quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Lições esquizoanalíticas de alta magia dos subterrâneos: a subjetividade Bruxo



Este texto é um riso de Satã que detalha a vida do Bruxo, um filho, irmão de Satã, melhor, o Bruxo é Satã. O texto pode não parecer, mas é um exercício esquizo analítico, pelos seguintes motivos: a percepção molecular move o texto, como também ela é apresentada; o Bruxo é uma subjetividade não uma identidade, o Bruxo é um intermeio, meio homem, meio demônio, está na terra, mas também no inferno, sua identidade sempre é desconhecida e ele se esforça para criar estranhamento, ele é um ator, é Satã, é um gênio, é um espião, é uma metáfora, é uma ilusão; o Bruxo é monstruoso, se deseja assim, então o texto é uma ode à monstruosidade, a monstruosidade do vampiro, sua hiperssexualização, fome voraz, é parecida à do Bruxo, já que ambos são a mesma entidade; o Bruxo aparece, em muitos momentos, como criador de si mesmo, ele tem o poder da dessubjetivação, de deixar de ser o que impuseram a ele; o conceito de Corpo sem Órgãos, mesmo não referido, é central para pensar a vida sexual e afetiva do Bruxo, o Sexo Bruxo é um meio, não busca um fim como ejacular; o texto sempre tenta criar mapas com linhas de naturezas diferenciadas, ou seja, conjuga termos estranhos entre si: “o Bruxo lidera a Bruxa que o lidera”, “Satã domina o Bruxo, que domina os românticos, mas os românticos são Bruxos e, também, são Satã”, “a espada em seu peito criou seu corpo, mas ele criou a espada, assim, ele se construiu”, “enganava tão bem que enganava a si mesmo”, “era um assassino amoroso”, “o Bruxo não é tolo, ele não acredita em bruxaria”, “ele vive em extremos, sempre, é um perverso, mas amoroso, um viciado saudável, um louco que reconhece a loucura e, assim, a domina”; o texto todo é uma ficção, mas parece ser um relato que não é fictício, apenas religioso; a mentira aparece como potência frente à verdade, filosófica, cristã, científica; o esquizoanalista – que se chama na verdade Legião, mas é um Bruxo   escreveu o texto como uma linha de fuga, aumento de território, rizoma, busca de diferenciação, ou seja, o texto é uma experimentação diferente do já produzido pelo Legião. Por fim, a cartografia é a esquizoanálise, e Bruxaria, como tratada aqui, é um conceito que se mistura ao de cartografia, Bruxaria é um tipo de cartografia.
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O Bruxo aqui não é um Bruxo, mas a subjetividade, como disse acima, que atravessa a história, e busco no texto o comum entre Bruxos. Porém, desconfio que os Bruxos presentes em períodos e localidades diferenciadas são sempre a encarnações do mesmo Bruxo. O Texto é uma fábula, uma mentira, uma ficção, uma piada, mas também é rigorosamente talhado a partir de relatos sobre a figura do Bruxo, atualizados em inúmeros textos de Alta Magia; estes, apresentados aqui em recuo e referenciados, os encontrei no “Fórum BetaDemo” presente na camada mais profunda da Deep Web. Os relatos, os textos são traduções de traduções e não há como confiar totalmente em sua origem; como estavam desconstruídos e pareciam ter sido traduzidos por ferramentas digitais, eu fiz uma tradução final em português. Decidi também padronizar o estilo textual para facilitar na leitura do que segue. Escrevi o texto me pensando como um Artaud personificando um Nietzsche; sim, o mais humilde fazendo o papel do mais orgulhoso, ou seja, o Gênio Menor. Gênio Menor é um conceito advindo dos perdigotos de Satã no momento em que ele ri. Gênio Menor: não um menor que se pensa gênio, o pequeno egocêntrico, o pequeno Hitler, o pequeno que tem um certo dom e se banha nele para conseguir ser grande; o Gênio Menor é um gênio que não quer ser gênio, ele odeia o que chamam de genialidade, nega a si como pessoa especial, ele quer ser qualquer um, ele é uma puta mexicana barata, e sua genialidade está aí, no seu desejo de menoridade. Toda a tradição romântica é feita de gênios menores; sim, vivem na sarjeta, pois ela é o lugar deles. “Eu piso na rua, sempre, me sinto em casa, na sarjeta, os ratos são meus amigos e as baratas me cuidam, meu nome é rua, rua qualquer, eu sou a rua, o caos... Quer pisar na rua, quer pisar em mim, pisa em mim, tá afim?”. “Se me derem uma garrafa de vinho chileno, já que sou chique e gosto de vinhos chilenos, podem até cuspir em mim, sou um michê gourmet.... Cospe em mim! Tá afim?”. “Se você disser que gosta da minha obra, se você me puxar o saco na rua, eu quebro a sua cara”. Sim, personifiquei (rindo, da piada), para escrever o texto, uma grande mente, que traz a verdade sobre o mais profundo da vida, como seu eu fosse um oráculo, ou mesmo como se eu fosse o Bruxo contando sua própria história. Sim, um Bruxo, alguém com poderes, alguém muito mais forte que o mais forte dos mortais. Fiquei um dia inteiro me olhando no espelho e berrando: eu sou o caos! Passei então a acreditar, me sentei no teclado e escrevi a “importantíssima” obra que segue. Depois que finalizei, fiquei três dias consecutivos rindo (da piada), rindo de mim mesmo, da obra, risada de Satã. O texto como sempre é escrito por Legião (demônio que aparece na parábola do Saraceno), e Legião é UM demônio, porém ele é uma legião de demônios, por isso, o texto parece ter uma organicidade, mas pensar dessa forma é um engano, é não ver a Legião. A aparência do texto, assim como a imagem do demônio, é apenas aparência, e os olhos nunca poderão contemplar a verdadeira imagem de um demônio. Penso no indivíduo, o Bruxo, e na sua vida privada em relação à vida de outros, já que a maior parte dos textos que encontrei apresenta o Bruxo como alguém radicalmente individualista, e a radicalidade individualista é marca do satanismo. O Bruxo se centra na sua existência, não pensa no social, não se importa com o destino da humanidade. Quando acreditam que o Bruxo é O Bruxo ele se torna realmente Bruxo, e, a partir daí, tem total controle dos espaços e dos sujeitos que neles vivem; é como o vampiro que precisa da permissão dos outros, formal, para que eles passem a ser atormentados. Sim, o Bruxo necessita da moral dos outros, de seus medos, de suas paranoias para ter forças.
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O Bruxo não age por ódio, não se vinga, não tem ciúmes, nem inveja, ele é frio, e não é cruel, mas é cruel em sua frieza. O Bruxo gosta de contemplar as paixões tristes e a impossibilidade de controle das pessoas comuns. Muitas vezes, se coloca como um objeto a ser agredido, para que fiquem devendo a ele eternamente, já que ele não se vinga, e sim: elas se culpam, têm vergonha do que fazem, agem sem controle. O Bruxo age por intuição e ele sempre ganha, nunca perde. O Bruxo espirra e cai do céu uma chuva de vinte uns. Perguntam sempre: “por qual motivo o Bruxo é chamado de Bruxo, já que ele é mais forte que muitos demônios?”, e o Bruxo mesmo responde: é minha piada, me chamo, me chamam como eu quiser. O Bruxo não é um Bruxo, mas as pessoas acreditam que ele é, e ele, como é, às vezes, uma pessoa, acredita também, não nas pessoas, mas em si mesmo. O Bruxo engana tão bem que engana até a si mesmo. Quando o Bruxo chega na taverna, todos os que estão presentes tremem, mas como não conhecem o Bruxo, pensam que é o frio; só que foi o Bruxo quem trouxe o frio. O Bruxo a cada estação está em um vilarejo novo, às vezes, sai do país, de trem, ou de barco, viaja sem rumo e acha seu lugar, sempre. Ele faz isso para recolher dívidas em nome de Satã. O Bruxo joga uma moeda para o ar, e é a moeda e o ar que escolhem seu novo destino. O Bruxo é uma casca, sem nada dentro, uma bela casca que não esconde nada, sim, ele não é nada por dentro. O Bruxo mostra que não tem vida a partir do seu olhar; quando está em um duelo, ou numa batalha, quando está fazendo sexo, sempre, ele apresenta um olhar de indiferença a si e aos outros. O Bruxo pode estar rindo histericamente, pode estar declamando apaixonadamente, mas seu olhar demonstra que não há a vida em seu corpo. Sim, o Bruxo é Satã, mas o Bruxo sabe que Satã não existe. O Bruxo não acredita em bruxaria, ele é bobo, mas não tanto; o Bruxo se alimenta da moral dominante. O Bruxo não usa métodos, mas pessoas que acreditam nos métodos; manipula elas a partir dos métodos que elas conhecem, ele não necessita de métodos: falar três vezes, duas vezes diz a verdade e três vezes cria a verdade; sexo a luz de velas de sétimo dia para invocar sucubus e incubus; pentagramas, sangue... O ritual não pode ser metódico e tem que se despir dos símbolos dominantes, o ritual não pode ser uma cópia, já que a potência está na criação e a cópia e só cópia. Como diz o Manifesto Bruxo na seção que trata do Vampiro:   

