quarta-feira, 18 de maio de 2011

dissertação

Estava meio assim pra postar a dissertação, não tinha achado nenhuma ferramenta decente de pdf no blogger... mas o pessoal lá do CMI-Brasil (que como é parte do meu objeto de estudo, me senti na obrigação de enviar pra eles) postou na publicação aberta o resumo e um link com a dissertação em pdf (gentil da parte deles). Assim passo o link pro post:

terça-feira, 3 de maio de 2011

A morte de Bin Laden e as lutas em rede

A mídia vampiriza o acontecimento; dá uma super exposição, dá a impressão de que ele é muito mais importante do que é; assim tem alguns dias de tema para seus receptores. Ela sabe vender o acontecimento. Foi assim com o tal do “casamento real”. Quanto à morte do Bin Laden, é o mesmo, vamos ver por quantos dias a mídia vai conseguir manter as pessoas interessadas.

Mas essa vampirização deixo de lado. Fico no que é dito: mataram o inimigo da América. A América una venceu este outro corpo também uno, o líder do terrorismo. Como sempre um contra um. A matemática mais simples; até as crianças entendem. É claro que a dicotomia seria mais visível se tivesse acontecido na era Bush. Duas figuras carismáticas. Dois odiosos. Um em nome do bem, o outro a encarnação do mal.

Pelo que nos é dito, ou melhor, imposto, a AL Qaeda é centralizada. Tinha um líder. Assim reproduzia uma estrutura antiquada. Negava o poder da rede.

O mais interessante é que todo esse joguinho que vende, obscurece o outro jogo. O Império está sob enfrentamento de rede de redes que não é composta de terroristas, isso há mais de uma década. E poucos entendem. A mídia até agora não entendeu as resistências, como poucos entenderam que o poder é também uma rede de Estados, corporações, ONGs, mídias, instituições supra-nacionais. E como dizem Negri e Hardt: contra uma rede apenas outra rede. É, é o pensamento que é lento, não a vida. Mais lenta que a mídia apenas a opinião do idiota, que, aliás, faz parte do seu discurso.

Essa rede – de insurgência – também sofreu com os atentados do 11 do 9. O estado de exceção criado após a queda das torres gêmeas aconteceu na mesma época dos dias de ação global, as primeiras lutas contra o Império, os movimentos de multidão, por outra globalização, os primeiros em rede com alcance e demandas globais. E claro, estes são menos potentes violentamente que o terrorismo. Mas são potentes, pois buscam a felicidade, a alegria contra o mundo de tristezas (fazendo distinção entre a tristeza e a alegria, terroristas e a América e os países dominantes se assemelham). São potentes, pois buscam uma democracia sem liderança, sem o corte entre dominantes e dominados, democracia de todos para todos; verdadeira democracia contra esse governo de poucos sobre muitos.

Os movimentos de multidão, sim, são efetivamente uma ameaça ao Império. Como foi dito acima: contra uma rede apenas outra rede. Mas fecham os olhos para eles e veem apenas o previsível.

As associações usadas como potência pelos alterglobalização, além de serem democráticas internamente, são impossíveis de deter. E mais, anunciam um novo mundo, pois não querem tomar o lugar da governança transcendente, mas usar sua própria forma e conteúdo como modelo para outra realidade.

Bin Laden tinha que morrer. Sua guerrilha dizia respeito a outro paradigma, antiquado. Se tivesse aprendido com os movimentos por outra globalização, com a EZLN, ou mesmo com a estrutura organizacional da internet, se tivesse dado atenção para as mudanças nas formas de produção, na estrutura do poder, todos em rede, sua morte não seria significativa. E talvez não seja, isso é a mídia quem diz. O tempo dirá, se a Al Qaeda era realmente centralizada em uma figura carismática, reflexo da modernidade, que felizmente já era.

domingo, 1 de maio de 2011

O biopoder midiático e seu impedimento do devir

(Estou produzindo essas pequenas criticas partindo do discurso das mídias tradicionais, corporativas. Como não há fora delas, isso é fácil. O desafio é criticar tendo como base as teorias de Negri e Hardt, Cocco, Deleuze e Guattari, Antoun, e um pouco do que foi apropriado de Foucault por esses.)

