sexta-feira, 29 de junho de 2012


ORGANIZAÇÃO DA METODOLOGIA PARA O MAPEAMENTO DO DEVIR REVOLUCIONÁRIO DOS MOVIMENTOS GLOBAIS DE INDIGNAÇÃO – PARTE ESCRITA, ROTEIRO, DE APRESENTAÇÃO EM SEMINÁRIO



A pesquisa centra-se na política contemporânea em seu duplo movimento: 1. a valorização da biopolítica (pós-Foucault), a política da multidão (Negri), os processos de singularização (Guattari), as lutas moleculares (Deleuze e Guattari). 2. a compreensão e crítica do biopoder (Foucault e pós-Foucault): biopoder é o poder exterior a multidão, do Império (Negri), em sua forma de controle (Deleuze e pós-Deleuze), o poder expresso até em micro relações. 
Premissa, ponto de partida da pesquisa: as lutas biopolíticas produzem o mundo; e o biopoder se apropria da produção; mais, se reestrutura para bloquear a potência que vem desde baixo. Processo de desterritorialização e de reterritorialização, conflitos entre o molecular (resistência) e molar (poder).
Duas questões quanto ao poder, acho que devem ser mapeadas mesmo que não sejam o centro do trabalho: 1. a molarização dos fluxos moleculares, em parte desejada pelas minorias; remanejamento do poder. ex. aceitação de demandas da multidão. Reformas no sistema político a partir das lutas. 2. molecularização molar, a serviço do poder. No contexto pós moderno, há algo como uma flexiblização das classificações, das identidades. ex. precarização, algo entre trabalho e desemprego.
Me proponho a mapear as lutas da multidão: a molecularização que diz respeito à potência, mesmo tornar a produção do poder em potência; como isso vai sendo apropriado, usado: ex. subjetividades desterritorializadas: fim do enquadramento.  Produção imaterial, intelectual: empoderamento, aumento do saber. Queda das fronteiras geopolíticas: democracia global.  Redes disseminadas: forma da multidão.
  Talvez, o movimento de remanejamento do poder, a passagem do molecular ao molar só possa ser compreendido após o devir das lutas. Talvez seja possível apenas, pesquisar os processos de singularização da multidão: a fuga dos códigos dominantes. 
Aí surge o Objeto, recorte da multidão: lutas contra a democracia representativa e o capitalismo; movimentos de indignação global (dos indignados espanhóis até os Occupy).
Creio que o mapeamento de um conceito abrange a potência do objeto de pesquisa: devir revolucionário. Devir, o que está acontecendo, não o futuro da revolução. A riqueza em si do movimento, atual. Mesmo os desejos de uma nova realidade, já são atuais, e são potência. Esse devir arrasta blocos de devir, e eu penso dessa forma produzindo uma multiplicidade, fazendo rizoma.
Devir é acontecimento, processo, experimentação, que passam sujeitos, grupos, mundo acadêmico, mídias corporativas, etc, qualquer coisa.  Devir não diz respeito aos estados duros, fixos, modelos dominantes, são linhas de fuga do poder.     
Devir, como disse, acontece em blocos: ex. Um devir nômade não se refere apenas ao deslocamento físico, pode dizer respeito à experimentação de desterritorialização, mental, social, existencial. Linha de fuga frente ao sedentarismo que marca a sociedade centrada no aparelho de Estado. Isso poderia envolver um devir-drogado: experimentação da narcose, sem o uso, ou com: o drogado como sujeito desterritorializado mentalmente. Um devir artístico: que não tem na da a ver com a arte como estado, mas como campo de experimentações perceptivas. Esse bloco de devires afetou a filosofia, o devir nômade da filosofia a partir da obra de Deleuze.  Antes com os Beatnicks, Rimbaud, o devir nômade da arte. O nômade como estado aparece como impotência para as significações dominantes: as levas de imigração, os ciganos, todos marginalizados. No entanto, permitem o devir menor para todo o social.
Importante pensar a multidão como campo de experimentação de devires, que pode se tornar um projeto político molar. Pensar não o que é, construindo identidades; mas como funciona.
Sobre o devir revolucionário da multidão, primeiro bloco de devires mapeados: 1. devir-democracia: linha de fuga da representativa; devir pois não há formas e modelos prontos a serem resgatados na história; isso é experimentado em territórios singulares horizontais, descentrados, autônomos; fuga da dicotomia dominantes-dominados. Vistos nas mídias, assembleias, organização dos grupos, acampadas. 2.  devir-midiático: novas mídias produzidas pelo movimento não capturadas; as apropriações das mídias corporativas, como facebook, youtube, etc, em usos diferenciais em relação aos usos dominantes. Outro bloco de devires, considerando a tomada das ruas (os acontecimentos da multidão), devir revolução da cidade, cidade desterritorializada; devir-marginal da multidão (os muitos presos); devir-violência (contra o patrimônio), devir-improdutivo (greves). Esses devires traçam uma linha transversal entre o dualismo legalidade-ilegalidade.  Note que o devir é revolucionário, pois escapa das significações e códigos dominantes. Põe abaixo a ordem.
 Um outro devir, importante de ser mapeado é o multidão das mídias de massa:  afetações das multidão nessas mídias. Mesmo legitimando o poder, elas não ficam ilesas da expressão da multidão.
Outros devires, as produções dos movimentos, como fuga das significações dominantes atualizadas pelo poder: 1. Produção de subjetividades: anonyma; indignada, okupa  X subjetividade dominante, enquadrada. 2. Modos de vida: okupas, devir pobre x vida burguesa. 3. Relações: parceria X não de poder. 4. Desejos em devir: de revolução X desejo de repressão.  
Por fim, importante repensar o conceito de molar e molecular, a molarização e a molecularização da potência: o molar nas minorias, os processos mais consistentes: assembleias, acampadas, grupos, teóricos, acontecimentos. E seu molecular, o minoritário do movimento: o menos expressivo.  Pra que serve esse mapeamento: principalmente para dar expressividade ao minoritário, tornar visível. No caso, creio que o desejo de revolução não se limita aos indignados, mas a todo o povo. Amplia-se assim o território: indignados são todos. O movimento deve atualizar o desejo de revolução, para se tornar mais potente. Já o molar, do movimento, deve ser pensado para ser percebido o que vai ganhando expressão e como isso rompe com possíveis centros de poder. 