Buscam a vida eterna e a figura do vampiro é desejada... O Bruxo Aerseth peregrinou por estações sem rumo, era um Bruxo do movimento, amante do nomadismo. Decidiu ficar um tempo em um vilarejo, sabia que deveria ficar ali. Alguns moradores do vilarejo lhe apresentaram uma droga potente, que não conhecia, a droga era extraída de uma planta local. Ele a usou continuamente, estava maravilhado com seu efeito. Um dia entrou em uma igreja, exatamente, no momento de um ato fúnebre; Aerseth ainda estava consumindo a poderosa droga. A embriaguez da droga misturada com a pompa fúnebre lhe causou um estranhamento, e então sabia exatamente o que deveria fazer: negar Deus completamente, negar em si o que ainda restava (se é que restava) de crença na divindade cristã. Após isso ficou dias vendo seres demoníacos; moradores do vilarejo que já conhecia pareciam zumbis ou mortos vivos. Aerseth era novo, tinha vinte anos, saiu do vilarejo e continuou sua peregrinação. Aos 45 anos ninguém acreditava que ele tinha essa idade, parecia ter vinte anos, todos diziam; então, um dia, se olhou no espelho e entendeu o que havia acontecido: o fato de ter negado Deus em um ato fúnebre, fez com que ele negasse a parte fundamental do ciclo da vida, a morte. Ele não mais iria morrer, nem mesmo envelhecer. Essa história passou por muitas gerações, muitos tentaram repetir o ato de Aersteh como se fosse um método eficaz, porém, nunca funcionou com outros.

