quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Crônicas Fora de Controle - algumas crônicas

Os pais, os professores, os alunos e os filhos  


Sempre ouço as pessoas falarem com orgulho: sou o que sou pela educação que meus pais ou avós me deram. Lembro de pais de amigos que impunham algo como fibra moral: não faça festa, estude. Anos depois o filho que sofria e muito com a disciplina paterna, dizia: meu pai me ensinou a ser o homem que eu sou. Se não fosse ele, eu teria continuado a usar drogas, eu não teria ido à escola etc.  Na graduação, notei que os professores mais chatos eram aqueles mais queridos. Os mais duros, os que forçavam a estudar. Lembro de dois paraninfos, que obrigavam os alunos a estudar. O desejo da dureza, da disciplina. Provavelmente, os alunos agora dizem: se não fosse o professor tal, eu não seria quem eu sou hoje. E esse mesmo cara, após o final de semana chega no trabalho se sentindo um merda, já que tomou todas, se drogou. Se sente envergonhado, quando o lembram da sua adolescência. É meu, você usava todas, e agora taí dando uma de pai, de trabalhador. O lado vergonhoso que tentam deixar de lado. Garotas dizem depois que vocês as chifram: vou ensinar a você; uma expressão que circula em tudo. Acho que família, ser pai, ter filho, mesmo com toda a flexibilização, se é obrigado a ser o disciplinador, o cara que vigia e pune. No máximo dá pra fazer uma revisão, uma reforma, mas o que não é muito. É isso: na rua você se fode, em casa você se tornará o bom cidadão. E todos querem ser bons, bons cidadãos, trabalhar, pra ter dinheiro. Legal as imagens do The Wall, na parte dois da música. O professor tendo pesadelos com as punições impostas aos alunos.  Deve ser foda saber que você vai ter que acabar com a raça de uma pessoa, ainda mais de alguém que ama, seu filho. Palavra interessante: vagabundo. Aquele vagabundo que só bebe; aquela vagabunda que dá para todo mundo. Papai não deixa o filho se drogar pra ele não virar um vagabundo. O professor fecha o aluno na sala, não deixa sair pra não virar um vagabundo. Pense e aja de tal forma.  E daí a gente pensa que tá criando uma fuga a partir do campo do saber, pensar melhor o mundo, mas fecham a gente em mais regras. O ensaio é uma escrita vagabunda. O jornalismo é interessante porque qualquer um entende. Notícia ninguém tem prazer com a forma, mas qualquer um pode ler. Crônica algo que dá prazer. Livro de jornalistas: eles sabem muito bem escrever pra todos. 99% de lixo. Mas pro homem comum, o trabalho acadêmico é 100% de lixo. Quem tá certo? Você deve trilhar esse caminho pra chegar ao texto correto. No ensaio você tem muitos caminhos para trilhar, mais fácil de errar. Faça o certo. Mas Cazuza talvez estivesse certo: erra comigo.  Os manos tão sempre certos: não me enquadra mano, me erra. O corredor é uma bagunça, mas ali também você não pode fumar um.  Mas sempre há os lugares especiais que você pode. Procurar um lugar especial no ensaio. Não para ser mais um na massa. Massa de ensaios, qualquer coisa, todos. Todo mundo enlouquece um pouco. Mas você não fuma um beque na mesa ao lado da vovó. Você não escreve um título de artigo do tipo: pau no cu do método. Aja como eu quero que você aja. Papai e professor. Todos conhecem a fundo as disciplinas, dentro de si. A maioria aceita. Eu não quero ser pai, mas quero ser professor.  E a questão não é de autoconhecimento, o poder em mim, mas de pensar o mundo. Estamos no mundo. Mas então há esse mundo, duro, o bom mundo, de papai, dos professores, do trabalho; e a fuga desse mundo, as drogas, as putas etc. o que a gente vive como vergonha. Se drogar não garante nada. A mamãe, a esposa, a vovó, a irmã, a sogra, a cunhada, todas tomam Valium e são as mais caretas de todas. Os pais bebem. Um adolescente com um beque na mão não tem nada na cabeça. Talvez venha a ter. Estava na aula de artes marciais.  Lugar bem interessante, o professor é um PM e todos os alunos são PMS. Daí aparece um gordinho, 13 anos. Cheguei nele: por que você tá aqui? Ele: quero aprender a lutar e emagrecer. Falei: meu, compra um skate, uma bike ou um roller e vai todas as tardes numa pista. Rápido você vai fazer uma turma. Eles vão oferecer cigarros pra você e drogas; vão levar você pras festas; você vai começar a emagrecer e as garotas vão começar a notar você; não só porque você vai emagrecer, mas porque você vai virar um cara legal.  Não ouça sua mãe nem seu pai. Aprenda a mentir.Você deveria ter aprendido isso sozinho, mas como até agora não, eu passo só umas dicas. Qual é? Você aceita ser aluno de um pai ou de um professor? Aceita ser aluno? Faz a sua, mano. Faz a sua. Não encontrou até agora o caminho, problema é seu. Se fecha na estrutura. Política só nas ruas, ou a burocracia. Academia não é a rua. Aqui é o lugar. Torre de marfim, meu bem. Mas como assim, sempre foi assim, é assim em tudo, você quer acabar com nosso mundo? Eu só conheço esse mundo, amo meu pai e minha mãe, quero ser um pai e uma mãe, quero trabalhar, ser um bom cidadão. Isso é coisa de revolucionário de merda! Revolução é quando tudo vai abaixo, os de cima vão pra baixo, carnaval e putaria. As vadias sacaram bem: putaria política, putaria como potência, não como segredo ou sujeira. Diferente quando a esposa e mãe diz pro marido, o qual ela chama de pai: me chama de puta. Só ele pode chamá-la de puta e ninguém pode saber. Depois olha pro filho e se envergonha. Não é qualquer  coisa meu, quando a gente pensa que tá criando, a gente pode estar no erro; mas vamos errar um pouco, uma hora a gente acerta. Me erra meu; qual é? 

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