2. QUESTÕES EXISTENCIAIS DA PESQUISA:

Pergunta 1: como tornar a pesquisa uma pesquisa indignada, anonyma, de okupa, não como devir mas estado? A pesquisa já permite um devir okupa, anonymo, indignado do campo de saber, ou do ambiente institucional.   
Pergunta 2. Como produzir pesquisa singular, algo que não redunde o que já foi feito?  Considerando o excesso de produção textual sobre o tema. Até agora: estou construindo a história dos acontecimentos principais, pensando o devir revolucionário, o molar e molecular do movimento, sua resistência ao poder. O diferencial talvez se dê aí, pensando a multidão a partir da obra de Deleuze.
Possibilidades: Abrir a tese para o social, primeiro pela linguagem. Usar o ensaio como potência, linguagem mais acessível. Segundo: creio que o uso da cartografia, é importante pela abrangência: não se limita a um campo ou objetos; qualquer um pode usar para mapear qualquer coisa.  Terceiro: despessoalizar a pesquisa, deixar passar os fluxos da multidão, fazer rizoma. Não criação, mas aliança, teórica e política. Não pensar na pesquisa como algo referente a um sujeito, criador: remix (Debord), antropofagia (arte e filosofia brasileiras), canibalização de estilo (o lixo pós moderno como potência). Aqui entra outra questão: fazer rizoma, abrindo o texto, traçando suas linhas de fuga, aumentando o território: ligar o tema com arte, outras formas de resistência. Também para deixar o texto mais leve. Produzir pesquisa de superfície; profundidade da superfície. 

