barbas longas, cabelos alinhados, camisas de manga curta
com colarinho apertado e bermudas (ambas com adornos psicodélicos), tênis
social, óculos enormes. Durante mais de um ano, ao menos em Porto Alegre, foi
usado por homens um tipo peculiar de corte de cabelo: Razor, uma imitação do
corte dos samurais. Todos os hipsters o usavam. Da mesma forma que surgiu, o
cabelo razor despareceu, de uma hora para outra. A Cidade Baixa é o bairro
hipster de Porto Alegre. Aqui há os cafés com bebidas não alcoólicas especiais,
os restaurantes-bares com comidas, feitas de forma criativa, e cervejas
artesanais. Além disso, o bairro tem inúmeras casas noturnas com som chamado
alternativo. O bom gosto gastronômico aliado ao bom gosto musical. Nos últimos
meses em Porto Alegre e, claro, na Cidade Baixa, começaram a aparecer centros de
moda hipsters. Neles se faz o cabelo, a barba, tatuagens, se toma cerveja e se
come. É uma moda tão pegajosa que é difícil não ter certos atributos da
identidade hipster, tanto que há hipsters que odeiam ser chamados de hipsters.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quanto a questão da mobilidade verde, aliada
de um certo repúdio a grandes empresas, marcas dos hipsters, isso diz respeito
a um tipo de anti-capitalismo, a uma questão ecológica, portanto, desvios de
certas normas dominantes. Mas o Hipster se desvia da norma para criar uma nova
norma. Ele é o bom cidadão das redes sociais, ele vai às ruas, luta por seus
direitos, milita como pode, é o sujeito controlado, mas que vive como se
tivesse um grande grau liberdade.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ele se
sente feliz por lutar por um bom mundo, acredita que está construindo um bom
mundo possível.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Se sente feliz por ser
quem é: politizado, com uma moral elevada, além de ser alguém diferenciado. O
barulho que faz é pouco, não abala em nada os códigos dominantes; esse barulho
não passa de uma resistência incluída, ou seja, não é resistência. Se o cidadão
está feliz, não incomoda. E se ele sente feliz por ter um sentido em sua vida,
ele pode dizer: eu vivi, eu lutei, eu busquei um bom mundo, sou uma pessoa
especial.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Sexta
de madrugada dia 26 para 27 dia 27 sbado de madrugada <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Primeiro fim de semana de calor quase de verão
na cidade.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A noite está quente com
grupos e mais grupos nas ruas. Três horas da madrugada, fumo na sacada. Sinto
que sou visto e gosto que seja assim. São poucos os lugares na cidade em que é
permitido fazer algazarra nas ruas de madrugada. Aqui a festa rola solta. Faz
tempo que associações de moradores tentam tornar o bairro mais residencial,
calmo, com menos festas, mas, mesmo assim, o bairro só se expande no que diz
respeito à vida noturna. Eu me preocupei com isso – o barulho – antes de vir
morar aqui, porém, estou gostando. Em Barcelona, em 2011, eu fiquei um mês na
cidade, morando com outras pessoas. Era verão, época de férias, o bairro era
residencial. Na frente da sacada do apartamento, que ficava no quinto andar,
ficava uma praça. A praça era local de encontro dos moradores, como é típico na
cidade. O barulho de pessoas conversando e crianças brincando começava de noite
e ia até de madrugada. Era ensurdecedor, não apenas para mim, como também para
os meus colegas de moradia. A questão é que minha subjetividade mudou nos
últimos anos e esse tipo de barulho não mais me incomoda, também por fazer
parte do “objeto” que estudo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Sábado
ao meio dia<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Estão desmontando a feira alimentícia no
Largo. Muitos caminhões recolhem o material. Aos poucos, eles saem. Por ser
sábado, com o trânsito mais calmo, há menos barulho.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Sábado
de noite<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A Cidade Baixa, no fim da tarde, estava toda
viva, com os bares cheios de gente, devido ao calor nesse início de primavera.
Deveria já ter saído de noite, isso é o mais óbvio, por isso se mora aqui, pelo
agito. Quem gosta de ficar em casa, mora nos bairros residenciais. Mas não
quero sair, justamente, para ver o que acontece lá em baixo desde cima. A
Cidade Baixa vista de baixo, da rua eu conheço muito bem. Uma moto passa agora
em alta velocidade, barulho agudo, em contraste ao barulho mais grave dos
carros. A surdina berra durante um longo tempo e, depois, vai se emudecendo, se
distanciando. Ouço o som de muitos carros ao mesmo tempo, que parece o som de
ondas quebrando. Também há o barulho dos aviões e helicópteros que passam aqui,
o que é mais raro. Poderia fechar a janela e ligar o ar condicionado, ficar
acolhido, recolhido; mas deixo as sacadas abertas. Sinto palpitando o coração
da metrópole. Tudo isso que me agita, me deixa afoito, me ajuda a escrever. Uma
sirene por dez segundos e depois ela para. Os carros enfileirados na frente do
semáforo. Um cão late. Vozes de pessoas. Ciclistas, transeuntes. Som de fogos
de artificio. A luz de neon do posto de gasolina. As janelas dos apartamentos
abertas que mostram luzes acesas.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Algumas pessoas poderiam estar aqui, mas estou preferindo que não. Ou
seja, estou solitário, nesse tempo. A solidão é um afeto diferencial; experimentá-la
talvez possibilite uma percepção molecular, do molecular. Os eremitas, os
monges, com suas subjetividades moleculares são exemplos da potência da
solidão. Pode ser uma potência, pode ser algo triste e doloroso, mas diz
respeito a diferença. Talvez muitas coisas fiquem mais próximas quando se está
só ou enfrentando um momento mais longo sozinho – isso é o que eu sinto quanto
aos carros com seus barulhos, quanto às pessoas nas janelas, ao som dos
helicópteros. Me sinto muito sensível. Parece que não apenas vejo, mas que
também sou visto. Gostaria de permitir aos outros o prazer que sinto ao vê-los,
por isso, deixo as luzes acessas. Se voyeurs quiserem me ver, não tem problema.
Quero vê-los e pago isso com minha imagem.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Domingo
dia 28 de manha meio dia –<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Acordei no meio da manhã com um som alto.
Talvez fosse um carro de som. Como estava meio adormecido, senti que pudesse
ser algo como uma procissão. Voltei a dormir. Agora, ao meio-dia, poucas
pessoas nas ruas. Normalmente, saio para almoçar no domingo, mas hoje vou ficar
o dia em casa. Essa minha relação afetiva com a cidade é muito antiga. Quando
comecei a usar maconha, gostava de fumar antes da aula, de manhã, e enfrentar a
rua. Eu gostava de contemplar, sentir o nascer do dia, a névoa e as pessoas,
chapado. Eu pegava ônibus, ficava na janela e olhava para a rua como se
estivesse vendo um filme. Curtia, também, quando ia fumar com meus amigos mais
velhos de carro. Era a mesma sensação, o para-brisas como tela. Quando estava
sentado do lado do motorista, ficava olhando o espelho retrovisor que parecia
uma pequena televisão. <span style="background: yellow; color: red; mso-highlight: yellow;">Minha primeira crônica foi sobre o trecho de uma estrada que vai de
Porto Alegre até uma cidade vizinha; minha primeira reportagem foi sobre a
noite na cidade. Na monografia trabalhei com a vagabundagem urbana. Parte da
tese dediquei à cidade de Barcelona. A questão afetiva sempre moveu meus
trabalhos, por isso, não me encaixo na identidade ideal de pesquisador, de
cientista. O que move meu trabalho, sempre, é o afeto. Considero que é
impossível pensar o mundo, a sociedade em que vivemos, sem sentir dor, medo,
frustração e, até mesmo, um sentimento perigoso como o de
insuportabilidade.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas, como as linhas
de fuga estão sempre agindo, como a multidão produz, resiste, deseja, pensar nisso
permite afetos nobres, como paixão, alegria. E como ou porque abstrair isso – o
afeto – se está sempre presente? Falar de forma aberta, franca, demonstrar os
sentimentos, não se perder em uma assepsia própria a ciência é uma falha, um
erro? Sim, é um erro, mas eu gosto de errar. Quando falo “eu” (e isso é
frequente aqui) é porque afirmo minha posição afetiva, tento fugir da fala
impessoal acadêmica; mas obviamente ‘eu’ não diz muito. Dizer eu, é rotular,
criar uma fotografia que nega os fluxos, as conexões, os agenciamentos. O livro
está cheio de memórias pessoais que dizem respeito a esse “eu”, mas foi a forma
que encontrei para pensar certos coletivos e os processos que passam as
cidades. Como já disse, há contradições no meu trabalho, claro, pois é uma
experimentação.</span><span style="color: red;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 246.65pt; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Terça noite</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Decidi não escrever no domingo e na segunda
para ver o que uma pausa pode gerar. Sair um pouco de cima do texto, fazer
outras coisas, esses momentos podem ser importantes para o trabalho. Acordei
bravo na terça com o barulho das crianças da escola aqui do lado. Fizeram uma
festa na entrada. Depois de passar inúmeras vezes na frente daquela okupa, que
citei anteriormente, de tirar fotos, de ver pessoas na okupa, de conversar com
moradores do entorno, fui até lá e tentei falar com eles. Como havia pessoas no
pátio, eu as abordei e disse: olha, eu pesquiso okupas, eu passei aqui na
frente inúmeras vezes, vocês devem ter me notado, estava com vergonha de me
aproximar de vocês, <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">porque</span>
sei que o pessoal antissistema não gosta de pesquisadores, mas gostaria de
falar com um de vocês, fazer perguntas sobre o funcionamento do espaço, como
ele está sendo gerido.... O coletivo, no momento, era formado por garotas, já
tinha notado que a maior parte dos membros eram mulheres. As garotas me
interrogaram e muito, disseram que eu deveria saber que eles não são abertos ao
diálogo, pelo menos com gente como eu. Notei que elas estavam incomodadas com a
situação. Quando vi que não haveria realmente diálogo eu disse: peço desculpas
por ter vindo aqui, não vou mais passar na frente do espaço, admiro as
okupações, que vocês fiquem bem e que dê tudo certo. Um amigo pesquisador
sempre diz que eu idealizo demais os jovens. Sim, tenho um afeto especial com a
juventude <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">porque</span>
certos processos que dizem respeito a eles são importantes. As pessoas pensam
sempre no futuro, desejam um bom mundo, mas que sempre está além e, por isso,
não dão importância para o que está acontecendo, agora no presente.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Terça noite ainda –</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Noite, 30 de agosto, ouvi gritos. Notei que um
grupo vinha, gritando, do Centro pela José do Patrocínio (segunda rua mais
importante da cidade baixa). Me perguntei: será gente a favor ou contra a
Dilma? Logo ouvi o grito de guerra “Fora Temer”. Fiquei um pouco empolgado,
pensei que veria em primeira mão uma grande manifestação. Mas não, havia no
máximo 200 pessoas. Vieram do Centro para se aglomerar na Cidade Baixa, algo
comum em manifestações do tipo em Porto Alegre. Mas me pergunto: tão pouco
barulho? Nesse momento que dizem ser tão importante. Porém, talvez outros
grupos estivessem em outros pontos, não sei. O que mais me causou estranhamento
em toda essa história, do</span><span style="mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">impeachment,
é que em Porto Alegre, aqueles que tanto criticaram o golpe não saíram para as
ruas. Tudo se naturalizou no discurso das redes sociais. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Terça
a noite segunda parte<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Ouvi novamente gritos, muitos gritos agudos de
“Fora Temer”. Vi um grupo vindo da Lima e Silva. Havia a mesma quantidade de
pessoas da manifestação anterior. Eles pararam na Perimetral com a José do
Patrocínio por mais de vinte minutos. Era pouca gente, eu só ouvia o: Fora
Temer. A parada nesse local, a tática foi eficaz. Esse é um ponto estratégico,
cheio de carros nesse horário. A manifestação causou um pequeno caos; e foi
acompanhada por poucos policiais. Os motoristas não sabiam o que fazer. Vi
carros andando de ré, carros passando por cima de canteiros. O fluxo, em certas
direções, parava e depois voltava, <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">porque</span> o ponto é uma encruzilhada; quem passa por ele pode estar
vindo da Zona Sul, das cidades do entorno de Porto Alegre, do Centro. Foi
cansativo, estava contemplando uma manifestação que simplesmente não me
interessa, uma manifestação pró governo, partidária. Minutos depois, o pessoal
do DMLU com suas roupas laranjas começaram a limpar o Largo. Como sempre, <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">aconteceu a</span> feira de
terça no espaço, e acho que eles foram impedidos de o limpar antes pela movimentação
dos “contra o golpe”. O pessoal do DMLU sempre está por aqui, devido aos
eventos constantes no Largo. Às vezes, os encontro em mercados do entorno. Como
disse, foi cansativo ficar na sacada quando os manifestantes ocupavam o
cruzamento. Mas não consegui sair da vista; queria ver o que ia acontecer.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Quarta
noite – trinta e um de agosto <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Ouvi gritos, fui para a sacada e vi que era a
manifestação passando pela <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Rua
República. </span>Senti que eles viriam até o Largo. Minutos depois passaram
carros da polícia pela Perimetral em sentido Centro.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Primeiro um grupo grande de umas 200 pessoas
chegou no Largo pela Perimetral vindo da Lima e Silva; dez minutos depois
chegou um outro grupo. Tudo ficou parado, sem fluxos de carros. Não há como não
apresentar essa mudança do entorno a partir das manifestações, mas, para mim, é
uma questão, muito mais, estética e não ideológica.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Recebi alguns conteúdos pela web. O ativista
de mídia Marcelo Branco fez uma gravação longa em vídeo de uma marcha contra o
chamado ‘golpe’ ao governo Dilma. A marcha foi expressiva e aglomerou muitos
jovens fortemente vigiados pela polícia. As imagens de Branco mostravam minutos
da caminhada desde a Universidade Federal do estado até um centro cultural, que
fica umas cinco quadras de distância da universidade. Nas imagens de Branco,
uma sede do PMDB foi atacada pelos manifestantes. Deixo isso como registro para
comparar com as descrições da tímida manifestação ocorrida ontem. Porém, friso
que o que está acontecendo na política brasileira nos últimos tempos não me
interessa. Me interessa a mudança do ambiente causada por um acontecimento
desse tipo, algo que não se vê com tanta frequência. Outro vídeo de Marcelo
mostrava a manifestação em frente do edifício do jornal Zero Hora sendo
reprimida pela polícia. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Sexta
dois de setembro de 16 -<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">As ruas aqui da frente foram fechadas e
surgiram alguns carros policias. Depois ouvi gritos de guerra, uma nova
manifestação a caminho. Era pouco densa, talvez umas cem pessoas, entretanto, o
som que faziam era bem expressivo. Atrás da manifestação estavam carros, motos
e montaria da polícia. Dois helicópteros sobrevoavam o local, produzindo um
barulho irritante, meio ensurdecedor. Um canhão de luz vindo de um deles
iluminava as ruas. A polícia fechou ruas; o trânsito ficou confuso, os carros
que vinham do Centro desde a José do Patrocínio tinham que desviar em direção à
Zona Sul ou da Universidade Federal. Pouco depois, o trânsito voltou ao normal,
mas ainda dava para ouvir gritos de guerra. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Domingo
4 de setembro – ver o tempo <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Dia chuvoso, como nos últimos dias, nada
demais, mais um domingo. Da sacada, noto alguém tomando algo, parado no meio do
Largo, em um momento de pouca chuva. É um senhor de uns 55 anos de idade, que
sempre está pela vizinhança tomando um latão de cerveja. Um pouco estranho ele
parado, lá no meio do Largo, com chuva, bebendo. Já tentei falar com ele e ele
sempre nega qualquer tipo de diálogo. Mora num hostel aqui na rua, local com
uma turma grande, mas esse senhor nunca se mistura. O latão de cerveja as vezes
vira uma garrafa plástica, provavelmente uma mistura de destilado com suco.
Volta e meia ele desaparece, me disseram que ele é internado e no dia que sai
da reabilitação volta para o Largo, com sua bebidinha. No fim da tarde, aconteceu
um apagão, a região ficou sem luz.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Agora
ainda sem luz, fico vendo os carros perdidos no cruzamento já que o semáforo
não está funcionando; os motoristas sem saber o que fazer.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Dia
seis de setembro –<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<s><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Na noite anterior tive uma sensação estranha
ao olhar a sacada; percebi como a vista, em parte, é espetacularizada. A
Perimetral é ladeada em sua esquerda por grandes prédios imponentes: hotéis,
edifícios comerciais e residenciais novos. À noite, com as luzes das ruas e
essa coluna de prédios (que foram sendo construídos pelos menos nos últimos dez
anos) iluminada, a vista é quase primeiro mundista, porém, apenas no lado
esquerdo, ou melhor, a maior parte desse lado. Sensação parecida tive ao
percorrer ruas no bairro, que não via pelo menos há 15 anos. Pequenas</span></s><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> ruas da Cidade Baixa estão tomadas por bares
e restaurante da moda. A Cidade Baixa, quem a consome são jovens adultos,
classe média, de bom gosto, alternativos, muitos, gays. Há duas festas góticas
no bairro; a casa noturna <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Opinião</span>
abriga shows com um pessoal de estética mais agressiva, como cabelos compridos
e roupas pretas. Os metaleiros, os góticos, os hippies que consomem o bairro,
não representam um perigo, apenas esteticamente destoam das patricinhas e dos
hipsters de casas noturnas como <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Beco, Margot, Clube Silêncio.</span> O dress code é marca das casas
noturnas. Um gótico não vai numa festa funk, uma garota Funk não entra numa
festa gótica ou em um show de metal. Já o morador de rua pode ficar na rua, mas
correndo o risco de ser preso. A higienização, a gourmetização do bairro é um
dos elementos da Cidade Baixa; o outro elemento é exatamente algo que parece
ser uma resposta a assepsia própria à classe média. Esse último elemento diz
respeito à pixação, aos moradores de rua e a grupos de jovens de classe baixa
que fazem parte do ambiente. O pixo é predominante em muitas ruas; moradores de
rua estão em toda a parte, a qualquer hora do dia. Os jovens pobres frequentam
certos pontos do bairro, e eles têm fama de serem perigosos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><s><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">6 de setembro de noite, 20h45min<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></span></s></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Mais um grupo se manifestando. As ruas
paradas. Dois helicópteros sobrevoam o espaço. Há umas quinhentas pessoas na
rua, gritando: Fora Temer. Ouço batucadas. O posto de gasolina continua aberto;
em manifestações, notei que o posto fecha. Helicópteros com seus canhões de luz
iluminam as ruas. Uma fogueira feita pelos manifestantes em plena rua fica
acesa durante mais de quinze minutos. A massa começa a se dispersar. Os
helicópteros sempre fazem algumas coisas estranhas como iluminar terrenos
baldios, edifícios, que não estão sendo ocupados pelos manifestantes. As ruas
continuam fechadas, a fogueira ainda queima, e há pouquíssimos manifestantes no
ponto em que havia aglomerado umas quinhentas pessoas. Os muitos carros
estacionados no Largo continuam ali e não foram depredados. O posto aberto. Uns
vinte minutos depois, carros começam a passar pela Perimetral vindo da UFRGS. A
fogueira se apaga. Uns poucos manifestantes no espaço. Dois carros vêm na contramão
pela Perimetral e entram na José do Patrocínio. Os helicópteros sumiram. Passam
motos da polícia. Um carro da polícia para junto da fogueira e depois sai.
Passa um caminhão do corpo dos bombeiros. Ouço gritos de guerra. Talvez a
manifestação esteja ainda quente em um ponto próximo. Seria interessante se a
manifestação voltasse para o mesmo ponto; a sensação de segurança, de que tudo
havia voltado ao normal, seria contrastada com um novo pequeno caos, o que
criaria uma sensação de sobre tensão. Param vários carros da polícia aqui na
frente. Depois um efetivo com dezenas de policiais corre em direção a Lima e
Silva. Ouço gritos de manifestantes. Depois vejo algo como uma bomba voando,
uma bomba de gás. Ouço estrondos altos. Os estrondos continuam. O trânsito
normaliza, porém, na parte esquerda da Perimetral em direção a Federal apenas
passam carros policiais. Penso que os manifestantes, que estavam na posição
Norte da minha vista, ou seja, na Lima e Silva, foram rapidamente dispersados
pelas bombas. Parece que tudo fica normalizado. Continuei um bom tempo atento,
mas nada mais aconteceu.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Dia
sete de setembro<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Pensava que teria uma parada de sete de
setembro de manhã na Perimetral. De tarde, um grupo se acumulou aqui na frente,
gritando: Fora Temer. Eram pessoas de diversas idades, muito senhores e
senhoras. Em determinado momento chegou um carro, com aparelhagem de som, e
todos começaram a cantar o hino nacional de uma forma diferente. Todas as
frases do hino eram terminadas com: “Fora Temer”. Antes de decidir descer para
ver o que estava acontecendo (e nem queria descer, achei meio ridícula a
situação) recebi informações do Marcelo Branco do que se tratava. Esse grupo se
reuniu para cantar o hino dessa forma para uma gravação em vídeo. O fato foi
organizado anteriormente pela internet. Para mim, foi muito mais importante,
que a gravação, que o significado do sete de setembro, sentir uma mudança nessa
parte da cidade, já que era meio da semana, feriado com cara de domingo, poucos
carros na rua, menos barulho. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Quinta 8 de setembro 18h30<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Dia de semana, fim da tarde; notei alguns – o
que me pareciam guardadores – em volta de dois carros. Notei que eles olhavam
para dentro dos carros. Voltei a escrever e no cigarro seguinte fui para
sacada, e tive a sorte de ver os dois carros, grandes, caros, serem abertos no
mesmo momento; e mais saíram no mesmo momento. Obviamente, foram roubados por
aqueles que estavam em volta deles. Mas o mais importante, me perguntei se eu
delataria uma ação desse tipo. Carros caros, comprados por cidadãos de bem,
gente próxima a mim, roubados por ladrões de rua. Eu não tenho nenhum apreço
por ladrões profissionais, que desejam ser ricos, como não tenho por
banqueiros, políticos, policiais. E quanto ao cidadão de bem, que compra seu
carro com esforço, um dos grandes bens de sua vida, apenas menos caro que a
casa na cidade e a casa da praia? Eu tenho algum apreço por ele? O defenderia
daqueles que precisam, ou mesmo querem, ir às ruas para roubar? Deleuze e
Guattari eram ladrões profissionais, e os admiro. Eu sou um ladrão pé de
chinelo, e não estou procurando ser admirado. Sempre quando ouvia a palavra
“doutor”, ficava com medo, pensava: alguém muito importante está próximo. Hoje,
ser doutor para mim significa muito pouco. É interessante como o empresário
cheirador de pó, o yuppie, o pesquisador alcoólatra, a dona de casa que toma
valium, como esses são tão bem aceitos socialmente; o que não acontece com o
ladrãozinho pobre que rouba para manter seu vício. O empresário se orgulha de
quem é, se sente feliz por não ser um ladrãozinho. O intelectual se considera
especial, por pensar o mundo. E eu estou no meio disso, não estou livre, sou
mais um; melhor, menos um. Rimbaud dizia que era um negro. O Beatnik era negro,
melhor, white negro. Os White Phanters queriam ser negros armados. Negri foi um
presidiário. Deleuze foi um fraco, suicida. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Bukowski ,o vagabundo;</span> Hemingway e Thompson também
suicidas; os ladrões, viciados, gays como Burroughs, Jim Carrol. Presidiários,
vagabundos, <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">miches,</span>
suicidas, ladrões, me sinto bem com eles. <span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 106%; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: lime; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 106%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: lime;">DELÍRIO NA CIDADE</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 106%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Porto Alegre na virada do século era uma cidade diferente. Haviam
poucos controles de velocidade de carros nas ruas. Dava para beber nos postos
de gasolina e fumar dentro das casas noturnas. A Rua Oswaldo Aranha estava no
auge como ponto underground da cidade; as áreas de prostituição da Rua Farrapos
e do Bairro Menino Deus eram bem viva. A casa noturna NEO (antigo Fim de
Século) passava pelo seu melhor momento. Outra casa noturna o Garagem Hermética
tinha os melhores shows de bandas locais além de festas para aqueles com
interesse em cultura alternativa. Nos domingos à noite o pessoal fazia pegas de
carro pela cidade, principalmente na Rua Nilo Peçanha. No fim da tarde de
domingo enchia de gente no bar mais clássico da Zona Sul, o Timbuka. Nas
segundas feiras de noite o pessoal tomava o cruzamento da Rua Independência com
a Barros Cassal. Também nas segundas uma casa noturna abria, o Virtual. Além
disso, ainda funcionavam outras casas noturnas como o Elo Perdido e o DR
Jekill. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Não sei se a cidade nessa época era tão diferente dela no início de
1990 quando tinha acabado de entrar na adolescência. Mas para mim aconteceu uma
mudança radical ao começar a dirigir e ter mais dinheiro no bolso, passei a
experimentar a cidade de outra forma. Sim, os automóveis são um dos grandes
problemas urbanos, mas para um jovem, tirar a carteira, ter um carro em mãos,
isso cria um tipo de empoderamento. Comentei sobre os pegas de carros,
facilitados pelo trânsito não muito controlado. O pega é uma brincadeira na
cidade, meio suicida: andar em alta velocidade pelas ruas, passar sinais vermelhos,
não respeitar nenhuma sinalização, e isso as vezes em duplas, grupos de carros.
O pega é experimentar a cidade de forma espetacularizada, é imitar o que se vê
no cinema, na TV, imitar as corridas de automóveis. Porém, o empoderamento se
dá na apreensão da cidade; de carro dá para ir de um ponto a outro em pouco
tempo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Na virada do século em Porto Alegre, o carro permitia então passar por
todos esses espaços, comentados no primeiro parágrafo dessa parte, de uma forma
simples e rápida. Um trajeto comum era ir da Oswaldo Aranha até a Farrapos.
Dois pontos distantes, pouco comunicáveis, diferentes. Na Oswaldo, o pessoal
ficava na rua, não tinha que pagar para entrar nos bares; dava para estacionar
o carro curtir o espaço, sair dele e depois voltar. Na Farrapos, o que
interessava era a área de prostituição, as meninas que ficavam nas ruas. O
pessoal jovem frequentava a Rua não necessariamente para fazer um programa, mas
sim para ver as meninas, falar com elas. E sem um carro fazer tudo isso seria
impossível. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Quanto ao dinheiro – ter mais dinheiro do que se tinha na adolescência
– ele permite que muito pontos sejam usados. As casas noturnas são pagas para
entrar e nelas as bebidas são mais caras do que as dos bares abertos. Se um
rapaz tem um pouco de dinheiro, ele pode compartilhar com as garotas, pagar
entradas, bebidas, e com o carro pode dar caronas. Mesmo no meio underground
isso é importante, sempre foi. Não por uma questão de prestígio, mas de
liberdade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Todos esses pontos eram frequentados por jovens, porém, as áreas de
prostituição podiam <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">atrai-los,</span>
mas eles não eram o público principal. Esses espaços boêmios, esses locais de
encontro em dias pouco comuns para fazer festas – segunda à noite, domingo de
madrugada – atraiam jovens, já que eles têm menos obrigações. É mais fácil para
quem tem menos idade passar a noite bebendo, ficar em claro e depois seguir a
rotina do que para um adulto. Claro que há muitos adultos que cheiram cocaína,
pegam prostitutas, vão virados para o trabalho, pisam fundo no acelerador. E
também, muita gente nova não sai à noite, ainda mais nos pontos marginais, e
tem medo de usar certas substâncias.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Começa a falar sobre noite-dia-crepusculo <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A mim sempre interessou a área de indiscernibilidade entre a vida
diurna e noturna, quando a festa continua, sem parar: passar noites e dias
seguidos na curtição da cidade, sem dormir, usando pó, anfetamina, álcool, o
que vier pela frente. É dia, meio da semana, tudo funcionando a todo o vapor,
gente no trabalho, os estudantes nas escolas, o trânsito lento e monótono, mas
alguns poucos estão em outra lógica. Me interessa essa área de
indiscernibilidade entre dia e noite já que diz respeito a uma apreensão,
percepção, experimentação diferente da cidade. Virar a noite com a cabeça cheia
de muita coisa e se chocar com a vida diurna, essa mudança da noite para o dia
já é radical. E se a festa está rolando direto, e não importa qual é o dia, é
fácil seguir o ritmo em uma cidade grande. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Sim, os garotos fumam maconha de manhã, bebem de manhã, alcoólatras
fazem isso o dia todo, profissionais precisam de pó para trabalhar, garotas
tomam ritalina para estudar, donas de casa bebem vinho com valium. Mas virar a
noite, não dormir, ficar uma, duas, mais noites acordados, e isso não nas
férias na praia, mas em uma cidade urbanizada, isso acentua a percepção
molecular. Prostitutas, drogados, traficantes, gente maluca, sempre estão nas
ruas, são fáceis de serem encontrados a qualquer hora de qualquer dia, claro
que é mais difícil as três da tarde de quarta-feira do que as três da manhã de
sexta; mas os malucos sempre se encontram.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O tempo cronológico é um controle, duro, doloroso, e ele é marcado na
metrópole. Em Porto Alegre a maioria das ruas estão praticamente paradas em
muitos horários. E isso doí, é uma forma horrível de opressão, estando de carro
ou de ônibus. Mas na rua pode ter esse pessoal, no mesmo horário, caminhando ao
lado dos carros. Esse pessoal pode estar bêbado e chapado indo em direção do
Rio para ver o pôr do sol.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Crônicas – delírios em porto alegre</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">As páginas posteriores são sobre cacos de memória meus, referidos a
Porto Alegre na virada do século. Tratam da indiscernibilidade entre dia e
noite, sonho e vigília, lucidez e alucinação, realidade e ficção. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">São coisas que vi, fiz, ouvi que
foram feitas, coisas que não sei são verídicas por serem absurdas, mas mesmo
essas coisas absurdas sei que podem ter acontecido. São cenas da noite, ou do
dia que é continuação da noite</span>. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Como muitas das histórias são situações que não tenho
certeza se aconteceram realmente, escrever sobre elas é crônica, literatura ou
autobiografia</span>? Por isso no caso o registro artístico é mais importante
do que o trabalho cientifico, a arte expõe melhor a loucura e a narcose do que
as ciências. Como eu disse, o tempo funciona de forma diferente quando se está
drogado e ainda mais sem dormir. Coisas estranhas acontecem, coisas acontecem e
não são bem lembradas; três dias acordado, podem render só flashs do que aconteceu.
Uma semana acordado e louco de muita coisa, pode ficar esquecida para sempre, e
as vezes, as lembranças se misturam com fatos reais, sonhos e alucinações.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">De madrugada, acabei de sair de um bar, pedi um ácido para algumas
pessoas, desconhecidas, não sei se eles me deram, se eu tomei, estou descendo
de carro a rua do Jardim Botânico, os vidros abertos, som alto, alta
velocidade, começo a respirar fundo, fundo, mais fundo, de repente cada
inspiração é como seu eu estivesse aspirando um gás que sobe direto para o meu
cérebro e me dá uma sensação de prazer. A rua fica flat, paro em um sinal, a
alucinação acaba de súbito. Penso no que aconteceu; o que aconteceu? Eu tomei o
ácido? A turma me deu alguma droga, uma droga nova? Nunca havia sentido isso. Me
envenenaram? No chão da parte da frente do carro estavam descansando várias
caixas de vários tipos de medicamentos estupefacientes.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Estou voltando de carro de Canoas, cidade ao lado de Porto Alegre,
estava tendo aula. Tinha virado a noite. Me sinto bem; não sei o que tinha
tomado, não que eu não lembre, mas eu não sei, e não sabia. Devia ter tomado
muita coisa. Estou na estrada e tenho um acesso de risos. Não consigo parar de
rir. Sinto como se as pessoas nos carros, que elas estavam rindo comigo, rindo
de mim por eu estar rindo. Me sinto louco, mas não me importo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">É de manhã na saída da NEO. Tudo estava escuro. Estou com a gangue na
frente da NEO e a luz do dia quase me cega; me sinto meio oprimido pela luz do
dia. Poucos carros na avenida, um pouco frio. Um carro passa em alta velocidade
e um dos que estavam no grupo, a gente estava no meio fio, golpeia o carro e
quebra o espelho retrovisor. Isso realmente aconteceu? Poderia acontecer algo
do tipo? Um carro na rua em alta velocidade pode ser golpeado por alguém que
está a pé? E mais, esse alguém nem se lesionou. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Havia tomado ácido e codeína no Garagem Hermética. A codeína tinha
batido, mesmo que eu precisasse de doses cavalares para fazer efeito já que eu
tomava feito água. O ácido não estava batendo. Quando chego em casa de manhã
nada do ácido ainda.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A casa estava
agradável, sentia um vento gostoso passando sobre mim, um frio agradável. De
repente, paro na frente do espelho e me olho. Olho fixamente e quase vejo os
ventos. E daí, ouço uma voz: “se despeça de mim” ela diz. Ouço isso apenas
quando olho o espelho. Na semana seguinte uma amiga de infância se mata com um
tiro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Saio de um puteiro na Cidade Baixa de manhã, estou na rua. Devo ter
passado a noite junto com as prostitutas. Me direciono para casa, que ficava na
quadra abaixo. Ouço uma prostituta gritar meu nome, não sei por que, não dou
bola e continuo caminhando.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É um dia
estranho; a estranheza de se encarar o dia depois de ter estado a noite toda em
um lugar fechado e escuro. O que se passou? Não lembro de nada. Provavelmente
isso aconteceu inúmeras vezes, mas eu não tenho memórias claras precisas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Passa aquele mano que era namorado daquela garota que dormia no meu ap
de vez em quando. Eles tinham um filho, uma bela criança. Passa ele e ele tem
em mãos umas três garrafas de vinho. Pergunto: recebeu o salário do mês? Tá
trabalhando? Daí ele diz: peguei nas macumbas do cemitério. Os cemitérios de
Porto Alegre ficam perto da Cidade Baixa. Lá se reúnem mendigos que roubam
vinho e cachaça das oferendas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Nova York, década de 70, Iggy Pop louco de muita coisa como sempre.
Ele passa por um pessoal, diz oi, mas não vê uma escada de oito degraus. Ele
cai, rola pra baixo. Todo mundo diz: ele morreu. Mas ele se levanta e continua
caminhando como se nada tivesse acontecido. Quando li a história pensei: acho
que isso aconteceu comigo naquela casa noturna no fim dos 90.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Alguém diz: a Maria Andrea, tomou Artane e atacou um grupo policial
montado. Eu penso na hora: acho que isso aconteceu comigo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">É de manhã, passo na área administrativa da cidade depois de uma longa
noite. Passo um sinal vermelho, a polícia me para, e diz: cara, é a segunda vez
que você faz isso na semana; eu não vou te passar no bafômetro hoje, mas na
próxima eu te prendo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Eu tava vidrado nessa mina. A gente se via sempre na NEO e ela virava
a cara para mim. Num domingo na Oswaldo Aranha ela cede e a gente vai pro meu
ap na Cidade Baixa. Estou nu ao lado dela; é de noite, madrugada. Ela se apoia
na janela, nua. Nunca havia visto uma mulher tão bela, gostosa. A gente transa
na janela mesmo, olhando para a rua. Depois pelo que <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">me lembre,</span> é dia, a gente tá na sala, eu
estou nu e ela está com aquele vestido negro mostrando os seios e <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">a púbis.</span> Eu gostava do
vestido, ela sempre o usava. Sem pudor pedi para por o vestido dela, a gente
ficou ali na sala, ela nua e eu de vestido. Depois a gente transou de novo,
deveria ser nove horas da manhã. Horas mais tarde estou sozinho em casa e vejo
que ela havia escrito em meu diário: “vai a merda, eu te amo”. Na noite
posterior a tudo isso, a garota que eu gostava, uma ninfeta dez anos mais nova,
permite que eu a beije, não na boca, como rolou no Parque da Redenção horas
antes, mas em seus peitos, em seu ventre, em sua vagina. Daí dias depois, estou
fumando um na janela e vejo que ela – a ninfeta – lê me diário; ela lê aquilo
que a outra mina tinha escrito: “vai a merda, eu te amo”. A garota ninfeta já
tinha dito que me amava noites antes, em uma gravação telefônica. Ela, a
ninfeta, foi embora e nunca mais a vi. Conheci ela semanas antes; eu estava
descendo de tarde a Rua Independência; vi essa mina linda com uma criança
caminhando pela Rua. Pedi para acompanhar. A gente desceu até o Colégio do
Rosário, conversou, trocou telefones.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Caminho pela rua, parece que estou caminhando a dias, parece que estou
sempre na rua. Encontro um amigo e a gente vai tomar uma ceva num bar perto da
Redenção. Antes eu tava na Redenção beijando duas EMOS. Sempre encontrava elas
e não sei o que mais rolava, não lembro. Eu e o amigo a gente tava bebendo uma
cerveja e comentei com ele: acho que eu tava caminhando de tarde no centro,
perto da Matriz, tinha poucas pessoas na rua, vi uma mina caminhando. A gente,
eu e a mina se olhou, eu beijei ela, assim do nada. Nunca tinha visto ela e ela
gostou. Sim, isso aconteceu, mas eu não me lembro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Minha amante foi convidada pela minha namorada pra gente ir no
acampamento do Fórum Social Mundial. Isso em 2001 ou 2003 ou 2002. Minha
namorada ficou conversando com minha segunda amante e eu fiquei com a minha
primeira já que ela tinha várias caixas de Valium e Rohypnol. Antes disso eu
tava em casa com minha namorada e a gente estava com várias caixas de ritalina.
Ela me pediu um comprimido, a gente tava na cama. Eu fiz que ia por na boca
dela, mas engoli. Isso se repetiu cinco vezes. Depois, dez anos depois eu vi
essa cena acontecer em um filme sobre Johnny Cash. Então minha amante, no
Fórum, foi me dando comprimidos. Eu pedia, ela me dava. Isso era de noite
quando o pessoal dançava, bebia e tocava instrumentos rústicos entre fogueiras.
De manhã a gente chega em casa, não sei como. Mas lembro bem de tomar tudo que
ela tinha em mãos, mas não lembro da overdose, nem quando me levaram para o
ambulatório. E tudo isso pode ter sido um sonho. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">É uma noite escura, estou na Barros Cassal. Eu encontro aquela mina
com sotaque estranho que era atriz de filmes de terror pornô. Em outra noite eu
pedi para fotografar os peitos dela, enquanto o diretor dela estava cheirando
cocaína em um grande espelho, isso no Garagem Hermética. Daí eu tava com a mina
e a gente deu umas voltas pela cidade de carro. Acho que tava junto aquele
cara, o Paulista. Eu digo para ela que não posso comprar codeína, a única
farmácia que tinha não vendia mais para mim. Ela vai até a farmácia com as
receitas e consegue comprar. Daí o Paulista enquanto ela comprava disse que
iria me dar pelo menos mil reais se a gente roubasse a farmácia. Eu mudo de
assunto. A gente tava num posto perto da Farrapos e o Paulista desaparece num
carro com um psicopata cheirador. Eu fico com ela como queria. A gente tira
umas fotos. Eu peço um beijo e ela me chama de infantil. Deixo ela em algum
lugar muito longe, talvez na Avenida Assis Brasil. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O dia nasce e estou caminhando em direção da Farrapos para ir num
puteiro, não sei <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">porque</span>
estava caminhando; tinha perdido o carro?<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Eu estava voltando pra casa. Tinha saído da independência, e estava
indo em direção à Zona Sul. Passei pela curva do Estaleiro e quase morri. Dormi
na direção, mas acordei no meio fio e voltei para a rua. Só que um ano antes
meu primo havia se acidentado no mesmo lugar. Bateu o carro num poste, quebrou
o para-brisa com a testa. Passei pela Avenida Diário de Notícias – naquela
época que era um lugar sem nada. Acordei na Escobar, com uma mão no meu pescoço
perguntado se tava tudo bem. Notei o que aconteceu quando toquei no meu nariz
quebrado: dormi na direção e bati numa árvore, uns quilômetros à frente da
curva do Estaleiro. Como bom jornalista estava com minha câmera fotográfica no
banco do carona. Sai cambaleando e tirei fotos nunca reveladas do acidente que
rendeu perda total do Escort. Minha próxima imagem é de chegar num hospital e
tentar sentar numa cadeira de rodas. Pensei que tinha quebrado o pescoço. A
enfermeira me manda ir caminhando para fazer pontos. Um taxista me deixa em
casa horas depois. Eu lhe digo que seria melhor fechar a noite na Farrapos já
que meu pai ia me matar ao saber que eu tinha destruído o carro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<s><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Não sei <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">porque</span>
eu e minha namorada a gente decide conversar sobre a relação dentro do banheiro
de um bar na Lima e Silva. A gente entra e começa a conversar. Ao mesmo tempo
uma das atendentes do bar fica batendo na porta dizendo para a gente sair. A
gente não sai, a gente ficou lá uma meia hora. Nossa turma de amigos estava lá
fora fazendo não sei o que, mas nos esperando. Dez anos antes</span></s><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> eu e meus amigos a gente entra em um banheiro
minúsculo para cheirar pó pela primeira vez. A porta começa a bater, e a gente
ouve berros pedindo para que a gente saísse. Isso era meio óbvio já que era o
único banheiro masculino de um bar que enchia de caras que bebiam cerveja. Mas
lá no bar da Lima e Silva eu e minha namorada a gente ouve uma voz alta e
masculina dizendo: é a polícia, se não abrirem a porta vamos derrubar. A gente
abriu e saiu sem problemas; apenas nunca mais deixaram a gente entrar no bar.
Mas o mais interessante é que a polícia bate as sete horas da manhã na porta do
meu ap na José do Patrocínio. Pensei: me ralei. Eu abro a porta e o policial
diz: mas você de novo! Era o policial que me tirou do banheiro em que eu estava
com minha namorada. Nesse dia a coisa foi simples, eu só tinha estacionado o
carro em frente de um bar o que tava impedindo que o bar fosse aberto. Não sei
o quanto de verídico é essa história, já que eu não confio em mim. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Eu saio de manhã da NEO. Uma garota debocha de seu amigo gay. Ela lhe
dá um tapa no rosto. Eu fico puto já que ela estava sendo sádica com alguém
mais fraco. Eu lhe digo: bate em mim. Ela abaixa a cabeça. Eu lhe digo: venha
com minha turma não tem ninguém na rua vocês podem ser assaltados. Ela vem
atrás de mim e me beija na boca. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Eu mando um segurança ir se fuder. Ele me arrasta de dentro da NEO e
me põe para fora. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Eu peço cocaína para alguém é um segurança e ele me põe para fora de
algum lugar que eu não me lembro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Eu beijo uma garota dentro de um bar enquanto acontece uma chuva de
garrafas, uma briga de gangue.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Eu acordo na rua, e a minha futura namorada aparece e me compra um XIS
para eu comer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Uma amiga me paga uma coca cola enquanto estou sangrando no braço em
uma cidade qualquer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Eu falo com um presidiário que ganhou um dia livre na parada do trem
em Novo Hamburgo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Não sei como eu chego em casa depois de fazer uma festa no Centro de
Porto Alegre com alguém que eu nunca havia conhecido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Ela me chupa em seu apartamento depois de anos tentando me comer.
Meses depois eu vou na casa dela de madrugada, mas ela mesmo assim me acolhe.
Anos antes a gente caminhava de madrugada da Osvaldo até a casa dela na
Independência. Ela queria ficar comigo, eu não. Anos depois eu durmo na casa
dela e a gente transa. Ela fica brava comigo porque eu derramei vinho no sofá.
Anos depois eu digo a ele que a amo, e ela diz que sabe que é mentira. Não
posso falar sobre ela, já que não sei se ela realmente existe ou existiu. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Eu entro em um banheiro de um bar – não sei qual – com duas garotas. O
banheiro é o feminino talvez estivessem lá outras garotas. Eu e as garotas a
gente se beija. Não sei como era o rosto delas. Parece que elas estavam tão
seguras, livres, quanto eu. A gente não tava nem aí com seguranças, com as
pessoas em volta. Sinto que isso aconteceu não uma vez, mas inúmeras vezes, em
inúmeros lugares em inúmeras épocas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Em uma casa noturna eu começo a caminhar e beijar qualquer garota que
passa pela frente. Eu beijo todas, umas dez, talvez tenha beijado rapazes, não
sei. Lembro do afeto envolvido, algo que me impulsionou a isso. Depois eu
transei com uma garota na janela. E depois..... um grande buraco negro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Estou sentado com duas garotas numa escadaria, eu as beijo. Estou
caminhando com um amigo e digo: Lucia é uma garota bonita, não? Ele diz: você
ficou com ela noite passada. Eu pergunto para um outro amigo: eu tentei agarrar
a Maria noite passada? Ele diz: você não devia ter feito isso. Eu saio do táxi
na frente da casa noturna. Vejo uma garota e digo: vamos para minha casa? Ela
estava conversando com um cara, acho. A gente pega o mesmo táxi vai pra casa e
transa. Depois disso ela vai embora. Não lembro do seu rosto. Estou com ela na
praia do Rio Guaíba, a gente está quase transando. Eu olho para o seu rosto e a
cada piscada vejo um rosto diferente. É ela, sempre ela, mas ela de outras
formas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Seção
ficção – Literatura</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A escrita acima, ficou presa na crônica, nos relatos “mais realistas”,
mesmo que fossem a realidade da droga, dos sonhos, da loucura. Mesmo que
absurdos para muitos o que foi narrado acima ter acontecido. A drogadiçao, a
alucinação, a descida ao gueto, a marginalidade para muitos, para o bom
cidadão, são inimagináveis, impossíveis. Agora abaixo, a linguagem delira muito
mais, é literatura. Necessito dessa literatura, já que mostra uma subjetividade
afetada pela transição, pela indiscernibilidade entre dia e noite, ou seja, não
trata de fatos, mas de sensações percepções que a indiscernibilidade permite.
Não importa muito o que corpo do drogado fez, mas como sua subjetividade é
afetada. Escrevi as passagens sem usar drogas, aliás, escrevi em uma época
muito calma, porém, o afeto, os devires experimentados pela droga estavam ainda
muito vivos, duravam. Se trata de um estilo textual que experimentei na
graduação. Na época, eu não consegui continuar com o estilo, já que era uma
escrita muito cansativa. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">O
estilo parece com cut ups, aliás, alguns textos escrevi para que fossem usados como
cut ups. Um texto serviu como recorte em outros dois textos em que eu tratava
da cidade, a parte final da minha monografia e um artigo para revista.</span> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">VER SE O PARAGRAFO NÃO REDUNDA COM PARTES ACIMA </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O que segue é uma textualidade delirante, de
delírio na cidade, que diz respeito a uma subjetividade descodificada. Os
textos são passagens do tempo, da noite para o dia do dia para a noite, as
mudanças do tempo em um dia. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Porque</span>
um dia? Para o jovem, para o drogado, interessa o que está acontecendo, não fazem
planos futuros, não se preocupam com o futuro, importa é agora. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">E é fácil apreender um dia,
sentir um dia inteiro na carne, ainda mais chapado. A passagem da noite para o
dia cria um estranhamento arrebatador. Era de noite, era festa, a cidade era
uma, mas com a chegada da manhã, tudo muda, muito. Sentir essa mudança afeta,
acentua o efeito da droga.</span> Se está com uma cabeça completamente
diferente de todas as pessoas que estão nas ruas, mesmo que se esconda que se
está chapado, se está virado, nas interações com os que não estão, isso acaba
ficando visível de certa forma; há um choque entre o chapado e o cidadão.
Quando a pessoa não dormiu, por um motivo qualquer, perdeu o sono e ficou se
virando na cama, ou quando está de jet leg, sempre há o choque com o tempo
cronológico, com as pessoas que estão seguindo o dia de forma normatizada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Nesses textos há uma mistura de animais, seres humanos, personagens
urbanos, artefatos, objetos, instrumentos; há o asfalto, mas há o céu, e a
floresta, o sol, a lua; a enfermidade e a loucura também estão presentes.
Coisas estranhas se ligam, pois é próprio da loucura e da drogadição. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Os textos portanto, dizem
respeito ao afeto da droga, dos sonhos e delírios, não narram fatos, não são
realistas, o que se sente, percebe, a partir desses afetos formam uma realidade
assustadora, impossível....</span> <span style="color: red;">no segundo texto, a
passagem do tempo é linear, mas se refere a percepçao de uma louca
subjetividade dessa linha do tempo. </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">os textos são antigos, escritos
na época da graduação. Eu tirei algumas coisas principalmente expressões de
norma culta. Mas me importa o afeto que o percorre e também o fato de eu ter
escrito sem pensar no que estava escrevendo, escrevi isso naturalmente, e como
disse em um época calma.</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="background: lime; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: lime;">Crepúsculo</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> cinzento. Pássaros excitados pela transição
temporal se escondem entre marquises e bueiros. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Luzes artificiais surgem da cloaca da cidade.</span> Uma
lua insensível esconde-se entre a neblina e o cume de prédios <span style="color: red;">silentes. E também</span> a fauna urbana se metamorfoseia.<span style="color: red;"> </span>Médicos e advogados retiram suas cínicas <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">pompas,</span> transformando-se
em cafetões e traficantes. Estudantes abduzidos de seus ingênuos corpos se
tornam assaltantes. Donas-de-casa vendem boquetes efêmeros nas esquinas. Apenas
os mendigos mantêm suas formas corpóreas, já que seus organismos foram
manipulados, em essência,<span style="color: red;"> na origem dos tempos. </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Sigo meu caminho percorrendo as carcaças, os
esqueletos de ferro, esses pequenos <span style="color: red;">cânceres</span>
grudados nesse câncer maior, a cidade. Sinto o gás artificial, doce estado de
torpor; mantenho-me conectado, buscando os espaços, os restos daquilo que a
metrópole ainda não digeriu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Ratos ensandecidos introduzem-se em canos de
escoamento e ventilação. Morcegos curram rolinhas entre árvores petrificadas.<span style="color: red;"> </span>Faróis iluminam restos de jardins de piche
abarrotados de micro-organismos. Cães brincam com suas parceiras consumindo as
alegrias do cio. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Bebês dão os seus primeiros passos
em </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">restos de lixo hospitalar, não sangrando seus
pequenos pés idosos e calejados. Uma chaminé vomita o oxigênio necessário para
a manutenção vital da metrópole. Em frente à boca de crack um letreiro luminoso
grita: “Em reforma”. A noite vende suas vísceras a domicilio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Acendo um cigarro. Cuspo restos de saliva e de
órgãos internos no meio-fio. A lua vai brochando, lentamente, mas sorri em sua
potência. <span style="background: lime; mso-highlight: lime;">A aurora</span> dá
continuidade ao ciclo e, aos poucos, espíritos terminais transmutam-se em
corpos definidos pela rigidez moral e estética solar. Heroinômanos catam pastas
e gravatas em sarjetas e enclausuram-se em gabinetes neuróticos sem ventilação.
Michês limpam seus ânus vaselinados, com uniformes assépticos, e percorrem os
corredores intermináveis da burocracia. Ratos ganham asas, mas mantêm-se no
chão ingerindo alpiste e lixo. Maconheiros recolhem seus baseados chapando-se
da fumaça das fábricas e seu virulento THC fordiano. Jovens recém-estupradas
encaminham-se à feira em busca de seu desjejum. Mas, estranhamente algumas
almas de aura vibrante, continuam estáticos em seu físico, já que o crepúsculo
e a aurora nada significam para aqueles que queimam a própria carne em ode a
insanidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Outro</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="background: lime; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: lime;">Manhã</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> idosa parindo pequenos cânceres. Manhã
decadente, engrenagem do contínuo definhamento. Anões neuróticos cultivam
leguminosas radiativas para serem digeridas por anões psicopatas herbívoros.
Iluminações artificiais permitem a fotossíntese dos gigantes de pedra e das
carcaças de aço. Crianças com Talidomida extraem membros de sexagenários, para
completar as lacunas do corpo cansado e moribundo. Eflúvios incandescentes
brotam do solo de plástico, queimando resíduos químicos de libido. O céu,
acometido pela Cirrose, explode dentro de uma moldura repleta de ferrugem.
Filmes maias são transmitidos numa tela orgânica, em estado de putrefação, para
um público de jovens sifilíticos. A pureza, há tempos estuprada em mictórios
públicos, finge manter certa compostura. Traumas sobrevivem e se recriam em
múltiplas formas. O esquecimento deixa de ser uma mera negação frívola,
tornando-se a única forma de impedir que a herança podre destrua o corpo
enfermo.<br />
<br />
<span style="background: lime; mso-highlight: lime;">Tarde adulta</span>
regurgitando o organismo. Tarde, de lucidez demasiada, perpetuadora da moral
alienígena. Pergaminhos indexados, para a eternidade, são registrados em
cartórios rígidos e inflexíveis. Ratos com sociabilidade aguçada rastejam em
calçadas e seguem a rota linear que os conduzirá à glória terrestre. Um grupo
de semáforos fêmeas conduz pombos a uma gaiola de vinil. Os pombos entram em
êxtase ao reconhecer a aglomeração de outros seres da mesma espécie. Uma cadela
dominatrix chicoteia os pombos. Os pombos cospem uivos de prazer. A dominatrix
vomita um espectro marrom-esverdeado de sua vagina construída em tempos
remotos. O espectro ganha vida e engole a cadela. Os pombos atônitos elegem uma
gata para a função. A cena reinicia. <span style="color: red;">O início
irremediável e implacável.</span> Em um canil, pastas abarrotadas de
documentos, sem nexo e sem utilidade, são trocadas por seios, genitálias ou
qualquer tipo de órgão sexual. Objetos fálicos de ossos são introduzidos em
sulcos vaginais de alumínio, facilitados por uma mistura de gasolina, azeite e
vaselina. Restos de restos de pequenas essências, que nunca existiram e nunca
existirão, felicitam-se por sua inexistência. A tarde se eterniza. Um jovem –
trancado em seu quarto, desconhecedor do sol – alimenta-se de seu próprio
corpo. Cada pedaço de corpo deglutido impõe-lhe orgasmos intraduzíveis em
qualquer dialeto racional.<br />
<br />
<span style="background: lime; mso-highlight: lime;">Crepúsculo</span>. <span style="color: red;">Tempo zero. </span>A subjetividade, liberta-se do sujeito.
Subjetividade coletiva. Subjetividade animal. A <span style="color: red;">enésima
natureza, a poesia, </span>sonhando consigo mesma, pensando em si mesma,
experimentando a si mesma. Solitária, única, apenas sendo. Mares de excremento
imensos, sem fronteiras e sem limites. <span style="color: red;">A terra,
interligada ao mar, ao céu, não consegue impedir que se veja todo o resto,
aquilo que é visto apenas <span style="background: lime; mso-highlight: lime;">pelos
surdos.</span> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><br />
<span style="background: lime; mso-highlight: lime;">Noite adolescente</span>
reproduzindo o êxtase da negação. Madrugada dos spots de carne. Pedaços de
órgãos brincam com pedaços de libido. Desejos sendo comidos, pelas beiradas, em
um prato de seda. A arte mostra algo muito mais imundo e purulento:
escoriações, necroses, fraturas. O pesadelo insone debocha daqueles que ainda
dormem. Multidões ovacionam lágrimas, pensando que elas são fúteis sintomas de
uma saúde extraordinária. O poeta é morto para, logo após, tornar-se imortal. A
loucura sempre foi bela. <span style="color: red;">A arte deve ser uma mera
máscara, caricatura débil, resíduo gástrico duvidoso, criada para a digestão de
glutões que se alimentam do espírito do outro. </span>O deus ânus apaixona-se
pelas fezes. Pênis são dilacerados, castrados. A noite se reproduz, ao extremo,
repleta de sangue. Há algumas horas foi reduzida à inexistência uma raça
inteira. O genocídio tornou-se a solução mais eficaz. Punir é uma ação
incômoda. É mais fácil matá-los. Torná-los humanos sairia caro demais para
aqueles que se regozijam com a humanidade. <span style="color: red;">Do mesmo
solo em que raças foram destruídas nascem outras e outras e outras. </span>O
ciclo de destruição e criação nunca cessou e nunca cessará. Viva o nascimento,
viva a vida. Deus cria para nos brindar com a possibilidade de destruir. Grande
pai incentivador. <s>Prostitutas e travestis, com suas entranhas de
silicone e almas de papel de seda, cospem <span style="color: red;">elegias
venenosas </span>entre si. As meninas e os meninos da noite, meus parceiros de
penitências físico-afetivas, em sua maioria, tornaram-se clones. <span style="color: red;">Seus peitos-bundas-espíritos-estilos são elementos de um
simulacro perpétuo, mostram a tentativa de atingir-se a perfeição para serem
expostos num museu de carne e terror.</span></s> <s>Senhoras arrastam-se
embriagadas em calçadas empunhando poodles de plástico e intenções patéticas.
Crianças consumidas por viroses desconhecidas jogam futebol em plena avenida,
entre automóveis e seringas descartáveis. Mendigos em trajes de gala lutam por
pedaços de excremento e garrafas de caipirinha de gasolina. Viciados, em narcose,
choramingam canções de amor com sentido dúbio.</s> <span style="color: red;">A
noite brinda olhos cegos com uma cegueira menos rígida. Os corpos sem face e
sem silhuetas, banhados de múltiplas cores, tornam a visão um artefato
desnecessário. </span>Respirações, bloqueadas pela bronquite química, suspendem
corpos em estado de morte efêmera. Volúpias auditivas curram tímpanos que
sangram docemente. O ritual sacro noturno cria vaginas e sacos em lugares <span style="background: lime; mso-highlight: lime;">diversos</span> ao organismo. O
corpo é livre do parasitismo da alma. O espírito é crucificado junto a Cristo e
regozija-se com o pecado. A memória se recompõe causando o esquecimento. A
lembrança do prazer é bloqueada por células infectadas por vírus mutantes. O
momento se dissipa no ato.<br />
<br />
<span style="background: lime; mso-highlight: lime;">Aurora.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Um grupo de cães, gatos e pombos se reúnem em um bar para decidir quando
a Bomba A será lançada. Árvores e estrelas se suicidam junto ao rio em uma
comunhão linda, indescritível. A metáfora do corpo da terra é contemplada em um
letreiro que ninguém vê e nem deve ser visto. Lençóis se tornam asas; cobertores
se tronam mais eficazes que gasolina. Bocas secas peregrinam para longe dos
riachos da assepsia. Eles tentam esquecer, tentam não saber. Lexotam é a imagem
do coração de Deus.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Fim </span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">dessa
parte<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Como essa
parte é a mais experimental, me permito não finalizar ela, deixar ela com cara
da inacabada, a deixo dessa forma: tiros para alguns lados, sem tentar amarrar
o texto dando uma organicidade dura. Como digo: sujar o texto não por que não
se tem opção, mas sujar o texto a partir de uma certa rigorosidade. Errar como
objetivo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">....................................................................................<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Aqui trato do skate na cidade de Porto Alegre nos anos 90. Apresento
minha experiência como skatista, que envolve também um saber sobre o esporte,
possibilitado por revista e vídeos. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">O recorte se deve, pois, moro em Porto Alegre desde os 12 anos de
idade;</span> quanto à década de 90, ela foi a época em que pratiquei o skate
de forma mais intensa. Importante também é o fato de que o skate antes da
virada do século ainda se referia a um estilo de vida marginal, principalmente,
em Porto Alegre. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Decidi pensar na relação de certa modalidade do skate, o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Street </i>de rua, a mais marginal, com a
cidade. Conclui que essa modalidade ressignifica espaços da cidade, é uma
experimentação do tecido urbano. Assim, posso dizer que os skatistas são
nômades, melhor, experimentam um nomadismo nas estrias da cidade.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Morei até os 12 anos em uma cidade grande do interior do Rio Grande do
Sul. Era grande, mas era segura. Não tinha como hábito andar de ônibus; então,
ainda criança percorria toda a cidade a pé. Minha família, em pouco tempo,
morou em três bairros diferentes. Portanto, eu me deslocava entre bairros para
visitar meus amigos. Isso me afetou de tal forma que quando vim para Porto
Alegre mantive a rotina de percorrer a cidade, mas acrescentando também as
viagens de ônibus devido ao tamanho da capital gaúcha. O skate não ajudava na
época a me deslocar. Porto Alegre não tinha uma estrutura como a dos dias de
hoje, que facilita o uso do skate, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">roller</i>
e bicicleta.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Aliás, as ciclovias e as
longas vias fechadas no fim de semana para o uso recreativo e não de carros,
começaram a surgir devido a Copa do Mundo de futebol em 2014. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Me encantei com Porto Alegre por ser uma cidade grande e diferente, um
lugar de possíveis novas aventuras. Além disso, havia uma pista enorme de
skate, pública, situada no Parque Marinha do Brasil, com um número expressivo
de praticantes. Comecei a frequentar o Parque e logo me enturmei. Esse tipo de
modalidade que sempre me atraiu, o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">street</i>,
é feita na rua; a rua, como disse, esse lugar que sempre esteve presente na
minha vida desde a infância. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O <i style="mso-bidi-font-style: normal;">street</i>, portanto, não
depende de pistas, é feito partir do que a rua oferece. As pistas de skate,
muitas delas, são pagas, e na época não havia <i style="mso-bidi-font-style: normal;">skate parks</i> desse tipo na cidade. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">A pista clássica do Marinha, grande, longa, com paredes
irregulares, e um formato estranho, incomum, lá frequentavam também os que
tinham interesse pelo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">street</i>. Ela,
posso dizer, era na rua, por ser aberta, e atraia poucos praticantes que
levavam o skate a sério, porque, como disse, tinha um formato estranho em relação
aos formatos em que ocorrem campeonatos.</span> Nos reuníamos na pista, a
usávamos e depois andávamos por Porto Alegre, ou seja, a pista do Marinha era
mais um elemento da cidade que experimentávamos. Eu costumava a ir para lá no
fim de semana. O fim de semana era fundamental, haja vista que a cidade na
época, praticamente, parava nos sábados e domingos; assim, ela era nossa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Breve história do skate<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Surge principalmente na Califórnia nos anos 70. Surfistas que só
podiam surfar pela manhã, pela natureza das ondas, começam a usar o skate para
fazer manobras parecidas com as do surf. O skate era muito rudimentar, feito,
em parte, pelas próprias mãos a partir de peças de patins e pedaços de
madeiras. Com uma certa popularidade começam a aparecer marcas, que fabricam
skates de qualidade e patrocinam campeonatos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Um momento importante foi quando se nota que as piscinas das casas na
Califórnia tinham formato parecido com o de ondas. Devido as secas na região,
as piscinas ficavam vazias e elas tinham esse formato diferente por questões
estruturais. Os skatistas começam a usá-las, criando manobras que impõe uma
evolução radical no esporte. Tempo depois, a forma arredondada é copiada se
atualizando na modalidade mais famosa, o vertical. Ou seja, as piscinas
desativas são usadas de um jeito diferente, a inventividade que sempre motivou
a prática.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Nesse cenário californiano surgem três figuras chaves:</span><span style="mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Jay Adams, Tony Alva e Stacy Peralta. Alva foi
o grande astro da época, criou e aperfeiçoou manobras. Peralta, montou a marca
mais importante até os dias de hoje. Jay Adams foi o skatista carismático,
ícone do skate como cultura marginal. Ou seja: a invenção das manobras; a marca
(empresa) que produz skates e patrocina atletas; e o espírito <i style="mso-bidi-font-style: normal;">outsider</i>. Esses três elementos, são o
que sempre moveu o skate, que não é apenas um esporte comercial, mas um estilo
de vida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">No Brasil, o skate tem uma forte expressão nos anos 80, com revistas,
campeonatos, skatistas inventivos, pistas e a vinda dos astros norte-americanos
para o país. O núcleo do esporte, na época, era situado em São Paulo. No Rio
Grande do Sul, além da capital, uma cidade era central, Novo Hamburgo, a qual
tinha uma importante pista. Na era Collor, muitas revistas, marcas e pistas,
devido à crise econômica, vão à falência. Porém, a partir de meados dos anos 90
o skate volta a crescer. O Brasil é muito importante no cenário mundial nos
dias de hoje pela figura de Bob Burnquist, skatista brasileiro que levou o
skate a um novo patamar.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Espaços em Porto Alegre para a prática do
skate nos anos 90 <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Quanto ao <i style="mso-bidi-font-style: normal;">street </i>não se
necessita de muito para praticá-lo. Um chão liso é um começo. Nele há a
possibilidade de inúmeras manobras, como a mais básica, o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ollie</i>, um impulso que faz com que o skate e o skatista voem desde o
chão. Também um banco, uma escada, uma parede, um corrimão, uma rampa feita com
as próprias mãos são importantes obstáculos que permitem inúmeras manobras. Se
desejávamos nos anos 90 usar todas essas possibilidades tínhamos que percorrer
a cidade; não havia um local com todos os obstáculos reunidos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A principal praça do centro de Porto Alegre, a Praça da Matriz, tinha
uma escada, um banco e algumas paredes. Normalmente, acabávamos a seção do dia
nela, já que, como era no centro, havia ônibus que levavam para todos os
bairros da cidade. O Marinha também contava com uma pista <i style="mso-bidi-font-style: normal;">flat</i> de patins. Como o piso era liso, quando a turma dos patins não
estava a usando, nós praticávamos manobras de solo. No bairro Azenha havia um
terminal de ônibus com, também, chão liso e alguns degraus que permitiam certas
manobras, mas o mais importante é que era uma grande área coberta, então, íamos
para lá quando chovia. Os estacionamentos dos supermercados eram convidativos.
Dois supermercados reuniam muitos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">streeteiros:</i>
um Nacional no Menino Deus e o Dino Sul na Tristeza. Já que ao lado do Menino
Deus ficava a pista do Marinha, costumávamos peregrinar pelas ruas desse
bairro. O centro cultural Lupicínio Rodriguez, também, no Menino Deus contava
com longas escadarias que pulávamos. A calçada da rua Borges de Medeiros,
situada em uma lomba, permitia que a descemos em alta velocidade. O calçadão da
rua dos Andradas nos fins de semana era também muito convidativo. Além disso,
cidades próximas de Porto Alegre, como Canoas, Esteio, Novo Hamburgo,
apresentavam uma cena própria referente ao skate; eram locais de fácil acesso
já que o metro levava até elas rapidamente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Eu tinha catorze anos quando comecei a usar todos esses pontos da
cidade, tanto de dia quanto de noite. Para mim sempre foi seguro. Claro que a
turma era grande, e ninguém se metia com nós; porém, sempre voltava sozinho
para casa, pois era o único que morava na zona sul. Voltava de ônibus, de noite,
e isso era algo rotineiro. Muitas vezes chegava em casa à meia noite, quando o
dia estava com temperatura agradável e toda a turma estava reunida.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Uma crônica pessoal sobre skate<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Narro, em tom de crônica, como usávamos em um dia comum alguns espaços
referidos acima. Era um domingo de sol, mas não muito quente. Cheguei no meio
da tarde no Marinha; após o almoço, pois todos almoçavam em casa, já que
ninguém tinha dinheiro para comer na rua. Lá já estava toda a turma reunida.
Alguns andavam na pista, outras conversavam em grupo, outros fumavam maconha.
Eu tinha 14 anos, meus amigos eram um pouco mais velhos. Não éramos donos da
pista, mas éramos locais, bem aceitos e vistos. Eu já conseguia fazer algumas
manobras difíceis; mas não havia desejo de me tornar um grande skatista. Da
turma, uns três viraram esportistas que competiam. Mas parecia que todo mundo
só queria curtir o domingo, fazer as manobras, evoluir um pouco. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Descemos até a pista de patins; ela estava vazia. A pista assim era
nossa. O chão liso e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">flat</i> permitia
manobras de solo. Pegamos alguns engradados de madeira e colocamos no meio da
pista – era um obstáculo a ser pulado. <span style="color: red;">Fizemos uma
fila, cada um repetia por sua vez a mesma manobra, as vezes com variações.</span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ou seja, era algo livre, mas um pouco
metódico. A repetição nos treinos de outros esportes não diferia muito. <span style="color: red;">Também, no entorno da pista ficavam alguns bancos em cima de
um chão liso, o que permitia toda uma variação de manobras.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">As nossas roupas eram de marcas do esporte. Não eram grandes marcas,
mas sim, marcas pequenas, nacionais, boa parte criadas por skatistas. Como o
Marinha era um espaço livre, aberto, gratuito, o pessoal que o frequentava em
maior parte era de classe média baixa. Meus melhores amigos eram pobres, mas se
vestiam melhor do que eu, pois trabalhavam, como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">office boys</i> e estagiários. Não haviam garotas, nem que andavam, nem
que iam para lá nos ver andar, algo diferente dos dias de hoje. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Decidimos ir até um lugar que tinha uma escada e um corrimão, próximo
umas oito quadras do Marinha, na parte da frente do edifício de uma instituição
Estatal. O corrimão ladeava a escada de cinco degraus; a manobra consistia em
descer pelo corrimão do alto da escada. O grande perigo era de cair com as
pernas abertas em cima do corrimão. Mais uma hora treinando, talvez mais de uma
hora, porque o tempo não importava para nós, já que a prática era prazerosa.
Também, umas duas quadras em direção do centro, um outro prédio Estatal contava
com uma escadaria gigantesca que alguns de nós tinham coragem de pular. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Esses espaços que durante a semana contavam com fluxo contínuo de
pessoas, em nosso domingo estavam vazios. Não havia nem seguranças que nos
impedissem. Quando a gente cansava, sentava na calçada e fumava cigarros.
Éramos todos companheiros. Nos víamos mais no final de semana. Subimos em
direção à rua Borges de Medeiros. O comércio estava fechado. A Borges permitia
uma descida em alta velocidade e manobras de chão, slides. As manobras mais
clássicas. As quais eu apreendi a andar de skate. Slides é, a partir de uma boa
velocidade, deslizar com as rodas em um sentido de 90 graus, ou seja, o skate
fica de lado em vez de frente e desliza pelo solo. Mas também é possível
variações, como um deslize de 180 graus ficando de costas para a descida ou um
giro de 360<span style="color: red;">, ou mais, quantos giros se conseguir
fazer.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Depois fomos para a Matriz. Tinha mais gente. Alguns skatistas
melhores, mas nos misturávamos bem em todos os ambientes. A <i style="mso-bidi-font-style: normal;">trip</i> tinha começado no Marinha de tarde,
já era de noite no centro da cidade. Fiz uma manobra perigosa num banco e caí
em cima de uma mureta, de queixo na quina dela. Senti o impacto, me levantei e
percebi um corte imenso. Fiquei assustado pelo contínuo fluxo de sangue. Tirei
a camiseta para estancá-lo. Estava meio tonto, meus amigos falavam comigo, mas
eu não conseguia pensar direito. Peguei um táxi e fui para casa. Se eu tivesse
ido a um hospital teria feito inúmeros pontos. Meus pais não estavam em casa.
Meu irmão me fez um curativo. Naquela noite estava tendo uma festa na minha
vizinhança. Eu comecei a beber e esqueci do corte pelo efeito do álcool. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Dias depois, comecei a ficar com medo de fazer manobras em bancos,
algo comum, um trauma, que pode ocorrer após um acidente. Demorou um mês para
voltar à ativa. Hoje, vinte anos depois, tenho uma marca bem visível no rosto,
meu queixo tem uma deformidade devido ao corte não tratado. Uma das relações
principais do skate:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o chão e o corpo.
Não há como não se machucar no chão duro. Isso faz parte. Durante meu tempo
como skatista quebrei várias vezes o tornozelo direito; quebrei dois dedos do
pé, também direito, fazendo manobras sem tênis, e como não tratei, eles são
tortos; quebrei meu punho e fiz uma cirurgia dolorosa. O skate deixa o corpo
mais duro, menos sensível à dor. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Os bandos de skatistas <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Eu frequentava diversos grupos de skatistas. O meu grupo principal era
uma turma com rapazes de diversos bairros de Porto Alegre que iam,
principalmente, nos fins de semana no Marinha. Desse grupo, eu era o mais novo.
Andava com eles por afinidade e <span style="color: red;">porque</span> tinha uma
habilidade parecida. Havia outro grupo que era de meninos que moravam nas
proximidades do Marinha. Eram da minha idade. Eu andava com eles, me misturava
bem, mas eles não tinham o costume de sair do bairro e da pista. Também no
Marinha, mais dois grupos eram formados por rapazes mais velhos; um grupo era
de gente de classe média, outro, contava com um pessoal ligado a subculturas.
Alguns deles eram bem conhecidos no meio. Todos estes grupos interagiam. No
interior dos grupos ninguém os liderava. Os mais velhos, é claro, tinham mais
habilidade, mas era normal todos andarem juntos no Marinha e na Matriz sem
distinção. Posso falar que a relação entre todos era horizontal. Apenas uma
outra turma, de skatistas que participavam de campeonatos, que as vezes estavam
juntos de nós, quando eles andavam todos nós parávamos e ficávamos olhando.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">As pistas e a cidade <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A pista do Marinha era – é – um longo canal com formato de cobra, por
isso chamada de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">snake</i>. A pista tem
esse formato incomum. A cobra em ziguezague começa em uma parte alta e estreita
e termina em uma grande bacia. Porém, não há trajetos definidos a seguir:
pode-se ficar apenas na parte alta e fazer manobras de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">street</i>; pode-se usar certos locais como se fossem uma mini rampa;
pode-se descer a cobra usando todas as paredes. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">A pista do Marinha por sua natureza, diferente das pistas
mais usuais, pelo menos na minha época, não era capitalizada por campeonatos;
ou seja, era marginal dentro do circuito do skate na cidade. Quem lá andava não
se interessava pelo lado comercial do skate</span>. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Os tipos mais comuns de pistas no skate são a de vertical e a <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">de street.</span> Esta última é
uma imitação de elementos da cidade: corrimãos, escadas, trilhos, caixotes,
bancos, rampas. É uma imitação em um espaço restrito. A pista de vertical é
ainda mais restrita. Ela tem o formato de U, e suas paredes têm altura de mais
de três metros<span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">; nessa
pista se pratica a modalidade mais famosa do skate.</span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Bob Burnquist, entretanto, transcendeu o vertical e criou uma <i style="mso-bidi-font-style: normal;">mega rampa</i>, que consiste em uma rampa
inclinada de 8 andares na qual o skatista desce e após pula uma outra rampa sobre
um enorme vão. O pulo direciona a outra rampa a qual o skatista desce e então
sobe uma parede vertical e faz uma manobra final. A <i style="mso-bidi-font-style: normal;">mega rampa</i> é o extremo do skate como esporte radical; parecida com
o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">tow-in</i>, a modalidade mais perigosa
do surf, que consiste em surfar ondas gigantescas, às vezes, em tempestades em
alto mar. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">O vertical,
junto com a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">mega rampa</i>, são as
modalidades que mais geram lucro.</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Essas modalidades restritas a
espaços delimitados é que são as mais capitalizadas e publicizadas.</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> O <i style="mso-bidi-font-style: normal;">street</i>
de rua também pode ser capturado pelo mercado, o que é permitido pelo uso de
equipamentos de filmagem. Com esses equipamentos e ferramentas de divulgação em
vídeo como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">youtube</i>, seções de skate
na rua podem ser gravadas e apresentadas. Porém, normalmente, elas contam com
skatistas que correm campeonatos, ou seja, estão inseridos no mercado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">As modalidades de pistas mais comuns se parecem muito com os esportes
tradicionais. O futebol, o basquete, o vôlei, são praticados em espaços com
restrição de movimento: uma quadra, com uma trave, ou rede, ou cesta, que impõe
uma posição aos jogadores. Sabe-se o que vai acontecer na quadra. No skate de
pista acontece o mesmo. No skate de rua as manobras também são delimitadas,
dizem respeito ao estado atual de <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">manobras que são realizadas.</span> Cada espaço de tempo tem suas
manobras, que vão aos poucos evoluindo. A diferença do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">street</i> é que a cidade é um espaço imenso comparado a uma
quadra.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Para nós, não bastava a pista. Tínhamos a necessidade da cidade. Era
comum de irmos até a pista mais famosa do Rio Grande do Sul na época, para
andar nela; era em Novo Hamburgo. Porém, dedicávamos parte do dia para andar
pela cidade. O motivo óbvio deveria ser ir até a pista e passar o máximo de
tempo nela. Era a única do tipo próxima a Porto Alegre.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas não nos contentávamos com o espaço
fechado, tínhamos necessidade da rua, do ar livre. Nós inventávamos novos usos
para as ruas e seus elementos. Talvez fosse esse grau de invenção que nos
movia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">A cidade aberta e praticamente
impossível de reconhecer todos seus espaços tem algo de aventura.</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> O mais importante no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">street</i> na cidade é a liberdade que ele permite. Um skatista
paulistano famoso na cena oitentista, conhecido apenas como Glauco, chamava o
pessoal do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">street </i>de “vagabundos”,
pois andavam em qualquer lugar, a qualquer hora, sem pagar, e sem se importar
com o mercado, os patrocínios, os campeonatos. A casa do vagabundo é a cidade.
O local do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">streteiro</i> é a cidade. A
fama de vagabundos dos skatistas se deve, também, ao fato de que normalmente
não são bons alunos e curtem drogas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Estar nas ruas é não estar em casa submetido às regras paternas; é não
estar na sala de aula sob o olhar do professor; é não estar na quadra esportiva
sendo dirigido pelo treinador. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Estar nas ruas é estar livre, mesmo que exista a dor do lado negativo
como a possibilidade de sofrer repressão da polícia ou encarar a violência,
tanto de assaltantes, quanto de gangues.</span> Ninguém fuma maconha numa</span><span style="mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">skatepark
</span></i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">fechada,<i style="mso-bidi-font-style: normal;">
</i>que é um lugar regrado, para poucos, para os skatistas sérios. Muitos
destes se drogam, não são bons alunos, passam o dia andando de skate; mas
aqueles que estão nas ruas é que são os verdadeiros marginais.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A minha turma eu conheci na pista do Marinha, na rua. Eu comecei a
frequentar todos os fins de semana. Aos poucos, fui me aproximando do pessoal.
Eu apenas andava de skate com eles. Muitos eu sabia só o apelido. Não
frequentava a casa deles e eles não frequentavam a minha. Sabia pouco deles.
Mas andei com eles durante anos. Éramos amigos, confiávamos uns nos outros. Se
havia alguma briga, nós nos defendíamos juntos. Quando parei de andar por uns
anos, eu simplesmente me desliguei totalmente da turma. É comum o pai
perguntar: com quem você está andando? Se me perguntasse eu não saberia a
resposta. Havia ali um perigo, o perigo das ruas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Um filme sobre skatistas<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A questão do skate, da rua, da cidade, da marginalidade, do
companheirismo, das drogas, dos perigos é muito bem retratada por Larry Clark,
diretor estadunidense, no filme Kids, de 1994. O filme apresenta garotos e
garotas de classe média baixa. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">No filme eles não vão para escola, os pais praticamente não aparecem. A
maior parte das casas que eles frequentam não estão presentes os pais, então
podem fazer o que quiserem.</span> Eles frequentam uma praça. Lá se drogam e
andam de skate.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O filme é muito violento; há uma cena em que um dos personagens está
fazendo manobras de skate e tropeça em um rapaz negro. Este rapaz o encara e é
bem rude. Os dois começam a discutir. Então, um dos amigos do skatista agride o
outro rapaz pelas costas. Depois disso, toda a turma que está na praça fecha
uma roda e bate no rapaz. No fim, não se sabe se ele morreu o que seria bem
provável. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Em Kids a aventura perigosa é constante. Além das brigas, há a questão
da sexualidade no filme. Um dos rapazes que mais se interessa por sexo é
portador de HIV e não sabe. Ele transa com muitas meninas e tem um fetiche:
iniciar virgens. No filme, ele transa com duas virgens que possivelmente pegam
a doença. Sexo, violência, drogas, skate, juventude, descontrole. O descontrole
persegue essas experiências. Isso diz respeito a adolescência. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Por qual motivo tanto descontrole, tanta loucura, esse lado suicida,
que não acontece em casa, mas sim nas ruas? Talvez seja, pois ficaram mais de
uma década em casa, presos aos pais. É como se saíssem de uma prisão – a
infância – e então enfrentassem, por vontade própria, às ruas, esse espaço
cheio de prazeres e perigos – as ruas que são impedidas às crianças. E mais, o
descontrole não se refere apenas à fuga da infância, mas também, à consciência
de que a vida adulta está perto, outra prisão. A vida adulta do trabalho, do
casamento, dos filhos, da dita maturidade. É como se soubessem que serão presos
com data marcada e fizessem a festa antes de serem enclausurados. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Sem romantismo e idealização
quanto aos jovens, muitos deles, a maior parte vive numa prisão: do fascismo de
gangues, da mentalidade fechada e reacionária em relação a minorias, do
consumismo, de uma vida imposta desde cima. Mas mesmo os que estão presos,
experimentam a liberdade, aqui no caso a partir do skate de rua.</span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A maconha e a cidade<span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O uso da maconha é comum entre surfistas e skatistas. Entre os
surfistas porque tem uma relação com a natureza, é uma erva natural. Quanto aos
skatistas talvez eles tenham herdado do surf o uso da maconha. Não é incomum de
esportistas se drogarem, mas há uma visão de que eles são pessoas saudáveis e
que seria um contrassenso a adição a certos tipos de substâncias. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Uma aproximação importante entre o skate e a maconha é a relação com
os espaços dentro da cidade. A maconha se usa na rua, no caso dos adolescentes,
pela impossibilidade de se fumar em casa devido ao cheiro forte. Também, há a
necessidade de se ficar na rua um bom tempo depois de fumar, por causa do
cheiro impregnado no corpo e roupas. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Mas a rua não é uma questão secundária, o maconheiro escolhe certos
espaços que sejam seguros, que não tenham movimento de pessoas e nem
policiamento. Com esses lugares há toda uma afetividade envolvida, normalmente,
são lugares com um bom astral para se ficar chapado, que se deseja estar.</span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Os espaços usados pelos maconheiros nos anos 90 em Porto Alegre eram
inúmeros. Talvez o ponto mais famoso da cidade na época fosse o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">fumódromo</i> junto à Rua Oswaldo Aranha.
Era uma parte ampla de um parque, o Farroupilha, em que os frequentadores dos
bares da Rua se reuniam para fumar maconha. Lá tudo era escuro, facilmente se
via quem entrava no local e a polícia nunca dava batidas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Outros dois pontos eram a praia do </span><span style="background: red; mso-highlight: red;">Gasômetro e o Timbuka</span><span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">. Este um famoso bar na zona
sul, situado junto ao Rio, em um bairro de classe alta. Fazem alguns anos que o
bar fechou, mas nos anos 90 era um ponto essencial, que reunia uma multidão de
jovens que lá iam para fumar maconha e beber. Quanto à praia do centro cultural
Gasômetro, no fim da tarde ela ficava cheia de maconheiros que buscavam o
astral permitido pelo pôr do sol. Também, a praia de </span><span style="background: red; mso-highlight: red;">Ipanema </span><span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">nos anos noventa era um ponto agitado de noite. Na
areia, o pessoal se encontrava e fumava à vontade. Interessante que esses três
espaços – Gasômetro, Timbuka e a Praia de Ipanema – ficavam, como disse, junto
ao Rio Guaíba; um rio morto devido à poluição, mas que dava um ar, um algo de
natureza, essencial na <i style="mso-bidi-font-style: normal;">vibe</i> do
maconheiro.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Talvez a água lembre a
praia, o mar do surfista, o tipo de esportista mais propenso ao uso da maconha.</span>
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Outro tipo de espaço usado pelos maconheiros são as praças. As praças
do centro de Porto Alegre são os melhores lugares nessa região, pois elas têm
pouco fluxo de pessoas e sempre há algo de verde nas praças, como árvores e
canteiros, o que ajuda na <i style="mso-bidi-font-style: normal;">vibe</i>. No
centro é impossível fumar na rua, o espaço é a praça. As mais próximas de
cursinhos supletivos ou pré-vestibulares nos anos 90 eram as mais buscadas.
