domingo, 1 de maio de 2011

O biopoder midiático e seu impedimento do devir

(Estou produzindo essas pequenas criticas partindo do discurso das mídias tradicionais, corporativas. Como não há fora delas, isso é fácil. O desafio é criticar tendo como base as teorias de Negri e Hardt, Cocco, Deleuze e Guattari, Antoun, e um pouco do que foi apropriado de Foucault por esses.)

A mídia trata os sujeitos como pertencentes a segmentos endurecidos. Um passinho à frente é a inclusão nos segmentos do que se considerava como minorias até um certo tempo; no entanto os negros, homossexuais, mulheres são recuperados deixando de ser sujeitos à margem e são enquadrados a partir de identidades, o que elimina a possibilidade de singularidade.

Isso impõe um tom de espanto, pois os que lutaram nos anos 60, apenas começaram a ser reconhecidos há pouco tempo em um momento de tomada generalizada do capital, que necessita da inclusão de consumidores e produtores.

Mas fiquemos na questão de produção de identidade e no impedimento de linhas de fuga.

O corte que mais merece atenção concerne às características de homens e mulheres, estes opostos, como pertencentes a substâncias de natureza diferentes e simétricas. No discurso da mídia: “homens são assim”, “mulheres fazem isso”, “blá, blá, blá”. Quanto a esse dualismo, Deleuze e Guattari lutaram, principalmente em Mil Platôs. Não há diferença de natureza entre o homem e a mulher (explico isso melhor mais adiante). A mídia e a academia (o lixo da academia, o discurso dominante, o mais careta, que é aliado das mídias tradicionais) dizem que sim, e, assim, estes devem ser identificados de forma diferente.

O conceito de devir é resposta à produção de identidade. Entre homens há diferenças de natureza, como entre mulheres, entre brancos, entre negros, entre homossexuais. Ou seja, no interior dos estratos. Estes experimentam micro raças, sexos, condições mentais, que transcendem as classificações-clichê. A pergunta de Espinosa “o que pode um corpo”, faz aproximação entre termos heterogêneos, como impede o enquadramento. Quais devires são experimentados por tais subjetividades em um agenciamento dado? Um bom problema para o começo de uma cartografia.

Nega-se a mulher, o negro, a lésbica, o gay, etc. no corpo do homem, branco, heterossexual. Não se reconhece os devires da mulher, dos negros, dos homossexuais. Ainda mais que pela inclusão da indústria cultural, essas supostas minorias não são mais que estereótipos. Por isso a pergunta: nesse quadro, o que implicaria um devir negro, mulher, gay, etc?

Deleuze e Guattari diziam que não há devires do homem, pois ele é majoritário por excelência; se as antigas minorias se legitimam, o que ainda possibilita o devir-minoritário? Os ratos, os ciganos, os pombos, os migrantes, os favelados, os Okupas, a zona B de Szaniecki, o sul de Cocco, o drogado não psiquiatrizado, o marginal?

O devir é negado e assim impedido, por ser nossa potência e alegria. Impede-se a alegria para produzir um mundo de tristezas. O biopoder impõe a tristeza, sua função. O poder sobre o corpo do discurso midiático é um de seus elementos, saber-poder que não pode ser desvinculado da produção de subjetividades sujeitadas.

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