3 – DESCIDA A CAMPO

Não gosto da expressão, de descida ao campo. O mundo, prática, fica em posição abaixo da pesquisa, teoria. Objeto também é péssima expressão; o mundo como objeto sujeitado a uma pesquisa, ou pesquisador. Também ir a campo, significa uma exterioridade, e não há fora do mundo. Nota-se aqui a reprodução do poder, mesmo em micro relações, como o pensamento, a fala.
No caso da minha pesquisa, a multidão e o poder, não há fora. Poder e potência são afirmados em tudo. Não tem como não experimentar o mundo.  E como digo: produzo para o movimento, para multidão. Se vivo a pesquisa acadêmica, vivo assim o movimento. E meu coração está com o movimento.
O que significa ir a campo para a pesquisa do movimento? 1. Pesquisa bibliográfica: há uma produção mesmo em formato de livro extensa sobre. Também muitos teóricos, fazem parte, assim dicotomia do tipo, teoria e prática não faz sentido.  2. Pesquisa dos produtos de web: sites, wikis, blogs, perfis de facebook, e de twiter, vídeos do youtube, streaming.  3. Contato com sujeitos: nas okupas, nas manifestações, via e-mail. 4. Pesquisa da mídia de massa.
Sobre análise das manifestações: off line e on line são complementares: on line: pelos inúmeros pontos de vista; pode ser feito após as demos, deve ser feito depois. Of line viver o acontecimento. Estar em uma assembleia podendo ser preso; estar em uma praça em situação de risco, isso marca mais do que estar na frente do computador. Por fim importante no contato com os sujeitos do movimento: contatar não como pesquisador, sujeito de fora, acima do suposto objeto.


domingo, 17 de junho de 2012


Roteiro de apresentação oral – Seminário – epistemologia comunicação

(primeiro trabalho sobre sociedade de controle)

Centro a apresentação nas considerações sobre o fim das disciplinas do Gomes. Primeiro trato de contexto: da transição da sociedade disciplinar para a de controle. Depois relaciono com o tema dos campos de saber.  Por fim, apresento a proposta de transversalidade. Esta é conceito de Guattari que não se refere à horizontalidade criticada por Gomes, e muito menos a verticalidade disciplinar.

Sociedade disciplinar, modernidade: uma das marcas é a importância do território e da identidade. Exemplos: território nacional, o povo como sujeito, com uma identidade. As disciplinas conceituadas por Foucault: família, pais e filhos. Escola, professor e aluno. Exército, oficiais e soldados. Fábrica: empregador e empregado.

 Segundo Deleuze, tudo é questão de território; podem ser pensados como territórios gêneros, raças, subjetividades, campos de saber. As identidades modernas desses territórios: gêneros: homem e mulher. Raças: brancos e outros. Campos do saber: objeto e método das disciplinas. Subjetividade: individualidade. Na maior parte desses casos, o aparelho de Estado codifica as singularidades em pares, nos quais um dos elementos é um centro de poder. As disciplinas de Foucault são dispositivos do aparelho em sua função de codificação, imposição de identidades.

Deleuze, sociedade de controle. Nesta o que se perde é o território fechado com suas lógicas, principalmente binares. Frente a isso, há discursos que tentam resgatar as velhas identidades; resgatar o que se perdeu; outros discursos tentam manter o que ainda está presente de rigidez. Para mim, essas teorias servem exatamente para isso: dar vida ao cadáver moderno. Também há discursos que ovacionam o múltiplo, a diferença, características da sociedade de controle.  

Segundo Deleuze, importante é não pensar o que é melhor ou pior; desejar o retorno das disciplinas ou ovacionar a sociedade de controle; importante é pensar nas potencialidades, na virtualidade aberta.