O Bruxo sempre se afetou com a barbárie e odiou a violência dos romanos e sua guerra racionalizada, a guerra por poder; ele admirava os bárbaros, os que lutam por lutar, lutam não por ódio, mas por amor, amor à guerra. O demônio Ferreiro e o Bruxo passaram algumas temporadas juntos, ambos amavam o Aço, a primeira espada foi criada pela parceria entre eles. Os nômades em movimento, amantes do movimento.... o Bruxo os movia. O Bruxo também era o pônei ensanguentado, que alimentava os coletivos do Grande Kahn. A flecha quando está no ar dança, e depois ela é cravada, se o movimento foi bem-sucedido, em qualquer um. Alguém lança a flecha que atinge alguém... mas o Bruxo sempre gostou de ver ela dançando no ar, com seu olhar molecular. O movimento da dança das mulheres loucas na floresta é de natureza parecida com o da flecha; vaginas queimando, ensanguentadas, desejando todo o poder dos elementais, que são bruxos, amigos do Bruxo. As Naves dos Loucos levavam o germe da bruxaria para inúmeros lugares; o Bruxo comandava o destino das Naves. Eurípedes era irmão do Bruxo, e as Bacantes também eram suas irmãs. A Inquisição cristalizou a luta contra a bruxaria. Giordano Bruno (tirando o N e colocando um X, o nome Bruno vira Bruxo) era uma das múltiplas personalidades do Bruxo. A arte da memória de Bruno era tão poderosa quanto a sua arte da respiração: sentir a respiração presente em tudo na vida, nas nuvens, no solo, no subterrâneo, “devemos aprender a respirar”, dizia o Bruxo Bruno. Belial e Dantalion queimaram o coração do Bruxo antes dele se tornar Bruxo. Sem coração, apenas com o cérebro pulsando, o Bruxo se tornou realmente Bruxo, mas ele sempre foi um, não “um” e sim “O”. O Bruxo fala nas costas dos seres comuns, diz a eles que o futuro já aconteceu, que apenas eles não reconhecem isso, já que são cegos. O olho demoníaco já viu tudo, só fica esperando para que “o tudo” seja atualizado. Os olhos divinos negam o olho demoníaco, que está na fronte. Satã está sempre nas costas do Bruxo, mas o Bruxo está nas costas dos artistas, dos escritores quando estes estão produzindo suas obras. Os fogos fátuos e os miasmas aparecem quando o Bruxo quer. O Bruxo matou toda sua família, não queria que seres com genética parecida vivessem, isso poderia abalar seu poder. O Bruxo não caminha, ele dança no ar. O Bruxo olha sempre para todos os lados quando caminha; sua genialidade, bruxaria, não o deixou paranoico, mas ele quer que todos pensem que ele é um fraco, um paranoico. O Bruxo é um portal, Govinda Negro, ele atrai pessoas, coletivos, demônios, animais; o Bruxo atrai até mesmo o sol, o arco íris, a tempestade, o vento, a chuva. Se o Bruxo quiser, uma tempestade devasta o vilarejo. Amy, conhecido nas “Escrituras Bélicas” como Assaz e no “Terceiro livro de Danstorn” como Hanar, rege os estudiosos do tempo. O Bruxo é um estudioso do tempo, tão profundo que consegue até mesmo controlá-lo. Como o Bruxo vive o tempo, seu poder de ação não é localizado, um espirro seu pode matar uma criança dormindo em uma parte distante do planeta. O Bruxo louva o caos, cria o caos, sim, ele é o caos, ele gerou Nix e Érebo, que geraram a legião romântica, e o Bruxo, como disse, é um romântico, aliás, todos os românticos são Bruxos e eles produzem o caos. Satã criou o baralho, mas quem comanda o jogo é o Bruxo, ele dá as cartas, ele joga, ele blefa e sempre ganha. O Bruxo jogava cartas com seres comuns e alguém disse que o mundo iria acabar, todos queriam sair correndo, ver os familiares, tomar o último porre, dar uma trepada, mas o Bruxo disse: vamos acabar o jogo! O sujeito soberano, que pode tudo, é uma interpretação tola do satanismo. O “poder tudo” deve significar não aceitar a moralidade cristã, que torna praticamente “tudo” pecado. O Bruxo mata por amor, nunca por ódio, e obviamente matar por amor não se refere à neurose da vida conjugal; “assassino amoroso”, a dubiedade, a obscuridade, o impedimento da significação dominante. Quando alguém morre, já que tentou ferir o Bruxo, não foi culpa do Bruxo; todos sabem que quando tentam ferir o Bruxo se auto punirão. Os Gárgulas cuidam as catedrais, e foi o Bruxo quem esculpiu o primeiro Gárgula. Samael é pai de Caim e Caim é pai do Bruxo. Kroni, Hades, Lúcifer comandam o Inferno e convidam sempre o Bruxo para temporadas no inferno. O Bruxo é um traficante, ele vende o fungo do centeio, a secreção do Sapo Bufo, as fezes do rinoceronte, a carne negra da Centopeia Gigante, a Sagrada Gandja, o veneno do Peixe Sapo, o Sopro da Flor do Dragão, o sangue da Serpente Javanesa, o sumo do Cogumelo de Chiapas, o pólen da Flor AgriDoce. O texto considerado primeiro sobre o Bruxo, presente na antologia NekroMantia, expõe o momento em que o Bruxo descobre quem ele realmente sempre foi:

Ele era fascinado pelos olhos, pelo olhar das mulheres, ele dominava a arte do olhar, conseguia as capturar pelo olhar. Ele tinha facilidade em ler as linhas das mãos das mulheres; ele lia as linhas mesmo sem as ver, lia apenas pelo toque. Sim, ele dominava também a arte do toque. As mulheres não conseguiam ler as linhas de suas mãos, e quando tentavam eram bloqueadas. Ele sempre conseguia perceber as conjunções astrais, sabia a partir dos números o que estava regendo certas estações. Para ele, tudo isso sempre foi natural. Apenas descobriu ser Bruxo ao se ver no espelho... um dia percebeu uma mancha no peito com a forma perfeita de espada. Em toda a sua vida fora um guerreiro, tinha cicatrizes em todo o corpo, e quando viu a mancha, a espada, entendeu que havia sido a espada a construtora do seu corpo e que ele havia criado a espada – ou seja, ele se construiu.  

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O Bruxo necessita da Bruxa para se empoderar. A Bruxa não é sua versão feminina, é uma mulher com poderes, porém, o Bruxo sempre domina as Bruxas. O Bruxo sabe muito bem os lugares em que deve pisar, e raramente se engana se as pretendentes são Bruxas ou não; e sim, muitas Bruxas só reconhecem que são Bruxas a partir do encontro com o Bruxo.  O Bruxo possui escravas, que são quase Bruxas ou Bruxas de uma ordem inferior; elas variam de estação a estação, só que há escravas que permanecem por muito mais tempo. O amor do Bruxo é realmente expresso na relação com a Bruxa, mas as escravas também são paixões e amores do Bruxo. O Bruxo e as escravas não têm necessariamente uma relação direta – as escravas habitam muito mais o plano dos espíritos, e mesmo quando uma escrava copula com o Bruxo, é uma cópula sem importância, ou seja, algo inteiramente diferente do sexo entre o Bruxo e a Bruxa. Não há motivo para dizer que o amor do Bruxo pela Bruxa é maior que o amor pelas escravas... são amores, mas diferentes. As escravas fazem tudo por ele, o adoram, e têm um certo grau de poder sobre ele – ele dá esse grau a elas para potencializar a relação. Algumas escravas desconhecem que são escravas, pelo menos conscientemente. As escravas são escolhidas por afetos, elas surgem com o vento. A primeira parte do Contra Evangelho, traz uma passagem que mostra o poder das escravas, mas também como esse poder é perigoso para elas. O Bruxo é o termo dominante da relação, exatamente, por não ter ódio e reconhecer a fraqueza das mulheres:  

O Bruxo Djim Morgattzen criou para si uma personalidade de Satã palhaço. A partir dessa personalidade ele criou mais duas, a de gênio e a de idiota, e radicalizou: um dia era Satã palhaço, no outro gênio e no outro idiota. Ele radicalizou tanto que acabou entrando em uma área de descontrole, não tinha mais controle das personalidades. Na mesma época, ele estava com sua Bruxa da estação, e um dia, depois de exagerar com drogas, acabou a agredindo. As escravas decidiram que o Bruxo iria pagar, seria jogado em uma vala de lobos famintos. O Bruxo entendeu a situação, isso o fez voltar para sua margem de controle, mas disse a elas: eu não vou me desculpar. Ele ficou meses ouvindo das escravas que ele seria destroçado e não fez nada, apenas continuou com sua vida. Como sua vida era encantadora para as escravas, o ódio delas foi se dissipando. Ao mesmo tempo, um aspirante a bruxo, pretensioso, se aproximou de Djim. O aspirante queria ser tão forte quanto ele e, por isso, o imitava; porém, errou totalmente ao repetir o o ato do Bruxo, agrediu uma escrava, e as outras escravas o jogaram aos lobos; ou seja, ele pagou pelo erro do Bruxo, e elas, também, tiveram que pagar pelo seu ato.