A mídia trata os sujeitos como pertencentes a segmentos endurecidos. Um passinho à frente é a inclusão nos segmentos do que se considerava como minorias até um certo tempo; no entanto os negros, homossexuais, mulheres são recuperados deixando de ser sujeitos à margem e são enquadrados a partir de identidades, o que elimina a possibilidade de singularidade.

Isso impõe um tom de espanto, pois os que lutaram nos anos 60, apenas começaram a ser reconhecidos há pouco tempo em um momento de tomada generalizada do capital, que necessita da inclusão de consumidores e produtores.

Mas fiquemos na questão de produção de identidade e no impedimento de linhas de fuga.

O corte que mais merece atenção concerne às características de homens e mulheres, estes opostos, como pertencentes a substâncias de natureza diferentes e simétricas. No discurso da mídia: “homens são assim”, “mulheres fazem isso”, “blá, blá, blá”. Quanto a esse dualismo, Deleuze e Guattari lutaram, principalmente em Mil Platôs. Não há diferença de natureza entre o homem e a mulher (explico isso melhor mais adiante). A mídia e a academia (o lixo da academia, o discurso dominante, o mais careta, que é aliado das mídias tradicionais) dizem que sim, e, assim, estes devem ser identificados de forma diferente.

O conceito de devir é resposta à produção de identidade. Entre homens há diferenças de natureza, como entre mulheres, entre brancos, entre negros, entre homossexuais. Ou seja, no interior dos estratos. Estes experimentam micro raças, sexos, condições mentais, que transcendem as classificações-clichê. A pergunta de Espinosa “o que pode um corpo”, faz aproximação entre termos heterogêneos, como impede o enquadramento. Quais devires são experimentados por tais subjetividades em um agenciamento dado? Um bom problema para o começo de uma cartografia.

Nega-se a mulher, o negro, a lésbica, o gay, etc. no corpo do homem, branco, heterossexual. Não se reconhece os devires da mulher, dos negros, dos homossexuais. Ainda mais que pela inclusão da indústria cultural, essas supostas minorias não são mais que estereótipos. Por isso a pergunta: nesse quadro, o que implicaria um devir negro, mulher, gay, etc?

Deleuze e Guattari diziam que não há devires do homem, pois ele é majoritário por excelência; se as antigas minorias se legitimam, o que ainda possibilita o devir-minoritário? Os ratos, os ciganos, os pombos, os migrantes, os favelados, os Okupas, a zona B de Szaniecki, o sul de Cocco, o drogado não psiquiatrizado, o marginal?

O devir é negado e assim impedido, por ser nossa potência e alegria. Impede-se a alegria para produzir um mundo de tristezas. O biopoder impõe a tristeza, sua função. O poder sobre o corpo do discurso midiático é um de seus elementos, saber-poder que não pode ser desvinculado da produção de subjetividades sujeitadas.

Esboço de crítica da crítica

(escrevi esse texto pra uma disciplina. A idéia era produzir uma crítica das mídias. o exercício foi interessante, pois foi sugerido um texto menos endurecido que o texto acadêmico. Acho que ele se manteve duro, mas não tanto, pelo tamanho. O texto é antigo e foi publicado no blog do GPJOR. Posto aqui, pois acho que tem relação com a proposta atual do blog. Mas o texto é de uma época bem verde, ainda não estava amadurecida a recuperação do eixo teórico que trabalhei no mestrado.)