Um exemplo do conflito entre potência e tomada de poder na sociedade de controle: o hibridismo entre política e arte, a estetização da política. A estetização da política pode ser pensada como via dupla, uma molar e outra molecular. Molar e molecular são os elementos da cartografia de qualquer coisa. A molar corresponde à política dominante, dos partidos, aparelho de Estado. O que vemos na mídia, no uso do marketing nas eleições, dos showsmícios, nos discursos publicitários para angariar votos. O lado molecular, da interpenetração entre arte e política, vê-se desde o Maio de 68 em massa. Hoje se percebe isso na utilização de lógicas midiáticas e artísticas pelos movimentos de resistência, que são generalizados.   A crítica de Gomes interessa se pensada neste viés: a espetacularização das ciências, molar, o campo da comunicação como território no qual “tudo vale”. De um ponto de vista, molecular, a estetização se torna interessante pelas conexões entre arte, política, entre si, produzindo uma heterogeneidade transversal que foge do controle desde cima. No entanto, creio que falar em arte é perigoso, pois o campo apresenta o mesmo conflito: molar, o instituído, dominante, não político, ou mesmo o discurso clichê da arte como expressão da liberdade; molecular, um devir arte da política e da ciência, que não concerne à arte como estado; na construção epistemológica creio que deve ser buscado outro termo pra definir a expressão em jogo. 

O molar pode também ser referido às identidades de sujeitos, típicas da sociedade disciplinar, e também, as identidades das minorias recém incluídas. No entanto, penso a oferta de subjetividades pela mídia como molar, pois serve ao poder, que é a molaridade mais expressiva. O lado molecular, no contexto pós, seria a possibilidade aberta de experimentações de dessubjetivação, que não se referem à desterritorialização constante pela máquina massmidiática. Penso também que a desterritorializaçao já é potente pela própria descoberta de que mudanças são possíveis. Mas se faz necessária uma cartografia das subjetividades de resistência. Um exemplo é a busca de sexualidades em devir pela crítica Queer; subjetividades que não concernem ao homossexual hetero, aquele que busca direitos heterossexuais: ter filhos, casar.  

Relação entre disciplinas, fim dos territórios e epistemologia: Gallo (1995) relaciona campo de saber e o conceito de disciplinas de Foucault.  Disciplina nas ciências é delimitação, hierarquização e exercício de poder. Opõe o paradigma arborescente, hierárquico, que se refere à disciplinarização, ao paradigma rizomático, no qual qualquer conexão é possível.  
Gallo, então, faz sua proposta a partir da queda das barreiras das disciplinas no campo de saber:

transversalidade entre as várias áreas do saber, integrando-as, senão em sua totalidade, pelo menos de forma muito mais abrangente, possibilitando conexões inimagináveis através do paradigma arborescente. (GALLO, 1995, p. 10)


A transversalidade foi pensada por Guattari em sua experiência no campo psi. Segundo o autor, a verticalidade institucional rege as relações, desde cima. Um sistema centrado, com regras duras, fechado em si mesmo, para poucos. O autor não vê a horizontalidade como opção. Nesta todos são iguais, as relações são planificadas, homogeneizadas, e nada é produzido: horizontalidade é “uma certa situação de fato em que as coisas e as pessoas ajeitem-se como podem na situação em que se encontrem. (GALLO, P. 10)

A crítica de Gomes, como já dito, interessa se pensada como crítica a horizontalização das ciências: a lógica do “tudo vale”, e seus efeitos como a espetacularização, a tomada de poder por lógicas massmidiáticas.  Fruto da pós-modernidade, a espetacularização é uma das capturas pelo poder.  

