Gatinha
3
Gatinha, sou todo teu pra sempre. Amo você
gata, muito. E você é gata demais. Linda! Toca aqui no meu peito. Olha só, bate por você
bem forte. Ele tá forte por você. Muito forte e vivo só pra você. E só pra você;
pra você pra sempre. E você sabe que é verdade. Pra sempre. Tipo hoje é sábado.
Pra sempre, até terça. O meu coração forte pra sempre. Forte pra você pra
sempre. Desde hoje pra sempre. Desde sábado até terça. E isso é muito. Você
sabe, baby, é muito. É o máximo que se pode ter. O coração que pulsa forte.
Pulsa muito. Só pra você gata. Sabe disso. A sua boca faz coisas maravilhosas.
Sua saliva é um drink dos bons. E isso misturado com seu sorriso. Com seu cheiro.
E não para por aí. Isso que importa... a forma como você dança. E como você
dança. Você dança como ninguém. Tudo compondo um lance que me faz ficar muito
apaixonado por você. Pra sempre, meu bem... até terça. E sei que estou sendo sincero
demais. Eu estou sendo demais. É muito pra mim. O suficiente. Paixão total. E
quando você dança seus olhos aparecem e desaparecem entre seus cabelos. E muita
coisa que era pra ser importante, não é mais. Não quero saber sua idade. Nome
não importa; você é a gatinha, minha deusa. Porque eu sei muito de você quando você
fala, sorri, beija e dança. E como você dança gatinha. Dança que vai ficar
muito bem guardada. Você vai ficar muito bem guardada. Lá em casa pra sempre.
Eternamente. Até terça. Não quero ver você na ressaca do dia seguinte. Neurose
não combina com a gente. E não precisa. Depois a gente pega outro sábado e faz
tudo de novo. Mesmo que você, daí, já seja outra. Mas vai ser tão bom quanto.
As ondas batem. Cada uma diferente. Ainda mais se for um dia, uma festa, uma
cidade, um país diferente. Tudo tão diferente. Só que tão bom quanto. Porque eu
atravesso a cidade. Eu abro a porta. Só pra ver você dançar. Porque você é gata
demais. E se isso não diz muito na boca de “gatinhos”... bem, eu não sou um
gatinho. Nasci na selva. Devo ser filho de lobos. Algum felino ou canino
selvagem. Então, gatinha me lembra algo.... você sabe; se não
sabe, deixa que eu mostro pra você.
Gatinhas
Meu bem, eu posso ser o que você quiser, e
não vou ser falso. Teatro não é falsidade. É uma coisa legal da vida. Tem gente
que até paga pra ver um teatro. Faço pra você de graça. Não tá bom? Você quer
uma peça especial pra você? Você quer aquele lance que tanto quer? Tanto assim?
Então, deixa assim. Sei bem que o problema é que você não sabe o
que quer. Daí vira qualquer coisa. Você sai correndo do meu ap pra me ver. Estranho,
não? Depois ligo, você não atende. Pô, baby, teatro é um lance, mas drama
psicológico... Você menstruadinha? O lance baby, deixa que eu faço o que tem
que ser feito. Eu faço a história. Deixa eu fazer uma história. Um pouco mais
do que isso, já que o corpo tá envolvido. Deixa que eu armo tudo. Deixa eu
guiar. E não estou sendo o macho que guia. O braço forte. Meu braço é forte, sim,
naturalmente. Posso alcançar o céu com esses braços fortes. Então deixa, baby.
Sem onda. Sem neurose. Eu sei o que você quer. Está aqui nas minhas mãos. Estou
olhando agora de frente pro que você quer. Deixa de frescura. Não precisa me
chamar de tio, mesmo eu conhecendo bem sua mãe. E mesmo que seu pai tenha medo
de mim. E bem, meu bem. Deixa de ser... melhor, deixa que seja. Sem onda.
Gatinhas
2
Você tá com medo como sempre. Repara em
tudo que eu faço. Cada palavra, cada gesto. Tá esperando que role alguma merda.
Que eu faça alguma merda. Que eu aponte uma arma. Que eu pegue você na força;
amarre você na cama. E eu torne você um monstro como o monstro que eu sou pra
você. Gatinhas têm medinho de monstrinhos. Leram muitos contos de fadas. Então,
você sabe que eu não sou o príncipe. E isso é bom. Já economiza muita conversa.
Mas eu não vou amarrar você na cama. Não vou tirar do armário meus apetrechos.
Não vou dar a você uma bela noite de sadismo. Eu vou fazer pior. Tenha medo.
Muito medo. Depois do que vai rolar, as pessoas não vão mais respeitar você. Você
não vai mais ter coragem de olhar na cara do seu pai. Nunca mais vai sentar no
colo do vovô. Não vai mais poder dar selinho no seu irmão. Você vai ser um monstro.
E gatinha, eu não estou brincando. Quem brinca aqui é você. Com seus medinhos.
