SINGULARIZAÇÃO
NA SOCIEDADE DE CONTROLE
Este trabalho (parte escrita, roteiro de apresentação oral em uma classe no ppgcom da unisinos) é continuação do trabalho
em outras disciplinas, no qual penso a sociedade de controle e o fim das
disciplinas em suas afetações epistemológicas. Centro minha atenção na
sociedade de controle, e também seus efeitos midiáticos, um dos principais,
para entender o mundo em que vivemos.
INTRODUÇÃO: Sociedade de controle é a
intensificação da sociedade disciplinar como tomada de poder a partir das lutas
de 68. A potência molecular das lutas das massas, re-estrutura o molar, o campo
macropolítico. Potência como produção de mundo e resistência, biopolítica,
poder como captura da produção, biopoder.
Característica mais marcante da
sociedade de controle é o fim da exterioridade, dos limites dos territórios,
sejam físicos, subjetivos, teóricos, existenciais. Centro a apresentação nesta característica, e
busco pensar também as possibilidades biopolíticas na condição atual.
Segundo Bruno:
[o
controle] se aproxima ou mesmo se confunde com o fluxo cotidiano de trocas
informacionais e comunicacionais. p. 152 BRUNO
Podemos
acrescentar, que o controle e a resistência se confundem nos territórios. Por
isso, a importância do mapeamento dessas linhas de forças de natureza
diferentes. Creio que o mapa Deleuziano, o conceito de devir, o pensamento da
diferença servem para fazer esse mapeamento.
1.
ESMAECIMENTO
DOS TERRITÓRIOS E DE SUA RELAÇÃO COM O FORA
Fora
do trabalho: pela natureza da produção no pós-industrial
podemos trabalhar em casa. Levar trabalho para casa. Aqui produção e reprodução
se dão em um plano de indiscernibilidade. Também a produção, em alguns casos, se
aproxima da reprodução: trabalhos em ambientes lúdicos. As TICS servem como
ferramentas de controle, que acentuam a inexistência de fora do trabalho: o
empregador pode contatar o empregado em qualquer lugar e hora. Mais, pode
localizá-lo; pode rastrear o empregado em suas ações por redes sociais. No
entanto, as mesmas técnicas que servem ao controle, servem de empoderamento: possibilidade de produção intelectual e
criativa cada vez mais inclusiva. Também o fim do fora da produção em um
contexto biopolítico é a valorização de produção de mundo. Negri diz que como todos produzem o mundo deveria haver uma renda
de existência.
Fora
da formação: a formação tende a ser constante. Vê-se
isso na oferta cada vez maior de cursos de pós-graduação, e de cursos
superiores. O ensino centra-se na produção de saber e de palavras de ordem:
pense de tal forma, seja tal coisa. Importante perceber como isso é acentuado
na sociedade de controle. Questões
biopolíticas: a inexistência de fora da formação, significa a possibilidade
de aumento do saber. Também se percebe um outro tipo de deslocamento do
ambiente da escola para a rua: a produção de saber típica dos movimentos de
resistência; saber não direcionado à profissionalização, nem à cultura culta; saber
com fins políticos, mas também existenciais. Interessante notar, que conjuntamente
à intensificação disciplinar, há também uma flexibilização dos papéis. Uma
característica de técnicas biopolítica apropriadas pelo poder: o papel do
professor e chefe é cada vez mais esmaecido. Produz-se em rede. Sabemos que
esse tipo de produção coletiva, sem um centro é a mais produtiva. A produção em
rede é fruto das lutas contra o sistema de dominação. Por fim, formação e produção não se distinguem, são da mesma natureza,
diferem em grau, considerando o trabalho intelectual e afetivo.
Fora
da subjetividade dominante: este é um caso especial
e talvez o mais importante, que envolve também a produção e a formação.
O capitalismo global (pós-moderno) tomou
de assalto a subjetividade de forma mais acentuada que na modernidade. Segundo
Guattari a mídia e indústria cultural afetam memória, inteligência,
sensibilidade, afetos e fantasmas inconscientes Pelbart, p. 12 (rever
ortografia da citação)
Fora
das mídias: Como vimos as TICS são usadas como técnicas
de controle, tanto na produção quanto na formação. Mais importante pensar como
as mídias fazem parte da produção do consenso e da subjetividade dominante. A
mídia é muito mais eficaz que a escola para difusão de palavras de ordem. Todos
os discursos passam por ela. Exemplo de
produção de subjetividade são as identidades
produzidas pela indústria cultural, como nas modas relacionadas à música:
que envolve afetos, ouvir, mas também ver, uma relação com o corpo, e vestir,
com o saber; e pode envolver estilos de vida: relações com a sexualidade, com os
outros, com drogas. E as modas mudam e conjuntamente tudo isso, ou parte. Outro
exemplo: o que as mídias vendem como modos de existências: negro, homem, mulher,
gay.