Outros exemplos de transversalidade: verticalidade dos partidos, sindicatos, todos centrados, com posições hierárquicas que seguem uma ordem dada. Transversalidade: nos movimentos por outra democracia: em assembleias, em que todos podem se expor e decidir, nos quais não há hierarquia, mas nem desordem. As regras são estabelecidas por consenso. Horizontalidade acontece nos dois modelos: da rua, dos corredores, nos quais os sujeitos assumem posições de igualdade, não há decisões políticas, sejam transversais ou verticais. Outro exemplo: a ideia de povo é vertical, povo com uma identidade tendo o Estado como centro decisório. Massa é noção horizontal, nela as diferenças são apagadas, e na massa nada se produz. Multidão é conceito transversal. Multidão é rede de singularidades que produzem em comum mediante colaboração e comunicação.

No entanto em minha experiência empírica nos movimentos de ocupação, noto que a verticalidade aparece como fantasma: tomadas de poder, como quem fala melhor em público, ou tem mais tempo para participar das atividades abrindo espaço para práticas hegemônicas. E mesmo fantasmas modernos: os mais velhos, os mais escolados.  A horizontalidade é importante. Em ambientes fora dos programas há possibilidade de fala daqueles que não se permitem a fala nos ambientes transversais. Ali nascem ideias que podem depois ser retomadas nas atividades, como as assembleias e redes de comunicação, etc.   

sexta-feira, 15 de junho de 2012

SINGULARIZAÇÃO NA SOCIEDADE DE CONTROLE


SINGULARIZAÇÃO NA SOCIEDADE DE CONTROLE


Este trabalho (parte escrita, roteiro de apresentação oral em uma classe no ppgcom da unisinos) é continuação do trabalho em outras disciplinas, no qual penso a sociedade de controle e o fim das disciplinas em suas afetações epistemológicas. Centro minha atenção na sociedade de controle, e também seus efeitos midiáticos, um dos principais, para entender o mundo em que vivemos.

INTRODUÇÃO: Sociedade de controle é a intensificação da sociedade disciplinar como tomada de poder a partir das lutas de 68. A potência molecular das lutas das massas, re-estrutura o molar, o campo macropolítico. Potência como produção de mundo e resistência, biopolítica, poder como captura da produção, biopoder.

Característica mais marcante da sociedade de controle é o fim da exterioridade, dos limites dos territórios, sejam físicos, subjetivos, teóricos, existenciais.  Centro a apresentação nesta característica, e busco pensar também as possibilidades biopolíticas na condição atual.
Segundo Bruno:

[o controle] se aproxima ou mesmo se confunde com o fluxo cotidiano de trocas informacionais e comunicacionais. p. 152 BRUNO

Podemos acrescentar, que o controle e a resistência se confundem nos territórios. Por isso, a importância do mapeamento dessas linhas de forças de natureza diferentes. Creio que o mapa Deleuziano, o conceito de devir, o pensamento da diferença servem para fazer esse mapeamento.  

1.                  ESMAECIMENTO DOS TERRITÓRIOS E DE SUA RELAÇÃO COM O FORA


Fora do trabalho: pela natureza da produção no pós-industrial podemos trabalhar em casa. Levar trabalho para casa. Aqui produção e reprodução se dão em um plano de indiscernibilidade.  Também a produção, em alguns casos, se aproxima da reprodução: trabalhos em ambientes lúdicos. As TICS servem como ferramentas de controle, que acentuam a inexistência de fora do trabalho: o empregador pode contatar o empregado em qualquer lugar e hora. Mais, pode localizá-lo; pode rastrear o empregado em suas ações por redes sociais. No entanto, as mesmas técnicas que servem ao controle, servem de empoderamento: possibilidade de produção intelectual e criativa cada vez mais inclusiva. Também o fim do fora da produção em um contexto biopolítico é a valorização de produção de mundo. Negri diz que como todos produzem o mundo deveria haver uma renda de existência.