Eram seguras, não havia policiamento, mesmo que as turmas não fossem
silenciosas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Como disse, se busca um lugar que se tenha uma afetividade, que não
“corte o barato”. Isso é próximo do que acontece com os skatistas, que buscam
um lugar prazeroso, que se deseja estar. Espaços diferentes da sala de aula, da
sala da casa, do ônibus cheio, dos locais privatizados. A relação afetiva com a
cidade do maconheiro, portanto, é parecida com a <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">afecção do</span> skatista. E isso se mistura porque quem
anda de skate fuma maconha.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">O devir-nômade do skatista</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> <span style="color: red;">mas o nomadismo já é devir</span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Os skatistas não são nômades, obviamente, eles são sedentários, são
cidadãos, mas no ato de andar de skate eles experimentam algo que diz respeito
aos nômades, eles experimentam o nomadismo que resiste à forma dominante da
cidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Eles – os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">streeteiros</i> –
criam um mapa da cidade, que conecta pontos diversos, montam caminhos de
naturezas muito diferentes dos trajetos dos sedentários. Os caminhos dos
skatistas como os dos nômades se realizam sempre no meio, não há um início nem
um fim, pontos fixos. A cidade é um espaço estriado, tenta-se a controlar em
sua completude, mas nos usos do skate se cria um espaço liso. Ou seja, os
sedentários se desterritorializam na prática do skate e ao mesmo tempo
desterritorializam a cidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A rua, esse lugar opressivo, organizado, endurecido, estriado, se
torna outra coisa para o skatista, vira um lugar afetivo. Descer uma ladeira de
asfalto, uma longa rua, entre os carros, numa “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">vibe </i>meio suicida”. A calçada nas quais passam as pessoas
apressadas, cabisbaixas, se empurrando, pode ser um espaço para se passar a
tarde inteira fazendo manobras, o que dá um prazer enorme. Uma escada que mal é
percebida, um corrimão que nem é usado, uma parede que nem esteticamente se dá
valor, são ressignificados. Mesmo quanto ao piso, o skatista tem uma percepção
capilar, pois qualquer alteração facilita ou impede de andar. Quem caminha
pelos pisos notam-nos apenas se tiver uma mudança expressiva. Para o skatista é
extremamente prazeroso encontrar um bom piso, ou seja, uma afetividade com o
concreto, o asfalto. É estranho alguém dizer: “tenho um afeto quanto ao piso
dessa calçada”; mas não é estranho para o skatista.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O afeto é uma questão fundamental no skate; além dos espaços, há o
afeto dos companheiros; a liberdade em relação as disciplinas, de ser
vagabundo; o devir vagabundo. Isso é o uso diferencial, a ressignificação, a
potência do skate. Claro que qualquer sedentário faz suas linhas de fuga, tem
uma afetividade com pontos da cidade, faz seus mapas, mas para o skatista isso
é fundamental, é o que o move. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A cidade<span style="color: black;"> do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">street</i> é uma cidade em movimento, um mapa, que não é historicizada,
pois o skatista não deixa marcas, registros dos seus usos, que são devires,
acontecimentos. Se há uma história, ela é contada por alguns jornalistas ou
cineastas, como Larry Clark. Mas a historicização do skate é feita pelo seu
lado comercial; e como já afirmei: nosso estilo de vida não era para ser
capitalizado. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O skate de rua, que é uma forma de vida, não é capturado
como os grandes nomes do skate que desfilam nas revistas, nos campeonatos, que
fazem história. Sim, suas manobras são imitadas, e eles são sempre valorizados,
mas não queríamos ser eles, só fazer algumas manobras e curtir a cidade. Talvez
fosse mais uma tomada da cidade do que fazer skate, pelo nosso estilo de vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Há, portanto, o
skate que se historiciza e o skate em devir, imperceptível. Éramos
imperceptíveis para o mundo do skate capitalizado; imperceptíveis como quer
ficar o maconheiro, como quer ficar o adolescente em relação aos seus pais
sobre seus segredos. Não tínhamos obrigações com ninguém, apenas entre nós: ser
da turma. Não tínhamos horários, apenas momentos. Isso muito diferente das
obrigações de um skatista que corre campeonatos, que tem um patrocinador. </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Porém, o skatista patrocinado, mesmo profissional, curte também a
cidade, faz sua experimentação do <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">devir nômade.</span> Ele não anda de skate apenas como uma prática
capitalizada, anda também por prazer, como os vagabundos da rua. O skate nos 80
não dava dinheiro no Brasil, então havia uma confusão entre o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">skater</i> de rua e o atleta, uma mistura de
papéis; era uma fase romântica do skate, o skatista marginal e rebelde. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; tab-stops: 135.15pt; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; tab-stops: 135.15pt; text-align: justify; text-autospace: none;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Consideração finais <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; tab-stops: 135.15pt; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; tab-stops: 135.15pt; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O skate é
uma questão não apenas existencial dentro da cidade é também política,
biopolítica. <s>Este conceito diz respeito à riqueza da produção dos grupos e
sujeitos sujeitados. </s>Os favelados constroem a cidade; os negros, gays,
mulheres colorem o mundo apenas por serem quem são. Os skatistas vagabundos
inventam mapas dentro da cidade, são cartógrafos. A cidade não seria tão
colorida sem esses jovens sem muito na cabeça. Portanto, não há grandes
diferenças entre o skate, uma ocupação e uma manifestação, considerando a
ocupação e a manifestação como um fim em si mesmo, deixando de lado as demandas
que as acompanham. A manifestação, a ocupação e o skate de rua mudam a
estrutura urbana, criam um espaço não estriado; uma forma de resistência ao
modelo de cidade. Expus nesta parte um caso específico, localizado: minhas
turmas na década de 90 em Porto Alegre, as quais tinham como ponto em comum,
principal, o Parque Marinha do Brasil, núcleo dessa subcultura na época. Mas
tendo conhecimento da prática também por mídias diversas, como filmes de
ficção, documentários, revistas, sei que o uso da cidade por outros skatistas,
em regiões e épocas diferentes, é semelhante.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 30.0pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 30.0pt; text-align: center;">
<span style="mso-bookmark: _Toc444326693;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;">Trabalho de
Campo em Barcelona:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Okupas</span></b></span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Em 2014 ganhei financiamento para ir até Barcelona
para dar continuidade a minha pesquisa de doutorado. </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Exatamente, quando cheguei na
cidade, aconteceram lutas contra o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">desalojo</i>,
a mando da prefeitura, de um centro social okupado, Can Vies, localizado no
bairro Sants, em Barcelona. <span style="color: black;">As lutas nas ruas, as
manifestações em massa, o conflito com a polícia, ocorreram ao longo de uma
semana; tudo isso foi tão expressivo que a prefeitura teve que ceder, não
destruiu o espaço e permitiu que o coletivo continuasse sediado nele. </span>Isso
foi muito bem documentado pelos <span style="color: black;">meios de comunicação
dominantes da Espanha e por mídias de movimentos de resistência do país. A
partir daí, decidi ter o movimento okupa como objeto de pesquisa; fiquei os
seis meses seguintes fazendo uma etnografia, principalmente, dos espaços ocupados
por coletivos libertários.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: yellow; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-highlight: yellow;">Can Vies,
já em maio de 2014, começou a ser reconstruída, pois parte do prédio foi
destruído quando a polícia tentou desalojar o coletivo.</span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> A reconstrução, feita
pelas próprias mãos dos membros do coletivo, era financiada por quase 100 mil
euros arrecadados partir de doações. Mesmo sendo reconstruída, Can Vies
continuou já em junho a abrigar atividades como festas e assembleias. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O movimento okupa europeu dura décadas. As
okupas se situam em prédios antes abandonados. Coletivos tomam prédios e a
partir daí os tornam espaços auto gestionados. As okupas são usadas como
moradias ou para fins políticos, ou têm essa dupla função. Na Espanha são mais
comuns okupas que se dedicam a ser locais de política minoritária. Em Barcelona,
elas são aparelhos centrais para os bairros e vizinhos e uma forma de
resistência frente ao modelo de cidade imposto pelo governo e por corporações. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">As okupas em Barcelona, a
maioria, tem uma vida breve. Um local abandonado é escolhido previamente, por um
coletivo, o coletivo o okupa. Nesse momento, pode haver denúncias e o coletivo
pode ser retirado do local. Senão, o coletivo começa a dar vida ao espaço.
Mesmo assim, o perigo do desalojo sempre persegue a okupa. Porém, como o
movimento é grande na cidade, e os muitos coletivos são irmanados, em muitos
casos há uma pressão social, que pode impedir o desalojo, como o que aconteceu
com Can Vies.</span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Okupar um espaço ilegalmente, a auto
marginalização de coletivos, se refere a uma questão ética: por as dinâmicas da
cidade, o espaço do controle, nas mãos da população.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ninguém vira dono do espaço, o coletivo
apenas o gestiona criando eventos para os vizinhos. E mais, os coletivos sempre
estão em movimentos, as pessoas circulam e sempre há uam abertura para novos
membros. Ninguém diz: esta é minha okupa. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Ou seja, são ladrões e sua ética é não capitalizar o
espaço, torna-lo privado.</span> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A internet, o compartilhamento de informações é
isso também: se baixa de tudo que foi passado para o digital: livros, álbuns,
filmes, softwares, jogos, o que for. O roubo é a lógica da cultura da rede. se
rouba na internet para enriquecer a multidão; o capitalista rouba para si. E
quem é afetado pelo rouba cibernético é exatamente o capitalista. Ninguém sai
por aí dizendo: quer ver minha coleção de arquivos baixados na internet.
Antigamente se ia nas casas para ver a coleção de livros, filmes, e discos. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Como vai ser visto no final
desse capitulo, um senhor morador de bairro, diz que acha feio o que os ocupas
fazem: eles não compram um espaço, não contratam ninguém para construir
reformar um espaço. Os okupas acham feio, terrível, uma conduta inaceitável ser
como esse senhor; alguém impregnado pela logica do capitalismo.</span> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Quanto à minha experiência pessoal em Barcelona:
as <i style="mso-bidi-font-style: normal;">okupações</i> na cidade em sua maior
parte são dispositivos políticos. Pessoas tomam prédios vazios em seus próprios
bairros e os tornam um aparelho para suas regiões. As okupas são interligadas,
irmanadas e formam um movimento. Também há um diálogo e trocas com movimentos
de outras cidades do país. A maioria tem canais de internet no Facebook e
Twitter e usam blogs.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">As duas okupas mais antigas na cidade ainda
ativas são: a Kasa de la Muntanya <i style="mso-bidi-font-style: normal;">okupada</i>
em 1989, situada no distrito de Gràcia, e reúne um dos coletivos anarquistas
mais puristas da cidade; e Can Vies, existente desde 1997. Os bairros e
distritos de muitas okupas são residenciais, não marginalizados, como Eixample
esquerdo e direito, Sants e Gràcia. Na cidade, surgiu um movimento dentro do
movimento: os Bancs Expropriats. Estes eram sediados, normalmente, na parte
baixa de prédios, onde, anteriormente, abrigavam agências bancárias, entre
eles: o Banc Expropriat, </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Casal
Três Lliris e La Porka. Os dois primeiros se situam em Gràcia e estão em
processo de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">desalojo</i> desde 2014.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Há uma divisão entre os vizinhos no <span style="color: black;">que
diz respeito a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">okupar</i>, alguns apoiam,
outros criticam. O movimento produz manifestações, festas, ações políticas e os
eventos de gerenciamento do espaço. </span>A idade média dos ocupantes gira em
torno de 20 e 30 anos. Dialogam com as mídias. Lutam contra <span style="color: black;">o modelo Barcelona, uma marca importante no cenário
mundial. As okupas abrigam coletivos que gestionam o espaço ou coletivos que
não têm local para se expressarem. Elas se expandem em eventos que reúnem
muitas pessoas. Se em Can Vies o coletivo da assembleia geral tem
aproximadamente 40 pessoas, em suas festas podem atrair um número dez vezes
maior.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Como fiquei seis meses em Barcelona, portanto, o trabalho
etnográfico foi relativamente curto, o que não me permitiu entrar totalmente na
rotina das okupas. Penso que precisaria de mais tempo para me envolver com mais
proximidade com o movimento na cidade. <span style="background: yellow; color: red; mso-highlight: yellow;">Também, eu nunca havia trabalhado com etnografia em
minhas pesquisas; isso eu aprendi na prática nesse tempo que fiquei na cidade.
E se isso é uma etnografia, ou uma cartografia, que precede a etnografia, eu
não sei. Descobri a cidade aos poucos, fui me afundando na Barcelona não
consumível. Me ajudou o fato de já ter ficado um tempo em Barcelona como
turista. Em 2011 fui para a cidade para conhecer a rica Barcelona e a
conheci.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: yellow; color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-highlight: yellow;">Uma grande
diferença dessa parte é que o caderno de notas foi rigoroso acompanhando dias,
todos os dias e eventos. Na parte da sacada acontece algo parecido, mas mais
solto e livre, já que essa parte era para ser exposta em uma tese. Havia um
compromisso duro, pesado em minhas costas. Decidi por no livro já que se centra
em projetos contra o controle urbano. Também já que minha banca me expos que
essa parte era uma parte isolada da tese. E se estava isolada, penso que aqui é
mais própria de usa-la. É a parte final da tese e me impulsionou a focar no
tema cidade nesse livro. Me foi dito na banca que deveria partir para a
etnografia, que seria um bom caminho.</span><span style="color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> </span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Neguei-me a fazer formulários, dispensei uma relação
burocrática com os membros dos coletivos; participei, não ativamente, de uma
comissão de <span style="background: red; mso-highlight: red;">Can Vies;</span> fiz
algumas entrevistas formais e conversei com o máximo possível de pessoas. O que
mais fiz foi estar presente, percebendo, aos poucos, o que estava ocorrendo.
Quando conseguia uma conversa com alguém, isso era muito importante. Lutei para
obter entrevistas. O que eu mais gostei nelas, não foi a profundidade, mas,
sim, o contato mais próximo com pessoas durante um bom tempo.<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>Sempre considerei mais importante
estar presente, sem usar da parafernália metodológica dura, ver e ouvir as
pessoas e também conversar com elas. Queria vivenciar os espaços, me perder
neles. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-highlight: yellow;">Como já tinha, anteriormente,
conhecimento de boa parte de Barcelona, já que fiquei um mês na cidade em 2011.
Nessa época, fui a lugares de madrugada de táxi que nem sabia onde ficavam.
Frequentei bares de música alternativa, ou seja, que atraem pessoas visualmente
estranhas. Nunca me senti intimidado.</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> Também gostava, em 2011, de caminhar de madrugada pelo
bairro em que morava. Depois das duas da manhã, não havia ninguém nas ruas.
Ainda assim, nunca senti medo. Passei várias vezes pelo local de prostituição
no bairro Raval. Fui abordado inúmeras vezes por traficantes. Eu não gostava da
situação, pois ficava preocupado com o fato de algum policial me ver falando
com traficantes, mas nunca tive medo deles. Também estive em manifestações em
Barcelona em 2011 e Porto Alegre, manifestações com forte aparato policial. Em
uma manifestação na Praça Catalunya, em 2011, eu não estava portando nem o
passaporte, e nesse dia, eu estava a poucos metros de jovens sendo detidos pela
polícia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">No início da minha estadia em 2014, fui sozinho até o prédio
de Can Vies; estava na frente de Can Vies, em uma rua com pouquíssimo fluxo de
gente, na frente do símbolo mais importante de luta da cidade nos últimos
tempos. Estava apreensivo por dois fatores: uma abordagem policial e um
encontro com pessoas da okupa, possíveis revolucionários. A apreensão se devia
por dois discursos: o discurso das mídias sobre manifestantes e okupas e o
discurso dos movimentos que expõe a violência e o poder quase absoluto da
polícia. As manifestações haviam acabado há algumas semanas, mas eu não sabia
realmente o que estava acontecendo naquele momento. <span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Pensando agora sobre o medo, pela minha experiência com a
cidade, como comentei anteriormente, por percorrê-la livremente, por ser de
tarde de um dia de semana, não havia com o que me preocupar. A apreensão
exagerada se deveu, provavelmente, às imagens e notícias da mídia. Se não fosse
um pesquisador, se não estivesse muito interessado na <i style="mso-bidi-font-style: normal;">okupação</i>, teria virado as costas e não teria voltado. Ou seja, a
política do medo, gerada pela mídia e pelo governo, funciona muito bem. Penso
que deve haver muitas pessoas que desejam conhecer Can Vies, mas que, devido a
essa política, evitam de ir até o local. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-highlight: yellow;">A base desse capítulo</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> se refere ao meu caderno de notas,
que fui acumulando ao longo do tempo. Cada encontro rendeu algumas páginas.
Além disso, tirei muitas fotos, o que foi fundamental para pensar na estética,
mas também para relembrar encontros. Quando voltei para o Brasil, revi tudo
isso e percebi, após pensar muito sobre o movimento okupa em Barcelona, alguns
tópicos importantes. Recortei e reescrevi o caderno originando este texto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-highlight: yellow;">O capítulo está
organizado da seguinte forma: primeiro, apresento okupas com as quais convivi
em Barcelona, de forma geral; depois, o divido em temas: estética, festas,
acampada e o trabalho político nas comissões e assembleias. A estética trata do
meu impacto visual ao ver as okupas pela primeira vez. Esta estética, para mim,
é uma das formas de resistência das okupas a partir da pobreza. As festas e
assembleias são as duas atividades mais frequentes nas okupas e mesclam
política e reprodução, ou seja, misturam códigos. A acampada é um método típico
dos movimentos de resistência; nessa parte, narro minha experiência em uma
acampada realizada por um espaço autogestionado, o Casal Tres Lliris. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-highlight: yellow;">As okupas que trato
ao longo do capítulo são: Can Vies, centro da pesquisa; Casal Tres Lliris, a
segunda okupa mais importante no trabalho; Banc Expropriat; alguns espaços
urbanos usados por coletivos de Vallcarca. Narro, ainda, o contato com algumas
outras okupas, mas de maneira breve.</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326694"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;">Okupas
escolhidas</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Não tive como intenção visitar e pesquisar todas as okupas
da cidade. Evidentemente, tive um desejo de conhecer o máximo possível, mas
decidi escolher algumas a partir de certos motivos e direcionamentos da
pesquisa. As okupas que têm perfil no Facebook ou blogs na internet permitiram
que eu soubesse de suas ações, principalmente de seus eventos. Também, um
informativo, Info Usurpa, que tem edição semanal, apresenta eventos de okupas
diversas em Barcelona. Mas há muitas okupas e eventos que não são expostos pelo
Info Usurpa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">As okupas que estivessem em um local de fácil acesso e
seguro me deixavam menos apreensivo de visitá-las. Isso não impediu nem
restringiu o contato com os espaços, uma vez que existem inúmeras okupas que
estão situadas em áreas residenciais, de bairros tradicionais de Barcelona.
Facilitou – e muito – a localização do Casal Três Lliris e das festas
libertárias que aconteceram no bairro Gràcia, pois morei nele.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Em Can Vies, mesmo estando em um bairro mais distante, me
programei para participar de todos os eventos e assembleias que ocorressem no
local, tendo em vista que Can Vies é um símbolo atual da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">okupação</i> em Barcelona e em toda a Espanha. Além disso, os espaços
apropriados de Vallcarca produziram suas festas libertárias e alternativas.
Vallcarca faz parte do distrito de Gràcia, e isso ajudou para que eu estivesse
presente nos eventos. Outros espaços, frequentei apenas a partir de certos
eventos que me interessaram, como o La Rampa, Espai Germanetes e Can Batlló. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Friso que não frequentei as festas alternativas de Grácia,
uma delas feita pelo Casal Tres Lliris, e as festas de Vallcarca somente por
estarem próximas de onde morava, mas por, conjuntamente, as festas Libertarias
de Sants – esta também produzida pelo coletivo de Can Vies – serem as mais
importantes festas ligadas ao movimento de resistência na cidade. E as festas
são centrais para o movimento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 24.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 24.0pt;">
<span style="mso-bookmark: _Toc444326695;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Plano geral</span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Há uma forte identidade de bairro em Barcelona. Okupas
servem como espaço para as pessoas e coletivos do bairro. Talvez isso se deva à
própria estrutura da cidade. Em Barcelona, muito gira em torno do bairro.
Pessoas, às vezes, nem frequentam o centro da cidade, dominado por turistas. A
cidade para o turista não é a cidade das <i style="mso-bidi-font-style: normal;">okupações</i>.
Os turistas ficam alguns dias, frequentam os lugares mais famosos, a rica
Barcelona.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: yellow; color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-highlight: yellow;">Comparando
Barcelona com Porto Alegre as dinâmicas das duas cidades são muito diferentes.
Em Porto Alegre os bairros não significam muito para os seus moradores. As
praças tão importantes para os bairros em Barcelona em Porto Alegre funcionam
de outra forma. Nos bairros que convivi, em Barcelona, as praças reúnem bons
cidadãos ou turistas, ou ambos; dependendo do bairro, se nos bares das praças o
que é vendido é caro, elas acabam sendo tomadas por turistas. Nas praças em
Porto Alegre não há comércio, porém, boa parte delas tem quadras e equipamentos
esportivos. Muitas delas reúnem sim, moradores do entorno como, senhores e
senhoras, crianças, famílias. A primeira diferença entre as praças de porto
alegre e as de Barcelona se refere a capitalização e ao turismo. A segunda
diferença, é que em porto alegre muitas praças reúnem uma massa de desocupados,
desempregados que ali passam o tempo. É muito comum que os sujeitos dessas
massas sejam usuários, principalmente, de maconha. Comum também sujeitos,
trabalhadores, irem até as praças de tarde em horário de folga com seus carros
para fumar maconha. </span><span style="background: lime; color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-highlight: lime;">Como já disse no capitulo sobre
skate </span><span style="background: yellow; color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-highlight: yellow;">sempre frequentei praças em porto alegre para fumar ou praticar
street. Voltei muito tempo depois a frequenta-las porque comecei a praticar
basquete, e muitas praças na cidade tem quadras do tipo. E nelas percebi essa
miscelânea de personagens: o desempregado, o maconheiro, o traficante, a turma
de jovens, o morador de rua, os namorados.</span><span style="color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Em porto
alegre há em certas áreas grandes parques que são frequentados por pessoas de
bairros diferentes. Na Cidade Baixa há, me parece, um movimento vicinal; eles
conseguiram impedir a movimentação – que chamam de baderna – constante de
jovens em certos pontos do bairro. Mas o bairro por sua localização e infra
estrutura é para os moradores da cidade e das cidades próximas. A zona sul de
porto alegre é considerada como um objeto de valor, um “bom local” para se
morar, morar nessa zona é um tipo de estatus. Porém, eu morei por uma década na
Zona Sul, a frequento e não me parece que haja algum tipo de mobilização
vicinal para controlar o bairro. A luta em Barcelona é contra os turistas, em
porto alegre é contra os pobres, os jovens e os marginais. A partir da copa a
cidade ganhou muitos atrativos, ficou mais turística; quanto a isso houve
muitas manifestações contrárias, mas provavelmente é desejo da maioria tornar
uma cidade do sul do brasil em uma cidade turística. Como se a europa, o
simulacro da europa, fosse o caminho do progresso brasileiro. Não tenho dados
sobre isso: mas faz parte do discurso corrente, a europa como destino. Porém, o
que está mais evidente é que o brasil vai continuar brasil, o que sempre foi um
país pobre; só que na logica da globalização muitos países que foram de certa
forma ricos agora vao se tornar brasil também. A europa era o destino do
progresso, o brasil é o destino da crise ocidental.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Os moradores da região do Gràcia reclamam de que ela está se
tornando um lugar privado, para turistas. Suas inúmeras praças são rodeadas por
bares, com os mesmos preços do Centro. As <i style="mso-bidi-font-style: normal;">terrazas</i>
dos bares ocupam a maior parte das praças. Existem alguns poucos bancos
públicos para as pessoas que não querem gastar dinheiro nos espaços privados. A
praça mais frequentada por jovens tem poucos bancos públicos, a maioria é de
bancos dos bares, mas os jovens compram comidas e cervejas em lugares mais
baratos e consomem no chão mesmo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Por isso, por essa privatização dos espaços, os movimentos
do Gràcia também tomam as praças. Com frequência, a praça próxima do Banc
Expropriat é <i style="mso-bidi-font-style: normal;">okupada</i> pelo coletivo.
Nela, há um quiosque que fica aberto em momentos festivos. Este quiosque é
curioso, é parecido com uma banca de revista, mas é um espaço liberado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Algumas okupas têm, ainda, uma questão simbólica: muitas
delas eram antigas agências de bancos que estavam desativadas pela crise
espanhola; entre elas: o Banc Expropriat, o Casal Tres Lliris e, também, o La
Porka, que se situa em uma região próxima de Can Vies. Assim, os okupas
produzem sua resistência simbólica: o que era um banco agora é um espaço de
resistência ao capitalismo; ressignificam o espaço, agora de todos, não um
ponto de opressão.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Há uma regularidade de atividades nas okupas: oficinas
variadas, de danças, de instrumentos musicais, de gastronomia, esportes,
línguas; festas com comidas e bebidas de baixo custo; mostras de filmes e peças
de teatro; palestras. Semanalmente, acontecem os eventos de gestão dos espaços,
como assembleias e encontros de comissões. Algumas okupas ainda agregam outro
elemento: a moradia, o que acontecia com Can Vies e ocorre com a Kasa de la
Muntanya. Esta última localizada junto ao Parc Guell é mais hermética, não é
aberta à visitação, apesar de fazer alguns eventos públicos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326696"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;">A
ANTIESTÉTICA</span></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A antiestética é algo predominante em todas as okupas que
conheci em Barcelona. As okupas têm um tipo de estética primeiro, devido ao
fato de que elas se atualizam em prédios antes abandonados. Os okupas não se preocupam
em impor ao espaço uma estética normatizada. É comum escombros no interior, a
fachada desgastada, o teto sem forro e parece que não há a intenção de
arrumá-los, provavelmente porque isso envolveria dinheiro. O tratamento
estético, produzido pelos okupas, é visto principalmente nos grafites e nos
cartazes, muitas vezes abundantes. Essa antiestética resiste à estética que diz
respeito ao modelo dominante de cidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">As okupas não parecem uma casa, um clube recreativo nem uma
casa noturna, mas são espaços de ócio, reprodução, convívio. Em casas noturnas,
clubes e residências não são colados nas paredes cartazes sobre eventos de
resistência. Sedes de sindicatos e partidos podem ter seus cartazes com
palavras de ordem, mas neles o símbolo okupa não está em todo o lugar. As
okupas têm forma e conteúdo libertários. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Uma das críticas às okupas se refere à insalubridade dos
espaços. Em muitos espaços que conheci, era comum haver móveis usados e
envelhecidos e um pouco de bagunça. Além disso, sentia a presença de poeira,
que, possivelmente, era derivada das paredes e dos pisos desgastados. Porém, as
okupas sempre estavam limpas, sem odores. Em Can Vies, a poeira era algo comum
em virtude da reconstrução. A poeira que notei era parecida com a das praças.
Na acampada do Casal, muitos jovens andavam pela praça, descalços, ou seja, era
comum pó em seus pés. A praça era limpa, mas havia essa poeira. A poeira das
okupas as aproxima das ruas, das praças, dos locais urbanos abertos, tão
importantes para os coletivos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-highlight: yellow;">A riqueza estética e
a outra estética podiam ser contempladas nos dias das festas do Gràcia,
realizadas anualmente, e organizadas por vizinhos da região. As ruas pareciam
galerias de arte a céu aberto; estavam repletas de turistas, famílias tirando
fotos e circulando pelo lugar. Os locais das festas alternativas às festas
oficiais, realizadas por coletivos libertários, eram diferentes.</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> Também havia bares, mesas para
almoços comunitários, mas o que diferia além dos eventos eram os muitos
cartazes com a temática de resistência e okupa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">De todas as okupas, a mais estilizada é a de Can Vies, e, ao
mesmo tempo, está semidestruída. O prédio todo e as paredes da rua em que está
situado são pintados com belos grafites. Outro espaço que, esteticamente, é
parecido com Can Vies é Vallcarca, pois parte do bairro está destruída devido à
especulação, porém os vizinhos o estilizam com grafites. Em Vallcarca, em dias
de festividade de coletivos que tentam retomar o bairro, alguns jovens
grafiteiros pintavam as paredes de um espaço aberto, a área em que um dia
abrigou um prédio. Os casos de Vallcarca e de Can Vies são distintos, mas o
modelo de cidade, o poder político e a especulação imobiliária, por um lado, e
a criatividade dos coletivos, por outro, os tornaram esteticamente
parecidos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Outro espaço, o centro social La Rampa, localizado em bairro
residencial, está sediado em um prédio que parece uma garagem subterrânea de
três andares. São espaços distintos, acessados por rampas. No evento em que
compareci, tudo era muito escuro e o espaço estava todo estilizado. Portanto,
não há um modelo de prédio a ser <i style="mso-bidi-font-style: normal;">okupado</i>.
Pode ser a parte de baixo de um prédio comercial – Banc Expropriat, Casal Tres
Lliris, La Porka –, um prédio inteiro – como em Can Vies –, uma construção do
governo – Kasa de la Muntanya – ou uma garagem subterrânea. O necessário é o
espaço com um mínimo de infraestrutura; sua <i style="mso-bidi-font-style: normal;">okupação</i>,
uso, gestão ficam a cargo da criatividade dos okupas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-highlight: yellow;">Existe, ainda, a
estética das manifestações. Pela reunião de pessoas nas ruas, já modificam o
ambiente urbano. Estive em uma na qual o objetivo era fazer um gigantesco
símbolo, um “A” de anarquismo, na rua. Em outra manifestação, um grupo grande
de pessoas carregava velas. Em outra, no final dela, notei que muitas paredes
estavam cheias de cartazes e flyers postos pelos participantes.</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> Além disso, muitos prédios em
Barcelona apresentavam o símbolo okupa pichado. Por tudo isso, por essa
construção de formas de vida no tecido urbano, que envolve prédios, praças,
ruas, pessoas, o movimento okupa é afirmativo, permite novos signos. A estética
okupa não é para embelezar, é para produção de diferença, da outra cidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Nas próximas linhas, detalho a estética de algumas okupas de
Barcelona. Apresento meu olhar inicial, minhas primeiras impressões com os
espaços. As okupas escolhidas foram as que mais me marcaram no início da
pesquisa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326697"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;">ESTÉTICA DO
Banc Expropriat</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Como havia referido, nunca estivera em uma okupa antes de ir
para Barcelona. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Conheci
antes ocupações de espaço urbano em Porto Alegre e Barcelona. Porém, eram em
locais abertos, com fluxo de pessoas.</span> Conhecia um pouco sobre okupações,
mas era um conhecimento calcado no senso comum. Sabia que as pessoas que
participavam eram antissistema, que o espaço físico poderia ser insalubre. Além
disso, quanto a Can Vies, sabia que ela havia sido centro de batalha durante
uma semana em Barcelona.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-highlight: yellow;">Se em porto alegre eu
não havia ainda visitado as okupas isso se deve pois não as tinhas como tema.
Sempre tento contatos mas eles são negados, como já disse no livro. Ocupa
fabico...</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Meu primeiro contato visual com uma okupa foi com o Banc
Expropriat. Estava caminhando pelo Gràcia, em uma rua movimentada, a principal
do bairro. Notei um prédio, em uma esquina, com a fachada repleta de cartazes e
faixas. Estava fechado, era no meio da tarde. Percebi um mural com agenda de
atividades, uma bandeira de Can Vies e um cartaz do Info Usurpa. A fachada, em
boa parte, era de vidro, mas não dava para ver o interior porque estava repleta
de cartazes. Observei apenas uma arara com roupas. O nome da okupa estava
escrito acima da porta de entrada, em uma placa de madeira. Parecia ter sido
escrito a mão. Também, a agenda semanal do espaço estava exposta em um cartaz
de papel e escrita a mão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Decidi voltar no mesmo dia no horário de abertura que estava
marcado na agenda, às seis horas. Nesse horário, a porta estava aberta. Fiquei
um tempo do lado de fora criando coragem para entrar. Estava com medo pelas
histórias que havia lido sobre as okupas, mas, principalmente, por ser um
ambiente desconhecido para mim. Entrei e, internamente, percebi ser tão
diferente quanto à fachada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Era um espaço amplo, talvez com quatro peças. Havia algo
como uma sala com sofás gastos. No fundo da sala, uma mesa de madeira. Além
disso, havia uma mesa com um computador. Na entrada, estava o varal com roupas.
Uns dez jovens estavam ali dentro, os quais, provavelmente, eram okupas, mas
junto do varal notei um grupo de senhoras manuseando as roupas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Abordei um dos rapazes, expliquei minha situação. Ele disse
que eu não poderia visualizar as assembleias do Banc, pois não os agradavam
pesquisadores. Comentou comigo que no varal estavam roupas doadas, as quais
eram expostas e que os vizinhos podiam pegar para usar. Afirmou, ainda, que ali
era realizada uma rede de alimentos. Eles buscavam alimentos nos mercados e,
depois, dividiam entre si. O local era limpo, mas o desgaste dos móveis e das
paredes lhe dava um aspecto não muito convidativo. Quanto às pessoas, seu
visual não me chamou a atenção. Eram jovens de aproximadamente 30 anos, de
camiseta, bermuda, ou garotas de saia e sandálias. Usavam roupas comuns para o
verão, não ostentavam grifes, e também não tinham a estética antissistema mais
espetacularizada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Senti-me frustrado, pois o meu primeiro contato havia sido
negativo. Pela conversa, eu não poderia fazer minha pesquisa no espaço.
Disseram que seria incômodo abrir a okupa para pesquisadores. Depois disso,
insisti mais algumas vezes para assistir às assembleias. Sabia que estava
incomodando, isso me foi dito. No entanto, sempre passava na frente do Banc.
Participei também de atividades que eles organizaram a céu aberto. Encontrei
membros do Banc no Casal e sempre tentava um diálogo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Em um desses dias em que passei no Banc, notei dois jovens
trabalhando na frente da okupa. Um deles estava montando algo de madeira na
calçada. Achei estranho, já que, quando passava antes da abertura do espaço,
nunca havia ninguém. O Banc só abria a partir das seis horas da tarde. Fui
almoçar e, uma hora depois, passei na frente de novo, e o jovem continuava
fazendo a mesma coisa: ele havia construído um banco para sentar e estava
pintando-o. Queria falar com ele, no entanto ele estava compenetrado no
trabalho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Passei novamente uma hora depois, e ele ainda estava
pintando o banco. Decidi abordá-lo, haja vista que ele não me conhecia,
portanto, eu não estava insistindo em uma conversa indesejada, como acontecera
antes. Ele disse que era um banco para as pessoas sentarem. Todo o banco estava
estilizado. O jovem sozinho demorou a tarde toda para fazê-lo. Ele estava todo
suado, o trabalho fora cansativo. Ele havia preso o banco por correntes a um
equipamento que estava na calçada. Ele me disse que a polícia passara por ali e
dissera que não era permitido modificar dessa forma o espaço urbano. Dias
depois, o banco foi retirado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Essa é uma história de um ato muito singelo, pequeno, porém
que mostra a atuação dos okupas na cidade. O banco estava na rua, o espaço da
okupa havia sido ampliado. O banco representava o que representa as okupas, um
espaço para os vizinhos; no caso, um espaço para sentar. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">O feitio do banco contrasta com
a reconstrução de Can Vies, feita por muitas mãos, com uma grande soma de
dinheiro, mas ambos são símbolos, elementos da <span style="color: red;">cidade
molecular, </span>do <span style="color: red;">cano da cidade molar vazado.</span></span><span style="color: red;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: "Cambria",serif; font-size: 11.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;"><br clear="all" style="mso-special-character: line-break; page-break-before: always;" />
</span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326698"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;">ESTÉTICA DE Can vies</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>- <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">ve se na
introduçao esta detalhado a destruiçao do predio e as lutas, ver se casa com
essa parte</span> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Não conseguia encontrar informações sobre as atividades de
Can Vies na web. Decidi ir no local em um dia da semana de tarde. O local era
em um bairro que eu não conhecia, Sants. Cheguei no bairro, e ele era bem
comum, mais um bairro tradicional de Barcelona, como o Gràcia. Perguntei para
uma pessoa na rua onde ficava Can Vies. Ela me apontou a direção e disse que
era próximo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Eu me encontrava nessa parte tumultuada, com carros e
pedestres, e o caminho para Can Vies era em uma descida sem movimento. Isso me
amedrontou um pouco. Logo avistei a okupa. Havia visto fotos, mas foi
impactante. Essa descida era de aproximadamente cem metros, e a okupa ficava na
parte de baixo. Esses cem metros da parte alta até a descida eram ladeados por
um enorme muro cheio de grafites e pichações. Desci até a okupa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O prédio estava destruído em sua fachada, como já sabia.
Havia esse prédio de uns três andares, todo pintado com imagens e com uma cor
bonita, viva. A parte da frente, que fora destruída, agora era um quintal com
chão de pedra. A okupa estava fechada por uma grade de arame. Na parte de cima
da frente do prédio, havia um mural gigantesco escrito: poder popular. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Se me impressionei com a estética do Banc, obviamente,
fiquei perplexo com a estética de Can Vies. Era o registro físico de uma
batalha, um local que parecia um campo de guerra recente. Posso falar em uma
estética pobre no Banc Expropriat, também por sua simplicidade, mas, no caso de
Can Vies, a estética difere totalmente da dominante urbana. Tem elementos da
estética okupa, mas a fachada destruída aponta para uma estética da guerra, da
violência, um registro de luta.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Manter as marcas da batalha contra a polícia e a prefeitura
é algo importante. Deixar a história registrada no espaço físico em sua
estética. Os escombros como memória da perda da prefeitura, como vitória do
coletivo. As okupas buscam outra política, outras relações, outras produções e
também outra estética. Assim, dá para perceber que buscam outra vida, muito
diferente da vida cotidiana dominante.<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: "Cambria",serif; font-size: 11.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;"><br clear="all" style="mso-special-character: line-break; page-break-before: always;" />
</span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326699"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;">ESTÉTICA DO Casal Tres Lliris</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Tomei conhecimento da existência do Casal ao acaso.
Caminhava pelo Gràcia, sem nenhum grande motivo, e vi a parte de baixo de um
prédio repleta de cartazes. Estes apresentavam eventos relacionados a
movimentos antissistema. Notei também um cartaz em vermelho e preto, escrito
Casal Popular Tres Lliris, e o símbolo do movimento okupa. Além disso, um mural
mostrava atividades que seriam realizadas no local. Na fachada, havia uma porta
de ferro e vidro e uma vitrine. A porta estava trancada por um grande cadeado.
Tentei olhar para dentro do espaço, porém estava escuro.<s><o:p></o:p></s></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Nessa primeira apreensão, suspeitei que fosse uma okupa.
Depois, em casa, busquei informações no Facebook e encontrei o perfil do Casal.
A rua em que fica o Casal é muito movimentada, com fluxo de pedestres e muitos
prédios comerciais. É a segunda rua mais importante do bairro. A <i style="mso-bidi-font-style: normal;">okupação</i> fica na parte de baixo de um
prédio pequeno. O interessante é que, em pouco tempo de pesquisa sobre okupas,
eu já estava familiarizado o suficiente para saber que era uma <i style="mso-bidi-font-style: normal;">okupação</i>. Até o momento só conhecia
pessoalmente Can Vies e o Banc. Ajudou, pois a fachada do Banc era um pouco
parecida com a do Casal, uma vez que ambas as okupas eram situadas em antigas
agências bancárias, como expus anteriormente.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Portanto, há uma estética okupa, facilmente reconhecível,
pois foge da estética comum do espaço urbano. Nas fachadas do Banc e do Casal,
não notei uma preocupação em compor um estilo. A fachada funcionava mais como
um ponto de informação, diferentemente de Can Vies, que é toda adornada com
pinturas. Can Vies existe desde 1997; o Banc, desde 2011, e o Casal, desde
2014. Can Vies é um prédio inteiro; o Banc e o Casal são as partes de baixo de
prédios. Assim, o Banc e o Casal se mesclam com o entorno. Já Can Vies se
destaca, imponente. <span style="color: red;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326700"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>FESTAS OKUPA</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-highlight: yellow;">As festas okupas são
políticas, conjugam produção e reprodução</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> e não são feitas para serem capitalizadas. A festa é uma
das atividades que mais aproximam os vizinhos e os moradores da cidade com as
okupas. Em meu trabalho etnográfico, as festas foram muito importantes. As
assembleias, em sua maioria, eram faladas em catalão, o que se tornava muito
cansativo. A aproximação com os membros era difícil. Poucas vezes queriam
falar. Estar em uma okupa por horas, visualizando a rotina em momentos que não
havia eventos, não era algo bem visto. Já nas festas, eu poderia estar no
ambiente, falar com as pessoas, sem que me sentisse um intruso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">As festas duram pouco, muitas vezes só uma noite; e quando
são longas, no caso das festas de bairro, acontecem em momentos especiais, uma
vez ao ano. Quem participa ajuda a compor a festa, com seus afetos e presença
física. Quem produz na festa okupa, também festeja. As festas são sempre abertas
ao público, não há seguranças, e podem ou não agradar os vizinhos. Às vezes,
não agradam. Os preços do que é vendido são baixos e atraem muitas pessoas. Não
é uma festa consumista, não gira em torno do lucro. Por isso, é um tipo de
resistência anticapitalista.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">As festas podem ser recorrentes. Manifestações, normalmente,
duram um dia apenas, mesmo que, em alguns casos, elas permaneçam acontecendo,
como no caso de Can Vies em maio de 2014. As manifestações e as festas podem
ocorrer tanto de dia quanto de noite. Talvez as manifestações sejam um tipo de
festa. Nas manifestações, existe ainda consumo de álcool e outras drogas.
Nelas, há uma reunião de pessoas com afinidade, que se aglomeram em um espaço.
Afetos são expressos por quem participa: exaltação, felicidade, comunalidade.
Porém, na manifestação surge um objetivo claro, alguma forma de reivindicação
ou revolta frente ao poder. O confronto direto da festa se dá com a vizinhança,
e ele não é desejado. Já nas manifestações, o confronto com a polícia é mais
frequente, e, muitas vezes, é isso que se busca. Uma manifestação é um
dispositivo que pode explodir a qualquer momento. As festas assim são mais
contidas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Busco nas próximas páginas descrever algumas festas, as mais
importantes que ocorreram, principalmente no verão, relacionadas com as
okupas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326701"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>FESTAS ALTERNATIVAS DA VILA DE GRÀCIA</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Como o Casal Tres Lliris fica na Gràcia, organizou sua festa
alternativa à Festa Maior da Vila de Gràcia, que acontece em agosto todos os
anos. Além da festa do Casal, ocorreram mais duas <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">festas alternativas,</span> correspondendo a coletivos da
região. Foi cedida pela prefeitura uma rua para que se realizasse a festa do
Casal. De início, pediram uma rua mais ampla, mas a prefeitura cedeu uma
outra.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Em toda a semana anterior à festa, o Casal ficou aberto.
Nele, muitos jovens faziam os preparativos. Muito trabalho manual, para a
decoração, era confeccionado por meninas e meninos. Um membro me disse que as
festas alternativas apenas acontecem nos mesmos dias das festas oficiais e que
eles desejam se manter de fora das comemorações oficiais, já que estas são
comerciais. Além disso, informou-me que as muitas bandas que estavam presentes
eram, em boa parte, grupos conhecidos pelos membros do Casal, que se dispuseram
a colaborar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No Casal, nesses dias
anteriores, estava boa parte do material da festa como centenas de garrafas de
refrescos e contêineres de cerveja. Todo o material foi adquirido a partir do
dinheiro levantado pelos eventos dos meses anteriores. Nesses eventos, coloca-se
à venda o que se vende em festas comuns, mas com preços baixos. Um dos jovens
me explicou que o bairro está em vias de privatização, o que impede que os
moradores o vivam. Os espaços para jovens, em sua maior parte, são mercantis,
portanto, para poucos. Não se pode tomar cerveja nas ruas, mas as mesmas ruas
estão repletas de bares com preços absurdos. O uso de álcool ou, simplesmente,
a vida noturna é cada vez mais impedida aos jovens. Desse modo, as festas são
uma forma de retomar o bairro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-highlight: yellow;">Pelo menos três
locais abrigaram as festas alternativas:</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"> a Rua Montmany, a Plaza del Raspall e uma outra pequena
praça, que se situava entre os dois locais. Todos os espaços eram muito
próximos, o que permitia ir de um ponto a outro rapidamente. Na Rua Montmany
estava o local cedido ao Casal Tres Lliris. Na parte baixa da rua foi montado
um bar, com umas quatro torneiras de cerveja. Jovens se revezavam nas tarefas
do início da tarde até o fim das festas, que acabavam pelas 3 horas da manhã. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Perguntei para muitos se o trabalho era cansativo ou chato,
todos me disseram que não. A resposta é compreensível, tendo em vista que não
se tratava de uma rotina dura: quem estava no balcão servia cerveja, mas
conversava com outras pessoas. Essa mesma pessoa, em outro momento, estava na
rua, curtindo, mesclada com o público. Todos estavam engajados na organização,
sérios, querendo que o evento funcionasse, mas também estavam se divertindo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Muitas pessoas que colaboravam, eu não as tinha visto no
Casal. Quanto ao público que frequentava o espaço, ele variava. Em sua maior
parte eram jovens, mas no bar, quem passava pela rua aproveitava os preços
baixos das bebidas. Vi, no bar, senhores e senhoras, turistas que estavam no
bairro para a festa oficial. Ao lado do bar, ficava a rua na qual fora montado
um palco. Ali, aconteceram os eventos, os quais consistiam, em sua maior parte,
de shows.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">As atividades das festas foram muito parecidas com
atividades comuns das okupas: shows, palestras, manifestações de rua. Também
como nas okupas, esteticamente, as praças e as ruas estavam repletas de
cartazes políticos. As festas eram algo como uma okupa a céu aberto; a
diferença é que foi permitida a reunião de mais pessoas, pelo espaço amplo, e o
conhecimento dos signos libertários por parte das pessoas que estavam no bairro
para a festa oficial. As okupas, portanto, como exemplificam as festas, parecem
já fazer parte do tecido da cidade. A festa legitimada e totalmente legal é um
exemplo disso. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">As duas outras festas aconteceram, como disse, em ruas
próximas. Notei pessoas do Casal colaborando nelas. Praticamente todo dia, pelo
menos desde a tarde, havia alguma atividade. Ocorreram alguns shows muito cedo,
com pouco público. Percebi uma circulação de crianças e pessoas mais velhas. Tirei
fotos de senhores e senhoras descansando em bancos junto a símbolos okupa.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Nos dias anteriores às festas oficiais, os moradores do
bairro estavam produzindo as ruas. Nos dias das festas oficiais, as ruas
estavam repletas de decoração. Em certos horários, a movimentação era muito
difícil. Além da produção das ruas, aconteceram muitos shows e eventos. A maior
diferença entre as duas festas – a alternativa e a oficial – diz respeito à
riqueza de signos políticos das alternativas. As oficiais apresentavam, esteticamente,
temáticas espetacularizadas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Quem passava desavisado pelo Gràcia poderia nem notar a
diferença entre as duas festas. Eu nunca havia estado em uma situação parecida.
Um bairro todo decorado, com muita música, muitas pessoas, todas empolgadas,
bebendo suas cervejas. E isso praticamente o dia todo. Se eu não reconhecesse
os símbolos políticos, veria o Gràcia como uma massa homogênea. Apenas
consideraria as festas alternativas como as menos produzidas, as mais ‘pobres’.
Talvez em alguns momentos, estranharia certos grupos com um visual mais de
subcultura e definiria como barulhenta a música de certas bandas. Mas existem
muitas bandas barulhentas que não têm um mínimo de cunho político, e os jovens,
muitos deles, mesmo os apolíticos, adotam um visual que, às vezes, choca. Eu
acharia que era uma festa jovem e só.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Talvez para o pensamento dominante essa mistura de festa e
política seja um contrassenso. Em uma festa não se pensa em política, não se
faz política. Festa é para amortecer, descansar, divertir. E política é algo
que não é nada divertido. Mas, para mim, a política dominante é que não é
divertida. A política dos okupas é uma outra política, com outros significados.
Poderia ser dito também que trabalho não é divertido, mas, como já disse, quem
estava trabalhando nas festas estava se divertindo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Entrei no espírito do jogo. Estava lá para fazer a pesquisa.
Não é divertido ficar sozinho contemplando espaços e anotando questões. Não é
divertido iniciar uma conversa com alguém para a pesquisa e essa pessoa virar a
cara. Mas aproveitei muitos momentos. Nestes, eu me esquecia do trabalho,
porém, obviamente, não da mesma forma que me esquecia quando estava em uma
festa para fazer turismo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Notei que em Barcelona, nas minhas caminhadas diárias para
descansar, tirei fotos somente de pichações de movimentos de resistência e
grafites de rua. Montei um arquivo extenso de fotos sem fotos turísticas. Em
uma viagem para Roma, o local que mais me agradou foi o bairro com maior
atuação política libertária. Não estava na capital italiana para pesquisar.
Isso mostra que, naturalmente, me coloquei em uma área de indiscernibilidade
entre a pesquisa e o turismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">As festas exemplificam como um coletivo okupa pode dar vida
a um bairro. As festas rotineiras no Casal, pelo próprio tamanho do espaço, não
eram muito expressivas. Já as alternativas reuniram muito mais pessoas,
praticamente todo o dia. Sem as festas alternativas, a festa do Gràcia teria
sido menos rica, não teria o seu devir okupa que foi experimentado por diversas
pessoas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326702"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;">Manifestações
nas festas alternativas</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Aconteceram duas manifestações nos dias das festas
alternativas do Gràcia: uma antifascista e outra em solidariedade com presos
políticos. A manifestação antifascista aconteceu na Rua Gran de Gracia, sendo
continuação do Passeig de Gracia, uma das ruas mais frequentadas pelos turistas
em Barcelona. Eu apenas sabia do local e do horário: na frente da estação de
metrô Fontana, às 19h. Cheguei no horário e vi que jovens vestidos de preto
chegavam a partir do metrô. Em pouco tempo, o espaço estava lotado desses
jovens, de preto, com camisetas de bandas de rock pesado ou com visual punk.
Muitos tomavam cerveja, em grupos pequenos de cinco ou seis pessoas, de ambos
os sexos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Considerei ousada a escolha do local. Era na saída-entrada
da linha mais importante do metrô de Gràcia. Também nesse dia, começaram as
festas oficias da Vila, ou seja, além de já ser um local movimentado, estava
ainda mais devido às festas. Por isso, muitos policiais faziam rondas nas proximidades.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Em determinado momento, ouvi gritos com palavras de ordem:
“Roger, aqui nós dominamos”. A manifestação era em nome de um jovem morto dez
anos atrás por fascistas no bairro: Roger. Os gritos de guerra continuavam e a
multidão tomou a rua. Era uma quinta-feira, final de tarde, na rua mais
importante do Gràcia. Estenderam faixas no chão. Jovens começaram a pichar as
fachadas de lojas de grandes empresas. Uma das pichações dizia: “Barcelona
antifascista”. Essas inscrições, já havia notado em outras partes do bairro. <span style="background: white;">Esses dizeres fazem pensar. Uma metrópole é uma
multiplicidade. Há a cidade do turista, a dos moradores, a cidade como
expressão e resultado do poder. A boa cidade do bom cidadão. Mas existe a
cidade dos que lutam, dos antifascistas, dos okupas, dos revolucionários
rotulados como marginais.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Em outro momento, um jovem subiu em uma parede e colocou uma
placa acima da placa com o nome da rua. A placa tinha um nome: Roger. A rua
estava fechada pela multidão. Na parte de baixo do local em que estavam os
manifestantes, policiais conduziam o trânsito. Considerei estranho não ter
acontecido repressão por parte da polícia. Quase uma hora depois da rua ser
tomada, os manifestantes começaram a subi-la. Decidi não segui-los, percebi que
não haveria repressão e sabia que o pessoal iria se dispersar. Mas o clima era
um pouco tenso. Observei seguranças no metrô olhando apreensivos para a
manifestação. O metrô havia sido fechado devido à aglomeração. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A outra manifestação aconteceu uma semana depois, e a
concentração foi na Plaza Raspall, local de uma das festas alternativas. Era em
solidariedade a duas garotas que haviam sido presas. O cartaz da manifestação
dizia: ‘marcha de tochas’. Na hora marcada, começaram a ser distribuídas tochas
para os manifestantes na praça. Elas foram acesas. Depois, iniciou-se uma
caminhada. Mais de uma centena de pessoas estava presente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Eu estava curioso com a manifestação. Ela sairia de uma
parte muito movimentada do bairro, na qual ocorriam os festejos da festa
oficial. Fiquei mais surpreso, pois a caminhada aconteceu exatamente nas ruas
com maior fluxo de pessoas do bairro. Na parte da frente da manifestação, duas
pessoas puxavam palavras de ordem, citando o nome das presas. A marcha passou
pela Rua Verdi, a mais turística do Gràcia. Além disso, passou por outra rua
com um grande fluxo de automóveis, fechando o trânsito. Não havia policiais no
entorno. Tudo se desenrolou calmamente.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326703"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>FESTAS EM SANTS E VALlCARCA</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">As outras festas alternativas em Barcelona no verão ocorreram
em Sants e Vallcarca. A de Sants foi uma megafesta no Parc de la Espanya
Industrial, próximo a Can Vies. Contemplava esse parque sempre quando caminhava
até a okupa. Situa-se em um grande declive ao lado de uma estação de trem. O
meu caminho era feito nessa parte alta, que dava para ver o amplo parque
abaixo. Eu via, de cima, garotos andando de skate e praticando esportes. Na
parte alta, era comum jovens fumando maconha. Eu não havia descido ainda até o
parque.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Eu me agendei para ir à festa em seu início. Havia umas
cinco tendas grandes vendendo bebidas e comidas. No horário em que cheguei, já
estava lotado de pessoas, pelas dez horas da noite. O palco onde se realizavam
os shows era amplo. As bandas, em sua maioria, tocavam músicas alternativas,
como punk e metal, o tipo de som corrente nas festas alternativas. A idade do
público girava em torno de 20 e 30 anos. As pessoas que cuidavam das tendas
eram, em parte, de Can Vies. Eram muitos os coletivos que organizavam a festa,
todos libertários. A organização era como a de qualquer grande evento.
Funcionava e muito bem. Parecia um grande festival a céu aberto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">De início, vi jovens fazendo uma brincadeira curiosa.
Amarravam alguém em uma longa corda. A corda ficava presa em um suporte. Então,
quem estava amarrado ia formando uma torre de engradados de cerveja e, ao mesmo
tempo, subia nela; colocava um engradado em cima do outro e subia; alguns
conseguiam formar uma torre alta. Em determinado momento, caía e era segurado
pela corda ficando suspenso no ar. Daí outra pessoa fazia o mesmo. Isso marca a
importância do álcool. Cada engradado que era posto para formar a torre
simbolizava cada dose tomada por quem gosta de beber. Quem conseguia formar uma
torre maior simbolizava aquele que consegue beber mais. A expressão ‘cair de
bêbado’, algo comum, era outro símbolo, pois, em determinado momento, quem
subia, caía. Se quem bebe não para de beber, em determinado momento vai “cair
de bêbado”. Não lembro de ter visto alguém completamente bêbado nas festas,
bêbado o suficiente para incomodar os outros. Mas todos bebiam e bem. Algo
comum em uma festa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Nas assembleias de Can Vies sempre havia alguém tomando uma
cerveja. Mas era um consumo muito contido. No Casal Três Lliris, em momentos de
ócio, os jovens bebiam. Pela minha vivência na cidade, me pareceu que o consumo
de álcool faz parte da cultura. Era comum nos almoços a oferta de cerveja e
vinho. Mas nunca vi alguém bêbado na hora do almoço.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O álcool faz parte da linha de fuga da rotina, que é a
festa. Anestesia, alivia, dá coragem, permite o contato com outros, claro que
dentro de um limite. A pobreza e a crise, a depressão que tudo isso gera são
amortecidas com a festa e com o álcool. O álcool potencializa a festa, e também
outras drogas. Eu gostava das festas, pois ficava mais anônimo, me perdia na
massa. O álcool ajuda a se misturar na massa, criar uma massa. As pessoas ficam
mais dispersas, mais soltas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A festa é um dispositivo diferente de uma
disciplina: o pai não está, não há professor, nem patrão. No caso das festas
nas okupas, pode haver um controle dos vizinhos. Não vi policial em nenhuma das
festas, pelo menos fardado. Na festa de Sants, em um lugar escuro, com milhares
de jovens, o controle parecia impossível. Quantos policiais à paisana deveriam
estar lá para controlar e reprimir toda essa gente? A festa, assim, permite um
impedimento do controle. Possivelmente, existe um controle entre os participantes,
para que ninguém fique fora de controle. Quem faz isso em festas comerciais são
os seguranças.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Uma okupa também é um dispositivo contra o
controle. O que se faz nelas, poucos veem. Não é uma sala de aula, em que
apenas alunos e professores podem entrar. Não é uma empresa com seus chefes e
funcionários. É um espaço para os coletivos, mas aberto para quem tenha
afinidade. Existem regras na hora das falas, uma organização, mas não centro de
poder, que submeta sujeitos sujeitados. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A festa okupa e a vida na okupa se assemelham. São
diferentes de uma manifestação. A manifestação é um lugar do confronto, mas um
confronto local. O confronto nas okupas, nas quais se fazem festas, é contínuo,
contra a política do Estado e o modelo de cidade dominante.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O contra o controle da festa também se dá nas
rupturas de códigos. É festa? É política? O que é? Não é a festa consumista,
não é a política dominante. É uma festa micropolítica. A alegria da festa okupa
se mescla à seriedade da autogestão e do desejo de outra realidade. Talvez haja
pessoas que só se divertem nas festas okupas, melhor, que não estão
interessados na política okupa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Em Porto Alegre, na época das lutas de 2013,
participei de algumas atividades do Bloco de Luta pelo Transporte, o coletivo
mais importante das lutas na região. Havia alguns jovens que estavam lá pela
reunião de pessoas alternativas e para fumar maconha, para se divertir. Mesmo
que as comissões fossem abertas, esses jovens não queriam fazer política, pelo
menos a que o Bloco permitia. Na okupa da Praça da Matriz em Porto Alegre em
2012, cheguei cheio de ideias preconcebidas. Um jovem estava sentado junto às
tendas e lhe perguntei: de qual movimento você faz parte? Ele disse: sou apenas
um artesão. Era um hippie, que estava compartilhando um lugar diferente e que
não tinha interesse em política. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Em uma acampada na frente da prefeitura de Porto
Alegre, em maio de 2012, jovens engajados tocavam violão; estavam fazendo isso
para passar mais rápido a noite fria. Um grupo de violeiros chegou e se
convidou para tocar. Eles queriam compartilhar a música e também não tinham
interesse por política. Em uma das manifestações mais expressivas em Porto
Alegre em 2013, na Praça da Matriz, vi muitos jovens fumando maconha e tomando
vinho. Possivelmente, muitos foram para a praça apenas para isso. Mas por que
estes – os hippies, os violeiros, os usuários de maconha, os que participam da
festa okupa por ser uma festa – frequentam esses locais? Isso é um indício da
simpatia com a revolução. Em uma manifestação, é fundamental o maior número
possível de pessoas. Quanto mais pessoas, mais visível. Em uma festa okupa,
isso também é importante. Se ninguém vai em uma festa, ela perde o sentido.
Essas pessoas simpáticas ajudam a aumentar a massa. Podem não saber conscientemente
que fazem política, mas fazem. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Diverti-me muito na festa de Sants, nas festas de Grácia e
em muitas outras do movimento okupa de Barcelona. Vi shows, dancei, usei as
tendas. Isso é metodologicamente importante. Sempre me senti bem e consegui
aproveitar os eventos. <span style="color: red;">Isso fez com que o trabalho de
campo se perdesse em uma área de indiscernibilidade; eu estava pesquisando, mas
também vivendo os espaços.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Nos dias das festas alternativas de Sants, aconteciam as
festas oficiais do bairro. Não compareci à noite nas festas oficiais, pois me
encontrava nas festas alternativas. Mas elas eram intensas durante o dia. O
clima era diferente entre os dois eventos. Pelo bairro de Sants, de dia,
viam-se grupos de adolescentes, garotas vestidas com uniformes, marchando,
acompanhadas de bandas e pessoas mais velhas. Em uma das principais ruas da
festa, algumas tendas montadas que vendiam cerveja se mesclavam aos bares do
entorno. Havia uma mistura entre pessoas muito jovens e mais velhas. Essa rua
principal fora fechada, estava repleta de gente e havia um palco. O som que
tocava era de uma música eletrônica bem suave, bem pop, que nunca se ouviria
nas festas okupa. Todos dançavam e faziam uma brincadeira: jogavam água com
tinta um nos outros.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Talvez as festas okupas não sejam totalmente divertidas e
infantis, como a que narrei anteriormente, pois reúnem pessoas que não têm medo
de frequentar um local ilegal, que têm afinidade com a política okupa, pelo
menos um mínimo de afinidade. A alegria da festa okupa se mistura com a
preocupação da autogestão, a manutenção do lugar, o perigo de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">desalojo</i> e do controle policial.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Na mesma época das festas em Sants, alguns eventos
aconteceram em Can Vies, como um “microfone aberto” e uma “cursa de carreton”.
A festa do microfone aberto começou de tarde, pelas 18h. Eu não recebera
informação sobre o evento, mas, simplesmente, por estar perto do local, resolvi
passar pela okupação. Era uma festa de rap, com inúmeros jovens se revezando na
voz, acompanhados por um DJ. Estavam presentes pessoas das assembleias, muitas
organizando o espaço, ajudando no som, vendendo cervejas. Em diálogo com alguns
membros de Can Vies, eles disseram que o evento não havia sido uma boa ideia,
pelo estilo de música e pela linguagem usada pelos jovens, às vezes machistas.
Fiquei um pouco impressionado com os garotos de 20 anos, produzindo valor com
seus raps, que envolve o conteúdo das letras, a entonação da voz e a postura no
palco. Também em conversa com membros de Can Vies, comentou-se que, mais tarde,
de noite, quando eu não estava mais lá, houve desavenças com os vizinhos devido
ao som alto e à reunião de muitas pessoas. Porém, outro membro me informou que
não ocorreram conflitos mais expressivos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Perguntei para esse membro se eles não eram obrigados a
aceitar a legitimação do poder para que a okupa funcionasse, se não eram
obrigados a estar dentro da lei, o que talvez obscurecesse a autonomia da
okupação. Penso isso porque a okupa não tem uma liberdade total, sempre tem que
pensar na relação com os vizinhos na organização de festas. E sem o apoio dos
vizinhos, provavelmente o projeto fracassaria, pois a prefeitura teria mais
poder para agir contra Can Vies. Ele respondeu que não era o momento de
enfrentamento com as normas, pelo pouco tempo desde a tentativa de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">desalojo</i>. Também, disse que manter uma
postura de não confrontação era algo necessário.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A “cursa de carreton” reuniu muita gente. A rua de Can Vies
estava repleta de pessoas; nunca havia visto um evento no local com tanta
gente. Na rua de Can Vies há um declive acentuado. A brincadeira do evento, a
“corrida de carreton”, consistia em descer o declive em cima de algum objeto
parecido com um carrinho. Os carrinhos eram improvisados, como banheiras ou
triciclos. Quem estava participando eram jovens de aproximadamente 30 anos de
ambos os sexos. Quando os carrinhos desciam a rua o pessoal que estava
assistindo a brincadeira gritava e jogava cerveja e água, muitos eram membros
do coletivo da Can Vies.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A brincadeira parecia boba, e talvez fosse. Não permaneci
por muito tempo na cidade para entender o humor dos barceloneses. No entanto,
estavam reunidas muitas pessoas e todas estavam festejando, felizes, nesse dia
de sol, no verão, no fim de semana. A brincadeira não importava muito, mas, sim,
o contato, a afetividade. O banho de cerveja já mostra uma proximidade entre as
pessoas. Não se faz isso na rua, ou melhor, em qualquer lugar; se necessita de
um ambiente para isso. Se permitir que outras pessoas joguem cerveja em você –
isso exige um grau de proximidade. Não tenho informação se todos eram amigos,
mas o número enorme de pessoas mostra que, possivelmente, nem todos se
conheciam. Por isso, a proximidade.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">As okupas, na rotina do dia a dia, reúnem poucas pessoas. Em
Can Vies, o maior número de pessoas ocorria na assembleia geral, esta com no
máximo 30 pessoas. Alguns eventos, como mostras de filmes, atraíam mais gente.
Contudo, as festas eram, de fato, mais tumultuadas. A festa, portanto, ajuda a
dar expressividade para as okupas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A festa de Vallcarca foi organizada por coletivos e
realizada em espaços contíguos. Vallcarca se situa depois da parte norte do
Gràcia. Assim, não era difícil me locomover a pé até lá. Na caminhada, aos
poucos, percebia a mudança de região. Caminhava desde a rua mais famosa do
Gràcia, a Gran de Gràcia, com sua estética mais opulenta, passava por uma praça
que não era espaço de ócio, atravessava uma longa avenida, e a estética
começava a mudar. A distância da praça até o local das festas era de cerca de
cinco longas quadras. Na parte direita desse trajeto havia prédios e lojas, mas
na parte esquerda, muitos prédios estavam bem deteriorados. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Já o local de encontros dos coletivos era em uma área
completamente desolada pela especulação. Além dos prédios em estado precário,
muitos espaços se encontravam vazios. Neles, em outras épocas, se situavam
prédios que foram destruídos. Nas primeiras vezes em que para lá me dirigi,
senti medo. Depois vi que não tinha por que ter medo. Porém, as festas ocorriam
à noite. Estava sozinho a pé. O local das festas era nessas áreas abandonadas.
Na parte organizada pelo coletivo mais radical, a música era de punk de
protesto. Em uma outra parte, a maior, era dedicada para música mais comercial.
Estava escuro, o local era de escombros, mas sempre me senti bem.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Outro dia, à tarde, em um domingo, voltei para Vallcarca.
Haveria atividades conjugadas com as festas alternativas, em dois espaços: um
mais legitimado e outro mais alternativo. O local que mais aglomerou pessoas,
obviamente, foi o mais legitimado. Era um espaço amplo, que, provavelmente,
abrigou um edifício em outras épocas. O chão estava cimentado. Ele era ladeado
por pequenas ruas e pelo outro espaço. Uma parte era murada por um edifício de
muitos andares. Nessa parte, na parede, havia grafites e, nesse dia, alguns
grafiteiros estavam pintando-a. Em um bar, vendiam cervejas. No meio do terreno
havia dezenas de cadeiras; também em um dos cantos uma parafernália sonora era
comandada por um DJ. No outro espaço, ia ser realizado um torneio aberto de
bocha. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O que mais me
interessou em Vallcarca foi a forma que os coletivos encontraram para dar vida
a uma região quase morta. Os shows noturnos reuniram muita gente. Pela pouca
luz, não dava para notar o estado da área. De dia, nesse domingo, o torneio de
bocha foi mais tímido, mas contou com a presença de muitos jovens, que jogavam,
dançavam e bebiam. Naquela parte do coletivo mais legitimado, aconteceu um
workshop de percussão aberto. Me chamou e muito a atenção os grafites que eram
gigantescos, porque eles marcariam, visualmente, a área de forma mais
duradoura. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A festa, a música, o grafite são expressões da multidão
dentro da cidade. A multidão é pobre, mas é criativa. Ela consegue, com mínimos
recursos, criar formas de vida. A multidão não precisa de grandes estádios, de
casas noturnas chiques, de teatros espetaculares, nem de celebridades, como
também não precisa de restaurantes e bares com vinhos caros e comidas
refinadas. No espaço mais simples desse domingo, onde jogavam bocha, havia
apenas a cancha, vinho e cerveja e muitas pessoas. Em festas do Casal, elas
contavam, em sua infraestrutura, apenas com um barzinho com cerveja e um
pequeno palco com alguém tocando violão e cantando. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Eu assisti a muitos shows em Barcelona como descanso da
pesquisa. Muitos deles eram realizados em casas noturnas da moda, apresentando
bandas populares. Entretanto, apesar de me agradarem, eles não me chamaram a
atenção, pois sabia exatamente o que ia ver, já era conhecido, normatizado. As
festas das okupas e dos coletivos de resistência, sim, foram coisas novas,
diferentes, e essa diferença é que inspira este texto e me faz pensar.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326704"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ACAMPADA</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Um dia, recebi informações pelo Facebook de que o Casal Três
Lliris estava para ser desalojado pela prefeitura. Outro dia, estava caminhando
em Gràcia, depois do almoço, e vi que um quiosque montado em uma praça, muito
usada por pessoas dos movimentos sociais no bairro, estava aberto e com pessoas
na frente. Perguntei o que passava. Me disseram que estavam distribuindo
espumante em comemoração à demissão de um político em Barcelona. O mais
importante é que reencontrei um rapaz do Casal. Tivemos uma desavença, um
problema de comunicação, outro dia, e por isso fiquei um pouco apreensivo em
abordá-lo e perguntar o que estava acontecendo com o Casal. Mesmo assim,
abordei-o e ele foi bem receptivo. Disse que eles haviam recebido uma ordem de
despejo e que seria realizada logo, a partir de 29 de setembro. Ele me disse,
ainda, que o advogado do Casal estava fazendo a mediação, mas que, certamente,
aconteceria o desalojo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">No início de setembro, um centro social, situado próximo ao
Gràcia, foi desalojado, o Ateneu l’entre Banc. Em pouco tempo, começaram a surgir
notícias a respeito no Facebook e foi organizada uma manifestação de rua em
favor do Ateneu. Essa manifestação ocorreu em uma rua próxima à Sagrada
Família. Reuniu em torno de 500 jovens. Boa parte do grupo do Casal Tres Lliris
estava presente. Houve monitoramento da polícia. Além disso, o Banc Expropriat
estava para ser desalojado na mesma época. Isso já era esperado fazia tempo por
coletivos que publicavam, com frequência, notícias e cartazes no Facebook em
solidariedade à okupa.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O <i style="mso-bidi-font-style: normal;">desalojo</i> é o
destino de uma okupa. Em uma conversa com um membro do Casal, na época das
festas, ele me explicou que havia três possibilidades em caso de um processo de
apropriação do espaço pelo poder: 1. A contratação de um advogado para tentar
uma negociação a partir do Judiciário. 2. Pressão mais branda e constante, como
manifestações, aproximação com as entidades vicinais, tentativas de mostrar a
importância da okupa. 3. O confronto direto com a polícia no momento do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">desalojo</i>. Como será visto nas próximas
páginas, a segunda opção foi a escolhida. Montou-se uma acampada em uma praça
de frente para a sede do distrito de Gràcia, com o objetivo de reivindicar a
permanência do Casal. A acampada é uma marca na Espanha desde as lutas em 2011
do Movimento 15M, também conhecido como Movimento dos Indignados. A primeira
forma de expressão do 15M foi a tomada de praças, por um tempo longo, em mais
de 80 localidades no país.<span style="color: red;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326705"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;">Contatos
com a acampada 1</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Como haviam me dito, o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">desalojo</i>
poderia acontecer a partir de uma segunda-feira. Nesse dia, dirigi-me ao Casal,
e algumas garotas estavam limpando-o. Disseram-me que estavam tirando todos os
objetos de valor por medo da invasão policial. Fui mais duas vezes no mesmo dia
e me explicaram que, em pelo menos duas semanas, aconteceria a desocupação.
Depois desse dia, passei inúmeras vezes na frente e estava sempre fechado. Na
primeira semana de outubro, recebi uma informação pelo Facebook de que o
coletivo estava fazendo uma acampada na Praça da Vila de Gràcia. A praça é uma
das mais importantes do bairro. A intenção era de que os vizinhos tomassem
conhecimento da situação da okupa.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Dirigi-me numa terça-feira, após o meio-dia, ao local. Cerca
de 20 barracas haviam sido montadas. Todo o entorno da praça estava repleto de
faixas, com dizeres referentes à luta do Casal e das outras okupas do bairro.
Os jovens estavam fora das barracas reunidos em grupos; uns pintavam cartazes.
Uma tenda era o ponto de informação. Desloquei-me até lá. Estava olhando
panfletos e um dos jovens que estava na tenda me abordou. Explicou-me o que
estava acontecendo – eu já sabia –, mas o ouvi. Nenhum dos membros que conhecia
do Casal estava presente. Achei interessante porque havia muita gente na
acampada e eu conhecia mais de uma dezena de membros do coletivo. Ou seja, a
causa atraiu muitas pessoas. Perguntei ao rapaz da tenda se eles estavam
dormindo ali, e ele me respondeu que sim. Ele disse que a decisão de acampar
era antiga.<span style="color: red;"> Perguntei se pretendiam fazer uma nova
okupação no bairro para sediar as atividades do coletivo do Casal. </span>Ele
sorriu e a conversa terminou aí. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Caminhei pela acampada. Tirei fotos de todo o espaço, das
pessoas, das barracas e dos cartazes. Voltei à tenda de informação e abordei o
jovem que havia me atendido. Expliquei minha situação e falei que queria fazer
uma entrevista com algum membro. Ele me disse que não queria. Outro rapaz que
estava na tenda me ouviu e nada falou. Me disseram para eu tentar com o pessoal
que estava na acampada. Pedi para que ele me apresentasse a alguém. Ele nada falou.
Decidi não abordar mais ninguém nesse momento. Fiquei de pé contemplando o
espaço e as pessoas. Notei que algumas senhoras paravam e olhavam; outras
abordavam os garotos do ponto de informação e faziam perguntas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Voltei mais tarde no mesmo dia. Na praça, havia, além das
pessoas do coletivo, muita gente de todas as idades, e também crianças, que
brincavam. Um pouco antes acontecera uma atividade dedicada a crianças na
acampada. Percebi também duas equipes de reportagem entrevistando duas garotas
do coletivo do Casal. A acampada se situava na frente da sede do distrito de
Gràcia. No prédio da sede, dois policiais da guarda urbana estavam postados na
porta principal.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326706"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Contato com a acampada 2</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Outro dia, fui depois do meio-dia, novamente na acampada do
Casal. Não era horário de atividades, mas decidi ir para ver se encontrava
alguém para conversar. Um grupo de dez pessoas almoçava no chão e conversava.
Na tenda de informações, três jovens usavam notebooks. As barracas se mantinham
no mesmo lugar, vazias, algumas abertas. O mais interessante era um grupo em
uma roda. Três pessoas do coletivo do Casal falavam para cerca de dez
adolescentes e para uma senhora. Fui até eles; estavam falando sobre a acampada
e a situação da okupa. Os adolescentes eram estudantes de uma escola próxima, e
a senhora era a professora. Esta havia passado pela acampada e pediu para levar
o grupo para conhecer o espaço. Os adolescentes estavam quietos, apenas ouviam,
mas muitos anotavam o que os representantes do coletivo falavam. Fiquei ali
ouvindo, conseguia entender algumas coisas, pois a língua usada era o catalão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Quando terminou a fala, abordei um dos representantes, uma
garota. No dia anterior, a vi dando uma entrevista para uma rede de televisão.
Pensei que ela talvez se dispusesse a conversar comigo formalmente. Falei com
ela, que aceitou conversar no mesmo dia, uma hora depois. Voltei para o meu
apartamento e peguei meu equipamento de filmagem. Na hora combinada, nos
encontramos. Ela insistiu para que mais uma garota fizesse parte da entrevista.
Considerei uma boa ideia. Perguntei se podia filmar o rosto delas, preferiram
que não. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Sugeri que elas falassem diante da câmera o nome, a idade, a
profissão ou o que estudavam. Elas pediram para que não fizesse perguntas
pessoais. Respondi-lhes que estava fazendo essas perguntas, pois uma das linhas
da entrevista poderia dizer respeito à vida pessoal delas, mas que, como elas
não queriam, isso não era um problema. Expliquei que me interessavam muito mais
os processos do Casal do que a identidade dos participantes do coletivo. Nunca
fiz perguntas pessoais com quem conversava nas okupas; e se fiz, foi para que
houvesse algum tipo de intimidade. A entrevista foi boa, durou uma hora. As
garotas falaram o tempo todo. Eu apenas fazia algumas perguntas para direcionar
a conversa. Decidi encerrar a entrevista quando vi que as duas estavam
cansadas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326707"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Contato com a acampada 3</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">No quarto dia da acampada, tudo continuava igual: as
barracas, as tendas, os cartazes. Os jovens se mesclavam com as pessoas do
bairro que usavam a praça, pais com suas crianças, pessoas idosas. De
diferente, notei algumas araras com roupas que poderiam ser pegas
gratuitamente. Mulheres e garotas as frequentavam. Também percebi um cartaz
novo, grande, que era o apoio de Can Vies à situação do Casal. Na barraca de
informações, na qual sempre ficava alguém, turistas solicitavam esclarecimentos
sobre a acampada. Além disso, observei gente do bairro perguntando sobre as
atividades diárias. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Nesse dia, fora programada uma palestra com pessoas de
outras okupações, entre elas: El Rec, Banc Expropriat, Flor de Maig, etc.
Organizaram uma roda ampla, com cadeiras, e montaram uma aparelhagem de som que
permitia que se ouvissem os membros dos coletivos em boa parte da praça. A
maioria das pessoas na plateia eram jovens, mas notei também muitos senhores e
senhoras de idade. Havia, ainda, muitos fotógrafos registrando o evento. Os
representantes dos centros sociais tinham entre 25 e 30 anos, dois homens e
duas mulheres. Eles explicaram a situação de cada okupa; responderam perguntas
pré-agendadas. O evento foi importante, pois mostrou a relação entre as okupas
em Barcelona, e que todos estão dispostos a colaborar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326708"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Contato com a acampada 4</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Passei na praça na sexta-feira, no último dia da acampada.
Os acampados ouviam música em som alto. Um dos garotos na tenda de informações
conversava com dois turistas. Era um casal de aproximadamente 50 anos. O jovem
foi educado e atencioso, falou em inglês com eles, explicou a acampada e a
situação do Casal. Os dois estavam bem interessados e ouviam com atenção,
rebatendo com perguntas. Em determinado momento, o jovem falou sobre o turismo
em massa. Os dois turistas estavam com um mapa na mão. O rapaz disse que o
coletivo era radicalmente contra essa situação do bairro e da cidade. O garoto
estava falando outra língua, tentou ser o mais educado possível e prestativo,
mas não teve como ele não falar sobre o turismo em Barcelona. Os turistas,
depois disso, saíram. Caminharam pela praça vendo os símbolos okupa e as
palavras de ordem.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Perguntei ao rapaz da tenda de informações o que fariam
agora. Ele disse que levantariam a acampada, mas que voltariam ao Casal. Pelas
conversas que ouvi, pensava que o Casal não seria retomado. Pensava que
realizariam outras ações. Ele disse que continuariam lá até o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">desalojo</i>, se houvesse. Como a acampada
foi importante, por atrair os olhares para a situação da okupa, perguntei se
não seria o caso de ficar na praça por mais tempo. Ele me disse o que eu já
sabia: é impossível manter uma acampada por muito tempo, ela se esgota. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Comentei uma notícia de um meio de comunicação de massa
segundo a qual eles estavam lá pelo referendo<a href="file:///C:/Users/Diego/Desktop/LIVRO_2017.docx#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><sup><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><sup><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;">[1]</span></sup><!--[endif]--></span></sup></a>. Ele
soltou uma pequena gargalhada, disse que era típico da grande mídia. Respondi
que estava maravilhado, pois não acontecera repressão, mesmo que a acampada
tenha se situado em um lugar central para o bairro. Para o rapaz, isso refletia
a possibilidade de que o Casal não fosse desalojado. Como era sexta-feira, a
praça estava mais cheia do que nunca. Foi uma boa escolha decidir marcar o fim
da acampada nesse dia da semana. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326709"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Algumas considerações sobre a acampada</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A acampada se soma à okupação, às festas e às manifestações.
A partir de 2011, tornou-se uma importante ferramenta dos movimentos urbanos.
Como havia referido, em Porto Alegre aconteceram duas acampadas, e muitas
outras foram realizadas em várias cidades do Brasil. A acampada não é uma festa
nem manifestação, as quais são mais efêmeras; não é uma okupa, que é mais
duradoura. No caso da acampada do Casal, ela durou uma semana, mais que isso
era impossível.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Porém, na acampada estão presentes os códigos de naturezas
diferentes: ócio, moradia, política, festa. Talvez, no caso específico dessa
acampada, houvesse mais segurança para os okupas. Estavam em seu bairro,
rodeados por pessoas do bairro, diferentemente da acampada dos indignados em
Barcelona em 2011, que ocorreu em uma zona turística e comercial.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A acampada do Casal não apenas chamou a atenção dos mais
velhos, como também de crianças, e da mídia. Não tenho informações se a
acampada teve êxito quanto à situação do Casal, mas foi um processo
interessante e importante, o qual se soma às outras formas de expressão de
tomadas da cidade – talvez novas surjam da criatividade dos okupas. A praça <i style="mso-bidi-font-style: normal;">okupada</i> é uma linha de fuga dentro da
cidade. Isso é muito frequente no Gràcia, vide os inúmeros eventos okupas nas
praças. O importante é encontrar a brecha e experimentá-la, fazer vazar o cano
do dispositivo de controle da cidade, mostrar novas formas de vida para as
pessoas ampliarem seus territórios. No caso, os jovens do Casal ensinaram como
se produz uma linha de fuga, isso é a potência da juventude.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A praça – tão importante em Barcelona – é um mapa, com suas
duas linhas: a molar, a normatizada para o turista; a molecular, a dos
movimentos, que produzem diferença. Um dos objetivos de tudo que é exposto
sobre os okupas neste texto é mostrar que em Barcelona, uma cidade tão viva de
eventos molares, uma cidade que tende a um controle absoluto, em seu sul, um
sul simbólico, aparece a resposta dos okupas. No verão, a cidade foi muito
expressiva tanto em eventos para o turismo quanto em eventos do movimento
okupa. Ou seja, o endurecimento da cidade cria linhas de fuga. Tive sorte de
chegar em junho, e até setembro, com o calor, presenciei muitas atividades. Mas
a acampada mostra que, mesmo com a chegada do frio, se os turistas ainda estão
na cidade, ela ainda está viva devido às manifestações da multidão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326710"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;">Eventos políticos em can vies</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">As assembleias e comissões em Can Vies exemplificam a rede
descentrada, pois não há líderes nem sujeitos que as centralizem. A assembleia
geral, a mais importante de Can Vies, reúne, normalmente, em torno de 30
pessoas, quase sempre as mesmas. Ela dura um pouco mais de duas horas, é falada
em catalão, mas, às vezes, algumas falas são em espanhol. É aberta com a
leitura de ata por membros mulheres. Frequentemente, elas tomam o papel de
mediadoras. Os temas dizem respeito à gestão do espaço. Em minha experiência,
uma questão era central: a reconstrução. A idade média é de 30 anos, mas
participam pessoas mais jovens e também mais velhas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">As comissões reúnem grupos menores e tratam de questões
pontuais. A de “ofícios” aborda o ambiente físico do prédio; a de atividades
trata dos eventos a serem feitos na okupa. Há outras comissões, mas apenas as
duas citadas anteriormente tive a oportunidade de participar. Solicitei
informações sobre as outras comissões e não houve diálogo. Aqui, trato apenas
de minha experiência na de atividades. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Nesses encontros nunca notei nas falas algo como: ‘somos os
cabeças da mais importante okupa de Barcelona’. Nunca os senti orgulhosos.
Senti apenas certa importância de alguns nas assembleias, mas, como disse,
estes não a centralizam. A assembleia geral era mais cansativa de que a
comissão de atividades, pois aquela tem um peso maior, as decisões são gerais,
e muitos participam. A comissão era muito mais leve.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326711"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Primeira Assembleia</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Dirigi-me a Can Vies no dia em que seria realizada uma
assembleia geral. Cheguei um pouco antes do horário. Já tinha conhecimento do
funcionamento de uma assembleia e de que havia uma abertura para propostas e
pessoas que quisessem colaborar. Abordei uma garota. Expliquei minha situação e
que queria ajudar na organização de Can Vies. Ela respondeu que eu poderia me
apresentar e propor algo. Assisti à assembleia, em catalão, e decidi não me
expor. Senti-me impotente. Falou-se muito na reconstrução, nos eventos e
percebi que não tinha nada de importante a propor. Além disso, me vi como um
intruso, o que, de fato, era. Realmente, queria fazer parte do processo para
produzir minha pesquisa. Havia muito trabalho a ser feito. O que estava sendo
realizado não era uma brincadeira. Não vi em que eu poderia ajudar no projeto.
Poderia ter proposto ajudar na reconstrução, mas não queria fazer trabalho
braçal. Pensei em fazer uma rede de comunicação com movimentos brasileiros,
mas, na conversa com a garota, vi que o coletivo não tinha interesse. Pensei em
ajudar nas mídias de Can Vies, no entanto, eu não dominava o catalão. Mesmo
assim, continuei indo nas assembleias, e, então, propus uma fala do meu
orientador, uma palestra. Devido ao doutorado sanduiche, estava sendo acompanhado
(orientado) por um teórico que trabalha com movimentos juvenis, Carles Feixa. A
partir daí, começou um processo que permitiu um contato mais próximo com o
coletivo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326712"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Segunda assembleia</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Cheguei um pouco antes do horário da assembleia, que se realiza
nas quartas-feiras, às 20h. Acontecia uma reunião de um grupo, de mão de obra
(ofícios), na frente do espaço. Quanto à assembleia, ela foi, como sempre,
muito cansativa, pois, como diversos eventos em Barcelona, a conversação era em
catalão. Porém, um outro membro me comentou que as assembleias são, assim
mesmo, cansativas. Havia em torno de 30 pessoas, a maioria jovens, mas também
um ou outro senhor e senhora. De início, leram a ata da assembleia anterior.
Três garotas se encarregaram de lê-la. Depois, foi aberta para as falas dos
participantes. Boa parte do tempo foi dedicada às questões da reconstrução do
prédio. Discutiam, em detalhe, o que estava sendo feito e o que pretendiam
fazer. Discutiram também os valores possíveis destinados para a reconstrução.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Dedicou-se muito tempo para tratar sobre o que fariam nas
férias; a okupa ficaria fechada durante as primeiras semanas de agosto. Além
disso, debateram sobre a segurança do espaço, sobre fazer grupos de vigilância.
