No primeiro semestre do mestrado produzi um artigo para uma disciplina relacionada ao jornalismo. Pesquisei arquivos da Folha de SP que tratavam dos manifestos em 1999 contra a reunião da OMC em Seattle; aquele acontecimento inaugural das lutas em rede, segundo Negri e Hardt e Lazzarato. Cheguei a uma conclusão pouco original: as mídias simplesmente não entenderam o que aconteceu na batalha de Seattle.
No entanto essa consideração permaneceu em minha pesquisa, hoje tenho mais argumentos para afirmar que a mídia por ser legitimadora do poder, simplesmente nega os movimentos da multidão. Poderia ser dito que com a revolução dos povos árabes e sua exposição massiva que a afirmação é errônea. Acho que não.
O que nós sabemos das lutas árabes redunda no senso comum, o que a mídia nos dá: o povo unido contra a figura carismática do poder. Um contra um, em conflito simétrico. A multidão não é una, mas sim o povo legitimado pela tradição. Um povo tem uma identidade, é fácil de o compreender. A multidão é monstruosa, compreendê-la exige um método, ou uma longa preparação.
Nada sabemos sobre a complexidade de grupos, demandas, lutas que são sobrecodificadas pela mídia na imagem (fotográfica) do povo. E agora a coisa fica ainda mais previsível: a luta do ocidente contra o oriente, a luta dos Estados dominantes contra o Estado autoritário. Mesmo quando o discurso se torna menos sacana, a história parece a mesma de sempre: a tomada de poder do Imperialismo estadunidense.
A mídia é conservadora, todo mundo sabe disso; mas temos que pensar o que significa esse “ser conservador”: ela não é muito inteligente, não entende as coisas? Ou como disse acima, tenta conservar o poder escondendo o jogo, deixando de lado a criatividade da multidão?
No dia 26 de março aconteceram os manifestos em Londres, com 500 mil pessoas. Coisa do tipo só nas manifestações de 2003 contra a guerra do Iraque. A mídia brasileira não tem falado sobre isso. Talvez por estar perto demais.
Talvez o conflito árabe tenha dado impulso para as manifestações. Todo acontecimento abre campos de possíveis, que são atualizados. As revoltas árabes nos dão de presente a prova que o desejo deseja mais que sua repressão, deseja sua potência, uma nova realidade. Mesmo a mídia não pode esconder que o poder mais endurecido pode ser derrubado. Como disse Lazzarato: nós não aceitamos as coisas como aceitávamos antes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário