Meus
olhos, teus olhos, nossos olhos
(um
poema para Natasha)
Para identificar
alguém, a identificação se dá pelo rosto e é usado o olhar. O olhar é tão centralizado
que é comum confundir o olhar com a percepção; o olhar é a percepção principal,
e possivelmente isso foi criado a partir de uma coerção do controle. O olhar é
naturalizado, dominado, modulado, e torna o que atinge em algo direto,
digerido, radicalmente simples. O olhar só vê o visível, melhor, recortes do
visível. Mascarar o rosto é esconder a identidade e pode ser uma forma de criar
um comum entre rostos singulares. Marcos e os passamontanhas, os anonymous,
eles são resistências diretas a identificação. O olhar dominante é traído a
partir de linhas de fugas.
Aqui neste curto
ensaio, poético, filosófico, com linguagem diferente da dominante acadêmica,
tento experimentar uma outra percepção: a partir do meu olhar, tento me
aproximar de um outro olhar, este um olhar que se olha e se recria, se maneja, se
teatraliza. Faço isso para abrir um outro olho, o terceiro olho.
O texto é guiado pelos
afetos, pela intuição, pela paixão por esse olhar. O objeto principal é um dos
vídeos de Mc Zeus, rapper gaúcho, de 17 anos de idade, com uma obra extensa e
consistente. Após assistir algumas vezes seus vídeos e de proposta do
orientador de pós doutorado, comecei a pensar no possível texto. Eu dirigia
pela cidade e lembrei do olhar de uma menina em um dos vídeos. Fiquei uma hora
dirigindo e construindo mentalmente o texto. Nesse momento, só pensava no olhar
dela. Quando cheguei em casa revi o vídeo e notei que ele não era exatamente
como eu me lembrava. Para mim, naquele momento de devaneio intelectual, o olhar
dela centralizava todo o vídeo; e sim, ele é importante no vídeo, mas não tanto
quanto eu pensava. Decidi, portanto, escrever o texto centrando no olhar dela,
a partir da imagem falsa que tive quando dirigia. Ou seja, o texto parte de uma
ficção, e mesmo essa afirmação do falso pode ser um jogo meu. Assim, me coloco
não como cientista, nem acadêmico, mas como poeta, criminoso, conspirador, enganador,
alguém possuído pelo demoníaco, sendo o demônio criador da mentira.
O texto, ensaio, ensaio
crítico, ou seja, político, portanto, é poesia, poesia que mascara um humor
peculiar, que não vou revelar, pelo menos agora. Essa soma, conexão de linhas
diferenciadas é a transversalidade, e esta não é um campo, um dispositivo, nem
deseja ser, mas é exatamente o atravessamento de campos para fugir da lógica
identitária. O ensaio tem esse centro, o vídeo de Zeus, o qual atualiza o olhar
da musa, mas tenta fugir o tempo todo, criar brechas. Essas fugas direcionam
para um futuro, são sacações para serem trabalhadas nos textos seguintes sobre
Zeus; assim, é um texto aberto, com pontas de possíveis, que tenta entrar no
campo virtual. E isso já é uma crítica aos trabalhos fechados, organizados, não
dispersivos que são frutos do controle, ilusões do grande irmão (um dos
personagens conceituais do texto), que insiste em afirmar, impor, um mundo
seguro, harmônico, melhor, controlado. O grande irmão, o controle, é a soma de
todos os dispositivos e o terceiro olho concerne às linhas de fuga possíveis neles.
Trepanação é fazer um
furo na fronte, no crânio para permitir a abertura do terceiro olho
continuamente, até a morte. O terceiro olho não é um sexto sentido, mas “N
sentidos”. Ele também é aberto de inúmeras outras formas, com as drogas, o sexo
tântrico, a meditação, a loucura, a arte. O terceiro olho está sempre aí
tentando se abrir e poucos o notam. O grande irmão, o controle, tenta impedir a
abertura do terceiro olho. Os olhos do grande irmão se impõem como único olhar,
e ele não está acima, está dentro, é o olhar rotineiro, dominante. O terceiro
olho e o grande irmão estão continuamente em conflito, nunca em diálogo. O
terceiro olho não faz concessão, como desejo ele é resistência ao domínio. Em
todos agenciamentos sempre há poder e resistência, e a cartografia, atualização
do terceiro olho, permite perceber a natureza dos agenciamentos, a soma de
linhas, a transversalidade.