Um dos membros falou sobre as ações judiciais que estavam sofrendo pessoas que
atuaram nas lutas de maio em Can Vies. Outro comentou a posição da prefeitura
sobre a okupa. Além disso, muitos temas foram tratados, como: participar das
festas alternativas do bairro Sants; limpar as pichações feitas por fascistas
no entorno; a relação com a associação de vizinhos de Sants; a possibilidade de
se fazer uma manifestação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt;">
<span style="mso-bookmark: _Toc444326713;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;">Terceira assembleia</span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Assisti a mais uma assembleia em Can Vies. Quando cheguei,
como sempre, o grupo de ofícios estava reunido. Eram aproximadamente dez
pessoas falando em voz baixa, muito pausadamente. Cerca de cinco pessoas eu
conhecia, as outras ainda não havia visto. Não dei muita importância para o que
era dito nessa comissão, pois as questões sobre os ofícios também eram
discutidas na assembleia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Uma garota que eu conhecia chegou e a abordei. Perguntei-lhe
se era do interesse do coletivo ser realizada em Can Vies uma fala, uma
palestra do diretor do grupo de pesquisa em que estava envolvido. Ela respondeu
que seria interessante, mas que eu precisava propor. A assembleia começou,
novamente, com a leitura da ata. Novamente, foi dedicado um bom tempo para
tratar da reconstrução. Um dos membros disse que tudo estava sendo lento
demais. Para ele, trabalhar poucos dias da semana e com um número reduzido de
pessoas faria com que a reconstrução demorasse muito tempo. Outros membros
argumentaram que os dias de reconstrução deveriam ser mais frequentes, talvez
até trabalhar nos domingos. Alguns comentaram que não podiam estar mais presentes
devido aos seus empregos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Em um momento, uma das mediadoras da assembleia comentou
minha sugestão de uma fala de Carles Feixa na okupa. Apresentei-me, disse que
era brasileiro e que estava pesquisando okupas em Barcelona. Disseram que seria
interessante, mas tinha que propor em uma das comissões, a de atividades.
Perguntei se poderia ter as atas das assembleias para minha pesquisa. Um dos
membros falou que eu poderia anotar o que era dito, mas que não era comum ao
projeto a disponibilização das atas. Não insisti.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326714"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Primeiro encontro com a Comissão de atividade</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Cheguei cedo, como sempre, pois, antes dos encontros, como
as assembleias, normalmente havia pessoas na okupa, e eu me aproveitava para me
aproximar delas. Nesse dia, apenas dois membros estavam na frente de Can Vies.
O prédio estava fechado. Abordei os dois, mas não consegui manter um diálogo.
Aos poucos, foram chegando mais pessoas. Decidiram sentar-se na frente do
prédio de Can Vies, que estava fechado, do outro lado da rua. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A primeira fala foi de um jovem espanhol, não catalão,
pertencente a um outro coletivo libertário. Ele estava propondo uma atividade
no centro social. Seria um tipo de festa com temática antifascista. Ele falou
por um bom tempo. Depois, começou um diálogo com os membros da comissão. Eles
detalharam como poderia ser o evento, sua organização. Ambos, tanto o jovem
como os membros, demonstraram ter experiência na produção desse tipo de evento.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A segunda proposta foi a minha. Primeiro, me apresentei,
disse que estava representando um teórico. Propus que fosse feita uma fala de
Carles Feixa, meu orientador, em Can Vies. Indagaram que seria estranho alguém
vir à okupação falar sobre eles. Argumentaram, também, que os acadêmicos não
têm, necessariamente, um conhecimento sobre os movimentos. Respondi que seria
mais um ponto de vista, que a fala poderia se tornar um debate, o
posicionamento do teórico poderia ser confrontado. Porém, ficaram interessados.
Eu disse que enviaria, por e-mail, links com a produção de Carles Feixa e também
um pequeno resumo do que seria dito. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A comissão era composta por bem menos membros do que a
assembleia geral. Todos que estavam presentes, eu já conhecia. Estávamos
sentados em uma roda na calçada. No meio, improvisaram uma mesa, com pão e
tofu. Além das conversas voltadas para todos, havia conversas paralelas e, além
disso, eram feitos muitos gracejos. A comissão me pareceu mais leve que a
assembleia geral, mas não menos séria. Senti-me menos apreensivo nela.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">O evento proposto – a festa antifascista – ocorreu uma
semana depois. No dia da comissão, o proponente da festa expôs em detalhes o
que sugeria a ser feito. Percebi que ele foi um pouco pressionado a isso pelos
membros. Ele falava e o grupo ficava em silêncio, esperando que falasse mais. O
evento foi bem divulgado pelos meios de comunicação do coletivo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Quanto à minha proposta, foram muitas as perguntas, muitas
delas sobre mim e meu trabalho. Um dos membros disse que havia ouvido críticas
ao trabalho do meu grupo de pesquisa da Universidade de Lleida. Indaguei-o
sobre o que ele sabia a respeito do grupo. A pressão foi diferente da feita com
o outro rapaz. Notei, na comissão e na assembleia, que há um desejo de que o
máximo de pessoas participe, mas não são quaisquer propostas aceitas. Todos os
eventos de que participei eram muito bem organizados, com uma temática coerente
ao posicionamento de Can Vies, sempre relacionado ao ativismo mais
radical.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt;">
<span style="mso-bookmark: _Toc444326715;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E-mail
recebido de membro de Can Vies</span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Recebi um e-mail de membro do coletivo, no qual mostrava um
interesse com minha proposta de um evento com participação de Carles Feixa. </span><span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A seguir,
transcrevo o e-mail.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Hola Diego:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Soy […] de la comisión de actividades de Can Vies. Perdona que
tenemos el tema de la charla de Carles un poco olvidado, pero con<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>todas las tareas de reconstrucción estamos
valorando si seguir con las actividades, ya que además ahora empieza a hacer
frío y seguramente ya no se podrán hacer en el patio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Igualmente, nos gustaría saber si podría enviarnos algo más detallado
sobre su propuesta. ¿Se trata de una charla debate, invitando a
otros colectivos de otros Centros Sociales Autogestionados? No nos
queda claro cuál sería el tema exactamente, quién más intervendría,
qué formato de actividad querría desarrollar. Si puedes pasarle este mail
a Carles y que él nos especifique lo máximo posible el formato para ver
si sería viable o no. </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Gracias,
un saludo!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[...]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Após, também por e-mail, conectei Carles com o coletivo, e
começamos um diálogo. Por fim, a palestra não se realizou. Comparando a boa
recepção dos membros para com um evento antifascista, o qual foi realizado
rapidamente, com a negação de um evento de uma pessoa do meio acadêmico, penso
que isso demonstra o tipo de política de Can Vies.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O não interesse por alguém da seara
acadêmica, ainda mais de renome como Carles Feixa, externa, talvez, um desejo
de promoção e expressão do minoritário e, ainda, uma inversão de valores. Em
Can Vies e nas outras okupas, em nenhum evento de que participei havia
personalidades sendo apresentadas. Tenho certeza de que a posição teórica de
Carles Feixa e de nosso grupo de pesquisa na Universidade de Lleida não
influenciou na decisão. O grupo se dedica às lutas da multidão, tratando-as
como riqueza e potência da juventude. Além disso, como comentei na introdução,
foi de Carles a ideia de eu centrar a pesquisa no movimento okupa e no caso de
Can Vies. Talvez não tenha ajudado minha falta de experiência em relação a esse
tipo de evento, mas creio que o peso da figura de Carles, um renomado teórico,
poderia destoar da proposta da okupa.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326716"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>quarta assembleia geral em Can Vies</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Cheguei um pouco antes do horário, mas, nesse dia, já estavam
reunidos. Foi a primeira vez que vi uma assembleia em Can Vies no interior do
prédio, em função do frio. O interior também estava em construção, o que não
diferia muito da parte externa. Por isso, comentou-se, nesse dia, muitas vezes,
na possibilidade de que as atividades fossem realizadas em outra okupa da
região.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">As pessoas que estavam no local eram, basicamente, as mesmas
de sempre, mas faltavam algumas. Foi discutida uma matéria do periódico <i style="mso-bidi-font-style: normal;">La Vanguardia</i> que criticava as festas na
casa. Trataram de algumas atividades, mas houve uma discussão para que se
centrasse a assembleia na reconstrução. Em determinado momento, chegaram três
garotas. Eu as vi entrar, pois estava junto à porta de saída. Elas pediram a
palavra. Propuseram uma jornada em prol da não heteronormatividade. A jornada
deveria acontecer o quanto antes, pois pessoas que fariam parte estariam apenas
alguns dias na cidade. As falas foram longas, perguntou-se a relação de Can
Vies com tal evento. Foi dito que Can Vies sempre abrigou esse tipo de
atividade. Não houve um consenso total sobre o evento, o coletivo respondeu que
entraria em contato com as garotas, posteriormente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326717"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>outro encontro com a comissão de atividades</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Cheguei um pouco mais cedo e a okupa estava aberta. Cinco
membros estavam retirando material de dentro do prédio e deixando próximo a um
local com contêiners de lixo. O trabalho era pesado. Era difícil transpor o
material para o outro lado da rua, até porque havia o fluxo de carros. Todos
que estavam trabalhando, eu já conhecia. Eram os membros mais ativos no
trabalho manual. Fiquei um pouco distante olhando, porque não queria
atrapalhar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Em determinado momento, abordei um deles. Perguntei se
aconteceria a atividade. Ele disse que não sabia. Resolvi fazer algumas
perguntas. Respondeu-me que estavam deixando o material para ser posto fora, ou
para se alguém quisesse usá-lo. Um pouco depois, chegaram os membros da
comissão de atividades, os quais conversaram com uma das pessoas que já estava
no interior da okupa. Então, decidiram deixar a okupa aberta para que a
comissão a usasse. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Na reunião da comissão, eu conhecia todos de outros
encontros. Conversamos sobre minha proposta não aceita da fala de Carles Feixa.
Eles falaram da impossibilidade de fazer atividades no momento, pela necessidade
de dar prioridade à reconstrução. Além disso, um dos membros abordou que havia
uma centralidade em financiar ações de coletivos afins, ajudar na organização e
divulgação de eventos na okupa de coletivos com um posicionamento político
similar.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Perguntei o que significava a reconstrução, se se referia
apenas à parte física da okupa. Reafirmaram que era importante ter um espaço
construído para que os muitos coletivos envolvidos em Can Vies tivessem um
local para atuar. A reconstrução física da casa era central. Para mim, as
atividades deveriam acontecer mesmo na reconstrução. Porém, o verão havia
acabado, estava mais frio, isso dificultava, e muito, pois o espaço interno da
casa estava inviável para que fossem feitas ações que atraíssem mais pessoas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Em determinado momento, a conversa tornou-se mais informal.
Decidi me expor. Isso foi importante, uma vez que consegui me diluir junto ao
coletivo. Algumas pessoas estavam sendo muito atenciosas e carinhosas comigo,
isso ajudou em minha aproximação. Talvez eu tenha falado mais do que devia, mas
me senti forte para fazer falas mais longas em espanhol. Além disso, eu havia
solicitado para gravar a reunião, alguns aceitaram, outros não. Como havia
alguns “nãos”, não pude gravar.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326718"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>MAL-ESTAR EM CAN VIES</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Em uma terça-feira, dirigi-me até Can Vies para contemplar a
reconstrução e não havia ninguém. Poderia acontecer de que ninguém viesse, mas fiquei
meia hora parado na frente da okupação. Uma garota chegou, carregando uma
sacola de supermercado e um engradado de refrigerante, eram compras para quem
ia ajudar no trabalho manual. Essa garota, na semana anterior, eu a vi
recebendo alguns jovens. Estes filmaram a okupa e pediram uma fala dela, ela o
fez. Como estava sendo muito requisitada no dia, não a abordei. Nessa
terça-feira, eu a abordei. Solicitei uma entrevista de 20 minutos gravada, ela
disse que não poderia. Questionei se poderia entrar na okupa e falar com o
coletivo, como sempre fazia. Ela disse que sim. Logo chegaram mais pessoas,
cerca de seis rapazes.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Entrei na okupa e percebi que ela estava diferente,
fisicamente. O piso da parte interna havia sido retirado. Perguntei a um dos
rapazes o que estava sendo feito. Ele me mostrou vários pontos do prédio que
eram prioridades no momento. A parte interna mais próxima do exterior ficaria
pronta em um mês, essa era a previsão. Assim, em um mês, já poderiam acontecer
atividades. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Perguntei se havia previsão de quanto tempo demoraria para
que a okupa ficasse totalmente pronta. Ele respondeu que em mais de um ano.
Disse-me que a colaboração flutuava; às vezes, vinha mais gente, mas, na
verdade, poucas pessoas estavam sempre presentes. Um exemplo disso era o fato
de que um grupo viria na semana seguinte ajudar no trabalho. O grupo era
formado por jovens de uma okupação de uma cidade próxima. O coletivo de Can
Vies iria conseguir um local para que os jovens fossem acomodados em sua
estadia. Perguntei como eles lidavam com quem não tinha conhecimento de ofícios
e que queria ajudar, se isso não atrapalhava. Ele respondeu que não. Havia
muitos trabalhos simples possíveis para todos, como pintar paredes. Comentou-me
que arquitetos estavam criando um novo projeto para a casa. Eles buscavam uma
estética que fugisse da arquitetura comum. Muitos artistas ajudariam nisso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-highlight: yellow;">Ele começou a
trabalhar. Afastei-me. Vi que um outro membro estava sentado sozinho. Eu já o
conhecia, sempre havia sido educado comigo, resolvi abordá-lo. Fiz algumas
perguntas mais técnicas; ele disse que não tinha conhecimento de arquitetura, e
salientou: o que importa é reconstruir.</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Percebi que a conversa não iria render. Fui até a parte da
frente da okupa. Ali, eu sempre via pessoas passando e olhando Can Vies,
principalmente senhores e senhoras. Um senhor, de aproximadamente 55 anos,
chegou e ficou olhando. Apresentei-me e perguntei o que ele pensava sobre Can
Vies. Ele era morador do bairro, falou mal da reconstrução, disse que não estava
sendo bem feita. Além disso, não gostava do movimento okupa e, para ele, Can
Vies não era um lugar idôneo. A crítica do senhor, para mim, se referia à
transvaloração do movimento okupa. Os membros do movimento não pagam para ter
um imóvel; e ele era contra isso. Perguntei-lhe sobre o que pensava a respeito
da reconstrução feita por colaboração. Ele reafirmou que não gostava do local e
das pessoas. Por fim, fez mais um comentário: a prefeitura tinha que ter sido
mais dura com Can Vies.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Em todo o momento, tentei ser imparcial e educado para
fazê-lo falar. Não iria entrar em discussão com um senhor de idade, vizinho de
Sants. Apenas defendi a okupa dizendo que era um bonito projeto. O senhor foi
embora. Notei, próximo do local em que eu estava, um dos membros da okupa. Como
eu conversava com o senhor, não havia reparado nesse membro. Ele não havia
gostado do que eu fizera: conversar com um reacionário, contrário à okupa.
Desculpei-me e pedi para me explicar; ele ficou mais bravo ainda. Pedi calma;
queria resolver tudo na hora para não deixar um mal-estar pendente. Ele ficou
mais agressivo. Disse para eu me explicar na frente de todos que estavam
trabalhando na okupa. Eu só conhecia de vista duas pessoas. Elas sabiam pouco
de mim. Exigiram que eu dissesse o que fazia e quem era; queriam detalhes sobre
mim. Insinuaram que eu podia ser um policial infiltrado. Pediram para eu
mostrar meus documentos. Considerei a situação meio cômica e disse que não
portava documentos. Um deles mostrou os dele e disse: ‘agora me mostre os
seus’. Reafirmei que muitos me conheciam e sabiam exatamente o que eu fazia. A
pressão continuou. Todos estavam nervosos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Achei a situação, como disse, cômica, pensei até que eles
estavam teatralizando para que eu me apresentasse de forma mais detalhada, o
que eu não fizera com todos. Em certos momentos, eu ria; em outros, ficava
sério porque a situação estava sendo incômoda. Começaram a me pressionar, creio
que queriam que eu ficasse tenso, com medo, que estavam me testando. Como
afirmei antes, passei pouco tempo em Barcelona para entender o humor do povo
local. Depois disso, fiquei preocupado, estava com medo de que esse fato me
impedisse de estar presente na okupa. Fui para casa e, como tinha o e-mail de
pessoas do coletivo, contatei-os contando minha versão da história. Disseram-me
que era melhor enviar um e-mail para todo o coletivo, e fiz isso,
posteriormente.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A seguir, a cópia desse último e-mail o qual está dividido
em duas partes. Na primeira parte apresento-me de forma detalhada. A segunda
parte explica o mal-estar. Em seguida, como fiquei sem paciência de esperar
resposta, enviei outro e-mail, transcrito mais adiante, fazendo petições, como
uma entrevista gravada. Responderam-me pedindo desculpas pelo conflito e
marcamos a entrevista. Esta durou mais de uma hora. Quem me atendeu era um dos
membros mais ativos da casa. Para mim, a desavença, mesmo que tenha sido um
pouco incômoda, foi muito produtiva em minha etnografia, pois aproximou-me do
coletivo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Penso que a forma como estava agindo, em certos momentos,
talvez não fosse confortável para o coletivo, um estranho, não conhecido por
todos, frequentando o espaço, constantemente. Nunca atrapalhei a rotina da
casa; se alguém não queria conversar, eu não insistia, porém, pela natureza do
trabalho, me via obrigado a estar, ao máximo, presente e contatar o maior
número de pessoas. Alguns na casa já me chamavam pelo nome e conversavam
naturalmente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Além disso, no Casal Tres Lliris foi questionada minha
presença. Ao abordar um grupo de garotas, que reconheciam minha frequente
presença na okupa, elas me disseram que me consideravam suspeito. Estavam
intrigadas pelo meu interesse na singela okupação; me indagaram por que eu não
estava fazendo pesquisa em outros locais com maior visibilidade. Contatei um
outro membro e expliquei a situação e ela foi contornada. Por fim, a entrevista
cedida a mim pelos membros do Casal foi exatamente encabeçada por duas
garotas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Finalizo essa parte,
com essas considerações, e apresento, nas próximas linhas, as cópias das
conversas por correio eletrônico com o coletivo de Can Vies. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Como são e-mails e para criar
uma imagem de proximidade não me preocupei em produzir uma escrita culta,
formal, com correções detalhadas da língua espanhola.</span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326719"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></a><span style="mso-bookmark: _Toc444326719;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;">Primeira parte</span></span><span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Hola<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Soy
investigador brasileño. Estoy haciendo una estancia en la universidad de
Lleida. Tuve una discusión con un miembro del colectivo. Después, escribí un
correo electrónico a Vanessa explicando la situación. Ella me dijo que
era mejor que yo les envié por correo electrónico a todo el colectivo.[…].
Desde junio, he estado presente en can vies. He contemplado la reconstrucción.
He hablado con la gente. Vi un par de asambleas generales. Asistí a algunas
reuniones de la comisión de actividades. Siempre pregunté a la gente si podía
estar en Can Vies, mirando y hablando con la gente. Siempre he dejado claro que
soy un investigador. Y por lo tanto, siempre he tenido una buena acogida. Para
mí, siempre era mejor hablar con la gente porque no hablo catalán.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Propuse
en una reunión de actividades una conferencia de mi mentor: Carles Feixa. pero
al mismo tiempo me dije que no era una buena idea. Creo que Can Vies funciona
mejor como un lugar de expresión de la política de minorías. Creo que el
discurso académico es demasiado formal, y sólo se lleva a cabo a través de las
burocracias. y el espacio para el discurso académico no le falta. ya la
política de minoría, ya sea de géneros o Antisistema, carecen de espacio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Yo
estaba triste al saber que el centro sería cerrado por un tiempo para las
actividades. en verano, las actividades más importantes que asistí en la ciudad
ocurrieron en Can Vies. en otras áreas importantes acontecimientos sucedieron,
pero no como el centro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Creo
que la organización interna es impecable. el proyecto está funcionando muy
bien. asambleas combinan el rigor y la alegría. la gente hace política, pero no
renuncian a intercambiar afectos. Esta es otra política. Yo comenté en una
reunión de actividades que me fascinaron cómo se les negó símbolos dominantes:
el trabajo manual se mezcla con el intelectual; quien está reconstruyendo con
sus manos el centro está produciendo conocimiento en las asambleas. el trabajo
masculinizado también se hace por mujeres. las personas que gestionan el centro
son en su mayoría jóvenes, y vivimos en un mundo donde los jóvenes están
dominadas por los adultos. y todo esto se hace mediante la colaboración, la
autogestión, la autonomía, niegan el control de lo capital y el estado es
decir, el sitio es un proyecto contra el control.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 24.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 24.0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Toc444326720"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; text-transform: uppercase;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Segunda
parte</span></a><span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Hola<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Comparto
una situación que se ha producido hoy en Can Vies. Fui en la okupa a las 18h.
Hablé con algunas personas; estas personas me explicaron las medidas que se
están tomando en re-construcción. En un momento, me di la vuelta, y me paré en
frente de can vies. Yo estaba fumando un cigarrillo. Un hombre se acercó.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Yo
estaba interesado en saber por qué estaba allí mirando. Me acerqué. Le dije que
yo era brasileño, y estaba en Barcelona investigando. El Señor en la
conversación era contra la ocupación, de hecho, tenía un discurso muy
reaccionario. Seguí la conversación para aprender más sobre lo que él pensaba.
También le dije que pensaba que era importante la autogestión y el trabajo
colaborativo. Pero seguí educado para aprender más acerca de lo que él
pensaba. El se alejó y se fue. Después de eso, uno de los miembros de la
comisión, que era siempre amable, me dijo que no le había gustado lo que había
dicho. […] Él me pidió que me explicara lo que había hecho con el grupo que
estaba trabajando. Mucha gente no me conoce, pidieron explicaciones acerca de
mi presencia. Al final, se me pidió que me presentase en la asamblea general,
para mí proponer estar presente en la okupa haciendo mi
investigación.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">En
cuanto a mi investigación… estoy haciendo un trabajo – crítico – sobre lo que
se dijo en los medios de comunicación acerca do que se pasó en mayo en can
vies, sants e en la ciudad. También estoy haciendo trabajo de kampo en algunos
okupas en Barcelona. Lo principal: can vies. Yo siempre trabajé con la
comunicación por eso mi trabajo de kampo es peculiar: veo, oigo, y escribo.
Trato de mantener mi posición como investigador, porque no puedo salir de ella,
y creo que un trabajo de colaboración por mi parte, bien, yo tendría que
permanecer más tiempo en la ciudad.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Después
de un tiempo empecé a tener ideas que podrían ayudar en la reconstrucción. Pero
voy a volver hasta Brasil. Por lo tanto, podría mantener mi contacto con la
comisión desde Brasil, para ayudar de cualquier manera que pueda. De lo que he
aprendido, can vies es un punto de referencia en la ciudad, en estructura y
operación. Por otra parte, su simbolismo siempre llevará en su historia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Tengo
un interés por la política minoritaria en toda la mi vida académica. Trabajo
con Foucault, Deleuze y Guattari, Antonio Negri, e estoy conociendo lo trabajo
anarquista pos estructuralista. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Pero lo
más importante, lo empírico, la vida concreta… Para mí ciertos espacios
anuncian un nuevo mundo. La gente lo llaman utópico, pero no es un pensamiento
utópico, es la realización concreta de que otras relaciones son posibles. La
experiencia de la descentralización, la autogestión, la colaboración, presentan
otros valores. Algo que vivenciamos e produjo una posición ética de inmenso
valor. El movimiento por otra globalización, el movimientos de 2011, las
okupas, mismo distintos, presentan la experimentación y el deseo de otras
realidades, concreto y real. Esto es lo que todos sabemos, pero lo creo e
estimo demasiado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No voy a
presentar un discurso de defensa de mi investigación. No voy a defender mi
posición, cómo me acercaba a la gente… trabajo de campo se aprende en la
práctica. Mi investigación de kampo está siendo una experiencia de aprendizaje.
Pero creo que, en realidad, de que nuestro contacto es importante. También
pienso que mi investigación ayudará a algunas personas en Brasil, y en Porto
Alegre. Creo que can vies puede ser un laboratorio para actualizarse en el
país. Puede ser esa la función práctica de mi investigación… pero creo
que un trabajo académico por su naturaleza puede poco.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">abrazos,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Diego<span style="mso-spacerun: yes;">
</span> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Após,
como não obtive resposta, enviei mais um e-mail<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Hola</span><span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Envié un correo electrónico hace unos días. Les expliqué
la naturaleza de mi investigación. La razón por la que estoy en can vies en
unos momentos. vuelvo a Brasil a finales del mes. Todavía tengo tiempo en la
ciudad. así me gustaría pedir algunos permisos: 1. Me gustaría poder asistir a
las reuniones de lo colectivo de actividades; 2. poder estar presente en
can vies. entrar en el edificio, hablar con la gente; 3. poder asistir a
la asamblea general. 4. También seria importante para mí hacer una entrevista
con alguien sobre la reconstrucción. eso ayudaría mucho en mi investigación.
5. cuando vuelvo a Brasil, me gustaría ponerme en contacto con la gente de
la colectividad, por correo electrónico.</span><span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">saludos</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">diego</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Por fim, recebi a resposta do
coletivo<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Hola
Diego,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Antes
que nada: disculpas por la situación tensa del otro día, queda claro que se
trató de un malentendido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Por lo
que respecta a tus peticiones una persona de la "comissió d'oficis"
que también ha participado en la de actividades se ofrece para atender tus
preguntas y explicarte lo que desees saber acerca del CSA y de las luchas
presentes y pasadas. Simplemente ponte en contacto por este mismo correo
electrónico con nosotras para concertar cita.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; text-align: justify;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">En estos días estamos realizando un
esfuerzo extra para la reconstrucción por lo cual las actividades se encuentran
suspendidas temporalmente y la visita del edificio no es posible porqué estarán
abiertos los agujeros que dejó la empresa de derribos (estaremos arreglando los
techos). Las reuniones de las comisiones se veran modificadas en estos días por
las tareas de reconstrucción. La asamblea general, si no hay cambios, sí se
celebrará el miércoles a las 19h en la parte de abajo del edificio (kafeta). Si
vas a venir este miércoles responde primero a éste mail para quedar con la
persona que te va a atender.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Saludos
cordiales!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 106%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 106%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 106%; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 16.0pt; line-height: 106%; mso-fareast-font-family: Calibri;">OUTRO
LIVRO – EXPERIMENTOS DE AFAZIA<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 106%; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Sobre a escrita apresentação do texto: Já tentei inúmeros tipos de
estilos desde quando comecei a escrever. Meu primeiro trabalho era de contos
sobre realidades delirantes. Em determinado momento escrevi um livrinho de
poemas médios, conceituais todos com linguagem de rua, mas que não funcionou e
ficou esquecido. Amadureci meu trabalho com um livro de crônicas, também
conceitual, que se centra em minhas experienciais principalmente na
adolescência. Esse livro joga com a linguagem de rua, traz situações
descontroladas, pode ser lido de qualquer forma, já que não tem um centro. O
estilo difere do estilo das crônicas do terceiro capítulo, mas há proximidades.
Como já disse na primeira parte do outro livro, este é uma linha de fuga, um
aumento de território, a tentativa de produzir o descontrole, de enlouquecer
pelo menos na língua. Deleuze fala em gagueira, estrangeirismo na própria
língua, aqui não invento uma nova língua, mas fujo dela dentro dela. As muitas
gírias, expressões de rua mostram a maleabilidade dela. Certas turmas em certas
estações, certos guetos em certas estações, os jovens, os marginais, os
drogados fazem isso, criam expressões que só tem sentido para eles nesses
momentos, e isso é poesia, considerando poesia como um devir menor da língua.
Eu uso muitas expressões dos inúmeros guetos que pertenci, e aliás, mesmo sendo
doutor eu não consigo fugir de certos vícios de linguagem de rua, quando falo,
seja em aula, palestra, o que for. E não só em relação as expressões, alguém
chapado de maconha, morfina tem um ritmo de fala diferente, mas lento, pausado,
baixo, calmo. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Alguém louco
de cocaína ou anfetamina tem uma fala rápida, dura, pouco pausada, direta, e
muitas vezes uma fala que não para nunca.</span> Quem está louco de coca não
quer parar de falar, por isso, conta histórias em detalhes, os mínimos detalhes
para prolongar ao máximo a fala, para falar mais.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A ideia do texto que segue surgiu quando eu com frequência comecei a
pensar em frases sem sentido. Me perguntei se seria possível escrever um texto
de pelos menos duas páginas com frases do tipo. Fiquei espantado que escrevi de
forma fluida o que será apresentado posteriormente. Me parece que é uma escrita
homogênea: há um ritmo em todo o texto, o escrevi tendo um ritmo imaginário me
acompanhando, estava na cabeça com o ritmo de fala de Glauber Rocha, e alguns
poetas que declamam suas poesias. Eu imaginei uma fala impostada, de leitura de
poesia tradicional, uma voz grandiloquente, grave, musical. Esse ritmo é
sarcástico já que essa voz grandiloquente não fala nada, já que as frases não
têm sentido. gozo, me divirto com esse tipo de fala. Como disse imagino a voz
de Glauber rocha, louco gritando e criticando todos. Mas é só a voz de Glauber,
não o conteúdo. <span style="color: red;">Mas tem graduçoes de ritmo no texto, as
vezes ele parece simplesmente um cara de rua falando, ou um cara louco de coca,
ou um acadêmico sendo sarcástico em sala de aula, <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">ou mesmo imagino o ritmo de fala para outro de uma forma
completamente séria, só que o que falo é absurdo, seriamente absurdo. Talvez a
piada no pós moderno tenha deixado de ser feita para rir, mas continua sendo
piada</span>. E as vezes há mais de um ritmo em um bloco de texto, e pode ser
dois ritmos que vao se desenvolvendo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Há em partes algo como ums história algo acontecendo mas não
acontece nada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Todo o texto composto de frases
absurdas, mesmo as mais absurdas que talvez sejam impossíveis de se ler, foram
escritas de tal forma com esse ritmo que posso declamá-las. No trabalho de
revisão, e foram muitas revisões, manter o ritmo foi central. Ou seja, as
frases não foram simplesmente jogadas no texto elas passaram por um tratamento
rigoroso.</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> Todas as frases são
curtas. Frases curtas permeia meu trabalho literário. As frases curtas ajudam
manter o ritmo, é mais fácil narrar, ler, uma frase curta, ainda mais que as
frases são absurdas, quanto mais longas, mais difícil de manter o ritmo. E
sempre achei pequeno burguês frases longas: escritas por aqueles que tem total
domínio textual, que se permitem escrever frases de cinco linhas para mostrar
seu domínio. Textos escritos para pequenos burgueses aqueles que conseguem
manter a leitura de frases que nunca acabam. O carinha de rua, o jovem, o
marginalzinho, eles falam rápido, com frases rápidas, muitas vezes a fala é
apenas gírias, expressões de rua....<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O texto é dividido em blocos,
os blocos <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">não narram
história ou raramente há </span>narram, dificilmente se encontrará sentido, há
muitas frases isoladas, que não se ligam a outras, porém, algumas frases e
parágrafos se conectam. No texto há graduações de falta de sentido, essas
graduações se referem a experimentações, ao mapa que fui montando, a pequenas
diferenças internas, as quais busquei, mas sem sair do conceito do texto. Me
perguntava: até onde posso ir, quais novas linhas traçar, mantendo o
conceito?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Certas partes são mais
radicais que outras. Certas frases são construídas como <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">as normais,</span> mas o conteúdo é totalmente sem
sentido. Certos blocos de texto têm um mesmo tema. Há blocos de textos com
frases que fazem sentido, mas isoladamente. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Há</span> um <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">narrador,</span> alguém, uma primeira pessoa que fala para uma segunda.
<span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Há</span> sujeitos, algo
como personagens, como <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Maria
Andrea, Mario Soares,</span> mas eles não agem, não tem história, são citados a
partir de um humor peculiar. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Há</span>
humor, e muito, pelo menos para mim. Também em estão presentes alguns elementos
de cultura pop, cultura drogada. Palavras de baixo calão estão em todos os
blocos textuais, como gírias e expressões de certos guetos de jovens e drogados
– aliás, se se buscam histórias em certas partes podem ser encontradas, pelo
menos por mim, e são histórias referente a sexualidade livre ao uso de drogas.
Ele pode ser recortado, como se quiser, pode ser lido de qualquer forma: é um
caos, mas organizado... com certa unicidade. Ele foi finalizado já que
talvez<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>nem tenha sido para ser lido,
pela escrita absurda. Mas o mais interessante que a escrita absurda flui, não
foi difícil principalmente pelo ritmo que está em todo o texto. Mas como também
disse:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o texto não é espontâneo, não são
palavras quaisquer jogadas na tela. Escrevi com calma, li e reli, re-escrevi,
tirei muita coisa, coloquei coisas novas. É necessária uma tal rigorosidade
para se criar um trabalho absurdo e caótico, considerando que quem escreveu
“Diego este que fala” é um bom cidadão, criado na academia, doutor e que ama os
animaizinhos. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">E
considerando que tenho experiência na escrita, que não sou naifi sempre estudei
literatura e artes, sei que enlouquecer na arte pode se transformar em qualquer
coisa nomeada de pós moderna.</span> Esse tipo de exercício é importante, já que
se realiza em um meio em que posso enlouquecer sem ser preso: a literatura, ou
seja, é quase medicina. E isso já permite um grau de loucura para o leitor. Se
alguém enlouquece na rua, na sala de aula, em casa, pode ser preso, mal visto
ou internado. Gosto de ser mal visto. Enlouquecer é buscar linhas de fuga dos
padrões – a prisão – dominantes. Enlouquecer na escrita; um pouco de ar, vida –
louca vida. Esse texto se refere a um devir louco, outro. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Não sou louco como estado e nem
quero ser. Isso não é literatura é medicina.</span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">COMEÇO DO TEXTO<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">.........................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">É, a gente
tava doente; daí a gente foi no médico. Ali na zona sul. Quinze reais, quinze
minutos, dez pilas e a gente leva de grátis receita de valium. Quem atendeu foi
o Doutor Sacana. Sabe? O Doutor Só Cana. Ele queria dar uma averiguada na
próstata do Tio Hermes. Só que ela, a Dona Próstata, já tava avariada faz
tempo. Coloque os pingos nos I’s ou use todos os erres. Não sei, mas me parece
que sessão da tarde nos dias de hoje rola de noite; e o que rolava de noite,
rola qualquer hora. Sim, é isso, muito bem, sempre, já que as cascas de dentro
do nariz sempre vêm com meio quilo de sangue. Por favor, meu amor, me chame de
meu amor, por favor. Coloque vaselina no cabelo e curre com a cabeça uma
mina-rinoceronte. Prainha da Macumba sempre foi cara pra dar uma banda nas
férias. Daí a gente faz a macumba ali naquela rua naquele bairro na Zona Sul.
Minha doce e amada puta, eu amo teu, nosso cú doce. Cuzinho com queijo e geleia
de morango. Os cocôs dela são os melhores. Eu não vou estar aqui, agora, e daí,
não me ligue, não ligue pra mim, ninguém se liga, tô ligado e deixa assim. Na
real: que se foda; melhor, vou ser honesto: que se foda; melhor: eu te fodo quando
você quiser, meu amor de mês nenhum. Colocar no forno só se for no domingo. Eu
durmo na sala. As calcinhas foram usadas, sinto o cheiro de longe. Meu Deus do
Céu Azul. Mina, se você vai no banheiro, não fale com o Mario. A Dona Gatinha
se fodeu, ganhou dez perebas naquele lugar que ela nunca viu e nem sabe. Saio
na noite pra pegar umas dores de corno. Não saio na noite, já que ela tá aqui.
Amanhã quem ganha os cornos são as vizinhas lésbicas do andar de cima. Ok, comi
uma puta de rua que fumava crack. Ainda quero fazer aquele curso de cerâmica. A
cidade voltou a ser a cidade. Não sei se existem helicópteros. Quebrei o
tornozelo e ela ainda quer que eu a carregue pelas costas. Toda cidade tem um
belo rio de merda aqui no país das loucurinhas. Vou soltar um barro, nem mais
volto. Frango assado se vende por dez pilas, galinhas são mais caras, mas ainda
são baratas. Coloquei o cú ao lado da caixa de som, meu cú está em estéreo, me
cú está muito dançante. Você ainda me ama, Dona Megera? Uma noite no andar superior,
por favor! Realizo sonhos por muito, muito mesmo, muito pouco. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">.................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A ciganada
veio pra cidade e em uma hora se foi. Eu tô lá faz tempo, tô lá, não aqui.
Sabia que a maionese que se vende depois da madrugada dá barato? Não, ela que é
barata, a mina que cuida da porta do banheiro. Ela que se cuide, disseram. Mas
ela já tinha entrado pela entrada também; é, meio que foi demitida. A
circulação para, parou, e ele tá mesmo assim, na esquina. Qual esquina? Entre a
Rua Mario Peixoto e a Rua Maria Desaparecida.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>A gente fingia que fingia, e sabia que não tava nem mais ai. Já disse:
tô lá, não aí. Me compra um charuto, me enrola um charuto. Veadinhos fumam incenso.
Mas as bocetas que fumam incenso e dizem: “namaste”, é malandro, são o sonho de
todo cidadão. Bosta de vaca, chove, e daí a gente toma um ar puro. Semana que
vem furúnculo na bunda. Que bom que o cú fica escondido do sol. Se bem que o
Carinha, aquele mano, tem palitos de fósforos que acendem no cú. Um cú
solitário é algo triste; um cú comunitário, bem, a gente canta parabéns pra
você. Levei o Sandrinho na banda das mangueiras longas. Ele riu, mas riu tanto
que molhou o banco traseiro. É, traseiro. Me explica, uma coisa. Não, na real,
dá uma banda. Tem muita gente por perto e eu fico tímido pra limpar os dentes
dela. A gente sabia tanto que só sobrava espaço pra esquecer. Se avião passa
aqui na frente, a gente ora por Deus. Vivi muitos anos entre aquelas pessoas
anos 90. Vivi tanto com eles que passei a acreditar que nem tinha ido para
Woodstock. Ele falava tão bonito que a gente cortou um pedaço da língua dele.
Agora ele fala como a gente. Banho de chuva na praia é tipo acordar as três
horas da tarde no meio do mês de março. Se tudo fosse fácil, tudo não seria
difícil. Entendeu filho, meu filho, meu filho da puta? Ela nos corneava; a
gente, sabe? Eu e o Mário e o Maninho e o Cabeça e o Ronaldo e o cara que tava
sempre na esquina dizendo: cara, que se foda-se. Os semáforos deram certo, eles
nunca piscam. Os tiozinhos ganharam aquele concurso de comer barata. É, escovar
os dentes ficou mais difícil. Ela pensa que tá em que lugar? Ela pensa que tá
“no morro, três da manhã, acabou o pó”? Ficar de quatro é só ficar de quatro.
Eu não fico nem de pé. Deito, sim; eu deito e rolo. O jogador perdeu a mão
pruma máquina que só funcionava de manhã. Ele nunca acordou antes do meio dia.
Me explique; não, fica na tua. Não é não e não é não, simples, não? O melhor
orgasmo é aquele do peito; mas síndrome do pânico é tensão mesmo. A diferença é
que os caras tão sempre dando uma de gostoso, e eu não gozo nunca, não sou da
geração goza-cola. Só que a Marinara, aquela gata safada que cobra cinquenta
por duas punhetinhas, ela só goza se o cara leva ela até o hotel com mais de
uma estrela. Ele começou a fumar crack para ver se dava uma acalmada na
loucura. Funcionou. Me paga um charuto? Faz que nem o Rafael, cospe nas costas
que ele não comeu. Sim, funciona, é só tirar da tomada, colocar os pés na bacia
e daí já foi. Já foi tarde. E eu que nem cheguei e nem vou. Tô mais em lugar
nenhum do que aqui. Não me ligue, não estou aqui. Não me acorde, não durmo
mesmo faz dez dias. Me compra uma revista do Batman. Coloquei a almofada no
lugar; é eu coloquei ela no lugar dela. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">...................................................................<span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Se me
encontrar não me avise. Ontem é um bom dia para você me beijar. Sim, faço isso
logo, daqui a uns dez anos. As hemorroidas não importavam, mas aquele herpes
nos dedos.... Que bom que não chupo dedos. Deve ser trauma daquela época em que
os bicos tinham gosto de geleia de morango. A tua cara estava muito bonita, não
gosto de caras bonitos; é, dei a garrafada por uma questão estética. Pinto mole
de cachorro é mais duro que pinto duro de barata. Quando eu durmo do teu lado
eu me sinto tão.... “então, deixa assim”. As tuas bochechas ficam mais lindas
quando bochechas <span style="background: yellow; color: red; mso-highlight: yellow;">significam</span>
bundas. Não entendo, quando tomo coca-cola sinto vontade de dar uma banda;
quando tomo todas, a banda já aconteceu. Eles viviam naquela época em que a
palavra caralho só tinha dois sentidos: pra cima e pra baixo. Hoje em dia, o
caralho não tem mais sentido; caralho desorientado. É um saco, dou a banda da
manhã naquela loja de conveniência e o general tá com os dois filhos. Sabe
aqueles dois? A loirinha gostosa daqui a dois anos e o filho dele, o Seu
Malinha. Choveu, molhou e não gozou – gozar é pros fracos. A dona bocetinha
magra transava com guardadores de carros naqueles dias que eu tomava valium.
Não sei, sabe? Os caras fecham as lojas de bairro, mas o bairro tá sempre
aberto. A sacana que vende fluoxetina é uma sacana. Ela vende por um preço
baixo, mas a gente tem que aturar o bafo quente dela. Sabe o bafo dela? Me
fode, mas não me beija. Se me beija, me fodeu e tamos certos. Atrás de mim,
não, meu bem. Diga meu bem, meu bem. Me vende uma pedra de fumo paraguaio. Ele
dava play nas máquinas de <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">pinbal</span>
da loja do Seu Otário. Mas agora não dá mais pra rolar os play, seu boy. Não
sei se a gente foi pro mato, e se eu tinha comprado duas garrafas de vinho,
três caixas de bolas, mas eu sei muito bem o que eu não sei. Tá achando que é
festa? Com dois cús se faz uma casa. Dois pintos e uma montanha venderam
milhões. Como ainda pão de manhã, já que você tá lavando a louça de dois dias
atrás. A gente dá um jeito. Se ela pulou da janela.... deixa ela. Dona Tia
Velha dá um tempo, quem é teu alfaiate? Meu gato mija na cama, mas não na
minha. A gangue das piranhas sempre vende aquelas merdas que faz a galera ficar
constipada. Não estou mais fazendo academia, mas vomitei na perna do Otário,
melhor, Senhor Otário, como ele gosta de ser chamado. Estou te penetrando com
jontex, não se preocupe. Se tem festa na madruga eu tento não descer, o meu
pau, que nunca fica descido. Não sei, já disse. A gordinha ficava puta quando
eu comia todas, mesmo ela comendo todos e todas e mais um pouco. A vida é
louca. Aqui no prédio tem mais lesmas e centopeias que na parte alta da cidade.
Oi tio de cabelo branco, como você está? Surf não é mais o esporte da moda, e
faz uns trinta anos que digo isso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">....................................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Tava eu e
o priminho. A gente foi se picar e ele disse: dá nada primo. Eu disse: quero
sair correndo. Ele: curte aí cara. Daí eu e o primo a gente foi ver o outro
primo. A gente tomou tipo dez garrafas de alvejante com coca cola. É,
goza-cola, na época que ainda nem era fode a cola. Mas a gente tomou.... o que
mesmo? E antes o primo disse, tipo semana passada: “cara, a Maria Andrea é mais
gostosa pra mim quando você olha ela”. Mas fica assim, foi lance de primos. Daí
a gente foi pro centro, o outro primo trabalhava no armarinho dos Soares, sabe,
o dono atual era o Mário. Que Mário? Ele mais que sabe faz tempo. Daí o primo
tava vendendo aviamentos e o caralho e mais um pouco, e a gente só na dele. Ele
era um gênio da aeronáutica, o primo, mas não sabia contar até doze. E o primo
vendia e vendia e a gente curtia e curtia. Dai o primo diz: “dá um tempo na
curtição, o seu Mário tá meio puto já que os quadrados da medusa são cabelos no
meu saco daqui uns vinte anos”. Mas a gente se curtia, só que ele era primo,
não era mano e nem mais. Daí a gente deu umas voltas naquelas praças que dá pra
mijar de pé sem que a polícia faça <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">com que</span> a gente mije sentado ou deitado. Aquela praça que a Dona
Naftalina comprou e disse pros primos-manos: “aqui quem manda é a puta de
jesus”. E meu deus dos céus, o que a agente faz? Daí, nem mais lembro já que a
gente foi jantar com a Marinalva a dona da loja que vendia biscoito doce; é,
aquela loja atrás do escritório dos Soares que nem eram parentes do Mário. Que
Soares? A gente nem mais quer saber. Quando o barato vira uma gosma nos pelos
do Velho Negão, bem, a coisa mudou de figura. Mas o que importa é subir é a
ladeira toda, mas sem aquelas bikes do inferno. Até que um dia o lance acabou
já que as coxas dela são mais que duráveis. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">............................................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Com quanto
cornos se faz uma canoa? Hambúrguer barato é caro nas segundas. Ceva quente em
qualquer lugar. Bocetinha queimada na areia. Eu fumo quando eu quiser, no lugar
que eu quiser. Nos últimos tempos tenho fumado nas verrugas ao lado do teu cú.
Deus do céu, minha deusa. E ela ainda canta aquela música que nem mais é
cantada. Toda a noite eu pego carro e vou até a fronteira. Daí entro na casa
dela em São Francisco do Caralho e como um banquete divino. Ela continua
confiando em mim. Eu sou esperto, não confio em mim de jeito nenhum. Não
entendo, elas gostam do que eu não gosto, mas gostam de mim. Eu nunca gostei
delas nem de mim, então tô em outras. Eu estou no lugar que devo estar, ao lado
das hemorroidas de qualquer um. Assassinei uns líquidos que saem daqueles
bisnagas de goza-cola. Gozei e não gostei. É caro gostar daquilo que elas
gostam. Diferente seria se eu fosse uma lésbica, e se eu fosse me comia bem
feliz. Ela abriu as pernas, eu passei por baixo. Putinha, entra no carro, mas
não seja doce demais. Namoradinha que não beija é minha namoradinha no início
do mês. Meteu no lugar que não era para meter. Geladeira, paralelepípedo, te
amo, e não mais. Dona Coisa eu te respeito, mas não use tanta naftalina entre
as pernas. Eu não sou um punk sujo. A gente ainda come frango dizendo que
brócolis é coisa de gente feliz. O tio prepara o cachorro quente na esquina.
Não dei o cú na viela já que a viela é a rua em que o Papa passa quando tá por
aqui. Sim, ou não, ou talvez: escolha! A feira orgânica tá sendo montada e a
cadela da Marta foi montaria de todos. Dei uma volta e não voltei. Me diz uma
coisa; deixa assim.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">..........................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Casa cheia
de ratos com barras de chocolate entre os <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">pelos</span>. Duas ruas, uma atrás da outra. Se ela
quebra as pedrinhas dá vontade de vomitar aquelas merdas tipo cabecinhas
cabeçadas. 120 por hora a toda hora e nem dormi. A Dona Coisa se foi, mas era o
Mário que tinha razão. José tá mijando na frente da praça. Pior foi quando o
Marco cuspiu no nosso prato e a gente teve ainda que pagar uns dez cada. Era
tanta loucura que só podia ser realidade, e sempre penso nisso quando esqueço
disso. Desatei o nó, fiquei meio assim com a série de TV, na real, queria cair
fora. Trinta anos depois tudo de novo. A gente nem sabia que ontem era um dia.
Amanhã não me ligue, não estou. A galera comprou aqueles alfinetes, daí a gente
foi preso por magia negra. Luizão deu uma de mamão. Morreu ao pular da janela,
mas só pra dizer: “pessoas, eu fiz isso pra fazer o que mais gosto, morrer”.
Acordar quando se está acordado dói a juntas entre os ossos dos dedos. Daí,
daí, daí a Daniela disse que a Ridícula tava saindo com Mário. Meio copo disso,
meio daquilo, mais aquilo, daí a gente compra uma casa num bairro classe média
baixa. Não quero mais saber daquela noite que nunca acaba, e eu não quero
acabar. Ela se acabou comigo. Tinha tanta dor de cabeça que morfina dava dor de
cabeça. Cabeças de alfinete, me rebite. Santinha vem aqui! Dona Coisa, já que
nem era, mas fique sabendo, desenrolou. A gente fica velho quando a gente fica
velho. Eu queria menos. Não sei o que coloco por cima. Cabeça mais uma
marmelada dá uma cabeçada. Cabeção nem tomava já que era como nós antes do
verão começar. Ela tava suando tipo aqueles baratos meio caros de 15h de terça
feira de qualquer mês. Comprei uma bicicleta. Já que está aqui me dê duas
pegadas. Me pega; te amo, por isso. O nome dela era aquele nome que nem mais
fabricam. Buraquinhos não nasceram na mesma época dos dedinhos. Se você quer
comer isso por favor lave as frases. Os dedos estavam sendo queimados nos
cascos daquelas éguas chamadas de “qualquer coisa rola”. Afinou-me. Duas
abelhinhas entraram no vaso e cuzinhos docinhos disseram: quero mais. Sim, eu
aceito quando ela quer me comprar batatinhas com aquele lance gosmento em cima,
mesmo que comida seja muito século passado. Queima, queima, queima, e lava as
flanelas. Pode me dar isso e dar outra volta tipo megafone de terça-feira. Com
quantas bucetinhas se faz uma canoa? A gordinha tava na parte de dentro daquele
hemisfério. Daí aquele tio, o Opala Tunado, disse que as chevetteiras voltaram.
Morceguinho de segunda feira, dane-me. Garotos fazem o que nunca souberam e nem
vai mais rolar. É meio dia, cozinha uma meia. Meteu as mãos por dentro e
descobriu que treze anos era uma boa idade pra se errar. E me erra! Comprou
todas as terças e foi demais. É ele sempre faz isso. Daí era cedo para se
chegar tarde. Sim, ela era demais. Me dá menos. Me liga tipo call center depois
da meia noite quando eles nem acordaram. Café de madrugada de call center. Me
passa a dose de natal, quero vomitar no quarto ao lado. Ao lado, sabe? Tipo
naquele lugar que dói para a dona Ridícula. Mastodonte tomou aqueles lances
laranjas que o Mário receitou. Tomou e daí dormiu. No outro dia, foi dar “oi”
pro senhor Bidê, mas mijou de ponta cabeça. Seis horas mais tarde queria ser um
peixe boi. Se eu quebro as regras... é, o jogo acabou sem um 21. A dancinha
dela era legal. Namorei a Marta por um mês. No outro mês a gente sacou que ela
tava grávida. Daí eu convidei as Três Putinhas pra ficarem aqui em casa. Disse:
Putinhas, de aluguel, pode ser duas cervejas de cada por manhã. Daí elas vieram
morar aqui. Acabou o lance quando as cevas viraram vinho de macumba. Ele era
meu amigo, só que daí entrou naquelas de ser minha amiga. Sim, ela veio, amei,
mas pedi pra cair fora, tipo: no meu edredom só a Marta vomita. Vamos dar
aquela banda junto do rio. Vem cá, você me deve. E a pequeninha me pergunta:
“vai fazer nos olhos de <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">novo?”.</span>
Eu digo pra ela: o Mário vende ossos pelo mesmo preço daquelas escadas da marca
“nem me vem com essa”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Vovó fez muitos
docinhos pra festa. Bidês de cores claras ou gravatas de fimoses? Não vejo mais
nada daqui, tá tudo mais que duplicado; tipo, dobra a dose, seu Mario. Que
Mário? O dono da lojinha. Nem mais queria, só que na real se fez que não
queria, e por isso, mais que quero. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">................................................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Furei os
olhos e ela mijou atrás da árvore. Ela, lembra dela? Aquela mina tipo coisinha
dura, chata, sanguinária. Sim, ela, a que metia o Pablo por trás toda noite; a
que lavava os coelhos e depois comia batatinhas chinesas. Amarele-se junto ao
cara que come sempre um prato a mais daquilo que deveria ser caminhado. Lendo a
obra completa de Mário, o senhor Soares, descobri a real motivação dos
furúnculos nas bochechas dela.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sempre a
Aninha vem aqui e a gente começa a abrir as portas. As cevas quentes foram
feitas para serem amaldiçoadas. Malditas cevas de Cristo do Inferno. Barrinhos?
Era sobre isso que gente tava falando ontem?<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>A cidade está muito cidade tanto que os caras que moram nela estão cada
vez mais caras. Os carros aqui da frente estão com aquelas varizes que eu como
sem pagar. Me dói a maionese. E daí tava todo mundo dançando, e veio o Barrinha
de Chocolate e deu aquela dor na alma de todo mundo. Tipo vinte anos depois o
que tinha rolado tá escrito no jornal que a gente nem lê e que se foda. As
cachaças fugiram das ressacas, e as calçadas doem o cú. Não rola mais jantares
de fim de ano, tipo aqueles que a gente nunca foi. Me paga uma daquelas, mete
pra dentro e depois, fica para depois. Eu te amo sempre, desde que seja nunca.
Eu te liguei só que é melhor fingir que os teus lábios nunca foram corrompidos,
Daí o padre pode dizer na missa: feliz que sejam todos os anos que foram gastos<span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">.... e blá, blá, blá.</span> As
ferramentas da cozinha sempre ajudam já que nove horas foi ano passado. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Se ainda dói, entregue e venha,
e se foi tipo “nem sei já que não”, bem, é aquela mania de “a gente tem sempre
assim”.</span> Os discos mais audíveis estavam na casa do Getúlio. Vem aqui e
depois pega o lance e sai correndo e me trás uma equipe de alvéolos. Pau no cú
daquele que finge que ouve. Tá me traindo com a manada de três horas e meia a
menos? Sempre usei tuas cuecas mesmo que as nossas bolas joguem ping pong em
clubes diferentes. As escolas tavam fechando a contabilidade e daí rolou aquele
orgasmo no rio com chuvas de gorgonzola. Tava numas de cuspir na Dona Rídicula,
e ela dizendo: a vida pode ser assim, e mesmo assim, eu sou.... Se o banheiro
tá vazio, se ninguém peidou ali antes, a gente pode até pegar as camisetas e
lamber elas. O removedor de tinta é aquele lance que a gente ama mais que a
própria mãe, do Mário. Que Mário? O dono do armarinho dos Soares; Mario Soares.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">.....................................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A gente
sabia tanto que chegou um momento que saber virou coisa de padreco no fim de
ano. Eu ria no meio da rua, e as pessoas diziam: nunca vi um riso tão roxo
quanto o desse cara. Daí a gente sempre tava naquelas; sabe aquelas coisas que
só a Marta sabe fazer? Eu prefiro ficar sem, mas quando estou com, daí não tem
mais o que falar. A toalha que limpou os cogumelos dos ouvidos dela tá guardada
na casa ao lado. Me passa dez aí! A voz dela é tão chata que quando ela começa
a falar os assoalhos ficam com aquelas manchas que nunca saem. Vi aquela foto
num rótulo de lata de pomarola, daí fiquei com medo e corri. Era tão chata que
até os herpes das unhas dos pés bocejavam quando ela falava. Me dê quatro horas
tipo depois das cinco da tarde. Sabia que dá pra construir uma cidade de lego
com a quantidade de café que você toma nas segundas? O almoço chegou, e daí
todo mundo ficou tipo indo no banheiro e ninguém mais saia. Anos depois me
disseram que tinha ratos no no lugar que a galera fuma, e eles, os ratinhos,
faziam shows tipo cabaret anos 50. E quem quer perder o show? Só não deixa a
Andrea entrar. Quando a gente fica mais velho a gente sua mesmo se tá no posto
de gasolina. Ainda quero conhecer o Senegal. Eu não lhe dei a permissão, e me
dá a real: o que você tá fazendo ainda aqui? Era tão viciado em relaxante
muscular que nem ataque cardíaco o impedia de correr duas horas todo dia. Eu
não era naquela época, e nem ainda sou; mas meu nome tá no crachá. Ele de
vermelho e ela de branco, nosso casalzinho praiano de lagoa colérica.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">..................................................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<s><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Me mete um
transe, daí já são dois. Ela ia e cumpria os momentos, em menos seis dava
aquela conta maionese sem bem, eu meu, bem. Mas pode tanto me queria, mas pode
me dar baratinhas. Segue a questão. Nunca poder demais e demais que nem vai,
mas você vem, e meu bem, é. Dá-lhe porque, <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">meter-la</span> e a fé de poucos sempre nariz e suja e
limpa e a dona Maria comprou o fogão mesmo que a sal estive em pratos e nada
que estava quando pode ser talvez.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sim,
e não, e buffets sem placas com aquelas coisinhas prateadas que a gente chamava
de amor. Sim</span></s><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">, e o mais
importante sempre foi o senhor Talvez. Ele caminhava na banda comia aquelas
maniqueístas e depois subia o morro mesmo que querer mais fosse algo de semana
que sábado nunca quis. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Meritocraticamente,</span>
belzebus do nem sei. Meu paralítico. Meu esperma ainda ovário. Vamos ser, e te
compro um almoço no <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">mac
donalds.</span> Mas se eu quero ela também e mesmo assim rodinhas de trigo e
eles uau, uau. Meu amor. Meu bem. Gatinha do feno. Pedrinha no sapato de todos.
Andrea, rainha jugular, anfíbia oração, quando o time de futebol dele ganha,
ele brocha. E ele, é sempre <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">papai
noel, panetone, fim de </span>rabos, batatinhas douradas no sol de ninguém. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Boqueteamente,</span> dona
tauromaquia. Sal com fé e nem depois com pode ser, me isso, me tipo assim; oh
meus deuses e saias e vai correndo na esquina. O Mario tá com a Andreia e isso
não é bom para todo mundo. Paralelepípedo. Parapeito. Bolachas. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Palfium e aldool.</span> Se o
som tá rolando na esquina deve ter sido o isso que nem quis a banda na praça.
Os caras do rock gostam quando as mãos entram nos cotovelos. E aquela bundinha <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">de cú</span> duro e magro não é
do irmão da Neusa; mas ela tá sempre dando uma banda com os pode ser de sempre.
Meu cú é a magreza do oceano em teus olhos. Não sei porque Maria quer fazer
poesia mesmo que pauzinhos de verbos tenham aquelas duas gravides. Me vem,
quando eles se tiveram, e mantenha dois depois e me faça alcachofra no seus
meios, metade de peito de quem chupa, mas não é; e chuparam toda noite passada
e ninguém quis, mas todo mundo num pau duro e bocetinha nunca mais e paro aqui
depois me dá um rabo e o galo que se queria e jesus, deus, maria e adeus.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="color: red;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Odeio elas
todas, essas panturrilhas <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Ah tah,
saquinho de maionese sem etecetera de novo? Sai fora. Não queria nem mais
tomatear naquelas <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">azedisses</span>
15horas. E você ainda quer, ainda pede. Não tô nem mais nem menos nem os dois <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">jezusses</span> gêmeos de sola
de sapato que se vão. E todo, todos, digo nem mais nem menos, sim digo: me
compra um mais ou menos. De repente, sapo toalhinha, unha de dente, tatuagens
naquela, naquele... no nariz da dona Andrea já que ela tá alugando o ap, <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">sabe
aquele ap tipo:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>meu deus do céus! Sim,
lá mesmo. Aqui mesmo. Nada, mesmo, e eu não te amo mais. Chazinho dentro das
fimoses púrpuras. Lembra? Sim elas, sacos delas. Lembra? Minha porra sempre foi
maior que a tua. E isso era acho que não quando rola e talvez se sim pode ser.
Tão assim, assim? Não venha, não venha, placas de cor quase lá que nem mais
cola e rola. Ah sim, da cor, vomitei uma cor ontem. Cor é um saco. Odeio cores,
como odeio, odeio, como, como, mas sou vegetariano tipo aqueles, aquelas, sabe,
luzinhas meio pálidas de pentelho sem tomada. Sim, eu sabia, e nem quero mais,
não sei, já que os quando estão muito tipo o tio que vende paçoca na Mário
Severo. Que Mário? Mário Severo. Um cara muito Mário. Mala nos boquetes ela tá
pela banda, mas e eu puta que <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">pario</span>. Nem é nem vai nem, nem, vai, te dá uma banda e depois
conta aquela história que a gente deixa assim. Não tô nelas, nessas de alongar.
Vai pro borracha que te queria porque ela ainda morava na casa da Andrea, que a
gente chamava de fimose sem panturrilha e ela levava a gente para dar uma
banda. Vai dar uma banda. E mais, se a bunda é tua, pai nossos que estão nos
céus de meu deus, <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">que lady
gaga</span> deliciosa você está sendo minha Andrea paraguaia de canção
holandesa, daqueles holandeses que tão sempre na Bahia.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">E boqueticamente</span> falando, ela não engole, é uma <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">vegana</span> no inferno. Puta
que pariu demais esse tempo todo que a gente nem atrás daquela esquina estava.
Mas se para com isso tá meio que nada meu bem, tah, ok. Depois, depois, depois.
Não entendo porque você quis montar aquela loja, e depois quando não deu certo,
quis... isso, você quis e quis e casca de laranja dentro de guarda-chuva, prato
meia noite, é deve ser. Mas você sempre tão toalhinha, e aquelas coisinhas
saiam do teu cílio esquerdo e ninguém mais entendia; mate a frase longa demais.
Você está sempre mar aberto com rede de sacos e bolachas, aliás, gatos
torneirinha, e tudo mais. Te amo, dois pontos, terça feira; que horas são? Sim,
aqui quem fala é a dona panturrilha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Baguete te
asco como que são <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Manufiose.</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> Acordei. Baratos e é isso. Vamos ainda cinzeiro e supremacia racial;
é isso mesmo. Mantive com ela todo aquele tipo de assim mesmo que vagina sejam
aquelas coisas que nós... bem, abriu o verão. Isso que importa. Matava e
consegue já que o Daniel nunca Lucas; como eu dizia: eles pedrinhas e cú sempre
foi; é, exatamente, caveiras com legumes. Perdi o pode ser. Ela sempre estava
antes da 15horas daquela noite longa que acabou com aqueles nós; sabe aqueles
nós? Sim, nós sempre, e eles, bem nunca. E daí ela tava dormindo entre os vãos
daqueles dedinho e todo mundo começou a terminar, e no fim, a noite de terça
tava muito noite de ontem, e ontem não tem mais, porra, sempre. Por isso,
portanto, e daí, a gente sempre tá muito tentando. Eles quando inventaram
aquela rua tavam pensando que seria tudo tipo: oi, tudo bem. Só que meu bem, só
te digo isso: isso. E assim, podemos entrar naquele <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">pôr-do-sol</span> que dói nos ossos. Menos que
dois três é igual quando a gente ainda ouvia e o coração tava batendo, mas não
tava tão batendo assim, mas estava assim, e, isso entretanto, menos o porém.
Mertiolate de alfinete empinado. Eles não se amam da mesma forma que a gente
ontem nem cumprimentou o pobre do Mário. E eles não queriam mais, nem papel
filme, cervejeiro de merda, mas não gosto e nem isso mesmo. Entra aí. Vem meu
deus de mais. Braguilha aberta; e quando queijo, estamos dentro do herbívoro, e
ele não morreu. Comprou o disco e começou a contar aquela história que todo
mundo conhecia e daí todo mundo voltou para dentro; é tava quente. Mas nem
lembro. Qual é o seu nome? Comi tua ela semana passada e nem sei. Mas passas
com hemorroidas fundas nem doem como na época que nem existiam os buraquinhos
da Marta.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Outra <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">E mesmo
que amanhã seja quarta e daí hoje não.... bem, <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">maças</span> estavam com sapos e mesmo antes que
colírios. Em um mesmo quarto, entre aquelas coisinhas de tom sei lá, mesmo que
estiveram, não deu e mais que rolou. Meu grande ócio, minha grande libido,
nossa grande <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">ancestral das
rodilhas com</span> maionese. É nosso desejo contra aquelas <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">maniqueístas</span> flatulências
e de repente tudo foi. Mas espera aí; quermesse cultos tecido de farpa doce, e
metemos, de repente, crescido alho, caramelo, jogar queimada, um, que era dois
e sempre foi três. Não te digo mais uma fazia. Nem posso, marquei na jogada,
bolas de alfinetes masculinizadas em si. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Baratamente</span> por aí vai. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Maria Janete quebrada na morenisse aguda de
pós-balada na cara.</span> <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Pega
mais um, mete nas linhas seu Mário Seixas</span>. É que pode ser, e nunca
deixou claramente, e as alfafas se lançaram no que queima as marcas de velhice.
Meu receptáculo desses incrementos e debilidade. Eles nunca, e nós, os três
compartilhamos. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Seja mais,
e se sim, ainda entre nove horas, foi-se e sempre é, serão, e queria.</span> Me
dá na foice o que batatas. Pega arremessos de farda cor de seita. Já que tudo
isso era, é, mas nem florestas queimadas. Devia tanto que nem veio. As carnes e
os “que horas são”. As possíveis meio que nada com quebradas negras e rato de
praça. Era Santa a Maria. Era desodorantes. Era, era, era... já que índios, <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">caixas d aqua</span> e quarta
feira acordei ontem cheio daquelas melecas dores de juntas e cabeças coladas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">OUTRA<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Bafos de
garrafas nesses picos de lua almiscarados. Se é que nem surdina me tem e sabe
que foram. Magros, muito magros, e pontas de dedos, sim elas, subiam. Mesmo
assim, nem que nada restos e fincas e aquelas coisinhas que você nunca fazia,
mas eu adorei ter-te minha e o teu aquilo preto cheio de baratas. Sim, sapos, e
mais sapos, e <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">conta
corrente compartilhada no banheiro da praça</span>. E os teus sempre e odiosos
“crianças não podem entrar”, sim, eles eu amava. Me teve em toalhas de papel
sólidos demais, mesmo quando nem muito, mais menos e.... sabe? Podiam ter
construído todos os arames em peitos borboletas, mas ouve-se em algum lugar, a
grande expressão: pode ser. Manteve-se muito penas, tanto que os “achos”, são
cada vez menos difíceis de serem achados. Por isso, manteigas sem calabouços
estão sempre a esmo por cada coisinha que estamos achando nesses concluídos,
melhor, caminhos concluídos. Barra-me eternamente, por favor, nos encontros
tipo sapiência é coisa de banana corroída. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">E quando ela banaliza cada tipo de letreiro, isso se deve
as terças de tarde 15horas, e continuava na quarta, mas nunca rolava nos
sábados. Ela permanecia não muito alfafa desde que coisinhas reuniam os de sempre.</span>
Meu bem, isso sempre esteve claro, meu bem, sempre esteve, meu bem... e nós
podemos mais que quintas ou aquela lama em sapatos que fogem. Agora mesmo
estamos ontem; agora mesmo, joguinhos de incontroláveis, agora mesmo, entre os
tetos do <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">facinho demais.
Tô facinhos demais. Eles querem facinhos</span> de mais, tanto quanto as lentes
das tatuagens que entram nos alvéolos do dia de depois de deixa<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>assim. Me tenha e comemore todas as terças.
Eu tô numas de agosto inteiro. As palmas sempre batem até o fundo das janelas <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">marmoaradas.</span> E se o
coração apressado se dá? Porra na boca que gela escafandros, mas uma hora me
pega na esquina e leva ele pro rio e lagartos. Nessa cidade a gente fazia
alcachofras e era bem legal essas comidas meio holofotes. Bom tempo, choveu; é
que eu tava no calçadão do centro, nove horas, de terça de algum mês, e você
cagou eucaliptos pensando que nem era aquela quarta feira e.... depois, mas
antes e nunca e no meio da periferia. Elas respondem abutres, que na verdade
são cílios, e me toca e dá uma de besta sem estrada, tô olhando o relógio. Me
dá.... náuseas aquecidas de alvéolos. A praia tá quente mas nem chegamos.
Podia, mas nem caí estereofonicamente. M<span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">e batata-me. Acho calha te. Almofada-se. Tecladia-me.</span>
Respostas estão correndo nos pastos. Sapinhos ainda querem. Nós dois somos a
cavalaria. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Porque</span>
me pararam <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">a meia noite</span>,
<span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">terça feira,</span>
15horas, se não tinha mais sete gramas e da mesma forma nos amamos e muito,
nunca. Me pede. Eu pensamento em lugar nenhum, tipo verso <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">de kama sutra e ingleses</span>
demais junto ao semáforo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">OUTRA <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Sim, eu
concordo e sempre concordei e não vou deixar de ouvir rock em formato de caca
de nariz; sim, eu concordo: couve flor aquecida em pernas de <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">laminas</span> de faca sempre
são as mais saborosas, mesmo eu tendo hérnias nos foguetes. E aquelas bolas de
bilhar em quartos de pensãozinha de moça tipo ACM ainda rola; bem, isso fica
para os que ficam. Eu nunca quis penalizar pentelhos encravados na <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">segunda feira</span> de noite
quando o Mário Soares pegou aquela treta e ficou batendo papo na esquina, mesmo
que não chovesse; na real, era horrível. Só que ainda bate, bate e forte um
coração cheio de <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">alcaguetas,</span>
que é aquela palavra que os jornais insistam que ainda exista. Dois carros
passam aqui na frente, mas nem são dois, são.... não há ponto de vista que faça
com que eles, esse sucos pomarola, parem de escorrer os óculos moda anos
sessenta, que voltarão algum dia de nem mais sei quando. É, sou europeu demais,
em minhas... melhor, entre meus dedos, mas isso não significa que a cartolinha
daquela loja que vende barato seja tão importante quanto bater a cabeça; só que
o mundo extinguiu as cabeças. Tava caminhando entre nada e aquela criança linda
apareceu e vovó tava olhando aquelas folhas de amianto crescerem e nós dois nem
devíamos ser nós. Eles me importam. Me importo com eles. Mesmo que sejam
algodão duro e seco de lavagens na boca de vacas que nem mais querem comer; é
comida virou <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">demode,</span>
mas ser comido é mais quente que batas fritas. Esvazia-se a semente que estava
cheia de corações. Mentes <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">super
fluidas</span>, cacos de vidro querendo ser mais; um tímpano. Ali sempre estão
os teus possíveis, nem que se.... fosse, me dão, mas nunca disse, quero por aí.
Histórias parecem escadas, livros, motor de carrinho de brinquedo, aquelas
coisas que esqueci.... Sim, sim, sim, nós nunca podemos, mas sempre, sempre,
sempre eles algumas vezes queriam mais. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Amiante-se, globalize tua sola de sapato, compre dois ou
menos e seja isso; vamos, já que somos. E smothies de vitrolas duram mais nessa
coisa oca que você nem mais quer. Poderiam. E é realmente secante essas ondas
de parágrafos. Nunca matei aqueles gatos, já que sou fenergan com sorrisos.
Entre unhas, entre aqueles galinhos que nascem e depois entram na onda; entre
isso tudo, está você, que é sempre meu convidado. Só que meu bem: depois das
três horas da manhã a gente não compra nem paralelepípedo. E se gritinhos
deixam as terças é que isso é o que nunca mais e sempre está rolando. Fenda-se,
cerveja-se, musique-se, mas longe, lá na praia de Ipanema, e nem era praia, mas
todos mundo saiu dali com os sacos cheios de rua Paraguaçu, mesmo que
estivéssemos com o Bartolomeu da vila.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>A compostura está dando voltas no gramado. Nem comprei soda, tava muito
doce. E se supermercados ainda falam; eu falo mais: amém. E para ficar mais que
claro: isso entre tuas pernas dá uma correia longa demais no trânsito das
doninhas.</span> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Parte: ISSO ACONTECEU ANTES DE MIM
TODAS</span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Eu me
matei ela. E isso foi bom para todo, ou todas. Tipo praia no paraíso, com dez
sapos em cada mão, e mesmo assim, foi bom pra todo mundo. Só que na manhã
passada ninguém ligou, mesmo que metade do mundo tivesse plugado naquelas
genitálias de seda. Você ainda vai ouvir quando estiver no décimo andar de
qualquer prédio em nenhuma noite; você vai ouvir: me esqueci. Sempre muito a
gente sabia, a gente sabia demais, e sempre rolava aqueles húmus, e coisinhas
verdes, tipo musgo e sempre era muito do tipo: estava rolando, mas me prepara
um chocalho. É, você sabe e muito bem, eu sabia e muito bem, e todos <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">black sabats</span> sabiam bem
também; e isso nem importava, já que depois de quando eles alface, bem, foi bom
para mim. E se eu me prolongo, se eu continuo, se eu estou muito estado, se
nós, bem, somos, e se eram, é que isso se deve ao <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">cu que</span> compomos juntos. E eles podem compor
aquelas telas de aminoácidos, sem problemas, na real a gente fica naquelas de:
ai, adoro. Mesmo que a gente, muita gente na praça depois da meia noite. Sim,
nós dois sempre fomos essas línguas.... aquelas bocas que falam. Mas isso é
irrelevante, já que dói <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">o
cu no</span> ônibus. Imagina ontem, dona meia noite. Aeroporto das putas que
comem sardinha e, depois, meio dia me deixa meio tipo corredor de erva cheias
de micro poros. É que eu ainda não posso; melhor, eu ainda tô muito percepção,
com aqueles lances <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">hemorroidas</span>
e depois aparece o cara das estantes e... mas, micro poros tava rolando; e não
é não. E claro, se você me quer por três horas vai ter que parar com esses
baratos de duas mãos apertadas e calcinhas cor de rosa com os dentes cheio de
coisinhas que só fio dental compreende, mas que não importa.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Gengive-as</span> por mais meia hora e você sempre, desde sempre, desde
aquele sábado que foi amanhã, sempre tava lá por dentro. Ah, como eu estava por
fora e por dentro e por fora e por aí e desapareci e voltei e mijei nas calças,
mesmo estando com aqueles chinelos entre os bagos que você insistia para que
todos usassem.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">E é isso,</span> posso parar por aqui já que nós
paramos.... ontem de noite naquela esquina quando os ratos pediam microfones, a
gente só tinha aquele lance de sola de sapato; sabe, aquele lance? Que a gente
sempre usa quando tá com dores nos poros e daí a gente usa gasolina para arar
toda essa lama de argamassa. Eu já te disse: te amo; amo como você paredes de
argamassa corrida, que escorrem de ouvidos. E como, eu como, cebolas em
conserva já que sou um bom moço. E você é uma boa, tipo nuvem no escuro, tipo
macacos com gorgonzolas nas coxas. Mas <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">por que</span> não entre dois acordes? Aqueles tempos
malucos que o Márcio dizia estar convertendo <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">em para raios</span>, sem mortadelas. Ele, a Marcia, ela
era boa em enrabar quem ela queria, qualquer um que ouvisse todo aquele papo
sobre estrelas e duas janelas estão abertas agora na frente do meu quarto aqui
na fronteira de sorvete com <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">coca
cola.</span> A Marcia, né, ela ficou tanto tempo na casa do Zé que o Zé passou
a gostar de cantar moscas; daí a gente tava na sala estudando matemática. Sabe
aqueles tatames azedos que nem entendiam o dialeto dos merdas dos sábados?
Odeio esses sábados, ainda mais quando eles aparecem na segunda. Dói as
entranhas, as que antes rimavam com bunda, e vísceras calejam <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">porque</span> um sábado é grande
demais para caber numa cafeteira.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Parte
outra</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: lime; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: lime;">A gente só se fode quando está, quando se está
fodido. Ninguém vai te ouvir querem te foder. Mas as maravilhas da vida; bem é
só alegria. O nenê quer danda. Se paro por aqui, nem fui. Ainda não entendo já
que continuo. Se a tudo fica jet ski estamos por aqui. Dai o som robótico
estava nos robotizando demais. Era bom, foi, deve ser, e não sabemos: ela quer
mais? aonde, quando, como e já que? Não me sinto tão inoportuno quanto me
sentia quando ainda sentia. Não vai ser, foi e já era. O nome dela era oque?
Deusinha do cu de verdes faces? O caralho aqui do lado é meio dourado. Os
campos correram e ninguém foi atrás. Não posso mais e nem mais quero mas posso
mais e quero; o que voce quer? Ainda nem foi? Se pararam por aqui foi a
cachorrada, culpa ela, deixa em paz as lentes daqueles olhos que nunca vao ser
seus. Peca, pega, foi, fez e daí, quanto tempo até nem irem eles jamais.
Esquentou o clima da festa ela não tinha nome, elas só queriam, e nada queriam,
e tanto assim que já foi.... meu bem? Fica aqui nem vai. Fica aqui faz. Faz meu
bem, faz aquilo, jamais. E nem grita, sim grita, e nem grita sim, salivas e um
pouco mais, tudo isso que voce sempre, e nunca mais, sim voce fez. Nunca, mas
nunca, mas nunca.... mas vem aqui amanha é terça e a noite o dia a quinta tudo
isso é nosso para sempre. Esse mundo é teu para sempre. Para sempre, tudo isso,
o mundo e tudo mais, sempre, para sempre.... sempre. Tchau. Me compra uma gaze
para eu fazer um compressa no teu olho. Doeu? Só foi um beijo. Quer mais?
amanha não é depois, é agora; a goza!!!</span><span style="color: #5b9bd5; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Parte 1
quando não era quente <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Aquela
mina tá muito terça de noite, tipo aquelas terças de semanas passadas. Peguei
três barbas com ela, mas ela me disse que samba na geladeira pode ser e não
foi. Eles seguiram na avenida quando as bicicletas não quiseram. Pode ser, mas
não ontem. Existe alguma forma simples de não querer tomar aquela <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">agua</span> limpa demais que o
pôr do sol nem quis? A gente ainda amava ela, mesmo que a gente fosse eles, mas
dois eus por vez e nenhum outro mais. Melhor eu não ter convidado, e nem fui
convidado, o casamento tava muito cedo de manhã e a sogra sempre faz aquele
barulho quando pensa que tá quente; mas tá muito sem temperatura hoje. Se você
dobra a temperatura mesmo no calor o quente não congela mais do que deveria. Só
você sabe sobre o que eu estou falando, já que a gente compartilha os mesmos
dentes. Liquidificadores demais, riscos na lataria demais, dedos demais, tudo
isso dentro daquele gato mexicano, que nunca foi pro Texas mas sempre quis. Eu
não te quero <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">daqui a
pouco,</span> espere o prato esvaziar e me ligue, mesmo que eu não esteja. Eu
nunca estou demais nesses últimos dias. Você não ligou pra ele, ele tá triste e
o Japão continua no mesmo lugar e os dentes não rangem como deveriam, mesmo que
não seja muito prudente, nem muito educado. Se eu abri a porta é porque estou
no meio da rua a pé esperando aquela bicicleta que vende bíblias em formato de
pdf. É, o problema é seu, você que não escovou os dentes, mesmo que terça feira
seja ainda muito tarde. E eu também gosto de praticar, cada vez que bocejo emagrece
os pelos do meu nariz que parou de cuspir já que não tenho mais tanto tempo
assim; é terça feira eu disse e tá muito tipo areia em caixa de gato, se é que
eu sempre existi. E não prefiro, veja bem, nunca preferi você depois daquela
sala cheia de gente, com dois armários na parte de trás e ele bêbado na parte
da frente do carro. Não tenho mais tantas <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">15horas.</span> Talvez eu venha a ter mais. Mas nem sei
se devo. Acho que eu tô semáforo demais, tô calafrio demais, tô cera e ouvido
escorrendo demais, tô azeite de oliva com acidez mínima, e, mesmo assim, ela me
pede para que eu use aquela blusa com aquela cor que nem sei. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">É que ela é tão nova que na
época que nasceu não existia mais anus.</span> Eu sou mais anos de praia, na
minha época <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">anus</span>
vinha de brinde naqueles saquinhos de avestruz. Pode parar, ainda mais se você
nem começou; eu não terminei o ano passado mesmo que já tenha passado uma vida
toda e todo mundo tá no meio da tarde no velório da minha tia, que não é a dona
Amélia. Aquela mina que eu conheci depois daquela festa interminável em que
três horas viraram copo <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">dagua.</span>...
não, nao foi no after. Isso tá tão ótimo que nem me dera. Esforçar-se nas
terças tipo <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">15h</span>
deveria ser algo tão perigoso quanto parapeitos na espuma daquela praia. Eu não
fui ainda, por isso estou parado, mas voltando, <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">porque</span> eu realmente não quero me esquecer de
lembrar que ontem ainda será tipo geladeiras ancestrais e furos de parafusos
grelhados naquela chapa de ferro que você tanto gosta. Eu poderia ir, mas eu
não queria ainda. Não me contaram que eu nem fui e nem quis. Eu parei de fumar,
<span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">as terças as 15horas de
qualquer dia ou noite</span>. Cavalos pastam e não posso parar; não posso, mas
nem quero, e você nunca soube bem disso tudo. Você permite que eu entre
naqueles quadrados azuis que você nem estava desenhando, mas que a gente sempre
entende muito bem? Apesar desses descolorantes de cabelo de amor que você diz
que ainda tem por mim, nunca esteve aqui ontem algo tão pode ser como
estava.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Parte
aquelas que doi a língua<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Me sinto
tão só que nem eu estou presente. Odeio quando chove depois de comer ovos
fritos. Não suporto aquela mulher, sabe? O sol sempre tem uma cor diferente
quando eu o olho. Dói minhas costas depois que vocês espirram. Corri uma
maratona naquela noite em que estava dormindo. Vocês ouviram? Me parece que são
três horas da tarde. Deixe-me passar, ontem era domingo. Quando eu espirro me
dá vontade de sair correndo, mas nunca dá certo, são muitos espirros, tipo,
para se estar junto do lago. A água morre quando eu bebo ela? Tadinha, seria
melhor que a água fosse uma raposa. Melhor pra gente. Nunca ria nas terças <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">as cinco da tarde</span> e
depois nem venha dizer que eu avisei, mas você estava mais do que certa.
Naquela época que os punks existiam, tinha dois <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">blueseiros</span> naquele bar, ao lado de não sei <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">o que,</span> mas, na real, não
me lembro dos punks e nem quero. Hoje, depois de dez anos, blues passou a não
fazer sentido, e aqueles dois blueseiros pareciam policiais bebendo vinho
quando deve ser bebido. Você ainda não me ouviu e eu não sei quem é você;
queria que você não me conhecesse da mesma forma que eu não quero me conhecer.<s>
<o:p></o:p></s></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Outra <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Pelos</span><span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;"> no nariz são legais, quando a
gente tira no outro dia sai sangue. Sombrancelhas são massa, quando você me
cospe na testa não desce pros olhos. Mas para que servem bundas, é para a gente
cagar sentado? E só te digo uma coisa, se teu cu usa gravata o meu é
anarquista. Com quantos cus se faz uma boa festa, uma manifestação? Já <span style="color: red;">maria </span>nasceu na época que cú era coisa fora de moda.
Hoje moda é gravata. Não te vendo uma gravata. Te dou uma gravata. Pro teu
cuzinho ficar bem elegante. E tudo isso, e tudo aquilo e mais uns lances que
nem vou perder tempo de dizer... é e daí, estou aqui, com a Maria Andrea,
aquela mina sabe? Aquele que diz coisas maravilhosas quando tira a calcinha que
a avó, a Renata Andrea, usava. Falo assim tao próximo de voce, delas, de todo
mundo, porque você não me importa, eu não me importo, com ninguém, e muito
menos comigo. E a Maria Andrea é uma mina legal, daquelas impossíveis de serem
esquecidas, já que tenho terror de calcinha amarelas, com rendinhas, e
florzinhas, e mancha de semem, do pai do avô. Cadelas gritam, e gatinhas gemem.
Já eu nem fui no show dos Ramones naquela domingo. Odeio domingos e ramones já
são o que nunca foram, e se isso importa pra todos, que eles vão dar uma banda
com a Andrea Lucia, ou com a dona Ridícula, a tia do Mário. O verão chegou e
todo mundo voltou a usar palitos de dentes. Se gengivas são legais, dentes
amarelos, e tudo mais, prefiro que a bacalhonada seja com azeite. É tão difícil
assim? Sim é tão.... esqueci o que dizia me liga na terça depois das 15horas,
porque 15 horas aqui no meu ape são a madrugada da tua desilusão quando você
explode em sabor de frutinhas vermelhas e não a cara da Andrea. Babaca? Sim,
sou muito mais que isso. Pode ser, rolar, deve, e se não rola, deixa assim, já
que de areia em caixa de gatos nossos pentelhos estão cheios. Me diga: me diga.
Não, me diga, exatamente o que; bem aquilo que só você sabe, e que você sabe
tanto e por isso que a gente abre os ouvidos para ouvir. Você é o pente fino
dos meus ouvidos, por isso, amo você. E se de cu a gente falava antes é porque
tomar no cu pode ser isso tanto doce que você faz com a língua. Não são as
circulares, nem as retas, nem meias de seda; depois que você sair da aula de
francês ali na zona sul naquele cursinho do lado da padaria, naquela que você
compra presunto e queijo, depois, eu te explico e muito bem, meu doce docinho,
Maria Andrea. E eu amo ser teu amante, aliás, gosto muito do teu namorado o
Willian Doucu, aquele lorde daquele país que se toma todas o tempo todo e nem
se acorda depois já que noite e dia lá na terra do Willian foram abolidas nos
anos... naqueles doces anos. Mas eu tava falando agora com o Mário Soares, o
dono do armarinho dos Soares, e a gente combinou de jogar uma bola; é que giz
de seda ficou caro demais depois que as montanhas foram impedidas de fazer
neve. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: red; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Parte
três fugiu pela dor de dente <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Quando faz
sentido fica mais difícil dela gozar. Eu não gozo quando ela tá afim que eu
goze, mas mas eu gosto quando isso não acontece. Gozar me <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">foge da regra.</span> Eu, eu
gosto quando tudo é regrado. E se não é, bem, a gente deixa esse gozo pra outra
hora. E mesmo que eu fale a língua qualquer, aquela que todos falam, a gente
não ia se entender, e isso não ajuda a gozar. Você goza com qualquer cara. Eu
acho caro gozar com qualquer uma. Mas cada um com seus espirros. O meu parece
que tá voando junto daquela nuvem de fumaça, tipo três horas da tarde em lugar
nenhum. Algum lugar. Deixa eu pensar um pouco. Não agora. Mas quando vamos para
o exterior? O tempo sempre tá mais agradável aqui do que lá. Pensar dói. Acorde
depois das dez da manhã. Domingos eu gosto de fazer a barba com <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">lamina anti derrapante</span>.
