sexta-feira, 29 de junho de 2012


ORGANIZAÇÃO DA METODOLOGIA PARA O MAPEAMENTO DO DEVIR REVOLUCIONÁRIO DOS MOVIMENTOS GLOBAIS DE INDIGNAÇÃO – PARTE ESCRITA, ROTEIRO, DE APRESENTAÇÃO EM SEMINÁRIO



A pesquisa centra-se na política contemporânea em seu duplo movimento: 1. a valorização da biopolítica (pós-Foucault), a política da multidão (Negri), os processos de singularização (Guattari), as lutas moleculares (Deleuze e Guattari). 2. a compreensão e crítica do biopoder (Foucault e pós-Foucault): biopoder é o poder exterior a multidão, do Império (Negri), em sua forma de controle (Deleuze e pós-Deleuze), o poder expresso até em micro relações. 
Premissa, ponto de partida da pesquisa: as lutas biopolíticas produzem o mundo; e o biopoder se apropria da produção; mais, se reestrutura para bloquear a potência que vem desde baixo. Processo de desterritorialização e de reterritorialização, conflitos entre o molecular (resistência) e molar (poder).
Duas questões quanto ao poder, acho que devem ser mapeadas mesmo que não sejam o centro do trabalho: 1. a molarização dos fluxos moleculares, em parte desejada pelas minorias; remanejamento do poder. ex. aceitação de demandas da multidão. Reformas no sistema político a partir das lutas. 2. molecularização molar, a serviço do poder. No contexto pós moderno, há algo como uma flexiblização das classificações, das identidades. ex. precarização, algo entre trabalho e desemprego.
Me proponho a mapear as lutas da multidão: a molecularização que diz respeito à potência, mesmo tornar a produção do poder em potência; como isso vai sendo apropriado, usado: ex. subjetividades desterritorializadas: fim do enquadramento.  Produção imaterial, intelectual: empoderamento, aumento do saber. Queda das fronteiras geopolíticas: democracia global.  Redes disseminadas: forma da multidão.
  Talvez, o movimento de remanejamento do poder, a passagem do molecular ao molar só possa ser compreendido após o devir das lutas. Talvez seja possível apenas, pesquisar os processos de singularização da multidão: a fuga dos códigos dominantes. 
Aí surge o Objeto, recorte da multidão: lutas contra a democracia representativa e o capitalismo; movimentos de indignação global (dos indignados espanhóis até os Occupy).
Creio que o mapeamento de um conceito abrange a potência do objeto de pesquisa: devir revolucionário. Devir, o que está acontecendo, não o futuro da revolução. A riqueza em si do movimento, atual. Mesmo os desejos de uma nova realidade, já são atuais, e são potência. Esse devir arrasta blocos de devir, e eu penso dessa forma produzindo uma multiplicidade, fazendo rizoma.
Devir é acontecimento, processo, experimentação, que passam sujeitos, grupos, mundo acadêmico, mídias corporativas, etc, qualquer coisa.  Devir não diz respeito aos estados duros, fixos, modelos dominantes, são linhas de fuga do poder.     
Devir, como disse, acontece em blocos: ex. Um devir nômade não se refere apenas ao deslocamento físico, pode dizer respeito à experimentação de desterritorialização, mental, social, existencial. Linha de fuga frente ao sedentarismo que marca a sociedade centrada no aparelho de Estado. Isso poderia envolver um devir-drogado: experimentação da narcose, sem o uso, ou com: o drogado como sujeito desterritorializado mentalmente. Um devir artístico: que não tem na da a ver com a arte como estado, mas como campo de experimentações perceptivas. Esse bloco de devires afetou a filosofia, o devir nômade da filosofia a partir da obra de Deleuze.  Antes com os Beatnicks, Rimbaud, o devir nômade da arte. O nômade como estado aparece como impotência para as significações dominantes: as levas de imigração, os ciganos, todos marginalizados. No entanto, permitem o devir menor para todo o social.
Importante pensar a multidão como campo de experimentação de devires, que pode se tornar um projeto político molar. Pensar não o que é, construindo identidades; mas como funciona.
Sobre o devir revolucionário da multidão, primeiro bloco de devires mapeados: 1. devir-democracia: linha de fuga da representativa; devir pois não há formas e modelos prontos a serem resgatados na história; isso é experimentado em territórios singulares horizontais, descentrados, autônomos; fuga da dicotomia dominantes-dominados. Vistos nas mídias, assembleias, organização dos grupos, acampadas. 2.  devir-midiático: novas mídias produzidas pelo movimento não capturadas; as apropriações das mídias corporativas, como facebook, youtube, etc, em usos diferenciais em relação aos usos dominantes. Outro bloco de devires, considerando a tomada das ruas (os acontecimentos da multidão), devir revolução da cidade, cidade desterritorializada; devir-marginal da multidão (os muitos presos); devir-violência (contra o patrimônio), devir-improdutivo (greves). Esses devires traçam uma linha transversal entre o dualismo legalidade-ilegalidade.  Note que o devir é revolucionário, pois escapa das significações e códigos dominantes. Põe abaixo a ordem.
 Um outro devir, importante de ser mapeado é o multidão das mídias de massa:  afetações das multidão nessas mídias. Mesmo legitimando o poder, elas não ficam ilesas da expressão da multidão.
Outros devires, as produções dos movimentos, como fuga das significações dominantes atualizadas pelo poder: 1. Produção de subjetividades: anonyma; indignada, okupa  X subjetividade dominante, enquadrada. 2. Modos de vida: okupas, devir pobre x vida burguesa. 3. Relações: parceria X não de poder. 4. Desejos em devir: de revolução X desejo de repressão.  
Por fim, importante repensar o conceito de molar e molecular, a molarização e a molecularização da potência: o molar nas minorias, os processos mais consistentes: assembleias, acampadas, grupos, teóricos, acontecimentos. E seu molecular, o minoritário do movimento: o menos expressivo.  Pra que serve esse mapeamento: principalmente para dar expressividade ao minoritário, tornar visível. No caso, creio que o desejo de revolução não se limita aos indignados, mas a todo o povo. Amplia-se assim o território: indignados são todos. O movimento deve atualizar o desejo de revolução, para se tornar mais potente. Já o molar, do movimento, deve ser pensado para ser percebido o que vai ganhando expressão e como isso rompe com possíveis centros de poder. 

2. QUESTÕES EXISTENCIAIS DA PESQUISA:

Pergunta 1: como tornar a pesquisa uma pesquisa indignada, anonyma, de okupa, não como devir mas estado? A pesquisa já permite um devir okupa, anonymo, indignado do campo de saber, ou do ambiente institucional.   
Pergunta 2. Como produzir pesquisa singular, algo que não redunde o que já foi feito?  Considerando o excesso de produção textual sobre o tema. Até agora: estou construindo a história dos acontecimentos principais, pensando o devir revolucionário, o molar e molecular do movimento, sua resistência ao poder. O diferencial talvez se dê aí, pensando a multidão a partir da obra de Deleuze.
Possibilidades: Abrir a tese para o social, primeiro pela linguagem. Usar o ensaio como potência, linguagem mais acessível. Segundo: creio que o uso da cartografia, é importante pela abrangência: não se limita a um campo ou objetos; qualquer um pode usar para mapear qualquer coisa.  Terceiro: despessoalizar a pesquisa, deixar passar os fluxos da multidão, fazer rizoma. Não criação, mas aliança, teórica e política. Não pensar na pesquisa como algo referente a um sujeito, criador: remix (Debord), antropofagia (arte e filosofia brasileiras), canibalização de estilo (o lixo pós moderno como potência). Aqui entra outra questão: fazer rizoma, abrindo o texto, traçando suas linhas de fuga, aumentando o território: ligar o tema com arte, outras formas de resistência. Também para deixar o texto mais leve. Produzir pesquisa de superfície; profundidade da superfície. 

3 – DESCIDA A CAMPO

Não gosto da expressão, de descida ao campo. O mundo, prática, fica em posição abaixo da pesquisa, teoria. Objeto também é péssima expressão; o mundo como objeto sujeitado a uma pesquisa, ou pesquisador. Também ir a campo, significa uma exterioridade, e não há fora do mundo. Nota-se aqui a reprodução do poder, mesmo em micro relações, como o pensamento, a fala.
No caso da minha pesquisa, a multidão e o poder, não há fora. Poder e potência são afirmados em tudo. Não tem como não experimentar o mundo.  E como digo: produzo para o movimento, para multidão. Se vivo a pesquisa acadêmica, vivo assim o movimento. E meu coração está com o movimento.
O que significa ir a campo para a pesquisa do movimento? 1. Pesquisa bibliográfica: há uma produção mesmo em formato de livro extensa sobre. Também muitos teóricos, fazem parte, assim dicotomia do tipo, teoria e prática não faz sentido.  2. Pesquisa dos produtos de web: sites, wikis, blogs, perfis de facebook, e de twiter, vídeos do youtube, streaming.  3. Contato com sujeitos: nas okupas, nas manifestações, via e-mail. 4. Pesquisa da mídia de massa.
Sobre análise das manifestações: off line e on line são complementares: on line: pelos inúmeros pontos de vista; pode ser feito após as demos, deve ser feito depois. Of line viver o acontecimento. Estar em uma assembleia podendo ser preso; estar em uma praça em situação de risco, isso marca mais do que estar na frente do computador. Por fim importante no contato com os sujeitos do movimento: contatar não como pesquisador, sujeito de fora, acima do suposto objeto.


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