O Bruxo sempre é tentado pelas escravas, pelas parceiras das escravas, por mulheres que querem ser escravas, ele as atrai. Mas o Bruxo se contém, apenas dedica relação carnal às Bruxas. As Bruxas lideram o Bruxo que as lidera. As escravas ajudam o Bruxo na escolha das Bruxas, e as Bruxas sabem que podem contar com as escravas. A relação entre Bruxas e escravas é bonita, é feminina, diferente da relação do Bruxo com todas elas. A Bruxa nunca tem ciúmes das escravas, e quando as escravas têm ciúmes das Bruxas, sabem que têm que se conter, pois esse sentimento pode destruí-las. O Bruxo escolhe uma Bruxa por estação, não mais do que isso; se a relação é muito rápida, após seu término, o Bruxo se obriga a ficar um bom tempo solitário; é central para ele, para sua potência, a contenção sexual e afetiva. O Bruxo, às vezes, pode ser levado pelos impulsos e copular com mulheres que não são Bruxas nem escravas, e isso o enfraquece. Quando a Bruxa é escolhida, na hora o Bruxo diz a ela: eu sou teu pai, você é minha. A Bruxa muitas vezes não entende, tenta se afastar, mas logo depois de escolhida não há volta. O Bruxo dedica sua vida sexual a Bruxa; foca na Bruxa o sexo para não se dispersar e, assim, se empoderar.  O sexo com a Bruxa acontece apenas em certos dias da semana; as relações mais importantes são aquelas contínuas, em dois dias seguidos, principalmente de sexta até sábado, ou de sábado até domingo. O Sabath é importantíssimo, marca o fim e o início da semana; aliás, o intermeio é central na prática sexual, além do sábado, são importantes a meia noite e o nascer do sol, mas nunca o pôr do sol, já que este é admirado por devotos de religiões contrárias à do Bruxo. O Bruxo nunca ejacula no sexo com a Bruxa, o Bruxo ejacula solitário uma vez por semana, no dia mais distante da última e da próxima transa. Faz isso para que as transas com a Bruxa sejam terrivelmente intensas. O Bruxo contém a ejaculação, já que ela é uma descarga violenta de potência vital. Cada ejaculação precede algo de morte, enfraquece o corpo do Bruxo e seu terceiro olho fica borrado, quase fechado. Quando se percebe que a ejaculação diz respeito à morte, ela se torna algo não prazeroso. O homem comum transa para ejacular, ou seja, busca um fim, o sexo para ele tem um início, meio e fim. Mas transar sem desejar ejacular é criar um meio, que se estende, meio apenas, sem fim; então, o meio se torna o mais importante, e nesse meio coisas impensáveis para o homem comum acontecem. Se não há ejaculação, só meio, então não há porque individualizar uma transa; o Bruxo e a Bruxa podem ir para cama em vários momentos nos dois dias, e como não finalizam com a ejaculação, então, é sempre a mesma transa. Se o Bruxo nunca ejacular (finalizar) durante uma estação com a Bruxa, todas as transas foram uma transa; como mostra o livro A Bruxaria é um tipo de Sexualidade, escrito por Saint Diavo:

Durante a estação transaram apenas uma vez, mas essa transa durou toda a estação; às vezes, eles paravam para descansar uma hora, às vezes duas, às vezes um dia, às vezes uma semana; eles tinham que descansar para continuar transando mais e mais e mais, e assim a transa durou meses. Eles não competiam entre si e muito menos com os outros, os outros não importavam, o que importava era a necessidade de estarem juntos, mas sim, a transa deles foi a mais longa da história.