Fora
do consumo: o capitalismo é inclusivo, para ele não
importa diferenças, territórios.
Bruno exemplifica a inexistência desse
fora: oferta de produtos tendo como base conteúdos de e-mail. Isso aponta uma
inexistência de fora do privado [mercadológico] que afeta o privado pessoal.
2.
RECUPERAÇÃO DO FORA COMO RESISTÊNCIA:
INCLUSÃO DA DIFERENÇA
Outra característica do controle é a
tentativa de apagamento das minorias como resistência, inclusão total: negros,
mulheres, homossexuais. O discurso sobre se flexibiliza. Mais consumidores e
produtores. Processo de inclusão e reterritorialização constante. Afirmação de
identidades.
Inclusão
na arte e indústria cultural da diferença: A tradição
romântica da arte faz apologia aos desvios: sexuais, drogas. Ao artista e a
arte a diferença é permitida. Essa permissão é apropriada pela indústria cultural, produzindo
inclusão, principalmente no mercado. Exemplo: pode se falar abertamente
sobre uso de drogas e práticas homossexuais. Em alguns casos, pode-se fazer
apologia, e mais, isso é vendável. Caso do Rock contracultural faz parte de um
duplo movimento. Uso de drogas e sexualidade aberta como forma de contestação. No
entanto, é apropriado pelo mercado. Rock como elemento da contracultura, que
torna a diferença uma possibilidade. Que logo após ou ao mesmo tempo se torna
valor de consumo.
Inclusão
intelectual: em sociedades não democráticas ou
autoritárias o intelectual tem um papel marginal, subversivo. Caso de Negri,
que ficou preso durante décadas. Hoje, nas sociedades democráticas o
intelectual é incluído na academia, que é financiada pelo Estado ou por
corporações. Exemplo: podemos fazer crítica à rigidez institucional,
disciplinar, e ao Estado em instituições do próprio Estado; podemos fazer
crítica ao capitalismo, ao controle, em instituições privadas capitalistas.
2.1.
Desejo de inclusão pelas minorias: mesmo elas como resistência desejam
inclusão.
Caso
1. Desejo de inclusão no capitalismo: da
marcha da maconha. Interessante que a marcha, não se refere apenas ao uso da
droga como possibilidade de diferença; a marcha pede também uma inclusão dentro
do sistema, não só político, mas também econômico:
Trata-se de um
dia de luta e manifestações favoráveis a mudanças nas leis relacionadas a
maconha, em favor da legalização da cannabis, regulamentação de comércio e uso
(tanto recreativo quanto medicinal e industrial, tendo em vista as milhares de
aplicações da cannabis em várias áreas). http://pt.wikipedia.org/wiki/Marcha_da_Maconha
Caso 2. Marcha das vadias: desejo de inclusão de
cidadania:
[1] mulheres ainda são minoria
em cargos de poder e recebem em média 70% do salário dos homens [2] há
trabalhos desempenhados por uma maioria feminina que não são reconhecidos,
nem dotados de valor econômico [3. As prostituas negam] suas cidadanias.
Pelbart
sobre direitos humanos, inclusão: segundo ao autor os
direitos humanos, o discurso sobre cidadania não são garantias de uma vida
menos sacana:
[nas] democracias-mercado que respeitam
os chamados direitos humanos [...] se vive e se pensa como porcos [essa é a
ilusão que vende o neoliberalismo [...] caberia examinar [...] em que medida
essa miragem [no pós-moderno] nos obriga a repensar a ideia de direitos humanos
e traz à tona sua insuficiência PELBART
p. 23
2.2
as resistências repetindo os discursos do poder, afirmando o poder, pois não há
fora:
Caso
1. Poder na resistência: Movimento primavera global em porto
alegre: em assembleia, horizontal, totalmente inclusiva, foram feitas duas
propostas: fazer um evento contra a corrupção e uma campanha do agasalho.
Contra a corrupção não foi aceita, pois diz respeito à reforma política, e o
movimento pede radicalização da democracia. Já a campanha do agasalho, foi
aceita. Interessante notar que esse tipo de campanha é realizado por entidades
de consenso, paternalistas, e difundidas na mídia.
Caso 2. Lutas dos homossexuais: produz
normas, e regras, identidades, caracteristicas do poder:
De que adianta lutar contra a norma heterossexual
e hetero-fascista, se o movimento acaba reinventando-a como norma homossexual?
Reinstala-se uma nova opressão: é o gay enquadrado e com família de comercial
de margarina [...] Que chega a nutrir
preconceito contra as bichas loucas e os travestis. É a lésbica que não admite
que outra mulher fique de quatro numa relação sexual. É o meio profissional de
cabeleireiros ou estilistas, que conformam uma normatividade igualmente
coagida. CAVA
3.
TENTATIVAS DE SINGULARIZAÇÃO
Singularização é a produção de
subjetividades diferenciais em relação à subjetividade dominantes, que enquadra
sujeitos em identidades.