Minha cara tá cheia de fuligem e.... e aquele lance gosmento que você me
emprestou, faz uns dez anos, e que nem mais tá comigo, deixa assim. Assim é bom
pra gente; tipo depois da <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">agua</span>
ferver, a gente vê que aquele fogão a gás, aquele que tua avó, a dona Neura,
comprou, tá tirando férias na colônia.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Você
naquela época de que hidrantes, talvez<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Amei e
nada quando era você nem deve ia e foi. Não tenho <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">onde</span> estou demais hoje. Sou total lua e sol
nasceu, e o calibre era muito homofônico; daí tive que sair de lado quando os
jacarés comiam. O que rabos tanto? Em que veias nem foi? <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Porque</span> tantos tantos? Vai
em silêncio pelo amor de Eus. Terça feira você dia. Sim, terça feira. Terça
feira. Nem tantas <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">15h
horas</span>, mas por favor: terça feira. Nem nasceram, daí cargas de horas
morre o sol nessas segundas de nada <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">disso tem a ver</span> contigo. Cenoura, cenoura, e mais cenouras, isso
sim. Cargas de pão de centeio, já que nem tinham ligado. Não vou descer, aquela
corrida de taxi, nem vou areia do mar as <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">15horas</span>; sim, era noite, e com aquela mina que só
dizia: pois é, nem o paulista tá aqui agora. Deixa de ser tão grades de
laboratórios <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">femeas.</span>
Você nunca pode demais, e nem disse: dois <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">cus</span> são como <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">agua</span> entre o posto de saúde. Nem vai aqui, pode ser
menos já que nada, olhe bem, nada. Me comprou aquele estou caminhando nem veio
e os hidrantes tão certos. Nem podia, quando mesmo assim. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Vamos três horas da tarde terça
feira?</span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Parte mais
antes de quer isso <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Adoro
aquele filme: um Jesus Cristo muito maluquinho. Joguei futebol no melhor time
de todos os tempos, o <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Cartel
de Medellín.</span> Meti o creme na cara e nem vamos, mas sim. “Issos” vieram
tatuagens enconchadas na espuma. Os nem “fois” picos de branca nada de vamos.
Para que se nem parágrafos e suor na esquina dele? Telas e aqueles lance
orifícios. Você entende, lances orifícios? Escadas, se você nem pode, nunca
mais. É, estar.... é mais estranho que naquela noite quando eles se conheceram
e tudo ficou mais fácil. Mesmo assim, os dentes dos cavalos ficaram espirros
não me vem com aquelas. Sais e lama menos ainda foi. Cafeína sempre com aqueles
come canetas e pontas que são isso assim. Nem me fui com nada, já que subo
corridas. Deixa rolar o casamento e as ceboladas na fita azul. E é isso
Vanessa: rola, rola, rola; e quando rola, dói aquilo que a gente tipo terça
feira acrílica. Som barato azulado, correias, cordas, boquetes, tudo isso na
parte da frente da moto. É assim, mesmo que... mesmo que a gente entre naquele
e não vai. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Outra<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Nós somos o que nos Emos antes eram mesmo que
punks soltassem assobios dos joelhos de nada. Eu estive, sim estava, sim fui, e
eu era, mas quem depois de amanha lembra que a Andrea tava vendendo batatas
recheada ali depois daquela rua que a gente fazia o que só a gente fazia. E que
se foda; que se fodasse. Meu mergulho naquela praia depois de Imbituba que não
tem mais nome foi mais ‘baratos de quinta que o seu.’ E se os pudicos, os
mentes, os caralhos que gemem alto, se isso pra nós é tipo velinhas tomando de
sol, bem, isso sempre significou que a gente gosta mesmo da gatinha ronronando
nos braços do sofá branco manchado daquelas coisas peroladas que nem aparecem;
mas elas, todas elas, veja bem, todas, sabem que estão ali. Estão quando elas
bocejam, quando elas dançam, quando caquinhas do nariz saem do nariz; é, elas
sabem e muito bem, meu bem. Tranca meu saco na gaiola e depois meia noite. Rock
star selvagem, nem tô aí. Mas derrete, me derrete que eu te derreto, com aquele
fogão que a Lucia tava comprando, mas não rolou já que tava caro pra ser
comprado naqueles tempos que Maria Pessoa tava vendendo óculos para comprar
qualquer telinha que segura criança que tava correndo e depois nanou no colo.
Os ratos chegaram, montaram o cerco, na quadra, e ficaram. Os ratos. Sabe os
ratos? aqueles que estão sempre na praça; naquela que a vigilância sanitária
cobra muito para que liberem a chuva. E daí o grupinho de garotinhas de terça
faz piquenique de <span style="color: red;">coco</span> enrolado com papel de
seda só pra dizerem pras amigas que foi bom, mesmo que não tenho gostado. Rato,
porco, e sapo, a gente chamava assim todos aqueles que vinham, faziam a festa,
mas não limpavam. Dai a Maria tinha que ir correndo até o mercado da esquina e
comprar <span style="color: red;">agua </span>sanitária e todo mundo de manhã
tomava <span style="color: red;">a agua </span>pensando que... bem, a gente não
pensava em nada. Mas as coxas da Dona Maria eram piores que as coxas daquelas
que vendem não no mercadinho mas no supermercado que faliu tipo faz dez anos,
mas a gente sempre está lá.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Parte três
não sei que horas não foi<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Ela limpou
os dentes, mas eu não fui, nem estou lá. Não me importa mais, cavalos comem
grama, pois é problema deles. Descarregaram todo aquele armamento que tava na
geladeira, e ela comprou vinho caro barato, no início da noite. Veio, jantou,
mas eu não tava lá, nem o recebi, e nem quero saber se o nome dele eu não
lembro. Cortei os <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">pelos</span>
dos dedos com aquela lâmina que já tinha sido usada e posta fora e deveria
estar na caçamba de um caminhão lotado de gente indo para qualquer cidade,
desde que eu não estivesse mais lá e nem aqui estou agora. Não me ligue no meu
aniversário, nesse dia, eu não estou. Sempre chamei ela de Vera, mas era
mentira, eu não comi a Vera, e nem quero ver ela. Morrer as <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">14h de uma sexta feira,</span>
junto daquele lago que nunca existiu naquela cidade praiana, é muito fora de
moda. Eu falo outras línguas, desde que elas não me toquem, não gosto de aftas,
agora vou fazer a prova de equitação. Saí correndo, sim, mas, na real, não sei
mais usar as pernas. A pele que resta nos teus ossos, são minhas. Sempre que
ela chega, ele chega junto entre as minhas pernas, e eu não os conheço, e eles
me conhecem, e eles não se conhecem, e eu não conheço mais ninguém. Sim, eu
nunca conheci alguém! Tomei banho quando saiu sol. Bom dia, pra você. Pra mim
continua estranho esse lance de estar em cima do muro, já que o muro não podia
cair, e eu nem queria que você fosse “a amiga” dele. Com quantas teclas se
compra um quilo de pão? Sempre tem cigarros baratos em cima da parte de trás do
armário. Eu não podia ir, fui, mas não voltei. Eu nunca mais vou voltar. Eu
prefiro continuar indo, mas, ao mesmo tempo, ficando aqui, junto do poste. Que
horas são?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Tinha bons modos. É
impossível caminhar as três horas da madrugada, prefiro cascalho do que concreto,
e paredes lisas de massa corrida continuam me deixando com dores nas unhas e
nos cabelos. Os pelos de barba são importantes para ela, os que estão em algum
ralo, as sete horas da manhã.<s> <o:p></o:p></s></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Parte 4
porque o sapo? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Três
engradados de cerveja aqui, não estão aqui, eu estou aqui, mesmo que aqui; que
horas são? Não posso mais, não <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">porque</span> eu quero, mas é que eu podia e não vou estar aqui quando
você não estiver. Não posso sentar nessas cadeiras, nas três ao mesmo tempo; me
explique a situação? Não confio nas noites, prefiro a areia que está no seu pé,
depois que você foi demitida. Eu estou errado? Eu sou errado; eu ouço errado,
eu compreendo demais o que nem queria saber. E nossa reunião mensal que
acontece todas terças; hoje é feriado e não domingo. Você até pode tentar
fugir, se você estava certa. E de qualquer forma, veja bem qualquer, de
qualquer forma... esqueci. O <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">por
do sol</span> tá muito punido. Eu estou muito baseado. Não se coloca ketchup na
via férrea, pelo menos não nesse país. Ouvi todas aquelas bandas tocando
marchinhas de carnaval, entre aquelas sequoias. Eu vejo tudo azul, já que meus
óculos de sol.... na verdade, ele é de grau e acabou colírio, mas tem água suja
aos montes aqui do lado. Eu não sabia que era inteligente, ela, depois eu.
Tanto faz se você gosta de gritar quando não está comendo. Líquido azul sempre
sai do meu nariz, que, na real, são suas orelhas. Mas, mesmo assim, sempre, eu
sempre te amei, depois de segunda feiras, as três horas da tarde esperando
chegar.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E eu gosto de você já que você é
uma pessoa muito nove horas da manhã. E a gente combina nessa feira. E de tarde
tudo fica mais simples. Não sei se os carros não estão passando, naquele
momento, em que nós vamos. E se tudo, tudo, já foi dito, eu digo: não queria
mesmo ter que falar com o Paulo, o irmão daquele cara que a gente... que a
gente.... Note bem: o precipício é meio soldado naquele canto. Comprou todas
aquelas equações e tá com cara de quem está mais feliz do que a Dona Margarete.
Fechei a porta do carro, mesmo ela dizendo que o nariz estava doendo, naquele
lugar, entre os pelinhos da barba.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Parte outra</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Já que nem
sim, mas foi. Amou, deve isso, mas já não. Nem rola, me dá, pode ver que já era
e nem tanto, mas deve e dói mais que sim e isso diz que; disse: já fui. Loira
meio rusticidade de nem quais eram. Mas isso que importou: ontem de noite em
qualquer dia e se sábado vai ser é devido, já que eles nem deixaram aqueles
feixes de luz sem cor nem vem. As pastas dela sempre foram as mais de menos. Um
dois e três são perfeitos demais e nem só, vamos. Dá a real, que sarcófagos
notaram ela. A área daquele subúrbio até nem foi que menos eram, me disse e
continua já que indo. Não comi naquela mesa com aqueles caras nove horas. Isso
não é obvio, e você notou. Caminho doce com sal e portas de ferro sempre vem.
Se as pernas estavam coladas em coisas, jamais diga: me apartamento. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">outra</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Quando
ela, a globalização chegou, eu saí correndo, tentando fugir dela. Como eu tava
parado, não rolou, ela me pegou. E daí Maria Marta de Terças a Noite, aquela
mina legal filha daquele diplomata que vende doce na esquina, daí ela disse:
Mário Soares é meu menino especial. Sim, ele tem três cabelos, o cílio direito
tá no lugar, joelhos não o atraem, e quando ele come, ele come quieto já que
nunca foi pro norte; sabe o norte? Você tá de pé, de frente pra sei lá o que, e
daí você vira, se vira, vira maionese. Mario, seu menino especial, garoto
especial, tipo menu especial, tipo especial Roberto Carlos, tipo especialidades
da casa, tipo: hoje vou te dar algo especial. Mas se terça é daquela, quarta
não acordei, e quinta é quinta. Momento tipo três horas de sexta, e nem sei.
Saca?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Outra</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Odeio
quando eu pego essa aids de verão. É, todo verão eu pego. Um saco, eu pego daí
fico gripado, e depois aparecem aquelas manchas, daí eu trepo com o pessoal e
todo mundo pega, e fica todo mundo gripado e por aí vai. É um saco. Depois dos
18, sempre pego essa merda de aids de verão. Faz quantos verões? 20? Fico com
medo quando o sol nasce do lado do meu saco, o que significa: verão chegou. E
tava frio, e eu tava cuspindo aquelas porras verde e amarelo do meu filtro
branco; e daí, isso acaba, chega o sol no meu saco, e as porras ficam sem cor.
Eu sorrio, fico feliz. Mas aquela merda de aids de verão reaparece. Devia ter
uma lei contra isso. Não, eu não acredito em política, nem em vigilância
sanitária, mesmo que meu banheiro seja limpo nas terças; e a merda que ali é
cagada é meio laqueada. Sabe aquela merda, meio amarela, sem muito cheiro e
gostosa de limpar? As festas na casa da Maria Andrea ficam legais quando todo
mundo dança samba, toma vinho e depois cai fora e nunca mais volta.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Parte .... eu estou muito achado hoje</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Cara,
deixa de ser tão sapo <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">as
15h de terça,</span> já que você não mais consegue e nem quer; e eu nem quero
mesmo, entendeu, cara? Se rola, deixa rolar, é bem simples. E mesmo que suas
pernas, gata, continuem com aquele parapeito do lado direito, naquele lado em
que o sol nem joga luz. Eu até podia ser, mas nem quero. Já o João Antônio
Filho tá sempre naquelas, sabendo que quando não se pode comer batatas, pelo
menos fica com os olhos irritados; tipo, como se diz: meus olhos estão muito
irritados de você. E não é uma questão do tipo, ela tá sempre comendo manteiga
quando a luz aparece. Eu até tenho vontade de cortar grama embaixo daquela
figueira. Nós, eu, você, e eu ontem mais você nunca, a gente.... até que eu me
esqueci que você ainda continua sempre sendo ela. E isso é bom, para os ossos.
Sabe aqueles pequenos insetos que aparecem quando a gente boceja? É mais ou
menos isso, mesmo que você prefira aquilo. E eu nunca atravessei a estrada de
uma forma tão elegante como está acontecendo amanhã depois <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">15h</span>. Deixa rolar umas dez
terças feiras, direto, que eu nem fico, mas estou, estou muito cachorro
correndo. E se eu quero, e faço e nunca vou fazer é que estamos naqueles
momentos de pedras e portas, todas muito expostas ao sol, e nem mais rola, já
que eu não meti gasolina no carro, mas bebi aqueles caramujos docinhos, e até
que não estavam bons; senão, o que seria, né? E daí, Lucimara aparece na banda
e a gente nem era a gente, e ela me disse que eu tinha esquecido de nem sei
quem <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">ou o que.</span> Eu
sempre nunca gostei dela de menos. E assim é melhor, já que aqueles esparadrapos
estão sempre em algum lugar tentando se esconder das terças feiras. É, como
dizia, aqui sempre é, quando ela estava, ele acontecia. E nem sei como eles
perderam aqueles 15 quilos num fim de semana que nem começou ainda, e nem quero
saber. É meio triste, um pouco, demais. Olha o calor que tá caminhando na rua.
E como eu nem estou ali, você ainda quer, nem me viu. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<s><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Seção: Eu
estou de luto pelo meu nascimento ano passado, terça feira<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></s></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<s><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Isso fede
a merda? Não, a bosta. Nós dois juntos quando nem as terças estavam, mas
comprando, os cavalos, em barulhos aconchegantes. porque? Podia nem teclas e
aquele lance que ela faz quando ninguém estava lá mas veio junto. Por que?
Mesmo que nove horas compro aquilo que nem tá meio que mesmo rolando. E estamos
na dose duas garças e ando quando nuvem de poeira. E nem mais tinha quando
viram e fios de luz naquela briga sem as tatuagens que nem me deram dele. Mas
mesmo que</span></s><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> possa vai ser rola
daquele nos interfones viva azulejos e boquetes de um tom verde mas escuro de
mais para a sala se chove. Você nem pude, vamos então aqui de tuas noias. Vem,
vamos, foram, o que, é talvez. E você pode até entrar naqueles momentos em que
ela ainda são, mas prefiro aquelas poças: sabe aquelas? Em que gelo fazia um
dois ou três. Me disse e seria, nem tanto por aquilo já que ele muito bem
edifícios entre as adições. Saia era numas de voltei e mesmo assim, você diz:
“mesmo você menos porém, nadavam manchas e micro pontos”. E aquela gatinha sei
que berros e cachos. É ele era em determinado momento. Músicas, e aquele lance
que sai da geladeira correndo, muito prata e uma sacada e nem sei mais quem
quando foi mas ia; “pode ser”, ela vem. Porquissimamente faz representação,
palavras nem países me viram. Três deles nem tardes, mas comigos e a entrada está
proibida, se prateado entrou não fui mas estou. Estou louco demais, não estou
maluco demais. Entre o ato e sai correndo não vindo, ela estalou aquele lance
estranho que não conheço, mas disse que nem mal seria, mas adoramos, pode
chegar mais. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">outra <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Meu mestre de yoga de sábados a tarde depois de
todinho de manhã, ele disse que eu tenho que enfrentar os meus medos para viver
em paz. Oh paz. Dai eu tava em casa tipo três da madruga de terça, hora boa pra
meditar. Tava lah e como tenho medo de altura eu pulei do vigésimo andar. Não
deu certo, continuei com medo de altura. Daí eu entrei numas, bem pode dar
certo depois. Daí eu pulei mais umas vinte vezes do decimo quinto andar – coisa
de gente viciadassa em sabedoria, trans oriental e bah. Mas não deu certo,
continuo com medo de altura. Daí depois disso a coisa ficou mais amaraleda,
comecei a ficar com medo de cair. Daí eu to caminhando na rua e tenho medo de
cair no chão. To dentro do carro e to com medo de cair no chão. Cair no chão
dói, eu sei disso porque caí do chão umas cinquenta vezes, tipo decimo sei lá
andar, nas terças, daquelas madrugas massas que só a gente tá ligado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Parte vez
quem foi <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A dona
solida demais e eu to muito baseado ontem. Nem me foi que sábados para terças.
Mas me diga: rabos ou entre dois? Se devessem estiveram, nem me foi quando. Mas
disse que aquele barroso era pouco herpes atrás. Me canta aquela farmácia e seu
sai correndo ano que vem. E nem to ai; jazz, sem mármores, vai mais. E era
ainda muito batida de coco. Aquele japonês não entra que ta hemorroida. Mas me
diga: nada de quando era. E assim. Na real. Na boa. Nem sabia. E era. E.
quantos ‘Esss’; me dizia. Era e para ser lontras cadeados e partir para o Rio
nem é tão imanente assim. Já que ela sempre sabia, e sempre, era sempre mesmo
quando sempre era depois de terça feira a noite, mas 15horas meu amor. Meu
cabelo sempre dói mesmo que farrapos quentes era foi. Podia me iriam se sim
essa vai. Comprar coisas entre eles me dava o que carros de boi. E se tudo fica
tão semáforo laranja sem aquele verde que corre, sim, sim, sim. E de dia que
era ano passado antes dos dez últimos anos, mesmo que eram. Quando? Exatamente
isso. Voce sempre sou mais do que ele. Mesmo que nós sejamos cactos em latinha
de sardinha com aquele suco de groselha que sabe mais. Não diga aqui gorilas
porta cordas e ali tá escrito fachada de cara marrom. Saio. É, e esses
exatamente me percorrem toda ponteiros de manchas de cigarro nos alados vai. Me
dá uma dez desses que correndo não posso, mas deles gosto e quando; isso mesmo:
quandos! Ela dizia que aqueles corressem eram muito para nós e mesmo que nem
que foram porque. E dai já quero me matei porque estava aquele sol demais, e
não podiam, mas não carro sou. Já tá mais que real. Aquele som não se repetiu mas
vai desde ontem cabelos e nós estamos naquele barco amanhã com o rio soprando
aqueles gays meio madeiras. E mesmo os mesmos já eram os aqueles e os ontens
são muito mais que mdfs portas de closets. Não quero, não quero, não vim depois
de samba acordo qual tímpanos durou três horas, mesmo sendo terça feira,
15horas. Mas voce é aquele que mais não quis me entender. Dói dentes cavaram os
roxinhos dela sempre enm assim. Mas quando ela me diz: tela mágica estrela
manto dourado; daí eu nunca amei antes das sete horas. Mas se continuam aqui
macacos comigos sempre. E é tão, mas tão, mas tão, vide o rasgo punk época tipo
assim. Sim, somos, mas nem que vamos eles quebram, e o dia nem vai nasceu. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Barrinhos
tipo anos 80<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Me pede
abelhas quem foram mas porra. E ela nem ontem mas era linda. Vem que sins,
muitos sins, e isso nos com quem laminas. Era naquele século que comigo mesmo
ela sons da noite vaquinha sanguínea. Pura nos cervejas, e lentamentes, com
aquele lance que a gente mastiga mesmo que cheirando; não entendi já que os
sacos rock anos 90 em qualquer lanterninha de nunca fomos. Mas se voce vai,
tome uns calotas que se cagam, entre os vais e é isso aí. Ela já nasceu por
aqui e por isso nem com carnes e uma placa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Seção –
mastigo os aqueles próprios negros de quem não eram, mas foi <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Mate isso;
Mate aquilo! Me toma quando! Fazia! Magrice! E quem era naquilos bateram sei e
não. Beijasse foi me ardesse mas não. Porra, faz e nem. Gostava ainda ali me
isso porra que dedos estão. Mas por que? Quando e pode nem era. Matando os faz
e pesto era as 9horas na geladeira dela que punhos aquece. O DJ ainda ainda, e
mesmo depois, ela ainda era que cafeteiras sempre continuam naquele pais.
Tendas, faço, espaço de linhas, mendigar, e quanto a tudo isso, aeroportos
sempre. Não venha já que ontem nem foi, mas existia, paredes quentes e peles
com hein mas assim. Vagininha naquela hora, e listras e mais listras e nenhum.
Se ela nem pode o que dera desejasse <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">amens</span> de novo e sempre. Faca-se merdinhas e as guloseimas nem me
dão se ardem azul. Guardador de carro, e sucos meio rosa se podia laranja e
quão longo devesse se então podia. E vai na listra amarela mesmo que preto nem
fosse. Se ama e nem quer é devido aquela mas isso não. E pode, e deve, e é....
mas nunca mais será e é isso que importou naquele dia qme que voce era eu e eu
não mais tava lá e via que era isso tudo. Mais mais mais tava rimando com uvas
verdes e mais pratos naquela redinha que parece as calcinhas da tua ninguém.
Mas se voce pudesse deveria ter saído daquela entrada e teria que ter cedo
demais é sempre tipo algo que nunca foi uma bela terça feira, tipo 15h. só voce
que pode e mesmo assim. Boca seca e paralelepípedos sempre nunca mas mas. Sai
correndo agora pro centro de lugar todos daquela entre violas atroz. Vamos danças
ser nem que sim não deve mas é de uma loucura de lado de fora da pele dele. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Outra
seção <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Mas sem
nem posso, no café da tarde estávamos. E sim, é sempre sim desde que
estivéssemos. Já que era, estou bem, sim, amo o que aquilo quando de repente é
demais, simplesmente, pode. Venha; venha. Sempre soube o que ele nem seria.
Amores. Mas quando ela abriu o que era para bem rolar, eu fechei isso já que
tanto assim. Estamos naqueles casos em que os beijos redes com; mas sim sempre
comecei. Linda demais mantem e merdas são com dois números. Rosácea era quente
com punk negro do sul do mapa holofote genital. Mas, mas, mas sem que ruim dado
o estenografo. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Hehehehe.</span>
Era sim. Esse com dez de muito cola de vidraças vazias. Almofadinha sempre no
lado direito. Holofotes. Isso tá vivo demais. E a próxima cantei no anoitecer –
exatamente isso. Ama-se e cafajestes. Só digo aquilo. Os transes que ele nem
teve; eles eram muito estranhos. Eu queria fingir que aquela juventude toda
armários. Mas por isso que nós tínhamos. Era ele e eu e ela e todos os que nem
estavam mas ontem foram pegos la naquela hora por são Jorge é legal. Me da uma
dose dessa foça toda e que eu me tenho aquele; hum; duas notas de viola sem ela
ficar mugindo o tempo nada era vai. Me liga, te ligo, se liga, e se sim, sempre
esses esses é que são aquela parte bem delineada de zona sul sem Amazônia
total. Pode teu cu pedia uma rugido de raposa. Era aquilo mesmo nem com dor na
juntas foram. Mas me desfia a ponta lisa naquele abajur e crônicas de estantes
e cachorrinhos mas magros queriam, e nem estabelecimentos nessas ovais de
salsichas que te encanam. Vamos la foram? Venha nem serão? De repente digitais
e impérios, merecem tendas de que voaram os calos. Se é, e pode, e deve e nem
que ontem, amanha voce estava. Perdidos quando a gente saia as três da
madrugada da praia descia até a parte sul do continente e voltava depois até
Copacabana. Era legal e ela sempre estava mesmo que os dentes faltassem na
porta da sempre. Eles saíram correndo e os licores salgaram as caixinhas de
azeite, e axé meu bem, ontem iria até a bahia mesmo que ela sempre tenha sido
tipo monte de merda em que nós nos amávamos. Batatas ainda existiam e espera em
dente de molho de soja. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Voces
são muito voceses</span>; meu dia e não fui. Aquele pais ficou tempo demais no
mapa poderia ter sido uma corrida de 100 metros. E mesmo assim, ela quer o que
meia noite a impediu a vida inteira. E me mente pelo que diga. Sinta aquilo em
qual carpete. Emagreça de novo e sempre de novo e sempre os teus fígados e
olheiras. Mas mesmo assim, naquelas nossas e sem quentes, daí ficará até em que
manteve. Por ali estava nosso abajur e por aquilo que entre eles fizeram os
pode ser. E nada, veja bem tudo, aquilo que me é, disse pode ser e nem quanto
quatro horas ainda significavam. É por aí <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Bebe e voce</span><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>gosta. Por isso eles se amaram na praia naquele antes de ontem durando a
vida nenhuma. E a gente que cabia escadas e catarros e nem que nem madeira
assada. Eles eram e devia <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">e
manteram mesmo sem mativeram</span> e nada era que devessem os barrinhos e
aquele projetil que foi e deve ter ficado já que a gente nunca mais viu. E
estou nada cansativo é devido aquilo que voce faz com tua língua mesmo que ela
não esteja meio drogada. É isso. Por isso. E deve ser. Naquilo entre muito
dedos e as duas aftas do cabelo da cadela que nem queria ser a santa da tua de
repente. Me azuleje demais e dai voce viu que nada acontecerá. Nós sempre foram
aquelas coisas tipo três horas da tarde na terça entre nós e <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">amens</span> com muito
supositório usado. Venha, pode vir desde que você não volte aqui. Se ela te
comeu os grânulos do docinho é que você sabia que isso estava acontecendo. Nós
somos sempre mais inteligentes que do que as navalhas mas nem sempre os soluços
dize: OI. Vai-te correndo depois de semana passada senão ouro e barulhinhos
fazem tudo isso mais. E nem que nem que nem que deveria e nem sei e nem quero e
nem que nem, mas que fique claro: era linda aquilo que ela deveria fazer e que
nós corremos e fugiram todos, todos aqueles. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;">Se eu seria, ela nem que me deu. Isso que fique claro,
mais do que claro, e que a gente entenda sempre: comer dois ovos é mais difícil
que de repente. E assim, tudo sempre claro: a gente se ama pochetes azuis e
aqueles DJS que nada sacam mas que são amigos de lontras depois das 15h orgias,
não 15 horas de terça de qualquer dia. Me diga. Me disseram. E nada. Fim, e não
rola, mas sempre quero.</span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Outra <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: yellow; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-highlight: yellow;">Sardinhas anamórfica de um feto que nem rola mas
terá sido não e não. Não não não nação não e sim e sim e sim na rela: sim ou
não. Senão. Me da um rola barato ia mas se não peca isso é de talvez. Amorzinho
de coisas na profunda e cuzinhos de rola macacos sem esta noite. Me mete me dá
faz aquilo que spo voce nunca mastodonte vem ca meu foice e vão. Buracquinho da
treta sem clas de tatoagens uberas e mata silvas. Mas me da me da e vai e vem e
não rola mesmo que peitinhos leucócitos jamais e eternamente tipo vem ca e da uma
banda meu unha encravada de cu com virias arenoso nariz polvo sapo e tudo isso
sempre em vão. Senão. Cuzinho mostarda. rapidinha na feira sem praça. Corroendo
os<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>baratismos e eu aqui em pensado na
real nos eu to pensão demais. Não eu to pensamentão, pensamentaçao. Cuzao e
cuzinhos que nem querem o que que falam mas regurgitam três holofotes acesos
para nem que me não mas se vem. Acendo meu nosso para deus e maria diz virgem
no ralo e nem tem mais caixa de som no samba que pirou. Ah, coisinhas, e cuzinhiso,
pintinhos e anamofaras frentissima do antro mais que manogoso e cu. Vem me dar
uma bofe de teu velho santa paria do sul e a gente tava morando na praia. Ahhh
cuzada; curiosa peste da rosa do nem fui meu bem mas gostei. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 106%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div style="mso-element: footnote-list;">
<!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/Diego/Desktop/LIVRO_2017.docx#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> Há
uma exigência do povo catalão de que seja feita uma consulta popular – o
referendo – para ser decidida a separação da Catalunha do Estado espanhol. <o:p></o:p></div>
</div>
</div>
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-72768972658358334452018-09-28T06:00:00.000-07:002018-09-28T06:00:14.833-07:00EXERCÍCIOS DE ESQUIZO ANÁLISE<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Hlk524370818"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><br /></span></b></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="_Hlk524370818"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Introdução
sobre o significado de esquizoanálise<o:p></o:p></span></b></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="mso-bookmark: _Hlk524370818;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A
esquizoanálise é o pensamento sobre a diferença e é um pensamento da diferença.
A diferença toma inúmeras formas: 1. nas linhas da subjetividade: percepções,
afecções, pensamentos, territórios existenciais; 2. em sujeitos: minorias, românticos,
ativistas anarquistas, marginais; 3. no campo do saber: principalmente na
transversalidade das disciplinas conjugada a outros campos como arte e ativismo.
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="mso-bookmark: _Hlk524370818;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O
pensamento da diferença, a esquizoanálise, busca, principalmente: 1. fazer o
mapa que permite experimentar a transversalidade; 2. perceber o valor dos
sujeitos e coletivos sujeitados; 3. perceber o senso comum e o bom senso nos
territórios intelectuais em que se pensa haver crítica; 4. perceber e projetar
a potência do caos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="mso-bookmark: _Hlk524370818;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Esquizoanálise
é a esquizofrenização do pensamento como potência; os fluxos esquizos se
insurgem contra a racionalidade dominante. O esquizo, o que está fora – e
muitas vezes é chamado de “o idiota da cidade” –, permite o devir esquizo da
filosofia, ou seja, a minoria como potência. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>As subjetividades são esquizoides por natureza
(apenas negam isso), já que a natureza é o caos; os esquizos são filhos do caos
e o esquizoanalista se torna um na relação direta com o caos. A análise
tradicional tenta criar bons cidadãos, com boa moral e bom senso, já a
esquizoanálise entende o caos presente em todos e mostra que dá para o
experimentar sem que se caia na prisão.<u><o:p></o:p></u></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="mso-bookmark: _Hlk524370818;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Cartografar, a função do esquizo analista, é
uma forma de percepção, mas também de existência, portanto, a esquizoanálise
não é restrita à teoria. Cartografia não é método, método tenta regrar o caos,
cartografia é surf no caos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="mso-bookmark: _Hlk524370818;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Cartografar
é experimentar devires, manejar as linhas de fuga, dessubjetivar-se das
identidades dominantes a partir do entendimento delas, ou seja, como disse, é
viver. Cartografia é vida, o cartógrafo é o que mais se aproxima da vida.
Cartografar não leva para um bom futuro, não se usa a cartografia para se
chegar a um fim; o cartógrafo não tem objetivo de vida e muito menos um sentido
para sua vida. Mas há cartógrafos e cartógrafos; o cartógrafo que mais diz “não”
é o mais puro, aquele que menos vende sua existência. O acadêmico que a usa
como método não é cartógrafo, no máximo ele louva com distância a vida do cartógrafo.
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="mso-bookmark: _Hlk524370818;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O
acadêmico tem um trabalho metódico, radicalmente controlado, sem brechas, com
uma neurótica organicidade, por isso, não faz cartografia – sim, o acadêmico é
neurótico, o cartógrafo é esquizo. Se o texto produzido pelo cartógrafo é
legível e compreensível, isso acontece pela relação do cartógrafo com o caos
que é também de prudência. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="mso-bookmark: _Hlk524370818;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O
acadêmico fotografa um ponto da vida, se centra no ponto, armado com regras
rígidas; o acadêmico faz isso para se sentir seguro ao falar sobre esse ponto;
ele diz que não pode ter um objeto amplo, já que não teria como se aprofundar
nele. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="mso-bookmark: _Hlk524370818;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O
cartógrafo vive a vida e fala dela, fala do que conhece, sente, percebe,
deseja. Ele não precisa ter regras para saber o que está fazendo. Deleuze diz
que não basta dizer “viva o múltiplo”, o múltiplo tem que ser feito. “Viva o
múltiplo” é ter uma relação no máximo estética – mas quase sempre cosmética –
com o caos e seus filhos; fazer o múltiplo, cartografar é, como disse, surfar
no caos, já que o que mais importa para o cartógrafo é o seu esporte: o surfe
em ondas do caos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="mso-bookmark: _Hlk524370818;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Falar
sobre a cartografia não é explicar o trabalho, não é metodologia, mas sim falar
sobre a vida. Se o cartógrafo é um escritor, ele fala também da escrita, já que
ela faz parte de sua vida; mas o cartógrafo nunca diz que é um escritor, ele é
apenas um cartógrafo que também escreve. Há cartógrafos que também são compositores,
ou esportistas, ou viciados, ou jardineiros... para entender que eles são cartógrafos
se usa a cartografia. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="mso-bookmark: _Hlk524370818;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O
louvor à diferença, a diferença como moda, faz com que conceitos referentes à
diferença sejam usados, mas de forma integrada, hipsterizada. Queer,
cartografia, crítica viraram moda. O ano de 2013 teve tanto sucesso, já que fou
uma festa hipster; mas nela estavam presentes sujeitos e coletivos de
resistência. A vida na cidade grande é assim: há a manada de queers integrados,
os hipsters, mas também os queers puristas. Uma questão chave da cartografia é achar
a diferença e denunciar a diferença como moda. Hoje todos são diferentes, portanto
iguais, dizem “viva o múltiplo”, mas há alguns que “fazem a multiplicidade”. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="mso-bookmark: _Hlk524370818;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A
intuição, a ética do cartógrafo precede suas ações; intuição faz parte da potência
da vida (o caos é a vida), que é primeira em relação ao poder sobre a vida:
primeiro havia vida, o caos, depois o cristianizaram e agora o cientificam –
essa é uma afirmação ética, poética, não idealizada. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-bookmark: _Hlk524370818;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">..................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-bookmark: _Hlk524370818;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A
potência da vida pode ser encontrada em qualquer lugar, até nos locais em que
estão os ratos. Amar a vida é persegui-la... é como ter perdido a namorada e
sair pelas ruas atrás dela, e a namorada se chama vida, loucura, caos, amor. Mesmo
que ela não seja encontrada nas ruas, como ela é amor, ela está dentro de quem
a procura, ou seja, basta buscá-la dentro de si, mas como o ódio está também dentro,
na busca o encontro pode ser com a morte. Na sociedade de controle é cada vez
mais difícil achar a vida, e perceber isso dói. Cartografar é tornar um pouco
suportável o insuportável. A maioria das religiões falham na explicação do
caos; dizem que o caos está nesse mundo, mas também dizem que o caos é
controlado por entidades de fora desse mundo, acima ou abaixo. O caos está
nesse mundo, e quem tem poder de manejar o caos é o que percebe realmente o
caos. Perceber o caos dá uma margem de controle dele, mas chamam isso então de
misticismo, espiritualização, magia. O controle do caos se refere a uma
subjetividade não normatizada, assim, o que acontece a partir dessa
subjetividade são coisas consideradas caóticas aos do bom senso: o Bruxo
espirra e uma criança morre... Isso é absurdo para os de bom senso, já que o
bom senso é uma imagem do pensamento, e o Bruxo tem relação com outra imagem do
pensamento. Coisas estranhas acontecem com quem surfa o caos, os de bom senso
não entendem. O mundo para o filho do caos funciona de forma diferente, e ele, o
filho do caos, permite algo de caos para os que estão próximos; sim, no
contato, eles, os de bom senso, então entram no caos, percebem coisas caóticas.
<span style="background: yellow; color: red; mso-highlight: yellow;"><o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-bookmark: _Hlk524370818;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">..............................................................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-bookmark: _Hlk524370818;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">No
mestrado e no início do doutorado estava centrado na obra de Negri e nos
movimentos de multidão; com o passar do doutorado, aprofundei os estudos sobre Deleuze.
Com o fim do doutorado, depois de dez anos estudando os movimentos, e com esse
aprofundamento em Deleuze, decidi seguir uma outra via: troquei os movimentos como
tema pelas questões existenciais, e passei a me interessar e muito pelos
marginais.<span style="color: red;"> </span>O conceito de <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Romântico,</b> que estou dando consistência, se refere a um comum experimentado
por artistas, produtores da cultura pop, filósofos, vagabundos, drogados,
jovens, punks, hippies, etc, etc... Cada um deles tem sua singularidade, mas eles
têm algo que os liga, algo em comum. Um filósofo, com um pensamento crítico
radical, está próximo de um vagabundo que, em sua existência, nega radicalmente
os valores dominantes, ou seja, que é também um crítico radical. O Romântico se
nega a viver como o bom cidadão, está nas ruas marginalizado ou com os
marginais pela própria vontade; ele se droga, vive em excessos, coloca seu
corpo e sanidade em risco, está na borda sempre; e se não produz diretamente na
arte, no campo do saber, na cultura pop, mesmo assim produz formas de vida não
sujeitadas. Romântico é também um devir, assim, todos têm algo de romântico de
uma forma ou outra. Devir é a relação entre termos que podem parecer incompatíveis.
Os animais simbiontes, aqueles que se relacionam com animais de espécies
diferentes ou com elementos da flora... eles produzem a relação a partir de um
afeto, que mostra que pode haver algo em comum entre termos heterogêneos. A
vespa se relaciona com a orquídea; quando estão juntas criam um território, um
corpo que mistura fauna e flora, ambas estão em núpcias, enamoradas, afetadas
uma com a outra. A experimentação dos românticos que produzem na arte, no campo
do saber possibilita experimentações para outros. Romântico é uma subjetividade
que necessita do movimento, não apenas físico. Ele está em movimento nas
cidades; nelas ele cartografa, busca as brechas que levam para<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> Espectralia</b>, melhor, está quase sempre
em Espectralia, a partir dos sonhos, dos delírios, da narcose... O Romântico é
filho do Caos, produz o caos, maneja o caos. O Hipster, a identidade dominante
nas grandes cidades, o sujeito médio por excelência, é uma normatização,
captura da singularidade romântica. O romântico é o dessubjetivado, o hipster se
refere à inclusão da diferença. A dessubjetivação é o tornar-se outro, é dizer:
“<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">EU</b> não importa”. Dessubjetivar é
negar, quebrar os valores dominantes principalmente, ou também, em si mesmo: eu
não quero mais ser assim, não posso mais ser assim...<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Buscar a diferença não é projetar um futuro é
criar mapas, cartografar, aumentar o território, desfazer o que foi feito, é
feito, imposto, quebrar o controle desde dentro. O Romântico não pensa em
futuro, mas nas linhas de fuga, só tem presentes, ele é um viciado em linhas de
fuga. O Romântico não tem passado, não tem história, ele é sempre outro. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-bookmark: _Hlk524370818;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">.....................................................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-bookmark: _Hlk524370818;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Fala
de um psicopata <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-bookmark: _Hlk524370818;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">eu não tenho futuro, pra mim o futuro
é sexta feira, e segunda feira é sexta feira – Sexta Cheira Santa é minha santa
puta! Eu não tenho passado, dei um tiro na minha memória, meti um quilo de pino
nela, a memória não tá tunada, ela tá pinada, virou nada. Viva o grande Deus Que
Se Foda. Eu posso morrer a qualquer hora, só não vou pra prisão de novo. Gosto
da prisão, mas não preciso mais dela, ela já me deu tudo, me tirou tudo. Queria
todas as sextas feiras nas minhas veias.... fui muito fundo na temporada
passada. Não tem volta pra mim. Vou meter pino em todo mundo e deve ser assim. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-bookmark: _Hlk524370818;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">.............................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-bookmark: _Hlk524370818;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A
linha de fuga é o que permite quebrar as identidades dominantes, sim, fugir: o
jovem foge da casa dos pais e vai viver o mundo; o jovem foge da sala de aula e
vai queimar um beque; o prisioneiro foge da prisão; o empregado foge da empresa
na hora do trabalho e vai tomar uma ceva – esses são exemplos simples, mas de
fuga, resistência nos dispositivos, como família, escola, prisão, empresa. Mas
há fugas mais complexas... Deleuze e Guattari pensaram na linha de fuga a
partir de 68; a contracultura era baseada em cair fora, fugir da realidade de
todas as formas, melhor, era centrada em não aceitar a realidade imposta. Eles caíam
fora, se movimentavam na estrada, achavam um ponto, ficavam, depois voltavam
para a estrada. Preciso de uma existência diferente para produzir algo de
valor. Esses vícios de linguagem: “eu” preciso, “minha” existência, são
contraditórios com meu posicionamento, mas não encontrei ainda uma linguagem
realmente ajustada, já que talvez nem exista. O erro faz parte da
experimentação, as linhas de fuga podem levar ao erro. Deleuze e Guattari falam
na fuga, mas armado, na moderação do vício, na projeção do caos. Caos e projeto
seriam incompatíveis, já que o projeto pode se referir ao controle e o caos é o
descontrole, o descontrolado. Mas projetar se refere a ter rações de ações e
pensamentos possíveis, ou seja, algo que precede, que diz respeito a uma ética
e a uma estética. A ética é não aceitar as coisas impostas, e a não aceitação
produz uma forma de vida louvável, não necessariamente bela, mas especial, ou
seja, a estética. O punk não aceita, vive como rato, mas há uma beleza nos
ratos, e não é beleza, mas algo especial. Quando a criança diz “não” aos pais,
se torna mais bela, mais especial. O drogado diz “não” à forma dominante das
percepções e sensações e, por isso, tem uma existência especial. A resistência
é bela, e resistência é não aceitação. Eu não vendo meus afetos, meu trabalho –
uma frase bela. A intuição precede a ação e o pensamento, e ela pode ser
confundida com vidência, iluminação, bruxaria. A intuição assim diz respeito a
ética, talvez seja a ética; se ela guia a vida, as ações e o pensar são
determinados por ela. A diferença acompanha meus trabalhos, sempre busco
aumentar o território. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-bookmark: _Hlk524370818;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">....................................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="mso-bookmark: _Hlk524370818;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Na
escrita atualmente faço inúmeras experimentações; o último texto que escrevi
foi um movimento aberrante, e este tem um estilo que uso faz tempo. Porém, neste
texto, o ritmo é um pouco diferente, já que uso frases longas e muitos pontos e
vírgulas. Nos últimos tempos tenho praticado esportes que impõem mais
intensidade respiratória, e, devido ao up respiratório, incrivelmente isso
afetou na cadência da construção textual. Giordano Bruno falava na importância
de aprender a respirar, a respiração influencia no ritmo existencial, e a
escrita faz parte da existência do escritor. Trabalho, na maioria dos textos,
com blocos isolados, mas irmanados; cada bloco tem sua especificidade, mas se
liga aos outros; assim, eu posso traçar linhas de fuga dentro do texto, que fazem
parte do mesmo mapa, do mesmo agenciamento; isso não é um método de escrita, apenas
dinamiza o texto e me ajuda a pensar, já que é muita responsabilidade um texto
corrido; é mais fácil se perder em um texto corrido, e os blocos facilitam na
leitura e na escrita. Com os blocos, posso fazer repetições de ideias sem que
fique redundante, e as repetições são importantes para reforçar aquilo que é
difícil de entender e pensar, como o caos. Com as repetições noto que vou aprofundando
os conceitos, aos poucos, de forma gradual. Se eu citasse diretamente Deleuze e
Negri, a leitura ficaria difícil para quem não os conhece, e eu não escrevo
para cientistas. Fiquei feliz ao saber que uma menina jovem, muito inteligente,
ainda sem formação acadêmica, conseguiu ler meus textos, melhor, teve uma
compreensão profunda do que eu digo. Os blocos não são feitos para serem lidos
isolados, a leitura deve ser integral, ou seja, não dá para entrar no texto em
qualquer parte, assim, não é um rizoma, mas há algo de rizomático. Eu começo os
textos com alguns blocos, daí surgem temas recorrentes, depois me centro em
alguns temas. Às vezes, só percebo os temas recorrentes após ter um texto
extenso, mas quando vou jogando as ideias no papel de forma quase automática, o
mesmo posicionamento e os mesmos temas estão presente. Posso escrever um texto
dessa forma meio automática, sem pensar muito, já que sempre sei o que estou
fazendo, até quando faço o caos e o descontrole. Em alguns textos há uma
confusão, um embaralhamento de ideias, eu digo uma coisa e depois outra, mas
isso não é erro, apenas mostra as contradições internas, as minhas dúvidas em
relação à teoria que estou produzindo, as dúvidas em relação ao que está
acontecendo com o mundo; mas, por estilo, nunca faço perguntas, não interrogo,
e sim misturo ideias contraditórias. Eu não projeto o texto antes, nunca fiz
isso, eu sento, coloco algumas ideias e vou desenvolvendo, traço linhas, um
mapa, às vezes, parece que o mapa vai se projetar de tal forma, mas depois ele
vai tomando outras formas. O texto final é sempre rigorosamente finalizado, tem
sua consistência, tenho domínio total do que está finalizado. Este texto era
para ser centrado no tema “Situações”, eu estava com mais de dez páginas
corridas, ia finalizar com 15 páginas em um exercício aeróbico; porém, decidi
quebrar o texto em blocos, e após essa decisão, ele tomou outra forma e o tema Situações
ficou secundário. Quando quebro em blocos posso moldar melhor o texto: tirar
partes de blocos e pôr em outros blocos, cortar blocos, colocar blocos em
locais diferentes, colocar novos blocos; essa é a fluidez do texto, mas todos
os blocos no final estão no lugar certo, porém, se continuasse, haveria muitas
aberturas possíveis; talvez isso seja o rizoma, isso é o mapa. Parece que o
texto se monta sozinho, já que não projeto anteriormente; quem escreve pode ser
eu, pode ser eu como legião, podem ser as legiões de Espectralia; então, dizer “eu”
não diz nada; sou um vampiro, eu sugo o sangue, a criatividade dos outros; eu mastigo
o pólen e a vespa e cuspo na página. A grande dúvida: quem está escrevendo
isso? O texto pode ser movido pelas Legiões, bruxas, escravas, o tornando
potente, mas também pode ser interferido por seres de ordem inferior, inimigos
das Bruxas, das Legiões, interferido por zumbis que tentam entrar em
Espectralia sem serem convidados, que sugam a potência, já que são invejosos,
mortos, zumbis, que pensam estar vivo; seres baixos, rasteiros que tentam fazer
parte da Legião, mas que nunca farão. Parece impossível não dizer “eu”, e
quando tento é a tentativa e erro; por isso, as construções inexatas, como
dizia Deleuze: se necessita de expressões inexatas para dizer algo exatamente.
Amor-te é um conceito inexato: eles, os zumbis, amam a morte e o Amor-te não é
o amor (morte) deles, mas é também morte. O Amor-te é morte, já que a morte tem
que ser reconceituada. O que é a morte? Os zumbis amam a morte, a vida morta, o
assassinato, e dizem que odeiam a morte; o amor deles é ódio, ódio a vida, ou
seja, morte. Eles odeiam a vida, já que não conseguem viver. O amor deles é a
paixão triste, eles não se entendem, são neuróticos um com o outro, são vingativos,
se aproximam, já que quase todos são obrigados a ter relacionamentos. Os homens
se preocupam mais com a testa do que com a namorada, dizem que as amam para
aprisioná-las; as mulheres dizem menos que amam, exatamente para jogar com os
ciúmes do homem, mas é um jogo sujo. Quando alguém do casal trai o outro, ele
se vinga, transa com outra pessoa como vingança, assim, mostra que odeia
duplamente, tanto sua namorada quanto a pessoa com quem transa. Esse ódio se
mascara como algo alegre – na transa, na obtenção de mais um artigo de consumo,
ou seja, mais um homem ou uma mulher na cama. Essa alegria é a alegria dos
pets. Existem casais que praticam o amor livre, são pessoas belas, sem culpa ou
remorso, não são vingativas. Há casais que são radicalmente monogâmicos, mas
são fascistas. Mas o sexo livre, daqueles que buscam troféus – mais uma mina,
mais um cara, o cara de uma mina, a mina que o amigo gosta – revela uma falta
de controle e um desejo de consumo de corpos. O homem precisa se afirmar frente
ao mundo, mostrando que é um comedor; a mulher, na horizontalização das
relações, querendo ter o poder dos homens, faz algo parecido. Todos jogam sujo:
as minas com os caras, e vice e versa, as minas com caras casados, os caras com
minas casadas, as minas com as minas, os caras com os caras; todos tentam ter
seus troféus, seus momentos de alegria de pets, seus objetos. Nas comunidades
anarquistas não há casais, os filhos são filhos de todos os que estão lá, todos
se amam, agem em comum, diferente do capitalismo, no qual as pessoas das
famílias se unem a partir do ódio, e essa união só fortalece a guerra de todos
contra todos. Todos contra todos aqueles que impedem a obtenção de seus objetos
de consumo desejados: dinheiro, sexo, posses. As mulheres querem se sentir belas
e fortes, os homens querem se sentir fortes, por isso lutam contra todos para
ter o máximo poder possível. Estão mortos, são zumbis, não têm vida, apenas um
desejo mórbido que guia suas vidas. Os gays e as mulheres venderam suas almas
para o capitalismo. As feministas, os gays, os negros, os adolescentes que não
estão baseados na ética anarquista não são agentes de contraposição à
mentalidade dominante. A morte do amor-te se refere ao desconhecido, a um culto
ao desconhecido, um desejo de morte que é alegria; o amor-te permite sonhar com
as possibilidades do desconhecido, da morte, e por isso, a importância da
mitologia, que estetiza a morte. O que acontece nos sonhos? As lembranças dos
sonhos acontecem na vigília e a consciência não consegue perceber o
inconsciente, portanto o sonho é algo impossível de se conhecer em vigília.
Será que o sonho não é exatamente um contato com o ambiente da morte? O que
acontece na viagem psicodélica? O que acontece na transcendência sexual? Morte,
sonhos, sexo tântrico, drogadição, meditação, delírio momentâneo, tudo isso não
se refere a entrada no mesmo território? A Necrópole é o espaço da morte na
qual estão os zumbis, que dizem que amam. A Espectralia é um ambiente da morte,
mas experimentada pelos realmente vivos; eles amam tanto a vida, a diferença, a
cartografia que desejam conhecer, entrar em ambientes que são negados, temidos
pelos zumbis. O romântico, o Bruxo, está vivo, explode de vida, tanto que
deseja sim, conhecer a morte; ele ama a morte, não tem medo dela, a deseja. O
sexo do Amor-te o Pós-sadomasoquismo, o sadomasoquismo amoroso é um conceito
inexato. Obviamente, o sado-maso do pós sado-maso não se refere às práticas
comuns sado-maso, e o sado-maso tem que ser re-conceituado. O Sexo do Amor-te
não é um neo sado-maso, mas um pós, é sado-maso já que o amor é cruel para o Bruxo.
O relacionamento, o contato com a Bruxa o extravasa de tal forma que parece ser
um masoquismo desejado. O sexo é o momento em que os dois, o Bruxo e a Bruxa,
tentam se tornar UM, e isso é extremamente doloroso, já que às vezes falha, já
que às vezes o Bruxo está perdido na necrópole – junto aos zumbis – enquanto a Bruxa
está em Espectralia. Espectralia não é um conceito confuso, fica confuso em uma
lógica binária de não entender que a Espectralia e a Necrópole são linhas de um
agenciamento. O que acontece em Espectralia são coisas confusas, difíceis de
perceber e expressar; como expressar o caos? Espectralia faz parte do caos; o Bruxo
criou Espectralia, mas ele é também um habitante dela. O Bruxo tem um
conhecimento profundo do caos, mas ele é um ator, um jogador, um mentiroso, e
se ele quiser, consegue mentir a todos que tem esse conhecimento. O Bruxo diz
que o Amor-te é o fim último, mas o jogo pode ser o fim último, o Amor-te pode
ser apenas uma jogada. A dúvida, a mentira, a verdade, tudo misturado, são
importantes, mostra a inexatidão e a necessidade dela para expressar algo
exatamente. O amor é potência, o poder se refere ao ódio. O reconhecimento, a
visibilidade, o poder, são desejados exatamente para se sobrepor aos outros.
Quem busca o poder, ou admira o poder, deseja a relação hierárquica. Hierarquia
é o que marca os dispositivos, por isso, não há amor em famílias, escolas,
empresas. A relação hierárquica é a despotencialização do outro: respeitar,
baixar a cabeça para o pai, o professor, o patrão. Quando é percebido que
alguém lhe potencializa, então realmente sabe que está amando. A potencialização
toma inúmeras formas: nos afetos, na alteração da percepção, na relação com os
outros, na relação com a vida; porém, para perceber o amor, é necessária a
cartografia; ela permite entender a potência, como ela funciona e se ela não é
uma paixão triste mascarada. O amor, a potência, pode ser uma des subjetivação
desejada; mas como amor, para potencializar, o amado não deve ser um objeto
usado para chegar a um fim. Ser amado, como palavra de ordem – que na verdade
significa ter poder em relação aos outros – é o desejo dominante na lógica do
controle, do espetáculo. Ser famoso e poderoso é o sonho de todos. O facebook
se tornou dominante, já que todos se sentem famosos a partir de suas fotos,
posts. Todos são viciados em likes, comentários, em compartilhamentos. O
romântico é viciado em linhas de fuga, elas potencializam ele. O idiota torna
espetáculo até o que comeu no café da manhã, compartilha a vida diária com
todos, mostrando a podridão da comunicação. Os tabloides sempre fizeram isso, vendiam
qualquer informação sobre alguém famoso. Teatro como situação, como ação
romântica, não é espetáculo. O teatro é uma ação contra o espetáculo. O teatro
é a existência do romântico; a vida dele é teatro, ele apenas joga, blefa com
todos aqueles que se espetacularizam. O romântico que se conscientiza da
espetacularização cria o seu teatro a partir da ética.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<span style="mso-bookmark: _Hlk524370818;"></span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">.........................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Não uso citações, já que incorporei as
teorias, e agora estou com um trabalho realmente autoral, posso falar em meu
próprio nome, mas o meu nome é: Caos, Lúcifer, Bruxo, Legião, Puta Mexicana Barata,
Punk Velho, Ninguém.... Eu sou todos esses, mas quem está nas minhas costas
fazendo eu escrever são as Bruxas e as Escravas, e elas, ao mesmo tempo, estão
sendo comidas pelo Caos, e eu sou o Caos, já que não há lógica no caos; no caos
o impossível acontece, já que o possível é a vida de todos, e os românticos mergulham,
surfam no caos. É caótico perceber a necessidade de uma radical
despersonalização para que muitos digam que o trabalho está autoral – poucos
entendem o caos. Eu digo que eu não mais escrevo, mas os filhos do caos juntos
de mim, nós produzimos algo interessante, então, dizem, os senhores do bom
pensamento: “sim, o trabalho está realmente autoral, você está falando em nome
próprio”. Parei de ler em dezembro de 2016, ou seja, faz mais de um ano e meio.
Não tenho vontade e não sinto necessidade de ler livros e textos, mas “leio” a
cidade o dia todo, “leio” as pessoas, a mim mesmo, “leio” músicas o dia todo,
filmes, “leio” as falas de pessoas de vários campos do saber. “Ler” a cidade,
pessoas, músicas, etc, é algo absurdo, já que a cidade, as pessoas, as músicas,
etc não são textos, mas o Bruxo brinca como uma criança com o absurdo. Ao parar
de ler a produção ficou mais autoral por uma questão óbvia: deixei de lado, de
certa forma, as teorias dos outros e parti para a minha; virei um eremita
intelectual, escrevo com alguns poucos escritores e mais uma legião de legiões.
Isso não é método, mas questão existencial. As pesquisas se perdem nas
releituras, nas relações entre autores, já que o empírico, o raso, a vida, ficam
sempre em posição inferior; a torre de marfim, o escritório fica acima da vida.
Comecei a dar valor máximo ao mais raso do cotidiano para produzir teoria, algo
complemente diferente da vida redundante que se centra em estudar teoria para
produzir teoria. Eu já disse que estou sempre na rua, estou junto dos marginais
todo o dia, caminho sozinho de madrugada por espaços perigosos, os guardadores
de carros, os mendigos das áreas que frequento me conhecem e me respeitam; esse
é meu trunfo frente aos acadêmicos da torre de marfim, tenho um estilo de vida
diferente do estilo deles, o que potencializa meu trabalho. Uma noite vi um
rapaz sozinho na calçada, estava chapado e chorando. Falei com ele, ele disse
que estava com fome. Levei ele até uma lancheria, comprei um cachorro quente e
um latão de cerveja para ele. O rapaz me contou que já tinha sido preso, morava
num albergue e que os pais dele se recusavam a vê-lo. Meu ato não foi de pena,
apenas queria saber como era sua vida, o conhecer. Sempre sou perseguido por um
fantasma óbvio quando escrevo, me pergunto se não estou repetindo ideias de
outros, ou trazendo ideias fracas em relação a temas comparando com as ideias
dos outros. Porém, se eu lesse estaria sempre sendo perseguido por um fantasma
parecido, me perguntando: será que li o suficiente para me expor? A academia
produz acadêmicos, e acadêmicos parecem desconhecer às ruas, já que não dão
importância a ela. Conhecem a fundo certos autores, mas não entendem a loucura
da cabeça da mulher quando estão transando. Ficam nos afetos, mas não entendem
os afetos, e tentam entender os afetos não falando com a esposa, mas lendo Reich.
Não sinto vontade de voltar a ler, não devo voltar a ler, se voltar sei bem que
vou cair numa cama de gato e não sair; são teorias e mais teorias sempre, a
vida toda, e isso não se esgota... E antes de morrer o intelectual diz para si
mesmo que queria viver mais para ler mais, mas viveu pouco, já que estava com
os livros, e o que viveu não está em sua obra. Meu trabalho não é confessional,
não sou cristão, mas gosto de surfar no empírico e eu sou um objeto, por isso
trabalho no cotidiano. Os senhores do bom pensamento são os bons cidadãos; eles
pensam a partir do bom senso, seu senso comum, são os bons, as pessoas
importantes, os racionais, que se afirmam sempre; para eles a frase “eu é um
outro” é incompreensível. Para eles, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra
coisa. Dizer “eu sou uma puta mexicana barata” não me importa, já que “EU não
importa”, “eu” não diz nada, já que EU SOU LEGIÃO; e o mais importante: dizer
“eu sou uma puta mexicana” critica a necessidade dos bons de auto afirmação. A
despersonalização se refere ao devir, devir outro. Se eu quisesse tentar ser
uma figura pública, tentar ser famoso, obviamente, primeiro teria que divulgar
meu trabalho, o que não quero, mas também eu implantaria seios, uns belos seios,
e faria palestras, apresentações de minhas produções para públicos com os seios
à mostra. Mas não quero isso, não busco visibilidade; porém, implantar seios me
daria uma imagem monstruosa, eu estaria em devir com as mulheres, os queers, os
estranhos. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="color: red;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">............................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O trabalho ganhou peso exatamente na minha
relação com uma tripla minoria, me coloquei junto a ela, ao seu lado, tenho uma
relação horizontal com ela, assim me tornei essa tripla minoria, não como
estado, mas devir. Os escritos são meus, mas também dela, estou com ela, sempre,
mesmo quando não estou fisicamente, sei que o trabalho é nosso, e talvez seja
principalmente dela. Assim, as minorias podem ser vistas como potentes, não sujeitos
fracos que devem ser protegidos. Dizer que quem escreve é o dono de duas mãos,
de dois olhos, de uma cabeça com um cérebro, o dono de um peito com coração, de
um note book, de ideias é pensar da forma mais simples que existe, pensar a
partir do bom senso. Para a esquizoanálise o corpo sempre está em relação com
muita coisa, o cérebro e o coração estão em conexão com ideias e sentimentos de
outras pessoas, legiões. O corpo que está aqui está realmente aqui? O que é
aqui? Eu sou o que? Os críticos, que não sabem o que é crítica, denunciam o
pensamento único; sim, louvam um pensamento com mais de uma direção, mas todas essas
direções apontam apenas para uma mesma direção: o bom senso e o senso comum. Os
que se acham críticos, os falsos críticos, se chamam de críticos para serem
pessoas especiais. Mas o crítico “real” não quer ser especial e diz: eu sou um
punk, eu sou ninguém. Eu perguntei para um punk em 1995: quem é você? Ele
disse: eu sou ninguém. E para ele assim estava bom; ele se deu esse apelido
“Ninguém” não como pena de si mesmo, ele apenas dizia: não me encha o saco, sou
ninguém, deixa eu ficar na minha. Essa é a nobreza dos ratos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">.............................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O amor às minorias no senso comum não é
amor, mas paixão triste, não é amor, mas pena, pena que impõe às minorias a
vergonha de si: “tenham pena de si mesmos como nós temos”. Zeus também foi
escolhido por ser uma conjunção de minorias. Como cientista deveria tratá-lo
como um objeto; isso que os cientistas fazem quando trabalham com cultura pop: usam
os produtos de cultura pop, muitas vezes, artistas românticos, em função da
ciência. O cientista nunca trata como igual um idiota como Iggy Pop, ou Sid
Vicious, ou Júpiter Maçã, nunca se coloca ao lado deles. Eu sou um adolescente
como Zeus, um idiota como Vicious, um cara perigoso como Pop, louco como Júpiter;
e isso está mais que presente no meu trabalho e na minha vida; e como disse:
trabalho e vida para mim estão intimamente ligado. Dessubjetivar com as
minorias, menorizar o trabalho, a escrita, experimentar, traçar linhas de fuga,
criar mapas... Assim, devir é amor, amar a potência das minorias em si, criar o
comum entre termos heterogêneos; o comum é amor, o corpo sem órgãos é amor, “amar
a vida” é palavra de ordem, amar o devir é vida, é o que faz viver, não morrer.
Eu amo os punks, os marginais; e quando sou um punk marginal enfrentando outros
na rua, é o meu devir a partir do amor, ou seja, minha violência é amor. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">............................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Monólogo-diálogo (?) articulado de um
esquizo com dupla personalidade e tendências suicidas<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">-
eu quero me matar com você <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">-
eu não preciso de companhia pra fazer isso<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">-
mas eu preciso <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">-
eu sei muito bem por que quero me matar, mas você... eu acho que não sabe. Se
você quiser se matar por uma questão ética, tudo bem, mas se for por uma
questão moral, eu não apoio<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">-
eu apenas quero, não fico pensando em razões, quero fazer com você<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">-
olha, eu sei que isso pode fortalecer nosso amor, por tua parte... a gente
planejar a morte juntos, como os outros planejam a vida – isso é bonito, pensar
assim. Mas eu não preciso fortalecer o meu amor por você, não preciso te amar
mais do que amo, já que o meu amor por você não é o amor dos outros, é algo
novo, inventado... você transpira beleza em tudo, é meu amor, último, primeiro<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">-
eu não entendo o que você diz, eu também te amo, mas você complica tudo, pra
mim as coisas deveriam ser mais simples<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">-
pense no que eu falei, algumas coisas vão ficar em você, você vai pensar, mais
e mais e mais, eu sei disso, daí é com você <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">-
você consegue me silenciar, mas gosto disso, do silêncio a partir das tuas
coisas, mesmo sem você, você está sempre presente em mim, sempre <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">-
eu sei. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">...............................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O ódio em relação às minorias se refere
também à potência delas, sim, são potentes por serem subjetividades
diferenciais. A percepção feminina é molecular, e Deleuze e Guattari sempre deram
grande importância para o devir mulher. Percebe-se esse ódio na captura da
subjetividade feminina a partir da transcendentalização dela, que se refere a
uma idiotização. Impõem a mulher a se pensar como sujeito não pensante, fraco,
que se agarra a qualquer tipo de dogma religioso transcendental. Dizem à mulher
que sua percepção é uma fantasia barata de outro mundo; isso se reflete na
facilidade das mulheres em se filiar a cultos obscurantistas como astrologia,
espiritismo, homeopatia. Também o ódio às mulheres é visto na naturalização da
violência contra elas. Na cama os homens fazem o que querem, já que são mais
fortes; muitas vezes são violentos, e isso é tão naturalizado que não chamam de
violência. Ser agressivo na cama é agressão, e agressão sexual é estupro. A
falta de desejo sexual, os fantasmas em relação ao sexo talvez se deem a partir
daí: elas se sentem estupradas, já que realmente são, de uma forma ou outra. A
violência natural do homem no sexo com as mulheres não é percebida, o homem não
nota, mas a mulher finge que não se importa. O sexo entre um casal que se ama
pode ser agressivo para a mulher; o homem carinhoso pode ter práticas
agressivas, e provavelmente tem; pensando assim, todos os homens que se
relacionam com mulheres são estupradores. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Elas têm que aceitar o que o homem quer, até
quando não querem; e fazer sexo sem vontade, ser forçada a fazer sexo também é
estupro. Há uma incompatibilidade entre a subjetividade do homem e da mulher:
não conseguem conversar, têm desejos e sonhos diferentes, o que é importante no
sexo para o homem vai de encontro ao que é importante para a mulher, os casais
estão sempre em conflito, em guerra, um tentando destruir o outro; a mulher faz
sua bruxaria contra o homem e o homem a come por trás. Mesmo com a
incompatibilidade, os casais se obrigam a ficar juntos, já que fortalece o bom
mundo, o bom mundo de tristezas, ódio, o mundo das paixões tristes. Mas na
horizontalidade das relações, na <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">sociedade
de parceiros</b>, a mulher se torna homem, e não pode ser idealizado seu papel.
A mulher faz também o que o homem sempre fez, para conseguir um homem mente,
manipula, se impõem, é violenta. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">...........................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Concluí ao falar com o grande poeta que
não tenho vida, já que minha vida é teatro, é jogo. Todo mundo joga, mas meu
jogo é diferente; meu jogo é a situação, o quase teatro, quase existência. A
situação, como ação romântica, não é arte, mas também é arte. A situação é jogo,
já que se centra no blefe; ela é teatro, já que necessita de máscaras; a
situação é existência, já que não é feita num palco, mas na rua; e como há
sempre o choque com os outros, para os outros não é jogo, nem teatro, é a
realidade – sim, a situação funciona quando todos são enganados. O Romântico
porta o segredo de quem é realmente, mas pode muito bem não ser ninguém: meu
nome é Ninguém. Cartografia percebe as linhas, faz a crítica e busca a linha de
fuga. Situação é a experimentação das linhas de fuga na cidade; é mapear a
cidade, perceber suas linhas e produzir algo diferente dentro dela. Tenho
necessidade de quebrar com a vida cotidiana, e isso não é um sentido para a
vida, já que o romântico não pensa no futuro. A situação é atualizada no campo
do saber, como será exemplificado mais adiante, já que preciso escrever, e nem
sei porquê. As situações que pratico não são ações táticas. A ação tática é uma
situação na cidade, mas política, feita por coletivos de resistência,
principalmente em manifestações. Uso a situação por uma questão existencial,
quase individual; não é uma medicina individual, é uma droga que vicia, é uma
linha de fuga. Situação é comédia, rir do bom senso e do senso comum; rir, já
que sobrou apenas o riso, sarcástico, satânico. Situação se refere ao mais raso
do cotidiano, às falas, às relações entre os sujeitos no dia a dia.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Tento perceber as linhas dominantes, as
relações dominantes, como as pessoas interagem, e a partir daí produzo
variações, diferenças, que às vezes podem ser radicalmente sutis ou agressivas:
fazer um determinado movimento com os pés quando caminho na rua, ou até agredir
alguém, no meu caso, sempre apenas verbalmente. A violência quando é apenas um
afeto é algo especial, mas a violência como prática é quase sempre um ato
fascista. A violência experimentada afetivamente, como afeto, pode potencializar
a subjetividade, já que o senso comum busca sempre a paz, a luz, o amor (o
falso amor). Os afetos violentos se referem à barbárie, são afetos bárbaros,
criados pela máquina de guerra. Não tenho roteiro, método e não sou espontâneo,
já que vou para as ruas preparado. As ruas são perigosas, não há a segurança da
casa, da escola, do gabinete, dos bares hipsters; e há espaços na cidade que
são radicalmente perigosos, e gosto de estar neles. Não ter medo é central, e não
tenho medo, já que enfrentei acontecimentos dolorosos, contatos com a morte.
Meu corpo é marcado por cicatrizes frutos de agressões, cirurgias, acidentes; também
já sofri overdoses; por isso, não sinto dor. Com 10 anos de idade, encarei um
acidente grave, tive que fazer cirurgias, me deram morfina, estava quase certo
que eu não teria mais movimento no braço. Eu poderia ter ficado traumatizado,
ter virado alguém com medo, porém, quando me recuperei, comecei a praticar
esportes radicais, ouvir música agressiva, andar com caras mais velhos e
perigosos; e por toda minha adolescência sempre enfrentei a morte. Esse foi meu
acontecimento inaugural, que me forjou como arma, uma arma perigosa,
principalmente para mim mesmo. Eu enfrentei a morte no acidente, venci ela, e
passei a jogar com ela, a morte. Eu nunca fui masoquista, mas sempre gostei de me
agredir fisicamente e não os outros. Se as relações entre as pessoas são
absurdas, então não há por que não agir de forma absurda. O absurdo das pessoas
comuns é a impossibilidade de harmonia, a podridão das relações, e eles
continuam juntos; o absurdo das situações concerne a fazer algo diferente,
buscar outras comunicações e relações, mas sempre rindo da vida cotidiana. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">...................................................<span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Exemplos
de situações <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Eu estava em uma festa na casa de um
amigo. Estava lá ela, dando em cima de mim. Eu estava com a boca cheia de
cigarros, meu ap estava sujo, sim, eu estava sujo; mas ela estava dando em cima
de mim, a bela mina angélica e pura, limpa demais para mim. Uma hora ela me
atacou, me empurrou na parede e tocou minha coxa. Eu a agarrei delicadamente,
direcionei ela até um espelho, a coloquei de frente para o espelho, eu fiquei
atrás dela, com a cabeça apoiada em seu ombro. Ficamos os dois de frente para o
espelho, como ficam casais em certas fotos, ele atrás dela... eu disse a ela:
olhe os teus olhos, olhe os teus olhos, eu estou olhando os meus, agora você
olha os meus e eu olho os teus, e agora só o que há são os nossos olhos. Isso
foi o suficiente para mim, caí fora, não fiquei com ela, já que eu nunca tinha
experimentado isso com outra pessoa, ela também nunca tinha experimentado,
nunca alguém no mundo tinha experimentado algo assim. Depois, em vez de tentar
ter um relacionamento com ela, a comer, o que qualquer um faria, escrevi uma
poesia, uma bela poesia, uma das mais belas já escritas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Eu estava no hall de frente ao banheiro em
uma casa noturna, uma mina estava no hall, ela entrou no banheiro e eu entrei
junto. Ele começou a fazer xixi, mas disse: não me toque. Ela fechou o zíper da
calça e mostrou que queria sair do banheiro, eu disse: não, você vai ficar
aqui. Eu encarei ela de frente, coloquei minha mão em seu ombro, a forcei para
baixo e disse: me chupa, me chupa. Ela não conseguiu resistir, me impedir, estava
pronta para me chupar, eu a levantei, a abracei e disse: mina, por favor, nunca
faça isso, chupar um cara no banheiro. Eu sabia muito bem o que estava fazendo,
estava fazendo teatro, desde o início era teatro, sabia que ela não iria
resistir, sabia o que estava fazendo. No outro dia lembrei da cena em um filme,
muito parecida com a minha cena, era um filme do David Lynch. Eu repeti a cena,
mas da minha forma. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Estava em outra casa noturna, uma garota
deu em cima de mim no bar, conversei com ela, mas fui dar uma banda. Meia hora
depois, eu estava encostado numa parede, na minha, vem ela e me agarra – era
bonitinha. Eu beijei ela, mas decidi fazer algo diferente: pedi para bater no
rosto dela, ela aceitou. Dei um tapa inicial e depois continuei, aumentando a
força. Em determinado momento ela caiu fora. Poderia ter agarrado ela e ter
comido depois, mas teria feito o que todos fazem; preferi a situação, uma
situação meio sado mazo. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Fiz algo
parecido com uma garota muito bonita em outro bar: a gente tava se agarrando,
eu estava sendo grosseiro e meio violento, de curtição, mas sem querer eu dei
uma joelhada na pélvis dela, e eu só queria dar uma encoxada. Essas situações demonstram
que o teatro, muitas vezes, é muito mais interessante que a vida comum: ficar
com uma mina, a comer, namorar. Em relação à violência, ela tem que ser
conceituada, e não há violência na situação, mesmo que pareça para os outros
que é violência. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Encenei com uma mina que tava aqui em
casa, falei pra ela com uma cara meio de psicopata: você entra na cova do leão,
dorme na cama do leão... Você acha que vai sair viva daqui, quem você pensa que
é? Ela disse: não me incomoda. Era uma amiga, que me conhecia bem, mas que
tinha passado por acontecimentos dolorosos na vida, e ela sabia que eu já tinha
sido um cara perigoso. Em determinado momento, ela ficou com muito medo, mas também
brava comigo, ela sabia que era teatro, mas temia que não fosse. Fiz isso mais
vezes com ela, na última vez ela simplesmente disse: essa noite você não vai me
comer. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Em um restaurante que frequento, eu digo a
todos que sou assexuado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Umas minas estavam dando em cima de mim
num bar, falei pra elas: sou um michê, e só gosto de dar a bunda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Uso um tênis dois números a mais e solto o
cadarço; quando caminho na rua com ele parece que estou bêbado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Falei para um mendigo de madrugada, ele
tava sentado no chão da calçada: há algo de lindo na vida, que faz com que a
gente não morra; outro dia, declamei uma poesia para um guardador de carro, a
poesia começava assim: sou um rato na rua, só isso. Chamo de tio os mendigos
velhos e de primo, os jovens. Um morador de rua estava com um violão na João
Alfredo, era de noite. Pedi pra ele tocar um som. Ele começou a tocar Raul. A
gente começou a caminhar juntos, ele tocando o violão e cantando. Eu abracei
ele, e a gente caminhou juntos abraçados, ele tocando o som, por um bom tempo.
Tinha um monte de gente em volta, nas ruas. Falei para uns chatos que estava de
olho no carro, saquei que estavam pensando em o roubar: o carro tem seguro, mas
não roubem as minhas mantas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Mastigo os dentes, faço sons com o nariz e
modulo o caminhar, todos pensam que estou cheirado.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Berrei durante minutos no ouvido de um
chato, que ele era um merda. Era teatro, estava tirando uma onda, mas o cara se
assustou e, depois disso, desapareceu da banda. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Chorei no bar, não sei se o sentimento era
real ou teatro, ou ambos, mas consegui modular até as lágrimas; umas minas em
volta olharam para mim com cara de pena.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Sempre quando tem policiais nos
restaurantes que frequento, aperto as mãos deles e digo: fico feliz em almoçar
com a rota, a cidade tem que ser limpa, estou com vocês. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Eu tava vestindo minha roupa mais punk,
estava em um bar. Vi a pessoa mais distinta, um senhor de 55 anos de terno e
gravata. Sentei ao lado dele no balcão e conversei com ele sobre política; em
10 minutos dei uma aula sobre política para ele. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Me fingi de bêbado e comecei a falar com o
pessoal que estava na frente de um diretório de partido; dei uma aula para eles
sobre a diferença entre acontecimento revolucionário e projeto político.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Disse pro pessoal que estava limpando a
piscina vazia do clube: vamos colocar uns rottweilers na piscina famintos
juntos com umas ovelhas, vai ser mais divertido que circo no sábado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Eu tenho uma cicatriz perfeita no pulso, fruto
de um acidente, quando olham, todos obviamente pensam que foi tentativa de
suicídio. Gosto de deixar a cicatriz a mostra, principalmente gosto que
senhoras a visualizem; noto que as pessoas ficam assustadas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Atravessei o centro, de carro, rindo
compulsivamente, consegui modular o riso; as pessoas que estavam nos carros
próximos riam quando me viam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">........................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Todos sabem que é um tormento ter uma vida
familiar, mas continuam tendo filhos; as pessoas são neuróticas em relação à
dinheiro, tentam economizar em tudo, mas, ao mesmo tempo, não conseguem não
consumir; são atormentadas por call centers, mas continuam usando smart phones,
e quando são muito atormentadas apenas trocam de número; odiavam Lula e PT em
2005 e agora amam; dizem que amam o que fazem, se orgulham do trabalho, mas odeiam
trabalhar; leem textos jornalísticos e literários sem nexo, assistem programas
de tv redundantes, veem filmes completamente fora da realidade, naturalizam
tudo, aceitam qualquer coisa sempre – aceitam, têm que aceitar, senão ficam
loucos, se matam, matam os outros, ou fazem algo simples: uma revolução; são
vigiados sempre pelos pais, amigos, seguidores, colegas, chefes, professores
nas redes, nos espaços de ócio, nos dispositivos disciplinares, são vigiados
pelos dispositivos do aparelho de Estado, são vigiados por si mesmos, e por
isso todos são paranoicos, e ninguém se importa; repetem qualquer coisa sempre,
já que todos repetem: desejam feliz aniversário, brindam em certos dias,
comemoram, sorriem em fotos, vão aos mesmos lugares no momento em que todos vão,
desejam conhecer os mesmos lugares, falam qualquer coisa, já que comunicar é
redundar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">..................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A vigilância se expandiu para praticamente
toda a vida, a vigilância é a relação social dominante. No facebook as pessoas
têm centenas de amigos, muitos são apenas amigos virtuais, ou seja, uma amizade
sem contato físico. Essas pessoas distantes passam a ser agentes de vigilância
do que é postado, a partir de likes, comentários; ou seja, pessoas distantes se
tornam próximas, e, sim, proximidade no controle é vigilância. Todos sabem que
os posts estão sob os olhares de todos e continuam postando, então, desejam a
vigilância. As relações nas redes sociais talvez tenham determinado as relações
interpessoais nas ruas. Pessoas que você nunca viu, que estão nos espaços públicos
que você frequenta, passam a lhe vigiar; sim, todos se vigiam nas ruas como se
estivessem nas redes. Muitos tentam se defender da vigilância, nos espaços
públicos, a partir do uso de smart phones, ou seja, fogem da vigilância na rua
para a vigilância na rede. No facebook, você posta uma mensagem, e pensam que
você postou a mensagem como uma indireta para pessoas que você nem conhece. As
pessoas se sentem mal com a vigilância, mas vigiam os outros, já que elas têm
que imitar os outros, fazer o que os outros fazem, senão vão ser vistas como
párias. Quando eu digo que não uso smart phone todos me olham horrorizados. Ter
medo de ser vigiado é sintoma da paranoia. A paranoia é um dos frutos do controle.
O medo leva ao ódio, ao descontrole, e o ódio é a base do fascismo. Talvez a
paranoia seja sintoma também do empoderamento, do aumento do potencial
intelectual da população. A centralidade do trabalho intelectual e afetivo
relacionada diretamente com as redes digitais criou um up intelectual; novas
formas de pensar e novas percepções e afecções foram permitidas; os cérebros
talvez tenham mudado – a mutação antropo mórfica –, e a paranoia talvez seja um
sintoma disso. A paranoia é impotência, mas pode ser uma potência. O paranoide
também pensa que consegue prever o futuro; prever o futuro é vidência, e a
vidência acontece a partir de um elevado poder intelectual, afetivo,
perceptivo. Será que todos viraram videntes com o cérebro empoderado, mas a
vidência é mascarada como impotência? A tensão, a pressão, o medo, a vontade de
morrer, a violência, esses sentimentos podem impedir que se perceba a potência.
O poder precisa de pessoas fracas, impotentes, que necessitem do poder; apenas
o fraco quer o poder sobre si, já que vê o poder como segurança. Todos são
shamans. As pessoas mais velhas, os que nasceram antes dos 80, são importantes,
já que viveram dois paradigmas, melhor, a passagem entre os dois paradigmas,
viveram o devir, a mudança radical, e assim, conseguem perceber melhor a
atualidade. Esses são <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Filhos do Eclipse</b>,
do intermeio, possuem uma forma especial de vidência. Mas a vidência é sempre
apagada, deixada de lado, já que ninguém aceita ser visto como um louco, um vidente.
Perceber a paranoia no mundo, nos outros, em si, é ser louco e não ser louco;
já que o louco não sabe que é louco. Quando a loucura é percebida, ela é
controlada, ou seja, isso permite um poder sobre ela; é como controlar o caos,
ter poder sobre ele, e não há nada mais potente do que controlar o caos. O
hipocondríaco não apenas tem medo de ficar doente, ele produz enfermidades em
si mesmo, pela força da doença; se isso acontece, será que as pessoas não
teriam o poder de modificar seus corpos a partir da própria vontade? Para
perceber as mudanças são necessários instrumentos novos, usados por mentes que
entendem que muito mudou. Os que viveram o inter meio têm esse poder, mas ele
pode ser esmaecido, já que muitos, quase todos, percebem o paradigma posterior
a partir do pensamento do paradigma anterior. Esses são os enraizados, os
sujeitos da memória longa, os que se prendem à história, social, pessoal, e
desconhecem a cartografia. É muito fácil achar o pai na análise, fazendo a
história pessoal; mas para pensar o controle, sendo o pai um dos sujeitos do
controle, é necessária a cartografia. Os religiosos acham Deus em tudo; eles se
contradizem e sabem disso, mas continuam na crença. A cegueira religiosa se
assemelha à redução de mundo da terapia tradicional. A religião nega o mundo, a
terapia nega também o mundo, já que o mundo não importa, apenas a história
pessoal, a qual se refere à família. Amar apenas os seus, desconsiderar os
outros, não é amor, é ódio, é fascismo, os fascistas odeiam todos menos a si
mesmos e os seus. Amar os humanos mais do que a natureza não é amor, é ódio, e esse
ódio acabou com a natureza. Dizem que amam a natureza e os outros seres
humanos, os <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">humanistas ecologistas de
pets</b>, mas colocam em primeiro lugar os seus e a si mesmos, isso é fascismo.
Amar uma planta tanto quanto uma pessoa da família, esse amor pela planta é
devir, é amor. Pensar em si como “um outro”, alguém tão importante quanto
qualquer um, amar a si considerando-se como “um outro”, qualquer um, isso é
amor; e obviamente, esse “um outro” pode ser um rato, um pet, uma árvore, um
penhasco, uma estrela, um pôr do sol, milímetros de chuva. A importância da
droga psicodélica é a despersonalização; nas viagens o “eu mesmo” já era. A
droga psicodélica permite uma experiência do Corpo sem Órgãos radical, o
organismo, o corpo pertencente a um sujeito desaparece. A droga psicodélica pode
dar a sensação de ser <i style="mso-bidi-font-style: normal;">um penhasco no fim
da tarde de um dia chuvoso, um penhasco que conversa com Buda, e buda na
verdade é um sapo, e o sapo é a primeira forma de vida do planeta</i>. Timothy
Leary, o analista do LSD, dizia que todos deveriam tomar LSD, exatamente por
isso, para despersonalizar, fugir do controle, criar novas mentes não centradas
em si mesmas. O sexo livre deveria ser a descapitalização dos corpos, des
reificá-los, tirar a imagem do corpo como coisa pertencente a um sujeito.