Sua ejaculação semanal é também uma oferenda às escravas, para conter a necessidade delas de relação sexual com o Bruxo. O falo do Bruxo é naturalmente viril, tem uma força extrema e quando está com a Bruxa sempre está ereto. O pós sado masoquismo foi inventado antes do sado masoquismo. Pós sado masoquismo é o sado masoquismo com amor, é o ato sexual do Bruxo com a Bruxa. O Bruxo tem autocontrole: regra a alimentação, tem vida esportiva ativa, medita com frequência. Porém, o Bruxo abusa de substâncias viciantes que agridem seu organismo; por isso, há um grau de descontrole na vida do Bruxo, mas ele tem poder frente ao descontrole, ao caos – sim, o Bruxo controla o caos, produz o caos, o segundo nome do Bruxo é Caos. Ele mescla os excessos narcóticos com uma vida radicalmente saudável, já que precisa sempre dos extremos dentro de si. O Bruxo necessita da borda, estar na borda em sua vida, e o sexo nasce da borda, da força do corpo sadio, da violência do corpo narcotizado, da potência da mente genial do Bruxo, que é um gênio, da loucura do Bruxo causada pelos abusos da narcose. Os extremos dos hábitos do Bruxo se cristalizam no sexo com a Bruxa. O sexo entre o Bruxo e a Bruxa marca a força dos dois e mostra que a relação é transcendente – Amor Bruxo, não o amor das pessoas comuns. O sexo é o ritual mais potente dos dois, ocupa a maior parte da relação. O empoderamento do Bruxo produz o sexo empoderado que produz mais empoderamento. O sexo, por ser Sexo Bruxo, como disse, não concerne ao sexo das pessoas comuns, mas certas práticas comuns são usadas pelo Bruxo, porém, sempre com grandes margens de desvio. O Bruxo sabe que mil posições podem ser experimentadas em uma posição apenas. A posição mais comum pode tomar formas caóticas. O sexo com proximidade extrema, também física, a vontade de que o falo atinja a partir da vagina o ventre da Bruxa, indica um desejo de transformar o Dois em Um (21), eliminar todo o resto, fundir os dois corpos em um novo corpo; esse novo corpo teria dois terceiros olhos, ou seja, o corpo mais poderoso já concebido. Os poros da pele do Bruxo são bocas que querem beijar outros poros, ou seja, outras bocas, são línguas que querem sentir outras línguas (poros), são olhos que choram e piscam e veem outros olhos (poros), são narizes que cheiram a pele dela. Ou seja, apenas o toque, a pele com a pele, a negação da penetração comum, pode permitir uma experiência sexual única. Como obra do Bruxo, o Sexo Bruxo é só um meio, ele não busca um fim, o corpo da Bruxa para ele é algo a ser mapeado. Ele pode ficar dias tocando os pés, as mãos, a ossatura de todo corpo, o rosto, os seios, o sulco vaginal (que sempre revela algo singular), o cabelo, o pescoço da Bruxa... perceber suas pequenas imperfeições também, já que são lindas. Sim, o Bruxo pode passar dias apenas tocando sem pensar em penetração, e quando tem ereções fortes, simplesmente, respira, relaxa e controla. O Sexo Bruxo pode se realizar também apenas pelo olhar. O Bruxo pode ter uma relação com uma Bruxa (que muitas vezes não sabe que é uma Bruxa) sem ao menos tocá-la; ele pode apenas estar presente com ela, a olhando, contemplando seu corpo, seu sorriso, sua fala, como ela se comunica com os outros – essa é a radicalidade do Sexo Bruxo, o sexo sem contato físico originado da potência do terceiro olho. O Bruxo é sempre guiado pelo amor, mas o Amor Bruxo, não o amor dos seres comum; ele tem uma relação profunda com as mulheres, encanta elas, já que nunca se considerou um homem, mas sim um Bruxo. Os sentimentos femininos, a feminilidades, são visíveis no Bruxo: nos seus olhos, na fala, na forma como caminha, como beija, toca, nas suas lágrimas. Elas sabem o respeito e apreço dele pelas mulheres. Porém, o Bruxo continua sendo homem, e como homem ama a guerra, o jogo, a batalha, ama a morte em si e nos outros, ele é violento; ou seja, como disse, um assassino amoroso, um assassino que ama o amor. Essa dubiedade – amar o amor, amar a violência – pode ser experimentada sem muitas contradições; mas o Bruxo pode ser destruído como Bruxo se desejar uma Bruxa como único amor. Ahhe Krimynem, na Antologia dos Últimos Textos Profanos, relata uma história que exemplifica isso: 

Experimentou estações de amor com três bruxas, amou elas, uma a uma. A sequente sempre era o amor de sua vida. Disse para a última: nunca amei alguém como amei você, você é meu último amor, depois de você não quero mais amar ninguém e, por isso, finalizo aqui minha história. Ele foge dela, já que não queria um sentimento tão forte, um sentimento que o aprisionaria; se flanasse no sentimento deixaria de ser Bruxo e viraria um esposo, e o Bruxo por sua natureza deve amar continuamente Bruxas por estações. Ele se desliga do jogo contínuo com as Bruxas, não fica com a verdadeira amada, e se torna um guerreiro. Ou seja, passa a amar apenas a guerra.  

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O Bruxo só se torna Bruxo tendo uma relação profunda com a morte: desejar ela, ter vivido algum acontecimento arrebatador... o Bruxo está numa tensão constante com a morte. Ele sempre está em batalha, provoca duelos, arrisca seu corpo. O Manifesto Memento Mori detalha as relações do Bruxos com a morte.