Fora da formação: a formação tende a ser constante. Vê-se isso na oferta cada vez maior de cursos de pós-graduação, e de cursos superiores. O ensino centra-se na produção de saber e de palavras de ordem: pense de tal forma, seja tal coisa. Importante perceber como isso é acentuado na sociedade de controle. Questões biopolíticas: a inexistência de fora da formação, significa a possibilidade de aumento do saber. Também se percebe um outro tipo de deslocamento do ambiente da escola para a rua: a produção de saber típica dos movimentos de resistência; saber não direcionado à profissionalização, nem à cultura culta; saber com fins políticos, mas também existenciais. Interessante notar, que conjuntamente à intensificação disciplinar, há também uma flexibilização dos papéis. Uma característica de técnicas biopolítica apropriadas pelo poder: o papel do professor e chefe é cada vez mais esmaecido. Produz-se em rede. Sabemos que esse tipo de produção coletiva, sem um centro é a mais produtiva. A produção em rede é fruto das lutas contra o sistema de dominação. Por fim, formação e produção não se distinguem, são da mesma natureza, diferem em grau, considerando o trabalho intelectual e afetivo.

Fora da subjetividade dominante: este é um caso especial e talvez o mais importante, que envolve também a produção e a formação.  

O capitalismo global (pós-moderno) tomou de assalto a subjetividade de forma mais acentuada que na modernidade. Segundo Guattari a mídia e indústria cultural afetam memória, inteligência, sensibilidade, afetos e fantasmas inconscientes Pelbart, p. 12 (rever ortografia da citação)

Fora das mídias: Como vimos as TICS são usadas como técnicas de controle, tanto na produção quanto na formação. Mais importante pensar como as mídias fazem parte da produção do consenso e da subjetividade dominante. A mídia é muito mais eficaz que a escola para difusão de palavras de ordem. Todos os discursos passam por ela.  Exemplo de produção de subjetividade são as identidades produzidas pela indústria cultural, como nas modas relacionadas à música: que envolve afetos, ouvir, mas também ver, uma relação com o corpo, e vestir, com o saber; e pode envolver estilos de vida: relações com a sexualidade, com os outros, com drogas. E as modas mudam e conjuntamente tudo isso, ou parte. Outro exemplo: o que as mídias vendem como modos de existências: negro, homem, mulher, gay.  

Fora do consumo: o capitalismo é inclusivo, para ele não importa diferenças, territórios.
Bruno exemplifica a inexistência desse fora: oferta de produtos tendo como base conteúdos de e-mail. Isso aponta uma inexistência de fora do privado [mercadológico] que afeta o privado pessoal.      


2.  RECUPERAÇÃO DO FORA COMO RESISTÊNCIA: INCLUSÃO DA DIFERENÇA

Outra característica do controle é a tentativa de apagamento das minorias como resistência, inclusão total: negros, mulheres, homossexuais. O discurso sobre se flexibiliza. Mais consumidores e produtores. Processo de inclusão e reterritorialização constante. Afirmação de identidades.  

Inclusão na arte e indústria cultural da diferença: A tradição romântica da arte faz apologia aos desvios: sexuais, drogas. Ao artista e a arte a diferença é permitida. Essa permissão é apropriada pela indústria cultural, produzindo inclusão, principalmente no mercado. Exemplo: pode se falar abertamente sobre uso de drogas e práticas homossexuais. Em alguns casos, pode-se fazer apologia, e mais, isso é vendável. Caso do Rock contracultural faz parte de um duplo movimento. Uso de drogas e sexualidade aberta como forma de contestação. No entanto, é apropriado pelo mercado. Rock como elemento da contracultura, que torna a diferença uma possibilidade. Que logo após ou ao mesmo tempo se torna valor de consumo.

Inclusão intelectual: em sociedades não democráticas ou autoritárias o intelectual tem um papel marginal, subversivo. Caso de Negri, que ficou preso durante décadas. Hoje, nas sociedades democráticas o intelectual é incluído na academia, que é financiada pelo Estado ou por corporações. Exemplo: podemos fazer crítica à rigidez institucional, disciplinar, e ao Estado em instituições do próprio Estado; podemos fazer crítica ao capitalismo, ao controle, em instituições privadas capitalistas.  