O grande irmão impõe o
olhar como percepção principal, mas quando o terceiro olho é experimentado,
sabemos que ele pode ser aberto pelos poros, pelo pênis, pela vagina... Portanto,
ele não é localizado, está em todo corpo, como o grande irmão está em toda a
parte. O grande irmão diz que a mulher é mulher, impõe isso para a mulher. O
terceiro olho é pertencente à mulher como minoria sujeitada – ela empresta esse
olho para todo o social, o devir mulher. O grande irmão odeia a mulher e reduz
sua existência, por isso, por ser resistência a ele. Mas o grande irmão está na
mulher, e ela luta e luta e tenta; Deleuze e Guattari alertavam que a mulher
também tem que devir mulher.
Ela é linda, tem talvez
dezoito, é loira, moradora do sul do Brasil. Ela faz parte de uma subcultura, o
rap, curte drogas, está na melhor fase de sua vida. Ganhou peso nos últimos
tempos, já que é uma mulher que sofre por ser mulher e seu corpo é um campo de
batalhas. Ela é a musa de Zeus no vídeo da música Afro Killa. Zeus, esse ser
híbrido, de muitas cores, esse Killa que mata em nome da arte, portanto, da
vida. Ela está ali, muitas vezes no centro do vídeo, mostrando seu olhar de forma
natural. Talvez ela seja o que de mais natural e espontâneo haja no vídeo, ela é
teatral naturalmente. Sendo a musa de Zeus e sua trupe, tendo sido sempre a
musa das pessoas do seu nicho, aprendeu a agir no mundo – ela sabe que o teatro
é uma forma de defesa, mas esse teatro brinda o mundo com sua existência
intensificada.
No vídeo, ela é um
olhar. Ela tem esses olhos germânicos, com pálpebras de uma brancura especial,
e seu olhar é potencializado por um brilho de quem abriu o terceiro olho. Sim,
ela brinda o mundo com o olhar, o qual quer ser visto. Ela sabe disso, então
maneja o olhar, ela olha o próprio olhar e trabalha ele, e para trabalhar ele
usa o terceiro olho, e a maconha, o beque em suas mãos, ajuda e muito.
A musa – esse
personagem dominante na arte moderna – é intocável (mas não pelos outros,
ninguém tem ciúmes de sua musa), ela é intocável para aquele que a admira. É
uma obra de arte a ser admirada, não apenas vista, mas sentida de inúmeras
formas; e a musa só se torna musa quando o terceiro olho é aberto, quando ela é
sentida a partir de todos os sentidos, mesmo que o grande irmão diga que é um
objeto que deve ser apenas visto.
Tadzio, loiro, jovem,
de olhos claros era apenas visto pelo escritor, Tadzio era o muso do escritor.
Quando em Lolita o pedófilo apaixonado tentou tocá-la, quando ela deixou de ser
um objeto a ser fruído com distância, ele perdeu sua musa. A musa não é a
objetificacão do corpo, quando falo em objeto, esse objeto específico se refere
a aquilo que deve estar próximo, mas distante, assim como qualquer obra
pictórica figurativa, que apresenta algo próximo, um rosto, uma paisagem, etc,
mas que está distante, já que é uma ilusão.
A distância é
necessária na experimentação do terceiro olho: estar com ele, mergulhar nele,
mas com cautela. Abrir o terceiro olho com muita intensificação é entrar no
caos e não mais sair. Sid Barret fez isso e se perdeu em um buraco negro sem
volta. Waters, seu companheiro, comentou o olhar de Barret, os olhos de Barret,
para Waters , eram buracos negros no céu. Johnny Thunders, pelo vício em
opiáceos, tinha um olhar parecido, percebido em muitos vídeos em apresentações
suas.