Dormia em baixo de uma espada, grande e afiada, pendurada no teto com uma corda. Ele banhava a corda com gordura de porco e colocava no aposento ratos. Os ratos mastigavam a corda banhada. A espada nunca caiu no corpo do Bruxo, porém, esse contato com a morte, ainda mais na hora do sono, o tornou radicalmente potente.  
                   [...]
O oráculo diz ao Bruxo que ele vai morrer em batalha, mas que sua história atravessará os tempos. Ele fica feliz, se tornaria um dos Bruxos mais conhecidos, um Bruxo Herói; assim, decide viver sempre em batalha, persegue guerras, se alista, consegue postos importantes em muitos exércitos; o contato com a morte sempre lhe dá poder, e ele realmente se torna herói; porém, acaba contraindo uma doença terminal. Ao saber que iria morrer na cama de um hospital, se assusta, já que tinha se tornado um grande herói, mas não tinha morrido em batalha.
[...]
Uma fenda numa parede; depois da fenda há uma corda, essa corda sustenta um quadrado de madeira cheio de objetos cortantes. O quadrado fica no teto, uns metros à frente da parede com a fenda. O Bruxo fica embaixo do quadrado e brinca: joga um machete, tentando o fazer passar pela fenda e cortar a corda; se conseguir, o quadrado cai em cima dele e, então, pode morrer. O Bruxo faz isso uma vez por semana; ele sabe que é muito difícil de acertar, mas com prática, ou por sorte, pode conseguir ganhar o jogo, ou seja, perder. O Bruxo friamente tenta ganhar o jogo, sabendo que se ganhar vai perder. Após meses de prática, o Bruxo fica cada vez mais forte, pelo contato com a morte. Porém, mesmo que deseje jogar todos os dias, ele sabe que a potência depende da contenção, e ele se contém. Ele quer acertar, mas pode morrer e tem que desejar morrer, mas não pode morrer.
[...]
O Bruxo aprendeu a respirar profundamente com os Sadhus A respiração funda é exatamente liberar o máximo de ar e inspirar o mínimo possível; com isso, o Bruxo conseguia atingir níveis elevadíssimos de inconsciência. Porém, na prática contínua, sabia que inspirar, por certo tempo, pouco ar poderia causar uma paralisia cerebral. A prática para o Bruxo era uma forma de contato com a morte muito prazerosa. [...] Há um tipo de serpente desértica, parente da Naja, que libera um veneno, mas cada picada tem uma quantidade diferente. Ser picado por ela pode não fazer efeito nenhum ou pode levar a morte súbita. O Bruxo, uma vez por ano, durante toda sua vida, atacava sua serpente a fazendo o picar. Em todo esse ciclo as doses de veneno sempre foram muito amenas.  [...] O Lobo Branco Nórdico é dócil, mas pode não reconhecer o dono em determinados momentos; nesses momentos, o Lobo pode o atacar mortalmente. O Bruxo durante toda sua vida teve Lobos Brancos como seus animais domésticos, mas nunca foi atacado.

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O Bruxo tem pelo menos quatro personalidades, personagens, que atuam em certos blocos de tempo, e em cada bloco de tempo, o Bruxo finca moradia em uma localidade diferente. As personalidades são criadas a partir da percepção das pessoas comuns em relação ao Bruxo. Quando ele chega em um novo lugar, apresenta uma personalidade escolhida por si e, ao mesmo tempo, cria uma aura de mistério sobre ele. Os moradores começam a fazer indagações sobre a presença e identidade do Bruxo, a partir daí os personagens vão sendo desenvolvidos, e o Bruxo tenta afirmá-los e escondê-los ao mesmo: um dia age de uma forma, no outro de outra, às vezes, conta histórias estranhas sobre si; porém, a primeira personalidade se mantém como a dominante. Isso causa um grau enorme de estranhamento nos moradores. Muitas vezes, os moradores podem acreditar que ele é realmente todas as personalidades que ele insinua, mas o Bruxo faz o máximo possível para que as dúvidas em torno dele não sejam conscientemente expressas. O Bruxo faz isso, já que o medo a partir da dúvida lhe dá forças. Muitas vezes o Bruxo encarna tão bem seus papéis, que ele mesmo passa a acreditar que é seus personagens; e se ele conseguir acreditar em todos papéis, mesmo que seja apenas por certos momentos, ele pode se perder neles e não voltar ou realmente se empoderar. Drek Niuwtloverd, nas Fábulas Amaldiçoadas, conta a história de um dos personagens criado e vivido pelo Bruxo Carlfautz:

Carlfautz chegou no vilarejo e disse a todos que ele era Amón. Amón estava desaparecido por anos, já que tinha sido morto na guerra. Todos acreditaram que era Amón quem havia retornado, até mesmo a sua esposa. A esposa amava Amón e só não tinha se suicidado, pois acreditava que ele voltaria. O amor da esposa, que era uma Bruxa e não sabia, trouxe o Bruxo ao vilarejo. Ele sabia da história, sonhava constantemente com o vilarejo, com Amón e sua esposa; o Bruxo estava enamorado por ela. Ao viver a identidade do marido, acabou se apaixonando pela esposa e, mais, passou a acreditar que era Amón e, assim, esqueceu de sua identidade verdadeira. Porém, a Bruxa começou a perceber que era Bruxa, e assim ficou empoderada, entendeu que Amón havia morrido e que o Bruxo era um Bruxo. Ela se apaixona pelo Bruxo, diz a ele que não é Amón e que ela nunca havia amado Amón, mas sim o Bruxo. Ficaram juntos uma estação completa e depois se separaram, já que é da natureza dos Bruxos a efemeridade extremamente intensa.

No mesmo livro aparece a história do Bruxo Ohlinve que reinventou sua história para ter mais poder.

Passou a dizer a todos que era fruto de um estupro e todos acreditaram. Após um tempo, ele mesmo acreditou na história. Fez isso, pois os estupros são ações de uma classe específica de demônios, os Iritas. Quem é gerado a partir do estupro se torna um tipo de demônio de força extrema. Para ter essa força, Ohlinve aceitou a ideia de que seu pai não era seu pai e que sua mãe havia sido violentada. 