2.1. Desejo de inclusão pelas minorias: mesmo elas como resistência desejam inclusão.

Caso 1.  Desejo de inclusão no capitalismo: da marcha da maconha. Interessante que a marcha, não se refere apenas ao uso da droga como possibilidade de diferença; a marcha pede também uma inclusão dentro do sistema, não só político, mas também econômico:   

Trata-se de um dia de luta e manifestações favoráveis a mudanças nas leis relacionadas a maconha, em favor da legalização da cannabis, regulamentação de comércio e uso (tanto recreativo quanto medicinal e industrial, tendo em vista as milhares de aplicações da cannabis em várias áreas).  http://pt.wikipedia.org/wiki/Marcha_da_Maconha

Caso 2. Marcha das vadias: desejo de inclusão de cidadania:

[1] mulheres ainda são minoria em cargos de poder e recebem em média 70% do salário dos homens [2] há trabalhos desempenhados por uma maioria feminina que não são reconhecidos, nem dotados de valor econômico [3. As prostituas negam] suas cidadanias.

Pelbart sobre direitos humanos, inclusão: segundo ao autor os direitos humanos, o discurso sobre cidadania não são garantias de uma vida menos sacana:

[nas] democracias-mercado que respeitam os chamados direitos humanos [...] se vive e se pensa como porcos [essa é a ilusão que vende o neoliberalismo [...] caberia examinar [...] em que medida essa miragem [no pós-moderno] nos obriga a repensar a ideia de direitos humanos e traz à tona sua insuficiência PELBART p. 23


2.2 as resistências repetindo os discursos do poder, afirmando o poder, pois não há fora:

Caso 1. Poder na resistência: Movimento primavera global em porto alegre: em assembleia, horizontal, totalmente inclusiva, foram feitas duas propostas: fazer um evento contra a corrupção e uma campanha do agasalho. Contra a corrupção não foi aceita, pois diz respeito à reforma política, e o movimento pede radicalização da democracia. Já a campanha do agasalho, foi aceita. Interessante notar que esse tipo de campanha é realizado por entidades de consenso, paternalistas, e difundidas na mídia.

Caso 2. Lutas dos homossexuais: produz normas, e regras, identidades, caracteristicas do poder:

De que adianta lutar contra a norma heterossexual e hetero-fascista, se o movimento acaba reinventando-a como norma homossexual? Reinstala-se uma nova opressão: é o gay enquadrado e com família de comercial de margarina [...]  Que chega a nutrir preconceito contra as bichas loucas e os travestis. É a lésbica que não admite que outra mulher fique de quatro numa relação sexual. É o meio profissional de cabeleireiros ou estilistas, que conformam uma normatividade igualmente coagida. CAVA

3. TENTATIVAS DE SINGULARIZAÇÃO

Singularização é a produção de subjetividades diferenciais em relação à subjetividade dominantes, que enquadra sujeitos em identidades.

Movimento Queer:

[...]  afirma que ser homossexual já está capturado na heteronormatividade. Homossexual, bissexual, lésbica ou gay, isso por si só não é suficiente. É preciso escapar da divisão binária homem/mulher ou hetero-homo. [recusar] a própria ideia de uma normalidade [...] CAVA


CRÍTICA RADICAL: como produção de diferença quando se chega a um consenso. No caso, vejo mais como uma experimentação.

Comunicado do Black block sobre as lutas em Copenhagen:

Esse comunicado se refere ao grupo em sua crítica aos ativistas que lutam pelo clima e contra o capitalismo. No comunicado é dito que parece haver mesma lógica entre representantes do governo, ONGs e até os ativistas ecológicos mais radicais. Todos estes apresentam mesmo discurso: “nós estamos salvando o mundo”. “Quem não ia querer lutar para isso? E mesmo se você não, você tem mesmo uma escolha?”.
                 