A “satanização” das comunicações diz respeito, em parte, a antiquada esquerda, que não consegue enxergar os possíveis da realidade não apenas comunicacional atual. Isso foi dito, com outras palavras, por Antonio Negri (1993), e entendemos que ele se referia à tradição apocalíptica, que, segundo José Luiz Braga (2002), por incrível que pareça, persiste nos dias de hoje, como seu oposto, os integrados. Para nós, essa corrente de pensamento (apocalíptica) atualmente, ou melhor, a partir da virada do século, se apóia na crítica negativa das novas tecnologias de comunicação e informação. Consideramos também que ela não se limita ao campo das mídias, pois as mudanças tecnológicas ocorrem conjuntamente a mudanças políticas, culturais e econômicas, próprias da globalização, ou, melhor, da ordem mundial que Negri e seu companheiro Michael Hardt nomearam, mais especificamente, de Império, no livro de mesmo nome (2006). Na obra, o conceito de Império se choca ao de multidão – potência positiva da realidade atual.

Mais ou menos na mesma época em que Império foi lançado, três textos apocalípticos surgiram, chorando o passado perdido, o declínio do Estado-nação, o fim das grandes narrativas, mesmo que o conteúdo principal seja a fobia frente às novas tecnologias de comunicação, principalmente a internet.


Esses textos de Joel de Rosnay (2002) e Ignácio Ramonet (2001; 2002) resumem muito bem um certo espírito derrotista, em que o passado se mantém como um fantasma. Para ambos, a internet é uma rede sem centro caótica, e as outras mídias são engolidas por ela. Neles, as mídias de massa tradicionais, estão em crise, e uma horda de bárbaros digitais se apropria do seu o espaço, e não há mais nada a fazer. Ramonet (2001) especifica essa discussão, tendo o jornalismo como objeto. Para o autor, esse tradicional instrumento das sociedades democráticas estaria sendo corrompido a tal ponto que sua morte é inevitável.

A proposta inicial deste ensaio era uma crítica das práticas jornalísticas, mas decidimos trabalhar com um tema mais amplo, as mídias como um todo, pois as questões expostas aqui não são restritas. Mas quando falamos em mídias, consideramos também, é claro, o jornalismo.


No ano em que Império (o livro) foi lançado, e também nos anos posteriores, o poder hegemônico foi abalado pelos governados e explorados, por uma insurgência global, que foi traduzida em Multidão: livro de Negri e Hardt (2004) que agora dá espaço maior as potências reais de transformação da ordem mundial. O livro vem de carona com as manifestações de Seattle, contra a guerra do Iraque, os Fóruns Sociais, alguns exemplos dessa insurgência. Multidão, como já acontecia em Império, vai de encontro à posição passiva apocalíptica – essa crítica pela crítica que nada propõe – e de forma alguma se alia aos integrados, pois a democracia real (sonho da multidão) não está dada, deve ser criada.

Algumas semanas atrás, o assassinato de um sem-terra, em confronto com a polícia, recebeu destaque nas mídias. O fato nos impôs a lembrança de que há uma resistência no Brasil consistente, que á aliada de resistências globais, como a Via Campesina e a rede Zapatista. Todas reivindicam a terra, este bem que deveria ser comum, de todos, como é a linguagem, nosso corpo humano, nossa produtividade que constrói o mundo.


Se de um lado há esse poder hegemônico, em que não há mais um sujeito em oposição bem definido, como no marxismo, o qual Ramonet chora – talvez sem saber –a falta; de outro lado, há essa multidão singular que se quer assim, e que resiste. A multidão, aos poucos, mina os poderes, sua revolução não chegará, ela acontece, é um processo em andamento.

Deveríamos nos perguntar de que lado nós estamos: aceitaremos nos misturar a multidão e lutar por uma realidade menos endurecida, ou apenas ficaremos sentados, chorando a perda de um passado provavelmente mais triste que a realidade atual?


Quanto ao jornalismo, talvez sua morte nos permita dar um passo para esta outra realidade, essa sim democrática. O corte entre produtores e leitores, no jornalismo, há muito separa a multidão, impõe hierarquias, permite que apenas poucos representem muitos – reflexo da democracia representativa. Mas como cada vez mais esse corte é esmaecido, a questão agora não é mais “quem vai falar”, mas “o que falar”.