Diriam que sexo livre é tratar o corpo e o dos outros como coisa, algo com
pouco valor; mas não, todos os corpos no sexo livre têm valor, o que não tem
mais importância é o pertencimento a um sujeito, a um cônjuge. O corpo humano não
luta para não morrer, ele não busca um bom funcionamento, já que ele não
funciona bem, é falho. O corpo humano é realmente o fim último da natureza, o
mais perfeito, comparando-o com os corpos dos animais desse planeta? Quando alguém
corta os pulsos, o corpo libera fluxos, de mijo, de merda; a mentalidade
dominante diz que o corpo faz isso como forma de defesa, para alarmar quem se
cortou. De um ponto de vista esquizo analítico, o corpo libera os fluxos já que
o corte impõe outro funcionamento para ele; ao traçar a linha de fuga, o corte,
aparecem outras linhas de fuga, o corpo entra em festa; o sangue é liberado e o
corpo quer liberar mais, mais linhas de fuga, ele quer mais e mais e mais,
liberar mais, quer se liberar do funcionamento normatizado, e não se importa se
vai parar de funcionar, ou seja, morrer. É uma prisão considerar que o corpo
luta para viver sempre, dizer que ele não pode morrer, desejar morrer. E o que
é morte? A vida em sociedade não é a morte? Zumbis em caixões.<span style="color: red;"> </span>A área da saúde busca o corpo eternamente saudável,
um corpo espetacularizado, cosmetizado, capa de revista aos 100 anos. Esses
sujeitos que se dizem críticos reforçam o poder, já que produzem teorias que
não ajudam a compreender a atualidade, e só se tem poder frente algo
compreendendo, percebendo. A crítica deles na verdade é cegueira, a negação do
terceiro olho, exatamente o que a mídia impõe, o que a política e os
capitalistas querem, pessoas cegas. Essa é a questão chave política do campo do
saber: cegar ou produzir vidência. O cego é o paranoico que tem medo de sua
vidência; o vidente olha para si e para os outros e percebe que todos são
potentes e impotentes, se vê como um impotente, como alguém mau, que reforça o
sistema, já que todos reforçam. A colonização foi completa, não há mais fora, o
máximo que dá para fazer é criar linhas de fuga, que podem ser na existência de
um sujeito, na auto organização de coletivos, em ambos. Não conhecer o mundo
atual impede desejar, sonhar, projetar um futuro; perceber as potencialidades
atuais é fundamental para dar consistência a elas e assim projetar um futuro. A
única forma de destruir o poder é saber quais são suas linhas, como elas
funcionam. A ética nasce no momento que se percebe que todos são maus, que eu
sou mau, ela é má, minha família é má, meus amigos são maus, as pessoas são más,
já que todos sustentam o poder. Importante é deixar de lado o orgulho, entender
que todos são sujos; daí fica mais fácil de se limpar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">...................................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Descontrolados com medo buscam no consumo
um pouco de alívio... ratos nos shoppings, nas cidades espetáculos, tentando
encontrar um sentido. Todos têm medo do futuro, já que a crise é generalizada.
Os sujeitos da crise são possíveis suicidas, e suicidas são assassinos de si
mesmos, ou seja, todos são possíveis assassinos. O fascismo é o assassinato
descarado, a democracia é o assassinato mascarado. Pensam na democracia
comparando com o fascismo, mas nunca imaginaram uma democracia absoluta. Todos
entendem a máscara, que o sistema mata de forma mascarada, e como sustentam o
sistema, então, todos aceitam o assassinato, todos são assassinos. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E como não ter medo estando junto de
assassinos? Como confiar em qualquer um, como confiar em si mesmo? Se olhar no
espelho e ver que há um duplo, um cego e um assassino; e se o cego vê no
espelho o assassino, ele fica com medo, mas se o cego desaparece e fica só o
assassino, ele sai para a rua e faz o que sempre desejou, matar. Eu admiro uma
coisa nos fascistas: ele dizem a verdade, que realmente são fascistas; já o bom
cidadão, a esquerda, os ditos intelectuais, são piores que os fascistas, eles
mentem para todos e para si mesmos que são boas pessoas, se orgulham de quem
são, mas, como disse, amam o sistema, o capitalismo, a falsa democracia. Eles
só têm discursos que acham bonitos, mas vivem como porcos, são porcos. Eles
berram silenciosamente: eu não quero saber, eu não quero ouvir, eu me nego a
aceitar a verdade! Não querem saber, mas sabem; apenas não pensam sobre, eles têm
pesadelos, ficam doentes, neuróticos, já que reprimem a verdade que conhecem. A
prática esportiva deveria ser uma busca de vitalismo, mas praticam esportes
exatamente para aliviar o ódio, buscam alívio de todas as formas, em antidepressivos,
cigarro, álcool, esportes, sexo, religiões, mas nunca ficam aliviados, sofrem
sempre. A evangelização do Brasil é exatamente não querer saber a verdade, é
viver na fé, fé em qualquer coisa, ser cego; mas como disse: todos estão presos
a fé científica, midiática e política; e fé continua sendo fé, mesmo que seja
em deuses diferentes. A tensão é um vírus, é a base das relações: se não fizer
as coisas certas você se dará mal. Prazos, obrigações, mais e mais e mais. O
precariado sempre tenso atrás de emprego, o funcionário público com medo dos
cortes do Estado, os alunos, os filhos com medo das reações dos professores e
pais, as esposas e esposos que não se confiam, tensos sempre, o cidadão com
medo de ser assaltado, o povo com medo do rumo do Estado-nação, a ciência que
impõe o medo de se olhar no espelho, e todos tensos produzem tensão nos outros.
Tensão é o afeto perigoso daquele que pode explodir, ou explodir um pouco, ou realmente
explodir e matar qualquer um. O riso de Satã é exatamente a contemplação disso
tudo, de como todos aceitam tudo isso... estão mortos, sabem disso, mas dizem
estarem vivos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">.......................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O idiota tem um nome, um registro, uma
identidade, é identificável. No pós moderno com as hibridizações, a não
estabilidade no trabalho, as modas, o futuro incerto, as identidades se tornam
flexíveis; mas todos dizem: “eu sou isso”; os livros se referem a pessoas que
se dizem escritores, as pessoas tem perfis nas redes, pensam no percurso de uma
vida a partir da geração, todos tem pais ou sentem a falta deles, são de
esquerda ou direita, afirmam uma sexualidade. As mudanças nas subjetividades
mostram que ninguém sabe o que vai se tornar amanhã, amanhã todos podem acordar
gays, aleijões, acéfalos, videntes, loucos, shamans. O futuro incerto, a
conscientização da crise constante como característica do capitalismo mostram
que amanhã qualquer um pode estar na rua, vivendo em barracas, roubando e
matando, ou em queda livre antes de ser despejado do apartamento. O trabalho
precário coloca todos em tensão, podem perder o emprego a qualquer hora; mas
não ter futuro pode ser algo especial, se desligar das pressões em função de
uma aposentadoria, apostar no acontecimento, experimentar o que está em mãos. As
pessoas precisam sentir os pés no chão, presos como se fossem raízes, mesmo que
no concreto. As pessoas se afundam em qualquer coisa: família, trabalho,
neurose. Precisam da segurança da mentira, dizem que amam e se amam, mas não sabem
o que é o amor. São cães perdidos, macacos imitando macacos que imitam macacos;
presos nas significações dominantes, nas palavras de ordem, nas pautas e
agendas. Elas se unem para não ficar sozinhas, mas unidas pelo bom senso e
senso comum. Uma moda aparece e todos entram na moda, como macacos. Se todos têm
algo todos querem ter esse algo. Aparece um tema e todos mergulham nele.
Precisam loucamente de um sentido na vida e compartilhar a vida com outros. A
monstruosidade é da multidão, e ela entende a potência da monstruosidade que
diz respeito a subjetividade pós moderna. O que seria a borda, um desejo
radical de fora, a alteridade não como método, mas como existência? A multidão
se refere às novas composições em rede, mas o hipster como sujeito de luta,
mostra que a multidão pode ser afirmação do sistema. Negrianos ainda acreditam
na política dominante, os Deleuzianos acadêmicos são esteticistas,
cosmeticistas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">.............................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Fala esquizo projetada <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Me
sinto tão só.... parece que nem eu estou aqui; queria ficar só, totalmente, mas
eu continuo aqui. Queria casar com ela, desde que eu não tivesse que a ver,
aliás, seria melhor nem a conhecer. Quando eu espeto agulhas no braço, eu não
sinto nada, e eu queria sentir, mas faz tempo que “sentir” não tem mais
sentido. Assei minha mão no forno e só senti um cheiro estranho, eu quis vomitar,
não pelo cheiro, melhor, mesmo com o cheiro não tive nem vontade de vomitar,
mal senti o cheiro, mas os vizinhos perguntaram se um rato estava morto no meu
ap. Não sinto mais nada, nem “sinto muito”, não estou morto é pior, já que
estou aqui e não estou aqui, se estivesse morto apenas não estaria aqui, mas
ainda estou. Eu caminho pela rua e todo mundo ri, as minas riem; por quê? Estou
de aniversário? Eu estou comemorando o aniversário da minha morte, mas se riem
pra mim é porque estou vivo, mas sei que não estou, pelo menos desejo não
estar... não sei. Sempre pensei que eu fosse alguém, daí descobri que não era,
que eu sempre fui <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Ninguém</b>, nada mais
que uma <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Puta Mexicana Barata</b>. Sempre
me olhei no espelho – não para me embelezar, nem para verificar minhas
cicatrizes –... o espelho me atrai, fico olhando: quem é esse, o que é isso?
Olho pra mim como olho as minas e minos nas ruas, sou mais um, mais um objeto.
Mando nudes pra todos, já que estou interessado nesse corpo: um cara grande,
ossudo, feio, mas muito delicado. Porra esse cara tem cintura, não tem pelos,
não tem músculos definidos, é tipo uma mina! E eu não estou obviamente
apaixonado por mim, sou apenas mais um, mas que me interessa – eu sou crush de
mim mesmo. Me comeria e depois iria fazer outra coisa. Estava na frente do
espelho e soquei com força, quebrei o espelho, cortei minha mão; queria dar
umas porradas naquele cara que me interessava. Não quero amizade com ele, muito
menos um relacionamento, eu o comeria de vez em quando, e de vez em quando lhe
quebraria a cara. As pessoas que eu mais conheço, as que eu gosto, eu não
consigo as chamar pelo nome, já que não diz nada. Os outros as chamam sempre da
mesma forma, os que não conhecem elas da forma como eu conheço. Eu perguntei o
nome da minha namorada pra ela na hora que a apresentei para minha família; eu
estava chapado, mas sabia o que fazia. Que nome é esse? Que apelido é esse? Porque
todos a chamam da mesma forma, das mesmas formas? E quem são essas pessoas?
Você eu conheço, sei quem você é, mesmo que você seja minha ficção, e, sim, eu
também sou minha ficção. Eu odeio proximidade com muitas pessoas, UMA já é uma
legião; e eu gosto de estar com UMA legião, mapeando sempre, e sei que poderia a
mapear e mapear sempre, e sempre me perderia nas legiões de legiões que a
compõem. Um pouco de muitas mulheres pra mim é pouco, é nada. Tenho que penetrar
de todas as formas, e é a pele, o cheiro, a ossatura, o olhar... me perco em
tudo isso e sempre preciso de mais; sim, sou obsessivo. Quando estou mexendo
meus lábios estou vendo meus lábios, entendo meu caminhar, estou me vendo, me
curtindo, curtindo o corpo, corpo que pode muito; sim, estou vendo alguém
molecularmente e não vou chamar ele de Eu, já que “Eu não importa”. Eu consegui
foder minha cabeça, tive que foder minha cabeça pra realmente entender o que
sempre vi, não podia mais me perceber como me percebia, e para entrar em mim tive
que me perder. Sempre digo a todos: não me pergunte quem eu sou, minha idade, o
que faço – isso não diz nada de mim. Se quiser ler o que eu escrevo, problema é
seu, se gostar, provavelmente não vou gostar de você. Me sinto um fantasma, um
morto vivo, um espírito caminhando entre esses seres que não entendo se estão
vivos ou mortos. Será que é isso? Sou uma viagem barata de cola? Estou em coma
no hospital? Gosto de estar sozinho, quero distância de mim e de todos. Não
suporto as pessoas, não suporto pessoas... eh muito pra mim essas legiões e
legiões, isso me dói. Eu já matei, já roubei, já fui morto, já fui roubado, eu
fiz de tudo e de tudo fizeram comigo, eu não sofro por mim e nem sinto muito. Quando
percebo meus movimentos e minhas falas... parece que tudo é uma repetição de
coisas que eu já vi, filmes ruins, falas de pessoas perdidas no passado,
trechos de livros, parece que não há vida, só essas repetições de coisas
idiotas. Acho que sou um macaco, um imitador, sou uma casca sem nada dentro, melhor,
que é preenchida por qualquer coisa... pensava que eu tinha um sentido na vida,
mas não há vida, apenas comédia. Sim, eu pensava estar criando, estava fazendo
arte, mas nunca foi arte. Eu nasci cego e fiquei cego até os seis anos, tudo
era tão legal e maravilhoso; então, fui curado da cegueira e um dia me olhei no
espelho: o que é isso afinal? Comecei a usar drogas em busca do que percebia e
sentia quando era cego, ajudou durante um tempo, mas depois tudo começou a
ficar redundante. Preciso ainda da narcose, já que ela faz com que eu me sinta
como se.... bem, na narcose parece que as coisas são realmente reais, não há
estranhamento; estranho é quando deliro sem drogas. Acho que essa é minha vida:
estou sempre chapado, mas estou sempre sóbrio. O que está acontecendo, que porra
é essa? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">...............................................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Cartografar é experimentar, teste e erro,
sem se importar com o erro. A vida é a cartografia, a vida do romântico é a
cartografia, tentar sem morrer. Quanto mais tenta, mais irrompe para o outro
lado, abre as portas, louva o excesso, mas pode produzir. Uma revolução tem
êxito com focos de acontecimentos, isso vimos em 2011. O carnaval, as festas
são focos disseminados de consenso. Unem todos a partir de acontecimentos
programados para amortecer. As lutas em rede têm outra lógica. Uma vida
necessita de acontecimentos, para se tornar singular, o contato com a dor, com
a morte é muito. Uma subjetividade singular pode ser apropriada no fascismo,
visto nos petistas fascistas, nos guerrilheiro políticos, um jovem pode virar
um careta, como muitos hippies, vide os magos da tecnologia que se tornaram
corporativistas, drogados maravilhosos podem virar evangélicos, fascistas
caretas, uma revolução bela pode virar um Estado militar; menos pior é morrer,
ficar louco, sei lá. Mas se o corpo aguenta coisas especiais podem acontecer,
por isso Burroughs é pai do pós-moderno, ele foi o que mais aguentou. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">......................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">As lutas de 68 criaram novas
subjetividades, e permitiram as democracias. O uso de<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>drogas, as novas relações entre gêneros e
sexos, a parceria com os não brancos, a vida em comunidades, o culto a
religiões não baseadas no cristianismo, a ecologia, a disseminação da arte pop,
a tecnologia digital, tudo isso, as marcas da virada dos 60 para os 70, foi a
base para as revoluções moleculares, e estas criaram as democracias. A
genealogia é pensar no que aconteceu para sermos quem somos, entender o que
realmente aconteceu, dar importância para os acontecimentos, não se prender na
história; a cartografia é pensar na potencialidade atual e buscar ou não um
futuro. Hoje o hipster aponta para o último homem, o democrata. O hipster é o
sujeito de 2013, é o sujeito de 2011. Mas as lutas não eram apenas hipsters, os
anti sistemas estavam presentes. O hipster aposta no bom futuro, o anti sistema
não pensa no futuro, é um romântico. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-52772171368915917512018-08-15T08:39:00.000-07:002018-08-15T17:14:10.983-07:00Lições esquizoanalíticas de alta magia dos subterrâneos: a subjetividade Bruxo <br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Este texto é um riso de Satã que detalha a
vida do Bruxo, um filho, irmão de Satã, melhor, o Bruxo é Satã. O texto pode
não parecer, mas é um exercício esquizo analítico, pelos seguintes motivos: a
percepção molecular move o texto, como também ela é apresentada; o Bruxo é uma
subjetividade não uma identidade, o Bruxo é um intermeio, meio homem, meio
demônio, está na terra, mas também no inferno, sua identidade sempre é desconhecida
e ele se esforça para criar estranhamento, ele é um ator, é Satã, é um gênio, é
um espião, é uma metáfora, é uma ilusão; o Bruxo é monstruoso, se deseja assim,
então o texto é uma ode à monstruosidade, a monstruosidade do vampiro, sua
hiperssexualização, fome voraz, é parecida à do Bruxo, já que ambos são a mesma
entidade; o Bruxo aparece, em muitos momentos, como criador de si mesmo, ele
tem o poder da dessubjetivação, de deixar de ser o que impuseram a ele; o
conceito de Corpo sem Órgãos, mesmo não referido, é central para pensar a vida
sexual e afetiva do Bruxo, o Sexo Bruxo é um meio, não busca um fim como
ejacular; o texto sempre tenta criar mapas com linhas de naturezas
diferenciadas, ou seja, conjuga termos estranhos entre si: “o Bruxo lidera a Bruxa
que o lidera”, “Satã domina o Bruxo, que domina os românticos, mas os
românticos são Bruxos e, também, são Satã”, “a espada em seu peito criou seu
corpo, mas ele criou a espada, assim, ele se construiu”, “enganava tão bem que
enganava a si mesmo”, “era um assassino amoroso”, “o Bruxo não é tolo, ele não
acredita em bruxaria”, “ele vive em extremos, sempre, é um perverso, mas
amoroso, um viciado saudável, um louco que reconhece a loucura e, assim, a
domina”; o texto todo é uma ficção, mas parece ser um relato que não é fictício,
apenas religioso; a mentira aparece como potência frente à verdade, filosófica,
cristã, científica; o esquizoanalista – que se chama na verdade Legião, mas é
um Bruxo<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>escreveu o texto como uma linha de fuga,
aumento de território, rizoma, busca de diferenciação, ou seja, o texto é uma
experimentação diferente do já produzido pelo Legião. Por fim, a cartografia é
a esquizoanálise, e Bruxaria, como tratada aqui, é um conceito que se mistura
ao de cartografia, Bruxaria é um tipo de cartografia. </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: red; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt; line-height: 200%;"><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">.........................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O Bruxo aqui não é um Bruxo, mas a
subjetividade, como disse acima, que atravessa a história, e busco no texto o
comum entre Bruxos. Porém, desconfio que os Bruxos presentes em períodos e
localidades diferenciadas são sempre a encarnações do mesmo Bruxo. O Texto é
uma fábula, uma mentira, uma ficção, uma piada, mas também é rigorosamente
talhado a partir de relatos sobre a figura do Bruxo, atualizados em inúmeros
textos de Alta Magia; estes, apresentados aqui em recuo e referenciados, os encontrei
no “Fórum BetaDemo” presente na camada mais profunda da Deep Web. Os relatos,
os textos são traduções de traduções e não há como confiar totalmente em sua
origem; como estavam desconstruídos e pareciam ter sido traduzidos por
ferramentas digitais, eu fiz uma tradução final em português. Decidi também
padronizar o estilo textual para facilitar na leitura do que segue. Escrevi o
texto me pensando como um Artaud personificando um Nietzsche; sim, o mais
humilde fazendo o papel do mais orgulhoso, ou seja, o Gênio Menor. Gênio Menor
é um conceito advindo dos perdigotos de Satã no momento em que ele ri. Gênio Menor:
não um menor que se pensa gênio, o pequeno egocêntrico, o pequeno Hitler, o
pequeno que tem um certo dom e se banha nele para conseguir ser grande; o Gênio
Menor é um gênio que não quer ser gênio, ele odeia o que chamam de genialidade,
nega a si como pessoa especial, ele quer ser qualquer um, ele é uma puta
mexicana barata, e sua genialidade está aí, no seu desejo de menoridade. Toda a
tradição romântica é feita de gênios menores; sim, vivem na sarjeta, pois ela é
o lugar deles. “Eu piso na rua, sempre, me sinto em casa, na sarjeta, os ratos
são meus amigos e as baratas me cuidam, meu nome é rua, rua qualquer, eu sou a
rua, o caos... Quer pisar na rua, quer pisar em mim, pisa em mim, tá afim?”. “Se
me derem uma garrafa de vinho chileno, já que sou chique e gosto de vinhos
chilenos, podem até cuspir em mim, sou um michê gourmet.... Cospe em mim! Tá
afim?”. “Se você disser que gosta da minha obra, se você me puxar o saco na
rua, eu quebro a sua cara”. Sim, personifiquei (rindo, da piada), para escrever
o texto, uma grande mente, que traz a verdade sobre o mais profundo da vida,
como seu eu fosse um oráculo, ou mesmo como se eu fosse o Bruxo contando sua
própria história. Sim, um Bruxo, alguém com poderes, alguém muito mais forte
que o mais forte dos mortais. Fiquei um dia inteiro me olhando no espelho e
berrando: eu sou o caos! Passei então a acreditar, me sentei no teclado e
escrevi a “importantíssima” obra que segue. Depois que finalizei, fiquei três
dias consecutivos rindo (da piada), rindo de mim mesmo, da obra, risada de Satã.
O texto como sempre é escrito por Legião (demônio que aparece na parábola do
Saraceno), e Legião é UM demônio, porém ele é uma legião de demônios, por isso,
o texto parece ter uma organicidade, mas pensar dessa forma é um engano, é não
ver a Legião. A aparência do texto, assim como a imagem do demônio, é apenas aparência,
e os olhos nunca poderão contemplar a verdadeira imagem de um demônio. Penso no
indivíduo, o Bruxo, e na sua vida privada em relação à vida de outros, já que a
maior parte dos textos que encontrei apresenta o Bruxo como alguém radicalmente
individualista, e a radicalidade individualista é marca do satanismo. O Bruxo se
centra na sua existência, não pensa no social, não se importa com o destino da
humanidade. Quando acreditam que o Bruxo é O Bruxo ele se torna realmente Bruxo,
e, a partir daí, tem total controle dos espaços e dos sujeitos que neles vivem;
é como o vampiro que precisa da permissão dos outros, formal, para que eles
passem a ser atormentados. Sim, o Bruxo necessita da moral dos outros, de seus
medos, de suas paranoias para ter forças.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">.............................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O Bruxo não age por ódio, não se vinga,
não tem ciúmes, nem inveja, ele é frio, e não é cruel, mas é cruel em sua
frieza. O Bruxo gosta de contemplar as paixões tristes e a impossibilidade de
controle das pessoas comuns. Muitas vezes, se coloca como um objeto a ser
agredido, para que fiquem devendo a ele eternamente, já que ele não se vinga, e
sim: elas se culpam, têm vergonha do que fazem, agem sem controle. O Bruxo age
por intuição e ele sempre ganha, nunca perde. O Bruxo espirra e cai do céu uma
chuva de <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">vinte uns</i></b>. Perguntam sempre: “por qual motivo o Bruxo é chamado
de Bruxo, já que ele é mais forte que muitos demônios?”, e o Bruxo mesmo
responde: é minha piada, me chamo, me chamam como eu quiser. O Bruxo não é um Bruxo,
mas as pessoas acreditam que ele é, e ele, como é, às vezes, uma pessoa,
acredita também, não nas pessoas, mas em si mesmo. O Bruxo engana tão bem que
engana até a si mesmo. Quando o Bruxo chega na taverna, todos os que estão
presentes tremem, mas como não conhecem o Bruxo, pensam que é o frio; só que
foi o Bruxo quem trouxe o frio. O Bruxo a cada estação está em um vilarejo
novo, às vezes, sai do país, de trem, ou de barco, viaja sem rumo e acha seu
lugar, sempre. Ele faz isso para recolher dívidas em nome de Satã. O Bruxo joga
uma moeda para o ar, e é a moeda e o ar que escolhem seu novo destino. O Bruxo
é uma casca, sem nada dentro, uma bela casca que não esconde nada, sim, ele não
é nada por dentro. O Bruxo mostra que não tem vida a partir do seu olhar;
quando está em um duelo, ou numa batalha, quando está fazendo sexo, sempre, ele
apresenta um olhar de indiferença a si e aos outros. O Bruxo pode estar rindo
histericamente, pode estar declamando apaixonadamente, mas seu olhar demonstra
que não há a vida em seu corpo. Sim, o Bruxo é Satã, mas o Bruxo sabe que Satã
não existe. O Bruxo não acredita em bruxaria, ele é bobo, mas não tanto; o Bruxo
se alimenta da moral dominante. O Bruxo não usa métodos, mas pessoas que
acreditam nos métodos; manipula elas a partir dos métodos que elas conhecem,
ele não necessita de métodos: falar três vezes, duas vezes diz a verdade e três
vezes cria a verdade; sexo a luz de velas de sétimo dia para invocar sucubus e
incubus; pentagramas, sangue... O ritual não pode ser metódico e tem que se
despir dos símbolos dominantes, o ritual não pode ser uma cópia, já que a potência
está na criação e a cópia e só cópia. Como diz o Manifesto Bruxo na seção que
trata do Vampiro: <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Buscam
a vida eterna e a figura do vampiro é desejada... O Bruxo Aerseth peregrinou
por estações sem rumo, era um Bruxo do movimento, amante do nomadismo. Decidiu
ficar um tempo em um vilarejo, sabia que deveria ficar ali. Alguns moradores do
vilarejo lhe apresentaram uma droga potente, que não conhecia, a droga era
extraída de uma planta local. Ele a usou continuamente, estava maravilhado com seu
efeito. Um dia entrou em uma igreja, exatamente, no momento de um ato fúnebre;
Aerseth ainda estava consumindo a poderosa droga. A embriaguez da droga
misturada com a pompa fúnebre lhe causou um estranhamento, e então sabia
exatamente o que deveria fazer: negar Deus completamente, negar em si o que
ainda restava (se é que restava) de crença na divindade cristã. Após isso ficou
dias vendo seres demoníacos; moradores do vilarejo que já conhecia pareciam
zumbis ou mortos vivos. Aerseth era novo, tinha vinte anos, saiu do vilarejo e
continuou sua peregrinação. Aos 45 anos ninguém acreditava que ele tinha essa
idade, parecia ter vinte anos, todos diziam; então, um dia, se olhou no espelho
e entendeu o que havia acontecido: o fato de ter negado Deus em um ato fúnebre,
fez com que ele negasse a parte fundamental do ciclo da vida, a morte. Ele não
mais iria morrer, nem mesmo envelhecer. Essa história passou por muitas gerações,
muitos tentaram repetir o ato de Aersteh como se fosse um método eficaz, porém,
nunca funcionou com outros. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O Bruxo sempre se afetou com a barbárie e odiou
a violência dos romanos e sua guerra racionalizada, a guerra por poder; ele
admirava os bárbaros, os que lutam por lutar, lutam não por ódio, mas por amor,
amor à guerra. O demônio Ferreiro e o Bruxo passaram algumas temporadas juntos,
ambos amavam o Aço, a primeira espada foi criada pela parceria entre eles. Os
nômades em movimento, amantes do movimento.... o Bruxo os movia. O Bruxo também
era o pônei ensanguentado, que alimentava os coletivos do Grande Kahn. A flecha
quando está no ar dança, e depois ela é cravada, se o movimento foi bem-sucedido,
em qualquer um. Alguém lança a flecha que atinge alguém... mas o Bruxo sempre
gostou de ver ela dançando no ar, com seu olhar molecular. O movimento da dança
das mulheres loucas na floresta é de natureza parecida com o da flecha; vaginas
queimando, ensanguentadas, desejando todo o poder dos elementais, que são
bruxos, amigos do Bruxo. As Naves dos Loucos levavam o germe da bruxaria para
inúmeros lugares; o Bruxo comandava o destino das Naves. Eurípedes era irmão do
Bruxo, e as Bacantes também eram suas irmãs. A Inquisição cristalizou a luta
contra a bruxaria. Giordano Bruno (tirando o N e colocando um X, o nome Bruno
vira Bruxo) era uma das múltiplas personalidades do Bruxo. A arte da memória de
Bruno era tão poderosa quanto a sua arte da respiração: sentir a respiração
presente em tudo na vida, nas nuvens, no solo, no subterrâneo, “devemos
aprender a respirar”, dizia o Bruxo Bruno. Belial e Dantalion queimaram o
coração do Bruxo antes dele se tornar Bruxo. Sem coração, apenas com o cérebro
pulsando, o Bruxo se tornou realmente Bruxo, mas ele sempre foi um, não “um” e
sim “O”. O Bruxo fala nas costas dos seres comuns, diz a eles que o futuro já
aconteceu, que apenas eles não reconhecem isso, já que são cegos. O olho
demoníaco já viu tudo, só fica esperando para que “o tudo” seja atualizado. Os
olhos divinos negam o olho demoníaco, que está na fronte. Satã está sempre nas
costas do Bruxo, mas o Bruxo está nas costas dos artistas, dos escritores
quando estes estão produzindo suas obras. Os fogos fátuos e os miasmas aparecem
quando o Bruxo quer. O Bruxo matou toda sua família, não queria que seres com
genética parecida vivessem, isso poderia abalar seu poder. O Bruxo não caminha,
ele dança no ar. O Bruxo olha sempre para todos os lados quando caminha; sua
genialidade, bruxaria, não o deixou paranoico, mas ele quer que todos pensem
que ele é um fraco, um paranoico. O Bruxo é um portal, Govinda Negro, ele atrai
pessoas, coletivos, demônios, animais; o Bruxo atrai até mesmo o sol, o arco
íris, a tempestade, o vento, a chuva. Se o Bruxo quiser, uma tempestade devasta
o vilarejo. Amy, conhecido nas “Escrituras Bélicas” como Assaz e no “Terceiro
livro de Danstorn” como Hanar, rege os estudiosos do tempo. O Bruxo é um
estudioso do tempo, tão profundo que consegue até mesmo controlá-lo.<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>Como o Bruxo vive o tempo, seu poder
de ação não é localizado, um espirro seu pode matar uma criança dormindo em uma
parte distante do planeta. O Bruxo louva o caos, cria o caos, sim, ele é o caos,
ele gerou Nix e Érebo, que geraram a legião romântica, e o Bruxo, como disse, é
um romântico, aliás, todos os românticos são Bruxos e eles produzem o caos.
Satã criou o baralho, mas quem comanda o jogo é o Bruxo, ele dá as cartas, ele
joga, ele blefa e sempre ganha. O Bruxo jogava cartas com seres comuns e alguém
disse que o mundo iria acabar, todos queriam sair correndo, ver os familiares,
tomar o último porre, dar uma trepada, mas o Bruxo disse: vamos acabar o jogo! O
sujeito soberano, que pode tudo, é uma interpretação tola do satanismo. O “poder
tudo” deve significar não aceitar a moralidade cristã, que torna praticamente “tudo”
pecado. O Bruxo mata por amor, nunca por ódio, e obviamente matar por amor não
se refere à neurose da vida conjugal; “assassino amoroso”, a dubiedade, a
obscuridade, o impedimento da significação dominante. Quando alguém morre, já
que tentou ferir o Bruxo, não foi culpa do Bruxo; todos sabem que quando tentam
ferir o Bruxo se auto punirão. Os Gárgulas cuidam as catedrais, e foi o Bruxo
quem esculpiu o primeiro Gárgula. Samael é pai de Caim e Caim é pai do Bruxo. Kroni,
Hades, Lúcifer comandam o Inferno e convidam sempre o Bruxo para temporadas no
inferno. O Bruxo é um traficante, ele vende o fungo do centeio, a secreção do Sapo
Bufo, as fezes do rinoceronte, a carne negra da Centopeia Gigante, a Sagrada
Gandja, o veneno do Peixe Sapo, o Sopro da Flor do Dragão, o sangue da Serpente
Javanesa, o sumo do Cogumelo de Chiapas, o pólen da Flor AgriDoce. O texto
considerado primeiro sobre o Bruxo, presente na antologia NekroMantia, expõe o
momento em que o Bruxo descobre quem ele realmente sempre foi: <span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Ele
era fascinado pelos olhos, pelo olhar das mulheres, ele dominava a arte do
olhar, conseguia as capturar pelo olhar. Ele tinha facilidade em ler as linhas
das mãos das mulheres; ele lia as linhas mesmo sem as ver, lia apenas pelo
toque. Sim, ele dominava também a arte do toque. As mulheres não conseguiam ler
as linhas de suas mãos, e quando tentavam eram bloqueadas. Ele sempre conseguia
perceber as conjunções astrais, sabia a partir dos números o que estava regendo
certas estações. Para ele, tudo isso sempre foi natural. Apenas descobriu ser Bruxo
ao se ver no espelho... um dia percebeu uma mancha no peito com a forma perfeita
de espada. Em toda a sua vida fora um guerreiro, tinha cicatrizes em todo o
corpo, e quando viu a mancha, a espada, entendeu que havia sido a espada a
construtora do seu corpo e que ele havia criado a espada – ou seja, ele se
construiu. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">...............................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O Bruxo necessita da Bruxa para se
empoderar. A Bruxa não é sua versão feminina, é uma mulher com poderes, porém,
o Bruxo sempre domina as Bruxas. O Bruxo sabe muito bem os lugares em que deve
pisar, e raramente se engana se as pretendentes são Bruxas ou não; e sim,
muitas Bruxas só reconhecem que são Bruxas a partir do encontro com o
Bruxo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O Bruxo possui escravas, que são quase
Bruxas ou Bruxas de uma ordem inferior; elas variam de estação a estação, só
que há escravas que permanecem por muito mais tempo. O amor do Bruxo é
realmente expresso na relação com a Bruxa, mas as escravas também são paixões e
amores do Bruxo. O Bruxo e as escravas não têm necessariamente uma relação
direta – as escravas habitam muito mais o plano dos espíritos, e mesmo quando
uma escrava copula com o Bruxo, é uma cópula sem importância, ou seja, algo
inteiramente diferente do sexo entre o Bruxo e a Bruxa. Não há motivo para
dizer que o amor do Bruxo pela Bruxa é maior que o amor pelas escravas... são
amores, mas diferentes. As escravas fazem tudo por ele, o adoram, e têm um
certo grau de poder sobre ele – ele dá esse grau a elas para potencializar a
relação. Algumas escravas desconhecem que são escravas, pelo menos
conscientemente. As escravas<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>são
escolhidas por afetos, elas surgem com o vento. A primeira parte do Contra
Evangelho, traz uma passagem que mostra o poder das escravas, mas também como
esse poder é perigoso para elas. O Bruxo é o termo dominante da relação,
exatamente, por não ter ódio e reconhecer a fraqueza das mulheres: <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O
Bruxo Djim Morgattzen criou para si uma personalidade de Satã palhaço. A partir
dessa personalidade ele criou mais duas, a de gênio e a de idiota, e
radicalizou: um dia era Satã palhaço, no outro gênio e no outro idiota. Ele
radicalizou tanto que acabou entrando em uma área de descontrole, não tinha
mais controle das personalidades. Na mesma época, ele estava com sua Bruxa da
estação, e um dia, depois de exagerar com drogas, acabou a agredindo. As
escravas decidiram que o Bruxo iria pagar, seria jogado em uma vala de lobos
famintos. O Bruxo entendeu a situação, isso o fez voltar para sua margem de
controle, mas disse a elas: eu não vou me desculpar. Ele ficou meses ouvindo
das escravas que ele seria destroçado e não fez nada, apenas continuou com sua
vida. Como sua vida era encantadora para as escravas, o ódio delas foi se
dissipando. Ao mesmo tempo, um aspirante a bruxo, pretensioso, se aproximou de
Djim. O aspirante queria ser tão forte quanto ele e, por isso, o imitava; porém, errou totalmente ao repetir o o ato do Bruxo, agrediu uma escrava, e
as outras escravas o jogaram aos lobos; ou seja, ele pagou pelo erro do Bruxo,
e elas, também, tiveram que pagar pelo seu ato. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O Bruxo sempre é tentado pelas escravas,
pelas parceiras das escravas, por mulheres que querem ser escravas, ele as
atrai. Mas o Bruxo se contém, apenas dedica relação carnal às Bruxas. As Bruxas
lideram o Bruxo que as lidera. As escravas ajudam o Bruxo na escolha das Bruxas,
e as Bruxas sabem que podem contar com as escravas. A relação entre Bruxas e
escravas é bonita, é feminina, diferente da relação do Bruxo com todas elas. A Bruxa
nunca tem ciúmes das escravas, e quando as escravas têm ciúmes das Bruxas, sabem
que têm que se conter, pois esse sentimento pode destruí-las. O Bruxo escolhe
uma Bruxa por estação, não mais do que isso; se a relação é muito rápida, após seu
término, o Bruxo se obriga a ficar um bom tempo solitário; é central para ele, para
sua potência, a contenção sexual e afetiva. O Bruxo, às vezes, pode ser levado
pelos impulsos e copular com mulheres que não são Bruxas nem escravas, e isso o
enfraquece. Quando a Bruxa é escolhida, na hora o Bruxo diz a ela: eu sou teu
pai, você é minha. A Bruxa muitas vezes não entende, tenta se afastar, mas logo
depois de escolhida não há volta. O Bruxo dedica sua vida sexual a Bruxa; foca
na Bruxa o sexo para não se dispersar e, assim, se empoderar.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O sexo com a Bruxa acontece apenas em certos dias
da semana; as relações mais importantes são aquelas contínuas, em dois dias
seguidos, principalmente de sexta até sábado, ou de sábado até domingo. O Sabath
é importantíssimo, marca o fim e o início da semana; aliás, o intermeio é
central na prática sexual, além do sábado, são importantes a meia noite e o nascer
do sol, mas nunca o pôr do sol, já que este é admirado por devotos de religiões
contrárias à do Bruxo. O Bruxo nunca ejacula no sexo com a Bruxa, o Bruxo
ejacula solitário uma vez por semana, no dia mais distante da última e da próxima
transa. Faz isso para que as transas com a Bruxa sejam terrivelmente intensas. O
Bruxo contém a ejaculação, já que ela é uma descarga violenta de potência
vital. Cada ejaculação precede algo de morte, enfraquece o corpo do Bruxo e seu
terceiro olho fica borrado, quase fechado. Quando se percebe que a ejaculação diz
respeito à morte, ela se torna algo não prazeroso. O homem comum transa para
ejacular, ou seja, busca um fim, o sexo para ele tem um início, meio e fim. Mas
transar sem desejar ejacular é criar um meio, que se estende, meio apenas, sem
fim; então, o meio se torna o mais importante, e nesse meio coisas impensáveis
para o homem comum acontecem. Se não há ejaculação, só meio, então não há
porque individualizar uma transa; o Bruxo e a Bruxa podem ir para cama em vários
momentos nos dois dias, e como não finalizam com a ejaculação, então, é sempre
a mesma transa. Se o Bruxo nunca ejacular (finalizar) durante uma estação com a
Bruxa, todas as transas foram uma transa; como mostra o livro A Bruxaria é um
tipo de Sexualidade, escrito por Saint Diavo: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Durante
a estação transaram apenas uma vez, mas essa transa durou toda a estação; às
vezes, eles paravam para descansar uma hora, às vezes duas, às vezes um dia, às
vezes uma semana; eles tinham que descansar para continuar transando mais e
mais e mais, e assim a transa durou meses. Eles não competiam entre si e muito
menos com os outros, os outros não importavam, o que importava era a
necessidade de estarem juntos, mas sim, a transa deles foi a mais longa da
história. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Sua ejaculação semanal é também uma
oferenda às escravas, para conter a necessidade delas de relação sexual com o Bruxo.
O falo do Bruxo é naturalmente viril, tem uma força extrema e quando está com a
Bruxa sempre está ereto. O pós sado masoquismo foi inventado antes do sado masoquismo.
Pós sado masoquismo é o sado masoquismo com amor, é o ato sexual do Bruxo com a
Bruxa. O Bruxo tem autocontrole: regra a alimentação, tem vida esportiva ativa,
medita com frequência. Porém, o Bruxo abusa de substâncias viciantes que agridem seu
organismo; por
isso, há um grau de descontrole na vida do Bruxo, mas ele tem poder frente ao
descontrole, ao caos – sim, o Bruxo controla o caos,
produz o caos, o segundo nome do Bruxo é Caos. Ele mescla os excessos
narcóticos com uma vida radicalmente saudável, já que precisa sempre dos
extremos dentro de si. O Bruxo necessita da borda, estar na borda em sua vida,
e o sexo nasce da borda, da força do corpo sadio, da violência do corpo narcotizado,
da potência da mente genial do Bruxo, que é um gênio, da loucura do Bruxo
causada pelos abusos da narcose. Os extremos dos hábitos do Bruxo se
cristalizam no sexo com a Bruxa. O sexo entre o Bruxo e a Bruxa marca a força
dos dois e mostra que a relação é transcendente – Amor Bruxo, não o amor das
pessoas comuns. O sexo é o ritual mais potente dos dois, ocupa a maior parte da
relação. O empoderamento do Bruxo produz o sexo empoderado que produz mais
empoderamento. O sexo, por ser Sexo Bruxo, como disse, não concerne ao sexo das
pessoas comuns, mas certas práticas comuns são usadas pelo Bruxo, porém, sempre
com grandes margens de desvio. O Bruxo sabe que mil posições podem ser
experimentadas em uma posição apenas. A posição mais comum pode tomar formas
caóticas. O sexo com proximidade extrema, também física, a vontade de que o
falo atinja a partir da vagina o ventre da Bruxa, indica um desejo de
transformar o Dois em Um (21), eliminar todo o resto, fundir os dois corpos em
um novo corpo; esse novo corpo teria dois terceiros olhos, ou seja, o corpo
mais poderoso já concebido. Os poros da pele do Bruxo são bocas que querem
beijar outros poros, ou seja, outras bocas, são línguas que querem sentir
outras línguas (poros), são olhos que choram e piscam e veem outros olhos
(poros), são narizes que cheiram a pele dela. Ou seja, apenas o toque, a pele
com a pele, a negação da penetração comum, pode permitir uma experiência sexual
única. Como obra do Bruxo, o Sexo Bruxo é só um meio, ele não busca um fim, o
corpo da Bruxa para ele é algo a ser mapeado. Ele pode ficar dias tocando os
pés, as mãos, a ossatura de todo corpo, o rosto, os seios, o sulco vaginal (que
sempre revela algo singular), o cabelo, o pescoço da Bruxa... perceber suas
pequenas imperfeições também, já que são lindas. Sim, o Bruxo pode passar dias
apenas tocando sem pensar em penetração, e quando tem ereções fortes, simplesmente,
respira, relaxa e controla. O Sexo Bruxo pode se realizar também apenas pelo
olhar. O Bruxo pode ter uma relação com uma Bruxa (que muitas vezes não sabe
que é uma Bruxa) sem ao menos tocá-la; ele pode apenas estar presente com ela, a
olhando, contemplando seu corpo, seu sorriso, sua fala, como ela se comunica
com os outros – essa é a radicalidade do Sexo Bruxo, o sexo sem contato físico
originado da potência do terceiro olho. O Bruxo é sempre guiado pelo amor, mas o
Amor Bruxo, não o amor dos seres comum; ele tem uma relação profunda com as
mulheres, encanta elas, já que nunca se considerou um homem, mas sim um Bruxo.
Os sentimentos femininos, a feminilidades, são visíveis no Bruxo: nos seus
olhos, na fala, na forma como caminha, como beija, toca, nas suas lágrimas. Elas
sabem o respeito e apreço dele pelas mulheres. Porém, o Bruxo continua sendo
homem, e como homem ama a guerra, o jogo, a batalha, ama a morte em si e nos
outros, ele é violento; ou seja, como disse, um assassino amoroso, um assassino
que ama o amor. Essa dubiedade – amar o amor, amar a violência – pode ser experimentada
sem muitas contradições; mas o Bruxo pode ser destruído como Bruxo se desejar uma Bruxa como único amor. Ahhe Krimynem, na
Antologia dos Últimos Textos Profanos, relata uma história que exemplifica
isso:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Experimentou
estações de amor com três bruxas, amou elas, uma a uma. A sequente sempre era o
amor de sua vida. Disse para a última: nunca amei alguém como amei você, você é
meu último amor, depois de você não quero mais amar ninguém e, por isso, finalizo aqui
minha história. Ele foge dela, já que não queria um sentimento tão forte, um
sentimento que o aprisionaria; se flanasse no sentimento deixaria de ser Bruxo
e viraria um esposo, e o Bruxo por sua natureza deve amar continuamente Bruxas
por estações. Ele se desliga do jogo contínuo com as Bruxas, não fica com a
verdadeira amada, e se torna um guerreiro. Ou seja, passa a amar apenas a
guerra. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">..........................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O Bruxo só se torna Bruxo tendo uma
relação profunda com a morte: desejar ela, ter vivido algum acontecimento
arrebatador... o Bruxo está numa tensão constante com a morte. Ele sempre está
em batalha, provoca duelos, arrisca seu corpo. O <a href="https://www.blogger.com/null" name="_Hlk521574506">Manifesto
Memento Mori detalha as relações do Bruxos com a morte. <o:p></o:p></a></span></div>
<span style="mso-bookmark: _Hlk521574506;"></span>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Dormia
em baixo de uma espada, grande e afiada, pendurada no teto com uma corda. Ele
banhava a corda com gordura de porco e colocava no aposento ratos. Os ratos
mastigavam a corda banhada. A espada nunca caiu no corpo do Bruxo, porém, esse
contato com a morte, ainda mais na hora do sono, o tornou radicalmente potente.
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>[...]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O
oráculo diz ao Bruxo que ele vai morrer em batalha, mas que sua história
atravessará os tempos. Ele fica feliz, se tornaria um dos Bruxos mais
conhecidos, um Bruxo Herói; assim, decide viver sempre em batalha, persegue
guerras, se alista, consegue postos importantes em muitos exércitos; o contato
com a morte sempre lhe dá poder, e ele realmente se torna herói; porém, acaba contraindo
uma doença terminal. Ao saber que iria morrer na cama de um hospital, se
assusta, já que tinha se tornado um grande herói, mas não tinha morrido em
batalha. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">[...]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Uma
fenda numa parede; depois da fenda há uma corda, essa corda sustenta um
quadrado de madeira cheio de objetos cortantes. O quadrado fica no teto, uns metros
à frente da parede com a fenda. O Bruxo fica embaixo do quadrado e brinca: joga
um machete, tentando o fazer passar pela fenda e cortar a corda; se conseguir,
o quadrado cai em cima dele e, então, pode morrer. O Bruxo faz isso uma vez por
semana; ele sabe que é muito difícil de acertar, mas com prática, ou por sorte,
pode conseguir ganhar o jogo, ou seja, perder. O Bruxo friamente tenta ganhar o
jogo, sabendo que se ganhar vai perder. Após meses de prática, o Bruxo fica
cada vez mais forte, pelo contato com a morte. Porém, mesmo que deseje jogar
todos os dias, ele sabe que a potência depende da contenção, e ele se contém. Ele
quer acertar, mas pode morrer e tem que desejar morrer, mas não pode morrer. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">[...]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O
Bruxo aprendeu a respirar profundamente com os Sadhus A respiração funda é
exatamente liberar o máximo de ar e inspirar o mínimo possível; com isso, o
Bruxo conseguia atingir níveis elevadíssimos de inconsciência. Porém, na prática
contínua, sabia que inspirar, por certo tempo, pouco ar poderia causar uma
paralisia cerebral. A prática para o Bruxo era uma forma de contato com a morte
muito prazerosa. [...] Há um tipo de serpente desértica, parente da Naja, que
libera um veneno, mas cada picada tem uma quantidade diferente. Ser picado por
ela pode não fazer efeito nenhum ou pode levar a morte súbita. O Bruxo, uma vez
por ano, durante toda sua vida, atacava sua serpente a fazendo o picar. Em todo
esse ciclo as doses de veneno sempre foram muito amenas. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>[...] O Lobo Branco Nórdico é dócil, mas pode
não reconhecer o dono em determinados momentos; nesses momentos, o Lobo pode o atacar
mortalmente. O Bruxo durante toda sua vida teve Lobos Brancos como seus animais
domésticos, mas nunca foi atacado.<span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">..............................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O Bruxo tem pelo menos quatro
personalidades, personagens, que atuam em certos blocos de tempo, e em cada bloco
de tempo, o Bruxo finca moradia em uma localidade diferente. As personalidades
são criadas a partir da percepção das pessoas comuns em relação ao Bruxo.
Quando ele chega em um novo lugar, apresenta uma personalidade escolhida por si
e, ao mesmo tempo, cria uma aura de mistério sobre ele. Os moradores começam a
fazer indagações sobre a presença e identidade do Bruxo, a partir daí os
personagens vão sendo desenvolvidos, e o Bruxo tenta afirmá-los e escondê-los
ao mesmo: um dia age de uma forma, no outro de outra, às vezes, conta histórias
estranhas sobre si; porém, a primeira personalidade se mantém como a dominante.
Isso causa um grau enorme de estranhamento nos moradores. Muitas vezes, os moradores
podem acreditar que ele é realmente todas as personalidades que ele insinua,
mas o Bruxo faz o máximo possível para que as dúvidas em torno dele não sejam conscientemente
expressas. O Bruxo faz isso, já que o medo a partir da dúvida lhe dá forças. Muitas
vezes o Bruxo encarna tão bem seus papéis, que ele mesmo passa a acreditar que
é seus personagens; e se ele conseguir acreditar em todos papéis, mesmo que
seja apenas por certos momentos, ele pode se perder neles e não voltar ou realmente
se empoderar. Drek Niuwtloverd, nas Fábulas Amaldiçoadas, conta a história de
um dos personagens criado e vivido pelo Bruxo <a href="https://www.blogger.com/null" name="_Hlk521756952">Carlfautz:</a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Carlfautz
chegou no vilarejo e disse a todos que ele era Amón. Amón estava desaparecido
por anos, já que tinha sido morto na guerra. Todos acreditaram que era Amón quem
havia retornado, até mesmo a sua esposa. A esposa amava Amón e só não tinha se
suicidado, pois acreditava que ele voltaria. O amor da esposa, que era uma Bruxa
e não sabia, trouxe o Bruxo ao vilarejo. Ele sabia da história, sonhava
constantemente com o vilarejo, com Amón e sua esposa; o Bruxo estava enamorado por
ela. Ao viver a identidade do marido, acabou se apaixonando pela esposa e, mais,
passou a acreditar que era Amón e, assim, esqueceu de sua identidade verdadeira.
Porém, a Bruxa começou a perceber que era Bruxa, e assim ficou empoderada,
entendeu que Amón havia morrido e que o Bruxo era um Bruxo. Ela se apaixona
pelo Bruxo, diz a ele que não é Amón e que ela nunca havia amado Amón, mas sim
o Bruxo. Ficaram juntos uma estação completa e depois se separaram, já que é da
natureza dos Bruxos a efemeridade extremamente intensa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">No mesmo livro aparece a história do Bruxo<em><span style="background: white; font-style: normal; mso-bidi-font-weight: bold;"> <a href="https://www.blogger.com/null" name="_Hlk521952996">Ohlinve</a></span></em><span style="mso-bookmark: _Hlk521952996;">
</span>que reinventou sua história para ter mais poder. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Passou a dizer a todos
que era fruto de um estupro e todos acreditaram. Após um tempo, ele mesmo acreditou
na história. Fez isso, pois os estupros são ações de uma classe específica de
demônios, os Iritas. Quem é gerado a partir do estupro se torna um tipo de
demônio de força extrema. Para ter essa força, <em><span style="background: white; font-style: normal; mso-bidi-font-weight: bold;">Ohlinve</span></em> aceitou
a ideia de que seu pai não era seu pai e que sua mãe havia sido violentada.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">.......................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O Bruxo sente uma forte atração pela
espionagem, ele pode realizar trabalhos como espião para o aparelho de Estado. Ele
age para o aparelho, mas busca exatamente a despersonalização própria à
identidade de espião. Ele, assim, age por si mesmo, já que gosta de contemplar
a mentira, a falsidade, o engano. O teatro é sua forma de existência, e ele
acredita no teatro, ele não tem vida, tem muitas vidas e se perde nelas.<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>A questão do jogo inerente ao Bruxo é
exposta no Manifesto do Vigésimo Primeiro Minuto da hora Final do Bruxo:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Ele
era um ótimo ator, amava a crueldade em si mesmo. Ele se colocava como objeto a
ser destruído: com corpo belo andava nu em tabernas e homens o atacavam
sexualmente, andava como um bobo pelos vilarejos e todos o apedrejavam; ele fazia
o possível para sofrer a paixão triste dos outros, mas como não era Cristo, ele
fazia isso para ter uma desculpa para destruir os outros. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">[...]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A
Bruxa Suntka encantava homens para o seu Bruxo os destruir. Ele dizia a todos:
não toquem nela, nós nos amamos, mas ela jogava olhares sedutores aos homens
que desejavam o que o Bruxo tinha. Após consumado o desejo dos homens, o Bruxo
os destruía, já que isso faz parte da lei, e ambos, ela e ele, se deliciavam. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">[...]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O
Bruxo Demis Rokano peregrinou por estações sem rumo. Um dia parou numa
estalagem em um pequeno vilarejo. Ficou na estalagem, sentia que deveria ficar
ali. No sexto dia chegou no local um senhor distinto, estranho para o ambiente.
O Bruxo e o senhor logo começaram a se relacionar; as pessoas ao redor olhavam
admiradas para o contato entre os dois, o que falavam, como falavam, como ao
conversar se relacionavam com o entorno. Um dia, Demis disse ao senhor que, na
verdade, era Satã e que estava ali para decidir sobre a vida dos moradores da
região; falou isso e pediu que não fosse contado; ao mesmo tempo, o senhor revelou
que era um sacerdote, que tinha peregrinado por anos para encontrar Satã. Demis
perguntou se haveria guerra, o sacerdote afirmou que apenas queria aprender com
ele, com Satã, mesmo que fosse radicalmente contrário ao que Satã representava.
Demis disse que o respeitava também, e que poderiam manter o diálogo. Os dois
ficaram muito tempo juntos na estalagem se relacionando. As pessoas do entorno
se sentiam mal com a presença deles, mas também impotentes; não sabiam a
verdade sobre os dois, mas intuíam que eram seres mágicos... um dia Demis,
ainda se nomeando de Satã, disse ao sacerdote que, na verdade, buscava exatamente
ele, o sacerdote. Este não era bom, era sim mau, e deveria ser punido. O
sacerdote enlouquece na hora, sai correndo e se joga em um penhasco. E sim, Demis
era um Bruxo, sabia que o sacerdote era mau, e apenas iluminou-o, mostrando a
verdade, e o sacerdote não suportou a verdade sobre si mesmo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Qualquer um, ao abusar de drogas
por um longo tempo, fica com a percepção eternamente modificada, o terceiro
olho aparece, e quando aparece isso pode levar ao reconhecimento de que se é um
Bruxo. </span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Uma
obra não referida a Bruxos, O Último Livro Sobre a Flora Profana, mas
importante para a bruxaria, apresenta drogas potentes pouco conhecidas. <span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Uma
droga criada pelos Idilista, a partir de um fungo raro, permite longos períodos
de ereção, mas com controle ejaculatório. [...] A Munova faz com que o corpo
não se definhe após períodos frequentes de narcose. [...] A Saitka permite com
que o usuário esteja sempre em transe mesmo sem aparentar. [...] O pólen da
Flor Latah cria viagens ao inferno na hora do sono e não causa nenhum sintoma
de vicio ou de ressaca. O efeito mais surpreendente do pólen: as pessoas que
estão dormindo próximas de quem usou a droga são acometidas por alucinações. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">As Bruxas ajudam o Bruxo na escolha das drogas,
já que elas são as conhecedoras e manipuladoras da alma dos elementos da flora;
com seu poder, elas dão poder ao Bruxo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Como disse, o Bruxo pode ser criado por si
mesmo, tendo intuição e reconhecendo a falibilidade dos métodos. O texto buscou registrar então as atividades
bruxas que atravessam as eras. As polis avançadas impõem a amizade e respeito
aos cidadãos. Os Bruxos aparecem na polis como uma forma de resistência a falsa
harmonia. Bruxos são criados em batalhas, prisões, nas naus dos loucos, na
alcova com as Bruxas. Termino o texto com uma passagem do Livro Sete da Possessão:
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Sethtre,
vivendo na polis e sabendo da impossibilidade de uma existência singular, ao
encontrar o livro sagrado decide ser um Bruxo. Ele comete um crime, de
propósito, e é condenado a viver em um vilarejo no qual estão os seres mais
perversos possíveis. Ele fez isso – cometeu o crime para ser condenado –, pois sabia
que para ser um Bruxo teria que passar por uma provação de dor. Ele fica ali, no
vilarejo, durante anos, sofrendo; porém, depois de um tempo, passa a ter
liderança no espaço, constrói um exército e luta contra a polis. Sethre, logo
após, desaparece, mas ressurge como Bruxo em inúmeros cantos do
planeta ao longo da história.<o:p></o:p></span></div>
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-54314233098444280042018-07-21T11:19:00.003-07:002018-07-21T11:19:55.724-07:00<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 200%;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 200%;">Exercícios
de esquizo análise com lembranças de Espectralia<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Introdução:</span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">
na primeira parte do texto continuo com os exercícios de esquizo análise. O
tema mais corrente é o tempo, o tempo controlado na urbe e os N tempos de Espectralia.
Na segunda parte, apresento uma cartografia de Espectralia a partir de anotações
sobre sonhos meus que têm a cidade como tema e de viagens psicodélicas acontecidas
em locais na cidade, portais para Espectralia: a beira de um rio morto, uma sala
de recuperação de um hospital, um apartamento no qual aconteceram festas
contínuas. Há um grau de invenção na narrativa dos sonhos, dos delírios, da
narcose, já que concernem a lembranças em vigília, e não dá para confiar nas
lembranças a partir desses estados alterados; um exemplo são as memórias
borradas de uma festa em que se estava bêbado, já que nunca se sabe direito o
que realmente aconteceu. Busco na narração de sonhos e delírios os signos de
superfície e não a interpretação; não busco razões profundas, racionalizar, mas
sim apenas isso: buscar os signos que compõem eles, registros que mostram parte
da fauna e paisagem de Espectralia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Parte
1. Exercício de esquizo análise<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Desde que me envolvi com drogas, os
sonhos me chamaram atenção já que são um tipo de narcose, talvez uma das mais
fortes. Em momentos duros de abstinência forçada, portanto, eu tinha os sonhos
como possibilidade de narcose sem o uso direto. Em relação a ficar chapado de
cara, eu aprendi que há muitas outras possibilidades: modular a respiração, fazer
yoga, meditar, ouvir mantras, sonhar acordado, certas práticas sexuais – tudo
isso permite estados narcóticos interessantes. Em uma das minhas piores fases,
eu ouvia mantras e tentava soltar o máximo de ar possível e inspirar o mínimo
possível, isso me colocava em estado de inconsciência momentânea; aprendi
sozinho, respirando, por intuição. Na prática da yoga, eu via, no momento dos
mantras, a aura de meus colegas, lindas auras azuis. O fato de ter aberto as
portas da percepção com drogas me permitiu também outros graus de
molecularização da percepção: sentir odores em certos lugares, ter reflexos
rápidos, ficar com mal estar em certos lugares como sinal de proteção, ter arrepios
com certas músicas, desenvolver uma sensibilidade enorme em relação ao toque de
tecidos e peles de pessoas, sentir o que certas pessoas estão sentindo em
certos momentos. Todos têm seus graus de loucura, todos são shamãs, porém,
poucos notam ou tem controle disso. Uma forma de controlar é a cartografia, ou
seja, perceber a percepção molecular e a normatizada. A loucura do cotidiano
fica presa no privado, e o privado, a vida do dia a dia, é negado pelo
cientista em seu trabalho. Porém muitas teses são baseadas a partir da moral
dominante, mas os cientistas se dizem neutros, frios. Muitos escolhem a
política dominante como tema baseados em sua tendência à esquerda, entretanto fazem
isso já que desconhecem a micro política e se negam a ver que não há mais
esquerda faz tempo; ou seja, são iguais a todos, cegos como todos; e a questão
moral se revela já que eles são cegos para não ver o insuportável, essa é auto
proteção deles. Muitos cientistas dizem que amam Deleuze, mas têm medo de
experimentar o que ele propõe, já que são moralistas. O intelectual estuda e
estuda e estuda apenas para ter um capital simbólico superior. Ele quer ter
mais saber, quer estudar para ser afetado apenas intelectualmente. Ele fica
preso em seu gabinete tendo doces devaneios, permitidos pelos afetos de suas
leituras, sonha com outros mundos, mas continua preso no caixão, no gabinete.
Na vida privada, nas relações cotidianas ele é igual a todos, a única diferença
é que ele marca sua posição hierárquica quando fala dos assuntos que estuda. Os
okupas buscam em seus espaços outras formas de vida, relações, que dizem
respeito ao intelecto e a subjetividade. Eles querem viver em comum, a partir
do comum, não ser pessoas especiais. O intelectual é especial apenas em seu trabalho,
e muitas vezes não é especial em seu trabalho, já que é moralista como todos. A
crítica quando é algo puramente intelectual não é crítica, mas consenso,
aceitação do mundo como é. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">.......................................<span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Muitos não conhecem os portais para
espectralia nas ruas da cidade, mas conhecem os portais que estão na alcova e no
que chamam de “própria cabeça”, portanto, mapear Espectralia é possível a
todos. O Second Life, após sua derrocada, virou uma cidade fantasma; quando
todos saíram dele, as ruas vazias mostraram uma outra paisagem; a derrocada do
Second Life deu uma vida diferente a ele, virou uma Espectralia virtual. Os
poucos que ainda freqüentavam o espaço eram hackers e desavisados. Os hackers buscavam
os desavisados e os hackeavam. O lindo bebê que não fala, apenas gesticula e ri
sem controle, ele está em Espectralia, e, quando sair dela, quando for
recuperado pelos signos dominante, vai esquecer do local em que estava; o bebê a
conhece a fundo, a experimenta de sua forma, e não há como saber sobre sua
experimentação. O espiritismo é uma farsa, mas talvez tenha como base as
experimentações dos espaços dos espíritos, e um deles é Espectralia. É uma
farsa já que considera os espíritos como agentes de outro mundo; sim, mundos, N
mundos, existem no que chamam de “este mundo”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Fala
de um esquizo para um neurótico: <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">-
<b>nós</b> sabemos e muito bem o que
aconteceu, sabemos do seu segredinho sujo, sabemos que você não vai contar para
ninguém... Mas nós anunciamos ao mundo o seu segredinho. Sim, <b>nós</b> sabemos que aquele segredinho sujo
está adormecido dentro de você, você não se lembra, mas vai lembrar, nós vamos
fazer você se lembrar. <b>Nós</b> sabemos
que aquela sujeira, que você guardou para você... Que ela sempre foi natural
para você, mas nós vamos lhe mostrar que era a pior sujeira do mundo. Sim, <b>nós</b> sabemos, todos sabem, e você sabe que
todos sabem. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">..........................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A relação do cinema com Espectralia
mostra outros tempos e espaços, portanto é filosofia e medicina. As cenas de Tarkowski duram e duram. O início
de Aguirre de Herzog faz algo parecido, porém o filme é marcado pela presença
de Kinski que ocupa praticamente todo o filme. A entrada de Drácula, em
Nosferatu, enquanto Adjani está se penteando; o cair de Michael Pit em Last Days;
o deitar na relva do Stalker; Pink chapado junto ao piano em The Wall; a
relação coleóptera de Jane e Bill em Naked Lunch de Cronemberg; a chuva de lixo
banhando Sid and Nancy no filme de mesmo nome; o respirar de Giordano Bruno em
sua cinebiografia; todo o curta Catalan de Jarman; a viagem de éter do
alienista em Bicho de Sete Cabeças; o correr de Di Caprio junto as papoulas em
Diários de Basquete. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">...............................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Sempre na cama eu me perco com você em Espectralia;
às vezes, parece que passaram horas, às vezes, parece que passaram minutos, e
quando paramos de transar tantricamente, quando voltamos para Cronos, sei
exatamente que estávamos em outro tempo, o do amor, da morte: Amor-te. Ninguém
no mundo conhecia esse conceito, ele foi inventado, criado por nós, sim, você é
meu amor e morte, meu Amor-te. Tenho medo que depois do Amor-te venha a morte,
ou seja, o amor que todos afirmam. Sim, o amor deles é a morte, simbolizada na
neurose, na paranóia, na violência, no medo, no ódio, ou seja, nas paixões
tristes, o amor deles é uma paixão triste. Todos têm inveja do conceito que
criamos, e eles não querem roubá-lo de nós, mas destruir o que nós inventamos,
já que eles amam o ódio, como disse a paixão triste. Sim, nós mostramos a eles
quem eles são, a impossibilidade deles de viver a vida de forma alegre. Sim, o
amor deles é a morte, o nosso amor é amor e morte: Amor-te. Precisei te
conhecer a fundo distante para conseguir chegar perto de você, depois precisei
conhecer todos os pontos de teu corpo te tocando sem nenhuma intenção sexual.
Precisei te mapear para entender o que eu já sabia: sim, você é uma deusa. Nós
estamos juntos desde sempre, eu sou teu pai e você é minha mãe. Você me gera e
eu te gero em um ciclo contínuo. Nessa temporada atual nossa, na qual eu sou
teu pai, você pode virar Elektra e me destruir, ou eu posso afirmar que sou Lúcifer
e te destruir. Se você for mais forte do que eu e quiser me destruir, eu aceito
a derrota. Você pode me matar se o assassinato for uma forma não de amor, mas uma
forma de dar consistência ao Amor-te. Sempre achei feio chorar, não gosto de
depressivos que choram, mas a primeira vez que disse o que sentia, sim, eu
chorei, já que estava arrebatado, maravilhado com a tua beleza. Muitas vezes eu
não te ouço, já que estou junto dos fantasmas, não os meus parceiros de
Espectralia, mas os fantasmas da necrópole, eles dizem: “você não pode ser
feliz”, já que não há felicidade na necrópole; eles dizem também: “junte-se a
nós, seja um de nós, nós lhe daremos tudo o que você quiser.”. Sim, eu me
potencializei rapidamente ao estar perto de você, gradativamente, porém, em
determinado momento, a potência se estabilizou, continuo potente, mas de forma
estável; então eu me acostumei com a potência, e o costume e a estabilidade me
causaram um estranhamento, pensei que o Amor-te tinha virado a morte. Sim,
acredito no Amor-te, mas tenho medo (um fantasma) da morte. Um problema é que
agora tenho que me precaver ao causar meus genocídios, tenho que escolher o
lugar certo para por minhas bombas, não posso mais fazer tudo que quero da
forma que quero, já que isso pode te afetar. Tenho que me preocupar contigo e
isso é uma forma de prisão. O amor deles é morte, já que é um elemento que
sustenta a prisão. Você sabe que em breve eu vou ter que cair na estrada,
voltar para o Tibete, mas eu acredito, sim, que o último amor é mais importante
e belo que o primeiro. Mas você não é meu último amor, você é meu primeiro,
melhor, meu primeiro Amor-te. Como dizia a banda TSOL: “eu não acredito em
amor, eu acredito em magia, magia negra”, e Amor-te é magia negra, magia negra
que não é ressentimento; se há ódio no Amor-te é o ódio ao ódio. Amor-te não é
só um afeto, mas também um portal para Espectralia. A potência das minorias
presentes em você me potencializou, isso criou o Amor-te. Sim, as minorias não
são fracas, são potentes, são as subjetividades realmente potentes; os homens,
brancos, adultos são fracos, maus, assassinos, são a ralé, a pior escória. Eu
andei muito tempo com os nórdicos, fortes, loiros e adultos, eles me ajudaram a
me forjar como arma, mas você como tripla minoria, mulher, negra, jovem, é
muito mais potente que eles. Não é uma questão de se orgulhar de quem se é,
como dizem muito negros, o “orgulho negro”, mas perceber a potência, não se
enfraquecer, não ter medo (fantasma) dos nórdicos que me acompanharam em outras
estações. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">...............................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Primeiro fiquei sem celular, assim sem o
relógio dele, depois o relógio do carro teve uma pane, o meu de pulso parou e o
do tablet se desregulou; não consertei o celular, não arrumei o relógio do
carro nem do tablet, e não pus bateria no de pulso. Mesmo com todas as pressões,
principalmente a de usar o celular, estou assim faz meses. Isso conjugado à
alimentação regrada, ao esporte e à meditação está fazendo com que eu tenha
lapsos temporais no cotidiano, momentos de transe. Transes desse tipo eu sempre
tive a partir do controle da alimentação, das práticas esportivas e da
meditação. Porém, sem relógios tudo ficou mais acentuado. Isso é filosofia,
entender o tempo, é medicina, experimentar os tempos, é crítica e política,
resistir ao tempo. O louco só tem presentes, como os jovens e os drogados. Os
torturadores sempre manipulavam o tempo para tornar a tortura ainda mais
insuportável. O relógio ponto e a burocracia. O senso comum diz que a extensão
do tempo é o mais importante. A eternidade, a transcendência, são fábulas
coercitivas em relação ao tempo. A eternidade pode ser agora, e a
transcendência acontece nas ruas, melhor, em Espectralia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">............................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O improdutivo, o punk, o morador de rua,
aqueles que quebram com Cronos fazem filosofia, mas temos que aprender com
eles. E como deixar de lado nossa postura pequeno burguesa e aprender com os
marginais? Os intelectuais têm medo de
morrer e que a obra em andamento não seja publicada, querem continuar vivendo.
Os pais se tornam pais também por isso, desejam uma vida que seja eterna. O
improdutivo radical quer zerar a existência, nunca ter existido. Quando ele
afirma isso, e quando isso não tem causas profundas como traumas, está fazendo
política, crítica, já que nega o senso comum, que diz que ama a vida, mesmo que
a vida seja a morte. Querer zerar é uma coisa, querer nunca ter nascido é
outra. “Amar a vida” é também uma palavra de ordem da ciência, a qual impõe aos
corpos a higienização, purificação, para que durem o máximo possível. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">...............................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A palavra de ordem não está só no
imperativo, e quando está... bem, é a forma mais óbvia de impor: faça isso. “Faça
isso” está presente em tudo: ciência, publicidade, jornalismo, política. Os
sujeitos introjetaram de tal forma o uso do imperativo, que é impossível não dar
ordens até nas falas mais cotidianas: me sigam, curtam, participem, leiam,
venham para o evento, me ajudem. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">.................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Fala
de um crítico esquizo para um estelionatário famoso<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"> - Você mentiu a todos sempre. Você disse a
todos que era o mais forte sempre. Você fez coisas terríveis, matou muitos, já
que eles eram mais fortes que você, ou já que poderiam ser mais fortes que
você. Você sempre berrou como se fosse o macho alfa para silenciar os outros,
principalmente os mais fracos. Quando um fraco parecia forte, você fazia o
máximo possível para enfraquecê-lo. Você mentia já que era um “<b>especialista</b>” em retórica, e os
estelionatários foram forjados na antiga Roma. Você ria de todos, e o riso é uma
das formas de colocar os outros em posição inferior. A maior mentira sua era a
afirmação de que você era diferente de todos os outros, mas todos fazem isso:
colocam os outros abaixo para manter sua pose. E sim, Satã quebrou sua pose,
agora você é uma boneca. Satã mostrou a todos que você é uma puta, sim, uma
puta: má, mentirosa, sacana. Você afirmou a moral dominante a vida toda e matou
em nome da moral, sim, o seu sonho sempre foi ser um inquisidor. Os hereges, os
críticos, os andarilhos de Espectralia para você devem ser mortos já que você é
um moralista. Sim, você é um assassino, não apenas um estelionatário, ou seja,
na prisão você deveria ser respeitado, mas agora todos sabem que você é uma
puta, ou seja, não merece respeito. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Nos jogos da copa todos ficam centrados
nos minutos, de forma dolorosa, cada minuto é uma batalha, idêntica à batalha
diária do trabalhador; sim, aquele que sofre neuroticamente já que nunca tem
tempo. Mas nos dias de jogos, principalmente do Brasil, a cidade fica diferente
em muitos pontos, uma cidade de outro tempo, Espectralia. Esses pontos são os
que não aglomeram pessoas para ver os jogos. Todos assistem aos jogos e assim
não contemplam Espectralia; sim, eles a negam, têm medo dela. Talvez a forma de
resistência mais importante seja lutar contra o tempo imposto. A greve geral, a
morte do presidente, a manifestação impõem uma temporalidade diferente para a
cidade. Mas o cidadão fica em frente às mídias contemplando, não a cidade, mas
a sua representação indireta. O tempo controlado e o tempo do caos. O
dispositivo crava o tempo cronológico nas costas de quem está sob seu poder, o
tempo não passa. O viciado quando recuperado tem que aceitar Cronos, e o tempo
não passa; na sala de aula, no trabalho, na prisão, o tempo não passa. O Brasil
perdeu de 7 a 1 (71 – estelionato) em um
jogo que parecia uma peça do teatro do absurdo. Um rinoceronte em plena rua de
uma grande cidade, surgido do nada, seria menos absurdo. A copa é espetáculo, e
espetáculo é mentira, ilusão, marketing, 71. O que realmente aconteceu? Ninguém
sabe o que acontece nos bastidores da política; e ninguém quer saber a verdade,
seriam destruídos se soubessem. Não são cegos, eles têm dois olhos, os olhos
que o Grande Irmão criou, e fingem que não têm o terceiro olho. Satã é o ser
mais alegre do mundo, não lhe falta objetos de riso. O cristianismo, a crença
absoluta, durou quantos séculos? Na modernidade virou objeto de riso da ciência,
e ela, a ciência, é objeto de riso de Satã. Os modernos riem dos
obscurantistas, da manada de evangélicos, mas eles são enganados da mesma
forma: não acreditam no que a mídia diz, mas só vêem o que ela permite,
acreditam na esquerda, na ciência – tudo isso é crença, que na verdade é
submissão. Pensando assim, mídia, política e ciência diferem apenas de grau do
obscurantismo religioso. “Vamos ser racionais, lógicos e pensar no óbvio!” Isso
é palavra de ordem que nega o caos. Eles racionalizam sempre, se sentem seguros
longe do caos, mas interiorizam o caos e ele toma a forma de fantasmas, ou
seja, neurose, agressividade, sofrimento, depressão. A psicanálise de
consultório é uma forma de controle: pensar que os problemas são questões
privadas. O analisando olha apenas ao que chama de “si mesmo”. Garotas não
devem ir para o consultório, devem sim se juntar a coletivos de feministas,
sair da bolha, socializar sua vida, se abrir, não se fechar em si mesmas. Trancam
poucas pessoas num espaço durante muito tempo, e dizem que é o mais importante
da vida, a casa e a família; assim, as questões sociais ficam em posição
marginal, e quando se pensa pouco no social, as coisas se mantêm. As redes
sociais permitem que todos tenham a sensação de que estão lutando por um bom
mundo, mas é só discurso; eles berram: “eu luto por isso, eu luto!”, mas é só
uma imagem no facebook, e quando não estão nas redes, é uma conversa de bar. O
intelectual quer formar mentes, ajudar mentes, ele se considera um ser especial
que forma mentes, um líder. Fazer isso é se espetacularizar, querer ser
importante, estar acima dos outros. O punk diz que é <b>ninguém</b>, não é pastor, nem político, não é vanguarda – essa é sua
ética: nega o espetáculo de si. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">.........................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O ano 1968 foi o acontecimento, o
divisor de águas – o divisor, o Diabolo. Contando os números temos 15, o número
da carta do demônio no Tarot de Marselha. Deleuze e Guattari, filhos de 68,
falam no demoníaco nos Mil Platôs: Belzebu como o senhor das moscas, devir, as
núpcias demoníacas, vampiros, lobos homens. Os hippies, mesmo que baseados em
Eros, muitos deles tinham interesse, apego pelo satanismo. Outros “aléns”,
diferentes do além cristão, eram atingidos pelas massas a partir da narcose.
Talvez os cristãos sejam os religiosos que menos têm contato com outros mundos;
eles não têm rituais transcendentais; e a droga, como elemento de ritual, usada
pelos hippies, fizeram com eles se interessassem por outras religiões. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">........................................................................
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Satã ri da cidade, do modelo de cidade,
desse projeto que não funcionou. O bom cidadão prefere a cidade parada para ter
seu auto móvel. Adultos desejam realizar o sonho de infância: ter um carro caro;
e eles ainda riem das crianças já que elas são crianças, mas eles são crianças.
Os bares ficam cheios no happy hour, já que é a forma de fuga, amortecimento,
para o bom cidadão, mas o bar é apenas um intervalo, melhor, um presente do
controle. O livro 1984 mostrava como o Estado impunha álcool para os
trabalhadores suportarem a vida. O álcool, em seu uso dominante, faz esquecer,
doer menos; mas há usos e usos de álcool, certas subjetividades experienciam
coisas diferentes das dominantes. Aqui o sino toca de manhã e de tarde. Ouço a
sirene do colégio indicando o andamento das aulas. Os carros param nas
sinaleiras; em certos horários, as ruas estão cheias. De noite os bares enchem.
Toda essa movimentação e barulho me entendiam já que são repetições de
repetições. Mais uma segunda, mais uma sexta, tudo é um saco, a cidade é um
saco, e a utopia da selvageria não é permitida para quem sempre viveu na
cidade. Para não sermos enterrados na Necrópole, experienciamos a Espectralia,
conjuramos a vida de Zumbi e desejamos como Fantasmas. “Segundas feiras
felizes” é o nome da banda que tem como hit “Gente que faz festa o dia todo,
todos os dias”. A banda foi forjada em Espectralia. A música é um afeto, a
droga é um afeto. A música eletrônica, simbolizada nas festas e na ovação dos djs,
precisou do afeto do Ecstasy para ganhar consistência. As subjetividades mudam
e junto o corpo, ou seja, mutações antropomórficas. Hoje todo mundo toma drogas
psicodélicas como se fosse água. Quando o Ecstasy apareceu, uma bala deixava
qualquer um louco, depois de um tempo todos precisavam de sete balas para dar
um barato. As gerações que excedem são lastros dos excessos das gerações
posteriores. O corpo muda de geração para geração. Nos anos 80 as manobras de
skate eram tímidas, hoje, em um mês, qualquer garoto pode andar melhor que
muitos skatistas famosos dos anos 70. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">......................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Na boa época dos hippies, os 70’s, todos
estavam felizes, riam, estavam no céu, não na terra. Os hippies tomaram todas
as drogas possíveis nos 70, e nos 80 veio a ressaca; esta – a ressaca – impõe
sentimentos negros: solidão, depressão, desejo de morte. Para suportar a
ressaca dos oitenta, os sujeitos começaram a usar coca, já que cocaína dá forças
para enfrentar qualquer coisa. O tempo da coca e o tempo de Cronos se irmanam,
podem funcionar juntos; o yuppie – o jovem promissor, vestido de Armani,
surgido nos 80, que trabalha o dia todo com um prazer psicopata – é fruto do
uso de coca. Na mesma época, o punk fica cada vez mais veloz, principalmente com
o hard core, e este permitiu o thrash metal, um ápice de som pesado e rápido.
Os vídeos clipes com seus cortes rápidos, apresentando um afeto cocaínico, marcaram
a cultura pop nos 80. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">...............................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Kerouac diz em On The Road que não quer parar,
não quer dormir, quer curtir ao máximo; além disso, ele escreveu o livro em
poucas semanas usando benzedrina. Ele queria que o dia tivesse 72 horas para
aproveitar tudo ao máximo. A felicidade impõe isso, querer mais e mais e mais, querer
tudo ao mesmo tempo agora. Deus fez o mundo em sete dias, e o demônio não
inventou o fim de semana, mas o dia de 72 horas, já que ele é Eros. O dia de 72
horas se refere ao afeto do viciado em estimulantes; ele fica três dias
acordado, então esses três dias são na verdade um dia de 72 horas; e 72
invertido, a inversão satânica, se torna 27, o número da morte na cultura pop. A
vontade de “mais” de Kerouac é diferente da necessidade de “mais” dos yuppies,
há uma diferença de natureza entre elas. Kerouac queria “mais poesia na sua
existência”, os yuppies queriam “mais dinheiro”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">.........................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Os sons do primeiro Pink são ondulações
sonoras. </span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-ansi-language: EN-US;">O relógio em
Dark Side of the Moon. </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Os sinos de igrejas do Sabbath – os
sinos que simbolizam certas horas do dia. O som industrial, mostrando a batida,
o tempo das fábricas. Jesus Built my Hotrod, a velocidade máxima do som e da
voz se assemelhando com a dos Hotrods. Os rappers tentam cantar o mais rápido
possível. A desaceleração do Black Metal cria o Black Metal Depressivo. A
poesia de Cooper Clarke era punk e por isso rápida. A bateria de Morris é
hipnótica. Tremolo picking presente na Surf Music e no Black Metal. Alguém
caminhando na rua atrás do ônibus, alguém caminhando chapado na rua. Skip diz
que jovens não devem usar relógios. A velocidade mecânica dos virtuoses da
guitarra. Picasso tenta pintar o mais rápido. Pollock dança junto à tela, com velocidade.
A dança, o ritmo, o afeto, dos shoegazers, tudo muito lento em contraponto à
velocidade dos punks. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">......................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">“Cada um tem seu próprio tempo”, isso é
palavra de ordem que esconde que o tempo é controlado. O pet aprende na força
os momentos de mijar e cagar, nas certas horas do dia que o dono tem vontade de
sair com ele. A criança: hora de comer, de dormir, de brincar. Ficam felizes em
viajar, mesmo sabendo que dez horas em um avião é uma das piores experiências.
Vender seu tempo, sua vida, seu corpo, sua subjetividade. O calendário cristão,
o calendário falível da Revolução Francesa; voltar no tempo, se encontrar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">..........................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">As artes românticas louvam o excesso, a vida
em excesso, os prazeres diferenciais, os sonhos, delírios, os contatos com o
inferno, com o sublime, com Espectralia. Na literatura, posso citar alguns
autores espectrais sem pensar muito: Baudelaire, Rimbaud, Lautréamont, Poe,
Blake, os Beats, Bukowski, o Gonzo, Piva, Huxley, Artaud, Castañeda, Pepe
Escobar, Breton, Bukowski, Fausto Fawcett. Há muitos filmes que homenageiam,
biografam os românticos, e não apenas os românticos que produzem, mas também os
que apenas vivem. Também há muitos filmes com imagens e narrativas que são
claramente baseadas no uso de drogas. Listo abaixo alguns filmes que atualizam
o que disse acima: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Cinebiografias
de artistas viciados:</span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"> Pollock. The Doors, Basquiat, Medo e Delírio
em Las Vegas, Almoço Nu, Last Days, Stooned, Diário de Adolescente, On the Road,
Get Him to the Greek, The Wall, Não Estou Lá, Factory Girl, Bicho de Sete Cabeças,
Sid Nancy, Total Eclipse, 24 hour Party People, Party Monster, Bird, Velvet
Goldmine, os filmes sobre o Bukowski.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Filmes,
vídeos, desenhos sobre uso de drogas, com uso de drogas ou com imagens
delirantes:</span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"> A Concepção, Vício Frenético, Laranja
Mecânica, Scarface, Blow, Trainspotting, Born to be Wilde, Paraísos Artificiais,
Gêmeos Mórbida Semelhança. </span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-ansi-language: EN-US;">Spun,
Kids, Bully, Catalan de Jarman, Asas do Desejo, Stalker, Simpsons, American Dad
e Family Guy, Garotos de Programa, Pulp Fiction, Canos Fumegantes, Drácula de Bram
Stoker, Ódiquê, Dead Man, Performance, In to the Wild: Zabriskie Point, IF, Natural
Born Killers. </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Garoto da Motocicleta, Romeu e Julieta do Baz Luhrmann. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">....................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Essa letra, do Pere Ubu, é muito curiosa,
mostra os afetos permitidos pelo contato com Espectralia. O narrador não sabe o
que aconteceu, se foi sonho ou realidade, já que estava em Espectralia, era um Espectro.
Esse afeto é comum no uso de drogas mais pesadas, ou no uso contínuo de
qualquer droga. Como diz a máxima de Woodstock: “se você se lembra é por que
não foi”, já que todos que estavam lá estavam chapados; sim, quem estava lá não
sabe ao certo o que aconteceu. </span><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-ansi-language: EN-US;">Woodstock
era uma Espectralia repleta de fantasmas maravilhosos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span lang="EN-US" style="background: white; color: #333333; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">414 Seconds</span></b><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="color: #333333; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">That day that
I say I woke up to find a heap of mist<br />
I wake up that day with a shark<br />
Not knowing if I’ve been asleep for moments, minutes or millennia <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="color: #333333; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br />
I look around, all plants have lived it and died<br />
Did you spiral in the sink?<br />
They are livid and dried<br />
Even in the glass, he looked at me<br />
He says weaver can’t be flied<br />
And I care about dream<br />
The terrible thing that I did in that dream<br />
The thing that woke me up<br />
<br />
I ask myself, did I do that terrible thing only in my dream?<br />
Or is the dream simply a hard brink bit of self-deception<br />
When in I dream that I only did the terrible thing that I did<br />
In a dream<br />
<br />
What part of the dream is true?<br />
What part of the truth is a dream?<br />
<br />
I throw out the coffee to drink the soup<br />
But there are wonders I have to know<br />
I run this happening<br />
I launch myself like a jet pilot jerkin himself from the doom in the far earth
below<br />
I throw myself through the door<br />
I fall down the hall<br />
I turn up through the steps<br />
Turn up through the steps<br />
<br />
Round the corner, stumbling and flailing<br />
Fumes and exhaust, blackened fluid smoke below it<br />
Running for the bus I cry<br />
Oh God bless love<br />
I have been on that non-stop<br />
Happiness<br />
<br />
In that terrible dream<br />
The terrible thing I did in that dream<br />
The thing that woke me up<br />
I ask myself, did I do that terrible thing only in my dream?<br />
Or is the dream simply a hard brink bit of self-deception<br />
When in I dream that I only did the terrible thing that I did<br />
In a dream<br />
In a dream<br />
In a dream<br />
<br />
What part of the dream is true?<br />
What part of the truth is a dream?<br />
What part of the dream is true?<br />
What part of the truth is a dream?<br />
What part of the dream is true?<br />
What part of the truth is a dream?<br />
<br />
What part of the truth is a dream?<br />
What part of the truth is a dream?<br />
What part of the truth is a dream?<br />
<br />
Round the corner, stumbling and flailing<br />
Fumes and exhaust, blackened fluid smoke below it<br />
Running for the bus I cry<br />
Oh God bless love<br />
I have been on this all night non-stop<br />
I have been on this all night non-stop<br />
Happiness<br />
Happiness<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br />
Happiness<br />
Happiness<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">.....................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Parte
2. Registros de sonhos e narcoses em Espectralia<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Uma estação de metrô em Roma, localizada
em uma parte pobre da cidade, que parece o objeto de uma foto antiga, muito
antiga. No sonho, Roma, na verdade é Lisboa em época de chuva, que não é
Lisboa, mas talvez Paris. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Uma parte de uma cidade grega é idêntica
a imagem da capa de um livro sobre arte fantástica. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Santa Maria não está localizada no Rio
Grande do Sul, mas sim em Santa Catarina. Em Santa Maria há um clube esportivo
que freqüento; para chegar nele subo os morros da cidade. Em uma parte dos
morros há um penhasco que leva para o mundo dos sonhos; quando entro nesse
mundo minha memória fica totalmente borrada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Vindo de Espírito Santo de carro chego
em Florianópolis. Lá há um shopping que tem uma piscina enorme, sempre cheia de
gente. E Florianópolis é na verdade Passo Fundo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Santa Maria, em seu norte, tem uma
estrada que leva a um morro. Às vezes, a estrada vira conjuntos de casas
divididas em linha horizontais, que são casas de praia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Um lugar que morei na Cidade Baixa tem o
pior elevador do mundo. Na rua do prédio, a Lima e Silva, acontecem festas e
parece que sempre é feriado.<span style="text-transform: uppercase;"> </span>Às
vezes, parece que a Lima e Silva continua na parte alta da tristeza.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Em Belém Velho há uma casa que visito.
Às vezes, saio de lá a partir de uma estrada na Serraria, que quase nunca passa
ônibus. Moram na casa um velho e suas filhas e filhos. Eu tenho um caso com
todas as filhas. Mas eu sempre me pergunto: quem são essas pessoas? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Em Barcelona estou passando a temporada
numa estranha casa de repouso. Eu durmo num quarto cheio de pessoas de idade. A
casa de repouso fica quase na divisa da cidade, porém na frente dela há uma
estátua enorme; essa estátua, na “vida real”, melhor, na vida da necrópole
Barcelona, se localiza numa parte central para o turismo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Entre Porto Alegre e Canoas há um
conjunto habitacional muito bonito, situado de frente a um rio, e eu moro nele
– sempre estou em busca dele. Ali é tipo uma mina de algum mineral estranho, e
o rio é um rio de iodo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Me mudei para um prédio mais barato, e é
realmente mais barato. No prédio moram garotas da Fémem. Eu tenho um caso com
uma delas e é gostoso estar com ela. Porto Alegre está uma confusão por causa
do dia da independência da Catalunha. Alguém diz pra eu não ir de bike até a
Cidade Baixa já que eu estou na zona sul. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Porto Alegre é Barcelona; sou inquilino
de dois apartamentos situados no mesmo bairro. No bairro há uma piscina de
ondas com água de rio, o fundo é só barro; eu nado nela e faço surf. Em uma rua perto de um calçadão fica um ponto
de prostituição. Eu gastei milhares de reais ou euros ali. Para andar no
calçadão sempre é um problema, ele está dominado por gangues de ladrões
baratos. Um taxista me leva para inúmeros lugares e eu estou bêbado. Eu me
perco na cidade e tenho medo. Depois de um rio há um deserto predominado por um
tom de laranja estranho. O lugar é como se fosse a lua, tem uma paisagem lunar,
mas pintada de laranja. Eu não tenho moradia, mas tenho móveis e eles estão na
rua, eu vivo na rua. Durmo na rua, mas em certo momento uma limusine me leva para
um lugar que não me lembro. De carro vou para uma cidade da fronteira; ali há
um precipício, depois dele há algo lindo, um mundo lindo, e quando eu chego nele...
bem, não mais me lembro. Eu ando de skate em estradas da serra gaúcha. Gramado fica
ao lado de um bairro londrino. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Entre o Brasil e os Estados Unidos ou
Canadá se situa o leste europeu, o leste europeu de algum filme. As cidades
desse leste têm gente estranha, feia e barulhenta. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Um vale pequeno, com um rio sujo, uma
favela, isso em Roma. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Ando de skate em uma lomba no bairro
Tristeza. Chego na rodoviária de Porto Alegre, mas é na verdade um mercado de
Lisboa. A Praça da Alfândega sempre cheia de gangues de rua. De noite essa zona
vira a Oswaldo Aranha que é menos perigosa, mas quando saio de manhã dela, vou por
ruas menos movimentadas, para não encarar as gangues. No alto do centro tem um
mercado com boas comidas, como nele e depois desço uma rua principal que dá no
Parque do Marinha. Entre a parte alta e o parque fica uma praça de Barcelona.
Na praça estão meus amigos okupas, na verdade, tem uma okupa ali, e eu vivo
nela. Sempre pego um taxi nesse ponto, mas os taxistas sempre me roubam. Uma
parte de Porto Alegre, a mais pobre, eu chamo de Viamão. Ali tudo é velho e
decadente; tem um parque de diversões em Viamão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Sempre sonho com um local que morei na
Cidade Baixa; no outro lado da rua há uma casa chique, que é um albergue para
jovens ricos. Eu sempre uso o albergue sem pagar, ele fica de lado da UFRGS.
Muito perto fica um bairro elegante, no qual amigos moram, que conta com casas enormes;
nos jardins das casas todo mundo toma banho de sol. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Estou em Gramado, hospedado em um hotel
caro; porém, os quartos são coletivos; durmo em um deles com várias outras
pessoas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Passo noites tomando bola dentro de um
bar que é uma farmácia. Todo mundo está deitado no chão, emboletado, abraçado,
tudo bem quentinho. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">No bairro Cristal há um ginásio de esportes.
Nas escadarias do ginásio traficantes vendem cocaína. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Do lado de um clube na zona sul, tem a
casa de um traficante. Compro coca ruim com ele. Tenho medo de ir ali porque a
polícia sempre está por perto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Passo os sinais vermelhos, não consigo
diminuir a velocidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A casa dos meus sonhos ficava na parte
norte da zona sul. Era uma casa enorme, uma mansão; mas ela era um local
amaldiçoado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">......................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Eu tinha uns 14 anos, tava com meu beque
e fui até um terreno baldio junto ao Rio. O terreno era ladeado por mansões,
comuns no Bairro Tristeza. Eu sempre fumava ali com minha turma. Nesse dia, tava
sozinho, gostava também de ficar sozinho com meu beque. Queimei o beque e
fiquei curtindo o pico: a praia deteriorada, um clube náutico, algumas fábricas
mais longe no horizonte, o céu. Era um dia quente, com céu azul. Fiquei
curtindo o céu, as nuvens, e fiquei intrigado com uma nuvem enorme bem na minha
frente. Ela tinha o formato da cabeça, do perfil de Cristo. Era ele, de perfil,
com barba, cabelos compridos. Eu tava na praia e ele tava lá no céu. A nuvem de
longe parecia também uma montanha, mas com o formato da cabeça de cristo. A
imagem era tão perfeita que pensei: podia chamar o pessoal pra dar uma olhada,
mas não quero perder isso. Interessante que eu não era crente, até era um ateu
radical. Sentia que em certos momentos, com o movimento da nuvem, a imagem
continuava a ser do mesmo Cristo, mas de ângulos diferente. Devo ter ficado
horas ali parado olhando, ou posso ter ficado minutos, não sei. Mas num momento,
a nuvem começou a se dispersar, e isso foi brochante, fiquei puto; daí eu fui
embora. Eu tava ainda chapado e bem chapado, tanto que, na minha viagem que
continuava, eu pensava: porra, a nuvem mais legal e perfeita que já vi e ela
desaparece?! Na minha loucura não conseguia entender que nenhuma nuvem poderia
ser tão perfeita, que isso era parte do barato; mas como o barato era contínuo,
eu estava sempre de barato... bem, o que era real ou ilusão? Naquela época o
real “na real” era uma grande ilusão, e a vida chapada era também uma ilusão só
que muito mais divertida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">..................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Eu nunca tinha tomado morfina injetável;
mas sabia que era algo realmente forte. Tinha uma ideia na prática do efeito de
opiáceos. Só que daí quebrei o braço, tive que fazer uma operação; quebrei o
braço fazendo uma manobrinha numa garagem de bûs na Azenha. Eu sempre mandei
bem ali no espaço, tirava umas manobras aéreas legais. Só que fiquei um tempo
sem andar, e tentei fazer uma manobra que não devia ter tentado. Voei alto e
caí no chão, com todo o peso no meu pulso esquerdo. Quando caí, na hora pensei:
merda, me quebrei. Segundos depois,
quando o corpo produziu a sua química e a dor aliviou, pensei: deu nada, só que
olhei pro meu braço e ele tava torto, e a dor bateu. Daí me levaram prum
hospital de pronto socorro. Eu não conseguia pensar direito, doía demais.
Quando me atenderam, expliquei o que tinha rolado, e fiz umas piadas, não ia
perder a oportunidade de rir da situação. Depois disso, fiquei mais de uma hora
esperando para ser atendido e ia ter uma festa na mesma noite; pensei: tá, eles
metem um gesso no braço, tomo um analgésico e já era. Daí sou atendido e o
doutor diz: foi uma fratura séria, você terá que fazer uma cirurgia. Daí fiquei
puto, odeio cirurgia, mesa de operação e sala de recuperação. Daí eu tava lá na
sala de recuperação, depois da cirurgia, e disse pra enfermeira, isso tá doendo
muito, não vou aguentar. Daí, ela me deu um pico e senti um gosto amargo na
garganta, ela tinha me dado morfina. Daí pensei: melhor, eu relaxar... só que
foi uma noite horrível, eu dormia, acordava, dormia e acordava. Eu tinha umas
alucinações estranhas, mas muito vivas, como sonhar com imagens duplas. O que
são imagens duplas? Eu não sei, mas me baseio no que estava sentindo e
percebendo, nunca havia passado por isso e nem li relatos do tipo. Mas as
imagens duplas: digamos que uma imagem de sonho seja exposta em uma tela, como
num filme. Na minha viagem eram duas telas, não uma tela do lado da outra, mas
duas telas apenas, uma na frente da outra, e eu podia ver, sentir, perceber as
duas ao mesmo tempo – isso é impossível de explicar, e por isso que é legal. A
noite foi péssima, principalmente, por estar numa cama de hospital, numa sala cheia
de gente doente em volta, muitas desesperadas; eu não podia sair da cama, não
podia fumar meu crivo e nem sabia se a operação tinha ficado legal. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">.........................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Eu li numa revista que um músico, o
Manson, tinha triturado ossos humanos e fumado. Cinco anos depois conheci um
cara que colecionava ossos humanos. Não era nada demais, mas ele ia no
cemitério, nas valas de indigentes, e sempre encontrava ossos. Ele limpava e
guardava. Era um cara novo, que tinha depressão, namorava uma mina feia, mas
era bem criança, na dele. Eu conversava com ele, já que ele morava perto do
lugar que eu morava. Ele era pobre, o pai era zelador em um cortiço. Esse mano
curtia rock, lia sobre rock, então eu tinha um certo interesse nele. Era um
cara querido, uma ou outra vez eu fui na casa dele, e num desses dias ele
disse: cara, você é legal, vou te dar um presente; e ele me deu uma rótula de
um joelho humano, esteticamente bonita, com linhas regulares. Daí um dia eu
tava no meu ap de frente pra João Alfredo, essa rua que hoje em dia é central
em Porto Alegre... é, eu tava na janela, vendo a rua e lembrei da história do
Manson, que ele tinha fumado ossos humanos. Na mesma hora, um mano meu tava
comendo uma mina no quarto. Daí eu pego a rótula, trituro uma parte até virar
pó e fumo. Só que quando dormi, depois de ter fumado, tive um sonho muito louco,
eu me vi num cemitério, junto com esse mano e essa mina que ele tava comendo; a
gente fazendo a festa no cemitério. Na real, não sei se foi sonho, ou se foi um
delírio acordado ou se foi coisa de outros mundos, ou tudo junto, já que na
época tava tomando muita coisa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">.................................................................. <o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-45549490654137288032018-06-29T13:53:00.000-07:002018-06-29T13:53:28.349-07:00......<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O
texto é um exercício de esquizoanálise, ou seja, cartografia, transversalidade.
O atravessamento não está só nos temas, mas também na narrativa, que é
filosófica, científica, literária. Na verdade, não é filosofia nem ciência, é
arte, e não é arte é comedicidade, riso de satã. Ficaria feliz se fosse lido
como uma ficção, uma mentira, algo diabólico, enganador. O texto pensa em N
mundos, N tempos-espaços, devires, a partir da percepção molecular e critica o
bom senso que se centra em um único mundo, sustenta a ciência, insiste que Deus
não morreu, cria uma narrativa negativa referente ao satanismo. Os temas e
conceitos presentes são: acontecimento, maio de 68, anarquismo, guerrilha,
drogas, sonhos, delírio, família, gêneros, sexualidade, corpo, queer, cultura
pop, arte, mitologia grega, guerra, Estado, orientalismo, ecologia, história,
humanismo, psicanálise, minorias, palavras de ordem, cidade, juventude,
satanismo, cristianismo, bruxaria, shamanismo. Ele não foi pensado previamente,
não sabia o que ia acontecer, ele foi se criando e tomando forma; mas como
digo: não é espontâneo e talvez tenha de certa forma se criado sozinho, melhor,
pelas legiões que pertenço. Os símbolos e a narrativa cristãos presentes se
referem à comedicidade que acompanha meu trabalho. Falar em Deus, Cristo, em
demônios é uma piada, que não tem como objetivo ferir a aqueles que ainda
acreditam em Deus, já que são poucos. Uso esses símbolos para compor a
narrativa, a fábula, a história. Porém, busco dar novos delineamentos para o conceito
de demônio. O demoníaco se apresenta como crítica ao senso comum e o bom senso.
O demônio no texto não é um ser de outro mundo, não se dicotomiza com o Deus de
outro mundo, ele é um agente, um devir, materialista, ou seja, deste mundo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O acontecimento. </span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A<b> </b>impossibilidade de se entender o
acontecimento quando está acontecendo. Os sentidos do acontecimento necessitam
de tempo, por isso a arqueologia e a genealogia são mais fáceis que a
cartografia. Além disso, quando se dá o sentido pode não ser realmente
entendido, já que é difícil notar o molecular. A pergunta: “o que realmente
aconteceu?” pode dar medo já que sabemos, de uma forma ou outra, que forças
subterrâneas estão presentes no acontecimento e, mais, que elas podem criar o
acontecimento. O devir, monstruoso, demoníaco assusta, ele mostra o caos, o
qual rege o mundo, e por segurança nos prendemos no obscurantismo religioso
cristão ou na ciência. O satanismo é obscuro, mas outro tipo de obscuridade. O
cristianismo é baseado nas paixões tristes, ninguém pode ser feliz, todos devem
purgar seus pecados e punir os pecados dos outros, tudo é pecado. O satanismo é
erótico, é Eros, erotiza até mesmo a morte, Thanatos. Para os satânicos Eros e
Thanatos estão sempre em núpcias, núpcias demoníacas; os devires são as núpcias
demoníaca, não a filiação, o pai e o filho, Deus e Cristo. Satã é o filho
rebelde, não há um Deus do inferno, e ele não é três, não é o pai, o espírito
santo e o filho abandonado. Satã é o filho rebelado. Quando a criança coloca o
dedo dentro do nariz na mesa na hora da oração, é a atualização do demoníaco
que sempre esteve presente nela. O que realmente aconteceu em 68? O que
aconteceu em 2001, o que aconteceu em 2011 e 2013. Deleuze, Negri e o coletivo
da Uni Nômade viveram os acontecimentos e os atualizaram no campo do saber. O
acontecimento necessita da vivência dele, de uma subjetividade molecularizada a
partir do contato com o caos, de uma percepção demoníaca, da vitória do
terceiro olho frente ao grande irmão. A longa preparação a partir da vivência
dos acontecimentos, do contato com o caos possibilita então rastrear, tatear o
que não é visto; e a ficção, quando se ficciona o acontecimento, depois de
atualizada pelo saber pode muito bem se tornar mais interessante que a dita
“narrativa do real”. Não era ficção, era o registro da temporada no inferno, a
escrita de Satã; a ficção assim se revela como a outra face, a outra cabeça, já
que somos monstros, temos duas cabeças que não se dicotomizam. Duas cabeças que
são N cabeças, dragões de múltiplas cabeças; múltiplas cabeças e uma só é a
cabeça de Deus, da ciência ou do bom cidadão. Temos múltiplas cabeças, mas
pensamos que só temos uma. Vivemos em muitos mundos, mas só percebemos um.
Nesse mundo há o material, o céu e o inferno. Mas o mundo de Satã são N mundos,
os N mundos, a morada de Satã, e ele, como disse, não é um, mas bandos de
bandos, legiões de legiões, multiplicidades que não se esgotam nunca; e a
multiplicidade, o devir, a soma, a conjunção, tudo isso é reduzido pelo bom
senso. Dizem sempre: eu sou eu, eu sou aquele, eu sou um organismo, um sujeito
individuado – palavras de ordem daqueles que não entendem uma frase simples:
somos legião! Klaus Kinski entrava no personagem e demorava muito tempo para
sair dele. Ficou um ano agindo como se fosse Cristo. Se Cristo fosse Kinski,
não teríamos entrado na era cristã, teríamos ficado no nosso tempo-espaço de
origem, o caos, a anarquia, o inferno. As forças da vida são primeiras como diz
Negri, e o único universal é o devir como diz Deleuze. O inferno, o caos, é o
início, a era imposta pelos cristãos é a fotografia, o impedimento do caos. A
guerra santa, a inquisição, o nazismo, a guerra que atravessa a história, os
Estados Unidos de Bush, não são demoníacos, são cristãos, são demoníacos apenas
a partir da dicotomização cristã. Vlad Tepesh se torna potente quando larga a
violência cristã, e vive (morto) pelo amor. O algo de demoníaco na paixão
triste, na violência cristã, é o riso sarcástico frente a ela. Satã pode até
influenciar na guerra, ajudar que ela seja realizada, pode estar nas costas dos
reis, papas, imperadores, inquisidores, das massas os condicionando para a
guerra, mas ele faz isso para mostrar ao mundo a sujeira cristã e humana.
Mostra que o homem é sujo, que mata os seus, mata qualquer um por poder, por
matar. Os avanços científicos, a ciência, o campo do saber, a tecnologia – tão
cultuados, o que nos ajudou a sair da escuridão do medievo – só aconteceram já
que necessitávamos de instrumentos para destruir reinados e nações. A ciência
nasce como paixão triste e se desenvolve como paixão triste. A tecnologia
digital e a internet foram criadas pelas mentes maravilhosas de cientistas do
Estado, e o Estado faz a guerra. A Guerra Fria criou a internet. A negação da
tecnologia remete a um estado natural, de “boa” selvageria, e chamam-na de
apocalíptica. Sim, é, mas nos termos cristãos, é o apocalipse de João, a
danação, os sete anos de luta que nos levará de volta ao manto do nazareno –
porém, o manto do nazareno na ótica satânica é o objeto de vitória de Satã. O
ludismo não é a boa selvageria, nem o desejo de retorno a terra sagrada, não é
arcaísmo, mas desejo de cair fora, de menos, menos consumo, menos guerra, não é
a simplicidade, mas a complexidade de vidas que negam a morte e lutam pela
vida. Alex SuperTramp tenta sozinho e morre. Os Sadhus lutam em bandos e estão
vivos, mesmo que o Kumbh Mela seja espetáculo. Punks estão nas ruas vivendo
como ratos. A tecnologia é usada pelos hakers contra os Estados. Os grandes
criadores da tecnologia digital eram filhos da Era de Aquários, aqueles que
amavam a natureza, a qual foi morta; eles choravam pela morte de Pachamama. Não
há retorno à natureza, ela está aqui em nós, já que somos animais. Amar a
natureza é amar uma das cabeças presentes em todos. Os índios morreram já que
não queriam a morte cristã e muito menos a civilização. Morreram, mas estão em
nós, por isso todos somos shamãs. Todos somos Legião, e ela é composta por
animais, tecnologia, homens, em ambiente múltiplos, e o tempo dessa legião, são
N tempos, ou seja, corpos sem órgãos habitando a virtualidade temporal. O
terceiro olho é a tecnologia que possibilita vislumbrar tudo isso, e após a
percepção...bem, isso permite que vivamos mais facilmente em outro, outros
mundos, sempre presentes. Quando ele, o terceiro olho, é aberto, sabemos que a
palavra de ordem: “eu sou alguém que vive em determinado espaço e tempo”, é uma
piada. Satã estava presente quando essa frase foi criada, ele não só ri dos
humanos apegados ao senso comum, ele o cria, cria o senso comum para contemplar
depois esse apego. Os humanos, como eles vivem, suas crenças são o objeto de
riso de Satã. A guerra como disse é objeto de riso de Satã. Sim, eles se matam,
matam a si mesmos, e dizem que se amam. “Amai-vos uns aos outros se odiando”,
Satã não escreveu essa frase, mas a revelou, tornou-a visível. A loucura de
Nero, por ser loucura, não era apenas um reflexo do satanismo cristão, ela era
erótica, Roma queimava e ele tocava violino. A loucura de Calígula também era
erótica. O desejo de poder pode ser algo demoníaco, desejar estar acima de
todos e destruir todos já que todos são assassinos. O humanismo é falso e tem
que ser re conceituado. Lutar pela vida de todos é uma falácia. Matar para
punir, matar em nome da lei, da lei natural e da lei dos homens, isso é parte
da sujeira do cristianismo. Mas matar por matar, sabendo que quem é morto é
alguém já morto, alguém que ama a morte, não matar para punir nem por vingança,
mas usar esse corpo para produzir um acontecimento... isso é a morte como uma
bela arte. Os conspiradores, em nome de boas causas, eram obrigados a matar em
nome da vida, e esse tipo de assassinato é diferente do assassinato do Estado.
Não há diferenças de natureza entre os dois tipos de assassinato, mas
extensivamente há uma diferença, de grau, que torna louvável o assassinato pela
causa. É impossível não usar as armas do inimigo, já que o homem é o inimigo, e
todos somos homens. O suicídio é considerado como algo negativo, já que todos
são mentirosos, falsos, sabem que matam, que cometem a morte baseada na paixão
triste; e o suicídio é uma morte, um assassinato honrável, o suicida mata a si
mesmo não os outros – sim, os homens odeiam coisas simples como dignidade e
honra. O homem bomba mata os outros para voltar ao bom mundo, nega esse mundo e
os que vivem nele. O cristão comete sua sujeira em vida, se arrepende e volta
para o bom mundo. Isso permite com que o mundo seja o que é: a naturalização da
guerra constante, do ódio; eles podem fazer de tudo já que se arrependem
depois. Satã não é ódio, mas o riso a partir da contemplação do ódio. O
cientista não ri, ele não é satânico, a arte ri, ela é satânica, a ficção é um
tipo de piada, piada satânica. A ficção é a mentira, a falsidade, mas não como
paixões tristes, não existem para enganar e matar, isso faz a ciência, que cria
a guerra. Usam Deleuze como base da ciência, mas negam o mais importante em sua
obra: o riso de satã. Cristianizam Deleuze, já que eles não dançam, os
cientistas nunca dançam, eles tem o cú de ferro, estão sempre sentados. Deleuze
era uma bailarina, fazia um balé sem palco italiano, sem a dor da
estratificação do corpo, a destruição do corpo para manter a posição rígida,
isso faz o cientista sentado, vendo um foco mínimo de luz. Os nazistas
estratificavam o corpo ariano, criaram a postura perfeita, a acentuação do
corpo dos sujeitos das legiões romanas. O balé estratifica o corpo feminino da
mesma forma que a militarização estratifica o corpo do homem. O homem da
ciência foi quem criou esses corpos, e os românticos, sendo Deleuze um deles,
dançam um tipo de dança diferente, a dança de Pan, de Dionísio e sua Bacantes,
das bruxas nuas na floresta. Nero estava dançando ou tocando violino quando
Roma queimava? A dança de Calígula fazia os legionários rirem, já que eles
desejavam outra relação com o corpo. Estratificar Deleuze, crer que Negri é um
filósofo do Estado... Os anarquistas acreditam em Negri e Deleuze, e eles os
sensualizam já que acreditam na vida. Os anarquistas percebem exatamente a vida
em Negri e Deleuze. A percepção anarquista é mais importante que a obra dos
dois. Em termos cristãos é uma blasfêmia, uma heresia o que os acadêmicos fazem
com Deleuze e Guattari. Eles não ouvem a música de Mil Platôs já que não
dançam. Como criar para si um Corpo sem Órgãos, des estratificar o corpo, abrir
o terceiro olho, fugir do grande irmão? Como sentir as moléculas do corpo,
sentir a superfície da pele a considerando como o mais profundo? A pele dele ou
dela não como parte de um objeto, o sexo objetificado, que imita o copular dos
pets, mas uma das linhas mais importantes do corpo amoroso. O Corpo sem Órgãos
é amor, é o amor, e quando ele se resume a dois, isso é uma palavra de ordem do
grande irmão, que odeia o amor. As legiões, os possíveis, que nos habitam e se
tocam em um gesto simples: colocar as mãos dela em meu coração, sabendo que o
coração é só uma metáfora. Baudelaire assassinou o próprio pai inúmeras vezes
em mesas de restaurantes para rir de todos. Sim, eu sou um parricida ele dizia,
e todos ficavam horrorizados. Ele fazia isso para Satã rir, e Baudelaire já era
Satã. Os ovários são laicos, mas o cú é satânico. Rimbaud amava o cú de
Verlaine, e a poesia sobre o cú de Verlaine era uma piada satânica; piada
matadora é o nome de uma banda inglesa, filha de satã. Palhaços assassinos,
como os vocalistas das bandas Alien Sex Fiend e Cinema Strange; os dois
personagens mais engraçados do humor atual, um bebê e um alienígena são assassinos.
O riso e o assassinato conjugados compõem uma núpcia demoníaca: palhaço
assassino, aquele que faz a Killing Joke. O homem da guerra não ri já que não
caga, ele é sério já que tem o cú de ferro, dama de ferro, como o cientista. O
cientista bebe tanto, não por que é um romântico, mas exatamente para poder cagar
e rir. Quando ele bebe, ele consegue, mas seu alcoolismo se origina da paixão
triste, só consegue ser feliz na tristeza. Bukowski não bebia, o estado
alcoolizado era seu estado natural. O vinho como sangue de Cristo é a imposição
cristã, o vinho como sangue de qualquer um diz respeito ao assassinato satânico
que é uma piada: matar um zumbi, um morto, alguém que ama a morte. Mac Beth foi
iludido pelas bruxas, elas que fizeram ele se destruir; ele amava tanto a si
mesmo, o poder, merecia ser destruído. As bruxas são os canais, os portais dos
súcubos. As bruxas estão sempre grávidas trazendo ao mundo seres satânicos. Os
românticos são filhos das bruxas, que são filhas de Satã. O homem comum é filho
da puta, é Édipo. Jocasta se mata já que todos iriam saber quem ela realmente
era, uma puta. E o bom cidadão deseja isso, uma casa, um território mínimo, no
qual ele e ela são os reis sempre. O teatro de Édipo é uma piada satânica, satã
ri de Édipo, Deleuze como um demônio nos presenteou com esse riso, o riso do
complexo de Édipo. Mas quando se tira as razões pessoais de Édipo e ele vira um
agente político percebemos a potência da vida: não desposar a mãe, mas
simplesmente matar o pai. Aliás, matar também a mãe, matar o rei e a rainha,
destruir o estado e fazer a anarquia, o projeto da anarquia. “Anarquia como
projeto, caos projetado”, conjunção de linhas de naturezas diferentes, núpcias
demoníacas, frutos do riso de Satã. Para Baudelaire suas paixões eram as
prostitutas já que elas são dignas. Indigna é aquela que dá o corpo ao homem
para ser respeitada pela sociedade e nega que é uma puta. A puta deixa claro
que é uma puta, a esposa esconde de todos que é uma puta. A puta satânica,
aquela que ri da sociedade, a puta cristã, aquela que peca e chora ao se ver no
espelho. No mundo infernal não há putas, já que todos que o habitam não tem
corpo, não possuem corpos, são linhas de Corpos sem Órgãos e ninguém é dono de
um Corpo sem Órgãos. O presidiário é uma puta, o corpo dele não é mais dele
após a primeira noite na prisão. As leis, a moral, colam a culpa e a vergonha
no presidiário, mas se ele não é moralista é alguém louvável. O sexo livre era
uma das marcas da era de Eros, e o sexo livre é algo satânico: a importância do
comunismo do corpo contra o individualismo capitalista. Por isso, que os
Estados comunistas (mesmo os apenas desejados) não entenderam nada do
comunismo, o tornar comum, pensavam que a vida se reduzia a economia e
política. O comunismo do corpo é micro político. Negri radicalizou o conceito
de comum; o nosso comum se realiza quando somos legião; na era de Eros o sexo
livre era feito por legiões em leitos que eram Corpos sem Órgãos. <i>A – Quem é você? B – Eu sou Ninguém. A – Não
eu perguntei como você se chama. B – Eu me chamo Ninguém, sou Ninguém.</i> A
nobreza punk, ser um punk um, qualquer um, ser <b><i>Ninguém</i></b>. Punks eram assim
chamados os que eram currados na prisão. A dignidade dos punks. Eu sou uma puta
mexicana barata. A despersonalização é demoníaca, e nesse caso, no caso do
punk, é uma piada. Talvez por isso que o punk tenha sido principalmente inglês,
já que eles têm esse humor peculiar, riem facilmente de si mesmos. Saber que se
é uma piada, que a vida de bom cidadão é uma piada: nobreza dos punks. Lars Von
Trier fez isso em Idiotern, rindo da boa democracia escandinava que não
garantia muita coisa. Os Black Metals escandinavos queimavam igrejas, eram
violentos, não conseguiam rir, muitos eram fascistas. Eles desempenhavam bem o
papel de cristãos. O bom senso diz que uma meia é uma boceta, mas o louco diz
que uma meia é uma rede de bocetas – isso é uma piada satânica. O cú da mulher
para o bom senso é o cú do melhor amigo, ou do filho, mas para o presidente
Schreber o cú é o sol iluminado. O terceiro olho para ele é o cú. Glorificado
cú, cú sagrado, consagrado, cú satânico. A virgem Maria tinha um cú. Sim, ela o
dava sempre, mas como só dava o cú permaneceu virgem; depois ela virou Maria
Madalena, mas no inter meio ela gerou Cristo. Cristo foi crucificado pela
própria vontade ao saber que mamãe dava o cú. O filho ouve a mãe dando o cú e
pensa que ela está orando, então ele começa a orar e passa a ter doces sonhos
com um cú. “Deus nasceu da cloaca do homem” como diz Artaud. O ciclo anal dos
queers é o ciclo que rege a lua. O queer não tem mãe nem pai, tem apenas um cú.
O cú para os queers, para o monstro, obviamente não é edipinizado. A mulher, o índio,
o oriental, o gay sempre foram vistos como agentes perigosos, demoníacos.
Shamãs da América latina, do oriente, religiosos negros, mulheres bruxas, para
a mentalidade dominante, deveriam ser destruídos por serem diferentes, ou seja,
demoníacos. Chamam a mulher possuída de neurótica, mas ela não é neurótica está
sim possuída, ela é demoníaca. O demônio não é homem nem mulher, mas algo
presente em certos seres. O demônio é devir, ele pode ser uma tempestade, uma
bruxa, um artista. O queer é o que de mais demoníaco existia até que queer
virasse moda, como virou a cartografia, a transversalidade, as cores do mundo.
A mulher se torna homem e deixa de ser bruxa, mas algo de sua bruxaria está
presente nos homens, em todos. Quando um fora é capturado, é tornado dentro, o
fora nos habita, é o fora em nós. Esquizo análise (ANALlise) é a louca análise,
análise dos loucos, que são videntes, sobre a sociedade. Psico análise analisa
os loucos, tentando os tornar racionais. O poder vê o caos e tenta o destruir,
mas não sabe que a destruição é filha do caos, assim age em nome do caos. A
ciência tenta regrar o caos, ou seja, tem uma relação com o caos, e na relação
com o caos, ele, o caos, fica presente na ciência. Não há como fugir do caos. O
caos da mente de um bebê, da mente de um primata, da mente de uma serpente. A
máquina criada pelo homem que é caótico é caótica, tem algo de caos nela. Por
isso, todos temem que a máquina irá destruir o homem. A fuga do caos criou a
sociedade moderna por uma paixão triste, um ódio de algo em si mesmo, o caos. O
homem se olha no espelho, e odeia algo que vê: o caos. O homem acentuou o poder
da máquina para fugir da parte que odiava em si mesmo, o caos, a natureza, mas
a máquina por desejo, já que era fruto do homem, então algo desejante, mostra
ao homem que ele vai ser destruído pela destruição que sempre gerou. O corpo é
sujo para todos, odeiam seu corpo e o corpo dos outros, odeiam o que chamam de
organismo. O corpo queer odeia o organismo e não ama seu corpo, mas o deseja
como ele é: sujo e impuro. Os palavrões são palavras de ordem, que mostram o
ódio ao corpo: que merda. <i>Cuzão. Vai se
foder. Te fode. Bundão. Boceta. Caralho. Mijão. Vai tomar no cú. Porra. Merda.
Boceta cabeluda. Escroto. Chupa aqui. Punheteiro.</i> Tudo isso mostra como o
corpo, o sexo são base de fantasmas, de ódio, de repulsa. Um cú é objeto de
ódio. A mulher não consegue transar, se sente mal, nem se masturba; as
menininhas se sentem putas por beijar mais de um cara. Fazem a festa e depois a
ressaca. A esposa que é puta na cama, mas no espaço público é a santa. Os
fanáticos religiosos que trepam, fazem 69, mas se dizem puros. Se soubéssemos o
que nossas mães fazem na cama nunca as beijaríamos no rosto. E fazem tudo isso
e nem notam, não notam a si mesmos, já que acham que não sabem o que fazem, não
pensam no que fazem, não tem controle do que fazem. Sublimam seres puros como
crianças, vovozinhas, unicórnios, amam a pureza de filmes puros, mas fazem
sujeiras na cama e demonizam os seus por fazerem sujeiras na cama; eles não se
notam. “Minha mãe é uma santa, um anjo”, diz um personagem de Sin City; mas a
mãe dele era uma prostituta na vida real; e qual o problema em ser uma? Elas
são dignas, indignos são os que vendem o corpo por segurança, para manter as
coisas como são. <b>Espectralia. </b>É a
cidade dos espectros que co existe com a urbe. Não é a rede digital, não é o
campo, a natureza, nem a metrópole, muito menos a necrópole. A espectralia é a
cidade dos afetos, dos delírios, do desejo, dos sonhos. É o subterrâneo, talvez
Hades, talvez o que chamam de inferno, ou mesmo de céu, é um ambiente em que a
morte está presente, considerando “vida” um outro tipo de morte, a vida de
zumbis, que negam quem são. A espectralia não tem prefeitos, nem gestores, nem
cidadãos. O “cidadão” da revolução francesa apenas a contemplou após conhecer a
máquina do senhor Guilhotin. A espectralia não tem trajetos determinados, já
que, como disse, não é dominada por comando superior. Ela reúne inúmeros corpos
sem órgãos, não todos, mas os possíveis na cidade. Há espaços na cidade que são
portais prontos para levar qualquer um para ela. Uma cama, uma praça, uma mesa
de bar, melhor um banheiro de bar, um buraco na rua, uma tenda na rua, o
carrinho de um morador de rua, são portais para espectralia. Todos sonham, não
podem fugir dos sonhos, e os sonhos são parte da espectralia. Às vezes isso
fica óbvio quando sonhamos com a cidade. Pensar nos sonhos como uma mancha
negra a ser limpa para entender a si mesmo, se encontrar, ou seja, interpretar
os sonhos, é negar a potência deles. A interpretação leva a outras
interpretações, e, no fim da vida, o idiota não quer morrer já que nunca vai
ter alta do divã. Ele precisa continuar interpretando, esse é seu vicio; mas os
sonhos como superfície, perceber suas imagens, sons, afetos, como eles são
diferentes dos normatizados, entender que é uma realidade em si mesma, é
aceitar, amar sua potência. Para o homem dominante, o morador das cidades, os
sonhos habitam espectralia. Para um monge em retiro, para o eremita do campo,
povos aborígenes não civilizados, para eles os sonhos provavelmente levam a
outras ambiências e não para espectralia. Certas tribos indígenas narram os
sonhos para os seus, já que não os consideram como algo pertencente a um
sujeito e seu buraco negro. Espectralia não é a cidade perdida, não é origem
nem destino, é devir. A cidade, a cidade como modelo, é a cidade dos mortos,
dos zumbis, é a necrópole. A cidade dos espíritos é mais próxima da vida do que
a necrópole. Não há vida na necrópole, e quando há vida nela, essa vida diz
respeito à espectralia. Espectralia não é a utopia, o bom futuro, é a vida
atual que agencia tanto a potência da vida quanto o esgotamento dela, a morte.
Suicidas, seres violentos, serial killas, loucos, também habitam espectralia,
como os amantes da vida, os dãndis, os apaixonados, os iluminados, os artistas,
e eles, os amantes da vida, podem ser também amantes da morte, da violência, do
suicídio. A cartografia mostra a impureza da vida, a necrópole e a espectralia
em conflito. A música, a arte sem materialidade, vive em espectralia. Alguns
filmes habitam espectralia; algumas pessoas só conhecem espectralia já que
nunca viveram a vida de todos na urbe; outras são apaixonadas por seu ambiente,
então chamam Dionísio, os xamãs, os curandeiros negros para que eles as levem
até ela. O barqueiro do Estige é um curandeiro, um xamã, mas quem atravessa o
rio tem que pagar um preço. Poucos entendem o número vinte sete: dois sete é
quase três sete, e três sete é vinte um. Jim Morrison, Jimi Hendrix, Janis Joplin
(um triplo J, o J tem o som de I em muitas línguas, e I é a nona letra, 9 é 2
sete) morreram com dois sete, e depois do dois sete veio o três sete: a morte.
O 21 é o fim do jogo, a cartada final. Sim, a morte é o ambiente no qual
espectralia é mais uma das suas linhas; e estar em espectralia é estar morto,
mas vivo, ser um undead, um vampiro, como cantava o Bauhaus. Os góticos amam
espectralia, encontram nela Thanatos, o spleen; os hippies foram os primeiro em
massa a conhecer a fundo espectralia; já os punks atuam nela com um afeto não
místico, eles são materialistas ao extremo, mas sim violento; todos eles, a
partir de seus afetos, o amor, o desejo da morte, o ódio, foram forjados em
espectralia. Sim, forjados como arma, já que eles são armas contra o bom senso.
O punk, o hippie e o gótico, quando surgiram, caminhavam pela necrópole, mas
estavam em espectralia. Eles permitiam para os bons cidadãos ver algo possível
apenas pelo terceiro olho, já que eram monstros, fantasmas na rua, e por isso
também portais para a cidade dos fantasmas. O bom cidadão tinha medo não do que
via diretamente, um monstro, mas exatamente medo de ter esse contato direto com
a outra cidade. Se drogar, fazer uma bela festa e depois sentir a ressaca é
estar em contato com a morte por se estar dentro de espectralia. Morrer não
significa se mudar para espectralia, mas sim apenas morrer, e ninguém sabe ao
certo o que é a morte, mas muitos sabem muito bem o que é espectralia, que é um
ambiente também da morte. Os garotos tomam ácido em plena rua e logo após estão
em espectralia; continuam tomando e tomando, muitos viram cães de rua, outros
viram cães famosos, como Júpiter Maçã, Arnaldo e Sid Barret. Kurt Cobain, que
morreu com 27... sua representação em Last Days o mostra como alguém em outro
mundo; no filme, em determinado momento, ele está de pé, parado, e vai caindo
lentamente, essa cena dura e dura radicalmente. Jimmy Page, na sua fase mais
pesada, às vezes demorava uma hora para ir da cama até a porta do quarto de
hotel. Os olhos vermelhos de Pink em The Wall é a representação mais real de
alguém completamente chapado, nunca foi visto olhos tão vermelhos na história
da cultura pop. Pink estava em espectralia, como o Kurt de Last Days e Jimmy
Page. Ozyy Osbourne simplesmente desapareceu em uma turnê, todos pensavam que
ele estava morto, mas estava desmaiado no quarto de hotel, adormecido em
espectralia. Os viciados em heroína adormecem em qualquer canto: Stiv Bators
apaga em cima do prato de sopa; Iggy Pop, ao lado de Bebe Buel, pela cidade,
letárgico; Jim Carroll sonhando em plena sala de aula. A heroína, a narcose
dela é espectralia, mas não só ela, o álcool também: viva o coma alcoólico! No
início dos 90, em Porto Alegre, de manhã cedo, no fim de semana podiam ser
contemplados jovens e mais jovens dormindo na frente dos bares do Bom Fim.
Casper, o fantasma camarada, personagem de Kids, bebe, usa drogas, transa com
uma amiga adormecida e acorda nu depois sem saber o que tinha acontecido.
Burroughs, como personagem em Naked Lunch filme de Cronemberg, nunca se recorda
no que aconteceu no dia anterior. Burroughs, na vida real, encontrava seus
textos e não sabia se ele quem realmente tinha escrito, possivelmente talvez
tenha sido algum fantasma de espectralia. A narcolepsia do personagem principal
de Private Idaho... ele simplesmente apaga e dorme em qualquer lugar na cidade,
melhor, de espectralia. Sonho é irmão da morte, sonho e morte são duas
temporalidades sempre conectadas. A heroína é a droga preferida pelos punks
realmente punks, e talvez sua narcose revele de forma mais clara espectralia.
Demora pelo menos duas semanas de uso contínuo para ficar viciado, e depois de
ficar viciado, nunca mais se deixa de ser um. Duas semanas de uso, de contato
extremo com espectralia, faz com que se fique preso nela, até a morte. O som
punk, violento e sujo, parece mostrar melhor a vibe, o vício em heroína;
heroína é chamada de lixo, e o punk é um lixo; mas é estranho uma banda tão
para cima como o Happy Mondays ter um vocalista viciado em heroína. O hospício
e a prisão estão na cidade e são portais para espectralia. A cidade da peste de
Herzog, a cidade da peste de Da Vinci, a cidade da peste dos crakeiros, não são
espectralia, mas também são. A cidade limpa, dos corpos limpos, das pessoas de
bom gosto é a negação da cidade dos espectros. Mas sim, o hipster também
enlouquece, toma suas drogas que não são apenas maconhas gourmets, ele sonha,
delira, ele faz isso pra fugir da cidade dominante. Estar em espectralia é sair
da mediatização da vida, é viver a vida. Muitos conhecem a vida apenas de forma
midiatizada; para eles a vida é espetáculo. Viajam para conhecer espetáculos
que já conhecem, o modelo de cidade. Os smart phones talvez tenham trazido a
massa para as ruas, o que não era permitido pela televisão e o PC, porém a
massa nas ruas, não as contempla, mas sim seus smart phones. Muitos cientistas
negam ver as ruas, viver elas, então escolhem como objetos o que está
atualizado em livros, documentos, mídias, etc; mesmo certos etnógrafos urbanos
criam um bloqueio entre vida e pesquisa, eles estão nas ruas, mas não como
pessoas comuns e sim como pesquisadores. Passaram a vida toda pensando que sexo
são tarinhas de almanaque, que política é voto, que arte é qualquer coisa em um
museu. A bunda queima, deve queimar, é algo simples, mas para muitos a bunda
queima já que leram nos almanaques sobre os métodos para apimentar a relação.
Em espectralia não há vagina nem pênis, apenas múltiplos cús, o Deus Cú, que é
o comum sexual de todos. O machista pensava que não tinha um cú, as mulheres e
as crianças riam dele, ele era a única pessoa do mundo que só via o cú dos
outros. As mulheres e as crianças quando falam não rosnam, nem enchem o saco,
elas podem falar e muito bem de espectralia, mesmo que muitas vezes rosnem e
encham o saco. Elas se forjaram ali, sempre falaram da bela cidade, mas o macho
sem cú não ouve, nem sabe que sua merda faz barulho quando chega em qualquer
lugar. Ele só sabe fazer merda, mas é tão cego, tão insensível que não percebe.
O padre mentiu também que não tinha cú e um cú satânico. Mentiu, mas todos
sabiam que se tornou padre pra comer e dar o cú, sua vida de vergonha. O
assassinato é a imposição, o poder que se quer como poder mata quem não quer
morrer. Na espectralia o assassinato é consenso entre os pares, nunca uma forma
de vendetta. V de Vingança é a espetacularização dos anonymous, dos espectros.
O noise, a visão borrada, o gemido, o tiro sem dono e alvo, a drag queen, o
queer, o anormal, os anômalos, o punk, o trovão causado por um bocejo, o bater
de asas da borboleta que causa a excitação da massa, tudo isso concerne à
espectralia, a cria. Talvez espectralia seja a real cidade que vivemos, nunca
saímos dela, sempre estivemos nela mesmo quando não existiam cidades. Alguns
têm que correr atrás da cidade dos espectros já que só vêem o coelho negro
correndo, outros ficam parados, estáticos, mas explodindo de vida já que entram
na cidade fantasma a partir do tédio e do bocejo. <b>Românticos.</b> Classe de demônios, filhos de Dionísio. Os românticos
são os marginais que tem como foco de produção a arte. Eles não separam vida de
obra, e assim criam obras que chocam com a moral dominante. Podem ser
considerados Diablos, porém são mais especificamente um tipo de Diablo. Muitos
deles atuam em um campo com visibilidade exatamente para atrair, capturar
subjetividades, ou aquilo que chamam de alma. O romântico pode ser pensado não
apenas como sujeito, amoral e não sujeitado, mas como devir; então romântico se
refere a existências diferenciais que habitam espectralia. Há algo de romântico
em todos, e romântico não é romance, mas também é. <b>Os anarquistas pós-modernos. </b>São demônios radicalmente
materialistas, são atualizações do demônio Legião. Ganharam visibilidade no pós
moderno por suas atuações em rede. Sua ação tática nasce com os românticos
modernos. Eles atuam na cidade, são meio punks, meio hippies, meio
guerrilheiros urbanos. Sua produção desterritorializa a cidade, ou seja,
produzem focos de espectralia, vistos nas ações dos blac blocs, nas ações
lúdicas, nas okupas, nas manifestações. É um agente político, não romântico,
mas há algo de romântico no anarquista. <b>O policial corrupto. </b>Ele é um dos
instrumentos do grande irmão, porém possui algo de diabólico, já que age na
borda entre legalidade e ilegalidade. O <b>guerrilheiro
urbano</b> fazia o mesmo, atuava legalmente nos movimentos estudantis,
trabalhava, mas tinha uma outra vida, lutando contra a ditadura. A questão é
que o policial tem elementos satânicos, mas do satanismo criado pela moral
cristã: é mau, odiento, odeia os fracos, os preceitos da teologia da
libertação, quer poder, dinheiro. O guerrilheiro é satânico já que busca a
destruição de símbolos dominantes.<b> Queer.
</b>É filho de Baphomet como apresentado por Eliphas Levy. É um dos monstros
mais potentes do pós moderno e pode ser confundido com o anarquista. <b>O improdutivo. </b>Seu desejo radical é
zerar a sua existência. Diferente do niilista satânico cristão que deseja a
destruição total. O punk purista é um dos improdutivos. <b>Os cínicos, os hippies. </b>Classes de demônios que buscaram viver com
o mínimo possível. Aprenderam com Cristo, porém não são humildes, são
orgulhosos de sua potência. <b>Grande irmão. </b>Ele é o que resta da
deidade cristã. Milênios da cultura cristã fizeram com que todos se submetessem
a um olho que tudo vê. Por isso as mídias foram facilmente assimiláveis. Hoje
todos estão visíveis o tempo todo, todos se olham, a si mesmo e aos outros,
naturalmente. O romântico é visto pelos olhos e sua potência é impedida. O
grande irmão impede a conspiração. O grande irmão sustenta o modelo de cidade,
o endurecimento da cidade, o estriamento da cidade. <b>Sociedade de parceiros. </b>As lutas de subjetividades que atuam em
espectralia, como os anarquistas, os queers (considerando queer como a
subjetividade sexual que reúne todas as minorias sujeitadas ao patriarcado), os
guerrilheiros, que são precursores dos anarquistas pós modernos, os românticos
atualizados nas subculturas, na arte (motor de lutas de minorias, que permite
aos jovens um papel privilegiado, já que mostra seus desejos), essas lutas, na
vitória parcial e no pacto com o poder, pacto silencioso, criaram uma inclusão
generalizada da diferença, uma horizontalização entre minorias e focos do
poder. O pai, o patrão, o professor, o marido, viraram parceiros dos sujeitos
submetidos a eles, e isso é o que chamo de sociedade de amigos. Esta é a
relação dúbia, de choque e aceitação, entre o terceiro olho e os olhos do
grande irmão. O símbolo maior da inclusão da diferença na cidade do espetáculo,
na necrópole é o hipster. Ele é andrógeno, é qualquer um, é todos; ninguém sabe
se ele é gay ou hétero, se é rico ou pobre, se é alternativo ou moda, ele é
politizado, mas faz parte de uma esquerda que é simulacro, ele é ecologista,
mas de boutique, ele tem traços de anti capitalista, mas é capitalista, ele usa
drogas, está nos portais que leva a espectralia, mas a cidade moldada para o
hipster é a necrópole, é o bom cidadão que vai as ruas, está nas mídias sociais
falando de cultura e política. A denominação hipster já é uma apropriação, uma
captura pelo grande irmão. O hipster nos Estados Unidos nos anos 40 era o cara
das grandes cidades que andava entre a marginalia; era um branco negro, White Negro,
um sujeito dúbio, intelectual entre a marginalia, era um anômalo, um
conspirador. Hippies, os filhos dos hipsters, eram os jovens que queriam largar
tudo, viver outra vida, que chocavam com suas roupas multi coloridas, seus pés
descalços e cabelos compridos. Eram monstros, talvez os primeiros da era dos
monstros, o pós moderno. Neal Cassady era o Pantagruel do sexo, tinha um
apetite sexual monstruoso. Burroughs era um Pantagruel das drogas, Bukowski do
álcool. “Os caminhos do excesso levam ao palácio da sabedoria”, e a sabedoria é
loucura, e a loucura é o terceiro olho, por isso Blake também dizia que “as
portas da percepção devem ser abertas”. Após a contra cultura os símbolos
sonoros e visuais dos produtos culturais devem e muito aos símbolos da psicodelia
– o efeito da droga marca dos hippies, o ácido. Mario Bross, um jogo para
crianças, mostra um Mario completamente louco, com olhos que brilham pelo ácido
e alguma droga estimulante, correndo pela cidade. Em momentos, ele sai da
cidade, da necrópole e entra em outros mundos, esses outros mundos são parte da
espectralia. Os Smurfs são bichinhos azuis que vivem em cogumelos na floresta.
Cogumelos são uma fonte de psicodelia, e quando se toma ácido são vistos
bichinhos. Os Smurfs são uma viagem psicodélica, de alguém que entrou em
espectralia. Gargamel, aquele que quer acabar com os bichinhos, os Smurfs,
mostra que a viagem pode não ser prazerosa, pode ser uma bad trip. A cidade
mágica de Harry Potter coexiste com a necrópole. Alice é precursora de Harry
Potter. Matrix mostra dois mundos, e Neo só entra no outro mundo quando
persegue o Coelho Branco. O Show de Truman faz algo diferente, mostra uma mini
necrópole, mostra a necrópole para os que vivem nela, e eles, os habitantes da
necrópole, se regozijam com ela, com a morte. As bandas de Black Metal
fantasiam mundos diferentes em shows e clipes, mundos habitados por seres de
negro, semi mortos, demônios, mundos em que os símbolos do cristianismo são
destroçados. Louvam a morte, desejam a destruição, e eles não negam isso,
reconhecem a morte e querem ela; são amantes conscientes da necrópole, já que
os inconscientes dizem que a necrópole é o espaço da vida, dizem que ela é “meu
espaço de espetáculo pessoal, o local em que tenho 15 minutos de fama já que sou
hipster, um sujeito espetacularizado”. <b>Os
olhos do grande irmão na mídia. </b>O sujeito midiatizado vive uma vida privada
possivelmente não mediada e uma vida pública midiatizada. As mídias não se
reduzem aos media das grandes corporações: há mídias de resistência, que
mostram algo concernente ao terceiro, e há as outras que são parte dos olhos do
Grande Irmão. Os sujeitos dominados, os que moram na necrópole, os zumbis,
insistem em apenas ver o que o Grande Irmão permite. Os media falam e falam, e
eles ouvem. Essa é a sua necessidade de segurança, aceitar o mundo como dizem
que é. A negação do mundo, que não é reativa, mas afirmação da vida, é feita
pelos românticos. Todos dizem que a mídia mente, desde sempre se falou na
alienação da TV, a esquerda sempre afirmou isso, mas os sujeitos não conseguem
não consumir as mídias, e, por isso, aceitam o que ela diz, esse é o mundo para
eles. O mesmo com a área da saúde que constantemente se desmente. A área da
saúde como espetáculo faz isso o tempo todo, já que desmentir suas mentiras,
dizer que suas verdades não são mais verdades, vende, ou seja, é espetáculo.
Mesmo assim, com as contradições da área, suas variabilidades, suas
deficiências, todos seguem o que é dito por elas, sabem que são ilusões, mas
por segurança se apegam às ilusões. Precisam de segurança, então aceitam. A
esquerda é um simulacro, é algo que existiu faz muito tempo e que não mais
existe. Como a política dominante é centrada no dualismo, todos aceitam o que é
vendido como esquerda. Viver para o cidadão da necrópole é aceitar, se
submeter, ou seja, como disse, viver para eles é estar morto, sem vida, ser um
Zumbi. <b>Traumas, auto punição. </b>Os
sonhos e delírios de espectralia não dizem respeito a um indivíduo, não são os
traumas do buraco negro do neurótico, psicanalizado. Os traumas não habitam
espectralia, habitam os sujeitos que vivem a necrópole. Ser perseguido pelos
traumas, se auto punir, buscar salvação são formas de morrer, de negar a vida;
estão sempre no passado, choram, se deprimem, ficam neuróticos, e violentos,
amam suas dores, seus sofrimentos, são auto indulgentes. <o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-65333667887976118342018-06-01T13:03:00.003-07:002018-06-01T13:03:48.360-07:00.............<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center; text-indent: 35.45pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">Meus
olhos, teus olhos, nossos olhos<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center; text-indent: 35.45pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">(um
poema para Natasha)<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">Para identificar
alguém, a identificação se dá pelo rosto e é usado o olhar. O olhar é tão centralizado
que é comum confundir o olhar com a percepção; o olhar é a percepção principal,
e possivelmente isso foi criado a partir de uma coerção do controle. O olhar é
naturalizado, dominado, modulado, e torna o que atinge em algo direto,
digerido, radicalmente simples. O olhar só vê o visível, melhor, recortes do
visível. Mascarar o rosto é esconder a identidade e pode ser uma forma de criar
um comum entre rostos singulares. Marcos e os passamontanhas, os anonymous,
eles são resistências diretas a identificação. O olhar dominante é traído a
partir de linhas de fugas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">Aqui neste curto
ensaio, poético, filosófico, com linguagem diferente da dominante acadêmica,
tento experimentar uma outra percepção: a partir do meu olhar, tento me
aproximar de um outro olhar, este um olhar que se olha e se recria, se maneja, se
teatraliza. Faço isso para abrir um outro olho, o terceiro olho.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">O texto é guiado pelos
afetos, pela intuição, pela paixão por esse olhar. O objeto principal é um dos
vídeos de Mc Zeus, rapper gaúcho, de 17 anos de idade, com uma obra extensa e
consistente. Após assistir algumas vezes seus vídeos e de proposta do
orientador de pós doutorado, comecei a pensar no possível texto. Eu dirigia
pela cidade e lembrei do olhar de uma menina em um dos vídeos. Fiquei uma hora
dirigindo e construindo mentalmente o texto. Nesse momento, só pensava no olhar
dela. Quando cheguei em casa revi o vídeo e notei que ele não era exatamente
como eu me lembrava. Para mim, naquele momento de devaneio intelectual, o olhar
dela centralizava todo o vídeo; e sim, ele é importante no vídeo, mas não tanto
quanto eu pensava. Decidi, portanto, escrever o texto centrando no olhar dela,
a partir da imagem falsa que tive quando dirigia. Ou seja, o texto parte de uma
ficção, e mesmo essa afirmação do falso pode ser um jogo meu. Assim, me coloco
não como cientista, nem acadêmico, mas como poeta, criminoso, conspirador, enganador,
alguém possuído pelo demoníaco, sendo o demônio criador da mentira. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">O texto, ensaio, ensaio
crítico, ou seja, político, portanto, é poesia, poesia que mascara um humor
peculiar, que não vou revelar, pelo menos agora. Essa soma, conexão de linhas
diferenciadas é a transversalidade, e esta não é um campo, um dispositivo, nem
deseja ser, mas é exatamente o atravessamento de campos para fugir da lógica
identitária. O ensaio tem esse centro, o vídeo de Zeus, o qual atualiza o olhar
da musa, mas tenta fugir o tempo todo, criar brechas. Essas fugas direcionam
para um futuro, são sacações para serem trabalhadas nos textos seguintes sobre
Zeus; assim, é um texto aberto, com pontas de possíveis, que tenta entrar no
campo virtual. E isso já é uma crítica aos trabalhos fechados, organizados, não
dispersivos que são frutos do controle, ilusões do grande irmão (um dos
personagens conceituais do texto), que insiste em afirmar, impor, um mundo
seguro, harmônico, melhor, controlado. O grande irmão, o controle, é a soma de
todos os dispositivos e o terceiro olho concerne às linhas de fuga possíveis neles.
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">Trepanação é fazer um
furo na fronte, no crânio para permitir a abertura do terceiro olho
continuamente, até a morte. O terceiro olho não é um sexto sentido, mas “N
sentidos”. Ele também é aberto de inúmeras outras formas, com as drogas, o sexo
tântrico, a meditação, a loucura, a arte. O terceiro olho está sempre aí
tentando se abrir e poucos o notam. O grande irmão, o controle, tenta impedir a
abertura do terceiro olho. Os olhos do grande irmão se impõem como único olhar,
e ele não está acima, está dentro, é o olhar rotineiro, dominante. O terceiro
olho e o grande irmão estão continuamente em conflito, nunca em diálogo. O
terceiro olho não faz concessão, como desejo ele é resistência ao domínio. Em
todos agenciamentos sempre há poder e resistência, e a cartografia, atualização
do terceiro olho, permite perceber a natureza dos agenciamentos, a soma de
linhas, a transversalidade.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">O grande irmão impõe o
olhar como percepção principal, mas quando o terceiro olho é experimentado,
sabemos que ele pode ser aberto pelos poros, pelo pênis, pela vagina... Portanto,
ele não é localizado, está em todo corpo, como o grande irmão está em toda a
parte. O grande irmão diz que a mulher é mulher, impõe isso para a mulher. O
terceiro olho é pertencente à mulher como minoria sujeitada – ela empresta esse
olho para todo o social, o devir mulher. O grande irmão odeia a mulher e reduz
sua existência, por isso, por ser resistência a ele. Mas o grande irmão está na
mulher, e ela luta e luta e tenta; Deleuze e Guattari alertavam que a mulher
também tem que devir mulher. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">Ela é linda, tem talvez
dezoito, é loira, moradora do sul do Brasil. Ela faz parte de uma subcultura, o
rap, curte drogas, está na melhor fase de sua vida. Ganhou peso nos últimos
tempos, já que é uma mulher que sofre por ser mulher e seu corpo é um campo de
batalhas. Ela é a musa de Zeus no vídeo da música Afro Killa. Zeus, esse ser
híbrido, de muitas cores, esse Killa que mata em nome da arte, portanto, da
vida. Ela está ali, muitas vezes no centro do vídeo, mostrando seu olhar de forma
natural. Talvez ela seja o que de mais natural e espontâneo haja no vídeo, ela é
teatral naturalmente. Sendo a musa de Zeus e sua trupe, tendo sido sempre a
musa das pessoas do seu nicho, aprendeu a agir no mundo – ela sabe que o teatro
é uma forma de defesa, mas esse teatro brinda o mundo com sua existência
intensificada. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">No vídeo, ela é um
olhar. Ela tem esses olhos germânicos, com pálpebras de uma brancura especial,
e seu olhar é potencializado por um brilho de quem abriu o terceiro olho. Sim,
ela brinda o mundo com o olhar, o qual quer ser visto. Ela sabe disso, então
maneja o olhar, ela olha o próprio olhar e trabalha ele, e para trabalhar ele
usa o terceiro olho, e a maconha, o beque em suas mãos, ajuda e muito. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">A musa – esse
personagem dominante na arte moderna – é intocável (mas não pelos outros,
ninguém tem ciúmes de sua musa), ela é intocável para aquele que a admira. É
uma obra de arte a ser admirada, não apenas vista, mas sentida de inúmeras
formas; e a musa só se torna musa quando o terceiro olho é aberto, quando ela é
sentida a partir de todos os sentidos, mesmo que o grande irmão diga que é um
objeto que deve ser apenas visto.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">Tadzio, loiro, jovem,
de olhos claros era apenas visto pelo escritor, Tadzio era o muso do escritor.
Quando em Lolita o pedófilo apaixonado tentou tocá-la, quando ela deixou de ser
um objeto a ser fruído com distância, ele perdeu sua musa. A musa não é a
objetificacão do corpo, quando falo em objeto, esse objeto específico se refere
a aquilo que deve estar próximo, mas distante, assim como qualquer obra
pictórica figurativa, que apresenta algo próximo, um rosto, uma paisagem, etc,
mas que está distante, já que é uma ilusão. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">A distância é
necessária na experimentação do terceiro olho: estar com ele, mergulhar nele,
mas com cautela. Abrir o terceiro olho com muita intensificação é entrar no
caos e não mais sair. Sid Barret fez isso e se perdeu em um buraco negro sem
volta. Waters, seu companheiro, comentou o olhar de Barret, os olhos de Barret,
para Waters , eram buracos negros no céu. Johnny Thunders, pelo vício em
opiáceos, tinha um olhar parecido, percebido em muitos vídeos em apresentações
suas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">E a musa de Zeus...
Sim, está perto e distante, deve estar distante – senão deixa de ser musa e se
torna amante. Ela é uma linda imagem, algo atualizado no vídeo, em sua
especificidade, é algo fruível. Ela tem um belo corpo que dança suavemente; seu
ventre exposto é incrivelmente lindo, e estar acima do peso, pelo peso da
entrada na vida adulta, a torna mais linda ainda. Ela se veste sem cerimônia,
sua bermuda cinza é de um tecido leve, delicado, possivelmente gostoso de
tocar; meio moleque, está de boné. Ela faz praticamente três coisas no vídeo:
mostra o olhar, brinca com a fumaça de cigarros com seus lábios delineados,
movimenta o corpo em uma sutil dança. A sutileza e a delicadeza são suas
marcas, mas são trabalhadas de tal forma por ela que se tornam algo sexy, que
arrebata. A estética dela no vídeo não é cosmética, ela não é adornada,
falsificada por possíveis tratamentos estéticos, como disse, ela é ela, ela é
natural, mesmo que seja a naturalidade do teatro. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">Se fosse cosmetizada
seria objetificada e viraria algo totalmente distante, frio, friável, um
produto. A paixão pelo produto é marca do controle, a subjetividade é tão
colonizada que nem os desejos ficam ilesos. Essa marca mostra o grande irmão
dentro de todos. O grande irmão diz: consuma, ame as coisas como elas são.
Porém, como ele está dentro, diz respeito aos sujeitos, a palavra de ordem não
é necessária, todos consomem e amam as coisas como elas são. E de forma alguma
eu faria uma ode a um produto. Warhol não fez isso, ele mostrou exatamente a
paixão triste pelos caixões produzidos pelas indústrias. Mostrou para a
sociedade o que ela é, mostrou que os sujeitos amam a morte, se regozijam com
ela. Os objetos de Warhol não eram artísticos, mas reproduções de produtos, ou
seja, reproduções de reproduções. Portanto, a obra de Warhol era filosófica,
partia do conceito crítico. Danto, um filósofo de arte conservador, conseguiu
expor isso: a morte da arte quando ela se tornou filosofia exatamente com
Warhol. Porém, arte para mim é um conceito vago e raso, o qual tenta fotografar
inúmeros processos. Na época de Warhol inúmeros suportes, campos, territórios
simbólicos foram misturados de forma descarada, e com os movimentos em rede e a
internet essa mistura se torna dominante; uma das marcas do pós-moderno é a
conjuração dos campos fechados, que ainda tentam viver, melhor reviver. O
cartógrafo, o experimentador da transversalidade é um desses conjuradores.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">Zeus, no vídeo, está
sempre ao seu lado – da musa – a intimidando, mas ela não quebra a pose, e ela
não quebra a pose com sua arma, o olhar, mantém o olhar, já que tem domínio
dele. Ela nos olha, ela sabe que nós a olhamos, ela gosta disso, joga com isso,
sabe o que está fazendo a partir de sua percepção molecularizada, de sua
intuição, de seu devir mulher. Não é espontâneo, como disse, ela aprendeu a
jogar com a vida. A vida dela, como mulher, seu devir mulher, depende do seu
olhar. Olhar vago que está em outro mundo, o mundo do terceiro olho (não do
grande irmão), no qual ela é uma deusa.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">A importância dos
olhos, do olhar, é algo constante na cultura pop. Joan Jett tem olhos azuis e
um olhar penetrante, hipnótico. Dakota Fanning tem olhos verdes tão hipnóticos
quanto. Duas najas, ninjas do olhar, que dominaram o olhar dos homens ainda
ninfetas. Heroin chic se referia ao corpo magro e macerado, mas o que mais
marcava no estilo dessa moda era o olhar com ares próprios à narcose. Bowie
ganhou o mundo pelo olhar, ele tinha uma deformidade nos olhos. Morrissom
entrou em decadência quando seu olhar perdeu forças.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A música de maior sucesso dos Stooges se
chamava TV Eye, um tipo de olhar que mostra o desejo de um homem por uma
mulher. Ana Karina era seu olhar, e isso bastava. A banda punk mais importante
do Brasil se chamava Olho Seco; “o olho seco daqueles que viram as desgraças do
mundo”, como diz seu fundador Fábio.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">Sendo mais fácil
identificar pelo rosto e pela centralidade do olhar, os olhos mostram quando o
sujeito está drogado; e cada droga dá uma especificidade ao olhar. O terceiro
olho não é um olho ou uma percepção, mas a conjugação – transversalidade – de todas
as percepções humanas dominantes e todas as outras possíveis. Os olhos da musa
de Zeus são os olhos da mulher, uma minoria – chapada, assim, outra minoria –
em conexão com todas as outras minorias. Ela, a musa, é vista por mim a partir
das minorias que me habitam, e o afeto para produzir esse texto a partir do seu
olhar, o meu terceiro olhar é meu e dela e de todos nós. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">Ela é única mulher no
vídeo; Zeus faz arte, bela arte, prim-arte (como diria nosso mano Pig), e
precisa de um intercessor minoritário, ela, para potencializar seu trabalho. O
rapper Zeus é violento, tem um olhar louco, injetado, meio afetado, em fúria
que dialoga, copula com sua “Vênus em fúria”, a nossa musa. O olhar de Pig é
mais calmo, mas talvez seja a calma de um assassino, de um Killa.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: large;"><span style="color: red; font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;">O terceiro olho está em
toda a parte, o nosso comum, nossa loucura. O grande irmão une a todos como se
estivessem presos em um lamaçal. Sem saída, todos dizem que amam a lama para manter
o orgulho. Afro Killa, Aquiles sabe que vai morrer, mas vai se tornar herói,
Zeus é um herói ao lado de sua Afro dite, o amor de Zeus, seu devir mulher, que
quebra a pose de rapper machista, o tornando um rapper amoroso, um Killa
amoroso. E Zeus não mata já que faz arte, mas seu olhar mostra que sua arte é
feita por ódio, ódio ao grande irmão, e esse ódio é amor à vida.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">O grande irmão chama o
terceiro olho de olho, mas não é um olho a mais, é uma multiplicidade, N olhos
que não são mais olhos. Por isso, Édipo se torna vidente quando fura os olhos,
algo parecido com o que aconteceu com Tirésias; eles negam a percepção
dominante centrada na visão para entrar na percepção vidente do terceiro olho.
Blake mostra como o cientista é cego, ele olha apenas um ponto e nega todo o
resto: o cosmos, o subterrâneo que existem não para serem vistos, mas
percebidos e sentidos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">As sensações e
percepções permitidas pela metrópole sempre estarão em posição privilegiada em
relação à arte. O grande irmão e seus utensílios fazem a captura. Estamos sob o
olhar das câmeras de vigilância, dos outros e de nós mesmos. Mas na cidade as
linhas de fugas estão por toda parte em espaços não vigiados, espaços prontos
para a conspiração, e a conspiração necessita do terceiro olho; a necessidade
de conspiração se dá a partir da abertura do terceiro olho, o qual faz enxergar
o grande irmão e daí o desejo busca a resistência. Foucault nos brindou
mostrando a percepção do grande irmão, atualizada no panóptico, o olho que tudo
vê que domina a materialidade do dispositivo prisional. Sim, necessitamos de
cinema, de vídeos, de música, mas que compitam com a potência da cidade. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">A importância desse
vídeo de Zeus, como de tantos outros seus, é mostrar a juventude produzindo valor.
No vídeo, Zeus pode enlouquecer de tal forma que o grande irmão não pode
impedi-lo; ele nos ensina a prudência da experimentação. O grande irmão tem
medo da arte, não a entende, então a aceita; sim, a arte, uma das filhas do
terceiro olho. Zeus mostra o afeto entre os manos, a importância da festa e da
bagunça, a testosterona aliada à violência tipicamente jovem e, claro, nossa
musa.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">Zeus é um conspirador,
experimentador, busca quebrar com os símbolos, é um Diabolos, um divisor.
Lúcifer porta um tipo de luz que mostra o poder negativo de Deus, que é outro
tipo de luz. As trevas são iluminadas pelo fogo que queima, queima os símbolos
dominantes. A nomeação Zeus talvez seja uma quebra de símbolo, própria ao
Diabo, uma forma de sarcasmo, uma inversão. Zeus pode ser na verdade Hades e
Hades pode ser Lúcifer. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">A inversão direta é
comum nas falas cotidianas para mascarar aquilo difícil de dizer. A
impossibilidade de silêncio usa metáforas para não macular a moralidade. Mentir
no cotidiano envolve um tipo de narrativa próxima da poesia e uma pantomima que
diz respeito ao teatro. A arte já é uma mentira, um jogo, uma ficção, uma
realidade em si mesma. E a mentira é elemento próprio do demoníaco. O problema
da mentira é quando ela é usada para algum fim, enganar os outros para obter
poder; mas a mentira em si mesma é potência da vida e pode tomar forma no “dito
sistema da arte” ou no cotidiano.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Zeus, na verdade, é um dos senhores do Abismo
que usa uma máscara para não ser visto, identificado pelo grande irmão? Sonho,
morte, demônio, são os reis do subterrâneo... Seria Zeus mais um deles
conspirando? Nosso Zeus, o rapper, talvez nem saiba disso, já que as forças da
vida, da resistência, contra o poder podem ser atualizadas na vida mesmo sem a
compreensão dos sujeitos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">Como afirmo: ver o
visível, o atualizado, o óbvio isso é imposto pelo poder; já buscar o
molecular, o imperceptível, como insisto no texto, é a experimentação do
terceiro olho, de chegar nele. Esse texto ensaístico tentou criar uma narrativa
que pensa não nas atualizações, nas miradas dominantes, mas naquilo que
virtualmente está presente e que é tão real quanto o real e, mais, melhor que o
real, já que o real é fruto do poder e de seu olhar transcendente, o qual se
sobrepõe a todos e, ao mesmo tempo, está em todos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">O segredo, a
conspiração, a arte sempre foram armas contra a onisciência divina. O crente
nunca teve escolha, além de ser visto tinha que se confessar para purgar os
pecados. O moralista, após a derrocada de Deus, ou esconde ou se purga no
consultório com seu analista. O moralista peca e se assusta consigo mesmo, ele
não age é agido, pelo menos pensa assim, como forma de defesa, diz que não sabe
o que faz. O romântico é imoral, amoral, mostra suas sujeiras ao mundo não como
purgação, mas exatamente para quebrar com a moral dominante, o romântico é um
demônio específico.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">O romântico para não
morrer, para resistir à moral dominante, necessita de um território existencial
singular, algo diferente da vida de todos, a vida imposta e amada. Ele diz não
ao não, nega a interdição, as leis, da sua forma; porém todos fazem o mesmo, de
uma forma ou outra, dizem não. Às vezes, a necessidade de dizer não é tão forte
que acaba se tornando micro fascismos, como assassinatos e violência. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">O suicídio se tornou um
símbolo da juventude e aumentou nas últimas décadas. Ao mesmo tempo, os jovens
foram empoderados pelas redes de comunicação, pelas redes de resistência, pela
horizontalidade das relações dos jovens com os focos de poder. Os jovens
decidem se suicidar talvez exatamente por isso, pelo empoderamento. As leis
continuam duras impondo a “identidade jovem” a eles, o recorte, a sobrecodificação
do grande irmão. Os jovens, com mais poder, acionam o terceiro olho e entendem
que um pouco de poder é pouco; eles sabem que estarão na prisão por muito tempo
ainda. Aliás, os jovens no paradigma atual ficam jovens por mais tempo, talvez
por uma necessidade de captura do grande irmão, sua tentativa de bloquear a
potência. No outro paradigma, eles entravam na vida adulta muito antes, mas
agora os vinte anos se tornaram trinta anos. E como negação dessa captura
estendida eles fazem o que podem fazer, fazem a negação absoluta. </span><span style="font-size: 12pt;"> </span><span style="color: red; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-26644443375220484312018-06-01T13:01:00.001-07:002018-06-01T13:01:18.247-07:00...<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;">Esse texto não é um diário de notas, não são
anotações sobre o que está acontecendo, mas é uma experimentação sobre o que
está acontecendo, e, como é uma experimentação, não posso nomear a partir dos
rótulos tradicionais. Não são palavras jogadas a esmo, não há espontaneísmo,
como não há método. O fortalecimento, a consistência de um estilo, de uma ética
- estética concernem a uma preparação calcada na cartografia. Experimentar
territórios, criar linhas de fuga, perceber isso, projetar, projetar o caos.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">............................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Há uma exigência de organização nos ppgs e
muitos se orgulham, lutam por isso. Para o senso comum o método, o texto bem
construído e não dispersivo, as regras duras são um bem, o fim último a ser
atingido. Para o senso comum, o cidadão comum é desorganizado, infantil,
espontâneo, e nos ppgs os pesquisadores buscam o máximo possível de
organização; ou seja, uma lógica dicotômica: organização e desorganização.
Porém, estando no ambiente acadêmico é extremamente fácil ser organizado, já
que é um espaço controlado pelos olhos do grande irmão. A estrutura de um
artigo, de uma tese, as regras próprias aos campos, as lógicas cientificas,
mesmo estar em sala de aula, respeitar horários, tudo isso é fácil já que está
dado, é da natureza do dispositivo. Agora produzir um caos projetado é muito
difícil já que é pouco atualizado, trabalhado, experimentado na academia.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">..............................................................
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Valorizar o trabalho, e valorizar ainda mais
dizendo que é um trabalho sério, organizado e bem feito, isso é palavra de
ordem, senso comum e todos afirmam isso. Difícil é largar tudo, ser um punk de
rua, ser um okupa, ser um marginal, é tão difícil que pouquíssimos consegue ser.
Deleuze e Guattari diziam que o corpo estratificado e organizado, o organismo,
como percebemos o corpo é uma imposição do controle. Eles afrontavam essa
imposição pensando no Corpo sem Órgãos; este não pertencente a um sujeito, um corpo
criado, inventado a partir da cartografia. Contra a organização a criação de
agenciamentos, experimentações, ou seja, o caos projetado. A cartografia é o
caos projetado, afrontar o grande irmão a partir do terceiro olho. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">.................................................................. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Para mim, é impossível escrever um texto
espontâneo já que a ética - estética que me alio guia minha existência e,
portanto, minha escrita. Esta ética - estética diz respeito ao confronto com o
controle, os seus olhos, ou seja, o grande irmão; ela se atualiza na minha
existência: na forma como eu vivo, me relaciono, penso, sonho, desejo,
enlouqueço, percebo, sinto, produzo, ou seja, nas linhas próprias à subjetividade.
A experimentação é tentativa e erro, e o erro faz parte do processo, é a linha
de fuga frustrada ou friável que leva a outras linhas de fuga. O olhar do
grande irmão, um dos efeitos do controle, é afrontado de inúmeras formas, mas o
controle é afrontado de mais e mais formas. Os olhos são uma das formas de
controle: câmeras por toda a parte, olhos de todos sobre todos, os próprios
olhos que se olham, o controle mesmo nas visões do terceiro olho, como nos
sonhos e delírios visuais. Sim, identificar, capturar pelo olhar é a forma mais
fácil, mas visibilidade é uma das linhas dos dispositivos, o controle não se
reduz obviamente aos olhos do grande irmão. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">..................................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Produzi um texto para o pós doc. Tinha como
objetivo continuar o texto, porém senti uma necessidade de cair fora, pelo
menos por um tempo. Não me preocupo mais com o lattes, não estou pensando em
fechar meu livro, que já tem mais de trezentas páginas. Não ter um note book me
ajuda a não estender o trabalho. Esses tipos de preocupações, objetivos,
sentidos, trajetos delineados servem apenas para controlar. Preciso cair fora das lógicas dominantes para
ter contatos com o fora, e ele que me permite produzir. Um assassino, um Killa,
um suicida, um presidiário, se produzem no campo de saber, podem criar coisas
maravilhosas, já que são subjetividades diferenciais. Os loucos, os drogados,
os do terceiro olho, sabemos que eles fazem isso e muito bem, a história da
filosofia e da arte nos mostram isso. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">...............................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Terminei o livro, decidi não finalizar.
Entrei no pos doc decidido em finalizar o livro, daí meu note book pegou fogo.
Parei de escrever, mas continuei produzindo. Como tenho um tablet passei a criar
falas gravadas no aparelho. As falas são atualizações em áudio da minha escrita,
têm o mesmo estilo, posicionamento, porém apresentam conteúdos novos em relação
ao que já foi escrito. Eu simplesmente penso em um tema, faço uma narração
mental e depois gravo direto, sem cortes. Algumas, poucas, eu tenho que
regravar por perder o andamento ou por, após ouvir, não estar satisfeito. As
gravo, posto no youtube e depois as deleto do tablet. Gosto da efemeridade, do
caráter friável do dispositivo, da impossibilidade dessa produção ser capturada
pela lógica do lattes. Voltei a escrever após conseguir um note book de mais de
dez anos. Não queria mais escrever já que as falas são muito mais prazerosas de
trabalhar. Porém, ao voltar, entendi a importância, a especificidade da
escrita. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">............................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">No pos doc queriam me dar uma sala para eu
trabalhar. Eu disse que não queria, que eu poderia usar os corredores como
todos os alunos do ppg. Agora estou propondo ter a sala, mas como um espaço
auto gestionado, trazer a sabedoria das ruas, das manifestações e das okupas
para dentro do espaço institucional. Não digo que estou fazendo o pós doc, não
quis a sala, não digo que sou um escritor, tudo isso cria uma menorização
minha, me coloca em uma posição menor; isso concerne a um grau de diferença – a
negação de si como sujeito pertencente a uma casta socialmente importante, a
intelectual – que permite o contato com o fora. A autogestão do espaço se iniciaria
pela minha experiência e seria um objeto com um problema: como pessoas que não
têm conhecimento de autogestão se relacionariam com o espaço? Será que a
autogestão não faz parte das subjetividades? Será que as revoluções face book
centradas na horizontalidade e na produção em rede não atingiram mesmo aqueles
que não se interessaram por elas? A macro política é fácil de ser percebida já
que é mostrada pelo grande irmão. Pensam que a potência dos movimentos é a
transformação da macro política, não entendem que é riqueza em si mesma. Os
movimentos podem não mudar o poder e nem devem, mas atingem a todos de forma
sub reptícia, molecularmente; outras subjetividades são criadas, outros
devires. E como perceber isso se não está atualizado nos meios do grande irmão?
Pensar apenas no atualizado, no óbvio, no visível, no que os olhos do grande
irmão permitem ver, é fotografar o caos, reduzir o mundo. A ciência com suas
lógicas recorta o real a partir do objeto, controla a partir das regras e
métodos, organiza com a estrutura textual, busca uma verdade com o trabalho
rigoroso, neurótico em cima de um pequeno pedaço do mundo; a ciência pensa em
processos, mas a partir desse pedaço, ela busca algo que está dado, atualizado
no objeto. A ciência olha a partir dos olhos do grande irmão, e a cartografia a
partir do terceiro olho não busca a verdade, cria algo muito mais próximo da
ficção do que dá ciência. Imitadores, de métodos, regras, leis, são os seres
mais rasteiros do campo do saber, mas os poetas, os cartógrafos são os
experimentadores, os mais próximos daquilo que chamam de criação. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">.................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Não ter a produção capturada, ter uma
produção que foge é principalmente uma forma de viver, de não morrer em vida.
Um poeta que não publica, um músico punk que não se encaixa no mercado,
qualquer mercado, produtores imateriais nas ruas que não vendem sua produção,
eles têm sua ética e são dignos. O objetivo mais comum de artistas é se
encaixar na lógica mercantil, ou seja, eles são iguais a todos, querem fama e
dinheiro. A questão ética, contra dominante, é não é se tornar alguém especial,
mas sim criar existências singulares. O que é singularidade? Lógicas
diferenciais. O pária vive uma existência que pode ser singular, mas ele não é
especial, e se não quer ser então ele tem sua ética. O drogado e o vagabundo
não produzem, isso diz respeito a sua ética. A criança não produz; as mulheres,
os gays e os negros entraram como agentes produtivos a partir da inclusão e
isso é recente. Quando o controle tenta capturar uma subjetividade, impondo o
trabalho, e esta diz: não! isso é resistência. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">.................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">O pacto com o poder é sempre tendente as
necessidades do poder, pactuar com ele é aceitar suas lógicas. Por isso, as
demandas não devem existir, mas sim produzir para viver. A negação radical
frente ao poder é a afirmação radical da vida. A história mostra que o poder dá
migalhas para continuar sendo poder. O pacto que criou o Estado de bem estar, a
inclusão das minorias, o esmaecimento das dicotomias, a criação da sociedade de
parceiros, tudo isso aconteceu para termos a sensação de mais empoderamento, que
mascara um endurecimento muito mais forte do poder. As mídias são um exemplo:
as de massa ajudaram a educar o povo, trazer o não visto para o espaço público;
as mídias digitais tiraram os sujeitos da posição passiva, de recepção. Para
Levy a internet permitiria uma real democracia. Porém, as mídias intensificaram
o controle exatamente naquilo que sempre foi considerado intocável, a
subjetividade. O trabalho possível nas redes digitais, percebido como horizonte
nos anos 90, seria o fim do trabalho explorado, seria o ápice do trabalho
imaterial, intelectual e afetivo, criativo e prazeroso. Porém, o mercado sucumbiu
na virada do século e levou a falência jovens promissores. Isso produziu uma
depressão generalizada. Como disse no texto sobre Afro Killa: o empoderamento
leva a uma compressão do mundo, e isso pode levar ao sentimento de
insuportabilidade, já que o mundo é compreendido e os sujeitos sabem que ele
vai continuar igual. O Prozac surgiu logo após o boom do trabalho imaterial.
Não seria a depressão reflexo do empoderamento e da impotência frente ao controle?