[...] pode-se ouvir o [...] chamado para submeter-se. Sacrificar tudo o que faz a vida valer a pena em nome da própria vida. Encerrar o presente e salvar o futuro. Para controlar nossos desejos, e acima de tudo, para não perturbar o delicado equilíbrio. Ecologia pressupõe a mesma concepção de existência que caracteriza a polícia: o perigo está em toda parte, e, antes de tudo, em nós mesmos. Quando o sucesso desta conferência depende da participação da população em cada centro da cidade, onde você acha que devemos ir? E se a polícia, em todas as suas formas, é a essência da nova política global, o que você acha que deve fazer?




4. INEXISTÊNCIA DO FORA DA RESISTÊNCIA

OCCUPY, da resistência: a fórmula dos movimentos: a palavra de ordem: “somos os 99%” cria uma inclusão generalizada na resistência contra o 1%:

“O socius torna-se um megavideogame em que alguns poucos jogadores invisíveis brincam com seus milhões, de dólares, de empregos, de vidas alheias.”  PELBART, p. 23

Caso dos Anonymous: sintoma da inclusão generalizada na resistência:

Anonymous é coletivo de hacktivismo que atua na rede em ataques a sistemas de corporações e Estados. O anonymous luta diretamente contra o controle: luta pelo anonimato na rede; contra a apropriação da colaboração e do bem comum da multidão. Luta também contra a classificação da multidão: não tem nome, identidade, não é restrito a um grupo, ou centro. Age em comum, produz em comum, produção que foge da valoração dominante capitalista.

Sua produção vai além dos ataques DNS. Difunde saber, conhecimento, em seus comunicados em vídeos e texto. Também pode ser pensada como um modo de vida na rede, anônima, entre legalidade e ilegalidade, para aqueles que participam dos ataques. E mesmo as máscaras, elas são vistas em manifestações, por pessoas que não atuam nos ataques. Uma subjetividade anônima produzida. 

Só funciona por enxameamento; suas operações dependem da colaboração em massa. Por isso, é totalmente inclusivo.  A máscara que qualquer um pode vestir e o nome simbolizam muito bem a inclusão generalizada. Tem relação direta com a obra de Negri, isso é notado na citação: somos legião. Em passagem de multidão, o autor cita um mito cristão. Fala de um demônio, de nome legião, que na verdade é uma multiplicidade de demônios. Aqui uno e múltiplo se confundem. Uma boa alegoria para pensar a multidão: que é um conjunto de singularidades diferenciadas que agem em comum mediante colaboração e comunicação. Torna-se uma, pela produção e pelo comum. E não pode ser enquadrada em identidade, como a de povo. As singularidades são potentes por não terem identidades. Isso é forma de resistência ao controle:

Como diz Amadeu: “O controle é avesso ao anônimo, ao incerto e ao nômade.” p. 130

CONCLUSÃO: Por isso são produzidas identidades fixas, apropriam-se as minorias a partir do enquadramento, e de movimentos de desterritorialização e reterritorialização. As minorias, em sua potência molecular, desterritorializam os códigos macropolíticos, molares, no entanto, são reterritorializadas, perdendo potência, sendo enquadradas, em uma inclusão diferencial. Daí, importante pensar no que resta de diferenciação para ser usada como potência.

Ex. A CUFA, entidade de fomento das manifestações e modos de vida das favelas, está produzindo um concurso de top models para moradoras dos morros. Gisele Bundchen e uma marca famosa de produtos de beleza promoverão o evento. Os pobres são sinônimos de padrão de não beleza. Provavelmente as garotas com beleza mais próxima do padrão serão as vencedoras. O evento propõe que a beleza das favelas seja incluída. Assim a favela desterritorializa a moda, um das possibilidades do evento, porém, os códigos da moda reterritorializam a favela.