Com seu jeitinho de fada. Com sua educação. Com esse seu jeito de criança. E
isso... bem, isso já era. Porque chegou a hora. Sou legião, você sabe. E você
vacilou. Entrou no meu ap. Bebeu vinho comigo. Bebeu demais, aliás. E você me
deixou beijar você. Você entrou na jogada. Agora a chave tá lá embaixo. Joguei
pela janela. Não tem mais ninguém por perto. Ninguém vai ouvir você. E você
pode rezar. E você pode até relaxar. Você pode me chamar de meu bem. Até dizer
que me ama. Mas nada disso vai ajudar você. Porque a jogada agora é outra. Você
ficou muito tempo fantasiando que eu era um monstro. E agora eu quero entrar na
jogada. Você entrou com a fantasia. Eu entro com meu corpo. Com minha
vontade... de enlouquecer, você.
Profundidade e experimentação
Tava em um encontro de um grupo ligado aos
occupy em Porto Alegre. Era dia 11 do
11. Não sei exatamente por que esse dia foi escolhido, já que tem toda uma
carga espiritual religiosa. Só que após um contato com pessoas ligadas às
ocupações da cidade, percebi que muitos seguiam algumas formas de religiões,
mesmo que não cristãs. Esse encontro era centrado em uma palestra sobre utopia.
O mais importante, em um momento, um rapaz que se autodenominou de “o artista”,
disse: “hoje é o dia em que todas as pessoas terão a chance de encontrar o
verdadeiro amor”. Mais alguns dados: boa parte do pessoal de ocupação em Porto
Alegre era de novos hippies. Os hippies foram a geração do paz e amor. Uma
garota-okupa tinha tatuado “amor” em sua mão. Outra, em foto de sua página do Facebook,
tem as seguintes palavras escritas: um amor. Um senhor que tava passando pela
Praça 15 (lembrem-se desse número), praça central em Porto Alegre, numa demonstração
dos okupas no 15 de maio de 2012, olhou um cartaz da galera que dizia, “amor”,
e falou: “é isso que falta pra sociedade”. No Natal, como sempre, minha tia me
enviou um cartão dizendo: “que você tenha uma vida cheia de amor”. Penso o amor
partindo do senso comum: um sentimento “profundo” por alguma coisa, de preferência
uma pessoa. Um sentimento “profundo”. No caso de jovens a gente sabe que dura pouco,
não vira um casamento, isso acontece raramente. Também, o amor não é um lance só
pra pessoas de gêneros diferentes; e não significa um lance monogâmico. Isso
endurece mais com uma idade avançada. Mesmo que não endureça, em muitos casos. Só
que continuam existindo casais de namorados jovens que dizem sentir esse
sentimento profundo. Então, o amor é isso, algo muito profundo. Recebo uma
mensagem de uma amiga que diz: “espero que você realize os seus sentimentos
mais profundos”. No caso, ela não falava de amor. Em uma conversa com meu pai, ele
disse que a vida de casado, com filhos, é mais rica, já que tudo é muito mais
profundo, as relações são mais íntimas. Pensar profundamente sobre si mesmo
cria o autoconhecimento. Pesquisa é um pensamento profundo sobre determinada
coisa: às vezes, uma coisa neurótica em cima de um pequeno recorte do real. Os
poetas românticos e seus sentimentos profundos. “Muito profundo isso que você
disse”. “É uma pessoa profunda”. “Você foi profundo nisso.” Ensaiando: o que
são os desejos profundos? Aquilo que está escondido e que deve ser conhecido?
Ou aquilo que está escondido, e que não pode ser dito? Tarinhas se encaixam aí,
tipo sexuais, que são da ordem do desvio? Só que profundo por isso, e deve ser
escondido, ou realizado entre quatro paredes: como aceitar que papais e mamães
troquem de papéis quando estão trancados no quarto? Então profundidade, aqui no
caso, diz respeito a uma pessoa, suas questões, seus desvios, uma pesquisa, ou
duas pessoas, o amor, etc. Uma pesquisa profunda sobre o mundo é impossível. O
amor por inúmeras pessoas é menos profundo que a fidelidade. Mas “seja
profundo” é uma boa palavra de ordem: na pesquisa, no amor, na terapia. No caso
do amigo “artista”, todos querem um verdadeiro amor. A juventude é legal, em
parte, pela experimentação. Os jovens
não se obrigam a ter relações profundas. Mesmo que a adolescência seja uma fase
profunda, um lance chato. Acho que suas experiências legais são as de
superfície. A questão da festa, ambiente
interessante. Um espaço de experimentação, não um lugar escuro no qual se
realizem coisas proibidas. Droga é permitida de certa forma, desde que não dê
problema aos donos. Os banheiros que enchem de gente pra cheirar pó, três
pessoas em um banheiro em que só cabe uma. Também é proibido sexo em público, e
pessoas de sexos diferentes podem ficar um bom tempo no banheiro, sem
problemas. Casais do mesmo sexo se beijando. Ninguém se importa – claro que
depende do lugar. Tudo isso dura pouco, deve durar apenas uma noite.
Nenhum comentário:
Postar um comentário