E a musa de Zeus...
Sim, está perto e distante, deve estar distante – senão deixa de ser musa e se
torna amante. Ela é uma linda imagem, algo atualizado no vídeo, em sua
especificidade, é algo fruível. Ela tem um belo corpo que dança suavemente; seu
ventre exposto é incrivelmente lindo, e estar acima do peso, pelo peso da
entrada na vida adulta, a torna mais linda ainda. Ela se veste sem cerimônia,
sua bermuda cinza é de um tecido leve, delicado, possivelmente gostoso de
tocar; meio moleque, está de boné. Ela faz praticamente três coisas no vídeo:
mostra o olhar, brinca com a fumaça de cigarros com seus lábios delineados,
movimenta o corpo em uma sutil dança. A sutileza e a delicadeza são suas
marcas, mas são trabalhadas de tal forma por ela que se tornam algo sexy, que
arrebata. A estética dela no vídeo não é cosmética, ela não é adornada,
falsificada por possíveis tratamentos estéticos, como disse, ela é ela, ela é
natural, mesmo que seja a naturalidade do teatro.
Se fosse cosmetizada
seria objetificada e viraria algo totalmente distante, frio, friável, um
produto. A paixão pelo produto é marca do controle, a subjetividade é tão
colonizada que nem os desejos ficam ilesos. Essa marca mostra o grande irmão
dentro de todos. O grande irmão diz: consuma, ame as coisas como elas são.
Porém, como ele está dentro, diz respeito aos sujeitos, a palavra de ordem não
é necessária, todos consomem e amam as coisas como elas são. E de forma alguma
eu faria uma ode a um produto. Warhol não fez isso, ele mostrou exatamente a
paixão triste pelos caixões produzidos pelas indústrias. Mostrou para a
sociedade o que ela é, mostrou que os sujeitos amam a morte, se regozijam com
ela. Os objetos de Warhol não eram artísticos, mas reproduções de produtos, ou
seja, reproduções de reproduções. Portanto, a obra de Warhol era filosófica,
partia do conceito crítico. Danto, um filósofo de arte conservador, conseguiu
expor isso: a morte da arte quando ela se tornou filosofia exatamente com
Warhol. Porém, arte para mim é um conceito vago e raso, o qual tenta fotografar
inúmeros processos. Na época de Warhol inúmeros suportes, campos, territórios
simbólicos foram misturados de forma descarada, e com os movimentos em rede e a
internet essa mistura se torna dominante; uma das marcas do pós-moderno é a
conjuração dos campos fechados, que ainda tentam viver, melhor reviver. O
cartógrafo, o experimentador da transversalidade é um desses conjuradores.
Zeus, no vídeo, está
sempre ao seu lado – da musa – a intimidando, mas ela não quebra a pose, e ela
não quebra a pose com sua arma, o olhar, mantém o olhar, já que tem domínio
dele. Ela nos olha, ela sabe que nós a olhamos, ela gosta disso, joga com isso,
sabe o que está fazendo a partir de sua percepção molecularizada, de sua
intuição, de seu devir mulher. Não é espontâneo, como disse, ela aprendeu a
jogar com a vida. A vida dela, como mulher, seu devir mulher, depende do seu
olhar. Olhar vago que está em outro mundo, o mundo do terceiro olho (não do
grande irmão), no qual ela é uma deusa.
A importância dos
olhos, do olhar, é algo constante na cultura pop. Joan Jett tem olhos azuis e
um olhar penetrante, hipnótico. Dakota Fanning tem olhos verdes tão hipnóticos
quanto. Duas najas, ninjas do olhar, que dominaram o olhar dos homens ainda
ninfetas. Heroin chic se referia ao corpo magro e macerado, mas o que mais
marcava no estilo dessa moda era o olhar com ares próprios à narcose. Bowie
ganhou o mundo pelo olhar, ele tinha uma deformidade nos olhos. Morrissom
entrou em decadência quando seu olhar perdeu forças. A música de maior sucesso dos Stooges se
chamava TV Eye, um tipo de olhar que mostra o desejo de um homem por uma
mulher. Ana Karina era seu olhar, e isso bastava. A banda punk mais importante
do Brasil se chamava Olho Seco; “o olho seco daqueles que viram as desgraças do
mundo”, como diz seu fundador Fábio.