Movimento
Queer:
[...]
afirma que ser homossexual já está capturado na heteronormatividade.
Homossexual, bissexual, lésbica ou gay, isso por si só não é suficiente. É
preciso escapar da divisão binária homem/mulher ou hetero-homo. [recusar] a
própria ideia de uma normalidade [...] CAVA
CRÍTICA
RADICAL: como produção de diferença quando se chega a um
consenso. No caso, vejo mais como uma experimentação.
Comunicado do Black block sobre as
lutas em Copenhagen:
Esse
comunicado se refere ao grupo em sua crítica aos ativistas que lutam pelo clima
e contra o capitalismo. No comunicado é dito que parece haver mesma lógica
entre representantes do governo, ONGs e até os ativistas ecológicos mais
radicais. Todos estes apresentam mesmo discurso: “nós estamos salvando o mundo”.
“Quem não ia querer lutar para isso? E mesmo se você não, você tem mesmo uma
escolha?”.
[...]
pode-se ouvir o [...] chamado para submeter-se. Sacrificar tudo o que faz a
vida valer a pena em nome da própria vida. Encerrar o presente e salvar o
futuro. Para controlar nossos desejos, e acima de tudo, para não perturbar o delicado
equilíbrio. Ecologia pressupõe a mesma concepção de existência que caracteriza
a polícia: o perigo está em toda parte, e, antes de tudo, em nós mesmos. Quando
o sucesso desta conferência depende da participação da população em cada centro
da cidade, onde você acha que devemos ir? E se a polícia, em todas as suas formas,
é a essência da nova política global, o que você acha que deve fazer?
4.
INEXISTÊNCIA DO FORA DA RESISTÊNCIA
OCCUPY,
da resistência: a fórmula dos movimentos: a palavra de
ordem: “somos os 99%” cria uma inclusão generalizada na resistência contra o
1%:
“O socius torna-se um megavideogame em
que alguns poucos jogadores invisíveis brincam com seus milhões, de dólares, de
empregos, de vidas alheias.” PELBART, p.
23
Caso
dos Anonymous: sintoma da inclusão generalizada na resistência:
Anonymous é coletivo de hacktivismo que
atua na rede em ataques a sistemas de corporações e Estados. O anonymous luta diretamente contra o
controle: luta pelo anonimato na rede; contra a apropriação da colaboração e do
bem comum da multidão. Luta também contra a classificação da multidão: não tem
nome, identidade, não é restrito a um grupo, ou centro. Age em comum, produz em
comum, produção que foge da valoração dominante capitalista.
Sua produção vai além dos ataques DNS. Difunde saber, conhecimento,
em seus comunicados em vídeos e texto. Também pode ser pensada como um modo de
vida na rede, anônima, entre legalidade e ilegalidade, para aqueles que
participam dos ataques. E mesmo as máscaras, elas são vistas em manifestações,
por pessoas que não atuam nos ataques. Uma subjetividade anônima
produzida.
Só funciona por enxameamento; suas
operações dependem da colaboração em massa. Por isso, é totalmente inclusivo. A máscara que qualquer um pode vestir e o
nome simbolizam muito bem a inclusão generalizada. Tem relação direta com a
obra de Negri, isso é notado na citação: somos legião. Em passagem de multidão,
o autor cita um mito cristão. Fala de um demônio, de nome legião, que na
verdade é uma multiplicidade de demônios. Aqui uno e múltiplo se confundem. Uma
boa alegoria para pensar a multidão: que é um conjunto de singularidades
diferenciadas que agem em comum mediante colaboração e comunicação. Torna-se
uma, pela produção e pelo comum. E não pode ser enquadrada em identidade, como
a de povo. As singularidades são potentes por não terem identidades. Isso é forma
de resistência ao controle:
Como diz Amadeu: “O controle é
avesso ao anônimo, ao incerto e ao nômade.” p. 130
CONCLUSÃO:
Por isso são produzidas identidades fixas, apropriam-se as minorias a partir do
enquadramento, e de movimentos de desterritorialização e reterritorialização.
As minorias, em sua potência molecular, desterritorializam os códigos
macropolíticos, molares, no entanto, são reterritorializadas, perdendo
potência, sendo enquadradas, em uma inclusão diferencial. Daí, importante
pensar no que resta de diferenciação para ser usada como potência.
Ex. A CUFA,
entidade de fomento das manifestações e modos de vida das favelas, está
produzindo um concurso de top models para moradoras dos morros. Gisele Bundchen
e uma marca famosa de produtos de beleza promoverão o evento. Os pobres são
sinônimos de padrão de não beleza. Provavelmente as garotas com beleza mais
próxima do padrão serão as vencedoras. O evento propõe que a beleza das favelas
seja incluída. Assim a favela desterritorializa a moda, um das possibilidades
do evento, porém, os códigos da moda reterritorializam a favela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário