Roteiro
de apresentação oral – Seminário – epistemologia comunicação
(primeiro trabalho sobre sociedade de controle)
Centro
a apresentação nas considerações sobre o fim das
disciplinas do Gomes. Primeiro trato de contexto: da transição da sociedade
disciplinar para a de controle. Depois relaciono com o tema dos campos de
saber. Por fim, apresento a proposta de
transversalidade. Esta é conceito de Guattari que não se refere à
horizontalidade criticada por Gomes, e muito menos a verticalidade disciplinar.
Sociedade
disciplinar, modernidade: uma das marcas é a importância do
território e da identidade. Exemplos: território nacional, o povo como sujeito,
com uma identidade. As disciplinas conceituadas por Foucault: família, pais e
filhos. Escola, professor e aluno. Exército, oficiais e soldados. Fábrica: empregador
e empregado.
Segundo Deleuze, tudo é questão de território;
podem ser pensados como territórios gêneros, raças, subjetividades, campos de
saber. As identidades modernas desses territórios: gêneros: homem e mulher.
Raças: brancos e outros. Campos do saber: objeto e método das disciplinas. Subjetividade:
individualidade. Na maior parte desses casos, o aparelho de Estado codifica as
singularidades em pares, nos quais um dos elementos é um centro de poder. As
disciplinas de Foucault são dispositivos do aparelho em sua função de
codificação, imposição de identidades.
Deleuze,
sociedade de controle. Nesta o que se perde é o
território fechado com suas lógicas, principalmente binares. Frente a isso, há
discursos que tentam resgatar as velhas identidades; resgatar o que se perdeu;
outros discursos tentam manter o que ainda está presente de rigidez. Para mim, essas
teorias servem exatamente para isso: dar vida ao cadáver moderno. Também há
discursos que ovacionam o múltiplo, a diferença, características da sociedade
de controle.
Segundo Deleuze, importante
é não pensar o que é melhor ou pior; desejar o retorno das disciplinas ou
ovacionar a sociedade de controle; importante é pensar nas potencialidades, na
virtualidade aberta.
Um
exemplo do conflito entre potência e tomada de poder na
sociedade de controle: o hibridismo entre política e arte, a estetização da política.
A estetização da política pode ser pensada como via dupla, uma molar e outra
molecular. Molar e molecular são os elementos da cartografia de qualquer coisa.
A molar corresponde à política dominante, dos partidos, aparelho de Estado. O
que vemos na mídia, no uso do marketing nas eleições, dos showsmícios, nos
discursos publicitários para angariar votos. O lado molecular, da
interpenetração entre arte e política, vê-se desde o Maio de 68 em massa. Hoje
se percebe isso na utilização de lógicas midiáticas e artísticas pelos
movimentos de resistência, que são generalizados. A crítica de Gomes interessa se pensada neste
viés: a espetacularização das ciências, molar, o campo da comunicação como
território no qual “tudo vale”. De um ponto de vista, molecular, a estetização
se torna interessante pelas conexões entre arte, política, entre si, produzindo
uma heterogeneidade transversal que foge do controle desde cima. No entanto,
creio que falar em arte é perigoso, pois o campo apresenta o mesmo conflito:
molar, o instituído, dominante, não político, ou mesmo o discurso clichê da
arte como expressão da liberdade; molecular, um devir arte da política e da
ciência, que não concerne à arte como estado; na construção epistemológica
creio que deve ser buscado outro termo pra definir a expressão em jogo.
O molar pode também ser
referido às identidades de sujeitos, típicas da sociedade disciplinar, e também,
as identidades das minorias recém incluídas. No entanto, penso a oferta de
subjetividades pela mídia como molar, pois serve ao poder, que é a molaridade
mais expressiva. O lado molecular, no contexto pós, seria a possibilidade
aberta de experimentações de dessubjetivação, que não se referem à
desterritorialização constante pela máquina massmidiática. Penso também que a
desterritorializaçao já é potente pela própria descoberta de que mudanças são
possíveis. Mas se faz necessária uma cartografia das subjetividades de
resistência. Um exemplo é a busca de sexualidades em devir pela crítica Queer;
subjetividades que não concernem ao homossexual hetero, aquele que busca
direitos heterossexuais: ter filhos, casar.
Relação entre disciplinas, fim dos territórios e
epistemologia: Gallo (1995) relaciona campo de saber e o conceito de disciplinas de Foucault. Disciplina nas ciências é delimitação,
hierarquização e exercício de poder. Opõe o paradigma
arborescente, hierárquico, que se refere à disciplinarização, ao paradigma rizomático,
no qual qualquer conexão é possível.
Gallo, então, faz sua proposta a partir da queda
das barreiras das disciplinas no campo de saber:
transversalidade entre as várias áreas do saber,
integrando-as, senão em sua totalidade, pelo menos de forma muito mais
abrangente, possibilitando conexões inimagináveis através do paradigma
arborescente. (GALLO, 1995, p. 10)
A transversalidade foi
pensada por Guattari em sua experiência no campo psi. Segundo o autor, a verticalidade
institucional rege as relações, desde cima. Um sistema centrado, com regras
duras, fechado em si mesmo, para poucos. O autor não vê a horizontalidade como
opção. Nesta todos são iguais, as relações são planificadas, homogeneizadas, e nada
é produzido: horizontalidade é “uma certa situação de fato em que as coisas e
as pessoas ajeitem-se como podem na situação em que se encontrem. (GALLO, P.
10)
A crítica de Gomes,
como já dito, interessa se pensada como crítica a horizontalização das
ciências: a lógica do “tudo vale”, e seus efeitos como a espetacularização, a
tomada de poder por lógicas massmidiáticas. Fruto da pós-modernidade, a espetacularização
é uma das capturas pelo poder.
Outros exemplos de transversalidade:
verticalidade dos partidos, sindicatos, todos centrados, com posições
hierárquicas que seguem uma ordem dada. Transversalidade: nos movimentos por
outra democracia: em assembleias, em que todos podem se expor e decidir, nos quais
não há hierarquia, mas nem desordem. As regras são estabelecidas por consenso. Horizontalidade
acontece nos dois modelos: da rua, dos corredores, nos quais os sujeitos
assumem posições de igualdade, não há decisões políticas, sejam transversais ou
verticais. Outro exemplo: a ideia de povo é vertical, povo com uma identidade
tendo o Estado como centro decisório. Massa é noção horizontal, nela as
diferenças são apagadas, e na massa nada se produz. Multidão é conceito
transversal. Multidão é rede de singularidades que produzem em comum mediante colaboração e comunicação.
No entanto em minha
experiência empírica nos movimentos de ocupação, noto que a verticalidade aparece como fantasma:
tomadas de poder, como quem fala melhor em público, ou tem mais tempo para
participar das atividades abrindo espaço para práticas hegemônicas. E mesmo
fantasmas modernos: os mais velhos, os mais escolados. A
horizontalidade é importante. Em ambientes fora dos programas há possibilidade
de fala daqueles que não se permitem a fala nos ambientes transversais. Ali
nascem ideias que podem depois ser retomadas nas atividades, como as
assembleias e redes de comunicação, etc.
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