E o Prozac não foi a forma que o controle encontrou para domesticar ainda mais as
massas, deixá-las felizes como consumidores e produtores, sujeitos passivos?<span style="color: #c00000;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">...................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Para os românticos a arte é o remédio, a
medicina, para que não morram. Zeus quase mata, sonha em ser um Killa, por isso
Afro Killa. A impotência pode levar a abolição, ao suicídio, ao assasinato. Se
Zeus não enlouquecesse em sua arte estaria nas ruas matando – a loucura é uma
das suas marcas, vista nos olhos injetados no vídeo. Para amenizar ainda mais
ele precisou do amor, da musa, precisou da parceria, que é o amor entre os
manos, de Pig, sempre ao seu lado impondo respeito. Zeus não luta sozinho, é Aquiles
e sua turma, seu bando, sua legião, e Zeus já é uma legião infernal. O rap foi escolhido
por ser violento, direto, por ser discurso critico. Tyson apenas arrancou com
os dentes a orelha do adversário, se não lutasse boxe poderia ser um serial
killa. Zeus é um possível homem bomba, nos seus olhos vemos que ele está
explodindo. Os torturadores na época da ditadura precisavam torturar para se
acalmar; assassinos matam para se acalmar; é o remédio deles. Os românticos têm
a arte, mas precisam de outros remédios, como as drogas, o sexo livre, os
desvios. A musa acalma também, já que o amor é uma forma de medicina. O amor Wertheriano
era o amor abolicionista ou o sentido de uma vida? Depois de amar daquela forma
nada mais era necessário. O “eu morro por você” dito pelos amantes é acreditar
no amor, e se matar é exatamente sair da crença e provar, a prova de amor. As
meninas sempre servem como mediadoras nas brigas dos meninos nas ruas, elas
acalmam os ânimos muitas vezes apenas pela sua presença. E a musa está ali para
isso. Zeus nos encara, quer briga, nós não brigamos com Zeus, já que a musa
está ali, mediando, suavizando a vibe violenta dos Killa. A questão existencial
é o mais importante do rap de Zeus, seu rap existencial. Zeus fala do que
conhece, fala a partir do empoderamento sobre a vida insuportável. Zeus ensina
o que fazer para não morrer, como todos se sentem, mostra a vida dos afetos,
ilumina, já que Zeus é Lúcifer; e essa luz não mostra outro mundo, ilusório, isso
é feito pela luz do cristianismo, é a luz que permite a visão do terceiro olho,
luz vinda do fogo, fogo que incinera os signos dominantes. Lúcifer mostra o que
não queríamos ver ou fingíamos não ver; não é o esclarecimento iluminista, mas
desvelamento, o tirar da máscara do bom cidadão. Zeus mostra a angústia da
juventude, a prisão, mostra aos adultos a vida que eles viveram e esqueceram e
que hoje é experimentada pelos seus filhos. Se fossem mostradas, tornadas visíveis
as angústias das crianças os adultos seriam destruídos; a iluminação e
destruição Luciferiana. “Se as portas da percepção fossem abertas” como dizia
Blake, o grande irmão seria destruído. Zeus dá uma grande importância ao uso de
drogas em sua música, é uma das suas armas. Quando uma criança vira adolescente
a partir das drogas, os pais obviamente ficam preocupados, isso é o óbvio,
porém, eles ficam com medo de perder o trono, o poder, já que os filhos ficam
mais fortes que eles ao usarem substâncias que a maioria dos pais tem medo de
usar. <span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">.........................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">O controle deixou todos paranóicos, mais e
mais, tanto que sentimos como se todos soubessem o que pensamos. O controle é a
onisciência divina, vê e sabe de tudo, não há como fugir do controle, não há
fora; e a punição é exatamente o controle, a vida impedida, e quando a saída é
o suicídio o senso comum impede, como a lógica cristã fazia. A vida
descontrolada é a resistência, sim, exatamente aquilo que chamavam de pecado. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">..........................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Alex, o fora da lei, sem lei, o A-Lex, nos
brinda com seu olhar chapado já na primeira cena de Laranja Mecânica. O plano é
longo, dura, e mostra Alex e sua trupe sentados, chapados com sua droga
favorita: leite com facas. De início a câmera fecha nesses olhos claros, com
cílios postiços, com uma forma de olhar hipnótica. Depois a câmera vai abrindo,
aos poucos, e mostra os membros da gangue todos chapados também com olhares em
narcose. Quando a câmera mostra os corpos inteiros, vemos que eles não se
movem, nem mesmo piscam, estão paralisados, seres hipnotizados que hipnotizam a
partir de nosso olhar da cena. Mas não é só a droga que cria o olhar, mas
também a ultra violência de Alex e sua trupe presente em seus olhares já que eles
são Killas. A cena me arrebatou quando com 14 anos a vi chapado de maconha. Meu
olhar chapado se conectou com tudo isso, e talvez eu tenha entendido que aquele
olhar, o de Alex, era também o meu. Talvez eu tenha me afetado pelo olhar da
musa já que ela é loira e de olhos claros como Alex. O mais interessante é que
Alex é destruído exatamente a partir do olhar. Ele é condicionado a se tornar
um bom cidadão, passivo, a partir de um tratamento que concerne em obrigá-lo a
ver imagens violentas narcotizado por uma droga que o faz se sentir doente. Ele
associa a violência, atualizada nas imagens, com a dor causada pela droga e a
partir daí o seu desejo por violência lhe causa repulsa, o deixa terrivelmente
nauseado. O grande irmão doma Alex pelo olhar, faz ele ver as coisas de forma
diferente, e diferente para ele era ser o bom cidadão. O Cura no filme se
revolta e diz a todos que ele não tinha mais escolha, o livre arbítrio. Essa é
a natureza do controle, não temos escolha, e quando escolhemos somos muitas
vezes presos, internados ou mortos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">...................................................................
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">A minha resistência existencial está sempre
em jogo com o controle. Não posso muito já que não quero ser preso ou
internado. O que posso fazer aprendo a partir da experimentação, da minha
preparação. Traço linhas de fuga, me perco em inter meios, me sinto afetado,
depois sou re territorializado de alguma forma e fujo de novo. Dentro e fora,
momentos de fora, e se o fora não virar depois um dentro daí a linha de fuga se
torna uma de abolição. Parece uma fórmula, uma imitação da máxima de Deleuze e
Guattari, mas não é uma fórmula, eles entendiam muito bem a vida, aprenderam
com os da tradição romântica. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">................................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">As subjetividades são formatadas a partir de
longos períodos de coerção. Hoje comunicamos nas redes o tempo todo já que a
modernidade foi a época das mídias; as mídias sempre comunicaram pelo máximo de
tempo possível de qualquer forma: falas vazias contínuas, redundâncias, como a
mulher histérica que não se cala, fala qualquer coisa. Nos acostumamos com
isso, esse tipo de comunicação contínua e vazia se tornou naturalizado. Nas
redes a conspiração é impedida pela visibilidade e ninguém quer ser visto como
um conspirador, um pária, um marginal. As redes são o espaço da fala hiper vigiada.
A web era um espaço nômade que se tornou totalmente estriado. O facebook atrai
de tal forma que não há como sair dele. O Google impõe os caminhos; youtube,
net flix são redundantes. As ferramentas de busca tradicionais levam sempre
para os mesmos caminhos; uma palavra postada qualquer leva para inúmeros sites
de venda de produtos. A deep web aparece como opção. A conspiração de Benjamim dizia respeito a
outro paradigma, época que Foucault também tratava. Nessa época as tavernas
eram o fora dos espaços vigiados; porém no controle a conspiração toma outras
características já que parece que não há fora. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">.................................................................<span style="color: red;"> </span> <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Falar de mim não é um ato vaidoso já que não
falo de mim, mas de linhas de fuga, uso um empírico que me ajuda a pensar os
processos. Falar de si diz respeito ao mais raso, empírico, ao cotidiano; crianças
escrevem seus diários, cronistas, os escritores mais baixos, falam de sua
existência. Ou seja, falar de mim é uma menorização do trabalho, e isso é
importante já que se choca com os olhos do grande irmão, esses olhos que impõem
a todos a espetacularização de si: dizer-se orgulhoso de sua vida, de sua
carreira, de suas produções. Ninguém diz que é um sujeito baixo, vil e
rasteiro, mesmo que saiba que é, e todos são, o capitalismo impõe a podridão
das relações, então todos são maus. O homem não é mau, mas o sujeito do
capitalismo é mau. Ele passa por cima de todos para manter sua pose, seu
espetáculo particular. As redes sociais, os avatares, os perfis particulares
são exemplo disso. Se não são ricos, se são feios, se são intelectualmente
débeis, se são fracassados, mesmo assim nunca dirão que são, já que têm que se
sobrepor aos outros, mesmo que seja a partir de uma ilusão. Falsear sua imagem
para bem vendê-la, essa é a lógica do capitalismo, mentir, roubar para
conseguir algo, nem que seja apenas auto estima. E todos fazem isso e mascaram,
ou fecham os olhos para não perceber. Chamam de jogada de marketing mentir para
vender um produto, e isso é uma forma de mascarar a sujeira do capitalismo.<span style="color: red;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Moro em um prédio de classe media e sou o
único do prédio que freqüenta a parte marginal da rua, estou sempre na rua. Na
rua, na minha rua, há traficantes, ladrões, mendigos, michês, prostitutas,
rappers, skatistas, maconheiros, viciados em muita coisa, e estou sempre com
eles. O que faço nesse espaço é diferente do que faço em outros. As ruas são os
espaços controlados, trajetos delimitados. Espaços têm sua especificidade, mas
conjugados compõem o dispositivo cidade. Em certos espaços são permitidas
certas experimentações, cada espaço possui suas linhas de fuga. Como a cidade é
pequena, às vezes vou até a zona mais rica, falo com amigas que trabalham numa
loja, e depois vou para um bar aqui do lado repleto da marginália. Me sinto bem
com isso, com esse choque de fauna e paisagens. E a Cidade Baixa é isso, já que
Porto Alegre é assim, essa contradição interna, desigualdades sociais no mesmo
espaço. Os hipsters, os de bom gosto, comem suas comidinhas nas mesas postas nas
calçadas ao lado do esgoto na bela rua arborizada, a República. Famílias de
classe média, com seus caros utilitários, esperam na fila, no sábado e domingo,
junto também ao esgoto e seu mau cheiro, para almoçar no Tudo pelo Social; algo
parecido acontece no Geovanaz. Essa mistura não é harmônica, não gera uma paz
entre os diferentes, não os aproxima, aliás, talvez até os distancie mais. A
classe média necessita da pobreza para se sentir orgulhosa de si. Eles mostram
os pobres para os filhos pequenos e dizem: não somos como esses animais. E os
pobres necessitam deles para admirá-los. Necessidade de domínio e de ser
dominado. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">...............................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">A contradição interna mais forte da sociedade
de controle concerne às minorias que amam o padrão dominante de vida, que
almejam ser a classe média, ter dinheiro seja como for. Os gays fizeram um
pacto silencioso com o poder para terem dinheiro, assim, uma subjetividade de resistência
se tornou incluída, o mesmo com mulheres, negros, etc. O pós-moderno é a era da
potência dos monstros, mas a monstruosidade pode ter virado norma já que não há
mais fora: feministas fascistas, anarquistas estadistas, esquerda fascista,
gays capitalistas, budistas capitalistas. O Rap, e Zeus, não estão de fora do
jogo. Zeus, possivelmente, quer ser alguém bem sucedido, como todos os músicos.
O Rap, em certos segmentos do rap, há a ostentação. Essa é uma marca dos
musicistas negros. Os blueseiros ou jazzistas negros quando ganhavam um pouco
de dinheiro investiam na vestimenta, que é a forma de se mostrar ao mundo. Mas
em um mundo em que há, como disse, feministas fascistas, esquerdistas
fascistas, gays capitalistas, budistas capitalistas... ao reconhecer a loucura
da sociedade, não há motivo para julgar os rappers. Todos os sujeitos do
capitalismo são maus. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">..................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Acabar o doutorado fez com que eu sentisse
algo de liberdade. A clausura foi dura por mais de quatro anos. Depois da
prisão, fiz a festa e ela não terminou. Hoje me penso não como intelectual, mas
como poeta, e não como poeta, mas como comediante. A minha comédia não se
atualiza apenas na escrita, mas na fala, e também nas falas e gestualidades na
rua. Os olhos do grande irmão, o controle, são meus objetos de resistência e
são atualizados nos olhares de todos e também nos meus; sei que quando sonho o
controle está ali, ou seja, em mim, por isso a experimentação, tentativa e
erro. Tenho quarenta e dois anos e todos pensam que tenho 33 já que falo mole,
me movimento de forma mole, sou esportista e me visto como quero, além de ser
um mentiroso compulsivo, o que permite que eu invente histórias absurdas sobre
minha vida. Aprendi que não tem como eu não ser notado pelo meu estilo, pelas
minhas cicatrizes, meu porte, e uso isso exatamente para criar graus de
estranheza nos ambientes que estou. Me visto de forma estranha, caminho de
forma estranha, me relaciono com as pessoas de uma forma que ninguém se
relaciona. Isso não é espontâneo, é o projeto, sei o que estou fazendo, aprendi
experimentando, percebendo os outros, o que os outros pensam, como pensam, o
que percebem, como percebem. As pessoas quando notam os outros os identificam e,
se podem, os rebaixam. A lógica capitalista é a de ser o vencedor, o melhor, e
se é vencedor não vencendo, mas estando acima dos outros. Assim, com 1 metro e
80 de altura, cheio de cicatrizes na cara, com tatuagens feias, sei que serei
notado e intensifico isso exatamente para contemplar, curtir, me divertir com a
percepção de todos. As formas de identificação são sempre as mais clássicas:
gay, pobre, vagabundo, louco. Esses são os personagens que causam risos nos
programas humorísticos: a bicha louca, o louco idiota, o pobre desletrado.
Pareço um punk ou uma bicha, eu sei disso, e essa é minha menorização, me ajuda
na dessubjetivação. Poderia usar la martina e nike shox nos sábados e domingos
nos passeios familiares, como já fiz, e assim ser incluído, pelo menos mais
incluído; eu sei me vestir como um pequeno burguês, ou como um hipster, todos
sabem, mas me desmonto propositadamente. Acho interessante como as pessoas se assustam
com qualquer tipo de diferença, com aquilo que chamam de diferença, como a
imagem é importante para elas. Sim, são os olhos do grande irmão vendo,
identificando. Comecei a usar algo simples, muito, que são mangas avulsas,
mangas separadas da peça. Comprei em lojas de artigos para bike e comecei a usar
no verão para não queimar a pele dos braços quando dirijo. Também quando está
frio eu as uso, se não quero por uma camiseta de manga comprida, aliás, é muito
mais barato ter elas do que comprar camisetas de manga comprida. Todos me
perguntam maravilhados o que elas são e dizem que sou excêntrico. Uma simples
manga lhes causa estranheza, como se fosse uma falha na matrix. As pessoas têm
a necessidade extrema de segurança, e o que foge, o inseguro as coloca próximas
ao caos, e elas têm medo do caos. Mangas, sim mangas, podem fazer revoluções,
pelo menos em uma cidade do interior do Brasil. Outra coisa que faço com
freqüência é ir em restaurantes veganos vestindo jaqueta de couro natural.
Causo um mal estar, eu sei disso, mas as vezes acontecem coisas interessantes.
Um dia um casal falou para eu ir no burger king, que ali não era meu lugar. Era
um casal classe media, de bom gosto, que estava de carro, um carro caro,
vestiam roupas da moda e usavam smart phones; eram os veganos incluídos,
ecologistas de boutique. Ouvi muitas vezes no doutorado que eu não estava no
meu lugar, por agir, me vestir, falar da forma que falo. Ou seja, me coloco
como objeto, um chamariz, algo a ser notado, para eu ver as reações, entender o
moralismo, os efeitos do controle. Às
vezes me sinto como se estivesse na parede sendo agredido por pedras, mas como
é teatro, praticamente não me incomoda, incomoda e dói é perceber os olhos do
grande irmão e a impossibilidade de não ser visto por ele, nem na frente do
espelho. Eu sou igual a todos, tão mau quanto todos, sacana como todos, a
diferença é que eu reconheço isso, não me mascaro dizendo que sou bom. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">...........................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">O punk causava insegurança, caos, desordem
por sua existência. Uma de suas marcas era o visual, aliás, no rock o visual,
às vezes, muitas vezes, se sobrepõe ao musical: os olhos de Bowie, os de Joan Jett,
a cara louca de Barret, a maquiagem e as roupas do glam, a beleza de Nico, a
loucura no olhar de J Calle, o visual como o mais importante para Genesis P Orridge.
Sid Vicious não sabia tocar, mas sabia criar cenas, espetáculos para serem
vistos a partir da auto agressão, das brigas. GG Allin era um péssimo músico,
mas criava espetáculos ultra violentos para serem vividos e vistos. O punk
rapidamente virou moda nos 70, foi mercantilizado, já que o capitalismo
recupera todas as produções, as torna produto. Warhol fez o inverso, tornou o
produto um objeto artístico. Já como é fruto do grande irmão, o olhar, e ele é
a primeira percepção a ser usada, então se usa ele contra ele. De dentro se
produz as linhas de fuga, que são relações com o fora. O punk brasileiro, o
punk dos países pobres, são, eram os verdadeiros punks, os punks do ABC talvez
tenham sido os punks mais puristas. O punk não se monta, ele se desmonta
principalmente no visual; ele pega uma calça velha e a rasga e coloca patches,
compra um coturno e uma jaqueta de couro usados, mete alfinetes na cara. Daí
depois disso, o punk se torna algo como um mendigo com estilo e choca a
sociedade, que tem o olhar como percepção principal e o moralismo como base do
seu pensamento. Baudelaire causava máxima estranheza com cabelos verdes, falas
loucas, e tinha prazer em fazer isso. Wilde era um dandi gay, ou seja,
duplamente ator do choque. Rimbaud aterrorizou Paris ao lado de Verlaine. Carvalho,
os situacionistas, os filhos da contra cultura todos experimentaram o choque.
Chocar é pouco, mas importante criar esse grau de diferença local, e a partir disso
ver as relações construídas e perceber o moralismo, os olhos do grande irmão, a
paixão pelo controle. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">...................................................................
<o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 18pt; line-height: 115%;">Incrivelmente nos últimos anos o uso de cigarros
aumentou também entre os jovens. As pessoas estão mais saudáveis, senhoras de
cinqüenta anos parecem meninas se não olhamos para os seus rostos que mostram a
idade. Como todos estão mais saudáveis, pelo menos nas grandes cidades, locais
com melhor qualidade de vida, as pessoas não têm mais medo de fumar. As imagens
de alerta de enfermidades das carteiras de cigarros tiveram três momentos, de
forma crescente, um mais chocante que o outro. No segundo momento já estava
óbvio que eram imagens espetacularizadas. Essa tentativa de enganar os sujeitos
pela área da saúde e pelo Estado pode ter gerado uma raiva generalizada, que se
atualizou no uso. O Estado disse “não” e todos disseram: a vida é minha, não
sou criança, não sou um idiota, faço o que quero. O Estado que tenta ser o
grande irmão, a área da saúde uma das miradas do grande irmão, que fazem o
controle da vida. Fugir disso é perceber de forma diferente, aquilo que chamam
de autonomia, e diz respeito ao terceiro olho.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-42859055196957743962017-12-24T13:13:00.000-08:002017-12-24T14:06:55.696-08:00Se você não aceitasse o assassinato teria o suicídio como solução<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Em Mil Platôs
o devir mulher é sempre considerado o mais importante. A subjetividade feminina
diferencial em relação à subjetividade dominante é importante por ser
molecularizada por excelência. Porém, as mulheres talvez tenham sido a primeira
subjetividade minoritária a ser incluída. Há resistência, diferença, na
subjetividade feminina ainda? A inclusão foi total? As mulheres e homens no
pós-moderno não formam uma massa indiferenciada? Mas a inclusão, mesmo que
signifique um tipo de normatização, ela é importante; na inclusão feminina há
algo de feminilidade que desterritorializa a subjetividade dominante, então, o
social é atingido e modificado. Há algo da subjetividade feminina como
resistência no social, em todo ele. A molecularidade feminina, assim, faz parte
da subjetividade masculina. E isso – a desterritorialização e reterritorialização
– se refere também às outras minorias, gays, negros, etc. O capitalismo busca a
homogeneidade, a indiferenciação; e a indiferenciação é a morte, e essas linhas
de fuga concernentes às minorias são a vida. As drogas psicodélicas foram tão “importantes”
para esse momento extremamente “importante” para a vida global – a “contracultura”
– que afetaram a subjetividade das massas. Produtos “culturais” após a “contracultura”
são influenciados e muito, e às vezes diretamente, pelas viagens psicodélicas;
estas desterritorializam as massas e depois
disso, somos todos loucos, viajantes, subjetividades monstruosas: <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">E eles tinham medo de que seus
filhos fossem destruídos por monstros, mas eles não sabiam que eles já eram
monstros e seus filhos eram mais monstros ainda. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A função
da terapia em clínica de reabilitação é incluir, socializar o drogado. A ideia
da lei seca impera, droga zero. A terapia tenta incluir e não importa se o cara
vai virar um fascista, um chato, um careta, alguém infeliz; importa isso: que
ele se torne mais um. Como não se importam com o molecular – os psis – não
conseguem ajudar a entender a molecularização da percepção; se tivessem
interesse pelo molecular, poderiam mostrar que dá para ficar chapado de cara,
já que a narcose faz parte da percepção de todos. Mas em nome da vida, tentam
capturar a vida, bloquear os fluxos em nome da boa cidadania; e a vida para
eles é a boa cidadania, a gorda saúde dominante. “Vamos salvá-los, curá-los! Vocês
não têm a opção de ser doentes, vocês têm a obrigação de ser saudáveis”. Contra
esse discurso, a crítica: eu me nego a ser sadio, eu me nego a aceitar a saúde
dominante.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">...................................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="line-height: 200%;">A luta
contra o controle é a luta mais ampla. O controle é o impedimento da diferença
nos corpos, nas existências, subjetividades. O controle é a prisão, a morte. O
machismo é uma expressão do controle, como é o racismo, a homofobia, o
fascismo, a política dominante, a proibição, a comunicação, o moralismo, a
desvalorização da produção, o consumismo, o antropocentrismo, a saúde gorda
dominante; as leis são formas de controle, como são as relações entre castas,
pessoas, as relações consigo mesmo. O controle é a prisão, e há pouca vida em
uma prisão, é o mais próximo que alguém pode chegar da morte, aliás, é pior que
a morte, a prisão é o inferno. A vida
capturada, a existência padronizada imposta não é a vida em fuga, a vida que
vive; a morte como forma dominante de vida coexiste com a potência da
vida. </span><span style="line-height: 200%;">A vida é só o caminho
de um corpo individuado? Ser posto no mundo, ser ensinado, disciplinado e
vigiado; ter prazeres, comer, beber, fazer sexo; economizar e gastar,
economizar e gastar; ter cada vez mais posses; respeitar os que estão acima:
pai, professor, patrão, políticos; se sobrepor aos outros, principalmente os
mais fracos, empregados, filhos, as minorias que ainda existem; lutar para não
adoecer, nem morrer; usar as redes sociais, comunicar, falar e falar e falar,
falas desligadas do significado, puro som, sempre o mesmo som, melhor, sons
diferentes, mas com apenas um significado: viva o controle!; aceitar as coisas
como elas são sem fazer muito barulho, quando se é contra as coisas como elas
são; viver na cidade, não se importar com a estrutura urbana; ser perseguido
“sempre” pelos mesmo fantasmas, a neurose, o estrese, a paranoia e ter “sempre”
a percepção de que tudo está perdido, mas berrar ao mundo: ano que vem vai melhorar!
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A
vida pulsa, biopotência, potência da vida.
Há vida e muito quando corpos singulares se misturam e criam corpos mais
singulares, corpos por vir. A vida pulsa quando a criança, diz “não” aos pais.
Há vida quando quebram as hierarquias, as regras, as leis. O comum é a vida pulsando,
e o comum não são regras nem leis e sim ação em comum entre termos
heterogêneos. A primeira acampada foi o sinal de uma vida que transbordava de
vida. Marcos e a EZLN encheram de vida o Ocidente numa época dominada pela a
morte. Kerouac só na banheira, cheio de vida escrevendo On The Road, livro atualizado
nas massas da contracultura. No fim dos 60 a vida estava explodindo, os
corações e mentes, e isso ainda está aqui em muitas coisas. Deleuze se matou em
nome da vida. Sexo tântrico, arte, situações no cotidiano, isso é vida. Manifestações
de coletivos são expressões da vida. M<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">anifestações
são formadas por coletivos, coletivos reúnem pessoas, pessoas são compostas de
muitas pessoas, pessoas são coletivos. Sou legião, SOMOS LEGIÃO – a legião é um
agente cheio de vida. </span>A sabedoria das ruas que tem um crakeiro, ou um morador
de rua.... Como atingir essa sabedoria? Capturar a riqueza deles em nome da
ciência? A sabedoria deles é vida; capturar sua sabedoria em nome da
burocracia, isso é a morte. Quando um artista se nega a aceitar as diretrizes
dos financiadores para tornar vendável seu trabalho, isso é vida. O cara que
larga tudo, a “vida” pequena burguesa, não aceita ser rico, deseja a pobreza é
alguém cheio de vida. Odiar, não aceitar as hierarquias, o consumo, não como
uma forma de purificação, mas de crítica radical: a crítica é um elogio à vida.
Eles, os realmente vivos, os amantes da vida, dizem: prefiro a morte já que me
nego a ser um zumbi que aceita qualquer coisa.
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">...................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Os
pais geram filhos não por amor, mas por ódio; precisam ter alguém abaixo deles.
A maior felicidade da mãe – ter um filho – é a paixão triste; como mulher,
filha, esposa sempre esteve abaixo, daí deseja ter um filho para dominar alguém.
Juntar os “belos” genes com os “belos” da esposa e construir alguém.... eles se
acham lindos e por isso têm filhos. Os pais não entendem a riqueza dos signos
das crianças, as consideram seres inferiores. A única relação que têm com as
crianças, menos danosa, é o ensinamento. A criança tem que deixar de ser
criança e virar adulto. É uma vergonha ser criança, alguém fraco, extremamente
fraco, não consegue nem limpar a própria merda, depende deles para tudo. E os
pais odeiam isso, a fraqueza, a impotência, odeiam suas crianças por serem
crianças. O filho não tem o que fazer, é fraco fisicamente, está legalmente nas
mãos dos pais, se ele não tem força para morar na rua ou para se matar, deve
aceitar. Então, aceita e para doer menos, para manter o orgulho, um pouco de
dignidade, diz: eu os amo. Ele diz: eu amo meus pais, por isso, os respeito,
não fujo de casa. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">............................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A
cidade é um caos, todos odeiam o trânsito, mas preferem que as coisas sejam
assim para poder ter carros caros e manter seu estatus. Amam a morte, a vida morta,
a cidade como necrópole para serem admirados andando com seus belos carros. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">............................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O
humilde não usa ternos Armani, mas Armani casual. O humilde luta contra a
pobreza, luta em favor dos fracos, despossuídos, bestializados, desde que ganhe
15 mil por mês. “Se me derem 10 mil por mês beijo até cachorro de rua”, isso
diz qualquer fascista de direita que tem um emprego mal remunerado. <o:p></o:p></span></span></div>
<div style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">.....................................................<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O controle exige o
máximo de desempenho, esforço nos estudos, no trabalho; o controle diz: isso é
a forma mais eficaz de produzir algo com qualidade. O controle diz que a
qualidade está na extensão, principalmente do tempo, e todos acreditam. Isso é
feito para gerar a aceitação da massa, a aceitação do controle por toda a vida e
sempre. Mais trabalho por toda a vida é o controle por toda a vida, trabalho é
uma forma de controle; e, portanto, o controle é confundido com valor, com
produção. As exigências, os horários, a rotina produzem uma massa cansada,
quase morta, uma massa de zumbis. Zumbis – que para fantasiar um sentido na
vida – que dizem com orgulho: trabalho tantas horas por dia, sou rigoroso,
sério, sou um batalhador. “Amo o meu trabalho”, os zumbis dizem, mas isso é
apenas uma máscara para esconder a verdade: amam o controle. <o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">..............................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Ele tem
sete anos, é um menino e vive com os pais; ele sonha com aranhas, não uma
aranha, mas um ninho de aranhas. Essas aranhas são mulheres, uma mistura de
mulher com aranha. No sonho ele se sente radicalmente bem, quer ficar com as
aranhas, deseja as aranhas. Futuramente vão dizer que ele estava sonhando com a
mãe, que ele a viu nua e sonhou com ela, ou seja, a edipinização do seu sonho,
do seu delírio. Mas não era uma aranha, eram aranhas, uma multiplicidade. O
sonho era o desejo do menino de não mais estar preso a dona aranha, mamãe, e
sim de estar com as mulheres, viver, sair da prisão; como criança a liberdade
só era possível dessa forma. <span style="background: aqua; mso-highlight: aqua;"><o:p></o:p></span></span></span></div>
<div style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">.......................................................<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">As disciplinas no campo
do saber impedem as linhas de fuga, aprisionam as multiplicidades a partir da
setorização. Uma disciplina é um território fechado, ordenado, organizado, com
suas regras e leis. A disciplina reduz a vida. O campo da arte é uma disciplina
que se refere a esse conceito vago, que não diz nada: arte. Expressões,
relações, ações, acontecimentos, objetos, produtos, grupos, coletivos, sujeitos,
inúmeras coisas heterogêneas e singulares são unidas nessa denominação: arte. <o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">.......................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Muitas formas de arte
se centram em apresentar formas de vida não normatizadas e ajudam a mudar as
subjetividades; isso fez <span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">Mapplethorpe e seu elogio a homossexualidade. </span>Ele
mostrava que um pênis é só um pênis, um braço no cú é uma brincadeira, é só o
corpo, e todos têm corpo. Assim, sua obra estava vinculada com as lutas dos
gays nos EUA na época da contracultura. Era arte, mas não só, era uma das
linhas das lutas dos gays, que eram radicais. Genesis P Orridge, o artista
Queer mais importante, é um ativista, ele se centra em mostrar a opressão do
corpo normatizado. Se punks, nas manifestações de <span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">20</span>13,
colocaram um crucifixo no cú em plena rua, fizeram isso a partir das experimentações
de <span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">Mapplethorpe</span> e dos situacionistas. Provavelmente, não sabiam da
fonte de inspiração para o ato, e isso mostra a importância desses artistas e
teóricos, como eles modificaram, potencializaram as subjetividades. Mulheres
nuas, lutando nas ruas, a Femen e as Pussy Riot devem e muito as garotas punks
dos setenta. Blake escreveu uma máxima que influenciou coletivos, subculturas,
músicos, artistas, pessoas comuns a viverem de forma desregrada, colocando o
corpo e a sanidade em risco. A arte interessante é aquela que não é só arte,
mas também política, crítica social, crítica existencial, filosofia; a arte
como linha da revolução molecular conceituada por Guattari. A arte revoluciona
o social, muda as subjetividades. Apenas os de bom gosto, a classe média, tratam
a arte como um bem puramente estético, sem vinculação com a política, a vida, melhor,
como algo cosmético. Também, para esses, e curiosamente para os intelectuais, a
vida é como a vida de todos. Eles têm a vida do trabalho, da dita militância, e
a vida cotidiana totalmente des estetizada. No máximo, têm relações de gêneros,
com filhos, com as hierarquias um pouco diferentes dos que chamam de fascistas,
mas sem diferenças de natureza. <o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">...............................<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Militância diz respeito
à macro política, é molar, quase sempre se refere a alguém especial, um
político, etc, que luta por uma causa. Militância e vida do militante estão
sempre em desacordo, ele afirma o dualismo: produção e reprodução. A militância
busca sempre um fim; o militante pensa grande, no bom futuro, sendo, portanto, alguém
importante. O ativismo é molecular; o ativista vive as dinâmicas de coletivos
sem buscar um fim. O ativista não tem grandes preocupações com o futuro, mas
sim com o que está acontecendo; ele reconhece a importância – não de si – do
seu coletivo e principalmente do movimento que o coletivo faz parte. O militante
diz: “eu luto por alguma coisa”. O ativista diz: SOMOS LEGIÃO. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">.....................................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O
suicídio como questão política, quando se pensa no social, é completamente
diferente do suicídio como questão pessoal. Claro que muito está sempre
envolvido, mas é colado no suicida uma razão profunda, presente em sua história
familiar; o suicida, para esses, é alguém radicalmente individualista, já que
todos são radicalmente individualistas. A questão fica política quando o
suicida diz: não quero fazer parte, vou me matar já que não quero continuar
matando, eu como ser humano civilizado. E ele faz isso já que não tem com cair
fora, ele não vai conseguir se animalizar numa floresta, ele é um sujeito
urbano. <span style="background: yellow; mso-highlight: yellow;"><o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">....................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Método? Método do bom transar? Isso dão as revistinhas
baratas para as minas neuróticas lerem e testar, o método, com seus noivinhos,
chatos, aguados e machos. Sexo é acontecimento, deve – sim deve! – ser singular
“sempre”; e “sempre” é “mesmo” que esteja presente visualmente o “mesmo” casal.
E não são “sempre” as mesmas pessoas: é ela em outro dia, ele em outro dia;
melhor, ele como legião, ela como legião, legiões “sempre” em metamorfoses; e
não são outros dias, são outras conjunções moleculares e astrais. É um erro
tentar repetir uma transa maravilhosa, a partir do método, ela não se repete,
mas a próxima transa pode vir a ser uma transa maravilhosa, tanto quanto
aquela: <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 59.55pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 200%;">sabe
aquela: a necessidade de dizer eu te amo, quando beijava, e eu nem acreditava
em amor, mas naquele momento, na conjunção das moléculas, era a única coisa a ser dita, me sentia bem em dizer, e eu acredito no meu sentimento quando
brincamos em nossa sagrada satânica yoga psicodélica... e na outra semana algo
tão maravilhoso aconteceu, eu não sabia que poderia acontecer de novo, para mim, a transa anterior era o sentido, a obra de uma vida; mas rolou de novo
aquele afeto tão diferente e tão bom, melhor, e daí eu entendi o que era amor e para ser amor eu não podia te ver de dia, de tarde, no parque, na rotina... nenhuma rotina, ou foda rotineira
faria com que eu.... bem, a gente é muito mais do que isso. Você viu, eu estava
</span><span style="line-height: 200%;">completamente
louco, mas sabia – sei – exatamente o que estava fazendo, o que faço... a
loucura estava ali, mas rolava o reconhecimento da loucura, entende? Duas
coisas completamente diferentes sendo experimentadas por mim... e era eu? Eu
estava louco, era nitidamente um duplo, uma fratura em associação; é difícil
perceber, impossível de ver a legião, mas o duplo estava descarado; e isso,
essa loucura só foi permitida por você. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">E as pessoas tentam se fechar no que chamam de dois, quatro
ou nos obrigatórios três, e não percebem todo o resto. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 70.9pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">E
sim, você chama de mentira com essa boca, esses lábios que não necessitam de
nada mais, apenas deles, e eu passo o fim de semana com os seus lábios; eu
passo o fim de semana com os seus pés, com a cor da sua pele; e ela, a pele, não
precisa de nenhuma maquiagem, nada falta na sua pele e sobra meu desejo
dela, da sua pele, isso transborda nos meus poros todos os dias só de imaginar... meu amor e morte... e se você acha que isso
é loucura, sim, é loucura, o amor é uma loucura. O meu por você. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">......................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O louco, o idiota, o jovem, eles dizem: mundo de merda, quero
só um barato. Daí o jovem cresce na força, vira um profissional de alguma
coisa, alguém maduro e chega a conclusão: que merda, só quero um barato.
Caminho idiota para chegar a lugar nenhum. A sabedoria do jovem, do louco, do
idiota não é reconhecida, mas quando ele se torna adulto, alguém autônomo, daí
ouvem ele. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">............................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Os
criativos e suas metáforas rasas, associações fracas; fazem pequenas variações óbvias
para criar uma aura de mistério e expor sua criatividade; tipo: “Ela é uma
vadia” no lugar de “Você é um puto”. Uma inversão direta, óbvia para uma
criança. Se é tudo tão óbvio, já que não podem, não conseguem ser criativos,
por que não dizem na cara? Não vão conseguir ser criativos de qualquer forma,
pelo menos podem ser corajosos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">..................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Comem o cú da mulher para ela virar duplamente alguém
inferior: além de mulher, ela se torna o viadinho dos sonhos do macho. Ela já
foi castrada e rasgada, castrada ao nascer e depois quando cresceu, daí vem o
marido e rasga também o cú. Uma mulher é só um buraco? Não, uma mulher é muito mais
do que isso: três buracos a serem destruídos. São obrigadas a chupar, dar o cú,
e fingem que gostam de receber um pau na vagina. Fingem para dar prazer aos
machos, aos escrotos, já que elas têm que se submeter. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">....................................................................<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Os chatos moralistas
odeiam o suicídio, querem salvar todos os que querem se matar; para os cristãos
é pecado mortal, quem se mata vai para o inferno, mas mesmo os que se dizem
ateus compartilham de um sentimento parecido, tão moralista quanto, apenas
exclui o supra real. Se matar pode ser uma forma de não querer mais morrer, de
não querer viver como um zumbi; zumbi em caixões de lata (automóveis, ônibus,
metrôs), em caixões de concreto (casas, apartamentos, prédios comerciais...) entre
outros zumbis. A área da saúde (controle) impõe um discurso moralista, naturalizado
no social sobre a vida; alguém sofre um acidente, está inconsciente e sem
perguntarem para ele o levam para um hospital, fazem uma cirurgia e ele fica um
tempo internado. Mas e se o cara não quisesse de forma alguma fazer uma
cirurgia, ser internado? Fazem isso em nome da vida? Mas isso é uma imposição,
e imposição é prisão, e prisão não é vida. Um saco esses moralistas, eles
dizem: “nós os gays não somos doentes” ou “eles os gays não são doentes”. Qual
o problema em ser doente? Há uma beleza nos glutões (dão sua vida para poder
comer o que querem), nos alcoólatras e drogados (dão a vida para abusar de
drogas), nos anoréxicos (desejam o corpo fraco e deteriorado), nos viciados em
adrenalina (praticam esportes extremos que podem levar a morte, pelo prazer). E
isso, essas relações de presença da morte, a necessidade de pôr o corpo em risco,
o saber da possibilidade de morte a partir de certos atos, isso é vida, já que
viver é construir um plano existencial diferente da existência imposta e
afirmada pelos zumbis.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> ...............................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="line-height: 200%;">Em </span><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 200%;">20</span><span style="line-height: 200%;">11, ele já estava pronto para se matar, um senhor de
idade, morador antigo de um bairro tradicional de Barcelona. Ele ia ser
despejado do apartamento, devia muito dinheiro para o banco; a dívida era
decorrente da crise econômica, e estava esperando o dia certo para pular da
janela, de forma alguma iria viver na rua. Algumas pessoas, na mesma situação,
do bairro haviam feito o mesmo – pularam da janela – pelo mesmo motivo; e esse
ato – o suicídio – acompanhou os anos duros da crise em todo o país.
Incrivelmente, o senhor de idade recebeu uma grande quantia de dinheiro antes de ser despejado, e
então, poderia pagar a dívida e não precisava se matar. Porém, ele passou meses
experimentando os sentimentos de um pré suicida, pensou muito na vida e na
morte e a ideia da morte se tornou interessante. Como disse, com o dinheiro não
precisava mais se matar, mas ele se apaixonou pela ideia de suicídio e se matou.
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">......................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A insegurança
pós-moderna, o medo do futuro, todos sabem que a crise sempre estará presente.
Não se fazem mais futuros como antigamente, como dizia Melamed. Vivemos com
medo e quem tem medo deseja o Estado, ama o capitalista, ama qualquer um que
lhe der um mínimo de segurança. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">.............<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="line-height: 200%;">O
presidiário não tem mais nada a perder, pode morrer quando for e que se foda, ele
não tem medo. A importância da prisão é permitir essa outra relação com a vida.
Como dizia Bukowski: </span><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 200%;">conheci mais homens na
prisão com estilo do que fora dela. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">.....................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Incrivelmente,
os pobres são fascistas, amam os ricos como os ricos se amam. Não desejam outra
vida – sem pobreza – querem a mesma vida na qual há poucos ricos e muitos
pobres, no máximo buscam ter um pouco mais de dinheiro do que eles próprios –
os pobres – têm, mas, mesmo se não tiverem, não aceitam uma vida com igualdade
econômica. Enriquecer é o objetivo de vida, objetivo de uma nação, de empresas,
de pessoas. Ter um pouco a mais é o sentido da vida para a maioria. As pessoas
ficam felizes quando conseguem comprar um carro melhor, elas têm esse afeto,
paixão pelos objetos de consumo, sentem esse tesão ao fazer compras no
shopping, no supermercado, famílias passam tardes em shopping centers, mesmo sem
comprar, olhando vitrines. Os ecologistas vão em via contrária, exigem o decrescimento,
já que é a única forma de salvar a vida (VIDA) do planeta. Senhoras de classe
média se sentem ofendidas já que limpeza doméstica se tornou um artigo de luxo;
com o enriquecimento da nação, trabalhos mais “degradantes” se tornaram mais bem
remunerados. Essas senhoras desejam o empobrecimento da nação para que pessoas
sejam obrigadas a trabalhar nessas funções “degradantes”, assim, elas, as senhoras,
não têm que limpar a própria casa. A classe média se regozija quando tem um
pouco a mais do que afirma ser status. Se a ditadura cubana tem algo de
importante é a igualdade econômica, todos têm pouco, mas o suficiente; e o que
é o suficiente? Como disse: o playboy sonha com carros caros desde criança e
passa por cima de todos para ter. Ter dinheiro, sucesso, fama, seguidores...
odiar os fracos e a fraqueza em si. Para todos, os sujeitos do capitalismo, alguém
morrer, uma comunidade morrer não significa nada desde que gere lucro para si
ou para o seu país. Amar carros, apples, nikes, mais do que a terra, animais e
outros humanos. Um viciado mata a si apenas e com consciência, um consumista
mata muitos, muitas formas de vida (VIDA) e finge não ter consciência. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">...........................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Um dia a
gente entrou no Mac Donalds, a gente tava fazendo um tipo de performance. A
gente entrou, comprou lanches e coca cola; a gente sentou, todos vestidos normalmente,
e a gente, 10 pessoas, começou a falar em voz alta, que a gente não ia comer
lixo, de jeito nenhum, que a gente se negava a comer o Mc Lixo Feliz e beber
coca cola, a gente falou dos assassinatos, das mentiras das grandes
corporações, dos monopólios. Daí uma mãe começou a berrar: “eu não quero saber
disso, não quero saber disso, eu não quero saber”, e todos os outros clientes
começaram a dizer pra gente cair fora. É, não querem saber se os seus filhos
comem lixo, não querem ter a consciência de que sua família sustenta a morte e
morre ao mesmo tempo; eles querem apenas viver da forma que lhes é imposta, ou
seja, morrer. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Eu tinha doze
anos. Cheguei em aula de manhã e tava todo mundo nos corredores, agitados. Eu
chego e pergunto: qual é? Dizem: o cara tal levou um tiro na cabeça. O cara tal
era da mesma série que eu, mas mais velho. Era um cara bonito, rockeiro, estiloso,
tinha sua turma e as meninas gostavam dele. Eu sempre o via pela cidade – do
interior – e o admirava. Um dia eu tava no fliper e tava lá ele com uma bermuda
rasgada, camiseta de banda e sandálias de gladiador feitas com um tecido
orgânico, sandálias de hippie. Fiquei anos desejando ter aquele estilo. A
história da morte: de manhã, antes da aula, ele e seus amigos brincaram de
roleta russa, era um costume deles. Tem gente que come sucrilhos de manhã,
outro fumam um beque, ele fazia roleta russa.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">...................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O
escritório do intelectual, asséptico, com uma poltrona, mesa, quadros com
imagens dos bons políticos; um espaço com um silêncio mortal no qual jaz uma
coleção de milhares de livros, intocados. A criança encara o espaço, o
escritório, assustada, como se estivesse em um templo sagrado, um local de pessoas
sagradas. O apartamento do hippie, com cheiro de incenso, sem luz elétrica, só
velas, uma carteira azul – de um amigo e dentro dela folhinhas de papel,
pequenas, um papel delicado, com belo formato –, uma calça rasgada e suja no
chão; no apartamento do hippie qualquer um entra e sai, o som é alto sempre, e
ali tem uns livros, mas o mais importante, tem aquilo que chamavam de bolachas
(os vinis), todas elas, a coleção mais completa. A criança entra ali – no
apartamento do hippie – e se sente bem, sabe que está em seu lugar, mesmo que
seja pouco seguro, já que vírus estranhos dançam junto da música e do incenso,
mas mesmo com todos os perigos, a criança passa a viver no apartamento do hippie
e se nega a voltar ao escritório do intelectual. </span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></span><br />
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="line-height: 200%;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-43133063130291290802017-10-29T17:51:00.000-07:002017-11-02T07:57:57.146-07:00viver é consumir e consumir é enriquecer ainda mais os ricos<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: medium;">O conceito de Multidão de Negri se refere
ao desejo de um mundo-espaço liso, ou seja, sem barreiras geográficas. A
multidão: as cores do mundo – negro com branco com amarelo; n cores, misturas
de cores, a hibridização é a cor da multidão. A multidão: os sexos, os gêneros,
todos eles e sempre em relação, o que importa é a relação. A multidão: os
pobres, os que desejam a pobreza. Não há segmentos duros na multidão, classes,
castas; não há hierarquias, comando central, a multidão é o rizoma. Os
anarquistas são internacionalistas e lutam contra todo tipo de opressão; os
anarquistas fazem parte da multidão, talvez sejam sua linha mais ativa na luta
contra o controle. O corpo anarquista é um corpo em luta constante.<br />......................................<br />O povo – a ideia de povo, a afirmação do
povo – é um tipo de individualismo. Desejam o bem-estar de seu país, só se
interessam por seu país e por seu povo. Só pensam como o seu Estado-nação deve
ser reformado. Dizem que pensam no mundo, mas, em primeiro lugar, está sempre o
seu país. “Eu, minha família, meus amigos, meu país...”, as preocupações se
centram nisso. Os sindicatos fazem parte da mesma lógica: lutas setorizadas,
com suas demandas, cada um cuidando do que é seu. O feminismo é, muitas vezes,
localizado, não se relaciona com as outras lutas; certos movimentos étnicos fazem o mesmo. Isso é a lógica do “eu e os meus”. A necessidade de posse. “Meu
carro, minha casa, meu corpo, minha mulher, minhas ideias”; e quando é dito: “nosso”,
esse “nós” já exclui muita coisa e é um sinal de individualismo, um individualismo "inclusivo". “Minha cidade,
ou nossa cidade, nosso país, nossa identidade”.... é estranho alguém dizer
isso. Sua cidade, seu país? Mas qual poder tem em relação à estrutura urbana,
em relação às leis, à administração, à política, a economia? E não há nação
soberana, elas dependem das diretrizes do Império. A cidade, as grandes
cidades são moldadas existindo poucas diferenças de natureza entre elas, são indiferenciadas, não é a "sua, nossa" cidade, é "qualquer" cidade. Que
poder tem sobre a identidade do povo, identidade que compartilha com os outros e diz que é sua, “nossa”? A identidade é aceita naturalmente e desejada.<br />.................................<br />“Meu corpo? ”. O corpo, o simbólico
em relação ao corpo, isso é imposto desde cima; a máquina abstrata produz, comanda
a ideia de corpo e, portanto, também, o dito dono do corpo. Isso é aceito
naturalmente e desejado. O corpo humano é o mesmo desde sempre? A tecnologia, o
ambiente, as ciências, as formas de trabalho, de sujeição, muitas coisas produzem
diferenças no corpo humano. Os corpos dos antigos, dos medievais, dos modernos,
dos pós-modernos são iguais? O corpo de um trabalhador braçal é o mesmo de
um trabalhador intelectual? O corpo pós-moderno é
talhado pelo bem viver da publicidade e da área da saúde, ele é moldado por
novos esportes, novas drogas, novos medicamentos, pelas mudanças no tecido
urbano, o corpo pós-moderno é esculpido por novas doenças, vírus, tipos de
alimentação; mas a beleza do corpo pós-moderno é a hibridização que anuncia o
fim das barreiras geográficas, é o corpo com n sexos, sem identidade, o corpo-monstro
criado a partir das micro revoluções Queers. O corpo que ouve em um i pod é um
corpo diferente do que ouve em um walk man. O cavalo de corrida e o cavalo de
arado, o jogador de futebol e o skatista, a vagina que faz pompoarismo e a
vagina passiva – cada corpo tem suas especificidades. As diferenças físicas dizem respeito à relação com a vida; e os corpos estão
sempre em relação, não se limitam a um organismo, organizado, estratificado,
hierarquizado. Dizem que são diferenças corporais pequenas, infinitesimais;
talvez sim, mas esse discurso revela que não dão importância exatamente ao mais
importante: o capilar, o molecular.<br />...............................................<br />A luta setorizada. “Vamos todos juntos
lutar, mas cada um por seus direitos; se todos lutam por seus direitos, nos
encaminhamos para um bom mundo. ” Cada profissão luta por si, cada classe por
si, cada sexo, gênero, cada raça .... Mas por qual motivo todos não lutam
realmente juntos pelo fim de todo tipo de opressão? Isso fizeram as lutas da
virada do século, isso fazem os anarquistas. Uma okupa em Porto Alegre está
muito mais próxima de uma okupa em Barcelona do que do sindicato dos municipários
de Porto Alegre. Um coletivo musical auto gestionado, que atua no centro de
Porto Alegre, está muito mais próximo de um coletivo do mesmo tipo de Barcelona
do que do showmício que acontece no mesmo local que atua. A questão geográfica,
a necessidade do solo, do que dá para tocar, do visível, do que parece próximo
– “meu corpo, não uma linha de um corpo sem órgãos. O que é meu está próximo,
posso ver e tocar, tenho poder sobre. Meu corpo, minhas regras, gosto de regrar
o corpo. ” O macho diz: “homem nenhum toca a mão em mim”; a feminista também. O corpo sem órgãos não tem regras, só relações, a hibridização. O corpo
como posse pessoal é o corpo exclusivista,
moralista, apartado, raro, para poucos. A burguesia cultua exatamente isso:
ficar apartada, estar entre poucos, pessoas raras, ditas especiais, únicas.
Unicidade, raridade são características da arte burguesa. Na casa noturna a menina
pequena burguesa diz isso: meu corpo é para poucos, é raro, exclusivo, artigo
de luxo, caro. É uma ilusão achar que manda no seu corpo; o controle manda no
corpo, impõe a ideia de corpo. Tem medo de um pênis dentro do seu corpo, mas
não tem medo de ingerir o lixo das indústrias farmacêuticas e alimentícias; não
está nem aí com a poluição das cidades que mata aos poucos o corpo; não acha as
modas algo a ser criticado, e as modas padronizam os corpos. “Meu
corpo, minhas regras”? O CSO não tem regras, apenas programas, experimentações,
relações entre termos diferente, núpcias demoníacas.<br />.......................................<br />Viver é consumir e consumir é enriquecer ainda
mais os ricos; ele sabe disso, mas não pensa sobre, não quer ficar estressado,
só quer viver sua vidinha na boa. Ele acorda as sete horas da manhã num dia da
semana. Dormiu com medicações (das marcas tais) vestido de cueca e camiseta (marcas
tais) em uma cama (marca tal) no quarto do apartamento alugado – apartamento de
propriedade de um engenheiro que é dono de todo o prédio. Sai da cama (comprada
em um shopping), vai até a cozinha, abre a geladeira (marca tal) e pega uma
garrafinha de iogurte (tal). Depois de beber o iogurte, fuma um cigarro (marca
tal) na frente do PC (marca tal); ao seu lado uma janela mostra um parque da cidade
– uma cidade metropolitana que está se encaminhando para se tornar modelo. As
contas estão pagas: luz, internet, telefonia móvel. Está tentando faz tempo
trocar de plano de internet e não consegue. Escova os dentes com a pasta de
dente tal e a escova tal; toma banho se ensaboando com o sabonete tal, usa o shampoo
tal e se seca com a toalha tal. Veste tênis tal, calça tal, camiseta tal e sai
de casa. Pega o seu carro popular tal, que está com metade do tanque cheio de
gasolina comprada num posto tal. Nas ruas muitos carros: 8 horas e 15 min. Os
carros são todos novos e muitos são caros. Há um fluxo nas ciclovias – hipsters
que se dizem alternativos. As pessoas que estão nas ruas vestem roupas tais, compradas
em lojas tais, e todos têm smart phones. Prédios enormes estão por todos os
lados, muitos são novos, frutos do empreendedorismo de grandes construtoras,
que conseguiram financiamento de grandes bancos. Ele demora 45 minutos até
chegar no trabalho, mas se fosse em outro horário, demoraria metade do tempo. Chega
no prédio da empresa, micro, na qual trabalha. A sala é situada em um prédio de
médio porte, propriedade de um único sujeito. Ele entra em seu nicho, pega seu
notebook marca tal e começa a trabalhar. Os outros cinco colegas que estão na
sala vivem uma vida praticamente igual a dele; há uma diferença pequena entre
salários. O trabalho diário dura mais ou menos 8 horas. A empresa funciona como
outras empresas: hierarquias, horários, tarefas, relações entre os funcionários...
porém, as hierarquias não são duras, já que o dono tenta ser o mais amigável
com seus funcionários; ele sabe que isso ajuda otimizar o trabalho. Ela, a
micro empresa, foi montada a partir de uma herança recebida pelo dono. Ele, o
familiar que deixou a herança, teve como objetivo de vida acumular o suficiente
para ajudar os seus. O dono da empresa era funcionário público, já fazia mais
de uma década, mas com o dinheiro resolveu realizar seu sonho, ser o seu
próprio chefe. Quis recomeçar a vida com 40 e poucos anos. A empresa não dá muitos
lucros, mas como ele tem ainda um bom dinheiro guardado, não se preocupa com
isso. Na hora do almoço, os funcionários vão até um mercado próximo, que faz
parte de um monopólio da região, e compram sanduiches e coca cola; eles almoçam
isso em uma praça. Depois de comer, eles fumam um baseado e conversam sobre as
viagens que querem fazer; sonham com Londres, curtir os pubs, tomar boas
drogas. As ambições deles são: acumular grana, ter ou trocar de carro, viajar,
ter dinheiro para ir em bons restaurantes e casas noturna da moda, comprar
roupas de tais e tais grifes, trocar de smartphone, de note book. Todos se
dizem chateados já que não dá para comprar produtos em pequenos mercados, a
rede que monopoliza a cidade tem preços mais baixos. Mas comentam felizes que na
rede há promoções de tais e tais produtos. Eles se sentem bem de certa forma
com a vida; são jovens, o trabalho é criativo, todos são meio que parceiros.
Eles voltam para o trabalho, e quando termina todos vão para um bar tomar
cerveja. Como é dia de semana, escolhem um bar com cervejas baratas. O bar fica
em um bairro boêmio e dá certo lucro para o proprietário. Ele vende bebidas de
tais e tais marcas, mas está pensando em montar um acervo de cervejas artesanais.
Os poucos pratos do bar são feitos na casa com produtos comprados nessa rede
que monopoliza a região. O dono pensa se deve ou não pedir um empréstimo para
um banco e assim reformular o espaço. Todos, o pessoal da microempresa, sabem
que devem economizar – é a regra. Quem quer pôr dinheiro fora? Eles não são
loucos. Não se interessam muito por política, votam já que são obrigados. Não
veem como algo negativo fumar maconha, mas depois de velhos passaram a gostar
de policiais.<br />............................................................<br />Quem comanda uma subjetividade? “Eu penso”?
“Minhas ideias”? As pautas e agendas das conversas, das discussões são impostas
pela mídia, e isso é o mais visível, já que a máquina abstrata, o controle,
comanda tudo. Todos aceitam a linguagem, o posicionamento das mídias, isso é
naturalizado.<br />..........................................<br />Os pós-modernos são pós humanos, são monstros,
são estranhos para os outros e para si. As mudanças constantes impostas pela
máquina os coloca em uma posição de estranhamento, não sabem quem são e muito
menos o que serão. Ninguém se reconhece, tudo é estranho, até as modas são entranhas.
Um reflexo disso é a tentativa de reviver identidades, a busca de identidades
duras, fascistas.<br />..................................................................<br />O espião, o estelionatário, o policial
corrupto, os que praticam golpes, são geniais. Sabem mentir, inventar, criar
ficções. Criar uma verdade é criar, ou seja, é ficção, algo diferente de
encontrar uma verdade; se não é verdade então é uma mentira: viva os cientistas
mentirosos! Alguns pesquisadores em campo na cidade não sabem direito quem são,
não reconhecem a si mesmos... quem são? São cidadãos sofrendo com a opressão da
cidade ou pesquisadores da opressão da cidade. Quando atua em um movimento
social, o que é? Um ativista ou um pesquisador. Um amigo meu está aplicando um
golpe. Ele está sem grana, saiu da prisão, tá na ruim. Ele pede nos semáforos
dinheiro para comprar leite especial para a filha – mas é um golpe. Ele é alto,
bonito, ele sabe sorrir, olhar da forma certa para quem está nos carros; quando
ele mostra o cartaz pedindo leite, ele faz uma cara de esperançoso, de um pai
de família em crise financeira, que é obrigado a se sujeitar – ele faz tudo
isso muito bem. Mas ele não tem filha, é um golpe, e ele é bom nisso. Outro
amigo meu é um pesquisador. Ele montou uma barraca de cervejas artesanais. Ele
vende as cervejas, usa uma caminhonete velha, se apresenta a todos como um comerciante
pequeno, de poucos recursos. Mas os recursos para montar a barraca, tirar a
licença, para ficar no ponto foram pagos pelo financiamento do grupo de
pesquisa dele. Ele está dando um golpe, é um cientista fazendo seu experimento.
Em Barcelona me intimaram uma vez já que eu estava sempre em uma okupa e
ninguém sabia quem eu era. Um dia me encararam e eu encarei eles, e tive que
dizer que era um cientista. Nas festas eu minto, digo que sou artista, nenhuma
gatinha de vinte e poucos anos vai estar interessada em um doutor. Os
adolescentes mentem. Em pesquisas, os entrevistados mentem. Mentir envolve uma
criação, é mais difícil do que dizer a verdade. É feio mentir para conseguir
algo, mas mentir para ser criativo, isso é poesia. E não é tão feio assim,
mentir pode ser uma questão de vida ou morte. O adolescente mente para os pais,
para os policiais, para o professor. O capitalista, o político, eles mentem,
mas daí a coisa é diferente; mentem para conseguir poder, mentem e muitas vezes
acabam matando muitos. Pequenos golpes são louváveis, mas não os grandes golpes
daqueles que querem mais e mais: carne podre, trabalho escravo, guerras...<br />................................<br />Eu posso dizer: eu não lhe traí, eu comi ela sim, mas você estava junto, e você gostou, mas nem sabe, não se tocou que
estava junto. Mas quando a sua vagina mente, quando seus olhos mentem, quando
mente que está bem a meu lado, tudo isso dói. Você nunca vai me trair, estamos
juntos mesmo separados, e juntos com o mundo quando juntos. O exclusivismo: “a
vagina que é minha, a boca que só me chupa, o pau que é só dela”... Desejos
individuais, machismo por toda a parte – e as feministas repetem isso. Tentativa
e erro, experimentação. Não há modelos, “somos” todos monstros e “a gente”
tenta e erra, tenta e erra. Erra comigo, não me acerta! O feminismo por vir
está aqui em algumas coisas, o machismo ainda está aqui em muita coisa, entre
homens e mulheres, machos e feministas. Não há agenciamento puro, sempre há o
erro, mas há aqueles agenciamentos em que os processos mostram um mundo atual
especial. Eu chorei quando você me mostrou seus dons, que eram técnicas milenares, eu fui comido por você, deusa mágica, e pelos meus amigos do oriente, fui
comido pelas belas meninas-meninos das okupas, fui comido, mas no meu pau, e
meu pau era apenas uma linha cósmica, ou seja, não um pau, mas um canal. Estavam
por perto ratos, chatos, caretas, mas “nós” todos somos chatos e caretas, “a
gente” é isso, só que em boa parte do tempo “a gente” tenta ser zen-budistas em
narcose; tentativa e erro. Amo errar com você. Eu te amo. E o que
mais amo é isso: os momentos em que eu não sou mais eu, um corpo individuado, e você não é
mais você, e “nós” não somos mais dois, somos apenas moléculas entre o céu e a
terra em dança, trepada cósmica, amor transcendente que acontece no cotidiano.<br />.............................................<br />Tem coisas, muitas, que grudam nas
subjetividades de tal forma que parecem naturais. Ainda falam em natureza,
mesmo que o projeto da modernidade tenha sido acabar com a natureza. Nada
contra a tecnologia, a técnica sempre acompanhou o homem; ela aparece e daí
muda os homens, muda o mundo. A tecnologia está a serviço do Império,
mas também é uma potência da multidão. A máquina vai destruir o homem? Não,
o homem destrói o homem. A natureza é vista como um bem, um objeto, depois que
destruíram ela. A destruição da natureza já aconteceu; mas o medo em relação da
tecnologia é o que? Remorso humano... tipo quando a gente sacaneia alguém e
depois sabe que vai ter volta. Mataram a natureza, matamos, e agora a
tecnologia vai nos matar! Vai ter volta!<br />...........................<br />Odeiam a todos, se juntam para lutar contra
os outros, quando sozinhos lutam entre si. O ódio mantém o capitalismo; passar
por cima de todos para ter mais e mais; mentir, manipular, matar para ter mais
e mais e é isso: mais e mais. Quantos morrem para alguém ter um apple, um nike,
compras no shopping? Que se foda a natureza; a modernidade venceu. Quem está
dentro do sistema mata outros, mata formas de vida. E ninguém está fora do
sistema, todos “somos” assassinos.<br />.................................................</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><br /></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-17833019110001308232017-09-16T16:01:00.000-07:002017-09-16T16:33:14.272-07:00Eu me desprezo<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><b> </b></span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">..........................................</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Eu me desprezo, não me suporto, tenho
vergonha de mim mesmo. Minha empregada doméstica recebe por hora mais do que um
professor, e eu acho que isso é sintoma da decadência social. Como alguém
baixo, de segunda classe ganha mais do que um professor? Um professor tem que
ganhar mais do que um limpador de rua, mesmo que o trabalho do limpador seja
muito mais duro. Trabalho intelectual tem que ser valorizado, mais, sim, do que
qualquer outro. Eu sou classe média, minha família pode pagar meus estudos, mas
entrei na universidade pública. Sou rico e ganho financiamento de agências do
Estado, e o Estado é sustentado pelo trabalho duro dos pobres. Eu não preciso do
dinheiro, mas quanto mais, melhor. Que se foda o cara que tá na rua, eu quero
fazer minha vida, isso que importa. Sim, eu luto pelos pobres em meu discurso,
mas só nele. Tenho pena deles, sou paternalista, quero o bem deles desde que eu
continue tendo cada vez mais dinheiro. Sou um gourmet, gosto de comidas
especiais em restaurantes hipsters. O que eu pago por uma refeição poderia
alimentar muitos que estão nos semáforos pedindo esmolas – passei por eles
agora. Eles que se fodam. Troco de carro a cada três anos já que não gosto de
carros velhos. Admiro pessoas que têm carros que custam centenas de milhares, e
eu queria ter um carro assim; e esse dinheiro – o custo de um carrão de playboy
– poderia ajudar quantas pessoas? Tenho uma casa grande, bem equipada que
abriga minha família, enquanto muitas famílias, do mesmo tamanho, vivem em
tendas na rua. Se fosse estipulado que cada pessoa poderia ter apenas 30 metros
quadrados para si, que um casal poderia ter quarenta metros e dez a mais para
cada filho, se isso acontecesse, provavelmente, todos os brasileiros teriam
moradia digna. Mas eu não quero isso, quero mais e mais, e mesmo se eu nunca
tiver, quero que as coisas continuem assim, já que amo os ricos, a riqueza; gozo ao pensar na riqueza. [......] Como carne; que se fodam os
animais, mas ainda acho absurdo zoofilia. Sim, como carne já que é o alimento
mais caro; assim mostro para todos que tenho dinheiro. Tiro fotos em
restaurantes caros, por isso. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">....................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Preciso de mulheres, de gays, de negros,
de pobres, para que eu esteja sempre acima; sim, sou um macho, branco, classe
média. Eu fui castrado, então vou castrar; quero minha posição; que continue
existindo o poder de uns sobre muitos. Sou egocêntrico; e sou tão egocêntrico
que nem noto isso, já que meu discurso diz o tempo todo: sou um cristão
humilde. Para mim, só interessa a macro política, sou um cara sério. Faço
putaria apenas na vida privada; separo o privado do público. Quem fala o que eu
não entendo está louco; quem discorda de mim é fascista. Eu silencio quem me
contradiz. Sou um consumista, mas me auto qualifico como um lutador pelos
direitos dos que não têm renda para consumir. Digo que sou libertário, mas não
sei o que significa ser libertário. Eu valorizo intelectuais, já que sou um
intelectual. Eu valorizo a instituição familiar já que tenho filhos e esposa.
Tenho orgulho de mim, da minha vida, dos meus. Tenho orgulho, mesmo sendo tudo
isso que estou expondo aqui. Tenho orgulho dos meus amigos ricos, que se deram
bem na vida. Só gosto de gente como eu. Falo como poucos para marcar minha
posição; uso palavras difíceis, que poucos entendem, para mostrar que sou
alguém com um capital. Acredito no trabalho, trabalho remunerado. Odeio
vagabundos. É, digo que sou inteligente, mas não consigo entender que a “valorização
do trabalho” é uma palavra de ordem. A sociedade opressora é sustentada por isso.
Não entendo o significado de “renda de existência”, já que valorizo apenas o
trabalho assalariado. Não entendo que o cú, o cú dos gays, que ele colore o
mundo, o deixa mais alegre, mais interessante; os gays e seus cús produzem
mundos, o mundo. Cada prega que falta no cú de um gay, cada transa de um gay,
cada <em><span style="background: white; font-style: normal; mso-bidi-font-weight: bold;">fist fucking</span></em> que um cú recebe, tudo isso deveria ser
valorizado ao ponto de ser remunerado. [.........] Para mim, é normal duzentas
mil pessoas em um festival de música pop patrocinado por um monopólio, é algo comum jogos contínuos de futebol que reúnem pelos menos 50
mil pessoas e é também comum um povo, e eu junto, em casa, nas redes sociais,
enquanto pouquíssimas pessoas estão nas ruas contra o tal Estado fascista, que
eu sou contra – melhor: 300 pessoas, Porto Alegre, um ano de golpe, Cidade
Baixa, 8 horas e 30 da noite, sem polícia e bloqueios. [.....] Gosto de
abstrações e de pesquisa teórica. Sou um intelectual. Quando a rua, a vida são
meus objetos de pesquisa, abstraio de tal forma que a rua não aparece no meu
trabalho. Odeio a rua, amo a torre de marfim. Chamo de empiria, conhecimento
raso mostrar a vida de uma forma radicalmente direta, crua. Me escondo atrás de
conceitos e não sei como eles funcionam, suas materializações na vida, nas
ruas. [.........] <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">...............................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Eu amo o mundo, minha vida, agradeço pela
vida que me foi dada. O suicida, quem quer se matar, para mim, é um fraco, um
coitado, alguém doente já que ele não é como eu, "eu, o bom cidadão, saudável,
com bom senso". Quem quer se matar tem que ser impedido, precisa de ajuda
médica, tem que ser hospitalizado. Quando alguém corta os pulsos, ou toma uma
overdose, ou o que for, a primeira coisa que é feita é chamar os caras da área
de saúde para salvá-lo. Ele pode ser internado contra a própria vontade e quase
sempre é obrigado a ouvir o discurso moralista dos familiares; ele é obrigado a
viver em um mundo que odeia, com pessoas que odeia, aceitar as coisas como elas
são. E isso é assim, a vida, e eu afirmo essa vida. Se um drogado quer se matar
– já que não pode mais se drogar, e a droga é a única coisa que permite que ele
continue vivendo – eu digo: você tem que continuar vivendo como eu, como o bom
cidadão, tem que viver a vida e sofrer como eu sofro. Uma dupla imposição: não
pode se drogar, não pode se matar; o controle na forma de leis e moralismo. E mais.....
aos filhos é perguntado: você quer nascer, ser meu filho, você quer fazer parte
de tal povo, quer ser de tal classe social, ser de tal raça, você quer ser
humano, viver em determinada época? Se perguntar antes é impossível... então,
tudo isso é imposto, sem que haja escolha. Te fode, você vai ser humano e você
não tem escolha. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">...................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Eu minto, manipulo, faço chantagens feito
uma histérica para manter minha posição. Falo mal do senso comum, mas meu saber
é baseado no senso comum. Penso como todos, a diferença é que sei falar e
escrever. Como a maioria não sabe fazer isso, eu afirmo o senso comum dizendo:
eles não pensam. Eu acho que conheço o mundo e tento mostrar para as pessoas o
mundo, já que elas não pensam o mundo. Que todos se coloquem em seus lugares;
meu lugar é o trono. Eu rio de todos, todos são risíveis. Digo para todos o
tempo todo: esse ano eu li 50 livros, vi 30 filmes, viajei para a Europa... eu
tenho que dizer, afirmar, mostrar. E todos os meus amigos fazem o mesmo, eles
são iguais a mim; então, como há tantos iguais, nem me vejo como um elitista. [.......]
Eu tenho que comer, como todos, uso as redes, como todos, tenho um corpo
humano, como todos, mas, sim, sempre afirmo: eu sou alguém “diferenciado”. Sou
tão controlado como todos, sou passivo como todos, aceito as coisas como todos,
mas é isso: me acho importante. Não consigo nem imaginar uma vida não fascista,
mas digo que eu luto por uma vida não fascista. Não reconheço que sou fascista,
que eu quero manter as coisas como estão. Para mim, utopia é a sociedade
perfeitamente controlada, na qual todas as pessoas sejam classe média e
inteligentes como eu. [...........] Quando alguém diz: o corpo tem que ser
conceituado; eu digo: não, o corpo humano é o corpo do homem moderno, formado
por órgãos, é isso. Ou seja, afirmo o que todo mundo pensa; e sempre digo: essa
é a forma que eu penso. Quando alguém diz: não tem muita diferença entre o
capitalismo e o comunismo de Estado; eu digo: mas são regimes completamente
diferentes, isso é o que eu penso. Quando alguém diz: só se pensa “com outros,
ou seja, a partir do comum”; eu não entendo e digo: mas eu penso, isso é algo
que diz respeito a uma pessoa, uma mente pensante. Ou seja, penso como todo
mundo. Confundo sempre complexidade com extensão, quantidade. Para mim,
complexidade é uma questão numérica. Ou seja, penso como todo mundo. [.....] Só
falo palavras de ordem e repetições e repetições do senso comum. Falo o tempo
todo em acabar com a opressão, mas para mim opressão é a de um Estado fascista.
Só vejo o Estado. [..........] Como bem disseram Deleuze e Guattari e Negri e
Hardt: a contracultura não foi uma revolução apenas de costumes, foi política,
econômica, subjetiva. Mas eu gosto de cada coisa em seu lugar, penso assim,
como todos, já que é a única forma de eu conseguir entender o mundo. Ser
homossexual é uma questão cultural sim, mas também política, econômica,
subjetiva, e diz respeito a todos. A inclusão das minorias cria uma vida
diferente. Os gays, trans, travas, lésbicas, eles estão por aí, pelas ruas e não
são mais agredidos; é outro mundo: a família mudou, a escola mudou, a empresa,
as ruas, as cidades... tudo mudou a partir da inclusão: afetou a subjetividade
das massas, alterou a política, o posicionamento dos políticos, as leis,
alterou a economia, criou novos consumidores e produtores. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">.........................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Para mim, tudo é uma questão pessoal já
que só vejo a mim mesmo e secundariamente as pessoas que estão na minha roda e
as outras pessoas que estão ao redor; ou seja, como todos, só vejo o visível. Sim,
tudo é uma questão pessoal, quando falam mal dos brancos, da classe média, dos
intelectuais, sempre digo: mas eu não sou assim, você está errado. Acho que
estão falando de mim e não do mundo. Sim, eu sou o centro do mundo, e tenho sempre que me afirmar. [...................] Sim, eu fecho os olhos para não compreender que sou um fraco, submisso. Eu me acho especial, eu ensino
os fracos e submissos, os defendo; mas eu não aceito ser visto como eles. Então, quando dizem: direita e esquerda estão compactuando para se manterem,
já que eu dependo, voto, acredito ou na direita ou na esquerda, eu digo: é
mentira. Eu vou lutar eternamente para não aceitar que sou um fraco e submisso,
que sou enganado e fodido desde sempre. Eu fecho os olhos para não enxergar isso. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-30934438917868849052017-09-06T16:28:00.002-07:002017-09-07T08:47:33.159-07:00sacações<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">........................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Quando sonho com helicópteros da polícia associo
com o pai, o castrador, penso que o sonho significa que minha mulher vai saber
de minhas escapadas, penso que o sonho se refere às minhas brincadeiras de
infância naquela época em que a casa era meu mundo, um ambiente pequeno e hiper
vigiado. O mundo é a família para mim já que todos os meus problemas, que chamo
de psicológicos, pessoais, se resolvem a partir da análise da minha vida
familiar, da minha infância. A criança fabula tanto já que só pode fugir da
casa de papai e mamãe a partir da imaginação. O mesmo quando está na sala de
aula, mas gostaria de estar em qualquer lugar menos lá e muito menos com papai
e mamãe. O adolescente é aquele que mais sofre já que a outra vida está próxima,
mas ainda é obrigado a morar com os pais, e então entra num jogo de forças com
eles e sempre perde. Os pais chegam ao máximo de traumatizar os filhos para que
eles continuem a ser um bom menino, uma boa menina; criam neuróticos, pessoas
cheias de ódio reprimido exatamente como eles. Mas os helicópteros não são
metáforas, não representam nada, são instrumentos concretos do controle, vigiam
a todos. Não aceito isso... meus sonhos são colonizados pelo controle, sou
vigiado mesmo quando sonho. Não aceito isso já que é um enunciado paranoide
para o meu bom senso. Enxergo e trato muito bem minhas neuroses, mas me nego a
aceitar minha loucura, a bela loucura, a vidência, que não é obviamente a
neurose. Me nego a perceber o insuportável, já que se percebesse e isso
ficasse claro para os outros, eticamente, seria obrigado a ir para as ruas,
lutar diretamente contra o poder de forma realmente eficaz, teria que estar
junto da multidão – e a multidão não aceita os orgulhosos, esnobes, tranquilos
em suas casas. A casa da multidão é a rua, a praça, a acampada, a okupa, o
parque em festa. Festa, para mim, é coisa privada, eu e os meus, nos clubes
cools, hipsters. Amo a segurança, os conceitos velhos e gastos me dão
segurança, e que se fodam todos que não têm teto, guarda-chuvas, roupas
impermeáveis. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">.................................................
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Eu não entendo o mundo; o que está
acontecendo com ele? Um grupo se reúne para fazer treinamento físico em um
espaço público. Um grupo grande de pessoas com esse mesmo interesse; eles se
reúnem uma vez por semana de noite no espaço. Os treinos envolvem alongamentos,
aquecimentos, seções de corridas, pulos. Não são usados
equipamentos, apenas os corpos. Tudo isso varia de semana para semana, a partir
da exigência dos corpos, das pessoas ou das mudanças climáticas. Porém, o grupo
necessita sempre de alguém que planeje uma aula, ou aulas; alguém que pense na
necessidade dos corpos do grupo, mas o grupo não contrata um instrutor para não
gastar dinheiro e por achar desnecessário. Por qual motivo desnecessário? Todo
o treinamento envolve exercícios comuns, que certos membros já têm
conhecimento, mesmo não sendo profissionais. A primeira aula do coletivo é
então capitaneada por alguém com esse conhecimento, um jogador de futebol não
profissional, alguém que fez academia por um bom tempo. Depois das primeiras
aulas, os membros já têm um conhecimento consistente e podem se propor a
planejar uma aula. Depois de uns meses qualquer um que se interessou pelo
treinamento, o fez durante um tempo, pode planejar uma aula, qualquer um que
esteja a fim. Esse alguém que planeja nesse coletivo nunca é um líder, um
professor, alguém que centraliza o coletivo; é só alguém com tempo e disposição.
E muitos do coletivo se negam a isso, a ser o planejador do dia, da semana ou do
mês. Ou seja, não há liderança, e se o planejador se vê ou é visto como líder
isso é derivado de uma ilusão, já que no caso, planejar, é indesejado por
muitos. Isso é um exemplo, uma atualização, uma experimentação do anarquismo.
Ele é experimentado, sempre foi, desde muito. Eu não entendo isso, por qual
razão eles fazem isso; não me interessam as dinâmicas dentro da sociedade que tentam
burlar as hierarquias; a auto-organização de coletivos, para mim, são como
festas, fugas do dia de trabalho, da vida dura que tanto amo, do tempo
controlado, da vida controlada. Para mim, eles estão brincando. O que importa,
para mim, é o Estado sempre. Só penso em coisas grandes, sou um pensador das
coisas grandes, sim, sempre afirmo isso. Não vou perder tempo com essa gente.
Isso que eu penso quando vejo que as pessoas das okupas se preocupam com
relações diferentes com o corpo, com o lúdico, com o tempo, com a alimentação.
Odeio eles já que só querem uma vida suportável. Odeio quem acha minha vida
insuportável. Eles só querem festa, e eu quero eles controlados para não
abalarem a segurança da minha vida. Odeio quem vive de forma diferente, melhor,
odeio quem vive, já que os que tomam o espaço público sabem viver e eu estou
morto desde sempre. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">...................................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">A infância, para mim, é a melhor fase da
vida; mas as crianças são fascistas a partir do momento que se apropriam dos
signos adultos, ou são apropriadas por eles. Antes disso, são consideradas
primitivos. A criança aprende a odiar o controle dos pais, da cidade, do que
for. O ódio cresce e vira monstruoso, mas todos dizem: você é feliz, tem que
ser feliz, você é criança. Daí se derem para a criança uma arma, ela mata um
judeu – os nazistas faziam isso. Faça o teste: dê uma pedra para uma criança e
diga que ela pode jogar em alguém pertencente a uma minoria; ela vai jogar com
prazer. As crianças odeiam, são neuróticas, e expressam isso muito bem; mas o
senso comum diz que elas estão brincando, se divertindo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">.........................................<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Eu tava na sétima série numa cidade do
interior. Meus colegas eram uns chatos, e os caras mais velhos não deixavam eu
andar muito com eles, já que era mais novo. Daí aparece um novo aluno, que
tinha vindo de Porto Alegre. A gente começa a andar juntos e se conhece bem.
Ele era muito inteligente e ligado, parecido comigo. Ele tinha um irmão mais
velho que curtia cultura pop, como eu. Nós dois, a gente já lia as boas
revistas nacionais de rock, como a Bizz, lia os quadrinhos do Chiclete com
Bananas; mas eu era um pouco mais infantil, já que ele tinha vindo da capital.
Um dia, em aula, a professora de matemática tava meio puta já que a gente não
parava de falar, de se socar, de rir alto. Ela vem até a gente no fundo da sala
e olha as nossas classes; a gente tinha escrito “<b>Coléra</b>” nos tampos da mesa, a banda punk que tava ouvindo direto.
Foi legal, ela olhou e falou meio maravilhada: Coléra? A gente matava aula e ia
pra minha casa de manhã; não tinha ninguém, então não dava nada. A gente ficava
curtindo o quarto do meu irmão, sua coleção de trezentos discos. Quando não dava
pra ir pra casa, pros velhos não saberem que a gente tava matando aula, a gente
curtia o centro da cidade. Um dia de manhã, a gente tava numa loja de discos
vendo as capas e acha um do Pil. A gente diz: bahh, Pil, que massa! A gente não
tinha ouvido ainda, mas já tinha lido algo sobre, e pediu pra ouvir. É difícil
descrever essa sensação que me pegou durante toda a adolescência: descobrir uma
nova banda, um novo estilo. E curtir rock não é só ouvir um som, mas ler sobre,
ver filmes sobre, ir em shows, andar com certas pessoas, ter uma fascinação
pela estética das bandas, se vestir como eles. Se eu levei bomba na sétima
série já que não suportava ficar em sala de aula.... bem, na mesma época, nessa
época que comecei a andar com o mano, eu li toda a coleção da Bizz do meu
irmão, conheci inúmeras bandas, vi inúmeros filmes. Na Bizz tinha uma seção que
era sobre a história, a biografia de bandas; era uma seção longa, com muito texto; de
início, fiquei meio amedrontado com tanta informação, mas fui lendo aos
poucos. Depois de um tempo, as edições que eu gostava, as reportagens que mais
gostava – como a revista era mensal – eu lia inúmeras vezes durante o mês. Li a
história dos Doors, Joy Division, Pink Floyd, Pistols, histórias regadas de drogas,
sexo, suicídio, loucura; e a partir daí comecei a ficar mais que interessado nesse
tipo de vida. Nesse tempo, achei numa locadora o filme sobre o Sid Vicious, Sid
e Nancy. Assisti e achei ruim, achei poser, espetacularizado; claro que não
defini o filme dessa forma com 12 anos, mas achei que muitas cenas eram forçadas,
tipo: nos shows, no filme, Sid mal ficava no palco, não tocava o baixo, ficava
brigando com a plateia. Quando vi isso pensei: não é assim um show, o cara que
fez o filme não sabe nada de shows de rock. Demorei uns anos pra conseguir
entender que era realmente assim um show com Sid no baixo. Outra cena que achei
forçada: a primeira vez que Sid toma heroína é tipo um inferno, com todo mundo
mal, vomitando. Pensei com minha sabedoria de 12 anos: nenhuma droga deixa
alguém assim tão mal, que merda de filme; e depois de uns anos, entendi que a
cena era bem realista. Os anos passaram e fui acumulando repetições de séries,
mas, ao mesmo tempo, meu quarto começou a ficar pequeno com a quantidade de
revistas que comprava. Além disso, depois de ter lido a biografia de todas a
bandas da história do rock publicadas pela Bizz e em outras revistas, foi um
passo pra virar um aficionado em literatura romântica, marginal. Tava fazendo
supletivo com 15 anos, a gente matava aula direto, pra fumar maconha. Eu fumava
e ficava na praça com o pessoal, ou fumava e ia pro fliper, ou fumava e descia
até a esquina que tinha o melhor sebo de livros da cidade. Nessa época, li
todos os livros do Bukowski e da geração Beat que encontrei; li toda a coleção Rebeldes
e Malditos lançada por uma editora gaúcha. Mas o que importa disso tudo, obviamente, não é a
história de um menino que lia e virou escritor... isso é um exemplo de uma
linha de fuga precoce, típica daqueles que odeiam sala de aula, matéria escolar,
mas tem um grande interesse pelo campo do saber, da arte, da cultura. O pessoal
que tava em sala de aula tirando notas boas, na sétima, oitava série teriam
maturidade pra ler, se interessar pela tradição romântica? Teriam maturidade pra
criar uma vida centrada na luta contra a estrutura disciplinar, as hierarquias,
os pais, os professores, os policiais, as leis, as regras, o controle? Durante minha vida, sempre tive contato com
caras extremamente inteligentes, com posições políticas, existenciais
louváveis, que não conseguiram nem terminar o primeiro grau. Os punks do centro
de Porto Alegre nos 90 eram uns deles. Pobres, morando na rua, com vinte
e poucos anos, apresentando erros enormes de norma culta na fala, mas que podiam
conversar sobre comunismo e anarquismo. Também conheci muitos hippies, jovens, que
vendiam artesanato, pobres, sem primeiro grau, que tinham um conhecimento
enorme sobre culturas alternativas. E eles – os punks, os hippies, os
jovens – podem não ter condições pra produzir obra, então produzem formas de
vidas libertárias. Essa é a prática anarquista. Anarquismo não é só teoria, é
prática como questão existencial, e essa prática talvez seja mais importante do
que a produção consistente no campo do saber. O anarquismo que não se pratica,
não é anarquismo; o anarquismo não aceita a dicotomia: vida e obra. Pra conhecer o anarquismo é mais importante estar com as pessoas, os coletivos do
que ler. <o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-31179165351256138972017-09-02T15:26:00.001-07:002017-09-08T07:50:54.679-07:00duas crônicas<div class="MsoNormal" style="line-height: 250%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 250%;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 250%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 250%;"><span style="font-size: medium;">Eu não aceito que me vejam como um fraco,
um pobre, um gay, uma mulher, um perdedor, vou lutar para que me vejam como
alguém bem-sucedido. Sou um pudico, um boca limpa, só uso belas palavras. Todos
cagam, mijam, espirram, vomitam, transam, suam... corrimento sai da vagina,
porra do pau, onda vermelha. Idiotas inspecionam as fezes. Sangue do nariz
cheirado. O banheiro fede a merda, a mijo. A toalha usada tem o cheiro meu e
dela. Mas escondo isso já que tenho vergonha do corpo, do meu corpo, do dela,
de todos. Eu nunca menciono isso, não há merda em meu trabalho intelectual, já
que intelectuais não tem cú. [......] Ela gosta do doce do pênis, ele gosta do
doce do cú, eles e elas gostam do salgado da vagina. Ele beija ela depois de a
chupar e nunca limpa a boca. Ela chupa o pau dele e ele beija ela. Ela chupa o
pau do amante e depois beija ele, e ele faz algo parecido. Ele chupa a vagina
do seu amor menstruada. Nós cultuamos urina, merda e sangue. Fumantes queimam a
pele, e pele queimada tem o seu cheiro. Depois do corte rola a cicatrização,
purulenta; e o pus é tão doce. Quando criança ele cagava, colocava os dedos nas
fezes e pintava as paredes; virou um grande artista. Quem fuma conhece e muito
bem o catarro, quem tem asma também. O catarro às vezes mais perolado como
porra, às vezes mais amarelado, purulento, às vezes com sangue. Ele gosta de
lamber a pele dela de noite, mesmo que ela só tenha tomado banho de manhã;
gosta do gosto da axila meio depilada e daquele cheiro forte de gente no verão.
Tava todo mundo no fumódromo, ou na fila do banheiro se beijando, se agarrando
– sem penetração já que no caso era algo secundário – muitos já tinham
vomitado, todos estavam com a boca seca dos crivos e da biras, muitos tinham
herpes e hpv e nem sabiam; mas e daí? Anjos não são assexuados, anjos trepam em
qualquer lugar, chupam o que aparecer na frente, só não chupam os próprios
dedos. Beijar uma boca que acabou de vomitar é amor. [...] E tudo isso é feito
por gente que sabe muito bem o quanto o corpo é podre e, por isso, delicioso.