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O Bruxo sente uma forte atração pela espionagem, ele pode realizar trabalhos como espião para o aparelho de Estado. Ele age para o aparelho, mas busca exatamente a despersonalização própria à identidade de espião. Ele, assim, age por si mesmo, já que gosta de contemplar a mentira, a falsidade, o engano. O teatro é sua forma de existência, e ele acredita no teatro, ele não tem vida, tem muitas vidas e se perde nelas. A questão do jogo inerente ao Bruxo é exposta no Manifesto do Vigésimo Primeiro Minuto da hora Final do Bruxo:

Ele era um ótimo ator, amava a crueldade em si mesmo. Ele se colocava como objeto a ser destruído: com corpo belo andava nu em tabernas e homens o atacavam sexualmente, andava como um bobo pelos vilarejos e todos o apedrejavam; ele fazia o possível para sofrer a paixão triste dos outros, mas como não era Cristo, ele fazia isso para ter uma desculpa para destruir os outros.
[...]
A Bruxa Suntka encantava homens para o seu Bruxo os destruir. Ele dizia a todos: não toquem nela, nós nos amamos, mas ela jogava olhares sedutores aos homens que desejavam o que o Bruxo tinha. Após consumado o desejo dos homens, o Bruxo os destruía, já que isso faz parte da lei, e ambos, ela e ele, se deliciavam.  
[...]
O Bruxo Demis Rokano peregrinou por estações sem rumo. Um dia parou numa estalagem em um pequeno vilarejo. Ficou na estalagem, sentia que deveria ficar ali. No sexto dia chegou no local um senhor distinto, estranho para o ambiente. O Bruxo e o senhor logo começaram a se relacionar; as pessoas ao redor olhavam admiradas para o contato entre os dois, o que falavam, como falavam, como ao conversar se relacionavam com o entorno. Um dia, Demis disse ao senhor que, na verdade, era Satã e que estava ali para decidir sobre a vida dos moradores da região; falou isso e pediu que não fosse contado; ao mesmo tempo, o senhor revelou que era um sacerdote, que tinha peregrinado por anos para encontrar Satã. Demis perguntou se haveria guerra, o sacerdote afirmou que apenas queria aprender com ele, com Satã, mesmo que fosse radicalmente contrário ao que Satã representava. Demis disse que o respeitava também, e que poderiam manter o diálogo. Os dois ficaram muito tempo juntos na estalagem se relacionando. As pessoas do entorno se sentiam mal com a presença deles, mas também impotentes; não sabiam a verdade sobre os dois, mas intuíam que eram seres mágicos... um dia Demis, ainda se nomeando de Satã, disse ao sacerdote que, na verdade, buscava exatamente ele, o sacerdote. Este não era bom, era sim mau, e deveria ser punido. O sacerdote enlouquece na hora, sai correndo e se joga em um penhasco. E sim, Demis era um Bruxo, sabia que o sacerdote era mau, e apenas iluminou-o, mostrando a verdade, e o sacerdote não suportou a verdade sobre si mesmo.

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Qualquer um, ao abusar de drogas por um longo tempo, fica com a percepção eternamente modificada, o terceiro olho aparece, e quando aparece isso pode levar ao reconhecimento de que se é um Bruxo. Uma obra não referida a Bruxos, O Último Livro Sobre a Flora Profana, mas importante para a bruxaria, apresenta drogas potentes pouco conhecidas.

Uma droga criada pelos Idilista, a partir de um fungo raro, permite longos períodos de ereção, mas com controle ejaculatório. [...] A Munova faz com que o corpo não se definhe após períodos frequentes de narcose. [...] A Saitka permite com que o usuário esteja sempre em transe mesmo sem aparentar. [...] O pólen da Flor Latah cria viagens ao inferno na hora do sono e não causa nenhum sintoma de vicio ou de ressaca. O efeito mais surpreendente do pólen: as pessoas que estão dormindo próximas de quem usou a droga são acometidas por alucinações.

As Bruxas ajudam o Bruxo na escolha das drogas, já que elas são as conhecedoras e manipuladoras da alma dos elementos da flora; com seu poder, elas dão poder ao Bruxo.
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Como disse, o Bruxo pode ser criado por si mesmo, tendo intuição e reconhecendo a falibilidade dos métodos. O texto buscou registrar então as atividades bruxas que atravessam as eras. As polis avançadas impõem a amizade e respeito aos cidadãos. Os Bruxos aparecem na polis como uma forma de resistência a falsa harmonia. Bruxos são criados em batalhas, prisões, nas naus dos loucos, na alcova com as Bruxas. Termino o texto com uma passagem do Livro Sete da Possessão:

Sethtre, vivendo na polis e sabendo da impossibilidade de uma existência singular, ao encontrar o livro sagrado decide ser um Bruxo. Ele comete um crime, de propósito, e é condenado a viver em um vilarejo no qual estão os seres mais perversos possíveis. Ele fez isso – cometeu o crime para ser condenado –, pois sabia que para ser um Bruxo teria que passar por uma provação de dor. Ele fica ali, no vilarejo, durante anos, sofrendo; porém, depois de um tempo, passa a ter liderança no espaço, constrói um exército e luta contra a polis. Sethre, logo após, desaparece, mas ressurge como Bruxo em inúmeros cantos do planeta ao longo da história.