Sendo mais fácil
identificar pelo rosto e pela centralidade do olhar, os olhos mostram quando o
sujeito está drogado; e cada droga dá uma especificidade ao olhar. O terceiro
olho não é um olho ou uma percepção, mas a conjugação – transversalidade – de todas
as percepções humanas dominantes e todas as outras possíveis. Os olhos da musa
de Zeus são os olhos da mulher, uma minoria – chapada, assim, outra minoria –
em conexão com todas as outras minorias. Ela, a musa, é vista por mim a partir
das minorias que me habitam, e o afeto para produzir esse texto a partir do seu
olhar, o meu terceiro olhar é meu e dela e de todos nós.
Ela é única mulher no
vídeo; Zeus faz arte, bela arte, prim-arte (como diria nosso mano Pig), e
precisa de um intercessor minoritário, ela, para potencializar seu trabalho. O
rapper Zeus é violento, tem um olhar louco, injetado, meio afetado, em fúria
que dialoga, copula com sua “Vênus em fúria”, a nossa musa. O olhar de Pig é
mais calmo, mas talvez seja a calma de um assassino, de um Killa.
O terceiro olho está em
toda a parte, o nosso comum, nossa loucura. O grande irmão une a todos como se
estivessem presos em um lamaçal. Sem saída, todos dizem que amam a lama para manter
o orgulho. Afro Killa, Aquiles sabe que vai morrer, mas vai se tornar herói,
Zeus é um herói ao lado de sua Afro dite, o amor de Zeus, seu devir mulher, que
quebra a pose de rapper machista, o tornando um rapper amoroso, um Killa
amoroso. E Zeus não mata já que faz arte, mas seu olhar mostra que sua arte é
feita por ódio, ódio ao grande irmão, e esse ódio é amor à vida.
O grande irmão chama o
terceiro olho de olho, mas não é um olho a mais, é uma multiplicidade, N olhos
que não são mais olhos. Por isso, Édipo se torna vidente quando fura os olhos,
algo parecido com o que aconteceu com Tirésias; eles negam a percepção
dominante centrada na visão para entrar na percepção vidente do terceiro olho.
Blake mostra como o cientista é cego, ele olha apenas um ponto e nega todo o
resto: o cosmos, o subterrâneo que existem não para serem vistos, mas
percebidos e sentidos.
As sensações e
percepções permitidas pela metrópole sempre estarão em posição privilegiada em
relação à arte. O grande irmão e seus utensílios fazem a captura. Estamos sob o
olhar das câmeras de vigilância, dos outros e de nós mesmos. Mas na cidade as
linhas de fugas estão por toda parte em espaços não vigiados, espaços prontos
para a conspiração, e a conspiração necessita do terceiro olho; a necessidade
de conspiração se dá a partir da abertura do terceiro olho, o qual faz enxergar
o grande irmão e daí o desejo busca a resistência. Foucault nos brindou
mostrando a percepção do grande irmão, atualizada no panóptico, o olho que tudo
vê que domina a materialidade do dispositivo prisional. Sim, necessitamos de
cinema, de vídeos, de música, mas que compitam com a potência da cidade.
A importância desse
vídeo de Zeus, como de tantos outros seus, é mostrar a juventude produzindo valor.
No vídeo, Zeus pode enlouquecer de tal forma que o grande irmão não pode
impedi-lo; ele nos ensina a prudência da experimentação. O grande irmão tem
medo da arte, não a entende, então a aceita; sim, a arte, uma das filhas do
terceiro olho. Zeus mostra o afeto entre os manos, a importância da festa e da
bagunça, a testosterona aliada à violência tipicamente jovem e, claro, nossa
musa.
Zeus é um conspirador,
experimentador, busca quebrar com os símbolos, é um Diabolos, um divisor.
Lúcifer porta um tipo de luz que mostra o poder negativo de Deus, que é outro
tipo de luz. As trevas são iluminadas pelo fogo que queima, queima os símbolos
dominantes. A nomeação Zeus talvez seja uma quebra de símbolo, própria ao
Diabo, uma forma de sarcasmo, uma inversão. Zeus pode ser na verdade Hades e
Hades pode ser Lúcifer.
A inversão direta é
comum nas falas cotidianas para mascarar aquilo difícil de dizer. A
impossibilidade de silêncio usa metáforas para não macular a moralidade. Mentir
no cotidiano envolve um tipo de narrativa próxima da poesia e uma pantomima que
diz respeito ao teatro. A arte já é uma mentira, um jogo, uma ficção, uma
realidade em si mesma. E a mentira é elemento próprio do demoníaco. O problema
da mentira é quando ela é usada para algum fim, enganar os outros para obter
poder; mas a mentira em si mesma é potência da vida e pode tomar forma no “dito
sistema da arte” ou no cotidiano.
Zeus, na verdade, é um dos senhores do Abismo
que usa uma máscara para não ser visto, identificado pelo grande irmão? Sonho,
morte, demônio, são os reis do subterrâneo... Seria Zeus mais um deles
conspirando? Nosso Zeus, o rapper, talvez nem saiba disso, já que as forças da
vida, da resistência, contra o poder podem ser atualizadas na vida mesmo sem a
compreensão dos sujeitos.
Como afirmo: ver o
visível, o atualizado, o óbvio isso é imposto pelo poder; já buscar o
molecular, o imperceptível, como insisto no texto, é a experimentação do
terceiro olho, de chegar nele. Esse texto ensaístico tentou criar uma narrativa
que pensa não nas atualizações, nas miradas dominantes, mas naquilo que
virtualmente está presente e que é tão real quanto o real e, mais, melhor que o
real, já que o real é fruto do poder e de seu olhar transcendente, o qual se
sobrepõe a todos e, ao mesmo tempo, está em todos.
O segredo, a
conspiração, a arte sempre foram armas contra a onisciência divina. O crente
nunca teve escolha, além de ser visto tinha que se confessar para purgar os
pecados. O moralista, após a derrocada de Deus, ou esconde ou se purga no
consultório com seu analista. O moralista peca e se assusta consigo mesmo, ele
não age é agido, pelo menos pensa assim, como forma de defesa, diz que não sabe
o que faz. O romântico é imoral, amoral, mostra suas sujeiras ao mundo não como
purgação, mas exatamente para quebrar com a moral dominante, o romântico é um
demônio específico.
O romântico para não
morrer, para resistir à moral dominante, necessita de um território existencial
singular, algo diferente da vida de todos, a vida imposta e amada. Ele diz não
ao não, nega a interdição, as leis, da sua forma; porém todos fazem o mesmo, de
uma forma ou outra, dizem não. Às vezes, a necessidade de dizer não é tão forte
que acaba se tornando micro fascismos, como assassinatos e violência.
O suicídio se tornou um
símbolo da juventude e aumentou nas últimas décadas. Ao mesmo tempo, os jovens
foram empoderados pelas redes de comunicação, pelas redes de resistência, pela
horizontalidade das relações dos jovens com os focos de poder. Os jovens
decidem se suicidar talvez exatamente por isso, pelo empoderamento. As leis
continuam duras impondo a “identidade jovem” a eles, o recorte, a sobrecodificação
do grande irmão. Os jovens, com mais poder, acionam o terceiro olho e entendem
que um pouco de poder é pouco; eles sabem que estarão na prisão por muito tempo
ainda. Aliás, os jovens no paradigma atual ficam jovens por mais tempo, talvez
por uma necessidade de captura do grande irmão, sua tentativa de bloquear a
potência. No outro paradigma, eles entravam na vida adulta muito antes, mas
agora os vinte anos se tornaram trinta anos. E como negação dessa captura
estendida eles fazem o que podem fazer, fazem a negação absoluta.
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