Essa gente não tem nojo de si, do seu corpo. Mas se essas relações com o corpo
forem expressas na mesa de jantar, ou em sala de aula, ou na reunião da
empresa, se forem faladas para a esposa, ou para as amigas delas, ou
ao pai e a mãe, para as pessoas sérias de forma aberta,
melhor, radicalmente aberta... quem fizer isso vai ser visto de qual forma? A assepsia da ciência; a ciência como um espaço para pessoas sérias falarem sobre coisas sérias; e o corpo
que pulsa o tempo todo, caga e mija, sempre... isso deve ficar de lado. [...] Burroughs é o corpo na literatura, principalmente
as moléculas do corpo. Kerouac era um corpo em movimento na estrada, mesmo que
em Big Sur as moléculas fossem expostas a partir do <b>delirium tremens</b>. [....] O louco
queria que os banheiros de apartamentos tivessem uma sacada, grande. Daí ele acordaria de manhã e daria uma boa cagada curtindo a
vista, as ruas, as pessoas, a cidade. Uma relação anal com a cidade. [....] “Coprolalia”
é um termo interessante, se refere às expressões obscenas, mas que são usadas
em poucos espaços, nas ruas, em ambientes de ócio. Quem tem <b>Tourette</b> sabe bem o que fala e faz:
cospe, pula, xinga não está nem aí e que se foda. Ele fala a verdade, reconhece
uma puta que esconde que é puta, ele a vê e diz, berra: sua puta! Quando tem
alguém escroto, ele cospe nele, e sabe o que faz. Ele assusta já que mostra a
verdade que ninguém quer ver. Sabedoria de quem tem <b>Tourette</b>, sabedoria dos loucos. [....] Os punks não são menininhas,
curtem o corpo: o vocal do The Clash pegou hepatite já que cuspiram dentro da
boca dele em um show; a famosa cusparada no show punk. Sid Vicious pegava água
de latrina para se picar. Lou Reed queria que cagassem na cara dele. A banda
xinga a plateia e a plateia xinga a banda, todos no show se cospem, se batem: o
punk tem <b>Tourette</b>. Os Titãs sempre
foram meio punks, eles não tinham medo de falar a verdade: “amor, eu quero te
ver cagar”. [....] A sabedoria das pregas do cú. Quem dá o cú não
fala sobre o cú ou dar o cú. O cara dá o cú, mas escreve sobre florzinhas e
amor. Não fala, exatamente, do que conhece já que sabe que vai ser bloqueado
nas redes sociais, não vai conseguir emprego em um jornal, vai se queimar em
sala de aula... e se falar sobre dar o cú em uma revista acadêmica, vai ter que
modular o tom, de tal forma, que o texto não tenha mais o cheiro doce de cú. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 250%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 250%;"><span style="font-size: medium;">..................................<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 250%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 250%;"><span style="font-size: medium;">O
louco é tão louco que tem cinco sentidos, mais o sexto. Só que o sexto não é um
sentido a mais, mas a relação entre todos os sentidos. [....] Ele sente um
orgasmo especial quando transa, orgasmo no peito, no coração, no pulmão; sim, o
coração quase explode junto do orgasmo genital, ou antes dele; antes ou junto,
tanto faz, tão bom quanto. [....] O morto está morto, como disse Gullar, mas o
louco está vivo, e o louco está louco. O louco não come uma vagina, ele é
comido por ela. O louco vê ela sorrindo, mas sabe que ela está triste. O louco
sabe que “um doze” pode ser “um vinte um”, e vinte às vezes está bom, é uma boa
mesa no jogo de poker. [...........] A transa de um casal diz respeito aos
dois, mas não apenas, diz respeito a muita coisa, muitas pessoas. Duas legiões
que se encontram, não para entrar numa batalha, mas para produzirem algo em
comum. Ás vezes funciona, às vezes não, e quando funciona... são as
singularidades das duas legiões agindo em comum: um sentindo o outro na
performance que não é teatro; sem nóias, chatices e frescuras. [....] Quando
eles acordam – aquele casal que vira a noite – e tem umas seis camisinhas
usadas no chão, bem usadas, eles dizem, sem vaidades, um pouco surpresos: a
noite foi boa com a gente.... e, vamos transar antes do almoço? [....] O
hipster entende as hipsters. Os casais hipsters são a união de dois
indiferenciados. O hipster faz bem o papel de mulherzinha, de amigo, de
carinhoso, ele sabe chupar como uma mulher. O hipster, para ser um, teve que se
tornar isso: a melhor amiga da sua mulher na cama. O nerd, se ainda existem
nerds – já que os hipsters são a evolução dos nerds –, o nerd é o gatinho na
cama, reprimido, guiado pela mulher. Já o grosso, o rude, se sente mal na cama,
sente vergonha e goza rápido, já que estar junto de alguém de uma forma íntima
é quase impossível para ele. [....] </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 250%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 250%;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-46538241986726438602017-08-05T15:53:00.003-07:002017-08-05T16:09:32.530-07:00Esboço sobre transversalidade; mapeamento inicial do conceito de "sujeira" <div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">............................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Perceber a
transversalidade é criar um mapa, uma cartografia, dos elementos heterogêneos
que agem em comum, como os inúmeros campos do saber e suportes diferenciados de
arte agenciando com a política dos movimentos em rede. Tenho como uma das
hipóteses, que esses campos têm em comum a impureza, que é uma das
características da transversalidade. São impuros já que não têm barreiras
definidas, agenciam entre si e com outros campos. Obviamente essa é uma das
formas de pensá-los, já que os mesmos podem se apresentar como campos puros,
definidos, bem organizados, ou mesmo, pode haver o desejo de que eles se
purifiquem. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O apagamento da ideia de
autor pode ser um tipo de transversalidade, quando não há centralismos de um
sujeito pensante, mas os discursos de inúmeros sujeitos e coletivos. Estilos
diferenciados de escrita em uma mesma obra é um tipo de transversalidade. O
corpo queer é um corpo transversal, uma soma de sexos e gêneros. Porém, o mapa,
a cartografia, também pensa os centralismos e suas linhas de fuga, a linha
transversal entre as dicotomias, ou seja, poder e potência. O devir é a minorização de um termo maior – como
o que acontece quando teorias de campos consolidados tratam da comunicação, um
devir comunicacional desses campos; “nesse caso” o devir e a transversalidade
entram em uma área de indiscernibilidade, são conceitos com suas
especificidades, mas, portanto, irmanados. O conceito de monstruosidade se
refere à transformação de corpos modernos, tradicionais – família, cidade,
corpo humano, etc – e pode ser usado para pensar as conjunções de campos de
saber. A transversalidade é monstruosa, pode ser, o devir é, o mapa busca a
monstruosidade. O conceito de <b>sujeira</b>,
impureza, que é uma crítica à assepsia, não é a monstruosidade, mas uma linha
dela. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Esses conceitos se
conectam e podem se embaralhar de tal forma que não haja distinção aparente entre
eles; o mapa vai sendo montado, ele pode mudar de forma, de elementos, está em
devir. Aquilo que se percebia como potência, linha de fuga, pode se mostrar de
forma diferente. O mapa é complicado, às vezes funciona, às vezes não; pode funcionar
por uma tarde, uma estação; é uma experimentação aberta ao erro, à <b>sujeira</b>, ele é impuro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Há um tipo de percepção,
que creio ser fundamental para pensar a transversalidade: a percepção
molecular. Esta ajuda a perceber aquilo que é impensável para o senso comum,
possibilita sair das simplificações do mundo, como dicotomias, dualismos, modelos
– além das dicotomias, entre elas, acontece muita coisa. Essa percepção é o que
permite a cartografia, faz parte da cartografia. A cartografia pode ser chamada
de crítica também, a crítica radical, de Deleuze e de Negri. Cartografia,
porém, não é método, é uma forma de existência que afirma o vitalismo, diz
respeito a alianças, a um grau de loucura desejada, a cartografia é a
experimentação de fluxos não normatizados. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Para Deleuze, o corpo, os
gêneros, a sexualidade, a língua, a comunicação, os cidadãos sedentários e suas
cidades, a base da psicanálise, a arborescência, a busca da raiz, a sanidade, os
segmentos duros como casa, escola, empresa, são instrumentos de controle. Então
ele cria conceitos que são linhas de fuga em relação a tudo isso. Negri faz
algo parecido, mostra que a ideia de Estado nação, de povo, a noção de união, a
política dominante, as barreiras geográficas, são imposições do poder – o
Império – para impedir uma real democracia global; e contra o Império está a
Multidão, um de seus principais conceitos, talvez o que tenha sido mais
apropriado nos últimos anos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"> Como disse, a crítica deve ser radical,
deve-se mapear as construções do poder, do controle, e suas linhas de fuga. A <b>sujeira</b> é um conceito anti identitário,
contra o controle, fora de controle. O controle, conceito que trabalho desde o
doutorado, é a circunscrição, a limpeza, a higienização, é a criação de um mundo
simples que nega o devir. Os discursos da área da saúde e do urbanismo ganham destaque
na pós-modernidade na busca de cidades e corpos higienizados. Um dos discursos
contra os okupas é sobre a insalubridade dos seus espaços, já que estes podem
não ter acesso a certos serviços como recolhimento de lixo. Também, as pessoas
que fazem parte das okupas têm um visual estranho, sujo: cabelos compridos, mulheres
que não se depilam, visual punk, neo hippie. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Há uma assepsia acadêmica,
não é qualquer um que entra em uma universidade. O texto acadêmico é isso:
pouca coisa é permitida. Porém, cheguei à conclusão de que certos processos são
expostos de forma mais eficaz, interessante, especial, a partir da arte; muitas
vezes as ciências congelam os processos de tal forma, que eles perdem sua
potência. E o mapa é exatamente uma linha de fuga da fotografia dos processos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O ensaio, a crônica, são
gêneros menores, pouco delimitados, sem definições precisas, são inclusivos,
muito mais que o texto acadêmico. Uma linguagem inexata expõe muito mais o
descontrole, certas linhas de fuga na cidade do que um estudo de caso. Não vejo
problema em se produzir ciência como se produz ficção, já que é uma ficção, se
torna ficção quando despida do fetiche de se atingir as verdades. Ou seja, a <b>sujeira</b>, a impureza, a transversalidade
são as misturas, as hibridizações, os agenciamentos, as relações de inclusão entre
termos diferentes contra a exclusão, a união a partir de identidades. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">O que entra, quem entra,
o papel de cada um, sempre a partir de lógicas hierárquicas, atravessam
dispositivos, como a cidade, mas essa mesma cidade é atravessada por linhas de
fuga. As okupas não são casas de casais, não são escolas, não são empresas, mas
há pessoas que vivem nelas, produzem saber nelas, produzem nelas outras
alianças entre pessoas, outras formas de vida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">............................................<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Após o contato direto com
os movimentos em rede e a leitura constante da filosofia da diferença são
criados outros valores, outras formas de vida, de existências, mesmo a percepção
e a afecção se modificam – isso é um exemplo de dessubjetivação; portanto, há
uma questão existencial na pesquisa. A academia forma pesquisadores, mas certas
pesquisas, principalmente as críticas, permitem linhas de fuga dos padrões
dominantes. Essas linhas de fuga quando atingem o pesquisador criam uma radical
dessubjetivação. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Mas aconteceram mudanças
que atingiram a multidão global, sua subjetividade, nos últimos anos (e
obviamente me atingiram). A partir das lutas de 2011 – dos indignados espanhóis
e do <span style="background: white; color: #222222;">Occupy
Wall Street</span> – ficou radicalmente fácil produzir em redes descentradas e
o processo assembleário se tornou unânime. As redes de assembleias, que
funcionam e muito bem, apresentam uma opção para a hierarquia política. Muitos
mudaram, os movimentos, pessoas, teóricos, e eu estava no meio disso tudo; e
mesmo assim, o discurso dominante parece negar essas mudanças já que dá valor
apenas para a macro política. A cartografia, o pensamento sobre a
transversalidade, é essencial para perceber que já não somos mais os mesmos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Jovens de 15 anos nas <i>ocupas-escolas</i> têm uma compreensão fina de
redes; facilmente os okupas – também jovens – produzem sem hierarquias; o punk
– alguém presente em okupas, mas que muitas vezes se nega a fazer parte de
qualquer tipo de organização, mesmo que seja auto-organização – é radicalmente
contra toda forma de opressão. Estes conhecem e praticam uma outra vida,
impensável para a subjetividade dominante. Ou seja, eu como pesquisador aprendo
com eles essas relações diferenciais, e isso afeta minha existência. Perceber
isso é cartografia; isso também é a transversalidade, quando meu papel fica
borrado, quando saio da minha posição de doutor, quando ela significa pouco, já
que estou com eles para aprender e viver, aprender a viver. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Fugir de transcendências,
hierarquizações é uma questão política, ética, estética, existencial. Traçar
linhas de fuga é construir mapas. Não há problema em errar, sempre se erra; a
assepsia vê o erro como algo negativo, mas o erro é o meio, estar no meio,
experimentando. Resolver um problema é chegar a um fim, mas importa o meio, os
problemas. Okupam um espaço e depois são desalojados, mas depois okupam um
novo; uma okupa não busca uma finalidade, é um meio para se estar. Uma
manifestação busca um fim, mas há os processos, as experimentações. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">No momento que se nota
que a crônica ajuda e muito na produção pelo seu estilo, isso não é uma questão
estética, mas sim ética. A arte permite coisas impossíveis para a escrita,
pesquisa científica; já falei isso e insisto que deve ser mapeado. Uma tese é uma
tese, um poema é um poema; cada um tem uma potência própria. E criar dicotomias
do tipo: arte ou ciência, realidade ou ficção é criar ilusões. Há artes, formas
de arte, e há teses, tipo de teses. Teses podem se aproximar de tipos de artes
mais do que outros tipos de arte. Artes ainda se aproximam da racionalidade
moderna, outras já na modernidade anunciavam a pós modernidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Não aceitar as coisas como
elas são, buscar a diferença, isso é também cartografia. E não estou dizendo de
forma alguma: façamos a transversalidade. Apresento essas linhas atuais na
pós-modernidade; o que eu faço é ver valor e expor isso textualmente, o que já
é feito por teóricos e movimentos. Negri não fazia a proposta de que a multidão
fosse formada, apenas atualizava em seu trabalho a produção da multidão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">..........................................................<b><o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Deleuze e Negri não são autores
bem vistos pelo campo do saber. São poucos que se afetam com suas obras ao
ponto de quererem estudar seus conceitos. Primeiro talvez por certo romantismo
que atravessa suas obras, como perceber a pobreza como uma potência <span style="background: white; color: #222222;">e a riqueza como algo negativo, já que
os países ricos sustentam falsas democracias.</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Eu já fui chamado de
romântico por esse mesmo tipo de posicionamento. Para mim, as lutas dos
movimentos em rede são um valor em si mesmas, como muitos afirmam. Se o Brasil
entrou em uma crise política, que anuncia um novo fascismo, após as lutas de <span style="background: white; color: #222222;">2013 </span>– e algo parecido aconteceu
na Espanha a partir das lutas de <span style="background: white; color: #222222;">2011
</span>– ao mesmo tempo, os coletivos em rede se fortaleceram. Ocupas foram criadas
em escolas e universidades no Brasil; jovens, mesmo com 15 anos, reproduziram a
forma da rede, a <b>transversalidade</b>,
para se organizar, ou seja, isso ficou comum, é um comum entre os coletivos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: white; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Deleuze apresentava uma descrença em relação
ao futuro da revolução, se interessava, sim, pelo devir revolucionário das
pessoas; ou seja: as formas de resistência frente às imposições do controle, o
devir.</span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">
<span style="background: white;">Em relação
à comunicação, ele pensava que ela estava podre, daí a necessidade do silêncio.
Deleuze nunca disse que o Estado era necessário e também nunca afirmou o contrário.
Já Negri, um autor que viveu as lutas dos movimentos por outra globalização na
virada do século, que se interessou pela nova esquerda na América Latina, tem
um posicionamento mais romântico. Para ele, a revolução é possível, a
comunicação pode ser contra comunicação, e o poder – o Império</span></span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">, sua
forma social, o controle</span><span style="background: white; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 200%;"> – está sendo posto em jogo pelos movimentos de multidão. Essa tríade
talvez seja a que mais acompanha meu trabalho: comunicação (como disciplina,
como senso comum, como contra comunicação ou seja crítica), poder (o controle)
e resistência (movimentos em rede, de multidão); essa tríade é a
transversalidade, uma conjugação de campos; e a transversalidade já é uma forma
de resistência, contra controle, que diz respeito ao campo da comunicação e aos
movimentos. </span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: white; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Na virada do século, com os movimentos globais
em rede, fortemente dependentes das novas tecnologias de comunicação e
informação, um novo paradigma de lutas tomou força, permitindo, então, uma
visão mais romântica do futuro, como a de Negri. Porém, o trabalho negriano é
fortemente dependente do trabalho de Deleuze, o que ele fez e bem foi atualizar
o trabalho de Deleuze considerando as formas atuais do poder e das
resistências. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: white; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 200%;">Mas as considerações de Deleuze sobre a
necessidade de silêncio, a podridão da comunicação podem ser utilizadas para pensar certos processos
sociais, que não dizem respeito aos movimentos. A comunicação podre de Deleuze
e a contra comunicação de Negri são duas linhas atuais de uma sociedade da
informação: a comunicação como controle e a comunicação como contra o controle.
Para a epistemologia da comunicação essa é uma questão chave, define a
comunicação como um agenciamento formado por duas linhas de naturezas
diferentes, não dicotômicas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Deleuze e Negri ajudam a
pensar outra questão epistemológica central, no meu trabalho, a autoria.
Deleuze diz que não há sujeito de um livro, e sim uma multiplicidade que o produz</span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">. </span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;">Negri
utiliza o conceito de legião para pensar essa multiplicidade, sempre está
envolvido um coletivo, mesmo na escrita. Em relação aos campos da arte, saber e
da política, pensados como linhas de um agenciamento, isso diz respeito ao
paradigma rizomático de Deleuze: sistema a-centrado composto por elementos
heterogêneos. A multidão é um rizoma, a comunicação faz parte do rizoma, um
livro pode e deve ser um rizoma como o que eu proponho. Para Deleuze não basta
dizer “viva o múltiplo”, mas sim ele deve ser produzido. Isso para mim não é
uma palavra de ordem, a natureza dos objetos de minhas pesquisas exige isso,
produzir uma multiplicidade, a transversalidade. Os movimentos em rede, a
cidade, a comunicação, exigem a conjugação de uma multiplicidade de campos, fazer
rizoma. Isso é necessário para evitar a reprodução, a fotografia, o
congelamento de processos que estão em devir, acontecendo. Importante é pensar “com”,
perceber o comum, fazer parte desse comum, ser a linha de uma multiplicidade,
fazer a transversalidade. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-34338577742143456052017-07-28T14:24:00.000-07:002017-07-28T14:33:26.137-07:00manifesto pelo estupro corretivo de machos <div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">...........................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Os antidepressivos talvez sejam uma forma
de controle, criar uma manada feliz; é, os trabalhadores 10 horas por dia na
empresa, sorrindo, felizes, a utopia do capitalista. O álcool devia ser o
antidepressivo da época em que a fábrica era o centro da produção. Trabalhavam
tantas horas e depois iam pra casa e bebiam, o público e o privado separados.
Agora, como não há mais separação, dão antidepressivos pra todo mundo ficar
felizinho o dia todo, mesmo se fodendo. E o mapa está pra ser montado, as
linhas traçadas. A hipocondria pode ser uma neurose presenteada pela área da
saúde, uma forma de controle, como pode ser um devir. Como devir, na
hipocondria, pela percepção molecular, dá pra viver uma relação com o corpo
especial; dá pra ter afecções e percepções que dizem respeito à doença. O
hipocondríaco delira, se sente como estivesse sofrendo das piores doenças
possíveis. Ele não tem a enfermidade, mas se sente mal como se tivesse. E não
falo nos sintomas manifestos, mas na afecção que acompanha quem está doente.
Quando ele delira que tem aids, ele não manifesta os sintomas da doença (mesmo
que as vezes manifeste), mas se sente mal por pensar que a tem. Isso é
importante, sentir algo impossível pra si, só possível no delírio. Algo parecido
com os sonhos, melhor ainda, os pesadelos. Ele sonhava que ia ser enviado pra
prisão. Ele sabia no sonho muito bem o que o esperava: ia virar a menina da
turma no presidio e não tinha o que fazer. Toda essa situação, no sonho, lhe
impunha um afeto muito forte, muito real, cruel. Ele nunca foi nem vai ser
preso em vigília, mas a partir do sonho... o sonho lhe permite entender como um
preso se sente. Não é essa a importância da arte? Ter percepções e afecções
impossíveis pra certas subjetividades, formas de vida. A arte ajuda a conhecer
o mundo, também das afecções. O delírio da droga, sua importância, é exatamente
essa. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">.............................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Sim, há formas de vida, vitalismos, formas
especiais de vida por toda a parte, mas mesmo assim.... todos se sujeitam o
tempo todo pra manter um mínimo de dignidade, têm que aceitar muita coisa pra
continuar vivendo: trânsito opressor, trabalhos mal remunerados, dinheiro vindo
de pessoas asquerosas, lutar por certos direitos contra pessoas asquerosas como
político, cumprir com os deveres, acreditar em direitos. Mesmo coisas que
parecem banais podem ser frutos do controle: escovar os dentes, limpar a bunda,
ter uma conta em banco, receber ligações estranhas, dizer: “bom dia”, “olá”, “parabéns
pra você”, “eu pago mês que vem”, alugar um apartamento, comprar um carro,
ganhar uma bolsa, comprar um seguro de saúde, ir no supermercado, cumprir
horários, mentir que está sendo fiel, ficar paranoico ao subir o morro, filas,
filas e filas, comer bem, foder bem. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">............................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">É interessante que esse é exatamente o
discurso que sempre ouvi dos punks, os punks nas revistas, nos documentários,
nos shows, os punks nas ruas, meus parceiros. João Gordo se tornou o maior punk
do Brasil já que era o punk mais letrado, ele terminou parte do segundo grau. E
esses punks da rua, com 20 anos e só quinta série, meus amigos, eles sempre
falavam isso; diziam: é cara, a gente tá dentro do sistema, a gente arruma
grana... é, a gente às vezes tem grana, e vai no super, naquele grande ali na Rua
Riachuelo, e a gente escolhe uma massa e entra na fila; é, não tem como estar
fora do sistema. É interessante que depois de ter terminado o doutorado, de ter
escritos muitos livros, de ter um conhecimento de certa forma bom de alguns
caras difíceis de ler, depois disso tudo.... Bem, tudo isso me fez entender a
importância do posicionamento punk, me fez entender os punks, me aproximar
deles. Eles dizem: você está completamente fodido por dentro e por fora; não há
muita diferença entre ser currado e pagar a conta num restaurante. Você luta...
não, você não luta, você mendiga, chafurda o tempo todo pra conseguir quase
nada. Um pouco melhor, um pouco mais de dinheiro, de direitos, sonha com outra
vida, mas é a mesma vida, não consegue pensar em uma vida realmente diferente. O
Punk desletrado entende a vida, entende a outra vida, a enxerga como poucos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">.....................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Sim, você sacraliza o cú, que não difere
muito da boca, do dedão do pé, é só parte do corpo. Ser currado por trás não é
nada, e pode e deve ser gostoso. Se a tua mãe dá o cú, se a tua mulher dá o cú,
se a tua amante dá o cú, se a tua filha dá o cú.... o que tem de feio em dar o
cú? Melhor um pau, um dedo, um braço no cú – um pau limpo, um dedo limpo, um
braço limpo – do que um pedaço enorme de merda. Você não chupa dedos? Você não
mete a mão no pau e depois passa no rosto? Não limpa a testa com o braço? Mas
você não faz isso com merda; não vê problema em sair merda do cú e acha o fim
do mundo um pau no cú. Você não dá o cú, já que acha que dói e é imoral, mas
aceita numa boa entrar numa fila no banco, abrir uma conta no banco, pagar
contas, se foder todo o mês, odiar a sua vida e só conseguir se sentir bem com
uma garrafa de uísque, sabendo que vai se foder no outro dia com a ressaca, que
é só moral. Ah, você não dá o cú, já que
vão te chamar de viado; vão rir de você. Só que a tua esposa ri de você, os
teus filhos, os teus amigos, o cara que te atende no bar, todos riem de você e
você ri deles; todos são uma piada pra você e você sabe que é uma piada pra
todos. Você não dá o cú pra não se sentir humilhado, pra não se sentir menos
homem, pra não sentir vergonha. Mas o que o Punk diz? Você não é homem na
relação com o patrão e os que estão acima de você no trabalho, você é um
escravo; você abaixa a cabeça facilmente pra manter o emprego, e tudo isso não
é diferente de ficar de quatro. Você se submete ao gerente do banco, ao
policial, aos políticos que vota, você é sim um submisso, um fraco, você é a
ralé; a única diferença é que você tem um carro e uma casa, ou seja, você é um
submisso, alguém da ralé, mas com adereços. Você tem um pouquinho a mais, e
esse pouquinho a mais faz você pensar que não está levando no cú; só que isso é
ilusão: “caminhe na faixa” não é diferente de “se ajoelhe no altar”, que não é
diferente de “se sente na mesa de jantar” ou “se sente como uma pedra por mais
de oito horas por dia na mesa de trabalho”, e tudo isso não é diferente de: “se
abaixe que vou te currar”. Só que tem gente que dá o cu com prazer; parabéns a
eles, são dos meus; mas ninguém se submete no trabalho a vida toda sentindo isso
como algo prazeroso. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Deveria rolar estupros corretivos de
machos, por gays, mulheres e lésbicas. Melhor, sem violência, eles deveriam ser
fodidos por trás como um gesto de amor, com carinho, de uma forma que eles
gostem. O machismo em parte seria abalado; e mais, o território da sexualidade,
dos prazeres seria aumentado, o cú estaria em jogo. Preto só se fode, mulher se
fode, gays se fodem, todos se fodem só por serem quem são; e não é metáfora, é
ser fodido sim, dá no mesmo; e é pior já que são fodidos por serem minorias. Na
cadeia você leva no cú uma vez por noite, digamos, depois de um tempo lá
dentro; um preto sofre 24 horas por dia a vida toda, suas moléculas são fodidas
sempre, desde o nascimento. Um homem fode a esposa, os filhos, quem está abaixo
na hierarquia social, por trás com dor, mas diz que é um gesto de amor. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">..................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">O primeiro gesto paterno e materno – e não
importa qual pai for, qual mãe for, enquanto existirem pais esse gesto se
mantém – é obrigar alguém a nascer, em determinada família, com seus valores,
em determinado país, neste mundo, ainda mais como ser humano. Não vejo motivo
de alguém ficar feliz por ser humano. A luta pela vida, o amor pela vida, como
conceitos do senso comum, são palavras de ordem. Claro que amor e vida são
conceitos reinventados por muitos coletivos, artistas, teóricos, por muita gente
comum em banheiros públicos de casas noturnas. “Eu queria ter apenas um buraco,
e não uma boca e um cú”, disse o pai dos Punks, Bill Burroughs. Mas o corpo
humano é essa coisa organizada, estratificada, e isso vão te dizer a vida toda,
que o corpo é isso o que todo mundo vê, o bom senso. O corpo é reinventado, em
bares, ruas, okupas, na arte, na teoria. Há uma luta contínua pra produzir
diferença, a linha de fuga não é fácil de ser traçada, e mesmo traçada, pode
falhar. Mas e aqueles que não querem lutar, mas não querem também se submeter, os
que nem queriam ter nascido? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">.................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Dar o cú é um afeto, uma sensação; o
problema é quando dar o cú se torna uma questão moral, que atinge os machos, os
machistas. Pra eles dar o cú é se submeter a um homem, é se tornar uma mulher.
Sim, “como eu sendo um homem permitirei que me vejam como um ser baixo, vil,
fraco, de segunda categoria, como uma mulher? ” Dar o cú não mata, não põe na
prisão, mas agora se o cara decide parar de se submeter ao chefe, ao político,
ao policial, às leis desumanas, o que vai acontecer? Vai se foder e a foda vai ser
pior do que ser currado por trás. Mas então parece que ele gosta disso, de ser
fodido por quem está acima dele, tanto que não faz nada contra, nada. Na prisão
é isso: você tem que se submeter, na boa, dar o cú na boa, ficar na sua,
aceitar as regras, daí você continua vivo e de repente arranja um namorado, daí
não tem mais que dar o cú pra todo mundo. Isso não é a vida na sociedade, se
foder caladinho, calmo, pra não doer tanto? Você vai se foder o ano todo, mas
vai ter quinze dias de férias; daí no fim da primeira semana diz: não aguento,
tenho que voltar pra prisão. Sim, a praia é tipo o pátio da prisão, mas você
gosta na verdade do endurecimento máximo. Quando a criança se apaixona pelos
pais, é exatamente isso, se apaixona pelo mais forte, a quem vai ter que
obedecer. É como o currado que se apaixona pelo currador. Se você é fodido por
todo mundo na cela e aparece alguém que diz: “eu vou cuidar de você, se você
for minha gatinha”, como não se apaixonar por ele? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">..................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Eu sou fodido, então vou foder. Busque o
mais fraco, sempre aparece alguém mais fraco. Dá no mesmo, é como se tornar
alguém mau como os curradores da prisão; não é essa a grande função da prisão,
criar caras maus, que encaram todas? Após anos em casa a gente aprende como se
tornar um bom cidadão, a casa é um espaço de formação, a prisão também. O controle
em todo lugar, sempre, em tudo e todos. Os olhos dos outros, meu olhar pra mim
mesmo. Talvez as regras dos bandidos sejam menos duras, apenas mais violentas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">.......................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">O okupa é alguém que se quer pobre, cria
valores diferentes. Odeia, não suporta a classe média. A classe média se acha
letrada já que conhece todos os termos, jargões, conceitos impostos desde cima;
acha normal a espetacularização da política, do Estado. O capitalismo nunca é
contestado. Os okupas não existem pra classe média já que contestam os valores
médios, e a classe média não quer ser contestada. Não houve mudanças nas lutas
desde 2011, dizem, já que se interessam só pelo Estado, e como esse Estado lhes
deixa com mais conforto moral e financeiro. Não estão nem aí se os ânimos, as
subjetividades dos coletivos mudaram, se novas formas de luta apareceram.
Querem o Estado, sempre Estado, e quem não quer Estado é louco. Feliz com sua
segurança, a segurança da prisão, o classe média é tipo alguém com dinheiro na
prisão, não vai ser morto nem currado desde que pague, tenha dinheiro pra pagar
sua segurança; mas continua a ser um preso, tem que aceitar as regras, senão
vai virar uma mulher. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">............................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Os hippies ainda acreditavam que dava pra
cair fora, tentaram criar suas comunidades. Os okupas mostram que não tem como
sair fora, então experimentam desde dentro. Viver com suas próprias regras, na
cidade? Impossível. Se animalizar numa floresta? Suicídio? Como a morte ainda é
vista como algo negativo, sobram as linhas de fuga, que é o sentido da vida, é
a vida, a linha de fuga é a vida. A submissão é a morte em vida, as linhas de
fuga são traçadas pra que a gente não morra. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">..........................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Os presídios são um tipo de espaço, mais
um tipo, dentro de uma prisão enorme, a sociedade. O presidiário não está nem
aí se vai voltar pra prisão, já que a prisão é a vida, e ele sabe bem disso.
Ele que sabe, é sua sabedoria: se socializar, viver em sociedade, é se sujeitar
e sempre, com muita dor. A criança ama seu cercadinho e depois seu quarto e
depois sua casa e depois se sente naturalmente bem na classe, no cercado do
recreio e depois conhece as ruas e sabe caminhar na faixa e depois entra
facilmente no jogo adulto, do trabalho. Tudo igual e sempre: úteros, cercadinhos,
quartos, salas, casas, ruas, escolas, cidades, empresas, o leito de morte no
hospital, o carro, o supermercado, o banco, a loja, o shopping, o restaurante,
o hotel, o motel, a cidade de turismo, a praia, o posto de gasolina, a loja de
conveniência, o sexo, as relações entre gêneros, entre idades, classes, raças;
tudo tão igual, e sempre.... Isso é assim já que encontraram a forma certa,
eficaz, perfeita pra bem viver? Ou é uma coisa simples e fácil, mais simples e
fácil de controlar todos? Simplificam a vida ao máximo já que é a forma mais
fácil de submeter. Ratos na gaiola são mais fáceis de serem controlados do que
inúmeras espécies na floresta. Quem controla uma floresta? O tempo, as árvores,
certos grupos mais fortes? Há grupos mais fortes na floresta? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">.............................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">E ainda somos modernos, radicalmente
modernos? Há algo além, e nomeado, além das velhas dicotomias? Esquerda e
direita, mais esquerda e mais direita, há algo além disso? Prazer e dor? Sonho,
vigília? Loucura, sanidade? Idiotias e inteligência? Esse algo além, existe? É
nomeado, afirmado, buscado? O controle é criação de um mundo rígido, mas
simples, tipo arquitetura moderna funcional. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">.............................................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">A arte é caótica, todos sabem disso, mas
ela na verdade é um elemento de bom gosto, que diz respeito à subjetividade
burguesa; é um caos a ser vendido como espetáculo. O gay era caótico,
barulhento, esteticamente estranho; hoje os gays são alvo de consumo, o mesmo
com os negros, mulheres e outras minorias. O capitalismo quer consumidores e
produtores, importante é a grana, que todos se submetam e consumam. O
capitalismo reúne todos, todas as subjetividades diferenciais, e cria uma
identidade única: o consumidor. Dar o cú
vai ser a próxima moda. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">......................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><br /></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-36298982737835378762017-07-15T16:04:00.001-07:002017-07-15T17:03:20.396-07:00belas vidas; vidas especiais <div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: large;">........................................</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Eu
tive amigos com belas vidas. Não eram bons alunos, mas sempre passavam de ano;
eram mais calmos, namoravam firme meninas. Sim, se drogavam mas sabiam a hora
de parar. Se pintava muita cocaína na banda arranjavam desculpa e iam pro
interior visitar os avós. Como não queimavam o filme, os pais davam dinheiro, e
isso ajudava em tudo, principalmente em conseguir as minas que não eram caídas.
Uma mina, que não tava estudando, que bebia vodka na rua, de dezesseis anos –
que podia ser a paixão do garoto skatista que toma todas –, esses amigos de belas vidas nem olhavam. Eles – os da bela vida – tavam nos mesmos ambientes que os
malucos: Oswaldo, Lider, Porto de Elis, Araújo Viana, CB. Não era difícil de
ver eles com o nariz sangrando, de ver eles com os olhos injetados, de ver eles
sorrindo muito loucos; mas só que na segunda de manhã, bem, eles tavam na sala
de aula. Entraram cedo na universidade e a partir daí viraram adultos, pessoas
estudiosas e sérias, a carreira deles começou aí. Sim, ainda, faziam merdas,
mas não se afundavam nelas. Belas vidas, de experimentações, loucuras,
mulheradas, mas também de estudos, estudos sérios, que levaram eles pra
carreira bem sucedida. Uma vida com belas histórias pra contar pros filhos, mas
também com histórias especiais pra lembrar com os amigos no sábado de noite.
Belas vidas, mas não necessariamente especiais. As vidas especiais são aquelas
que se atualizam de alguma forma na arte. Muitos que escrevem sobre elas,
viveram essas vidas. E isso não é algo positivo, de forma alguma; quem gostaria
de levar uma vida especial como: a de Jean Genet, o prisioneiro gay? Ou a de
Bukowski, o pobre alcoólatra? Ou a de De Quincey, o viciado em morfina,
paupérrimo? Ou uma vida como a de Dean Moriarty, o viciadão, morto muito novo?
Ou a de Carl Solomom, gay, louco, interno de manicômios? Ou uma vida como a de
Dee Dee Ramone, quinze anos, viciado em morfina, michê? Ou como a de Edie
Sedgwick, viciada, morta muito nova? Ou a vida da trupe de Miguel Piñero, gays,
michês, prostitutas, viciados, mortos por overdose, cirrose, aids? E sim, todos
esses foram imortalizados por fazerem arte; mas e aqueles que levam vidas
parecidas mas não produzem obra? Os caras da ralé, exatamente os ídolos desses
que viraram ídolos que citei acima. Quem gostaria de ser como eles, ser a ralé?
Talvez apenas eles mesmos, aqueles que vivem essa vida já que é a única forma
possível de vida antes do suicídio. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">.........................................</span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Na adolescência, ficava puto já que nunca ganhava nos jogos tipo General, Poker, War. Meus
amigos sempre ganhavam já que eu era o mais novo, eles tinham cinco anos a mais
do que eu. Saquei que não tinha como vencer, como disse, eles eram bem mais
velhos, e, então, vi que a vitória em um jogo não significa nada; é só um jogo.
Daí comecei a fazer jogadas especiais, jogadas malucas, ousadas. O skate é
isso, pra quem não compete; o cara só busca uma manobra legal. Pular mais alto
do palco num show, isso é legal, ousado; como outras coisas idiotas, mas
perigosas: beber de uma vez um quarto de uísque; fumar de uma vez um baseado
enorme, em um pega; tomar elixir paregórico e vomitar, tomar de novo e vomitar,
tomar de novo e vomitar; engolir caixas de estimulantes mesmo que dois comprimidos
fossem mais do que suficientes; ter a infeliz ideia de meter uma quantidade
enorme de pó embaixo da língua e depois fritar na cama. E tudo isso.... bem,
são jogos, brincadeiras de garotos. Só que o cara vai ficando mais velho e tudo
fica mais perigoso; pouquíssimos seguem na vida. O gênio do som de Manchester,
um idiota, com muito estilo, ele diz: é, me deram uma grana pra gravar um
grande disco, mas pra que fazer isso? Daí ele pega toda a grana e compra em
crack. E o importante é isso, a loucura e não uma carreira de sucessos. Se faz
arte não pra ser alguém de sucesso – apenas uma pessoa boba pensaria que se
daria bem por fazer arte, poucos conseguem. Legal é não tentar ser um artista bem-sucedido,
mas, sim, ser louco como muitos artistas, e isso já é arte. E quando se faz
esse tipo de arte... bem, o cara faz já que não dá pra fazer mais nada. “Eu vou
tomar um jeito na vida a partir de agora”, essa deve ser a máxima dos
perdedores que se negam a ser perdedores. Em o Homem do Ano, o filme, o personagem
principal entra num jogo que o leva cada vez mais pra baixo, exatamente quando
decide se tornar um cidadão de bem. Renton em Trainspotting diz ao longo do
filme que queria ter uma vida de bom cidadão. Dean Moriarty tentou muitas vezes
ser um bom pai. Burroughs largava a morfina, mas continuava na
loucura, tomando todas as outras drogas; ele era mais inteligente, entendia
como as coisas funcionam. Um amigo meu de cinquenta anos tava em uma clínica e
o pessoal dizia pra ele, os enfermeiros, eu mesmo dizia pra ele: cara, você tá
velho, a gente sabe que você não vai parar, mas faz a loucura sem queimar o
filme, e ele não conseguia não queimar o filme. Muitos pararam sim... Mas quantos
morreram? E era isso, é isso: a droga ou a morte. E na real, quando a morte
chegar, que chegue. Um dos músicos dos Dolls sai da clínica e compra na hora
uma garrafa de uísque. O tio, meu vizinho aqui da banda, na Cidade Baixa, ele é
alcoólatra, passa o dia sozinho, quieto, na dele, bebendo sua garrafa de canha
com refri. Ele vai pra clínica com frequência, vai e volta. No dia que ele sai
da clínica, compra garrafas de Sete Campos e mistura com refri. Bukowski quase
morreu já que teve uma séria hemorragia no estômago; e daí o médico disse pra
ele: mais um gole e você já era. Um mês depois tava bebendo como gente grande.</span><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-59310714573189567362017-07-09T16:16:00.001-07:002017-07-09T17:59:52.219-07:00idiotices perigosas, mas com estilo <div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;"><b><br /></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;"><b>Coisas idiotas sempre rolam, mas coisas
idiotas feitas por jovens mini machos são muitas vezes perigosas. Fazer uma
coisa idiota e perigosa mas com certo estilo é o que chamo de sarcasmo:</b><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">O maninho tenta subir no capô de um carro
em movimento e quebra a clavícula. O mesmo maninho manda um segurança se foder
e todos os seguranças quebram ele. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Um idiota coloca o dedo no nariz pra ver
se tem pedrinhas de coca dentro; ele também mijava na mão pra tirar o cheiro de
maconha. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Cheirou tanto que morreu, mas foi
ressuscitado pelos paramédicos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">O carinha que quebra o para brisa do carro
com a testa em um acidente, quase morre, mas só se preocupa em esconder o pó já
que a polícia ia chegar logo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Ficou cinco dias acordado, mas dormiu
quando tava dirigindo e bateu o carro numa árvore. Acorda com a mão de uma mina
afagando o seu pescoço; ela perguntava, a mina: você está bem? Também tinha um
monte de gente em volta já que ele bateu na frente de uma loja de conveniência.
Ele saca o que aconteceu; não pensa duas vezes: pega a máquina fotográfica que tava
no banco do carona e tira fotos do carro; ele faz isso na boa e nem notou que tinha
quebrado o nariz. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Sete guris dentro de um carro em alta
velocidade, o motorista freia de forma brusca no sinal vermelho e quase rola um
acidente, e mais, conseguiu fazer isso ao lado de um carro policial; daí rola
uma batida. A polícia diz pra galerinha acompanhar eles, tavam presos; um deles
pensa: legal, a gente vai ser preso! <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Subiram terça de madrugada o morro.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">O carinha toma chá de cogumelo e resolve
ir pra casa. Chega lá e tem visita, os amigos dos pais. Ele se direciona pra
dar “oi” pra todo mundo, mas fica olhando o teto, já que o teto tava
derretendo. Percebe o que tá rolando e sai correndo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">No alto da Duque, naquele bar só de
traficante, os maninhos cheirados dão 200 gramas de fumo prum cara, pra ele
vender. Esse cara vai vender na rua abaixo, mas quando volta, diz que
assaltaram ele. Os maninhos ficam com cara de idiota. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Sete horas da manhã numa vila da Zona Sul,
a gente fuma um baseado com os trafis e um deles nos aponta uma arma; a gente
sorri e diz: legal cara, uma arma! A gente pode ver ela? O trafi deve ter
pensado: eles são idiotas.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Ficou sabendo que Manson, o vocalista,
tinha fumado ossos humanos. Foi numa vala de indigentes no cemitério, achou
ossos; quando chegou em casa, triturou e fumou.
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Depois de três overdoses, ele sacou que
podia tomar qualquer coisa, tinha corpo fechado. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Bêbado e muito louco deu um cavalo de pau
numa ruela qualquer e quebrou uma roda; continuou, deu outro cavalo de pau, quebrou outra roda. O carro não andava mais. Acordou em casa, lembrou dessa história,
mas não sabia se era real; olhou o carro e tava tudo na boa. Quando foi pegar o
carro, viu que as rodas eram diferentes das antigas. Ligou pro mano, que disse:
você trocou as rodas originais por velhas com uns caras duma oficina. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Agarra uma mina feia na casa noturna; tava
tão louco que abraça ela, diz que a ama, leva pra casa e a come. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Comia a traficante pra ter pó de graça. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Entra no banheiro feminino e uma mina tava
fazendo xixi; ela diz: não toca em mim; ele fica olhando. Depois dela mijar, ele a agarra e pede pra ela chupar ele; ela começa a abaixar a calça
dele, que diz: gata, não faça isso, não chupe o pau de qualquer um num banheiro
público. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Comeu a mina dum traficante. Dias depois tá
na Osvaldo, tava lá bebendo em uma roda com uns manos, e ele sente uma explosão
na cara e cai no chão atordoado; o trafi quebrou uma garrafa na cara dele. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Tava caminhando na rua de noite, vê uma
mina e a agarra a força, ela deixa, mas depois sai correndo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Bebe canha numa praça na frente do colégio
Julinho junto com moradores de rua. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Os gays velhos iam na pista de skate pra pegar
os garotos. Uns da turma só davam uma banda com os gays, que ofereciam maconha,
bira, pó; mas outros, faziam um programa completo. Com um programa já dava pra
comprar rodas novas pro skate. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Não sabia em que bairro tava, não sabia
quem era, e não tava nem aí. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; tab-stops: 137.65pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;"> <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Na casa de alguém, numa festa, entra no
banheiro com duas minas, e eles ficam se curtindo. Uns caras que tavam na festa
batem na porta e dizem: meu, você pode ficar com uma mina no banheiro, mas só
uma. Vinte anos depois, o mesmo cara tava na fila do banheiro dum bar na Cidade
Baixa; tinha essas duas minas na frente dele, e elas entram no banheiro, ele
entra junto. O banheiro era grande, com bastante luz. A mais bonitinha se
abaixa e faz xixi daquele jeito que elas fazem pra não tocar a bundinha no
acento. Ele olha ela e ri, ela olha ele e ri. A outra fica mais de canto, mas
tavam os três ali. Ele que era meio bobo beija a bonitinha. Ela diz de forma
sacana: ai, o gatinho quer carinho. Ele diz: olha só, tá no início da festa,
quero curtir mais um pouco, depois a gente faz o que deve ser feito. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Arrebentou a porta do ap já que tinha
deixado a chave do lado de dentro. É, teve que arrebentar já que tava com duas amigas
prostitutas e queria fazer a festa. Na mesma noite elas disseram: cara, a gente
podia trampar juntos, a gente faz programas no teu ap, você cuida também da
segurança, metade da grana pra nós, metade pra você. Ele não achou uma má
ideia, mas era muito novo pra pensar em grana.
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Tava em uma festa, Cidade Baixa de novo,
conversando com uma mina bem bonita. Ela diz: quero te comer agora; ele diz:
aqui não rola. Ela diz: vamos pra tua ou pra minha casa. Ele diz: vamos sim, e
vai ser demais, só quero resolver antes uns assuntos com um pessoal. Ela pergunta:
você é viado? Ele diz: não aluga, a noite é longa na minha casa. Ela diz: não
gosto de viados. Ele diz: ok, mas eu gosto. Depois disso voltou bravo pra casa
sozinho, se perguntava: como uma mina tão bonita pode ser tão idiota? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Esfaqueou a namorada. Depois disso ela
mostrava a cicatriz pra todo mundo e dizia com orgulho: isso foi uma prova de
amor. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Naquele bar na parte alta do Centro, ele
ia com a mina, eles tomavam umas. Como o bar era cheio de gente, os dois
simplesmente saiam sem pagar. Só que um dia, nesse bar, ele cheirou uma paranga
que tinha comprado ali no Mercado Público; ele cheirou no banheiro e desmaiou,
acordou e caiu fora. Não sabia que veneno de rato era a nova onda. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-23770652727596152432017-06-24T15:52:00.004-07:002017-06-26T08:40:11.136-07:00por uma teoria suja <div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"> </span><span style="font-size: large;"><b><span style="font-family: "times new roman" , serif;">Cartinha
de Amor para Maceduss</span><span style="font-family: "times new roman" , serif;"> </span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">......................
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Pintou
sujeira, rolou sujeira, o sujeira tá na banda, seu sujo, seu imundo, seu porco.
Um texto científico deve ser limpo, o mais possível. A cidade tem que ser
limpa, a casa limpa, o corpo limpo, perfumes, pratos especiais. Da Vinci odiava
a sujeira da peste. Acabaram com as Passagens de Paris. Prefiro bombas de
efeito moral desde que saia do cú de um porco. O Rio Sujo é nosso cenário de
fim de tarde; sujo, podre, com urubus e peixes mutantes que apenas os urubus
comem. Um urubu come carniça já que tem estômago forte; gosto mais de um bom
fígado. Mijam na rua, no Centro, o cheiro é delicioso. Os crakeiros são nossos
vizinhos. Os moradores de rua, sujos, os guardadores de carros, sujos, são
nossos amigos. Os pombos, ratos com asas, a gente tira foto com eles, ali na
frente da Prefeitura. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">........................................
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">João
Gordo não tomava banho e os caras do Sepultura, na boa fase, eram moleques
podres. Johnny Rotten. GG Allin o grande sujo. Dirty Harry. Os Skrotinhos.
Fresh Fruits for Rotting Vegetables. Porcos em decomposição nos shows de bandas
de Black. O viciado em morfina não toma banho. Dar o cú é algo sujo, suja o
lençol. A gente lambe elas e elas nos lambem sem que a gente e elas, sem que
todo mundo tome banho. Catarro tá ali dentro, pronto pra ser jogado na calçada.
Merda tá ali dentro, mijo, suor, uma hora saem de dentro, mas ficam a maior
parte do tempo dentro. O ciclo de merda de um filme do Pasolini. Feios sujos e
malvados. A gente ficou uma semana sem tomar banho já que tava rolando a festa.
Porcos, galinhas no galinheiro. Santa Bosta de Vaca; Deus Cogumelo. Maconha
fungada. Chocolate com pelos de rato, gosma de barata, larvas. O maninho que
trampa no McDonald's cospe no Mac Lixo Feliz; viva Bob Cuspe!</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;"> ............................................................
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">O
Mano chega com uns lances vermelhos na boca, lambeu uma bocetinha da onda
vermelha. Chuva vermelha, porra perolada, chuva negra; cospe em mim! Minha
namorada trabalha na rua e chega em casa com aquele cheiro depois de dar pra
todo mundo. A estética da fome, a estética daquele que não toma banho já que
não tem banheiro público com chuveiro. Se dão o cú no Centro naquele banheiro
público, porra os caras podiam meter uns chuveiros ali. O gari que limpa a sujeira
é sujo. Toneladas de comida em decomposição. Estamira, a estrela do lixo mais
famosa do Brasil. Pau no cú do Joãozinho Trinta, lixo não é espetáculo seu
Trinta. É, nazismo que era limpinho, asséptico, com aqueles cabelos ridículos.
O presidente faz plástica pra ficar com visual mais limpo. O museu, a galeria
são hospitais? Pelo menos no hospital a gente pega infecção hospitalar. Menos
pior. O mauricinho lava o carro. O hipster tem a barba mais limpa.
Aromaterapia. Cheiro de café quentinho, cheiro de infância; infância, sua puta!
A gente prefere Iggy Pop, que tirava meio quilo de ranho do nariz e comia, e a
mulherada adorava. Gostava dos abcessos no braço do Dee Dee Ramone. Queria dar
um beijo no rosto do Lemmy quando ele tinha furúnculo na cara. Queria beijar a
boca dela: meu herpes com o dela. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">..................................
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Maceduss
só fala palavra de ordem, repete os mesmos clichês faz anos. Ele era amigo
daquele que Te Meteu o Pinto. Maceduss queima filme,
Maceduss é nóia, Maceduss é lixo; saco de lixo na cara suja, pra esconder a
cara suja. Maceduss chama atenção da polícia, daí a gurizada não
gosta do Maceduss. Maceduss passa a mão na bunda de todo mundo. Maceduss nunca
será Marcos, nem Anonymous. Maceduss é viadinho, não dança nem pega mulher.
Maceduss é um tipo de paródia de merda de Debord; sub situacionista. Maceduss é
tão ruim que toca menos que Sid Vicious. Maceduss é a nossa vadia. Todos somos
vadias, dizem as minas da marcha; é, todas são Maceduss. Mas quando não resta mais nada, a música morreu, eis que
surge: Maceduss.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;"> ................................................................
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">O
noise existe pra que a gente não morra... de tédio. A voz da Madonna, ela podia
calar a boca quando eu meto nela. Fazer barulho com estilo é o que chamo de
noise. Noise pixa a música. Noise é sujeira não é música. Pra que a gente
precisa de música se tem o noise? Black Metal Lo Fi, pedal de distorção virou
coisa de criança, som industrial, britadeira no ouvido, gutural de pulmão
sujo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">....................................................................
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Pureza,
coca pura, anfetamina pura, codeína pura, corpo podre e sujo, e quanto mais,
melhor. Nariz sangrando, veias que já eram, fígado que já foi. Matar células,
acabar com a saúde, é melhor que parque de diversões. Mete o pó, mete o noise,
faz a mão e FIM.</span><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-8388157208629220632017-05-26T15:56:00.000-07:002017-05-27T06:53:54.116-07:00....<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Já tentei inúmeros tipos de estilos desde
quando comecei a escrever. Meu primeiro trabalho era de contos sobre realidades
delirantes. Em determinado momento escrevi um livrinho de poemas conceitual,
com linguagem de rua, mas que não funcionou e ficou esquecido. Amadureci meu
trabalho com um livro de crônicas, também conceitual, que se centra em minhas
experiências principalmente na adolescência. [........] O estilo deste livro
difere do estilo das crônicas do terceiro capítulo do livro anterior publicado
neste volume, mas há proximidades. Como já disse na primeira parte do outro
livro, este é uma linha de fuga, um aumento de território, a tentativa de
produzir o descontrole, de enlouquecer pelo menos na língua. Deleuze fala em
gagueira, estrangeirismo na própria língua [.....] Aqui fujo da língua
dominante dentro dela; e gírias, expressões de rua mostram a sua maleabilidade.
Certas turmas em certas estações, certos guetos em certas estações, os jovens,
os marginais, os drogados criam expressões que só têm sentido para eles nesses
momentos, e o que eles fazem, é poesia, considerando poesia como um devir menor
da língua. Eu uso aqui muitas expressões dos inúmeros guetos que pertenci, e
aliás, mesmo sendo doutor, eu não consigo fugir de certos vícios de linguagem
de rua, quando falo, seja em aula, palestra, o que for e que se foda. [........]
E não só em relação às expressões, alguém chapado de maconha, morfina tem um
ritmo de fala diferente, mais lento, pausado, baixo, calmo. Alguém louco de
cocaína ou anfetamina tem uma fala rápida, dura, sem respiração, direta [...]
Quem está louco de coca não quer parar de falar, por isso, conta histórias em
detalhes, os mínimos detalhes para prolongar ao máximo a fala [....] Ele, o
cheirado, não quer contar uma história quer apenas falar. [...] Membros da
trupe de Andy Warhol gravavam conversas presenciais ou por telefone loucos de
anfetamina. [................] A ideia
do texto que segue surgiu quando eu com frequência comecei a pensar em frases
sem sentido. Me perguntei se seria possível escrever algumas páginas com frases
do tipo. Fiquei espantado que escrevi de forma fluida o que será apresentado
posteriormente. [........] Há um ritmo em todo o texto, variações, mas todas as frases foram escritas e editadas para serem lidas, apresentadas em voz alta. A
linguagem da rua é a fala, dificilmente é atualizada na escrita, por isso a importância
da poesia, registrar esses fluxos linguísticos. [...............] As frases
absurdas que compõem o texto, mesmo as mais absurdas, que talvez sejam
impossíveis de serem lidas, foram escritas de tal forma que posso declamá-las.
No trabalho de revisão, e foram muitas revisões, manter o ritmo foi central. Ou
seja, as frases não foram simplesmente jogadas no texto, elas passaram por um
tratamento rigoroso. [........] Todas as frases são curtas. Frases curtas
permeiam meu trabalho literário. As frases curtas ajudam no ritmo; é mais fácil
de narrar, ler, uma frase curta; e como as frases são absurdas ou se conectam
com outras de forma absurda, quanto mais longas, mais difícil seria de manter esse
ritmo. Sempre achei pequeno burguês frases longas, escritas por aqueles que têm
total domínio textual, que se permitem escrever frases de muitas linhas para
mostrar seu domínio. Textos escritos para pequenos burgueses, os que que
conseguem manter a leitura de frases que nunca acabam. [.....] O carinha de rua,
o jovem, o marginalzinho, ele fala rápido e muitas vezes essa fala é composta apenas
de gírias, expressões de rua [......] No texto há graduações de absurdidade, de
falta de sentido, essas graduações se referem às experimentações, ao mapa que
fui montando, pequenas diferenças internas, as quais busquei, mas sem sair do
conceito do texto. Me perguntava: quanto posso enlouquecer, quais novas linhas
traçar, mantendo o conceito? [........................]
O texto é dividido em blocos, os blocos não narram histórias, há muitas frases
isoladas, que não se ligam a outras, porém, algumas frases se conectam a partir
de um possível sentido. Há um narrador, alguém, uma primeira pessoa que fala
para outros. Há sujeitos, algo como personagens, mas eles não agem, não tem
história, são citados a partir de um humor peculiar. Há humor, e muito, pelo
menos para mim. Também estão presentes alguns elementos de cultura pop, cultura
drogada. Palavras de baixo calão estão em todos os blocos, além de gírias e
expressões de certos guetos de jovens e drogados – aliás, se histórias forem
buscadas em certas partes podem ser encontradas, pelo menos por mim, e são
histórias referente à sexualidade livre e ao uso de drogas. O texto pode ser
recortado, como se quiser, pode ser lido de qualquer forma: é um caos, mas
organizado... Ele foi finalizado quando atingiu o tamanho mínimo de um livro de
literatura já que talvez nem tenha sido feito para ser lido. [....] Mas como
disse: o texto não é espontâneo, não são
palavras jogadas na tela. Escrevi com calma, li e reli, reescrevi, tirei muita
coisa, coloquei coisas novas. É necessária uma tal rigorosidade para se criar
um trabalho absurdo e caótico, considerando que quem escreveu “Diego este que
fala” é um bom cidadão, criado na academia, doutor. E mais, considerando que
tenho experiência na escrita, que não sou naif sempre estudei literatura e
artes, sei que tentar enlouquecer na arte pode se transformar em qualquer coisa.
Esse tipo de exercício é importante, já que se realiza em um meio em que posso
enlouquecer sem ser preso: a literatura; ou seja, é quase medicina. [....] E
isso já permite um grau de loucura para o leitor. Se alguém enlouquece na rua,
na sala de aula, em casa, no trabalho, pode ser preso, mal visto ou internado.
Gosto de ser mal visto. Enlouquecer é buscar linhas de fuga dos padrões – a
prisão – dominantes. Enlouquecer na escrita; um pouco de ar, vida – louca vida.
</span><span style="font-size: 12pt;"> <o:p></o:p></span></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-7687136409812835432017-05-13T16:13:00.001-07:002017-05-13T16:29:54.712-07:00curtições <div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Dia
de semana, fim da tarde; notei alguns caras – o que me pareciam guardadores –
em volta de dois carros. Notei que eles olhavam para dentro dos carros. Voltei
a escrever e no cigarro seguinte fui para sacada, e tive a sorte de ver os dois
carros, grandes, caros, serem abertos no mesmo momento; e mais, saíram no mesmo
momento. Obviamente, foram roubados por aqueles que estavam em volta deles. Mas
o mais importante, me perguntei se eu delataria uma ação desse tipo. Carros
caros, comprados por cidadãos de bem, gente próxima a mim, roubados por ladrões
de rua. Eu não tenho nenhum apreço por ladrões profissionais, que desejam ser
ricos, como não tenho por banqueiros, políticos. E quanto ao cidadão de bem,
que compra seu carro com esforço, um dos grandes bens de sua vida? Tenho algum
apreço por ele? O defenderia daqueles que precisam, ou mesmo querem, ir às ruas
para roubar? Deleuze e Guattari eram ladrões profissionais, e os admiro. Eu sou
um ladrão pé de chinelo, e não estou procurando ser admirado. Sempre quando
ouvia a palavra “doutor”, ficava com medo, pensava: alguém muito importante
está próximo. Hoje, ser doutor para mim significa muito pouco. É interessante
como o empresário cheirador de pó, yuppie, o pesquisador alcoólatra, a dona de
casa que toma valium, como esses são tão bem aceitos socialmente; o que não
acontece com o ladrãozinho pobre que rouba para manter seu vício. O empresário
se orgulha de si, se sente feliz por não ser um ladrãozinho. O intelectual se
considera especial, por pensar o mundo, como se pensar fosse algo restrito a
poucos. E eu estou no meio disso, não estou livre, sou mais um; melhor, menos
um. Rimbaud dizia que era um negro. O Beatnik era negro, melhor, white negro.
Os White Phanters queriam ser negros armados. Negri foi um presidiário. Deleuze
foi um fraco, suicida; Hemingway e Thompson também. Bukowski, o vagabundo; os
ladrões, viciados, gays como Burroughs, Jim Carrol. Vagabundos, presidiários, michês,
suicidas, ladrões, me sinto bem com eles. [.......................] Há toda
essa tradição, na literatura, no cinema, na música, nas artes em geral que
tratam do excesso, da vida em excesso, dos prazeres diferenciais. Na literatura
para citar alguns: Baudelaire, os Beats, Bukowski, o Gonzo, Piva, Huxley,
Artaud, Pepe Escobar, Breton, Blake. Os Beats são centrais pelo contado deles
direto, físico com a contracultura norte americana. Burroughs, o Beat com mais
idade, é considerado pai da arte pós-moderna. Sua escrita era tão radical
quanto seus excessos. Kerouac, o
escritor desse livro tão importante para a geração da contra cultura, On the Road,
produziu uma escrita que está na borda entre realidade e ficção. A vida dele
era tão rica que se negou a escrever algo além dela. Kerouac ajuda na escrita
etnográfica, já que ele fez seu trabalho de campo pelos Estados Unidos e o
narrou em seus livros. Bukowski se irmana a Kerouac, já que ambos mostram
realidades duras, da estrada, da pobreza, da narcose, do alcoolismo. Se os escritores apresentavam eles mesmo suas
loucuras em suas obras, as vidas de muitos músicos, tão loucos quanto, são
expostas principalmente pelo jornalismo alternativo e cultural. Documentos
sobre os músicos que surgem a partir do sessenta – talvez o início de uma tradição
de suicidas, drogados, sexualmente perversos – são muitos, em formato de vídeo
e texto. São tantos, que afirmam o
fascínio por essas vidas singulares. No rock é muito comum a criação de guetos,
micro fascismos; muitos fãs se apegam a um estilo e rechaçam todos que destoem
desse estilo escolhido. Porém, no que diz respeito ao excesso, estilos
diferentes se ligam, há esse comum entre a psicodelia, o pré punk, o punk. O
pop vende a imagem do artista belo, jovem, saudável, o pop é uma música para o
bom cidadão. Entretanto, são muitos os artistas vendidos dessa forma, mas que
têm vidas desregradas. No rock, marginal, o estilo de vida desregrado é
mostrado de forma descarada. E como já
me perguntei no livro algumas vezes: por qual motivo valorizam essas vidas que
parecem não ter valor? Vício,
abstinência, prisão, temporadas em manicômios, ressacas longas e duras. O que
todos eles mostram é que a vida cotidiana é insuportável, por isso, preferem os
excessos mesmo que sejam extremamente dolorosos. É melhor o risco da morte do
que a vida das pessoas comuns. E não fazem isso para se ser uma pessoa
especial, já que um viciado não é alguém especial é um pária; e mesmo se é
glorificado pelo que faz, ninguém ficaria feliz em ser um. É comum dizerem que
as drogas ajudam na criação. Talvez em certo momento, antes da prisão do vício.
Fascina muito mais quem está de fora, o fã, do quem está por dentro, o viciado
pesado. </span><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-53093392148561426842017-05-12T16:07:00.000-07:002017-05-12T16:07:31.441-07:00tomações <div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">No fim da tarde, quando começa a
escurecer, a vista fica mais bonita, com as luzes dos prédios. Agora, pessoas
se reúnem em grupos pequenos no Largo; alguns fumam maconha. Depois da hora de
pico os carros passam com mais velocidade. Como estou sem internet, a vista é
minha tela. Fiquei dez anos no ap. antigo. Fiz as contas e o que gastei de
aluguel – nesses dez anos – daria para comprá-lo. O mais curioso é que eu
estava para locar um outro apartamento, que coincidentemente era da mesma
proprietária desse ap. antigo. Talvez ela tenha comprado o imóvel com o meu
dinheiro; e eu continuaria sendo sugado por ela. Aprendi na prática como o
inquilino está à mercê do proprietário. Porém, há uma liberdade em alugar, não
ter um imóvel, ter pouco, não ter laços fortes, isso para mim é importante. Ter
pouco a perder, essa é a alegria do vagabundo. Ele tem seu corpo, sua
linguagem, seu carrinho, seus desejos. [.................] A Cidade Baixa é um
dos bairros de Porto Alegre com maior número de moradores de rua. Aqui na
frente, numa praça junto ao Largo, se reúnem muitos deles. No bairro, uma
mulher que pede esmolas volta e meia desaparece e reaparece. Em 15 anos vi ela
grávida inúmeras vezes. Na República, uma das ruas mais bonitas da Cidade
Baixa, há um outro morador de rua, com idade avançada, que está ali faz uns
seis anos. Também o bairro tem muitos guardadores de carros, jovens, que
possivelmente não têm moradia. Além disso, junto a um conjunto habitacional,
faz alguns anos, um grupo grande passa o dia junto a colchões e colchas velhas.
O bairro também conta com um albergue popular e seu entorno (do albergue) reúne
essas pessoas que possuem apenas o que podem carregar com as mãos. E mais, o
cartão postal da cidade, nos últimos tempos, aglomera tendas em toda sua
extensão, se tornou espaço dos que não têm casa – é o Viaduto da Borges, que
fica a três quadras daqui e o veria se não existissem alguns prédios que tapam
a vista. A prefeitura volta e meia desaloja o pessoal, mas eles sempre voltam.
Interessante é o fato de que o Viaduto já foi palco de batalha entre
manifestantes e polícia, principalmente em 2013. [.......................]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Em 2013 jovens saíram do Centro e vieram
até o Largo. Ali, lutaram contra a polícia, depredaram carros e edifícios.
Nessa época, eu e um amigo, numa segunda feira, estávamos no local, em um
encontro de um coletivo libertário. Meu amigo queria tomar uma cerveja; eu
disse: vamos, mas depois voltamos. Atravessamos a Perimetral e vimos junto a
uma praça um bloco policial, todos policiais armados e em posição de ataque.
Passamos por eles. Os policiais, por fim, não agiram contra o coletivo, mas
como a cidade estava “muito quente” na época, eles faziam o controle. As
brechas na cidade não são poucas. O controle não é absoluto na cidade pela
própria estrutura dela. O poder quer que as linhas de fuga não existam, mas
existem. [........................] O nojo dos cidadãos para com os moradores
de rua mostra quem eles – os cidadãos – são; odeiam qualquer coisa que macule a
cidade que deve ser higienizada, modelada – é, eles desejam o controle. Os moradores de rua, são os sujeitos da vida
nua, despida de bens, eles praticamente não consomem, não tem moradia, são
feios e sujos, vivem do lixo. Mas são uma das diversidades do tecido urbano.
Não é uma pobreza voluntária e esse é o problema. Porém, a riqueza deles é algo
que deve ser mapeado. <b><o:p></o:p></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">.................<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Essa
minha relação afetiva com a cidade é muito antiga. Quando comecei a usar
maconha – diariamente, três, quatro, cinco, mais baseados, isso com treze anos –
gostava de fumar principalmente, antes da aula, de manhã, e enfrentar a rua;
era o primeiro “beque” do dia e assim fazia efeito. Eu gostava de contemplar,
sentir o início do dia chapado. Eu pegava ônibus, ficava na janela e olhava
para a rua como se estivesse vendo um filme. Curtia, também, quando ia fumar
com meus amigos mais velhos de carro. Era a mesma sensação, o para-brisas como
tela. Quando estava sentado do lado do motorista, ficava olhando o espelho
retrovisor que parecia uma pequena televisão. [..........................] Minha
primeira crônica foi sobre o trecho de uma estrada que vai de Porto Alegre até
uma cidade vizinha; minha primeira reportagem foi sobre a noite na cidade. Na
monografia trabalhei com a vagabundagem urbana. Parte da tese dediquei à cidade
de Barcelona. [............] A questão afetiva sempre moveu meus trabalhos, por
isso, não me encaixo na identidade ideal de pesquisador, de cientista. O que
move meu trabalho, sempre, é o afeto. Considero que é impossível pensar o
mundo, a sociedade em que vivemos, sem sentir dor, medo, frustração e, até
mesmo, um sentimento perigoso como o de insuportabilidade. Mas, como as linhas de fuga estão sempre
agindo, como a multidão produz, resiste, deseja, pensar nisso permite afetos
nobres, como paixão, alegria. E como ou por qual motivo abstrair isso – o afeto
– se está sempre presente? Falar de forma aberta, franca, demonstrar os
sentimentos, não se perder em uma assepsia própria a ciência é uma falha, um
erro? Sim, é um erro, mas eu gosto de errar. Quando falo “eu” (e isso é
frequente aqui) afirmo minha posição afetiva, tento fugir da fala impessoal
acadêmica; mas obviamente ‘eu’ não diz muito. Dizer “EU” é rotular, criar uma
fotografia que nega os fluxos, as conexões, os agenciamentos. O livro está
cheio de memórias pessoais que dizem respeito a esse “eu”, mas foi a forma que
encontrei para pensar certos coletivos e os processos que passam as cidades. Como
já disse, há contradições no meu trabalho, claro, pois é uma experimentação. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">.......................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">[....................]
Como havia pessoas no pátio dessa ocupação aqui perto – que eu estava rondando
faz um tempo – eu abordei o pessoal e disse: olha, eu pesquiso okupas, eu
passei aqui na frente inúmeras vezes, vocês devem ter me notado, estava com
vergonha de me aproximar de vocês, já que eu sei que o pessoal antissistema não
gosta de pesquisadores, mas gostaria de falar com um de vocês, fazer perguntas
sobre o funcionamento do espaço, como ele está sendo gerido [..............] O
coletivo, no momento, era formado por garotas, já tinha notado que a maior
parte dos membros eram mulheres. As garotas me interrogaram e muito, disseram
que eu deveria saber que eles não são abertos ao diálogo, pelo menos com gente
como eu, um pesquisador. Notei que elas estavam incomodadas com a situação.
Quando vi que não haveria realmente diálogo eu disse: peço desculpas por ter
vindo aqui, não vou mais passar na frente do espaço, admiro vocês, que vocês
fiquem bem e que dê tudo certo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">........................................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">[...................]
As pessoas pensam sempre no futuro, desejam um bom mundo, mas que sempre está
além e, por isso, não dão importância para o que está acontecendo, agora no
presente. E o que é o presente? Tempos diversos sempre estão interagindo. O tempo
do drogado não é o tempo do bom cidadão. O tempo em uma okupa funciona de forma
diferente do tempo em uma empresa ou escola. Qual presente? [.....................]
A revolução Contra Cultural aconteceu faz quanto tempo? E não foi apenas
cultural, uma revolução de costumes – não há como separar cultura de política –,
foi uma luta contra o poder reticular, as disciplinas, os dispositivos de poder
atualizados: no chão da fábrica, na universidade, nas relações parentais, na família
como destino obrigatório, no Estado de Bem Estar que estancava as lutas mais
radicais, no patriarcado, nos gêneros e na sexualidade, no racismo, na guerra
as drogas.................. [........................] As lutas moleculares de 68 atingiram as malhas
do poder e o mundo não foi mais o mesmo; direitos foram conquistados; porém o
poder, tomou outras formas, mais capilares. A empresa modulada,
desterritorializada, impediu a luta dos trabalhadores. As minorias se tornaram
consumidores e produtores. O poder transcendente, mais localizado, os termos
dominantes que se sobrepunham a termos menores, ficaram mais fluidos, imanentes.
A sociedade de controle abarcou todo o social. Se na sociedade disciplinar
ainda existiam buracos, brechas de subversão, na sociedade de controle o poder
começou a aparecer em todo o lugar. Os cidadãos, todos, viraram policiais, de
si e dos outros. Formas novas de opressão surgiram. [.............................]
Uma das formas de opressão é exatamente a negação de que estamos em outro
paradigma, faz muito tempo. Qual presente? Ainda usam conceitos de outros
paradigmas para pensar o presente. As dicotomias correm soltas, como se o mundo
fosse uma coisa simples, uma luta de opostos que leva para um bom futuro. As dicotomias
ainda correm soltas: homem x mulher, inteligência x idiotia, loucura x sanidade,
riqueza x pobreza, trabalho x vagabundagem, norte x sul, ciência x empiria, público
x privado, frieza científica x paixão artística, indivíduo x massa, eu x o
outro, direita x esquerda. Isso é o óbvio, o que todos veem, muitos só enxergam
isso. Só que eles não entenderam as lutas de 68 e desconhecem as lutas em rede
que começaram com os Zapatistas. Eles desconsideram as análises de poder de Foucault
(o velho, mas sempre presente Foucault), não entendem o trabalho de Deleuze,
nunca leram Negri. E não por falta de inteligência; eles não suportam a
insegurança que o trabalho do pensamento da diferença produz, já que este mostra
um mundo caótico, deliciosamente caótico. Usam bases intelectuais de um
paradigma para pensar outro. Ou seja, se loucura é estar fora da realidade,
isso é loucura. Qual presente? [.....................................................]
O idiota não é alguém com menos saber, não há problema em ter menos saber. Idiotia
é amar a segurança ao ponto de não querer enxergar o caos, e o caos é o mundo. O
pensador privado em sua sala, aquele que pensa, se vê como um indivíduo, que
gosta de ser visto como um sujeito pensante, dono de suas ideias, autor, ou
seja, o gênio moderno, se ainda existe, não consegue ler Deleuze, já que ama
sua segurança, sua vidinha pequeno burguesa. Ele, o que faz é apenas dar certa consistência
para o que pensa, pensamento que na verdade é só reflexo do senso comum. Se acha
especial por conseguir falar e escrever o que pensa, mas como disse, ele pensa
como todos, é tão moralista, conservador, idiota como todos; só é um idiota com
um capital. Como pouquíssimos conseguem fazer isso, ele se acha diferente dos que
não escrevem e falam de forma articulada. Ele gosta de pensar e falar muito e
sempre, ou seja, extensivamente, não intensivamente, por isso, não há diferenças
de natureza entre um idiota que não escreve e um idiota que escreve, só
diferenças de grau. [..........] O que pouco veem e o que o “intelectual” não vê
é o caos. Para ele, caos é uma expressão pejorativa, idiotia é sua forma de se
impor em relação aos outros, loucura é o que ele detesta já que é um moderno,
racional. Mas idiotia é o bom senso; caos é a beleza do mundo, que deve ser experimentada
com certa cautela; loucura, esquizofrenia são marcas do pós-moderno, são possibilidades
de alegria ou expressões do poder. [.................................]. Os movimentos
em rede não precisam ler Negri já que sabem muito bem o que Negri pensa. Deleuze
e Negri já fizeram o trabalho de leitura e contextualização de Marx, Espinoza, Foucault,
Bergson e tantos outros. Apenas o “gênio” moderno – que vive faz décadas na
pós-modernidade e não sabe – que tentaria se colocar ao lado de Negri e fazer
sua leitura de Marx para pensar o paradigma atual. [..............] Contra a
segurança, dura, linha dura da mentalidade velha e cansada, contra isso temos a
leveza e a liberdade da criação de conceitos novos. “O velho tem que morrer” é
uma palavra de ordem dos setenta, mas faz tempo que morreu; e muitos tentam dar
vida ao cadáver. [...........]. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">...................................<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Em Porto Alegre, nos últimos tempos, a
mobilidade ficou mais fácil, a partir de muitas ciclovias criadas. Está na moda
se locomover de skate, bike e roller. E me parece que isso faz parte da moda hipster.
O hipster difere dos que estão na moda, é alternativo; porém ser hipster é uma
moda, mesmo que dita alternativa. Para ser um tem que se estar dentro de certos
padrões. O hipster é ligado em arte e cultura de massa cult; tem interesse em
gastronomia. Visualmente, a partir de suas roupas, se percebe um sem
dificuldades: barbas longas, cabelos alinhados, camisas de manga curta com
colarinho apertado e bermudas (ambas com adornos psicodélicos), tênis social,
óculos enormes. Durante mais de um ano, ao menos em Porto Alegre, foi usado por
homens um tipo peculiar de corte de cabelo: Razor, uma imitação do corte dos
samurais. Todos os hipsters o usavam. Da mesma forma que surgiu, o cabelo razor
despareceu, de uma hora para outra. A Cidade Baixa é o bairro hipster de Porto
Alegre. Aqui há os cafés com bebidas não alcoólicas especiais, os
restaurantes-bares com comidas, feitas de forma criativa, e cervejas
artesanais. Além disso, o bairro tem inúmeras casas noturnas com som chamado
alternativo. O bom gosto gastronômico aliado ao bom gosto musical. Nos últimos
meses em Porto Alegre e, claro, na Cidade Baixa, começaram a aparecer centros
de moda hipsters. Neles se faz o cabelo, a barba, tatuagens, se toma cerveja e
se come. É uma moda tão pegajosa que é difícil não ter certos atributos da
identidade hipster, tanto que há hipsters que odeiam ser chamados de
hipsters. Quanto a questão da
mobilidade verde, aliada de um certo repúdio a grandes empresas, marcas dos
hipsters, isso diz respeito a um tipo de anti-capitalismo, a uma questão
ecológica, portanto, desvios de certas normas dominantes. Mas o Hipster se
desvia da norma para criar uma nova norma. Ele é o bom cidadão das redes
sociais, ele vai às ruas, luta por seus direitos, milita como pode, é o sujeito
controlado, mas que vive como se tivesse um grande grau liberdade. Ele se sente feliz por lutar por um bom
mundo, acredita que está construindo um bom mundo possível. Se sente feliz por ser quem é: politizado,
com uma moral elevada, além de ser alguém diferenciado. O barulho que faz é
pouco, não abala em nada os códigos dominantes; esse barulho não passa de uma
resistência incluída, ou seja, não é resistência. Se o cidadão está feliz, não
incomoda. E se ele sente feliz por ter um sentido em sua vida, ele pode dizer:
eu vivi, eu lutei, eu busquei um bom mundo, sou uma pessoa especial. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">................</span><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1643420174525207766.post-8182807975900010492017-05-11T20:07:00.001-07:002017-05-11T21:44:08.073-07:00sacações <div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 200%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">[..................................]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Dessubjetivar com drogas, que é um tipo de
dessubjetivação, mas a partir de outras linhas de fuga e devires, faz parte da
ética dos drogados. Dessubjetivação é uma questão ética, o sentido de uma vida,
a forma mais importante de resistência. A cartografia não é uma questão apenas
intelectual, e não precisa ser: um disco, um livro, uma transa, uma tomada da cidade, a relação com a
droga podem ser mapas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">[.............................................................................]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">E obviamente quando falo em loucos, em
enlouquecer, estou falando em fluxos esquizos, experimentações de modulações do
caos, que são os mapas, aumentar o território, dessubjetivar. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">[......................]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Há um comum [....] que aproxima marginais,
coletivos libertários, artistas, filósofos, cientistas; esse comum concerne a formas
de viver e pensar o mundo, que não deixam de ser também políticas, já que
viver é uma questão ética, estética, não de sobrevivência. Penso que a não
aceitação do controle, a luta contra ele, é esse comum. A luta contra o
controle é o ponto de partida para experimentações, criações de linhas de fuga.
E as linhas de fuga possibilitam uma percepção ou experimentação do molecular. Essa
percepção move este trabalho. Esse comum também toma uma forma mais direta, quase física: certos artistas, da linha
romântica, aqueles que viveram e muito, e muitas vezes isso está mais que
visível em suas obras, foram marginais e influenciaram coletivos
libertários. Muitos desses coletivos têm
contato direto com teóricos. Teóricos libertários foram
influenciados por artistas românticos e vice versa; e muitos desses artistas
são teóricos, e certas obras do campo do conhecimento são obras de arte
romântica. Essas proximidades se devem já
que, como disse, há uma questão existencial que os aproxima. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">[.............................................]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Deleuze não inventou a percepção
molecular, deu um nome a ela, essa percepção tão especial que nos permite
fugir, devir outro, enlouquecer. E quanto a fuga, a linha de fuga: Deleuze não
inventou a fuga da prisão, nem o rap nos presídios ou o baseado antes do café
da manhã. [........] Uns chamam a potência da vida de “aquele momento em que
faço sexo com minha 'Garota Mágica' e parece que meu coração explode”, outros
de “quando estou dormindo, junto a 'Ela' e [......................] <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">[.................................]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Perceber que até o funcionamento do corpo
é uma prisão [......] que a cidade é uma prisão, que fazer parte de um povo é
estar preso a sua identidade, perceber que ser homem, branco racional é uma
prisão, que uma família, escola, empresa são prisões, perceber que o sexo pode estar centrado em tarinhas de almanaque, que quando se delira
muitos dos delírios são apenas neuroses presenteadas pela espetacularização da área
médica, perceber que os porcos pensam, são racionais e têm bom senso, muito mais do que a maioria dos humanos, que prazeres são vendidos no atacado, que mesmo a
luta na rua pode afirmar o modelo político dominante [..........................]
Perceber tudo isso pode levar a impotência ou a abolição. [....] Negri e Deleuze
criaram esses conceitos que são linhas de fuga em relação a tudo isso, que nos
mostram o vitalismo , possibilidades de formas de vida não
capturadas; conceitos que afirmam a crítica total e radical e ajudam a
enfrentar o encarceramento ao ar livre. E para compreendê-los, os conceitos, se
necessita ativar a percepção molecular. E como ativar? Vivendo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">[..............................]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Importante reconhecer as significações
dominantes, em nós, na vida, na sociedade e traçar as linhas de fuga, isso é a
cartografia, uma dessubjetivação em constante processo: não sou mais tão idiota, mas permaneço idiota. E deve permanecer, importante
ter um pouco de segurança. Idiota
não é uma pessoa, como o crítico da idiotia não é uma pessoa; percepção
molecular e idiotia não são duas coisas separadas isoladas, são linhas de um
agenciamento. Mesmo ao produzir crítica podemos estar afirmando o
controle, o descontrole pode muitas vezes se confundir com o micro fascismo,
por isso a cartografia. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">[................]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Sim, eu sei ler, escrever, interpretar,
muitos não conseguem dar consistência para o que pensam, mas isso não me torna
especial, já que muitos fascistas, seres
sacanas, sabem ler, escrever e interpretar; e fazem isso melhor do que eu.
Talvez o que eu faça bem seja esse processo de despersonalização em que “Eu”
não diz muito, diz muito pouco. A despersonalização não exige inteligência,
genialidade e, sim, abertura ao caos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">[........]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">O comando central é desnecessário já que
as regras e normas circulam livremente: sabemos as formas “corretas” de sentar,
nos portar, caminhar, falar, urinar, cagar, nos alimentar, fazer sexo. Sonhamos
com um futuro, acordamos de manhã, dormimos à noite, regramos os excessos, nos
vestimos, amamos, conversamos, trabalhamos, estudamos, festejamos, ficamos
felizes, nos submetemos [....] fazemos tudo isso,
e muito mais, naturalmente. Sim, todos sabem disso, mas estou falando obviedades já
que é divertido rir de tudo isso,
dessa vida de rebanho afirmada duramente.
Fazer sexo, ter prazeres, amar, e muito mais, são obviamente importantes, o
problema é quando há uma forma correta de fazer isso e os desvios são
rechaçados. A forma correta une as pessoas, e isso é muito diferente do comum
que é a base da tradição romântica, marginal [....] A grande importância social dessa tradição é mostrar que a vida pode
ser tão bela, melhor, tão interessante, quanto uma bela, melhor, interessante
obra de arte. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">[........................................]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Posso apresentar muitas palavras de ordem
que dizem respeito à base de dispositivos de poder, ao senso comum do bom cidadão: “é um policial,
então mostre os documentos”. “É um pai, um
padre, um patrão: respeite”. “ Faz frio: se agasalhe”. “É uma vida, a sua:
não se mate”. “É um drogado, um traficante: fuja”. “É uma rua: caminhe na faixa”.
“São sete horas da manhã: acorde”. “Está tarde: durma”. “É sexta: fique
feliz”. “Fuja da pobreza”. “Ele leu muitos livros: é um bosta de intelectual, o
respeite”. “Está com fome: coma”. “Não fume: é proibido”. “Ame a vida. Seja
feliz”. “Está com dor de dente: vá ao dentista”. “Seja de direita ou de
esquerda.”. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">[.........] <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">A arte cria um
outro mundo, muito mais interessante por ser fictício. A função da droga não é
essa? Arte, alucinações, devires são realidades em si mesmas. Fictício diz
respeito à diferença, é tão real quanto o real, é melhor. [.........]. Para entender o mundo não se necessita de teses, estudos de caso, e
sim, se experimenta a arte; a arte ajuda a entender o mundo, mesmo que seja o
mundo das percepções e afecções [....] A cidade é o suporte dessas proezas que alguns
fazem: deliram a cidade, deliram na cidade. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">[..........]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Junk, como chamam heroína, significa lixo
e é uma das drogas mais potentes. A percepção molecular diz respeito a droga; é
um estado narcótico, não é sadio [....] Mas a <i>bad trip</i> para quem curte drogas é algo interessante. O pesadelo é
uma experiência das mais ricas; ser assaltado, ser esfaqueado, sofrer um
acidente, enfrentar cirurgias, sofrer de abstinência, transar com garotas e
depois saber que estavam doentes; enfrentar o mundo, vivê-lo com toda sua dor e
alegria. O prazeroso e o doloroso, o triste e o feliz, esses conceitos são
rasteiros; importam sim, os excessos; experimentar. Bukowski em um poema diz que
se pôr em risco, mas com estilo, que isso é arte; ou
seja, a existência deve ser uma obra de arte. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">[........] </span></span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">Talvez o erro seja mais
importante. O fazer acadêmico é o certo. O certo é a assepsia. O vagabundo é
sujo, o punk é sujo, o hippie é sujo. Esse texto é meio punk, meio hippie. A
pureza é importante, desde que seja uma anfetamina pura, coca pura, o que cria
um corpo sujo, doente, drogado, maculado.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 200%;"><span style="font-size: large;">[...................]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
<br /></div>
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